Nestes tempos de crescente censura mundial em que, mais até de que nos livros, que contudo existem, pois ainda recentemente Alain Soural, reeditor de um livro de León Bloy considerado anti-semita, ou melhor anti-judaico, foi punido em tribunal com uma elevada multa, sendo o livro interdito, são as redes sociais da web, tais como o Facebook, Youtube, Twitter e até Instagram, a executarem constantes remoções e bloqueios provenientes das ordens das elites financeiras mundiais que controlam os meios de informação, podemos interrogar-nos se haverá da parte de tais censores as qualidades necessárias a exercerem tão grave tarefa, tão ofensiva dos
Direitos Humanos, na realidade cada vez menos respeitados?
Será que eles poderão estar incluídos no que algo candidamente (e foi a citação seguinte, copiada de um exemplar antigo, a fonte deste artigo), Manuel
Gomes de Lima Bezerra, na Abertura do Universal da Medicina, Cirurgia,
Pharmacia, no Porto em Abril de 1764, escreveu na dedicatória de
abertura: «aquele discretíssimo Rei, que vendo inundados o seu
Reino de livros cheios de ignorância, de superfluidades, de erros,
constitui um Tribunal Régio composto por Varões Sábios,
Religiosos, e Prudentes, para separarem as obras prejudiciais, para
corrigir as impuras, para animar a verdadeira literatura, e perseguir intrepidamente o fanatismo».
Não parece o caso, nem há sequer a um nível mundial tal aerópago de sábios, que consiga reunir-se e chegar a acordo, bastando lembrar-nos como recentemente o governo francês permitiu de novo as publicações dos desenhos de banda desenhada blasfemadores do profeta Muhammad, provocando novos conflitos, mortes e protestos
gigantescos no mundo islâmico.
De que lado está mais o fanatismo? No laicismo que nada respeita e provoca reacções, ou nos crentes que protestam, e com alguns mais excitados levando-os a actos violentos, de certo modo de vingança fanática?
Ora se em alguns casos é o fanatismo, um conceito como já vimos ao de leve com um amplo espaço entre os extremos e portanto tão relativo, que está a ser censurado, frequentemente são os censores que se agarram fanaticamente em defensores das suas ideias e poderes, marcando como fanáticos, malignos ou prejudiciais os que se opõem aos interesses, ideias e ideologias que eles veiculam, mesmo que os censurados falem ou escrevam a verdade.
"Tal não pode ser permitido", dirão uns, mas tal não basta, já que tudo hoje é permitido aos que têm o poder, ou mais poder, nas mãos: poder do dinheiro, das armas, dos mercenários, terroristas ou agentes de autoridade obedientes, violenta e criminalmente se for preciso. Ora tal tem de ser vencido, transmutado...
Talvez a mais certa conclusão que se pode tirar da tão conflituosa (sem falarmos da actividade da Turquia) cena internacional nos últimos tempos é a de que a descredibilidade da ciência, da política, ou da classe política em geral, sobretudo ocidental, e dos meios de informação, nunca foi tão grande, pelo que todo e qualquer acto de censura a pessoas como Julian Assange e Roger Waters, e passando por tantos médicos, cientistas e jornalistas mais verdadeiros e independentes é verdadeiramente condenável e execrável.
O que se pode fazer, para além dos sinais de apoio nas redes sociais, as petições e as cada vez mais dificultadas manifestações, "para se animar a verdadeira literatura [ou comunicação]"?
Bastante: seja na criatividade da nossa obra pessoal e local pequenas mas que sempre irradia algo, seja no manter-nos firmes no repúdio e denúncia dos mentirosos e opressores, seja no apoio psíquico à dinâmica da multipolaridade de poderes mundiais que porá freio e ordem no injusto e violento imperialismo corruptor norte-americano, seja no orarmos e meditarmos para que a Verdade, a Justiça e o Amor vão despontando mais em todos os seres e a Divindade esteja mais presente em todos nós...
Não desanime, mantenha a chama do Amor acesa...
Pintura de Bô Yin Râ.
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