sábado, 30 de setembro de 2017

Jaime de Magalhães Lima e o seu prefácio à obra de Tolstoi "O ensino de Jesus: uma exposição simples"

Jaime de Magalhães Lima, condiscípulo de Tolstoi e de Antero de Quental, e sem dúvida um dos discípulos-mestres da Tradição Espiritual Portuguesa, deu por vários modos testemunho de intensa aspiração espiritual e de tal discipulado. 
E se o mais conhecido testemunho é a peregrinação que fez à Isnaia Poliana de Tolstoi, na Rússia, que descreve num capítulo  do livro   de 1889 - Cidades e Paisagensnoutros momentos, noutros livros e revistas, no epistolário com o Antero de Quental e nos diálogos com pessoas, partilhou também tal unidade de procura da Verdade e de afinidade de almas, ideais e valores. 
Anotemos apenas, na sua vasta obra, de 1892 - As doutrinas do Conde Leão Tolstoi e, finalmente, em 1909 - O ensino de Jesus: uma exposição simples (tradução desta obra de Tolstoi), cujo valioso prefácio e primeiras páginas resolvemos transcrever, num século XXI cada vez mais necessitando da mensagem viva de Tolstoi, de Antero, de Jaime de Magalhães Lima, de Gandhi, de Jesus, de Gautama Budha, de Mahavira Jina, de Krishna e de tantos outros mestres e obreiros da Paz e da Justiça, da Verdade e da Liberdade, do Amor e da Divindade.
Que realça Jaime de Magalhães Lima em Tolstoi, face à demanda eterna da Verdade e de Felicidade que nos anima a todos? 
O fervor da crença, a glória das visões, o sopro genial no apostolado sincero e na arte da escrita, inquebrantáveis, falando-nos e apontando-nos os caminhos do Amor e da Verdade, que já Jesus procurara transmitir e que nos tempos modernos, de tão grande torvelinho material e tantas guerras cruéis e desnecessárias, mais necessários e actuais se tornam. O espírito de Deus é Amor, está em cada um de nós e devemos pô-lo em acção, altruística, solidária e fraternalmente.
Este era também o ensinamento último de Antero de Quental: em tal abnegação em relação ao egoísmo e ao ego, o ser humano entrava mais na santidade, ou seja, na esfera do Bem Comum, na menor pessoalidade do Espírito divino vivido por nós.
Podemos ver ou receber este ensinamento, por exemplo, exactamente numa carta de aconselhamento a Jaime de Magalhães Lima (do Cartaxo, a 28-V-1889) na qual assinala muito bem a sua exigente luta pela diminuição do egoísmo e uma certa impessoalidade e santidade: «Vivendo cada vez mais para os outros, sentindo morrer em cada dia dentro de si mais uma parcela do eu egoísta que tanto nos ilude, tanto nos faz sofrer e errar, irá entrando gradualmente naquela região da impersonalidade que é a verdadeira beatitude».
Ora, segundo a compreensão e a fé de Tolstoi, para o simbólico Reino dos Céus, ou o mundo Espiritual e Divino, se tornarem mais presentes entre nós, o Amor é a chave, pois ele está em todos os seres, é o mesmo Espírito divino em todos e o que os une e lhes proporciona esse supremo Bem e Beatitude (a tão importante Ananda, na tradição indiana, e na Bhakti Yoga, a via do Amor a Deus), o de estarem no Amor, mais consagrados ou mais abertos a Ele-Ela, Divindade...
Leiamos então o prefácio de Jaime de Magalhães Lima, de 1909, e as primeiras folhas do texto sobre o ensinamento de Jesus e do Amor, escritas por Tolstoi...









Realcemos, para finalizar, a frase inicial do texto de Tolstoi, na versão de Jaime de Magalhães Lima: "O Espírito de Deus é Amor. E o amor vive na alma de todo o ser humano". 
Assim, na proporção que cultuamos e vivemos o Amor, estaremos mais vivos e o Espírito Divino crescerá ou desvendar-se mais em nós.
O Bem procurado por Antero é o Espírito em nós, é o Amor em nós, é a Divindade em nós e no Cosmos.
Na proporção do nosso Amor à Divindade e ao Amor, assim Ela e Ele se manifestam mais em nós, iluminando a nossa essência emanada deles e inspiram-nos e fortalecem-nos  como Cavaleiros e Cavaleiras do Amor, na demanda do Graal, Fiéis do Amor na Tradição Espiritual Portuguesa, no rio da sua língua órfica nos comunicando, comungando e adorando...
Demos Graças, nas Três Graças, cultivando e cultuando o Amor,  e lutemos ou esforcemo-nos por Ahimsa, não-violência em nós e na cena política internacional, onde políticas miseráveis de criação e utilização do dinheiro e riqueza estão a gerar grande sofrimento e vergonha da Humanidade e do sistema Solar...
AMOR....

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