domingo, 1 de outubro de 2017

Efemérides de Outubro do Encontro entre o Oriente e o Ocidente, da Índia e Portugal. Constantemente ampliadas.

                                            
 1-X. Carta do P. António Ceschi, escrita neste dia em 1653, na corte mogol em Deli, Índia, acerca do príncipe Dara Shikoh (filho do imperador Shah Jahan, o construtor do Taj Mahal), vestido com pobreza no meio de 500 nobres de vestes resplandecentes e joias, muito amigo dos padres cristãos, vivendo numa demanda espiritual profunda e mística e de sentido universalista e, tal como disse François Bernier, um dos famosos escritores viajantes que o conheceu, «hindu com os hindus, cristão com os cristãos». Era sobretudo um místico, um sufi, um iniciado ou discípulo de dois reconhecidos mestres de então, Mian Mir e Mullah Shah, profundo conhecedor dos caminhos de realização do espírito e da Divindade, deixando-nos algumas obras de mística e de pioneiro comparativismo religioso. Uma delas traduzi-a oralmente e encontra-se em vídeos no Youtube. Deveria ter sido Dara Shikoh, enquanto primogénito, o herdeiro do trono de Shah Jahan mas as tendências e forças ambiciosas fanáticas do seu irmão mais novo Aurangzeb não permitiram tal, sendo assassinada esta grande alma. Criei no Facebook (cada vez mais sinsitro nos seus bloqueio e restrições) uma página dedicada a ele e, lateralmente, ao sufismo e ao Islão, pouco activa contudo...
A escritora Maria Amália Vaz Carvalho, sócia da Academia das Ciências de Lisboa, casada com o poeta Gonçalves Crespo, amiga por correspondência de Antero de Quental, escreve neste dia em 1877 uma carta a António Lopes Mendes, sobre o livro que este tão bem escrevera e ilustrara pela sua própria mão, Índia Portuguesa: «Mais feliz do que eu, você foi buscar a inspiração que lhe faltava aqui, nessas regiões misteriosas em que a terra é tão pródiga de esplendores que fascinam».
Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, acabados de chegar das suas travessias das amplas terras africanas, dão uma conferência na Sociedade de Geografia de Lisboa sobre os aspectos científicos e humanos da expedição, perante o rei e a corte, neste dia em 1885. Roberto Ivens escreverá que «à Europa, e em geral ao homem que nunca viajou nos sertões de África, não é dado compreender o que se sofre ali, quais as dificuldades a vencer a cada instante, qual o trabalho de ferro não interrompido para o explorador». Em 1886 sairá o relato da expedição em livro, De Angola à Contracosta.
 Discurso do 1º ministro indiano Jawaharlal Nehru (1889-1964) neste dia, em 1958, no Sikkim, ao inaugurar o Instituto de Tibetologia: «Encontramo-nos hoje numa encruzilhada, em que talvez para se encontrar a solução para os problemas criados pelo avanço da Ciência e Tecnologia, temos de ir para algo fora das aproximações normais do mundo físico. Temos de ir para outro nível, chamemos-lhe domínio do espírito. Temos de ir para outras dimensões do pensamento, talvez para a 4ª dimensão. A ciência libertou já enormes forças que parecem ir além da 3ª dimensão, e assim para o homem as controlar, ou compreender correctamente, tem de começar a pensar noutros níveis, chamemos-lhes 4ª dimensão ou o que quisermos». Donde a necessidade do espírito científico do budismo e do instituto de estudos tibetanos que ele inaugurava.

2-X. Na reforma da Ordem de Cristo estatuída no convento de Tomar neste dia em 1449 determina-se, entre outras regras, que os cavaleiros só podem comer carne três vezes por semana e que devem rezar diariamente as Horas de Santa Maria, ou sessenta Pai Nossos e sessenta Avé Marias, escalonadas por horas, se o puderem fazer. No Capítulo da Ordem, de 1503, reunido em Tomar, serão equacionados alguns dos preceitos que eram então pouco cumpridos. E hoje em dia, com tantos templários e templarices, quantos rezarão ou meditarão uns minutos que seja?
                                        
Nasce na Itália em 1550 o P. Rudolfo Aquaviva, filho do duque de Atri. Será uma das grandes almas das missões de diálogo ecuménico à corte mogol, por ter aprendido a língua persa e pelos seus escritos, austeridades, orações e sabedoria, o que lhe vai grangear a amizade de Akbar e dos seus próximos. Insistindo o imperador Akbar no seu desejo de participar numa missa, realizou-a o P. Aquaviva com grande fervor e lágrimas, mas Akbar no fim queixou-se-lhe um pouco amuado e alguma razão: «Comeu e bebeu, mas não me convidou». Uma pena, "a letra que mata o espírito", pois um ritual invocativo e mágico que, petrificado num formulário litúrgico e canónico reservado a católicos, ainda que celebrado com a ardência mística de Aquaviva, não foi aberto e alargado à comunhão de nobres e espirituais almas, ainda que de outra religião...
O P. Bento Fernandes, de Borba, recebe a palma do martírio em 1633, em Nagasaki, a cidade erguida e administrada pelos jesuítas, com vinte anos de trabalho intenso e difícil de tentativas de converter, encaminhar ou estimular os japoneses nas vias cristãs. Barbosa de Machado noticiará na sua extensa e incontornável Biblioteca Lusitana a existência de um manuscrito seu na Biblioteca de Évora, de comentários ao Evangelho de S. Lucas.
Nasce em Nova Iorque Francisco Stuart de Figaniére, em 1827, filho do embaixador de Portugal na USA e de uma escocesa, e virá a ser um diplomata em vários países e autor duma das primeiras obras portuguesas com bastantes dados da sabedoria  da Índia, embora seguindo em parte as divulgações teosofistas da época, Mundo, Submundo e Supramundo, impressa na livraria Chardon no Porto, sem dúvida uma das mais ousadas incursões em tais níveis entre nós.  Recebeu o título de   Visconde em 1870. Foi  diplomata de Portugal em Inglaterra, Brasil e na sagrada Rússia. Viverá até 1908, desincarnando em Paris onde vivera os últimos anos, e deixará outras obras valiosas, de carácter histórico, bem como artigos em revistas estrangeiras e nacionais, tal como no Panorama.  Entre nós, o notável publicista Pinharanda Gomes traçou-lhe uma biografia.
                                        
Em Calcutá, em 1866, nasce Swami Abhedananda, discípulo de Ramakrishna e condiscípulo de Swami Vivekenananda, que o envia para a U.S.A, onde estará à frente da Missão Ramakrisna durante vinte e cinco anos. Deixou uma vasta obra de conferências e de ensaios. Dirá: «O dever da verdadeira religião é alargar a mente, abrir os olhos espirituais, conduzir a humanidade à realização da unidade com o supremo Pai no Céu, e reprimir todas as lutas sobre os dogmas e credos».
Mohandas Karamchand Gandhi, o apóstolo da não-violência (ahimsa), auto-subsistência (swadesh) e auto-governo (swaraj), o pai da Índia independente, nasce em 1869, em Porbandar, no Guzerate. Depois duma luta pioneira de anos pelos direitos humanos na África do Sul, regressa à terra-mãe em 1915, para participar num Congresso em Madras sendo acolhido entusiasticamente num discurso por Subbier Subramania Iyer, que enaltecerá a sua determinação e metodologia de não-violência, ahimsa. Além de líder humano e político, Gandhi fez uma demanda espiritual exigente e transmitirá frequentemente ensinamentos valiosos, incendiando de aspiração libertadora e fraterna quem contactava com a sua grande alma: «A minha afirmação de ouvir a Voz de Deus não é uma asserção nova. Infelizmente não há maneira de a provar excepto através dos resultados. Deus não seria Deus se tivesse de ser um objecto de prova para as Suas criaturas... As diferenças de opinião não devem significar hostilidade. Se assim fosse, a minha mulher e eu seríamos inimigos jurados... Toda a verdadeira arte deve ajudar a alma a realizar o seu Eu interno». Guru Ranade foi um dos mestres e filósofos que escreveu sobre ele, tendo o místico e comparativista Jacques de Marquette traduzido a sua obra em francês.
                                       
 
3-X. Vasco da Gama, em 1502, na sua segunda viagem à Índia, e em que se vinga do que lhe fizeram na primeira, persegue e ataca uma nau de Calecut vinda de Meca e carregada de comerciantes, mulheres, crianças e grande riqueza. Já depois de saqueados e rendidos, imploraram piedade mas, como foi decidido pegar-lhe fogo, lutaram bravamente durante um dia até serem todos mortos, recolhendo-se apenas 20 crianças. Acerca deste brutal acto, o jornal Brado de Damão em 1898 lamentará «que D. Manuel, célebre pelas suas gigantescas aventuras marítimas, a ponto de converter em empório do mundo um microscópio tracto do extremo ocidente, que apenas continha um punhado de gente, não tivesse sabido cimentá-lo com os indestrutíveis elementos de humanidade, generosidade, liberdade...» Esta tragédia é uma das  que infelizmente ensombraram a expansão portuguesa no Oriente, geradora de violência sobre violência, sobretudo ao rivalizar com o poderio islâmico no domínio da economia de mercado livre que fluía no Oceano Índico. Actos escusados, mesmo em estado de guerra, eram frutos das tensões gerais que só por grandes seres poderiam ser manobradas correctamente. Pouco depois, Vasco da Gama fez outra mortandade e enviou-a sob a forma de presente para o Samorim de Calecut, «dizendo que aquela morte era piedosa comparada com a que guardava para os executores  do feitor Aires Correia» (segundo a narrativa do historiador Faria e Sousa). Na sua terceira viagem para a Índia, tendo descoberto em Moçambique três mulheres no navio, mandou-as açoitar «porque com todas as suas forças havia de punir os maus, para que não crescessem os males que fazem os que não temem a Deus, que nunca em mim terão senão crueza e punição». Afonso de Albuquerque fez cortar narizes nas costas da Arábia e enforcar na verga da nau o capitão Rui Dias que namorara uma das prisioneiras mouras que ele queria enviar para a rainha. E muitos outros nomes haveria dos que praticaram crueldades, por vezes sem sequer qualquer motivo de justiça, tal como Domingos Mesquita, Pedro de Barreto, Duarte de Eça, ou que entraram em traições, assassínios. Mas, quando se insiste neste lado mais sombrio, deve-se relembrar que nos outros povos também havia a ferocidade ou crueldade. 
S. Francisco de Assis e Antero de Quental, que sentiu muita afinidade com o seu panteísmo...
 4-X. Em 1214, S. Francisco de Assis teria entrado em Portugal e estaria em Braga, Ponte de Lima e Bragança, segundo certas crónicas, algo lendárias. Ao longo dos séculos muitos irmãos franciscanos cruzarão as fronteiras das limitações, das inimizades e diferenças, tentando manifestar o Espírito Santo em diálogo e simplicidade, paz e amor. No Oriente destacar-se-ão no princípio da expansão portuguesa e de tal modo que Jaime Cortesão considerou serem o espírito de Cavalaria e a fraternidade Franciscana os dois pilares do templo dos Descobrimentos. Com o tempo, o relaxamento e as rivalidades entre as ordens (nomeadamente no Japão com Jesuítas) diminuirão a pureza, desinteresse e abnegação da Ordem, e o culto flamejante amoroso do Espírito Santo escapa-lhes de certo modo das almas e quase que se apaga, senão fossem alguns irmãos do Amor que isolados atingiram e viviam a sua Unidade, ou mesmo o povo português que, na sua base mais genuína e pura, sempre foi franciscano, no sentido de fraterno, simples e dotado de grande fé e capacidade de dádiva.
                                      
Dr. Venkataratnam Naidu nasce neste dia em 1862 em Uttar Pradesh. Filho dum soldado recrutado pelo exército colonial inglês da casta inferior dos sudras, e que pelos códigos do hinduísmo não teria direito ao conhecimento das Escrituras, foi estudando contudo persa, árabe, urdu, sânscrito, inglês, dominando culturas e religiões até chegar a professor e a vice-chanceler da Universidade de Madras. Aderindo ao Brahmo Samaj de Rammohan Roy, tornou-se um dedicado pedagogo e reformador social ao que aliava uma vida espiritual mística e ecuménica. Lutou contra a prostituição sagrada, que nascia em grande parte da casta dos sudras, contra a intocabilidade de milhões de párias, contra o alcoolismo, contra os casamentos caros, e os infantis. Como experimentado pedagogo, conhecedor da importância da cultura e da moralidade, dirá: «A assunção básica da Cultura é que o interior do ser humano é uma mina de poderes misteriosos. O grande objectivo da verdadeira educação é pôr o ser humano na posse consciente destes poderes, dos quais o primeiro é a percepção, a capacidade de ver com uma mente investigadora». Depois, pela disciplina e o exercício, ele frutificará em discriminação, sabedoria e iluminação. «A Ética — a resposta correcta do ser humano aos seus ambientes temporais — elevar-se-á irresistivelmente em Espiritualidade — a resposta correcta do ser humano aos seus ambientes eternos». E dirá ainda: «A vida só se realiza e cumpre se é inspirada e ordenada pela adoração a Deus, que nasce da consciência de que o Universo é a emanação do Amor, da delícia (ananda) divina, do ser Supremo».

5-X. Luís de Almeida, cristão-novo, comerciante, cirurgião («entendia muito bem de cirurgia arrazoada latina») e capitão rico no Extremo Oriente, condoído com a pobreza e doença no Japão, vende tudo o que tem, põe-se a seguir Jesus, aprende a falar japonês, funda uma creche e um hospital em que introduz a medicina ocidental e a cirurgia no Japão, e onde dá aulas preparando assistentes japoneses. Curando muitos corpos, «tem conhecimento de ervas e de outras mezinhas com que os cura», converte também muitas almas como padre e jesuíta. Amigo de Fernão Mendes Pinto, deixou-nos uma importante História do Japão e belas cartas antes de arder em amor e febre e morrer neste dia em 1583, na casa do seu amigo dáimio D. João Amakusa Hisatane. Nas cidades de Oita, Hondo e Nagasaki encontram-se monumentos a ele, dizendo uma lápide da última martirizada cidade: «Luís de Almeida. Médico e Missionário. O Primeiro Português que chegou a Nagasaki. 1567». Armando Martins Janeira escreverá bastante sobre ele nas suas valiosas obras O Impacte Português na Civilização Japonesa, e Figuras do Silêncio, que estudei já no blogue.

Nasce em Langres, Champagne, Denis Diderot (1713-1784), que fará uma notável carreira como escritor, pensador e filósofo, com muitos altos e baixos na vida, valendo-lhe em grande parte a imperatriz da Rússia, Catarina a Grande que o nomeou bibliotecário para toda a sua vida e lhe pagou dívidas, casas, ordenados fabulosamente, tendo estado entre 1773 e 1774 cinco meses em Petersburgo em diálogos diários com ela. A sua maior produção foram as 7.000 entradas (das 70.000) para o Dicionário Enciclopédico, que co-fundou com Alembert, de  1751 a 1765, em 28 volumes, e que de algum modo fizeram avançar o racionalismo e prepararam a Revolução Francesa. Em 1973, o Dr. Manohar L. Sar Dessai, escreveu em francês no Boletim do Instituto Menezes de Bragança, um valioso artigo, L' Inde dans l'Enciclopédie Française, onde sumariza muito bem as referências nela à Índia, na sua maioria inexactas e frequentemente contraditórias, já que por exemplo, três autores, Chevalier de Jaucort, Diderot e o abade Mallet, escreveram sobre os Bramânes de modos tão desencontrados que o leitor desprevenido pensará que há três tipos de brâmanes. Discernirá que «votado à acção prática e desconfiando de toda a contemplação estéril, Diderot atacou o quietismo das Índias. Assim não simula qualquer admiração pelo Gimnosofistas tão elogiados pelos Antigos. "Estes pretensamente sábios que se estavam sempre sobre só um pé, fitavam o sol dum olhar firme e imóvel desde o seu nascer até ao pôr, tinham os braços elevados toda a sua vida, olhavam incessantemente para a ponta do nariz e sentiam-se cheios do favor celeste sempre que se apercebiam uma pequena chama azul [Muito curioso, terem sabido dos fotismos no olho espiritual]», eis extravagancias  completamente incríveis, exclama Diderot, e se foi assim que os bramânes adquiriram o nome de sábios, só pode ser porque que os povos que lhes deram estes nomes eram mais tolos que eles. Diderot deprecia também os Jogigueles e jnanijogis modernos que vivem  na solidão, que consideram o mundo como uma ilusão, o nada como o estado de perfeição, trabalhando da manhã à noite em se embrutecerem, a nada desejarem, a nada odiarem, a nada sentirem, e que depois de terem atingido este estado de estupidez completa, onde o presente, o passado e o futuro foram para eles aniquilados, consideram-se sábios, homens perfeitos. A conclusão tirada por Diderot é: "Onde quer que o homem saindo do seu estado se proponha  como modelo ser imortal, imóvel, impassível, inalterável, terá que descer abaixo do animal. Já que a natureza te fez homem, sê homem e não Deus."  Em relação aos sacerdotes do Deus Fo, os budistas (mas a que chama brachmanes), Diderot diz que asseguram que o mundo é apenas uma ilusão, uma prestidigitação e que os corpos para existirem verdadeiramente devem cessar e confundirem-se com o nada, que pela sua simplicidade faz a perfeição a todos os seres. É o profundo adormecimento do espírito, a calma de todas as potências, a suspensão absoluta dos sentidos  que causa ou faz a perfeição».
                                        
O mestre Ramalinga nasce em 1823 em Chidambaram, Índia. Não ensinado, ele ensinou sabedoria. Por processos de meditação, nomeadamente numa chama em frente ao espelho, e por uma vida austera e abnegada, acendeu o seu génio a uma fulgurância tal que milhares adoravam com ele a Graça Divina no Templo da Luz, em Valadur, cantando o mantra "Viva a Luz da Graça Suprema, Viva a Compaixão". Reformador social, criticou as diferenças de castas e religiões e intensificou em muitos a tomada de consciência da Unidade amorosa e beatífica divina. O Kavi Yoga Shudhananda Bharati no ashram de quem estive alguns meses em Madras, dedicou-lhe um livro, realçando algumas das suas realizações e ensinamentos espirituais.
6-X. O P. Mateus Ricci nasce em Macerata, Itália, em 1552, de família nobre. Estudos bem desenvolvidos no colégio de Roma, a passagem dum missionário autêntico (em 1576) e o português Martinho da Silva fazem-no despertar para tal vocação, chegando a Lisboa em 1577, donde parte com Miguel Ruggieri e Duarte Sande para Goa em 1578. Em 1582 está em Macau e começa a missão da sua vida: a introdução do Cristianismo e da cultura ocidental na China, o que consegue graças a certa receptividade de alguns letrados, mandarins e povo e à sua extraordinária inteligência, memória e disponibilidade. A sua sábia adaptação do cristianismo às tradições chinesas, que lhe abriu as portas internas, encontrará as maiores resistências no papado e em certos frades e clérigos, sobretudo já no século XVIII, que acabarão por enfraquecer o seu trabalho pioneiro.
Regressa ao mundo espiritual, em 1646, em Goa, Frei Diogo de Santa Ana, que andara na Pérsia em debates teológicos, animado pela estima do Châh Abbâs, tendo convertido ainda o patriarca da Arménia e alguns dos seus bispos. Deixou uma relação manuscrita autobiográfica intitulada Do Tocante ao que o Padre Servo Sem Proveito fez, em o Reino da Pérsia, Com a Divina Graça, editada em 1972 por Roberto Gulbenkian. Nomeado confessor e administrador do Convento das Mónicas em Goa, opor-se-á com o bispo Frei Miguel Rangel às medidas que o vice-rei conde de Linhares e a câmara de Goa pretendiam de limitação do poder temporal do convento: as mulheres recebidas no convento eram escolhidas das mais ricas de Goa por Frei Diogo, que emprestava depois dinheiro a juros de 10%. A questão será noticiada para Lisboa que determinará uma série de medidas de restrição das riquezas das ordens religiosas nas partes do Estado «tão consumidas que não há nelas quem tenha cabedal para armar um navio à sua custa». Pouco depois do conde de Linhares partir para Lisboa, com um rol de acusações de que se justificará no Conselho de Estado em 1635, o convento das Mónicas é palco do famoso milagre da imagem de Jesus que, de tosca, movendo-se, chorando e sangrando, se torna perfeita, sendo Frei Diogo autor duma uma Relação sobre o caso. Depois arde o convento, mas voltará a ser reconstruído e ainda hoje está vivo e firme,  perto da impressionante ruína duma torre de grande altura, o que resta da igreja do Convento de S. Agostinho.
Potala, a fortaleza espiritual dos Dali Lama, em Lhasa, numa pintura de Nicholai Roerich.
7-X. Sete dias depois do ministro chinês Chu-En-Lai declarar que o Tibete deve ser libertado, as forças chinesas invadem o Tibete, neste dia em 1950, «para libertar os três milhões de tibetanos da opressão imperialista e assegurar as defesas nacionais da fronteira ocidental da China». Inicia-se uma violação sistemática dos direitos e liberdades fundamentais dos tibetanos, com graves perdas do património humano e artístico (mais de três mil mosteiros destruídos e de milhares de mortos). Aguardam-se mudanças na continuidade ideológica dos governos chineses para que a sua própria tradição de sabedoria taoísta, confucionista e budista brote por entre o gelo do materialismo agnóstico e permita, pelo menos, uma autonomia digna a todas as minorias englobadas no seu gigantesco império.

8-X. Na basílica de S. Pedro em Roma, o papa humanista Leão X, da família florentina regente, os Medici, manda celebrar uma missa de acção de graças pelos feitos dos portugueses no Oriente em 1513 (sobretudo a conquista de Malaca por Albuquerque que lhe fora comunicada por carta de D. Manuel), e na oração panegírica o cónego Camilo Porzzio enaltece os portugueses por irem mais longe que Alexandre o Magno e estarem a defender os interesses da cristandade, enquanto os outros reis da Europa andavam empenhados em «vingar injúrias particulares», com os turcos a baterem à porta. Refere ainda a chegada à corte lisboeta duma «boa parte do lenho da Vera Cruz» enviado pelo Preste João...
Desembarca finalmente em Lisboa, neste dia em 1601, Pedro Teixeira depois de ter feito a Índia, a Pérsia, Ormuz, Malaca e Filipinas. Muitos anos na Pérsia, aprende a língua e a sua história (sobre a qual escreverá com interesse e pioneirismo). Voltará à Índia em 1603 e de novo peregrinará pelas zonas do Tigre, Eufrates, Bagdad e Alepo regressando por Veneza e ficando em Antuérpia, uma das grandes feitorias dos Descobrimentos. Escreverá uma valiosa relação da sua viagem, na qual tanto regista a sua franca apreciação dos iraquianos, «gente branca, formosa, e de boa disposição, de bem natural e afável», como as suas mulheres das quais «há muitas mui formosas, em geral tem belos olhos». Mas será crítico, ou preconceituoso, quanto à religiosidade do muçulmano normal: «tanto pode o dinheiro com mouros. Não há neles fé, nem palavra, nem outro Deus mais que o seu interesse». É claro que esta afirmação se pode estender facilmente a muitos fiéis (os “infiéis”) das outras religiões.
                                                                 
9-X. Nos paços da Alcáçova de Lisboa nasce, de D. Afonso III e Beatriz de Castela, em 1261, D. Dinis, o grande poeta trovador e amador (Camões dirá que foi ele quem transferiu as musas da Grécia para Portugal), o genial transformador dos Templários na Ordem de Cristo, para quem se criou o dito «D. Dinis, fez tudo quanto quis», e que fomentou vilas, feiras e indústrias, comércio marítimo, construção de fortalezas e cultura universitária. Embora casando-se com Isabel de Aragão, alma varonil e santificável, recebeu  dissabores com o filho, não preferido, o infante D. Afonso, futuro D. Afonso IV, amenizados e aplacados porém pela rainha santa Isabel, protectora dos pobres e da devoção religiosa;  e após a morte de D. Dinis e já no fim da sua vida, ela tornou-se clarissa no paço contíguo ao mosteiro de Santa Clara a Velha em Coimbra, onde hoje se encontra um bom museu respeitante a tais momentos, e onde fez construir o seu túmulo. O fomento e a protecção do pinhal de Leiria e o apoio à Marinha vieram a tornar-se providências importantes para a saga dos Descobrimentos. Governando sabiamente durante 46 anos, estabelecendo diplomaticamente as fronteiras com Castela, foi um dos co-fundadores de Portugal, com D. Afonso Henriques.
Pintura de Nicholai Roerich, no seu jardim em Naggar, Índia, junto à estatua da deusa himalaica Gunga Choan, realizada pelo seu filho Svetoslav.

Nicholas Roerich, pintor, curador de arte e mestre espiritual, nasce neste dia 9 de Outubro de 1874 em S. Petersburgo, na santa Rússia. Forma-se na Academia Imperial de Arte, de 1893 a 1898. Grande amante do passado, arqueólogo e preservador da arte, de 1904 a 1905 desenhará uma série de quadros da arquitectura dos monumentos antigos. Será director da secção da Sociedade Imperial para o  Encorajamento das Artes de 1906 a 1917, expondo já na Europa. Com a revolução de Outubro de 1917 desilude-se do rumo do partido bolchevique e em particular de Lenine, embora participando ainda com Gorki na União das Artes,  que já vivia na fronteira da Finlandia, emigrar para ela e a meio de 1919 parte para Inglaterra, onde entra em contacto com os meio teosóficos. Em 1920 parte para os USA e obtem um bom reconhecimento criando um Instituto e Museu em Nova Iorque. Mas cada vez mais ensusiasmado com a nova Era ques e anunciava nos meios teosóficos e espirituais parte para a Índia.  Casou-se cedo em 1901, após cerca de um ano de namoro de grande paixão, com Helena Roerich, uma mulher dotada de poderes psíquicos e que estaria em contacto telepático com os Mestres dos Himalaias os quais lhes transmitirão ensinamentos Nomeadamente o famoso Agni Yoga) e indicações práticas.  Tiveram dois filhos, Svetoslav (com quem ainda me correspondi quando estava na Índia) e George. Após uma expedição na Ásia Central de 1923 a 1928, com algum apoio do governo russo,  estabilizará em Naggar, Kulu Vally, junto aos Himalaias, onde viverá de 1929 a 1947 e donde viajará ainda pela Ásia Central numa expedição à Mongólia, Manchúria e deserto do Gobi,  paga pelo governo norte-americano, graças a um amigo, com fins botânicos de recolher plantas contra a erosão dos solos. Em 1935 estará em Nova Iorque para assinar o Pacto Roerich, um tratado pela protecção dos monumentos em tempo de guerra, que 35 países das Américas assinaram, nas vésperas da 2ª grande Guerra. Deixou vária inúmeras obras literárias, artísticas, científicas e de espiritualidade, sendo mais de cinco mil as suas pinturas. Ainda peregrinei à sua casa e centro em Naggar, Kulu Valey, no norte da Índia, por duas vezes, contemplando demoradamente os seus maravilhosos quadros e dando-lhe as minhas legendas, com os Himalaias ao longe mas perto. 
                                      
Oiçamo-lo numa das suas linhas de força, que muito usou ou mesmo abusou, os Himalaias, Shambhala e a vinda de Maitreya: «Himalaias! Aqui é a abobada dos Rishis (sábios-videntes védicos). Aqui ressoou a flauta sagrada de Krishna [improvável]. Aqui relampejou o abençoado Gautama Buddha. Aqui se originaram todos os Vedas. Aqui viveram os Pandavas. Aqui — Gesar Khan. Aqui — Aryavarta. Aqui está Shambhala. Himalaias — joia da Índia. Himalaias — tesouro do mundo. Himalaias — símbolo sagrado da Ascensão... O ser humano deve dedicar-se inteiramente ao labor criativo. Aqueles que trabalham com Shambhala, os iniciados e mensageiros de Shambhala não se sentam reclusos — eles viajam por toda a parte». Duas pinturas, pelo menos, de Nicholas Roerich encontram-se em 2023 em Portugal, uma delas oferecida ao museu Machado de Castro, em Coimbra, certamente ignorada ou menosprezada nas reservas...

10-X. Pedro Afonso de Aguiar desembarca em Lisboa, em 1503, duma das suas sete viagens à Índia onde se notabilizou, exercendo em seguida cargos diplomáticos e de aconselhamento sobre a navegação na carreira da Índia. 
 D. Maria, a mais culta e humanista das infantas de Portugal, «rara gentileza e subtil engenho», nascida de D. Manuel I e de D. Leonor da Áustria em 1521, que fez do seu palácio corte florentina e mosteiro de divindades, tendo como mestras para cultivarem as humanidades Joana Vaz e a toledana Luísa Sigeia (autora do poema Syntra e do valioso Diálogo das Duas Jovens). Fundou o convento de Nossa Senhora da Luz entregue à Ordem de Cristo, e mais tarde ao Colégio Militar (onde eu ainda estudei seis anos), liberta-se do corpo material neste dia em 1577, e a sua sepultura nessa bela Igreja da Luz não terá letras nem divisas «simbolizando-se por este sinal de humildade a muita que a princesa guardou em seu coração por toda a vida». Mas na sua vida, em grande parte à espera da consumação dos vários casamentos que foram sendo projectados, também houve sentimento de amor forte mas só platónico, com o Grão Prior de Lorena François de Guise,  e o fausto oriental, como nos relata o embaixador francês Jean Nicot em 1559: «Bela princesa e tão ricamente vestida que parecia não ter ficado pedra preciosa nem pérola no Oriente». D. Sebastião, nas vésperas da jornada de África e tão necessitado de dinheiro, será nomeado seu herdeiro. Referindo-se aos seus dotes musicais, João de Barros, no Panegírico que lhe tece, refere a música das esferas, o nada ou shabda, segundo a tradição indiana: «E tanto fruto tem Vossa Alteza colhido das letras, que achando nelas quão espiritual coisa é a música, e quanto levanta os corações para o Céu, nela se exercita, como fizeram mui graves filósofos que, vendo a ordem dos Céus, disseram que em suas contínuas voltas, com que rodeiam o mundo, fazem uma mui suave música, de que os nossos sentidos são incapazes, por exceder sua potência, atribuindo a cada um suas vozes agudas e graves». Camões, que segundo alguns autores a teria amado platonicamente, tê-la-ia assim tão bela e sugestivamente descrito, qual eterno arquétipo feminino intuído por um cavaleiro de Amor como ele era: «leda serenidade deleitosa, que representa em terra um paraíso»
Carta do rei D. Filipe III em 1611 a D. Jerónimo de Azevedo (1540-1625): «Vice-rei da Índia amigo, eu el-rei vos envio muito saudar», informando-o que da Holanda partem navios de carga e de guerra e para que este aviso seja transmitido à China, Malaca, Filipinas e Moçambique. Mas sem meios de resposta ou implementação adequada, de pouco servem as melhores informações e avisos...
Neste dia, em 1934, o ilustre médico, antropólogo e professor goês (22-VIII-1888) Alberto Germano da Silva Correia  oferece ao intrépido capitão Henrique Galvão, escritor e director de várias grandes exposições nacionais,  um exemplar da sua obra S. Francisco Xavier. Sua vida, seu Apostolado e sua missão evangelizadora e civilizadora, impresso em Nova Goa em 1934, onde historia as várias exposições do corpo de S. Francisco Xavier em Velha Goa e narra alguns casos miraculosos de cura obtidos pela fé dos devotos peregrinos...
11-X. Bahadur, o rei de Cambaia, em 1536, experimenta o governador de Diu, Manuel de Sousa mandando um mouro confidenciar-lhe que no dia seguinte o rei o mandaria chamar, mas para matá-lo. Chamado, foi só com um pagem e o rei rendeu-se à sua coragem e não lhe fez aleivosia. Curiosamente, em Março de 1537, morrem os dois no mesmo dia, talvez num acometer traiçoeiro sobre Bahadur. O sábio Garcia de Orta, que andou nas cortes dos reis indianos, tratando e aprendendo, diz dele nos Colóquios dos Simples e Drogas e coisas medicinais da Índia: «E o grande sultão Badur dizia a Martim Afonso de Sousa, a quem ele muito grande bem queria e lhe descobria os seus segredos, que quando de noite queria ir a Portugal e ao Brasil, e à Turquia, e à Arábia, e à Pérsia, não fazia mais que comer um pouco de bange», documento antropológico do consumo de haschiche como meio de expansão de consciência na época. 
 O notável poeta revolucionário, espiritualista e, por fim, e a instâncias da sua estremada mãe, convertido ao cristianismo, Gomes Leal, que fora também atraído pela sabedoria indiana e teosófica, no jornal O Século deste dia, em 1888, elogia em extenso texto o grande amigo de Antero de Quental, o poeta goês Fernando Leal, pondo-o em lugar de destaque, após João de Deus, Teófilo Braga e Antero de Quental, «é depois destes, repetimos, a entidade mais original, mais simpática, mais viva - porque representa os nervos, a inquietação, a jovialidade e a força.  É na nossa literatura quase apagada e triste, um raio de sol da resplandecente Índia, onde a bela Lakshmi nasceu radiante de um mar todo de leite no largo cálix de um loto, a bela flor azul!...»
                                      
12-X. O mestre japonês Nichirem entra no bosque de Omori, perto de Yedo, sobe a uma colina com os seus discípulos e parte para o mundo espiritual, neste dia em 1222. Compadecido da sorte do povo, para quem as especulações budistas abstractas, ou os códigos de honra cavaleiresca, não eram acessíveis, ainda que com a oposição severa do governador Hodjo, como o sol que tanto beija o oceano como a gota do riacho, quis tornar acessível uma mensagem libertadora que formulou nas palavras do sutra do lótus: «Nam Myoho Renge Kyo», «Bendita seja a lei do lótus da luz divina», ainda hoje repetido por milhões de devotos como oração ou mantra santificador. Os missionários portugueses, nomeadamente Luís de Fróis na sua História do Japão, 2ª parte, referenciam com frequência a seita fundada por Nichiren-Shonin, os foquexus (Hokke-shu), considerando-a fanática, pelo seu entusiasmo, disciplina e oposição ao catolicismo.
                                     
Partida de D. Manuel e de muitos da corte em peregrinação até Santiago de Compostela, em 1502, provavelmente para agradecer os sucessos no Oriente, muitos dos quais foram alcançados sobre a evocação em voz bem alta: Por Santiago ou do Eultreia Esusseia, Herru Santiagu. O centro maior de peregrinações da Europa, por Compostela se encontraram peregrinando almas como Santa Isabel (duas vezes), o mestre alquimista frei Arnaldo de Vilanova, e muitos outros seres sensíveis e expectantes à compostagem da Estrela, à descida do Espírito. Sinais da Grande Obra abundantes na catedral, a capela do Santíssimo reservada para a oração silenciosa, e os ícones do Apóstolo, do mestre construtor Mateus e muitos símbolos intensificam as energias, permitindo ainda hoje inspirações luminosas aos peregrinos, no meio duma cidade bem protegida e preservada no seu centro histórico.
«Hei por bem ratificar o bando que mandei deitar em Fevereiro de 1699 pelo qual proibi que nenhuma das ditas gentias (bailadeiras) morasse em nenhuma das terras deste Estado... sob pena de morrer de morte natural todas as vezes que nele forem achadas». Alvará deste dia de 1770, em Goa. Não se desejavam assim nem sacerdotisas do amor, nem novas Madalenas.
D. Pedro é aclamado imperador constitucional do Brasil no Rio de Janeiro em 1822, mas as lutas entre os partidários da Independência ajudados por ingleses e os que se mantinham obedientes a D. João VI, bem como entre as obediência maçónicas, continuarão ainda por algum tempo.
                                 
Ruy Cinatti, que nascera a 8 de Março de 1915 em Londres, parte neste dia 12 de Outubro de 1986 para o mundo espiritual do qual certamente já teria obtido alguns vislumbres e experiências. Foi um notável poeta e agrónomo aberto à arte, à cultura, ao Extremo Oriente e à espiritualidade e que transparecem bem na sua poesia e obras antropológicas. Esteve sobretudo em Timor, dedicando várias obras e poesia a tal povo e terra, muito sensível, profunda e espiritual, tanto mais que foi iniciado pelo sangue e a fraternidade na mística timorense.

13-X. D. Francisco Manuel de Melo, cavaleiro nas armadas da costa de 1626 a 1640, embaixador e general da armada, preso por invejas durante nove anos («antes quero morte e desterro, e todos os trabalhos do mundo, que dizer coisa contra o que eu sinto»), e só indultado depois da morte de D. João IV, sábio cultor das letras humanistas, desprende-se da vida terrena em 1666. Na sua Epanáfora Trágica descreve o famoso naufrágio da armada da Índia e dos galeões que a foram proteger, e em que participou e escapou, tendo a consolação de ver os nobres vestirem-se das suas melhores roupas para morrer, e o comandante D. Manuel de Meneses ler-lhe um poema que Lope de la Vega lhe oferecera, fazendo em seguida o «seu juízo, como se fora examinado numa serena academia... com tal sossego e magistério que sempre me ficou viva a lembrança daquela acção como coisa muito notável». Autor de peças de teatro, os Apólogos Dialogais e a Feira de Anexins mostram bem o seu domínio da vida cultural e social europeia, num autor bilingue, como tantos outros que viveram na época dos Filipes. Escreveu um Tratado sobre a Ciência da Cabala, nos seus aspectos numéricos e linguísticos, e deixou dezenas de manuscritos, dos quais um acerca do Brasil, intitulado Paraíso de Mulatos, Purgatório de Brancos, e Inferno de Negros, e outro sobre empresas morais com desenhos seus, por hora infelizmente perdidos. 
Nasce em Lisboa em 1873 Aires de Sá. Licenciado em Letras em 1897, será bibliotecário real em Mafra até à proclamação da República, e distinguir-se-a como historiador da Marinha Portuguesa nos séculos XII a XV, publicando mais de trinta trabalhos, muitos respeitantes aos Descobrimentos. Em 1931 foi nomeado Conservador do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Descendente de Gonçalo Velho, um dos primeiros navegadores e representado nos painéis de S. Vicente, e tendo publicado sobre ele, foi assim elogiado pelo conselheiro Ferreira Lobo:«É honra para o senhor Aires de Sá a memória dos seus antepassados; mas é honra para a memória deles a obra do senhor Ayres de Sá». Já o rei D. Carlos dissera profeticamente: «O Ayres é a Torre do Tombo com vida e talento. Portugal precisava de meia dúzia de homens como ele.»

14-X. Trágica trituração, incineração e dispersão das cinzas da venerável relíquia dum dente de Sidharta Gautama Buddha, por determinação da junta que o vice-rei D. Constantino de Bragança reunira em Goa para discutir a oferta do rei de Pegu do seu resgate em troca de paz e tributos perpétuos, neste dia em 1560. Frei Aleixo Meneses foi a alma da destruição do ídolo, já que seria portador dum demónio e que teria de ser desalojado. A facilidade com que o dente (como tantas outras relíquias), será substituído, pode sugerir que a atribuição não seria verídica (e que estaria reaguardada), o que desvalorizaria a perda de tal relíquia. Aquilino Ribeiro biografou excelentemente o vice-rei e narra os episódios com a sua proverbial franqueza irónica castiça. 
Junto a Madras, na noite de 1749, os ingleses com mais de mil homens atacam a fortaleza de Meliapor e vencem a oposição dos poucos portugueses, sendo o governador D. António de Noronha (a quem fora doado Meliapor e S. Tomé pelo príncipe mogol Mohamed Ali) ferido e preso, vendo-se assim os portugueses privados das igrejas onde se veneravam as relíquias de S. Tomé. «O que semeias colhes», denominado no Oriente a lei do karma, confirmava-se ainda que numa sincronia centenária (Buddha e S. Tomé). D. António de Noronha, feito frade em criança, mas que se revelara mais guerreiro, tal como era tradição na sua família, vai preso até Londres, onde é libertado pela acção diplomática dum português enviado extraordinário à corte, e em França o rei torna-o cavaleiro de S. Lázaro e do Monte Carmelo, e bispo de Halicarnasso, regressando de novo à Índia, desta vez para a vizinha Pondichery, pois era amigo do almirante Dupleix, governador dessa zona de influência francesa,  lutará com os franceses contra os ingleses, ajudado por uma legião de luso-indianos e maratas mais aventureiros.   
                                                
O comandante José Botelho Carvalho de Araújo morre neste dia em 1918, ao sacrificar-se com o seu caça-minas Augusto de Castilho, em defesa dum paquete de passageiros, o S. Miguel, entre os Açores e a Madeira, contra um submarino alemão. Num relatório valioso, acerca do governo do distrito de Inhambane, o qual entregara pouco antes, ensina: «O processo único de evitar a desnacionalização, que caminha a passos agigantados, é dar ao indígena uma educação e uma instrução que o obriguem a reconhecer e apreciar os benefícios do nosso domínio, as vantagens de conhecer a nossa língua, os inconvenientes de alguns dos seus usos e costumes, e incutir-lhes ao mesmo tempo no seu espírito amor pelo trabalho e dedicação pela pátria portuguesa».
                                          
15-X. Nasce em Neurá, em 1755, o Dr. Bernardo Peres da Silva, médico. Foi um dos três representantes da Índia às cortes liberais, mas com as Lutas Liberais teve de passar ao Brasil e a Inglaterra. Veio a ser contudo por mais de uma vez deputado e por fim D. Maria II nomeou-o em 1834 Prefeito das Índias, título correspondente a Vice-Rei, que exerceu pouco tempo pois o governador militar revoltou-se com parte do exército e destituíram-no, devido às medidas de reforma judicial demasiado rápidas e talvez algo autonomistas para a época.
O poeta e oficial Fernando Leal nasce neste dia 15 de Outubro
de 1846 em Margão. Após uma vida bastante heróica e movimentada veio a casar com uma das filhas do conde de Mahem, Guiomar, participnado em muitos serões literários que, com as récitas juvenis organizadas por Higino da Costa Paulino, eram momentos intensificadores do convívio cultural dos portugueses em Pangim, no final do séc. XIX. Com o naturalista alemão Carl Mauch (o redescobridor das ruínas de Zimbaué) trilhara pioneiramente o percurso do Transval (onde fôra em missão diplomática de acordarem nos limites territoriais) a Lourenço Marques por caminhos até então não percorridos pelos europeus, contribuindo com as suas viagens e mapas não só para a confirmação da presença e soberania portuguesa em Moçambique na arbitragem internacional de 1875, como também para avanços científicos nas áreas de geologia e botânica, tendo descoberta um nova planta que recebeu o seu nome a arbol botella, denominada Pachypodium Lealli. Traduziu versos de Victor Hugo e de outros autores franceses e na dedicatória que endereça ao poeta francês num dos seus livros confessa ter aprendido a sua língua numa obscura aldeia do Malabar: «O meu professor de francês era um pobre padre cristão, muito inteligente, mas brâmane pela sua casta e que nunca encontrara na sua vida um francês». Nos anos que esteve em Portugal conviveu com muitos escritores destacando-se a sua grande amizade com João de Deus, Gomes Leal e em especial Antero de Quental, e da qual nos restam algumas cartas muito significativas filosófica e espiritualmente. Encontra uma boa biografia dele neste blogue.  Aquando do Ultimatum de 1891 reagiu forte e ironicamente contra o imperialismo inglês e escreveu Palmadas na Pança do John Bull. Já no fim da sua vida terrena reuniu poemas, traduções e textos, numa obra mais religiosa intitulada o Livro da Fé. Morreu em 1910 em Goa já no posto de coronel. A sua mulher Guiomar amava-o tanto que manteve o seu caixão em sua casa bastante tempo. É a Fernando Leal que devemos alguns esclarecimentos da vida amorosa de Antero de Quental (muito discreto nisso), nomeadamente acerca da mítica Beatrice, tanto mais que fora este que o aconselhara a regressar a Goa e a casar-se com quem o amasse...
O poeta Gomes Leal, que foi também atraído pela sabedoria tanto geral como cristã, indiana e teosófica, e de formas muito originais e por vezes muito revolucionárias ou mesmo heréticas, neste dia em 1888 no jornal O Século elogiava assim o poeta Fernando Lealno dia do eu aniversário: «um raio de sol da resplendescente Índia, onde a bela Lakshmi nasceu radiante de um mar todo de leite no largo cálice de um lótus, a bela flor azul!» 
Sai Baba de Shirdhi, um dos mestres unificadores das várias religiões da Índia em práticas comuns de auto-conhecimento e devoção, assentes na aceitação e justificação das diferentes fés, morre neste dia em 1918, em Shirdhi, perto de Bombaim ou Mombai. Foi inicialmente um yogi e sufi, vivendo com grande desprendimento, nomeadamente cinco anos debaixo de uma árvore neem, e com o tempo juntou práticas e expressões de ambas as religiões. afirmando-se acima de diferença de rituais, castas e religiões. Um dos seus ditos mais repetidos, no qual recomendava meditar, era Allah Mallik, em urdu, "Deus é o chefe, quem toma conta, ou rege o mundo". E outro era: "O que está connosco está connosco, o que está com eles está com eles", para não criticarmos tanto os demais, pois cada um recolhe os frutos das suas acções. Depois da sua morte, ou mesmo antes, já era considerado um santo, um satguru, um avatar, e assim o templo onde se encontra o seu mahasamadhi em Shirdi recebe ainda hoje centenas de pessoas diariamente.
16-X. A frota anglo-holandesa deixa neste dia em 1626 a cidade de Bombaim, tal como regista no seu diário de bordo Andrew Warden, «depois terem feito todo o mal possível e pegado fogo». Partiam muito frustrados já que os habitantes, apenas com setenta espingardas, das quais doze em mãos de portugueses «tinham fugido levando consigo o melhor e deixado só o lixo».
Sóror Mariana do Rosário, crescida em virtudes e
participante de tantas luzes do céu que foi dotada do dom da profecia, da cura e da protecção, liberta-se da vestimenta terrena neste dia 16 de Outubro de 1649, no convento do Salvador, em Évora. Na sua alma cabia bem o Oriente e para lá encaminhava as suas orações quando intercedia pelo reino ou pessoas. Muitas madres e sorores constituíam a retaguarda da cruzada missionária, ora castigando-se mais feramente ainda que os seus irmãos, e talvez compensando assim o sangue dito infiel ou pagão derramado, ora erguendo-se acima do rude ascetismo penitencial e irradiando inteligência, ora com conhecimento, gozando os mistérios unitivos. Nos seus solilóquios com a alma de Jesus, este dir-lhe-á, a propósito de certas freiras mais dispersas ou mundanizadas, ou ainda destituídas da aspiração amorosa tão trabalhada na bhakti yoga indiana: «Filha, não acho aqui quem me queira, tudo está ocupado». 
Sri Chandra Mohan Ji Maharaj nasce em Alupur, Haryana, a 16 de Outubro de 1907 e desde  novo teve a 3ª visão aberta, vendo  Krishna, ou tendo sonhos de voar, que mostram uma auto-consciência terrena já unificada com a do corpo subtil, o que na tradição yogi é considerado o poder psíquico do espaço, akashgaman siddhi,  e tornar-se-à cedo um  ser de conhecimento e de luz, recebendo a educação dos pais e depois de professores valiosos e por fim a iniciação em Rishikesh pelo seu  Gurudev Mahaprabhu Ramlal, que já vira em sonhos e sabia ser ele. Enviado para Vrindavan, local máximo do culto a Krishna, praticou a sadhana com muito zelo, teve boas experiências espirituais e conviveu com yogis como  Aghaddutta e Brahmachari Gopalananda ji   Em seguida foi para Haridwar, cidade santa junto ao Ganges, e esteve algum tempo retirado num monte e rodeado de animais selvagens, sem problemas. Já não longe dos Himalaias, dizia que naquelas zonas havia yogis ou mestres que chegavam a viver  400 a 500 anos. Na minha segunda peregrinação e estadia na Índia visitei-o no seu ashram, em Sawai, Agra, e senti a sua força espiritual, bem como a do local, embora o nosso diálogo fosse pequeno pois não falava inglês. Trouxe de lá um livrinho que ainda tenho Pratices for developing The Life Force. Jiwan, Tatwa, Sadhan que ainda pratiquei (e mais tarde ensinei), para além da meditação em grupo, na qual ele elogiou muito a minha imperturbabilidade quando uma cobra entrou no terreiro, provocou gritos e fugas de muitos mas nada de receios em mim. As práticas tinham-lhe sido transmitidas pelo seu guru Sri Ramlal Maharaj. Durante os anos que fui instrutor de  Agni Raj yoga, no Porto, no restaurante e centro Suribachi, ensinei algumas delas. Hoje o ashram continua a funcionar, e há bastantes vídeos dos seus satsangs, ou discursos espirituais, na internet. 
                                         

17-X. Em Tânger, em 1437, corre mal a aventura expedicionária dos infantes D. Fernando e D. Henrique, e depois de vários dias de batalha o último tem de assinar «visto como Deus aprouve de, em termo de Tânger, sermos cercados de mouros, e provendo por meio de paz e concórdia, me obrigo a vós, Cala Ben Cale, a dar a cidade de Ceuta e por garantia disso lhe darei o Infante D. Fernando». Iniciada estava a longa Paixão que o Infante Santo, com paciência e estoicismo, soube enfrentar. Nos Jerónimos, no portal ocidental encontra-se representado como santo protector de Lisboa e Portugal, com S. Vicente, em esculturas de Nicolau Chanterene mandadas esculpir por D. Manuel I.
El Rei D. Manuel I publica neste dia em 1516 o Regimento dos Vedores da Fazenda, órgão colegial que ficou dividido em três contadorias, Reino, África e Índia, e que  logo a seguir ao Rei superintendia a administração ultramarina. Um dos mais notáveis foi o 6º Vedor da Fazenda da Índia Simão Botelho de Andrade (1504-1565), no tempo de D. João de Castro, e que procurou equilibrar a liberalidade deste e a intolerância religiosa de outros. 
                                          
18-X. O Padre Manuel da Nóbrega nasce neste dia em 1517 em Sanfins do Douro e 53 anos exactamente depois morre no Rio do Janeiro. Foi missionário do Brasil na primeira leva de missionários jesuítas que foi na armada de Tomé de Sousa em 1549, e do aldeamento e colégio que funda no interior, entre 1553-1554, nascerá a gigantesca urbe de S. Paulo. Deixou uma obra importante histórica, antropológica, religiosa e epistolar. Uma das suas frases representativas de uma visão bem a longo prazo, tão em falta na classe política mundial, foi e algo profética: «Trabalhamos para dar princípio a casas que fiquem enquanto o mundo durar». No seu Diálogo sobre a conversão do Gentio ecoará o grande amor fraterno e universal que estava vivo nos melhores seres, acontecimentos e momentos dos Descobrimentos: «Estou eu imaginando todas as almas dos homens serem umas e todas de um metal, feitas à imagem e semelhança de Deus, e todas capazes da glória e criadas para ela. E tanto vale diante de Deus por natureza a alma do papa como a alma do vosso escravo Papaná». 
O Padre João Loureiro, nascido em Lisboa, provavelmente em 1710, após uma longa vida de missionário no Extremo Oriente, em que esteve três anos em Goa, quatro em Macau e trinta e seis  na Cochinchina, terra onde chegou a haver milhares de cristãos. Falando e escrevendo perfeitamente latim e o inglês, estudou bastante as línguas locais e redigiu um Dicionário anamita-português. No seu espólio que se encontra na Academia das Ciênciasde Lisboa, há muitíssimos inéditos valiosos, com desenhos de minerais, plantas e animais. ou dos instrumentos astronómicos usados. Nas várias invasões que a Conchinchina sofreu na sua época, sempre foi tratado com respeito e manteve-se vários anos como director dos estudos físico e matemáticos reais. Lutou denodamente contra as perseguições que os padres da Propaganda da Fé moviam contra os missionários portugueses. No seu regresso a Portugal foi pela Índia, China, onde esteve três anos ainda, Moçambique, onde ficou alguns meses e finalmente chegou a Lisboa em Janeiro de 1782. Diz-nos o seu biógrafo o Dr. Bernardino António Gomes, a finalizar o seu elogio histórico lido na Academia das Ciências, em 1865:«Quando Loureiro imprimiu a sua Flora [Cochinchinense] devia contar oitenta anos de idade, tão bem o serviu até o último período da vida a força da sua inteligência. Um ano depois não existia [pois cumprira a sua missão final...]. Em 1793, em Berlim, a Flora Cochinchinense foi impressa e anotada pelo botânico Carl Ludoviv Willdenow, que confessa ser «para muito se admirar como é que uma pessoa tão destituída de livros pudesse ter escrito tão eruditamente  sobre as plantas». Também o botânico inglês Hooker filho se admirou com o «zelo tão raro» manifestado pelo ilustre transmontano.
 
Nasce neste dia 18 de Outubro de 1850  Basil Hall Chamberlain, filho de um almirante inglês, que não se dando com a vida comercial em que o queriam envolver partiu para o Japão onde se tornará professor e especialista da cultura nipónica traduzindo vários textos importantes, tal o primordial Kojiki, ou a poesia Haiku, estudando o povo mais antigo do arquipélago, os Ainos e a sua língua e folclore e escrevendo obras que se tornaram muito populares. Vivendo no Japão de 1873 a 1911 partirá depois para Genebra, onde desincarnará em 1935.
                                             
Georges Ohsawa, ou Nyoiti Sakurazawa, nasce neste dia em 1893, em Kyoto, de uma familia de samurais empobrecida. Aderirá ao movimento Shokuiku, Educação alimentar, fundado  pelo genial médico Ishizuka Sagen, (1850-1909) e que atingira grande sucesso (no pico, 100 consultas por dia) pelos seus tratamentos pelo equilíbrio alimentar do Yin e Yang, consignados na obra Uma teoria química da nutrição na Saúde e Longevidade. Ohsawa aprende com um seu discípulo e vindo para o Ocidente transmitirá esta filosofia do equilíbrio do Yin-Yang, negativo e positivo, feminino e masculino, noite e dia, e sobretudo do conteúdo do potássio e sódio no alimentos, iniciando no Ocidente o método macrobiótico (grande vida)  de alimentação, como disciplina harmonizadora do corpo e alma, recomendando o uso de cereais, verduras, leguminosas e algas, e a cautela com as proteínas animais, o açúcar, o excesso de Yin, ou seja de alimentos com mais teor de potássio. O miso, o daikon, a umesboshi são dos alimentos mais utilizados salutarmente. Regressado ao Japão em 1931, como um pacifista e prevendo anos mais tarde a derrota do Japão, foi preso e só após esta se ter verificado é que foi libertado, consagrando-se de novo aos seus estudos, publicações e ensinamentos da aplicação do Princípio Único. Morrerá em 1962, de um ataque de coração.
                                            
Diálogo valioso do mestre Sri Ramakrishna em Calcutá neste dia, em 1885: «Sabeis o que é o estado de meditação? A mente tem
de tornar-se como um fluxo contínuo de óleo, - deve haver apenas um pensamento, o de Deus, e outros pensamentos não devem intervir... Há homens só de nome, e homens conhecedores. Aquele que tem a consciência espiritual, que está consciente e plenamente convencido que só Deus é real e que tudo o mais é falso, esse é o homem conhecedor». E conversando acerca dum jovem, dirá: «Qual é o mal em ele não acreditar na possibilidade de incarnação Divina? Chega se ele acredita que Deus existe e que todos os seres e o universo são Suas manifestações... Uns dizem que há dez avatares (incarnações divinas), outros inumeráveis. Onde quer que haja uma manifestação especial do Seu poder, há um avatar. Isto é o que eu creio». Eis uma visão bem simplificadora e ao mesmo bem mais liberal da acção divina nos humanos...
19-X. No vale do Arno nasce em 1433 Marsilio Ficino, filho do médico de Cosimo de Medici, e que se destacou como tradutor de Platão, Plotino e de textos espirituais e herméticos para Latim e a Europa, Foi o presidente da singela e intimista Academia Platónica de Florença, inspirador de Botticeli e Miguel Angelo, autor com Pico della Mirandola, Erasmo, Tomás More, João Colet, Lefèvre d’Étaples, Leão Hebreu e Agostinho Steuco das obras mais sábias da Renascença. Médico como o pai, mas clérigo, provou a imortalidade da alma, se é que assim se pode dizer. Extracto de uma sua carta a um professor: «Mostra-te um exemplo de boa conduta. Pureza de vida engendra reverência para com o ensinamento. Os jovens seguem facilmente o exemplo dos mais velhos. Os que corrompem um jovem, ou de facto a mente de alguém, quer por palavras ou por conduta, devem ser considerados culpados de sacrilégio. Finalmente age de acordo com Pitágoras e Apolónio de Alabanda que, na tradição dos filósofos indianos, não admitiam à sua disciplina nenhum jovem que não fosse de nascimento afortunado e da melhor educação. Pois não está certo que as Musas se tornem ministras ou instrumentos de iniquidade». Tocando harpa, Marsilio Ficino reconheceu e valorizou muito o Som, Sermo, Palavra, Verbo, tal como a tradição indiana que o designa como Vak, Pranava Nada ou Shabda interno: «A alma recebe as mais doces harmonias e números através dos ouvidos, e por estes ecos é lembrada e desperta para a música divina que pode ser ouvida pelo sentido mais subtil e pela mais penetrante mente». Neste blogue encontra em artigo algumas das suas cartas traduzidas do latim e comentadas.
                                             
20-X. Dia de S. Iria, «mártir muito antiga e venerada deste
reino», provavelmente dos tempos visigóticos senão mesmo antes, crendo-se até em lendas que em tempo da Rainha Santa as águas do Tejo se abriram perto de Santarém, cujo nome deriva dela,  para deixar a corte reverenciar o seu corpo incorrupto, fechando-se em seguida, numa espécie de abertura do mundo subterrâneo. Tornou-se a padroeira da vila de Tomar e naturalmente  Frei Isidoro Barreira, um dos mestres da tradição espiritual da Ordem de Cristo, cuja sede era o Convento de Cristo em Tomar, autor do importante Tratado da Significação das Plantas, Flores e Fructos que se referem na Sagrada Escritura, 1698,  biografou-a.
                                           
João de Barros, humanista ainda admirador de Erasmo, de quem escrevera mesmo o encómio quanto tal era ainda permitido, e que foi denominado o
Tito Lívio português pela sua pureza de estilo historiográfico, autor das famosas Décadas da Índia, onde narra a gesta luso-oriental, liberta-se do corpo físico neste dia em 1570. Escrevera uma obra humanista de ética, de arrojado espírito erasmiano e que chegou a entrar no índice dos livros proibidos, a Ropica Pnefma, e um romance de Cavalaria, a Crónica do Imperador Clarimundo, donde os reis de Portugal descendem, pois era um cavaleiro de Amor, filho bastardo de Lopo de Barros, corregedor do Entre Tejo e Guadiana. Disse: «Pois a Deus aprouve que não por ofício, mas por inclinação, não por prémio, mas de graça, e mais oferecido, que convidado tomasse o cuidado de escrever as coisas que passaram neste descobrimento e conquista do Oriente, não permitirá, que eu perca algum prémio, se o deste trabalho posso ter, trocando, ou negando os méritos de cada um». Mas apesar deste desejo de rigor, não esteve na Índia fisicamente, compensando-o a Ordem do Universo e o rei de Portugal com o cargo de feitor da Casa da Índia. A sua grande ou sensível cultura e alma humanista permitia-lhe considerar, por exemplo, os yogis «homens ao modo de filósofos», e defender o relacionamento amistoso com os indianos. E como a primeira edição das Décadas rapidamente se esgotara, e mesmo assim não se calavam os invejosos detractores, no prólogo da Década IV evoca a Ordem e Justiça cósmica, RitaDharma indianos: «Virá tempo em que seremos julgado por homem mais zeloso e diligente no cuidado do bem e glória da pátria que da própria pessoa. Pois pela pátria, no tempo que os outros cá e lá andam a quem se carregará de mais fardos às costas dos despojos da Índia, nós tomámos cuidado de levantar a bandeira dos triunfos dela, que estes carregados deixaram jazer desamparada e esquecida com a ocupação e pressa que cada um em seu modo traz de salvar a presa de que lançou a mão, por mais lhe importar o próprio interesse que a glória comum da pátria». 
Frei António das Chagas, nascido em 1625 de um juiz e de uma mulher irlandesa, foi poeta de amores e notável militar chegando a capitão,   mas aos 31 anos converteu-se e tornou-se um impressionante pregador itinerante franciscano e escritor de sucesso, vindo a morrer neste dia no convento do Varatojo em 1682, em cujo bosque muito deveria ter-se enchido de energia e orado a Deus.
21-X. Em 1147, neste dia, o cerco da Lisboa islâmica, iniciado em 1 de Junho, termina com a conquista da cidade aos mouros, derrotados por D. Afonso Henriques e os cruzados que o auxiliaram. A imagem reproduzida é uma das mais antigas representações pictográficas de Lisboa, feita para a Crónica de D. Afonso Henriques, por Rui de Pina. A cidade será consagrada em 1173 com a chegada das relíquias de S. Vicente, vindas da igreja dos Corvos, em Sagres, no Al-Gharb moçárabe de então.
Neste dia das Onze Mil Virgens mártires, mas que seriam onze companheiras de Ursula, princesa da Bretanha, era de uso nos
colégios jesuítas de todo o Oriente a abertura solene das aulas, com discussões das teses teológicas e representações teatrais. No colégio de S. Paulo em Goa havia uma procissão solene conduzindo a relíquia da cabeça de S. Geracina, uma das Onze Mil Virgens  enviada por D. João III em 1547. Em 1552 fundou-se em Goa, mesmo a Confraria das Onze Mil Virgens.
Chega ao rio Tejo neste dia em 1728 o Dr. Alexandre Metelo de Sousa
e Menezes ao fim três anos e sete dias de missão de embaixador ao imperador da China Yung Ching e para retribuir o presente oferecido pelo seu pai Kang Hsi. O tacto diplomático do nobre, os luxuosos presentes (condizentes com os recebidos) dum D. João V imperial, tornaram possíveis duas das dificílimas audiências imperiais, puramente formais para tristeza dos missionários que desejavam ser autorizados de novo a evangelizarem à vontade. Mas o imperador só garantiu que «tratava os estrangeiros como o seu falecido pai fazia, que sempre tinha mostrado uma atenção especial para com as pessoas em Macau». Nas barcas de mandarim em que seguiu a embaixada rios acima, de Cantão até Pequim, depois das discussões habituais de ser ou não um tributo, as típicas bandeirinhas anunciavam: «O reino do remoto ocidente manda um grande a dar parabéns». Mas a razão principal da magnificente embaixada, que contava com 326 pessoas, como se vê nas cartas de D. João V ao vice-rei na Índia, era dissipar as más impressões que o Patriarca de Antioquia e os missionários nomeados pela Propaganda da Fé estavam a criar no imperador e mandarins contra os missionários do Padroado Português, e alterar a política daí resultante, o que não veio a suceder. 
Alphonse Lamartine nasce neste dia 21 de Outubro de 1790 em Macon, na Borgonha, o que nutrirá o seu amor da natureza e o pacifismo que o caracterizou, numa vida de 78 anos extremamente variada, com intervenções e cargos políticos importantes, viagens, amor e morte, sendo considerado com Victor Hugo e Saint Beuve dos mais importantes representantes do romantismo francês. Joseph de Barros, num artigo para o nº 100 do boletim do Instituto Menezes de Bragança, intitulado a Índia na Literatura Francesa, resume a sua ligação com a Índia: «Lamartine, autor de Meditations poétiques, ficou profundamente emocionado ao conhecer a literatura sânscrita. Ele fala dela com uma certa adoração no seu Curso Familiar, onde dedicou à Índia cerca de 300 páginas. Ele diz: "Respira-se aí não sei que sopro simultaneamente santo e triste, que me parece ter recentemente atravessado um Eden  vedado ao homem. Esta poesia faz entrar em êxtase como o ópio que cresce nas planícies do Ganges. Lembro-me sempre da santa vertigem que me acometeu quando alguns fragmentos desta poesia sânscrita caíram sob meus olhos (...) Lamartine sente-se igualmente enternecido com aquele episódio do Mahabharata em que Youdhishtira renuncia ao paraíso se o seu cão não é lá admitido. "Desde este dia, diz Lamartine, não tornei a matar. O livro comentando tão pateticamente a natureza, tinha-me convencido do meu crime. A Índia tinha-me revelado uma caridade mais aberta do espírito humano, a caridade da natureza inteira." O poema La Chute d'un Ange é todo impregnado de filosofia hindu. O autor esclarece:"É a metamorfose do espírito, essas são as fases que o espírito humano percorre para realizar o seu destino perfeito e chegar aos seus fins pelas vias da Providência e pelas suas tribulações na terra". E esta consideração expressa neste poema não é ela semelhante à ideia da reincarnação que ela transforma?: "Tu não subirás ao céu que te viu nascer// Senão pelos cem degraus da escada dos seres».
22-X. Carta do infante humanista D. Luís, irmão de D. João III, ao seu condiscípulo e governador da Índia Portuguesa D. João de Castro, o amante da então selvajem e preservada serra de Sintra, em 1547: «E confiai em Deus, que vos dará forças para puderdes com os grandes trabalhos, e desordens da Índia, e eu espero nele, que fazendo-o vós assim, venhais encher estes picos da serra de Sintra de Ermidas, e de vossas vitórias, e que as visiteis, e logreis com muito descanso vosso».
O Raja e a Rani (a rainha) de Travancor (Tanor) e os dois
filhos, baptizados pelo abnegado franciscano Frei Vicente de Lagos, e que lhes permitira continuarem a usar as três linhas da casta brâmane, são recebidos com grandes festas em Goa neste dia em 1549 e são confirmados e crismados pelo bispo D. João de Albuquerque na capela onde S. Francisco Xavier dizia missa e rezava.
A armada do vice-rei D. Martinho de Castro, fundeada em
frente a Malaca, em 1606 neste dia sofre pesadas baixas ao ser atacada pela coligação do rei de Jor e dos holandeses, que em breve se tornarão os senhores de grande parte da navegação pelos mares de tais zonas extremas. 
O 27º vice-rei na Índia Vasco de Mascarenhas, conde de Óbidos, é preso no forte dos Reis Magos, em Goa, em 1653 e enviado para o reino, tomando conta do poder o chefe da insubordinação, o capitão de Daugim D. Brás de Castro, que governará até à chegada do novo vice-rei em 1655, sendo então enviado preso para Lisboa, e morrendo no caminho, como era prática ou costume... Já o 1º conde de Óbidos ainda será vice-rei no Brasil de 1663 a 1667.
                                          
D. João V, filho de D. Pedro II e da princesa alemã Maria Sofia, nasce net dia em 1689 no Paço da Ribeira, e foi armado cavaleiro da Ordem de Cristo aos sete anos, subindo ao trono em 1707. Neste mesmo dia em 1730 foi sagrado o Real Convento de Mafra, num termo ou local que alguns vieram a sonhar como capital do V Império (como se tal pudesse haver), numa das muitas obras dum prolongado reinado de 43 anos, sustentado em grande parte pelo ouro e diamantes do Brasil e bem centralizado administrativa, cultural e diplomaticamente, embora demasiados valores se sumissem em negócios eclesiásticos, mercês e luxos vãos em vez de serem empregues no fomento da produtividade, criatividade e universalidade sem as quais nenhum país se pode erguer ou subsistir mais planetariamente. De destacar no seu reinado a Inglaterra ter continuado a manipular e a oprimir Portugal e a sua forte veia amorosa religante nos dois sentidos: do culto divino, pela Igreja e pela sua alma, e do culto de Eros, com religiosas.
                                     
 Swami Ramatirtha nasce neste dia em Muraliwala, Punjab,
em 1873. Professor de matemática, casado desde os dez anos de idade, renuncia ao mundo com vinte e sete anos e parte com a família e uns amigos para as florestas dos Himalaias. O seu grande amor a Deus permite-lhe ter a visão divina, o darshan de Krishna.  Em 1901, inspirado por swami Vikenananda, torna-se swami (monge) passando a usar a veste de cor ocre. Em 1902 parte para o Japão com swami Narayana e em seguida para a USA, para transmitir a sua vasta cultura,  profunda realização e a mensagem espiritual libertadora da tradição indiana, numa síntese entre o Amor devocional (Bhakti Yoga) e a visão ou doutrina Vedanta, numa filosofia viva da unidade entre o ser humano, o Espírito e a Divindade. Terá uma carreira meteórica e aos 33 anos a sua saúde cada vez mais fraca obriga-o a libertar-se do corpo terreno nos Himalaias e os seus restos desaparecem na correnteza por vezes baça e sobre-humana do rio Ganges. No discurso pronunciado em 7-X-1902, em Tóquio, para uma escola superior, afirma a sua crença em que os japoneses são descendentes dos indianos, e dá sete princípios para o sucesso: trabalho, auto-sacrifício, auto-esquecimento, amor-universal, alegria, destemor e auto-confiança.
Da esquerda para a direita, Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Angelo Poliziano.

23-X. O rei D. João II responde à carta do humanista Angelo Poliziano neste dia em 1491, tratando-o familiarmente por Angelo noster, aceitando a sua oferta de escrever uma história da gesta portuguesa dos Descobrimentos, mas este morre pouco depois em Florença sem satisfazer o seu desejo, de que nos restam apenas as primícias nas cartas que dirigiu a Lourenço e a Piero de Medici. Vários portugueses eram seus discípulos em Florença, nomeadamente três dos filhos do chanceler-mor João Teixeira.
Paulo Dias de Novais, neto de Bartolomeu Dias, parte pela segunda vez para Angola com missionários jesuítas e com presentes de D. Sebastião para o rei de Angola em 1574. Chegados que foram primeiro ao Congo, ainda no século XV com Diogo Cão, e desenvolvendo aí uma colaboração frutuosa com os reis, os portugueses foram chamados por uma embaixada que o rei de Angola enviou a Lisboa em 1557. Em 1559 partiram Paulo de Novais e quatro jesuítas e foram recebidos pelo novo rei com menos cordialidade do que a prometida, ficando bastante isolados. Autorizado a regressar a Portugal em 1567, Paulo de Novais preparou então esta segunda expedição ou missão, em que já ia como donatário, e começa a internar-se pelo sertão e a substituir-se ao rei de Angola na suserania de muitos sobas. Os jesuítas, por sua vez, encontram muita resistência à conversão e dedicam-se sobretudo ao ensino, enquanto a cidade de Luanda irá crescendo. 

24-X. O P. Tomás Estêvão, o autor da Doutrina Cristã em
concanim e da Puranna cristã, na qual utilizou ensinamentos do Yoga Vasistha, escreve neste dia em 1583 a seu irmão, prelector na universidade de Paris, referindo o martírio em Cuncolim do cristão indiano Afonso, por não querer largar o breviário, ao lado dos jesuítas italianos Rudolfo Aquaviva e Berno, «que fora o primeiro a deitar fogo ao templo de Cuncolim. Tinha também morto uma vaca sobre o altar do ídolo, a fim de limpar o lugar das superstições populares». Diz sobre as línguas indianas, que estudara para fazer a sua Arte da Língua Canarim (impressa em 1640), «a sua pronúncia não é desagradável e a sua estrutura é relacionada com o grego e o latim e admirável nas suas frases e construções». Era um prenúncio dos estudos ocidentais do sânscrito que Sir William Jones irá 200 anos depois iniciar sistematicamente. Termina a sua admirável carta pedindo: «Oremos portanto, a Deus, para que nos conceda tirarmos proveito destes tempos calamitosos para fazer progresso na senda da virtude com toda a paciência e longanimidade e fazermos mais vigorosamente face à adversidade com as nossas forças juntas, de maneira que a própria tentação se possa tornar um meio de salvação».
                                         
Chega a Macau, vindo do Japão, o Visitador da Índia e Japão, o P. Alexandre Valignano (1539-1606), neste dia de 1594 e pouco depois, de acordo com o P. Ricci, decide que os jesuítas deixem de andar rapados e vestidos de monges budistas e passem a aparentar-se com os letrados confucionistas da China, sendo assim preterida a aproximação ao budismo e taoísmo, já que os monges a isso resistiam, valorizando-se antes o culto aos antepassados e a Confúcio. A conversão da China será a partir da capital Pequim e da corte imperial, onde os letrados e os governantes, mais curiosos do saber e dos objectos ocidentais (prismas, relógios), serão os primeiros prosélitos. 
                                    
                            Karlfried Graf Durckheim com Swami Prabhupada e monges vaishnavas...
Karlfried Graf Durckheim nasce em 24 de Outubro de 1896 em Munique, de família militar e nobre bávara. Serviu três anos e meio na I grande Guerra, tendo recebido duas condecorações. Aderiu ao nacional socialismo e mesmo ao nazismo, mas quando se descobriu que tinha ascendência judaica foi discretamente enviado pelo seu amigo, e de quem fora secretário, Ribbentrop, ministro dos Negócios Estrangeiros de Hitler, para o Japão onde se relacionou com muita gente importante e trabalhando pela aliança da Alemanha nazi e o Japão Imperial, mantendo tais ideais até ao fim da guerra, pois ainda em 1944 foi condecorado com a Cruz de Guerra. Com a derrota fugiu e escondeu-se mas foi descoberto  pelos norte-americanos e preso por 16 meses em Sugamo. Aprendera as artes tradicionais japonesas, tais como o tiro ao arco e o zen e, depois do seu regresso à Alemanha e de alguma nova aprendizagem psicológica, nomeadamente de Jung, torna-se um mestre da meditação e da iniciação no Ocidente. Dirá: «Abrir a porta ao Espírito Santo em nós e no mundo significa viver a vida iniciática», o que é resultante do contacto com o Ser essencial em nós. O seu centro de espiritualidade na Floresta Negra tornou-se muito conhecido bem como a sua profunda serenidade que segundo ele se lhe abrira a partir de algumas experiências de expansão de consciência ou mesmo transcendência.
Neste dia de 24 de Outubro de 1915 liberta-se do seu corpo há muito doente o poeta Manuel Salvador Sanches Fernandes, natural de Mapuçá, Índia portuguesa, com 29 anos de idade. Em 1907 imprimira na tipografia Rangel de Bastorá o seu poemeto Lyra da Índia onde o seu entusiasmo pela espiritualidade indiana se funde harmoniosamente com a tristeza da doença e da incapacidade de ligação ao Divino: «Brahma! Vishnu! Shiva! a trimurti potente!/ Eis as grandes criações de uma época esplendente/ Que, na Índia, desfraldou o seu pendão de Luz/ Antes da lei budaica e antes da lei da Cruz./ A essa época doirada, dessa época gigante/ Que exige as vibrações de uma lira possante/ De teorba viril, que ruge furibunda/ O canto dos Heróis e nas almas difunda,/ Sê tu o ardente arauto anunciando sonora/ A poesia sublime, a Poesia da Aurora./ A Índia seja o teu deus, seja a lira o teu templo/ Que de bela oração saia de ti o exemplo./ Olha! Vês essa Sé donde há pouco eu saí?/ Ei-lo! O rico panteão, o grande capitólio/ Onde Maggh, Zenabay, Kalidas, Valmiki/ E cada obreiro tem um sólio luminoso(...)// E lento se esfumou esta Visão doirada;/ Fanou-se alto o Panteão; vaporaram-se os mitos/ E ante a Vida real e ante a branca Alvorada/ A minha alma chorou saudosa do Infinito» 
25-X. D. João II morre com 40 anos de idade neste dia em 1495. No seu reinado os Descobrimentos portugueses desenvolvem-se poderosamente e tornam-se a prioridade do reino, em detrimento da expansão para Castela e para o norte de África. Há invenções importantes no domínio da náutica e da artilharia. Deixou como sucessor o irmão mais novo (D. Manuel), de D. Diogo, duque de Bragança, que ele próprio matara à cutilada, com o pretexto de conspirar contra si. Dotado de forte vontade, centralizou de tal forma o poder real, que o dito «Morreu o homem», ecoará das bandas reais de Castela. À hora do trespasse, sendo-lhe começado a ler um texto sagrado, exclamou com toda a razão e sabedoria, e pena foi que não tivessem adoptado mais tal régio parecer: «Não quero ouvir falar mais do Antigo Testamento». As causas da sua morte e o isolamento em que ocorreu permanecem ainda com algumas sombras.
Afonso de Albuquerque envia uma carta ao rei neste dia em 1512 recomendando o franciscano visionário João Alemão como «padre espiritual seu e pessoa que serviu a Deus e ao rei em guerras e hospitais».
António Galvão, nomeado capitão das Molucas após duas comissões na Índia, chega neste dia a Ternate em 1536 e inicia um triénio de administração íntegra e cooperação civilizadora (ocidental), fraterna e apostólica com as populações locais que o tornam conhecido como o Apóstolo das Molucas, sobretudo pelo seu reconhecimento da dignidade humana e por ter fundado um seminário que chegou aos 80 alunos. O modo exemplar como governou, sendo tanto arrojado, como dialogante comandante, para além de justo juíz e inventivo pai, materializou-se ainda por fazer construir em Ternate casas «ao modo de Espanha» e começar o cultivo e a irrigação de hortas, jardins, pois como nos conta Gaspar Correia nas suas Lendas da Índia levara «mulheres para lá casarem, e pedras de atafona, e serras e machados e ferro e aço e todas as coisas que houve informação que havia de haver mister em Maluco».
O P. Azevedo, o irmão Manuel Marques e o P. Oliveira chegam à capital de Ladak, Leh, em 1622, sendo recebidos amistosamente pelo rei tibetano que os autoriza a pregarem no seu reino. Ainda hoje os mosteiros budistas de Ladak, no Caxemira indiano, conservam o seu ambiente medieval único, ainda mais raro e valioso depois da anexação do Tibete pela China.
Desembarca neste dia em Cascais em 1663 o P. Manuel Godinho, ao fim de quase um ano de viagem, trazendo cartas do vice-rei António Melo e Castro contra a cedência de Bombaim aos ingleses. Escreverá a Relação do Novo Caminho que Fez por Terra e por Mar vindo da Índia a Portugal no Ano de 1663, obra notável de aventuras e registos de indianos e mouros. «Há nas cidades da Pérsia altas e soberbas mesquitas com alcorões, que correspondem às nossas torres dos sinos, tão levantados que vão às nuvens. A estes alcorões sobe quatro vezes no dia o telismano ou muezim, que é o tesoureiro da mesquita, e virado para o Oriente, pondo as mãos nas orelhas, começa a gritar com uma voz alta, sentida e vagarosa, pronunciando estas palavras, que a todos os mouros são comuns: Alá Hec Bar Axabel Alá Hélé e Helá Mahameth Rasur Alá (Deus grande, não há outro Deus, Mafamede é embaixador de Deus)». 
                                    Namdev - Wikipedia
 26-X. Nasce em Maharashtra, em 1270, o grande santo Namdeva. Dirá: «Enquanto vivia, aprendi a morrer. Não tenho agora medo da morte». «O Senhor fará da pupila do teu olho a sua morada; E o teu olho expandir-se-á e conterá o inteiro universo». Uma vez viu num templo um leproso com os pés sobre a estátua de Shiva. Chocado, Namdeva invectivou-o, mas o doente respondeu-lhe «estou fraco, põe tu os meus pés onde Deus não estiver!» Foi o começo da sua ligação a Deus, com quem chegou a ser um, como diz nos seus poemas, ainda hoje muito cantados pela Índia: «Não há salvação excepto pela devoção a Deus, por muitos estratagemas que se inventem... Diz Namdeva, todas as regras exteriores são inutéis, o único caminho para Deus está dentro do próprio ser humano». Foi pena que espiritualidade como esta não fosse reconhecida pelos sinceros mas ignorantes missionários, que mesmo assim registaram ao princípio os seus cantos, e os de Kabir e outros poetas místicos, musicados nas ruas ainda livres de Cochim e de Goa.
Natural da Covilhã, António de Sousa parte aos 19 anos como jesuíta para a Índia, aos 26 de idade entra no Japão disfarçado e por fim morre mártir, depois de nove dias no tormento das covas, pendurado da cabeça para baixo, em Nagasaki, neste dia em 1633. 

27-X. O regedor e governador da Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, D. Manuel (1469-1521, filho de D. Duarte e da Infanta D. Beatriz) é aclamado como rei de Portugal em 1495. O notável humanista (discípulo de Erasmo) e historiador Damião de Góis conta que: «D. João II lhe deu por divisa a Esfera, porque os matemáticos representam a forma de toda a máquina do céu e da terra com todos os outros elementos, coisa de espantar e que parece não careceu de mistério profético, porque assim como estava ordenado por Deus que ele houvesse de ser herdeiro del-Rei D. João assim quis o mesmo Rei, a quem havia de suceder, lhe desse uma tal divisa, por cuja figura se demonstrasse a entrega e a cessão» do reino e da sua missão. Associada à cruz da Ordem de Cristo, esta divisa será levada a todo mundo como sinal duma tentativa do império universal cristão. Camões, guerreiro e sábio experimentado, ainda para mais observando já a incapacidade lusa, elevará a Esfera na ilha do Amor ao seu lugar de Reino que não é deste mundo. A governação manuelina, embora escudada em alguns heróicos cumpridores dos seus deveres, não conseguirá, e menos ainda depois com os seus sucessores, realizar o que se evocava com o primeiro oiro do Oriente lavrado, na custódia de Belém, o Graal da fraternidade das almas adorando o mesmo Espírito santo, universal, com as bênçãos da Hierarquia dos bem-aventurados resplandecentes de fogo, que Francisco de Holanda, Pedro Nunes e Camões intuíram, ou aceitaram, tanto da tradição mística como da iniciática. 
                               
  O genial imperador mogol Akbar, filho de Humayun e de Hamida Began, regressa ao mundo espiritual na cidade que fundara Fatehpur Sikri, neste dia em 1605, com 63 anos de idade, já que nascera na noite de Lua cheia de 23-X-1542. Sem saber ler, mas gostando que lhe lessem livros, dotado duma memória prodigiosa, sabendo de cor os poemas de Hafiz, Saadi e Rumi, sagaz, afável e justo, coroado Imperador em 1556, foi o iniciador duma política de aproximação das religiões dos diversos povos do seu império e interessou-se pelo cristianismo, protegendo os padres enviados de Goa. Colocara no portal da cidade imperial de Fatehpur Sikri, construída sob a sua direcção e visão entre 1570 e 1580, e onde fundara a Casa de Adoração (Ibadat-khana), cenário de longos debates, primeiro só entre islâmicos e depois com mestres das diversas tradições, entre os quais os jesuítas vindos desde 1579 de Goa, os parsis ou zoroastrianos da Índia, e os Jainas. As lutas grandes entre eles e em especial entre as divisões nos islâmicos foram-no fortificando-o na decisão de se libertar das religiões e fazer a sua síntese.  No portal principal da cidade de Fatehpur afixara em 1601 uma lápide com um dito de Jesus que surge em fontes islâmicas: «Jesus disse (a Paz esteja com Ele) o mundo é uma ponte. Portanto atravessa-a, mas não construas em cima». Com Asoka, Dara Shikoh, Sant Prannath, Sai Baba de Shirdhi, Ramalinga, Ramakrishna e Gandhi foi das notáveis individualidades, ou mahatmas, que procuraram mostrar e fomentar a unidade das religiões e a convivência ecuménica na Índia. Em 1578, durante a preparação de uma caçada, tivera a sua iluminação, descrita assim pelo seu secretário e cronista Abu-l Fazl, de quem o Padre Monserrate dissera «que o acume do seu engenho superava o de todos os seus contemporâneos»: «uma alegria sublime tomou posse do seu organismo corporal. A atracção da cognição de Deus lançara o seu raio». Badaoni diz-nos que, após tal experiência mística, tendo determinado acabar essa caçada e libertando-se todos os animais que estavam a ser encurralados, Akbar poetizara assim: «Tende cuidado, pois a graça divina vem de repente// Vem de repente, à mente do ser sábio.» A partir de1582 proclamou, depois de um concílio com vários religiosos e yogis, o seu desejo já maturo de haver uma religião universal no seu império, que não era nem o Islão nem o Hinduísmo mas Din Ilahi, a Divina Fé, ou o Divino Monoteísmo, ou ainda Tauhid Ilahi, a qual sintetizava princípios e práticas das várias religiões existentes. Ele e os aderentes reverenciavam a Luz Divina, em especial no Sol, no Fogo ou mesmo manifestada noutros modos naturais ou artificiais, tais como velas ou lâmpadas; utilizavam o famoso mantra  Allahu Akbar, que tanto significa "Deus é grande" como "Akbar é Deus". Deviam no seu dia de aniversário organizar uma festa e dar presentes e esmolas. Deviam abster-se de carne o mais possível. Deviam dormir com a cabeça para oriente e os pés para o ocidente. Não se deviam construir mais mesquitas. Alho, cebola e carne de vaca eram proibidos, tal como pelos hindus. O jejum do Ramadão e peregrinação a Meca foram proibidos. O estudo e exegese do Corão foram desapoiados e o uso do alfabeto arábico abandonado. A morte na fogueira das viúvas hindus foi também condenada ou atalhada. Deixou de praticar a caça e de a recomendar, ao mesmo tempo que proibia as prisão das aves em gaiolas. Akbar negava a divindade especial de Jesus e pouco depois, de morrer um dos jesuítas que mais convivera com ele o Padre Jerónimo Xavier dizia «que Akbar nem morreu mouro nem morreu cristão, mas na fé gentia que abraçara». O seu neto Dara Shikoh será quem retomará o seu facho luminoso, dedicando-se à espiritualidade e a estudos comparativos e traduções de textos valiosos, havendo alguns deles já traduzidos e comentados em português no Youtube.
James Cook, filho dum lavrador pobre, nasce em 1728 na Inglaterra. Marinheiro, estudante, comandante, explorador científico da Nova Zelândia e do estreito de Behring, morrerá com 51 anos às mãos dos naturais das ilhas Sandwich. O relato das suas viagens será muito editado, traduzido e lido.
Nasce em Hakodate, no Japão, em 1906, Kazuo Ohno e será desde 1959 em Tóquio o co-fundador, com Hijikata, do Butoh, uma dança-teatro-mímica impressionante pelo seu intenso e depurado expressionismo e interioridade. Viverá longamente, dando provas do valor da expressão psicocorporal, até 1-VI-2010.
                                       
28-X. Desidério Erasmo nasce em 1466 em Roterdão.
  Dando à luz sucessivas obras de crítica textual, sabedoria e ensino, bem como traduções de textos da tradição classica pagã e sobretudo dos primeiros Padres da Igreja, e valorizando uma religiosidade de razão e amor, torna-se o mestre inconstestado do humanismo e cristandade europeia no Renascimento. Entre os portugueses será amigo de Damião de Góis e inspirará ou influenciará André de Resende, Frei Valentim da Luz, João de Barros, Diogo de Teive e outros. A sua crítica dos costumes desvairados da Igreja, propondo uma religião de piedade, não-violência, veracidade, suscitou a proibição no Index de muitas das suas obras, ainda que variando conforme as limitações das ditas infalibilidades papais ou dos censores locais. Dirá: «O importante, onde se deve aplicar toda a nossa energia, é a curar a nossa alma das paixões: inveja, ódio, orgulho, avareza, concupiscência. Se não tenho o coração puro, não verei a Deus. Se não perdoar ao meu irmão, Deus não me perdoará... S. Agostinho encontrou um ou outro caso onde não se reprova a guerra: mas toda a filosofia de Cristo a condena. Os apóstolos reprovam-na sempre, e os doutores santos que a admitiram em certos casos, em quantos outros não a condenam? Porquê procurarmos à custa duma passagem o com que autorizar os nossos vícios?» Dirá ainda: «Há muita distância entre guerra e latrocínio, entre dilatar o reino da fé e aumentar a tirania deste mundo, entre buscar a saúde das almas e perseguir o botim de Mafoma. Das terras descobertas trazem-se ouro e pedras preciosas, mas mais digno de louvor seria levar lá a sabedoria cristã que vale mais que o ouro». Publiquei nas publicações Maitreya a tradução (com Álvaro Mendes),  comentada da sua obra Modus Orandi Deum, Modo de Orar a Deus, bem recomendável...
                                              
O imperador mogol Jahangir, filho de Akbar, de quem o P. Jerónimo Xavier esperava que «Deus obraria nele um grande milagre», e que foi bastante amigo do Cristianismo, chegando a praticar a posição em cruz com os braços e a assinar cartas com símbolos cristãos, morre neste dia em 1627. Foi um grande conhecedor e patrono das artes, especialmente da pintura que atingiu grande subtileza e perfeição, tendo também muita arte europeia chegado então à Índia. Reinou moderadamente, embora algo entregue ao vinho, ao ópio e ao amor, desde 1605, e o filho Shah Jahan ascende ao trono, em Agra, em Fevereiro de 1628.

29-X. O Padre jesuíta Gaspar Vilela em carta de 1557 de Hirado no Japão, critica com certa agudeza o suicídio, hara-kiri, ou seppuku, dos nobres por ordem do seu senhor: «São ardis do demónio, para dar-lhes maior tormento, por haver-se eles morto», anima-se com uma anciã «que serviu-nos com tanta caridade e alegria que parece que víamos nela aquele grande fervor que nos novamente convertidos da primitiva igreja resplendescia», e com um cristão que no meio duma serra «vendo-nos se lançou aos nossos pés com tanta alegria que bem dava mostras no exterior do que tinha dentro». A tendência ao suicídio, em parte derivada da negação da imortalidade da alma pela filosofia zen, já então discutida entre S. Francisco Xavier e o abade Ninjit, culminará talvez com os kamikases da 2ª grande guerra .
João Heitor de Ataíde, foi natural de Aldoná, na Índia, e  veio a ser capelão da universidade de Coimbra e professor de Direito Canónico e membro da Classe de Ciências Morais e Sociais em  1884. Escreveu sobre a alma humana, sobre os mistérios do Génesis, ao mesmo tempo que procurou aliviar o sofrimento do próximo com várias obras de assistência e a sua irradiação pessoal, que o tornaram muito amado, até sair cedo deste vale de meias luzes e sofrimento com 44 anos, em 1888. 

30-X. O imperador chinês Kang Hsi publica neste dia em 1716 o Manifesto Vermelho, em vários exemplares para serem levados pelos estrangeiros para o Ocidente. Kang Hsi, o Salomão da China, sábio e tolerante, procurava através do envio de vários embaixadores jesuítas a Roma, que fossem aceites as singelas tradições do culto dos antepassados, de Confúcio e do Senhor do Céu, como não supersticiosas. O padre italiano Provana, com o ajudante Fan Shouyi, tentaram que os ritos não fossem condenados e não se fechassem as portas da China, mas Clemente XI e os bispos Charles Maigrot, Giovanni Francesco Nicolai e Charles de Tournon, condená-los-ão e, agindo contra a corrente evolutiva, perturbam-na irremediavelmente. 
Fr. Joaquim de Santa Rita Botelho nasce em Pangim, Índia portugesa, neste dia de 30 de Outubro de 1781, filho de Manuel Marques Botelho e de Rita Francisca de Faro. Começou a estudar no Seminário do Chorão aos 9 anos. Entrou para o convento da Madre de Deus dos Franciscanos Reformados, professando na ordem em 1799. Teve como padre mestre Frei José de Sant'Ana. Em 1807 foi nomeado Lente de Filosofia e em 1809 de Teologia. Aos 35 anos de idade foi dirigir o Arcebispado de Malaca, Solor e Timor. Em 1820 passou a Arcebispo de Granganor onde chegou a crismar cerca de 50.000 crianças. A nomeação por decreto de 28-II-1840 como Arcebispo de Cochim justificou-se por «concorrer nele não só ciência e bons costumes, mas também por ter dado provas de bom desempenho das funções episcopais, como governador das dioceses de Cangranor e Malaca», como nos relata Alberto C. Germano da Silva Correia, no seu Os Luso-Descendentes da Índia, 1946. Em 1849 passará a Governador Arcebispo de Goa, o numus mais elevado e exercido valerosamente até partir da Terra a 8 de Fevereiro de 1859.
Nasce neste dia em Hamburgo, em 1854, Hermann Oldemberg e será um dos primeiros grandes orientalistas, autor de valiosos estudos sobre o Budismo e os Vedas. Muitos nomes de outros valiosos estudiosos das filosofias e religiões orientais poderíamos nomear, mas apenas destacaremos H. Wilson, H. Colebrooke, A. MacDonell, Sir John Woodroffe, Evan Wents, Heinrich Zimmer, Edward Conze, Paul Deussen, Hermann Jacobi, Edward Salisbury, Theodore Stcherbatsky, Henri de Lubac, Giuseppe Tucci, George Dumézil, Daisetz T. Suzuki, Marcel Granet, Mircea Eliade e Joseph Campbell. 
Swami Dayananda Saraswati, fundador do movimento de renascimento da Índia Arya Samaj, liberta-se do envólucro terreno neste dia em 1883, em Ajmer, com 59 anos, depois de uma vida tanto meditativa, como de erudição e de acção política, meditando na famosa oração Gayatri, que se deve repetir diariamente ao nascer e pôr do Sol: Om Bhur, Bhuva, Svah, Tat Savitur Vareniyam, Bhargo Devasya Dhimahi, Dhiyo Yo Nah Prachodayat. Muitas traduções são possíveis: «Saudação nos três mundos; para a Verdade suprema viro-me pedindo-Lhe que desoculte o seu resplendor e me guie». Outra: «Om, Aquele mais querido que a nossa respiração, auto-subsistente, todo Conhecimento e todo Beatitude. Nós meditamos sobre esta adorável refulgência do Universo. Possa Ela iluminar o nosso intelecto para o caminho correcto». Ou ainda: «Salvé Divindade, destruidora da ignorância, iluminadora de tudo, nós meditamos em Ti. Desabrocha a nossa consciência espiritual». Frei Paulo da Trindade na sua Conquista Espiritual do Oriente refere-a: «e dizem uma oração a que chamam govitri, [Gayatri] a qual de preceito devem dizer 108 vezes», tantas as contas dos seus rosários. A última palavra de Swami Dayananda foi Om e a sua tenção ou lema ou mantra foi Satya Meva Jayate, «Só a Verdade triunfa». Swami Dayananda foi um dos fundadores do movimento pela auto-governação da Índia, o Swaraj, que depois Tilak e Gandhi levarão até à independência da Índia.  Dirá: «A divindade auto-existente e impessoal só pode ser atingida através do coração puro disciplinado pelo caminho espiritual (Yoga) e pela meditação. Sede seres fortes, sede ousados; sede puros, livres, unidos; servi a família e a humanidade. Cantai Aum, Om».
 

 31-X. Nasce nas margens do Mondego em 1345 o rei D. Fernando, filho de D. Pedro I e da rainha Constança, e foi denominado o Formoso. Apoiou bastante a construção e o comércio e os seguros navais, criando também uma companhia na qual havia alguns barcos que eram seus. A sua lei das Sesmarias, fomentando o trabalho agrícola, continua a ser um arquétipo necessário de actualização. A sua paixão pela formosa Leonor Teles foi pouco aceite e com a sua morte em 1383 entrou-se na crise dinástica com a qual findou a primeira dinastia, a de Borgonha, e da qual emergirá a de Aviz, com o mestre da ordem de Aviz, D. João I. O seu belíssimo túmulo encontra-se no museu arqueológico do convento do Carmo.
                                          
(D. Duarte, representado talvez fidedignanente numa iluminura manuelina da Crónica do seu reinado, de Rui de Pina.
Em 1391 em Viseu nasce o rei D. Duarte, filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre, "a princesa do santo Gral", como lhe chamou Fernando Pessoa na Mensagem, e foi o primeiro rei luso a reunir uma biblioteca razoável, talvez sob inspiração da sua mãe, onde se incluíam, por exemplo, livros
de Alquimia e a Arte da Memória, de Raimundo Lul. Começou a reinar em 1433 apoiando a expansão marítima e africana, mas a incapacidade de libertar o irmão D. Fernando do cativeiro em Tanger, vai consumi-lo implacavelmente, tanto mais que era de temperamento melancólico. Filósofo, escreveu já no fim da sua vida, em 1438, o tratado moral Leal Conselheiro, onde tenta explicar e divulgar os príncipios morais do Cristianismo, de uma forma bastante rigorosa ou ortodoxa, embora admtindo, por exemplo, a influência mas não constrangimento dos astros sobre os humanos. Foi sensível cultor da saudade: «e, por partir, algumas vezes vem tal saudade que faz chorar e suspirar, como se fosse de nojo», o que se pode recuar até à reminiscência do estado Original, como querem os filósofos da saudade, em especial Teixeira de Pascoaes ou o mais ardente Leonardo Coimbra. Tomou como empresa uma lança em que estava enroscada helicoidalmente uma serpente, qual caduceu ígneo das energias internas, com o mote Loco, Tempore, no local e no tempo certo, ou o aqui e agora da auto-consciência espiritualizante. Saibamos viver mais plena e sabiamente o presente, o instante na sua elevada eternidade, sintonizando com este mantra da Tradição Espiritual Portuguesa e com a Divindade...
O frade Martinho Lutero afixa nas portas da igreja de Wittemberg neste dia em 1517 as suas 95 teses de crítica às doutrinas e práticas da Igreja Católica Romana, iniciando a cisão protestante. Roma reage e à secura da Reforma protestante opor-se-á o exacerbamento da Contra-Reforma, com a Inquisição, os jesuítas, a censura. Fendida a unidade cristã, os nacionalismos mercantis emergem triunfantes e os países do norte e sul da Europa enfrentar-se-ão o tempo suficiente para alterar por completo o domínio ibérico no mundo. 
 Carta escrita do sul da Índia pelo P. Henrique Henriques neste dia, em 1548, ao fundador dos jesuítas, S. Inácio de Loiola, a contar como é amigo dum yogue muito sábio que adora a um só Deus verdadeiro e que se ri dos que perguntam pelos dias bons e maus. E numa prédica, cheio de fé nos merecimentos de Jesus ou seus, perguntado «se o demónio, quando está em algum corpo, somente com ouvir dizer que vem um português, se vai do corpo, quanto mais vós, que sois Padre, o fareis? Respondi-lhe eu, ainda que então vá aquela vez, voltará outro dia, mas que quando eu o fizer em virtude de Cristo Nosso Senhor, nunca mais virá àquele corpo». Era o poder da Palavra, Sermo ou Verbo, e da invocação da força divina através de Jesus, e sobretudo da fé, essa vontade interior subtil mas que pode mover montanhas ou aparências, ou entidades negativas, tidas como insuperáveis...

6 comentários:

Farnoush disse...

very interesting, for the first time google translated this page.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Nice, Farnoush, and thanks for telling me.
Probaby not the best translation. Anyway, if some part interests you more, send me the translation and I will correct it.
Much Nour in you

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças, querida amiga. Boas inspirações com eles. E relembrou-me que ainda não partilhei para o Facebook as efemérides deste mês em que entramos.Muita luz em si.

Fernanda Dias disse...

Excelente leitura. Graças Pedro

Fernanda Dias disse...

Excelente leitura. Graças Pedro

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças, Fernanda. Boas inspirações e realizações!