A designação de Maio pode ter duas origens: a da divisão por Rómulo da população romana em Majores e Juniores, donde vieram os meses de Maio e Junho, e a da Deusa Maia, a Terra, embora o mês estivesse também consagrado a Apolon, o sol físico e o seu ser espiritual. No 1º dia erguia-se uma árvore ou pólo entre o céu e a terra, em vários povos, e nela se escreviam e penduravam ofertas, votos, versos, queixas. Para os Celtas era o início de um novo ciclo sazonal, Beltane ou Beltaine (o fogo de Bel ou Bli, deidade que tinha a sua shakti Danu) e as festividades uniam as tribos à volta do fogo exterior e interior, da união do feminino-lua e masculino-sol, e no reverdecimento pleno da Natureza, e por isso no 1º de Maio devemos ir aos campos ou jardins, ou a locais sacros, ou a marchas fraternas. No fim do séc. XIX passou a ser dia do Trabalhador e de marchas pelo trabalho harmonioso e dignamente renumerado, frequentemente realizadas em grande ambiente de fraternidade e de luta contra os sucessivos governos pouco defensores das potencialidades e direitos dos trabalhadores. Hoje em dia, a exploração dos trabalhadores tem-se acentuado pelo aumento do custo da vida e a má gestão de muitos governos, dada a submissão aos interesses restritivos da elite financeira globalista, insensível e egoísta que domina a banca, a farmácia, os armamentos e mesmo a ciência e, claro, os meios de informação e redes sociais, estas com os seus criminosos pulhígrafos constantemente a bloquearem quem desmascara as narrativas oficiais. Entremos então neste mês de Maio animados das melhores ou mais benfazejas aspirações e determinações! Que o fogo do amor, humano e divino seja constante ou perseverantemente soprado por nós, e que a justiça e a verdade, a paz e a Divindade estejam mais presentes nos seres e povos!
Pintura do mestre Bô Yin Râ. |
Da Carta de Pêro Vaz de Caminha
Carta de Pêro Vaz de Caminha, do Brasil, ao rei D. Manuel em 1500: «E hoje, que é sexta-feira, 1º dia de Maio, pela manhã saímos em terra com a nossa bandeira... Assentada a cruz com as armas e divisas de Vossa Alteza que lhe primeiro pregaram, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos; ali estiveram connosco a ela obra 50 ou 60 deles assentados todos em joelhos, assim como nós, e quando veio ao evangelho, que nos erguemos todos em pé com as mãos levantadas, eles se levantaram connosco e alçaram as mãos». Recentemente esta carta foi musicada e lida com grande qualidade na Biblioteca Nacional de Lisboa, por Rui Luna de Castilho.
Duarte Barbosa, veterano da Índia, escrivão da feitoria de Cananor, autor duma Descrição ou Relação valiosa do que viu e ouviu no Oriente, e que não sendo bem recebido na corte, ou porque já vivera em Sevilha, passou-se para Espanha, embarcando com outro descontente da pátria madrasta, Fernão de Magalhães, na fabulosa 1ª viagem de circum-navegação. Assumiu, com Serrão, o comando da expedição quando Magalhães foi morto em combate, mas pouco depois ele próprio morre numa cilada nas Filipinas neste dia em 1521. Na Prefação da sua obra, escreve «e, além do que pessoalmente vi, sempre me deleitei em procurar aos mouros, cristãos e gentios pelos usos e costumes de que eram práticos, cujas informações tomei o trabalho de combinar umas com as outras, para ter uma notícia mais exacta delas, que foi sempre o meu principal intento, como deve ser o de todos os que escrevem sobre semelhantes matérias, e persuado-me se conhecerá que não poupei diligência alguma para conseguir este fim, quanto o permitem as débeis forças do meu engenho». Esta abertura fraterna da consciência ao que a rodeava, na demanda objectiva do conhecimento, da verdade ou dos bons propósitos e valores, caracterizou os melhores artífices dos confrontos e uniões dos Descobrimentos. A ele devemos também uma notável descrição do aparecimento do Shah Ismail na Pérsia, o fundador do ressurgimento da tradição Shia, a descendente de Ali, marido de Fátima ou Zahra, e assim cunhado de Maomé. Nas suas viagens pela Índia apercebeu-se da Trimurti ou trindade hindu, Brahma, Vishnu e Shiva e dos atributos de criador, conservador e destruidor num só Ser, reconhecendo ainda que os indianos tinham muitos deuses menores mas subordinados ao Ser Supremo. Anos mais tarde o historiador Manuel de Faria e Sousa tratará do tema, na defesa da religião mais universalista de Luís de Camões.
Nasce em 1881 em Orcines, França, o padre Teillard Chardin. Professor, arqueólogo, teólogo e cientista, passará um terço da sua vida de 84 anos no Oriente que desde cedo o atraiu «na sua luz, sua vegetação, a sua fauna, os seus desertos». Considerando o internacionalismo da ciência como uma das conquistas da alma moderna, procurou, perante a crítica dos meios mais conservadores, correlacionar a ciência e a religião, o que realizou com originalidade. Dirá: «Sinto colocar-se mais urgentemente que nunca, nas profundezas do meu ser, a grande questão duma Fé (uma cristologia) animando ao máximo entre nós as forças da harmonização (ou o que vai dar ao mesmo), as forças de adoração». A sua visão de uma evolução do meio ambiente e do ser humano para o Divino continua a ser um paradigma subtil, optimista e utópico que nos desafia ao melhor de nós mesmos, bem expresso na divisa Talant de bien faire do Infante D. Henrique e que o próprio Fernando Pessoa escolhera como lema da ordem ocultista templária que gizara e desejara.
O poeta e magistrado Camilo Pessanha, cavaleiro rosacruz na Maçonaria, não consegue atravessar a provação do seu guardião do umbral chinês e morre dependente do ópio, em Macau, neste dia em 1926. O farmacêutico e embaixador Tomé Pires já em 1510 escrevera a D. Manuel a avisar que quem se acostumava a tomá-lo tornava-se sonolento, confuso e saído dos seus sentidos, sendo a razão do seu uso provocar lascividade. Conta porém o escritor Joaquim Paço D’Arcos, cujo pai era governador de Macau, que Camilo Pessanha dizia que o ópio o tornava lúcido e a prova é que os seus irmãos tinham todos morrido loucos aos 40 e ele ia já com mais de 50 e estava bem. A sua poesia simbolista foi muito apreciada pela geração da revista Orpheu, em especial por Fernando Pessoa. Entre nós, entre outros, António Miguel Dias, Dalila Pereira da Costa, António Barahona e Daniel Pires dedicaram-lhe estudos ou edições valiosas.
Swami Kaivalyananda, de Rishikesh, da linha ou darshana Advaita Vedanta, com quem aprendi, dialoguei e me iniciou na tradição Advaita Vedanta, publica e escreve a introdução neste dia de 1980 da sua obra poética intitulada Glimpses Transcendent, Vislumbres Transcendentes, onde nos diz: «A Filosofia é a demanda da Verdade. O desejo mais íntimo de cada ser humano inteligente é procurar o segredo da vida e do Universo. A verdadeira sabedoria deve portanto explicar a natureza do Universo e o lugar do ser humano nele, a sua relação com ele, a sua natureza essencial, a sua prisão e libertação e a natureza da Realidade última. Os antigos videntes [rishis] declararam que toda a existência é una e que cada ser vivo é uma parte indivisa do Todo. A visão da dualidade é uma desordem funcional da mente humana que está envolvida em Maya [a manifestação ilusiva ou fragmentada]. É o mundo de Maya que pôs a consciência humana desfocada. Esta desordem causada por Maya é uma força cega que obstruí a visão da Unidade (...) O ser humano é imortal. A noção de mortalidade nasce por ignorância na mente humana. No momento em que a luz do conhecimento desponta através da graça benigna do Divino, ele despertará do peso da ignorância e identificar-se-á com a Verdade transcendental».
2-V. Afonso de Albuquerque narra em carta a D. Manuel como, estando com a sua armada neste dia em 1510, «contra as terras do Preste João, nos apareceu um sinal no céu duma cruz desta feição, mui clara e resplandecente, e veio uma nuvem sobre ela; chegando a ela se partiu em partes, sem tocar na cruz, nem lhe cobrir a sua claridade; foi vista de muitas naus, e muita gente se assentou de joelhos e adorou, e outros com devoção adoraram com muitas lágrimas». E prossegue, manifestando o seu espírito piedoso e visionário:«Mandei tirar inquirição por todas as naus, e a maior parte delas se afirmaram verem o sinal da cruz estar por um bom espaço mui clara e da feição e amostra que aqui vai; e eu tomei daqui que a Nosso Senhor aprazia fazermos aquele caminho, e que nos mostrava aquele sinal para aquela parte por onde se havia por mais servido de nós; e como homens de pouca fé não ousamos de cometer o caminho, que creio que as nossas naus de uma volta na outra o poderão haver: e pecou isto também por ser já homem velho, vadeado da condição e inclinações dos homens, porque assaz descontentamento me ficou de não cometermos aquele caminho, porque me pareceu que houvéramos todavia a terra de Preste João da banda de além, onde fizéramos a Deus e a Vossa Alteza mui grande e mui assinado serviço, porque vejo o feito da Índia levar um caminho como coisa endereçada por Deus».
O rei D. Filipe III de Espanha ordena por alvará de 1614 que sejam postos em leilão as capitanias das fortalezas e os cargos públicos na Índia, o que veio a render uns milhares de xerafins até 1617, mas vendendo-se o que devia ser merecido por critérios de competência e moralidade, e ainda mais se prejudicando a manutenção da presença portuguesa justa no mundo.
3-V. O vice-rei D. Francisco de Almeida lança a primeira pedra da fortaleza e da cidade de Cochim em 1506, depois de ter conseguido que o soberano local abrogasse a lei em vigor que proibia o uso de pedra e cal em qualquer construção que não fossem os templos indianos, o que obrigara os portugueses a viverem em palhotas e casas de madeira até então. Era o começo da bela cidade de Cochim, capital do Estado da Índia até 1530 e que, apesar da destruição de monumentos religiosos que os holandeses virão a realizar em 1663, ainda hoje mostra belos exemplares da arte indo-portuguesa, para além de vários influências culturais linguísticas nos naturais.
Em Madrid morre neste dia 3 em 1617, em Madrid, Frei Aleixo de Meneses, filho do aio de D. Sebastião, arcebispo de Goa de 1595 a 1612, governador interino do Estado português da Índia entre 1607 e 1609, enérgico missionário e fundador de mais de cem igrejas paroquiais , do convento das Mónicas e de Recolhimentos para mulheres, e por fim arcebispo de Braga de 1612 a 1617. Foi capelão-mor real e presidente do Conselho de Estado do reino de Portugal, em Madrid, no tempo de D. Filipe III. Era contudo grande a sua rigidez ortodoxa e foi responsável pela destruição de inúmeros templos em Diu e Ormuz e da relíquia do dente de Buddha, bem como da execução pela Inquisição do irmão do rei de Ormuz, refugiado em Goa. Por outro lado, esteve em conflito permanente com o capitão André Furtado de Mendonça, a grande figura de armas de então, recusando-lhe o dinheiro para as armadas, preferindo-o gastar com a sua corte e criados, ou para bens eclesiásticos. Deixou-nos algumas importantes Relações das suas viagens e trabalhos.
O breve Probe nostis do papa Pio IX, em 1853, fulmina o bispo de Macau por ter ido exercer funções episcopais na Índia, como anti-canónico e criminoso, e ameaça com a excomunhão alguns dos padres que mais apoiaram a missão apostólica do bispo. As cortes portuguesas virão a reconhecer os quatro padres excomungados e reduzidos à miséria como beneméritos da nação, considerando o breve atentório dos direitos da Coroa e como da autoria indirecta do invejoso vigário apostólico de Bombaim.
O breve Probe nostis do papa Pio IX, em 1853, fulmina o bispo de Macau por ter ido exercer funções episcopais na Índia, como anti-canónico e criminoso, e ameaça com a excomunhão alguns dos padres que mais apoiaram a missão apostólica do bispo. As cortes portuguesas virão a reconhecer os quatro padres excomungados e reduzidos à miséria como beneméritos da nação, considerando o breve atentório dos direitos da Coroa e como da autoria indirecta do invejoso vigário apostólico de Bombaim.
Iluminura com D. João II e as armas de Portugal, da última década do séc. XV, do Livro dos Copos.
4-V. D. João II, filho de D. Afonso V e de Dona Isabel, filha do infante D. Pedro das Sete Partidas, nasce em Lisboa em 1455. Armado cavaleiro em Arzila em 1471, casará com D. Leonor em 1473. Sucederá a seu pai em 1481, centralizando o poder real duramente nos 14 anos do seu reinado, nos quais a demanda dos Descobrimentos se apura com astrónomos e nautas a prepararem as viagens marítimas, nas quais se destacam Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Pêro de Alenquer. O norte de África continuava a ser atacado com regularidade. O importante Tratado de Tordesilhas é alcançado ou assinado em 1497 com os reis de Castela e Aragão. Entretanto por terra Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã rumam em busca do Preste João e da Índia, estando mesmo preparar-se a 1ª viagem à Índia a ser liderada por Estêvão da Gama, pai de Vasco da Gama, mas que morre então e que certamente acompanhará o seu filho na épica viagem unitiva. Na sua Crónica refere Garcia de Resende, grande amigo do rei e que terá traçado a Torre de Belém, que o rei inventara a utilização de grossas bombardas rasteiras à água e que isso deu superioridade às caravelas lusas. A sua divisa do pelicano extraindo o sangue do seu peito para alimentar os filhos, com o mote «Pela lei, pela grei», indicia a corrente que o animou com determinação em vida. Endireitou as quinas do brasão de Portugal, até então viradas para dentro, em sincronia com a nova fase da sua missão, ou swadharma. No séc. XXI inseridos na UE, Portugal é apenas um peão obediente dos seus patrões, bastante ineptos diga-se de passagem, infelizmente.
D. Duarte de Meneses, morre neste dia em 1588 em Goa. Guerreiro e cultor das musas, governador de Tânger, marechal de campo na expedição ao norte de África, a que se oposera, e batalha de Alcácer Kibir, fora então é aprisionado, sendo um dos que reconheceu o corpo do rei D. Sebastião (o que não impediu tanto sebastianista posterior), sendo depois resgatado com 80 homens de armas. Por fim, será nomeado vice-rei na Índia de 1584 a 1588, onde manifestou com frequência o seu aguçado entendimento orientando a estratégia lusa, na qual se destacou também o capitão Paulo de Lima Pereira.
Hermenegildo Capelo, sentado, e Roberto Ivens.
Hermenegildo Capêlo, nascido no altaneiro castelo de Palmela, oficial de Marinha, arrojado explorador de África, que atravessara com Roberto Ivens por duas vezes África, uma De Benguela às Terras de Iaca, a outra da costa de Angola ao Índico, morre com o posto de contra-almirante neste dia em 1917, já retirado de qualquer posto e função pois foi um monárquico fiel ao rei D. Manuel II, tentando mesmo defendê-lo no 5 de Outubro de 1910. A descrição das viagens bem aventurosas e etnográficas de exploração deles, bem ilustrados com desenhos, tornaram-se dois clássicos da literatura de viagens africana.
O imperador mogol Akbar no diálogo interreligioso em que participaram os jesuítas enviados de Goa.
5-V. Chega em 1595 à corte do imperador mogol Akbar, então em Lahore, a 3ª Missão enviada de Goa para a tentar evangelizar. As crónicas da época registam a chegada da grande caravana contendo «sábios cristãos ascetas conhecidos pelo nome de Padres». Nela vem o neto duma irmã de S. Francisco Xavier, Jerónimo Xavier, que se tornará amigo íntimo do imperador e escreverá vários livros em persa sobre o cristianismo, o P. Manuel Pinheiro, que se tornará também seu favorito, recebendo em 1602 a primeira autorização por escrito de autorização dos cristãos converterem muçulmanos, e o heróico irmão Bento de Góis, açoriano, que no mesmo ano partirá pela Ásia Central até à China, numa viagem épica de 4 anos.
Por carta de 5 de Maio de 1751, o governador da Índia, o Marquês de Távora, escreve ao governador de Macau: «Pela carta de V. M. de 8 de Dezembro fico informado da expulsão dos missionários da Conchinchina... e seria conveniente procurarem-se todos os meios para serem outra vez admitidos e a este fim pode ser útil o acaso de ter ficado um deles, por ter o exercício de físico [médico], o qual se for homem de capacidade e suavidade poderá procurar ocasião para desvanecer o receio». Capacidade e suavidade no logos ou psique, desvanecem sombras, ignorância, receios. O padre João Loureiro que esteve no Oriente, e sobretudo na Conchichina, de 1738 a 1790, deu à luz a valiosa Flora Cochinchinensis.
Thyagaraja guruji...
Nasce neste dia em 1759 nas margens do inspirador rio Kavery, em Tiruvarur, um dos centros culturais do sul da Índia, Thyagaraja, um poeta e músico místico, ainda hoje muito lembrado, com uma escola de música e dança em seu nome, em Bangalore, e com um festival anual onde acorrem muitos músicos. E cantado, pois das 24.000 canções que terá composto, 800 foram preservadas. Num dos seus cantos, muito frequentes para Rama, a sua ishta devata, forma pessoal e íntima da Divindade dirá: «Oh! Rama, porque é que a Tua graça não flui para mim? Refugiei-me completamente aos teus pés. O teu lema é salvares os devotos. Oceano da Compaixão, responde ao meu apelo. Oh! Esplendor de face de flor de lótus assente no coração dos que meditam, Tu és o refúgio da Humanidade». O seu biógrafo Major T. S. Raju, explica que ele não procurou gurus, mas um veio ter com ele e iniciou-o num mantra ele que considerava muito sagrado e que foi muito bem acolhido por Thyagaraja, que se dedicou com assiduidade à repetitiva incantação do mantra», explicando que «ao pronunciarem-se essas ondas sonoras constantemente, sem descuidar-se da nota entoada (swara) a alma adquire constância e é assim controlada». Thyagaraja adorava diariamente (utsava) a Divindade através das imagens no seu altar e nunca comia sem lhe oferecer e agradecer. Anuindo a um pedido do Upanishad Bramachari, de Kanshi para o visitar, peregrinou levado pelos seus discípulos, até esse famoso centro, estimulando muita devoção por onde parava no longo caminho com os seus cantos e músicas. Ao morrer e ser cremado, junto ao sagrado rio Kavery, em Thiruvaiyaru, originou um samadhi-templo ainda hoje vibrante com os que por lá lançam os acentos bhakticos ou devocionais das suas almas para a Divindade...
Thyagaraja guruji...
Nasce neste dia em 1759 nas margens do inspirador rio Kavery, em Tiruvarur, um dos centros culturais do sul da Índia, Thyagaraja, um poeta e músico místico, ainda hoje muito lembrado, com uma escola de música e dança em seu nome, em Bangalore, e com um festival anual onde acorrem muitos músicos. E cantado, pois das 24.000 canções que terá composto, 800 foram preservadas. Num dos seus cantos, muito frequentes para Rama, a sua ishta devata, forma pessoal e íntima da Divindade dirá: «Oh! Rama, porque é que a Tua graça não flui para mim? Refugiei-me completamente aos teus pés. O teu lema é salvares os devotos. Oceano da Compaixão, responde ao meu apelo. Oh! Esplendor de face de flor de lótus assente no coração dos que meditam, Tu és o refúgio da Humanidade». O seu biógrafo Major T. S. Raju, explica que ele não procurou gurus, mas um veio ter com ele e iniciou-o num mantra ele que considerava muito sagrado e que foi muito bem acolhido por Thyagaraja, que se dedicou com assiduidade à repetitiva incantação do mantra», explicando que «ao pronunciarem-se essas ondas sonoras constantemente, sem descuidar-se da nota entoada (swara) a alma adquire constância e é assim controlada». Thyagaraja adorava diariamente (utsava) a Divindade através das imagens no seu altar e nunca comia sem lhe oferecer e agradecer. Anuindo a um pedido do Upanishad Bramachari, de Kanshi para o visitar, peregrinou levado pelos seus discípulos, até esse famoso centro, estimulando muita devoção por onde parava no longo caminho com os seus cantos e músicas. Ao morrer e ser cremado, junto ao sagrado rio Kavery, em Thiruvaiyaru, originou um samadhi-templo ainda hoje vibrante com os que por lá lançam os acentos bhakticos ou devocionais das suas almas para a Divindade...
6-VI. As mil pessoas da nau Santiago, capitaneada pelo novo governador do Estado Português na Índia, Martim Afonso de Sousa, suspiram de alívio com o fim da prolongada viagem de 11 meses, ao chegarem à Goa Dourada, neste dia em 1542. Entre elas vibra o missionário Francisco Xavier, mas cedo se apercebe que as fés e os costumes não são muito conformes aos dogmas e costumes católicos e que não basta pregar para converter a multidão de seres animados por antiquíssimas e bem espirituais tradições pelo que pedirá ao rei D. João III em 1546 a famigerada Inquisição, mas será só a regente D. Catarina a despachá-la, mais em 1560.
Em 1629 zarpa neste dia de Cochim para Hugli, para missionar Bengala, o P. Sebastião Manrique, portuense. Regressará à Europa por terra e escreve em Roma o seu Itinerário em 1643, revelando-se atento observador das cerimónias hindus, criticando os auto-sacrifícios humanos no famoso templo de Jaganath, em Puri, e referindo os yogis «que são como os eremitas entre nós, que vivem retirados dos negócios mundanos». É assassinado em Londres em 1669, onde estaria em missão diplomática secreta.
O Padre Álvaro Semedo, na China.
Ao fim de 46 anos de missionário, sobretudo na China, o P. Álvaro Semedo abandona a Terra em 1658. Redigira a obra, publicada pelo ilustre comentador de Camões Manuel de Faria e Sousa, o Império da China e a Cultura Evangélica nele pelos religiosos da Companhia de Jesus, cheia de conhecimentos sobre a vida e o pensamento chinês e o seu encontro com os cristãos. Assim, conta que uma vez, troçavam uns chineses de um barqueiro recém-convertido que os passava para a outra margem, pois adorava o Deus que está no Céu numa imagem de Jesus, respondendo-lhes este: «Isso é verdade, mas o Sol está lá e também está aqui connosco; assim Deus está no Céu, e também na minha barca». Depois de descrever as três religiões existentes: o Confucionismo, o Taoísmo e o Budismo, resume-as num dito corrente: «Os Letrados governam o Reino, os Taoístas o corpo, os Bonzos o coração». Deu um cômputo de 100.000 Cristãos, 13 igrejas e 500 oratórios no ano de 1636 na China.
O Padre Gabriel de Magalhães, natural de Pedrógão, e ainda da família de Fernão de Magalhães, morre em Pequim neste dia 6 de Maio de 1677, com sessenta e sete anos de idade, e trinta e sete de permanência, por vezes atribulada, na China. O manuscrito da sua valiosa Nova Relação da China foi traduzido e publicado em França em 1688, nela estando representado o primeiro mapa ocidental de Pequim. O Imperador, num funeral de Estado, elogia-o: «Faço-lhe esta escritura em razão de que em tempo de meu Pai, primeiro Imperador da nossa Família, este Padre com suas obras engenhosas acertou com o génio e gosto do meu Pai, e também porque depois de estas inventadas, teve o cuidado de as conservar com uma diligência extrema e acima das suas forças, e muito mais em razão de que viera de tão longe e além do mar, para viver como viveu muitos anos na China. Era homem verdadeiramente sincero, e de um engenho sólido como mostrou por todo o discurso da sua vida».
Manuel da Silva Gaio nasce neste dia 6 de Maio em 1860 em Coimbra e tornar-se-á um poeta, escritor e crítico muito dinâmico em grupos, revistas e movimentos, sendo secretário da Universidade de Coimbra de 1895 a 1928, urbe natal onde desincarnará em 1934,com 74 anos. Em 1894 escrevia muito lucidamente no seu livro Os Novos: «Desde Antero nenhum dos nossos escritores apareceu ainda, como Moniz Barreto, armado de tão segura aptidão para assimilar e aplicar essa forma dominante de ideias, isso que constitui o fundamento e o largo património do pensamento contemporâneo. Quer dizer, ainda nenhum apareceu armado, como ele, da fecunda e completa educação crítica indispensável a quem hoje queira ver, compreender e filiar qualquer obra ou série de obras dignas de exame». Natural da Índia, Guilherme Joaquim Moniz Barreto, amigo de Antero, que o elogiou como crítico, viveu contudo muito pouco, de 1860 a 1898, deixando-nos apenas uma obra maior A Literatura Portuguesa Contemporânea. Silva Gaio publicará uma biografia e análise crítica da sua obra quando ele falece em Paris.
7-V. Em Santarém, em 1487, o rei D. João II despede-se de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva que partem em demanda do Preste João e da Índia, com uma mapa traçado pelos cosmógrafos do reino, o bispo de Viseu Calçadilha e os mestres judeus Rodrigo e Moisés, para anotarem as localidades percorridas. Pêro da Covilhã, depois de ter chegado à Índia e já no regresso no Cairo, encontra dois judeus enviados pelo rei com ordens de prosseguir para o Preste João. Chegado à Etiópia, recebido de braços abertos, já não sairá de lá (o segredo fazia parte da aura mítica do reino...), pelo que casa, estabelece-se, e acolherá como patriarca a 1ª embaixada portuguesa em 1520 de D. Rodrigo de Lima e do P. Francisco Álvares. D. João II começa a preparar a viagem marítima para a Índia, mas a morte surpreende-o.
O P. Gaspar Coelho, desde 1570 no Japão, vice-provincial em 1581, morre a 7 de Maio de 1590. Apoiou uns daimiós contra outros, propôs, desacertadamente, ajudar com armas e homens o governador militar do Japão Hideyoshi, mandou queimar templos budistas em Omura e converteu milhares de japoneses, que testemunharam com amor o seu impressionante enterro. Terá sido um dos causadores do 1º decreto de expulsão dos jesuítas, em 1587, emitido por Hideyoshi, depois de uma noite de vinho, português, que o P. Gaspar lhe oferecera mas em que se tornou visível a ameaça que daimiós cristãos poderiam tornar-se contra o poder central que se erguia a custo com Hideyoshi. Contudo as medidas anti-cristãs não foram prosseguidas por algum tempo.
Como nos narra Eduardo de Noronha no seu valioso Ruy Freire. Episódio de Guerra com os Ingleses, 1906, neste dia «7 de Maio, de 1621, levantava ferro de Ormuz a expedição, embarcada em trinta galeotas, numa galé, na urca Conceição e no patacho S. Lourenço. Era constituída por dois mil soldados portugueses, do que existia de mais bravo e mais experimentado, e de mil mouros fornecidos pelo rei de Ormuz. Comandava o contingente maometano Ali-Camal, e em chefe, toda a expedição, Ruy Freire de Andrade. O indómito capitão-mór conseguiu fazer vingar o seu intento. A guerra à Pérsia estava declarada.» Tendo partido de Lisboa em Janeiro de 1619 com o posto de General do Mar de Ormuz e costa da Pérsia e da Arábia, até morrer em Mascate, a base portuguesa desde que se perdera Ormuz, em 1633, foi um dos maiores heróis guerreiros de então em lutas tremendas contra persas e ingleses. Um mestre da espada, da coragem e da estratégia.
Luis Montez Mattoso descreve no seu Ano Noticioso e Histórico neste dia de 1740 a "saída com sucesso pela barra fora" da armada para a Índia, com seis naus de guerra, levando consigo o novo vice-rei da Índia, o Conde da Ericeira D. Luiz de Meneses, que recebeu pouco antes o título de Marquês do Louriçal, e que levava consigo 4 batalhões de tropas veteranas e "socorros de prata em barra e moeda, armas e mais apetrechos de guerra, e mantimentos necessários", destacando "16 peças de artilharia de nova invenção". "Sua Majestade, embarcando em um hyacte, com o Príncipe, e os senhores Infantes D. Pedro e D. António, foram até perto de Cascais para ver sair da barra a mesma esquadra. (...) O concurso de uma grande número de embarcações ligeiras, em que a Nobreza da Corte, e muitas pessoas particulares foram cumprimentar a bordo o vice-Rei, e depois acompanharam as naus até à barra, faziam no rio um admirável espectáculo.»
A 7 de Maio de 1861 nasce em Bengala o genial pensador, romancista, pintor e poeta Rabindranath Tagore. Um dos muitos filhos do sábio e abastado Devendranath, foi educado no meio da sabedoria milenária da Índia e da sua natureza maravilhosa. Estudou dois anos em Inglaterra para se tornar advogado mas a paixão de criador foi mais forte e voltou para se tornar escritor. Em 1901 fundou uma Universidade Livre, em Shantineketan, a Abóbada da Paz, onde passou a receber alunos e a partilhar o conhecimento de formas pioneiras próximas do que se entende hoje como o movimento da Escola Livre. Também aderiu à contestação da opressão colonialista inglesa, embora em vez de uma revolução preferisse uma maturação educativa e uma pressão consciencial, tal como Gandhi veio a desenvolver com a ahimsa, não-violência e swaraj, auto-governo. Viajou por todo mundo bastante (desde a América do Sul ao Irão e ao Japão) e dialogou com grandes pensadores e políticos, o que não foi apreciado por toda a gente. Em relação à tradição hindu também contestou a intocabilidade dos párias, a queima na pira das viúvas e a renúncia no caminho espiritual à Natureza, defendendo que Deus «está junto do lavrador que lavra a terra dura, e à beira do caminho onde o trabalhador parte as pedras, está junto deles ao sol e à chuva; a sua túnica está manchada de poeira». Com a qualidade e o sucesso das suas obras, em especial a traduzida para inglês, Gitanjali, recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1913. Defenderá sempre a «Índia livre; mas livre para servir e preencher a missão que lhe cabe na história da humanidade». Entre nós General José Ferreira Martins, Augusto Casimiro, Mariano Saldanha, Adeodato Barreto, Bento Jesus Caraça, Telo de Mascarenhas, Cecília Meireles, Leniz de Castro Norton de Matos e Sylvina de Troya Gomes admiraram-no e escreveram sobre ele ou traduziram-no. A sua Universidade Vishva Bharati de ensino livre e ao ar livre continua a funcionar, com uma grande livraria e algumas escolas. Visitei-a em 1995. O seu dia de aniversário continua a ser celebrado em todo o mundo. São muitos os institutos, as obras, os filmes e as músicas ligados a ele. Eis alguns dos seus belos poemas, da obra Aves Vadias, 284 a 287: «O amor é a vida na sua plenitude, como a taça com o seu vinho.// Eles acendem as suas próprias lamparinas e cantam as suas próprias palavras no seus templos. As aves, porém, cantam o Teu nome na tua própria luz matinal, - pois o teu nome é alegria (ananda)/// Conduz-me ao centro do teu silêncio para encher o meu coração de canções./// «Que eles vivam, os que o escolhem, no seu próprio mundo de fogos de artifício assobiantes. O meu coração aspira às tuas estrelas, meu Deus». Encontrará mais em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2018/05/rabindranath-tagore-stray-birds-aves.html
Sai neste dia em 1928 o 1º número do jornal Índia Nova, o grande sonho de Adeodato Barreto (natural de Margão, 1905-1937), em Coimbra (onde terminava as suas licenciaturas em Histórico-Filosóficas e Direito), jornal que dirigirá com José Paulo Teles e Telo de Mascarenhas. Inclui uma carta de Rabindranath Tagore, de apoio a outro projecto da ardente e abnegada alma luso-goesa: «É para mim um motivo de satisfação profunda o saber que procurais estabelecer um centro de cultura indiana na Universidade com o fim de tornar mais conhecida e devidamente compreendida do povo português a história e civilização da Índia... Estou plenamente de acordo com os fins do Instituto Indiano e dou-lhe entusiasticamente o meu sincero e caloroso apoio». Foram publicados seis números do jornal, entre 1928 e 1929 e foi criado o Instituto Indiano, dentro da Universidade de Coimbra, apoiado por Joaquim de Carvalho e Mendes dos Remédios, o qual organizou algumas conferências, bem como uma publicação nas edições Swatwa, impressa na Figueira da Foz. Nos anos vinte e trinta do séc. XX, Adeodato Barreto foi provavelmente a voz mais ardente da civilização Indiana em Portugal, colaborando em vários jornais e revistas. Rodrigues Júnior, na sua descrição de uma viagem à Índia Portuguesa em 1961 e publicada em Lourenço Marques, Terra Nossa na Costa do Malabar, consagra-lhe um capítulo assim iniciado:«Os nossos primeiros contactos com as coisas espirituais da Índia, fizeram-se através da [revista] Seara Nova, lendo e meditando estudos ali publicados pelo então jovem escritor Adeodato Barreto. Civilização Hindu, era o título desse estudo que definiu não apenas o homem nativo da Índia, formado em Direito pela Universidade de Coimbra, amando a sua terra, mesmo longe dela, com o calor ardente da sua alma(...)»
8-V. Em Assagão, nasce em 1855 o monsenhor Sebastião Dalgado, profundo estudioso do concanim e do sânscrito e autor duma vasta obra de linguística, história e etnografia. Missionário abnegado em Ceilão, Bengala e Onor, especialista de inúmeras línguas e, nos seus últimos 18 anos de vida, professor de sânscrito na Faculdade de Letras. Do seu Florilégio dos Provérbios Concanis, eis o primeiro: «A cana, por ser doce, não se deve comer com a sua parte folhada» e o último: «Rirá e continuará a rir». Foi o professor de Mariano Saldanha e este de Margarida de Lacerda, com quem ainda aprendi os rudimentos de sânscrito.
A russa Helena Petrovna Blavatsky, a fundadora da Sociedade Teosófica, com o coronel Olcot, e uma das primeiras divulgadoras da sabedoria oriental no Ocidente, ainda que por vezes de forma alterada e nada sistematizada e com poucas possibilidades de ser comprovada, abandona o corpo em Adhyar, Madras, sede do movimento, em 1891, com sessenta anos. A sua relação com os Mahatmas ou grandes almas ou mestres invisíveis que a teriam guiado, nunca será bem esclarecida, mesmo com a publicação das Cartas que eles lhe teriam enviado e que não revelam grande transcendência de conhecimentos, havendo quem ponha em causa a sua autenticidade e parece que com fundamento, nomeadamente pelo facto de as cartas surgirem escritas com tinta inglesa. A instituição da Sociedade Teosófica, ainda que perdendo o fulgor inicial, mantém-se viva em muitos países e conserva o magnífico parque, centro e biblioteca em Adhyar, no sul da Índia. Entre nós Fernando Pessoa traduziu a sua A Voz do Silêncio e deixou algumas críticas ao facto de Blavatsky ser uma expositora algo confusa (nomeadamente na Isis sem Véu e na Doutrina Secreta).
Nasce o Conselheiro José Júlio Rodrigues em Goa, neste dia 8 de Maio de 1893. Notável cientista, lente catedrático, deputado e jornalista. No livro Na Índia, impresso em 1943, narra algumas das sugestivas impressões que recolheu numa visita feita a Goa com o magistrado e poeta Alberto Osório de Castro, outro amante do Oriente.
9-V. Fundeiam em Chatigão as primeiras naves portuguesas em busca de comércio e riquezas, neste dia em 1518, capitaneadas pelo sobrinho do cobiçoso vice-rei Lopo Soares. Longe do poder central de Goa, o golfo de Bengala será o palco aventureiro de interesses privados, e a identificação dos portugueses como piratas ou mercenários ficará na memória popular.
D. António Filipe Camarão, índio brasileiro que pelas suas qualidades e vitórias sobre os holandeses atingiu o título de Dom, o hábito da Ordem de Cristo e a patente de capitão general dos Índios do Brasil, morre neste 9-V de 1648. Era também alma muito religiosa, praticando a religião católica com o mesma valentia que batalhava.
O P. Domingos Coronado morre nas prisões chinesas, após algum tempo de áspero cativeiro, neste dia em 1665.
O papa publica o breve Probe nostis neste dia em 1853 criticando e ameaçando o bispo de Macau e os prelados de Goa por não estarem a demitir-se das suas funções em favor dos padres da Propaganda Fidei, Disto nascerá um conflito que cessará em parte com a Concordata de 21 de Fevereiro de 1857. Contudo continuando os vigários apostólicos a atacar o Padroado português será Cunha Rivara, ilustre historiador e secretário do governador-geral, que numa série de folhetos anónimos fará luz e reanimará as forças lusas. Augusto Filipe Simões (1835-1884), nos seus valiosos Escriptos diversos,i mpressos já em 1888, sobre História, Coimbra, Arqueologia, etc., inclui o elogio de Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, e sobre este caso escreverá:«Por meio destes escritos, inspirados no amor da pátria e fortalecidos com as razões de direito, conseguiu o autor reanimar o espírito abatido dos padres portugueses e dos fiéis a fim de resistirem vitoriosamente às exigências desarrazoadas da propaganda».
Nasce António Bragança Pereira em Salsete, neste dia 9 de Maio em 1883. Formado em Direito em Coimbra, foi magistrado, arqueólogo e historiador notável com vasta bibliografia. No frontispício da sua valiosa Etnografia da Índia Portuguesa, em dois volumes, inscreveu um aforismo das leis de Manu, o mítico legislador das leis primevas da humanidade: «O conquistador deve respeitar os costumes dos vencidos». Mea culpa, mea culpa, deveriam ter dito em muitos casos os portugueses e em especial os religiosos mais propensos ao fanatismo e à inquisição.
10-V. O P. João de Santa Maria, natural de Tomar, depois de duas missões bem sucedidas no Congo, com a conversão até do rei e de muitos da sa corte, abandona a imensa África pelo mundo infinito, neste dia, em 1518.
Carta de S. Francisco Xavier escrita neste dia em 1546, contando que em Malaca: «com a ajuda de Deus nosso senhor fiz muitas pazes entre os soldados e os moradores da cidade e à noite ia pela cidade com uma campainha pequena encomendando as almas do purgatório levando comigo muitos meninos dos que ensinava a doutrina cristã».
Em 1640 abandona a terra de Timor para o mundo espiritual, com todas as honras locais, o padre Rafael da Veiga, natural de Azeitão, depois de seis anos de evangelização feliz na ilha.
Em Paris, o insigne historiador e hábil embaixador Duarte Ribeiro de Macedo, cavaleiro da Ordem de Cristo e do Conselho del-Rei, escreve neste dia em 1675 o seu importante Discurso sobre a sobrevivência do Ultramar Português.
Carta de Goa, em 1776, do secretário do Estado Português na Índia Nobre Mourão para o bispo de Beja Frei Manuel do Cenáculo Vilas-Boas, humanista que lia árabe e síriaco, amante dos livros e fundador de bibliotecas: «Sabendo que Vossa Ex.ª estima ver as notícias raras, e seitas das nações do mundo, preveni há muitos meses a um dos mais entendidos Gentios do País, o me escrevesse a Seita do Gentilismo, e posto que eles nisto têm grande dificuldade, pôde conseguir esse tomo, que remeto a Vossa Ex.ª pelo comandante António José de Oliveira que vai na Nau de Viagem para entregar a Vossa Ex.ª, e em outro ano remeterei a continuação desta falsa história, e Seita». Era a notável obra de Ananta Camotim Vaga, o língua de Estado, (intérprete), conhecedor da religiosidade indiana, e que nos deixou ainda um belo resumo duma versão do Bhagavad Gita, donde trancrevo: «Assim como dos ares chove água, une-se aos mares e tudo é água, Deus verdadeiro é um só, ainda que as nações do mundo o adorem em diferentes nomes».
Sri Yukteswar Giri nasce neste dia em Serampore, Índia, em 1855, e foi discípulo de Lahiri Mahashaya e mestre de Paramahamsa Yogananda, mestres e yogis na linha do Kriya Yoga, um método de aceleração da evolução da consciência pela manipulação da energia interna com a respiração e a visualização na coluna vertebral. A sua obra Ciência Sagrada é simples, concentrada e esclarecedora sobre a constituição invisível do ser humano e do Cosmos.
Revolta dos Sipaios, os soldados indianos, em Meerut, em 1857, que soltam os seus companheiros presos, matam os oficiais e erguem-se contra a opressão inglesa, indignados por estarem a usar nos cartuchos das munições sebo de boi sem o saber. Mas também havia impostos exorbitantes sobre as terras, salários de miséria para os funcionários públicos, monopólio inglês do comércio mais valioso, desemprego pelas importações de Inglaterra. A rainha Jhansi dos Maratas, que adere à revolução, morre à frente dos seus exércitos, enquanto que o descendente dos imperadores mogóis de Deli é proclamado imperador. A revolta, sobretudo dos muçulmanos, e à qual os sikhs não aderiram, leva dois anos a ser controlada, e será duramente reprimida. Pouco depois a administração inglesa no subcontinente indiano é retirada à Companhia Inglesa das Índias Orientais e é assumida pela Coroa.
Richard Wilhelm nasce neste dia em 1873, em Tübingen, Alemanha. Vivendo 25 anos na China tornou-se um sinólogo e foi autor de valiosas tradução comentadas de Contos de fadas Chineses, do livro de adivinhação I Ching e também do texto de práticas espirituais taoístas e alquímicas Segredo da Flor de Ouro, o qual contém ainda o Huig Ming Ching, Livro da Consciência e Vida, comentado por Carl Gustav Jung. Carl Gustav Jung, que o conhecera nos começos dos anos 20 em Darmstadt, na Escola de Sabedoria, do alemão conde Herman Keyserling (a quem Fernando Pessoa escreveu uma carta crítica em 1930, publicada pela 1ª vez em 1988, sob o título A Grande Alma Portuguesa) e que trabalhou e conviveu bastante com ele, admirou a capacidade de Richard Wilhelm libertar-se correctamente das limitações da mentalidade ocidental, algo que ele próprio não conseguiu tanto, e elogiou-o: «A compreensão com que se dedicou à sua tarefa, sem nenhum traço de ressentimento cristão ou arrogância europeia, constitui um testemunho da sua grandeza, pois os espíritos medíocres, em contacto com uma cultura, perdem-se numa cega auto-destruição, ou numa atitude crítica tão incompreensível, quão presunçosa. Como apenas tacteiam a superfície externa, nunca bebendo o vinho ou comendo o pão da cultura estrangeira, jamais permitem que aconteça a comunius spiritus, [S. Paulo, epístola aos Romanos] aquela transfusão e penetração mais íntima que prepara e gera um novo nascimento».
11-V. Carta régia de doação, em 1500, a Gaspar Corte-Real, o filho do navegador e capitão donatário de Angra e de S, Jorge, João Vaz Corte-Real, da jurisdição e rendas das terras que descobrir na América do Norte. Depois de ter descoberto a terra anunciada, a Terra Nova, ou a Terra de Corte-Real, como eventualmente a pedra de Brighton assinala, organiza uma 2ª expedição, onde desaparece em 1501. O seu irmão Miguel Corte-Real lança-se numa 3ª expedição em busca dele e também desaparece, provavelmente nos mares gelados e tempestuosos. Quando o 3º irmão Vasco Anes Corte-Real tenta aventurar-se em busca dos dois irmãos volatilizados e esfumados numa lenda fantasmagórica, o rei D. Manuel impede-o de modo que será ele que sucederá a seu pai como capitão donatário. Fernando Pessoa impressionado com esta história trágico-marítima imortalizará na Mensagem a família Corte-Real, em versos intensos e que sofreram modificações ao longo da longa gestação da sua obra prima:
NOITE
«A nau de um d’elles tinha-se perdido//No mar indefinido.//O segundo pediu licença ao Rei//De, na fé e na lei// Da descoberta ir em procura//Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.//
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo//Volveu do fim profundo// Do mar ignoto à pátria por quem dera// O enigma que fizera.// Então o terceiro a El-Rei rogou//Licença de os buscar, e El-Rei negou. //
Como a um captivo, o ouvem a passar// Os servos do solar.//E, quando o vêem, vêem a figura// Da febre e da amargura,//Com fixos olhos rasos de ancia//Fitando a prohibida azul distancia.//
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome –// O Poder e o Renome – // Ambos se foram pelo mar da edade// À tua eternidade;// E com elles de nós se foi// O que faz a alma poder ser de heroe.//
Queremos ir buscal-os, d’esta vil// Nossa prisão servil://É a busca de quem somos, na distancia//
De nós; e, em febre de ancia,// A Deus as mãos alçamos.//
Mas Deus não dá licença que partamos».
Nasce junto a Madras, em 1896, Joe Krishnamurti. Renunciando em 1929 ao estatuto de incarnação divina, ou de novo instrutor mundial, que pretendiam (mistificadoramente) os dois dirigentes ingleses da Sociedade Teosófica, Annie Besant e Charles Leadbeater, que o educaram desde que fora descoberto por Leadbeater em 1909, e com metodologias muito discutidas, e que ele aceitara, chegado mesmo a formar-se uma Ordem da Estrela do Oriente para o acompanhar como o novo Buda ou Cristo. Independentizando-se de tal sonho e mistagogia veio a tornar-se um pensador e pedagogo mundialmente reconhecido, dando não só conferências como encetando diálogos com conhecedores da física moderna, como David Bohm, Itzhakh Bentov e Fritjof Capra, que foram dos que mais tentaram ligar os dados da espiritualidade oriental com os da ciência moderna. Ao longo das décadas Krishnamurti teve vários adeptos em Portugal, desde os tempos da Ordem Estrela do Oriente até aos dias de hoje, e mesmo na Sociedade Teosófica, da qual ele se separara. Dirá numa das suas conferências: «Só tenho um fim, tornar o homem livre, incitá-lo à liberdade, ajudá-lo a libertar-se de todas as limitações, pois só isso lhe dará a felicidade eterna... Deveis tornar-vos não discípulos da Verdade, mas a própria Verdade... O amor é um estado interior constante, que não posso impedir de irradiar sobre todos os que se aproximam, não sendo eu que o dirijo para as pessoas». Ainda o ouvi palestrar nos jardins da Sociedade Teosófica em Adhyar.
Sala Lavor, onde a princesa santa Joana viveu os últimos tempos e abandonou o corpo, como a pintura mostra, em arte e talha dourada.
12-V. É certamente acolhida na "corte Divina", em 1490, porque conseguira ligar-se a ela no corpo e desprendera-se da terrena, a princesa S. Joana, filha primogénita de D. Afonso V e da infeliz irmã de D. Pedro das VII Partidas (ao casar-se com o culpado da morte do imortal D. Pedro], depois de 18 anos de vida (nascera a 6 de Fevereiro de 1452) santificante no convento de Aveiro, então um centro atractivo de espiritualidade e nascido do eremitério fundado por Diogo de Ataíde e sua mulher Brites Leitoa. A Crónica da Fundação do Mosteiro de Jesus, de Aveiro, e o Memorial da Infanta Santa Joana Filha Del Rei Dom Afonso relatam com grande devoção e mística, a vida austera, abnegada, santificante que a jovem princesa levou.
Em 1656 os holandeses conquistam neste dia Colombo, a praça forte do Ceilão, derrotando os portugueses, que resistiram ainda assim denodadamente oito meses. Prosseguiam a política que os tornou conhecidos como “os maiores adversários” no Oriente, vindo depois os ingleses, redistribuindo as esferas de influência à força, ou seja, contra os portugueses por guerra e propaganda.
Miyamoto Musashi, o célebre samurai invencível, abandona o mundo da destreza física em 1695, retirado como eremita numa gruta perto de Kumanoto, depois de uma vida plena de aventuras e vitórias e em que colaborou nas grandes batalhas dos clãs japoneses. Autor do famoso Tratado das Cinco Rodas (ou Anéis), acerca da arte do samurai, antes de morrer redigiu as suas 21 regras de vida vagabunda ou andarilha das quais transcrevemos a primeira: «Não transgredir o Caminho invariável através dos tempos», e as duas últimas: «Venerar os Buddhas e os Kami (as divindades) sem contar com eles; jamais abandonar a via da táctica».
Em 1714, na Índia, uma mulher, que há treze anos servia como soldado valorosamente, é ferida e forçada a desvelar-se: Úrsula Alencastre, e vem a casar com o seu comandante, capitão Afonso de Melo, pois já chegava de provar que o ser humano contém em si os dois pólos da manifestação, o Yin e Yang dos orientais. O escritor brasileiro Gustavo Barroso escreveu baseado na sua vida o romance A Senhora de Pangim.
13-V. Sri Chaintanya nasce em Bengala em 1483 e com ele culmina o movimento Vaishnava Bhakti (amor devocional), fortificado posteriormente por Ramanuja, Madhva, Nimbarka, Vallahba e Narada. A alma é uma infinitésima parte de Deus, de tamanho atómico, e pelo amor, desenvolvido em estados sucessivos, atinge o estado desinteressado e de fluxo incessante para Deus, que lhe dá a liberdade perfeita. A divindade não é já o Brahman indeterminado, mas Krishna belo e adorável. A religião não são os ritos cumpridos, mas cantar, louvar, meditar, dançar no êxtase amoroso. A salvação já não é só acessível aos sacerdotes e aos que tem dinheiro para pagar os seus custosos serviços sacrificiais e ritualistas, mas até os sudras e os párias podem atingi-la pela via da devoção a Krishna, ou a Narayana. A dinamização da religião indiana por Chaintanya espalhou-se a partir de Bengala e Orissa, e houve portugueses que ao ouvirem cantar Krishna pensaram que era Cristo. Posteriormente muito se tem comparado das vidas e ensinamentos dos dois, sendo a Bhagavad Gita, o ensinamento de Krishna, um dos Evangelhos principais da Índia, onde se diz: «É só à custa duma devoção completa que se Me pode conhecer, contemplar e verdadeiramente entrar». Chaintanya morrerá em 1533, mas ainda hoje tem por toda a Índia os seus mosteiros ou maths, onde bhakti yoga, a devocional, sobrevive. Na mesma altura, vive no lado oposto da Índia, no Rajasthan, a grande poetisa do amor divino Mirabai (1498-1546), que em cânticos ainda hoje populares transmitiu a sua sadhana, o seu caminhar próprio na devoção ao Deus personalizado que se ama totalmente: «Deus, fonte da minha vida e de mim mesmo. / Sem Ti não há para mim nenhum lar nos três mundos. / Vi o mundo inteiro, mas sem Ti o mundo não me causa qualquer prazer. / Oh! Senhor, Mira é a tua escrava, deita pois um olhar sobre ela». Dirá ainda: «Todas as joias são transitórias, só é verdadeiro o amor do meu Bem Amado».
Deixa a vestimenta terrena em 1993, com 87 anos de idade, o padre beneditino católico inglês Bedde Griffiths, no seu ashram Shantivanam, nas margens do rio Kavery, no sul da Índia, depois de uma vida dedicada ao inter-relacionamento teológico e vivencial do hinduísmo e do cristianismo, recebendo no seu centro ou ashram centenas de peregrinos, dialogando com eles em valiosos satsang e publicando algumas obras de aproximação e comparação entre o Oriente e Ocidente, entre o Hinduísmo, a Vedanta e o Cristianismo, sem deixar contudo de ser Católico Romano, afirmando a Ressurreição de Jesus como o momento «em que o Espírito tomou posse dum corpo humano, e o universo através desse corpo humano emergiu na consciência divina. "O primeiro homem Adão tornou-se um um ser vivo; o último Adão tornou-se um espírito doador de vida" [S. Paulo. 1ª Ep. Coríntios, 15:45]». Estive um mês no seu ashram, dialogando algumas vezes com ele, um ser de grande paz e visão da Unidade.
O sábio médico oftalmologista Gama Pinto.
14-V. O notável médico oftalmologista António Cláudio Gama Pinto (nascido em Saligão em 1853 e formado na Alemanha), ao recusar ser senador e deputado, escreve neste dia numa carta, em 1915: «Tive sempre em horror à política, não à política no sentido elevado da palavra, senão a baixa política deste país, toda de interesses pessoais, de ambições vis, de roubos, de espoliações, de baixezas, de injustiças. A política como ciência de bem governar, de se dedicar ao progresso e ao bem estar da pátria, de sacrificar os interesses individuais ao bem comum, é uma actividade nobre que honra a quem a exerce, mas que exige aptidões e estudo especiais, tempo e paciência para a cultivar, coragem e abnegação para só visar ao engrandecimento da pátria e ao bem da humanidade. Essa não existe aqui, e por isso dela se devem abster os que prezam o seu nome e dignidade». Mais tarde, numa carta de Novembro de 1929, ano em que foi nomeado sócio da Academia das Ciências de Lisboa, Gama Pinto dirá: «Todos se julgam com direito a altos empregos e a grandes benesses, e ninguém se compenetra de que o modo mais digno de ganhar a vida é trabalhando, lutando, inventando expedientes e vencendo obstáculos. Quem espera dos outros que lhe entre o pão pela casa a dentro, não compreende as dificuldades da vida nem o alcance da própria dignidade».
15-V. D. Dinis ratifica («concordo», com a proposta do Papa) em 1319 a Ordem da Cavalaria de Jesus Cristo, ordem monástico-militar que nasce da transmutação da Ordem dos Cavaleiros do Templo, então perseguidos e extintos na Europa. É sob a sua orientação e bandeira que os portugueses se aventuram nos Descobrimentos e se entusiasmam nas missões de paz ou de guerra. A iniciação cavaleiresca, as práticas rigorosas das regras, a camaradagem corajosa, a egrégora que vinha dos templários, fortificavam muito os seus cavaleiros e frades. Para Fernando Pessoa foi ela o 2º movimento da Ordem Espiritual de Portugal e tentou em textos não publicados em vida teorizá-la como ordem iniciática e contribuir para o seu ressurgimento correcto. O crescimento desta Ordem foi grande sobretudo com o infante D. Henrique e com D. Manuel, que permitiu aos seus cavaleiros aos casamentos, mas D. João III, através do famigerado frade dominicano Frei António de Lisboa, reforma-a, limita-a e torna-a só conventual. Tomar e o seu convento e charola são ainda hoje pontos e vasos ígneos de grande simbologia e energia espiritual.
É consagrado o convento do Bom Jesus, em Goa, em 1605 por D. Aleixo de Meneses, arcebispo de Goa. Aqui virá aportar o corpo mumificado de Francisco Xavier e ainda hoje é um dos poucos monumentos que sobrevive à marcha implacável do tempo, recebendo mesmo os banhos de multidões vindas ao darsham (vista abençoadora) do santo. Começara a ser construído em 24 Novembro de 1594, no estilo clássico utilizado pelos jesuítas. No altar-mor está representado o rapto ou arrebatamento depois do qual S. Francisco de Assis teria dito:«Quão sórdida me é a terra, quando contemplo o céu», sendo a outra das suas frases extáticas, «não mais, não mais».
Devendranath Tagore nasce em Shiladaiha, Bengala, em 1817, numa das famílias mais importantes. Dotado de grande natureza espiritual em 1838 cria a Tattwabodhini Sabha, A Sociedade da Vibração (ou Estado) da Sabedoria, e activa e assume o movimento Brahmo Samaj, de reforma da sociedade, e nascido de Ram Mohan Roy, renunciando a considerar os Vedas suficientes e prosseguindo uma demanda independente intensa que faz ser considerado um Maharishi, grande vidente-sábio. Escreve a sua obra principal em 1850, o Brahmo Dharma, onde partilha a sua visão da religião universalista correcta com uma base védica e sobretudo da mais alta sabedoria das Upanishads, que ele aperfeiçoou mesmo nos seus textos, que sentia inspirados. Dirá com grande beleza e sabedoria: «O fogo divino do conhecimento de Deus está escondido no coração de todos os seres humanos. A consciência da infinita bondade de Deus está escrita em letras imorredoiras nas almas de todas as pessoas. Podemos ver Deus quando este fogo é acesso pelo estudo do universo».
«A nau de um d’elles tinha-se perdido//No mar indefinido.//O segundo pediu licença ao Rei//De, na fé e na lei// Da descoberta ir em procura//Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.//
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo//Volveu do fim profundo// Do mar ignoto à pátria por quem dera// O enigma que fizera.// Então o terceiro a El-Rei rogou//Licença de os buscar, e El-Rei negou. //
Como a um captivo, o ouvem a passar// Os servos do solar.//E, quando o vêem, vêem a figura// Da febre e da amargura,//Com fixos olhos rasos de ancia//Fitando a prohibida azul distancia.//
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome –// O Poder e o Renome – // Ambos se foram pelo mar da edade// À tua eternidade;// E com elles de nós se foi// O que faz a alma poder ser de heroe.//
Queremos ir buscal-os, d’esta vil// Nossa prisão servil://É a busca de quem somos, na distancia//
De nós; e, em febre de ancia,// A Deus as mãos alçamos.//
Mas Deus não dá licença que partamos».
Nasce junto a Madras, em 1896, Joe Krishnamurti. Renunciando em 1929 ao estatuto de incarnação divina, ou de novo instrutor mundial, que pretendiam (mistificadoramente) os dois dirigentes ingleses da Sociedade Teosófica, Annie Besant e Charles Leadbeater, que o educaram desde que fora descoberto por Leadbeater em 1909, e com metodologias muito discutidas, e que ele aceitara, chegado mesmo a formar-se uma Ordem da Estrela do Oriente para o acompanhar como o novo Buda ou Cristo. Independentizando-se de tal sonho e mistagogia veio a tornar-se um pensador e pedagogo mundialmente reconhecido, dando não só conferências como encetando diálogos com conhecedores da física moderna, como David Bohm, Itzhakh Bentov e Fritjof Capra, que foram dos que mais tentaram ligar os dados da espiritualidade oriental com os da ciência moderna. Ao longo das décadas Krishnamurti teve vários adeptos em Portugal, desde os tempos da Ordem Estrela do Oriente até aos dias de hoje, e mesmo na Sociedade Teosófica, da qual ele se separara. Dirá numa das suas conferências: «Só tenho um fim, tornar o homem livre, incitá-lo à liberdade, ajudá-lo a libertar-se de todas as limitações, pois só isso lhe dará a felicidade eterna... Deveis tornar-vos não discípulos da Verdade, mas a própria Verdade... O amor é um estado interior constante, que não posso impedir de irradiar sobre todos os que se aproximam, não sendo eu que o dirijo para as pessoas». Ainda o ouvi palestrar nos jardins da Sociedade Teosófica em Adhyar.
Sala Lavor, onde a princesa santa Joana viveu os últimos tempos e abandonou o corpo, como a pintura mostra, em arte e talha dourada.
12-V. É certamente acolhida na "corte Divina", em 1490, porque conseguira ligar-se a ela no corpo e desprendera-se da terrena, a princesa S. Joana, filha primogénita de D. Afonso V e da infeliz irmã de D. Pedro das VII Partidas (ao casar-se com o culpado da morte do imortal D. Pedro], depois de 18 anos de vida (nascera a 6 de Fevereiro de 1452) santificante no convento de Aveiro, então um centro atractivo de espiritualidade e nascido do eremitério fundado por Diogo de Ataíde e sua mulher Brites Leitoa. A Crónica da Fundação do Mosteiro de Jesus, de Aveiro, e o Memorial da Infanta Santa Joana Filha Del Rei Dom Afonso relatam com grande devoção e mística, a vida austera, abnegada, santificante que a jovem princesa levou.
Em 1656 os holandeses conquistam neste dia Colombo, a praça forte do Ceilão, derrotando os portugueses, que resistiram ainda assim denodadamente oito meses. Prosseguiam a política que os tornou conhecidos como “os maiores adversários” no Oriente, vindo depois os ingleses, redistribuindo as esferas de influência à força, ou seja, contra os portugueses por guerra e propaganda.
Miyamoto Musashi, o célebre samurai invencível, abandona o mundo da destreza física em 1695, retirado como eremita numa gruta perto de Kumanoto, depois de uma vida plena de aventuras e vitórias e em que colaborou nas grandes batalhas dos clãs japoneses. Autor do famoso Tratado das Cinco Rodas (ou Anéis), acerca da arte do samurai, antes de morrer redigiu as suas 21 regras de vida vagabunda ou andarilha das quais transcrevemos a primeira: «Não transgredir o Caminho invariável através dos tempos», e as duas últimas: «Venerar os Buddhas e os Kami (as divindades) sem contar com eles; jamais abandonar a via da táctica».
Em 1714, na Índia, uma mulher, que há treze anos servia como soldado valorosamente, é ferida e forçada a desvelar-se: Úrsula Alencastre, e vem a casar com o seu comandante, capitão Afonso de Melo, pois já chegava de provar que o ser humano contém em si os dois pólos da manifestação, o Yin e Yang dos orientais. O escritor brasileiro Gustavo Barroso escreveu baseado na sua vida o romance A Senhora de Pangim.
13-V. Sri Chaintanya nasce em Bengala em 1483 e com ele culmina o movimento Vaishnava Bhakti (amor devocional), fortificado posteriormente por Ramanuja, Madhva, Nimbarka, Vallahba e Narada. A alma é uma infinitésima parte de Deus, de tamanho atómico, e pelo amor, desenvolvido em estados sucessivos, atinge o estado desinteressado e de fluxo incessante para Deus, que lhe dá a liberdade perfeita. A divindade não é já o Brahman indeterminado, mas Krishna belo e adorável. A religião não são os ritos cumpridos, mas cantar, louvar, meditar, dançar no êxtase amoroso. A salvação já não é só acessível aos sacerdotes e aos que tem dinheiro para pagar os seus custosos serviços sacrificiais e ritualistas, mas até os sudras e os párias podem atingi-la pela via da devoção a Krishna, ou a Narayana. A dinamização da religião indiana por Chaintanya espalhou-se a partir de Bengala e Orissa, e houve portugueses que ao ouvirem cantar Krishna pensaram que era Cristo. Posteriormente muito se tem comparado das vidas e ensinamentos dos dois, sendo a Bhagavad Gita, o ensinamento de Krishna, um dos Evangelhos principais da Índia, onde se diz: «É só à custa duma devoção completa que se Me pode conhecer, contemplar e verdadeiramente entrar». Chaintanya morrerá em 1533, mas ainda hoje tem por toda a Índia os seus mosteiros ou maths, onde bhakti yoga, a devocional, sobrevive. Na mesma altura, vive no lado oposto da Índia, no Rajasthan, a grande poetisa do amor divino Mirabai (1498-1546), que em cânticos ainda hoje populares transmitiu a sua sadhana, o seu caminhar próprio na devoção ao Deus personalizado que se ama totalmente: «Deus, fonte da minha vida e de mim mesmo. / Sem Ti não há para mim nenhum lar nos três mundos. / Vi o mundo inteiro, mas sem Ti o mundo não me causa qualquer prazer. / Oh! Senhor, Mira é a tua escrava, deita pois um olhar sobre ela». Dirá ainda: «Todas as joias são transitórias, só é verdadeiro o amor do meu Bem Amado».
Deixa a vestimenta terrena em 1993, com 87 anos de idade, o padre beneditino católico inglês Bedde Griffiths, no seu ashram Shantivanam, nas margens do rio Kavery, no sul da Índia, depois de uma vida dedicada ao inter-relacionamento teológico e vivencial do hinduísmo e do cristianismo, recebendo no seu centro ou ashram centenas de peregrinos, dialogando com eles em valiosos satsang e publicando algumas obras de aproximação e comparação entre o Oriente e Ocidente, entre o Hinduísmo, a Vedanta e o Cristianismo, sem deixar contudo de ser Católico Romano, afirmando a Ressurreição de Jesus como o momento «em que o Espírito tomou posse dum corpo humano, e o universo através desse corpo humano emergiu na consciência divina. "O primeiro homem Adão tornou-se um um ser vivo; o último Adão tornou-se um espírito doador de vida" [S. Paulo. 1ª Ep. Coríntios, 15:45]». Estive um mês no seu ashram, dialogando algumas vezes com ele, um ser de grande paz e visão da Unidade.
O sábio médico oftalmologista Gama Pinto.
14-V. O notável médico oftalmologista António Cláudio Gama Pinto (nascido em Saligão em 1853 e formado na Alemanha), ao recusar ser senador e deputado, escreve neste dia numa carta, em 1915: «Tive sempre em horror à política, não à política no sentido elevado da palavra, senão a baixa política deste país, toda de interesses pessoais, de ambições vis, de roubos, de espoliações, de baixezas, de injustiças. A política como ciência de bem governar, de se dedicar ao progresso e ao bem estar da pátria, de sacrificar os interesses individuais ao bem comum, é uma actividade nobre que honra a quem a exerce, mas que exige aptidões e estudo especiais, tempo e paciência para a cultivar, coragem e abnegação para só visar ao engrandecimento da pátria e ao bem da humanidade. Essa não existe aqui, e por isso dela se devem abster os que prezam o seu nome e dignidade». Mais tarde, numa carta de Novembro de 1929, ano em que foi nomeado sócio da Academia das Ciências de Lisboa, Gama Pinto dirá: «Todos se julgam com direito a altos empregos e a grandes benesses, e ninguém se compenetra de que o modo mais digno de ganhar a vida é trabalhando, lutando, inventando expedientes e vencendo obstáculos. Quem espera dos outros que lhe entre o pão pela casa a dentro, não compreende as dificuldades da vida nem o alcance da própria dignidade».
15-V. D. Dinis ratifica («concordo», com a proposta do Papa) em 1319 a Ordem da Cavalaria de Jesus Cristo, ordem monástico-militar que nasce da transmutação da Ordem dos Cavaleiros do Templo, então perseguidos e extintos na Europa. É sob a sua orientação e bandeira que os portugueses se aventuram nos Descobrimentos e se entusiasmam nas missões de paz ou de guerra. A iniciação cavaleiresca, as práticas rigorosas das regras, a camaradagem corajosa, a egrégora que vinha dos templários, fortificavam muito os seus cavaleiros e frades. Para Fernando Pessoa foi ela o 2º movimento da Ordem Espiritual de Portugal e tentou em textos não publicados em vida teorizá-la como ordem iniciática e contribuir para o seu ressurgimento correcto. O crescimento desta Ordem foi grande sobretudo com o infante D. Henrique e com D. Manuel, que permitiu aos seus cavaleiros aos casamentos, mas D. João III, através do famigerado frade dominicano Frei António de Lisboa, reforma-a, limita-a e torna-a só conventual. Tomar e o seu convento e charola são ainda hoje pontos e vasos ígneos de grande simbologia e energia espiritual.
É consagrado o convento do Bom Jesus, em Goa, em 1605 por D. Aleixo de Meneses, arcebispo de Goa. Aqui virá aportar o corpo mumificado de Francisco Xavier e ainda hoje é um dos poucos monumentos que sobrevive à marcha implacável do tempo, recebendo mesmo os banhos de multidões vindas ao darsham (vista abençoadora) do santo. Começara a ser construído em 24 Novembro de 1594, no estilo clássico utilizado pelos jesuítas. No altar-mor está representado o rapto ou arrebatamento depois do qual S. Francisco de Assis teria dito:«Quão sórdida me é a terra, quando contemplo o céu», sendo a outra das suas frases extáticas, «não mais, não mais».
Devendranath Tagore nasce em Shiladaiha, Bengala, em 1817, numa das famílias mais importantes. Dotado de grande natureza espiritual em 1838 cria a Tattwabodhini Sabha, A Sociedade da Vibração (ou Estado) da Sabedoria, e activa e assume o movimento Brahmo Samaj, de reforma da sociedade, e nascido de Ram Mohan Roy, renunciando a considerar os Vedas suficientes e prosseguindo uma demanda independente intensa que faz ser considerado um Maharishi, grande vidente-sábio. Escreve a sua obra principal em 1850, o Brahmo Dharma, onde partilha a sua visão da religião universalista correcta com uma base védica e sobretudo da mais alta sabedoria das Upanishads, que ele aperfeiçoou mesmo nos seus textos, que sentia inspirados. Dirá com grande beleza e sabedoria: «O fogo divino do conhecimento de Deus está escondido no coração de todos os seres humanos. A consciência da infinita bondade de Deus está escrita em letras imorredoiras nas almas de todas as pessoas. Podemos ver Deus quando este fogo é acesso pelo estudo do universo».
Louis Rousselet nasce neste dia 15 de Maio de 1845 em Perpignan, França, e depois de estudar antropologia e arqueologia, partirá de barco para o Oriente e virá a ser um pioneiro da revelação da Índia por fotografias, desenhos e pelo seu livro belo L'Inde des Rhajas. Voyage dans l'Inde centrale et dans les présidences de Bombay et du Bengale, 1875, fruto da estadia de 1863 a 1868, bastante movimentada e bem documentada.
Visitando e convivendo com os Rajas e as suas Ranies, Rousselet orientalizou-se... |
Pir Muhamad Shah nasce em 1869 em Bijapur, Índia e foi um mestre iniciado na famosa Ordem sufi Qadiriyah, fundada por Abd al-Qadir al-Jilani no século XII, e onde tanto místicos islâmicos, tais como Mian Mir, Mulla Shah, Dara Shikoh e a sua irmã Jahanara Begum, se distinguiram no seu amor a Deus, sobretudo do ramo sunita. O almirante Avelino Teixeira da Mota constatou a difusão desta irmandade na Guiné.
O legendário mestre Abd al-Qadir al-Jilani, de Bagdad, hoje tão destruída pelo imperialismo inepto e tão destrutivo anglo-americano.
David Livingstone, um dos infatigáveis exploradores da misteriosa África, entra na margens do ainda tão desconhecido Além neste dia 15 de Maio em 1873, registando no seu diário a boa obra de educação que os missionários portugueses realizavam, as facilidades e simpatias encontradas, e dizendo que nos territórios administrados pelos portugueses «é mantido um sentimento amigável entre os nativos e as autoridades que não se encontra em parte alguma de África».
16-V. S. Francisco Xavier escreve a D. João III neste dia em 1546 sobre as pretensas necessidades da Índia: pregadores porque «é tanta a contratação contínua que temos com os infiéis, é tão pouca a nossa devoção, que mais azinha se trata com eles de proveitos temporais, que de mistérios de Cristo Nosso Redentor e Salvador... A segunda necessidade, que a Índia tem para serem bons cristãos os que nela vivem, é que mande Vossa Alteza a santa Inquisição, porque há muitos que vivem a lei mosaica e a seita mourisca. E porque isto são muitos e espalhados por todas as fortalezas, é necessária a santa Inquisição e muitos pregadores: proveja Vossa Alteza seus leais e fiéis vassalos da Índia de coisas tão necessárias». Era o começo da Inquisição no Oriente, uma trágica ilusão grave que o proselitismo católico ingénuo mas violento gerou e neste caso por um notável jesuíta, santificado mesmo, pois mesmo nos melhores panos há sempre nódoas...
Armas da cidade de Baçaim.
Os portugueses, depois de três meses de resistência na fortaleza de Baçaim, já só com 60 homens e sem munições, capitulam perante o numeroso exército marata, sendo-lhes prestadas honras de guerra. Voltavam assim aos maratas as suas terras a norte de Goa, em 1739, ficando na posse dos portugueses apenas Damão e Diu. Muitas das jovens viúvas e filhas de portugueses passaram para Bombaim e Pondichery, unindo os seus destinos com ingleses e franceses, tais como as mais notáveis e influentes Dona Joana da Costa e Dona Joana de Castro, ou Johanna Bégum, bem estudada na obra de Yvonne Robert Gaebelé Créole et Grande Dame. Johanna Bégum, Marquise Dupleix (1706-1756), dada à luz em 1956 na Imprimerie de Sri Aurobindo Ashram, Pondicherry, então o último foco da presença cultural francesa na Índia. Braz A. Fernandes publicou em 1958 (reeditada em 1998) uma justa homenagem aos portugueses que lá viveram e morreram descrevendo mais de cem Armas e Inscrições do forte de Baçaim, explicando: «Achando-nos próximo do pórtico da igreja de S. António e observando ao redor o outrora esplêndido interior, contemplamos numerosas sepulturas que cobrem completamente o chão. Os brasões de armas esculpidos em relevo nas pesadas lajes trazem-nos ao pensamento o tempo em que os cavaleiros galantes e fidalgos majestosos rivalizaram entre si em esplendor e dignidade. Na verdadeira constituição da sua mente essencialmente apaixonada pelo simbolismo, o Português revela, e sempre revelou, uma heráldica característica. As divisas que os Indo-Portugueses adoptaram nos séculos dezasseis e dezassete partilham do ideal de todo o simbolismo e, ao mesmo tempo, foram distinguidos por expressividade simples e dignificada (...) D. João II da casa de Aviz, e depois dele D. Manuel «o Afortunado», instituíram um Colégio Heráldico para preparar livros de armas correctos. Havia três reis de armas chamados Portugal, Algarve e Índia. No seu regimento D. Manuel decretou quem havia de ser considerado membro da verdadeira nobreza de Portugal e ordenou que seus emblemas heráldicos para serem pintados no tecto da sala dos Brasões em Sintra, em volta das armas reais. No templo da Cavalaria, quando um cavaleiro estava com a armadura vestida o único meio de o identificar era pelo emblema de seu brasão bordado na cota sem mangas que trazia nas liças dos torneios. Na guerra, contudo, a cota não foi usada, mas ele era conhecido pelos seus companheiros devido ao emblema que timbrava o elmo. Estava assim criada a cota de armas e o timbre das famílias nobres do presente.»
17-V. "Neste dia D. Sebastião passa o diploma de «mestre de fazer cartas de marear, astrolábios e agulhas», a Bartolomeu Lasso, devendo este, porém, em tal materia, ser examinado pelo «doutor Pedro Nunes meu cosmógrafo mor». Para tal efeito o rei expede provisão passada pela Chancelaria e por bem dela o dito cosmógrafo examinou o dito Bartolomeu Laço e foi presente ao dito exame Jorge Reinel mestre das cartas de marear do meu Almazem...»" das Armadas, Mantimentos e Armas da Guiné e das Índias, e que desde 1501 por provisão de D. Manuel I tinha o seu provedor e vários funcionários. Ficava junto à Casa da Índia, à Ribeira das Naus e à capela de S. Tomé, onde se celebrava missa diária não só para os funcionários mas para os próprios reis, pois o Paço Real estava também junto a eles. É a Francisco Mendes da Luz que devemos a transcrição e apresentação do Regimento da Caza da India, manuscrito do séc. XVII até então inédito no arquivo acastelado castelhano de Simancas, e dado à luz em 1951, no vol. VI, tomo II, dos Anais da meritória Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, ,
Gravura de Lisboa no tempo das Navegações, lutas e comércio, nas Civitates Orbis Terrarum, de Georgius Braun, 1570. |
Os Jesuítas começam edificar um colégio em Margão neste dia em 1574, nos terrenos tirados dos pagodes hindus, mas será transferido mais tarde para Rachol, onde hoje se encontra uma dos melhores museus da arte religiosa indo-portuguesa.
D. Frei Henrique de Távora, discípulo e amigo de Frei Bartolomeu dos Mártires, hoje santificado, que participara com ele e com o sábio Diogo Paiva Andrade no concílio de Trento, em que repreendeu os vícios do clero numa homilia, e depois fora bispo de Cochim e, por fim, durante três anos arcebispo primaz de Goa, tentando então além de missionar, disciplinar relaxamentos do clero, não sendo bem recebido quanto a este desiderato, morre por envenenamento em 1581, em Chaul.
Os maratas, desde 1730 numa constante guerrilha de libertação dos territórios do Norte, apoderam-se de Salsete em 1738, fazendo bastantes tropelias e destruição nos edifícios religiosos católicos. Povo de agricultores e guerreiros, liderados por Shivaji e Sambaji, usando sobretudo a velocidade nos ataques e evitando as batalhas em campo aberto, venceram com frequência mogóis, muçulmanos, portugueses e ingleses, preludiando a independência liderada por Mahatma Gandhi
18-V. Parte de Lisboa na capitania de Pedro de Anhaia, em 1505, Martim Fernandez de Figueroa «com muitos esforçados e valentes castelhanos» desejoso de ver mundo e ganhar os salários em cruzados e pimenta prometidos por D. Manuel. Comporá um diário de espanto e curiosidades dos seis anos de navegação e em que participou na tomada de Goa, o qual será aperfeiçoado e impresso por Juan Aguero em 1512, em Salamanca.
François Pyrard de Laval parte neste dia do porto de Saint-Malo em França em 1601 rumo ao Oriente. Após viagens e aventuras incríveis, e de uma estadia prolongada nas Maldivas, é capturado pelos portugueses no caminho de Calicute para Cochim e é, posto a ferros. Doente, é o dominicano Fr. Manuel de Cristo quem o ajuda a sobreviver na viagem até à Índia e não estranhemos que o que mais apreciará em Goa seja o hospital: «Fui muito bem tratado e sarei da minha enfermidade, porque é um hospital verdadeiramente real, excelente, magnífico onde os doentes, assim pobres como ricos, são servidos com tanto cuidado, asseio e carinho, que mais não pode ser». Servira depois como militar nas tropas portuguesas durante dois anos e regressará à Europa pelo Brasil e depois Galiza, onde chega em Janeiro de 1611 (onde cumpre a sua promessa de peregrinar a Santiago de Compostela), entrando por fim em França, No seu livro, Discours du voyage des François aux Indes orientales, ensemble des divers accidents, adventures et dangers de l'autheur en plusieurs royaumes des Indes, etc. Traité et Description des animaux, arbres et fruits des Indes, etc., plus un bref avertissement et advis pour ceux qui entreprennent le voyage des Inde publicado logo em 1611, já em Paris, narra como 240 mil habitantes das mais diversas nações e religiões cruzavam as ruas da Goa Dourada, e «ver o grande número de navios que ali se encontram, tanto no porto como na praia, é o espectáculo mais belo do mundo». Do Colégio de S. Paulo dirá que o frequentavam três mil estudantes de várias nações. As suas descrições fidedignas dos costumes e natureza serão aproveitadas e editadas com grande sucesso. Foi certamente um dos europeus que melhor conheceu, e sofrida e heroicamente, o Oriente.
Os holandeses comandados pelo conde Maurício de Nassau neste dia em 1638 tentam reconquistar a Baía e são desbaratados. Os holandeses tinham criado uma Companhia das Índias Ocidentais para conquistar o Brasil e a partir de 1624 começaram a atacar os domínios dos portugueses fazendo alianças com algumas tribos índias, portando-se por vezes com grande crueldade, como nesses dias em que derrotados na Baía deram sobre a povoação de Recôncavo, passando a fio de espada todos os seus moradores.
Pela morte do conde da Ericeira e vice-rei na Índia D. Luís de Meneses começam a governar o Estado português na Índia neste dia em 1743 D. Luís Caetano de Almeida e D. Lourenço de Noronha. Nas cartas patentes deste último, nascido em 1689, constavam então 23 anos de serviço em África e na Ásia, destacando-se como mestre-campo do terço da cidade de Goa e governador e capitão-general de Moçambique e Rios de Sena. Em 1735 o conde de Sandomil e vice-rei da Índia oficiara ao rei: «Este fidalgo prefere pelo seu nascimento a todos os mais que existem na Índia: é sumamente bem procedido em verdade, desinteresse e limpeza de mãos... Com seu dinheiro tem servido a Vossa Majestade várias vezes sem lucro algum».
D. Lourenço de Noronha..
19-V. Krishna Ray, senhor do império de Vijayanagar que controlava o sul da Índia, toma ao Âdil Khân (o Hidalcão) os territórios de Bardez, Salsete e Pondá e doa-os ao rei D. Manuel em 1520. De hábitos cruéis mesmo para com os seus súbditos, enfraquece o seu império que não resistirá à coligação dos estados muçulmanos do Decão em 1564, extinguindo-se.
O açoriano José Agostinho foi um dos muitos escritores atraídos pela alma e aura do Terribile...
Os ossos de Afonso de Albuquerque (embora haja quem defenda que não os eram), desde Abril chegados a Lisboa (não obstante a revolta da população de Goa, apegada a eles), e provisoriamente depositados na igreja da Misericórdia, são transferidos numa impressionante procissão para a igreja da Graça neste dia em 1566. Fora o filho de Albuquerque que o conseguira, pois apesar da vontade testamentaria dos seus restos virem para junto da família na Graça, tanto D. Manuel como D. João III acreditaram sempre que eles contribuíam para assegurar a Índia portuguesa. As bandeiras dos soberanos vencidos no Oriente, e a velha e rôta que D. Manuel lhe entregara, estão dependuradas sobre o túmulo e quem prega sobre as virtudes de Albuquerque é o frade agostinho, do convento da Graça, Sebastião Toscano, um dos místicos da época (autor da Mística Teologia, que estudei, tenho preparada e mereceria ser reeditada), que estabelece uma analogia entre o dito final de Albuquerque ao rei: «quanto às coisas da Índia ela falaria por si e por ele», e o epitáfio que lera em Florença no túmulo do humanista Pico della Mirandola: «Aqui jaz enterrado Pico Mirandulano. O demais — quem foi e que fez — sabe-o o Tejo e o Ganges, scilicet, o Oriente e o Ocidente, e os Antípodas, lá o outro mundo debaixo deste (se o há). Que é tanto como dizer: são tão manifestas e excelentes suas obras, que não se podem esconder ao mundo onde há gente.»
D. Frei Henrique de Távora, discípulo e amigo de Frei Bartolomeu dos Mártires, hoje santificado, que participara com ele e com o sábio Diogo Paiva Andrade no concílio de Trento, em que repreendeu os vícios do clero numa homilia, e depois fora bispo de Cochim e, por fim, durante três anos arcebispo primaz de Goa, tentando então além de missionar, disciplinar relaxamentos do clero, não sendo bem recebido quanto a este desiderato, morre por envenenamento em 1581, em Chaul.
Os maratas, desde 1730 numa constante guerrilha de libertação dos territórios do Norte, apoderam-se de Salsete em 1738, fazendo bastantes tropelias e destruição nos edifícios religiosos católicos. Povo de agricultores e guerreiros, liderados por Shivaji e Sambaji, usando sobretudo a velocidade nos ataques e evitando as batalhas em campo aberto, venceram com frequência mogóis, muçulmanos, portugueses e ingleses, preludiando a independência liderada por Mahatma Gandhi
18-V. Parte de Lisboa na capitania de Pedro de Anhaia, em 1505, Martim Fernandez de Figueroa «com muitos esforçados e valentes castelhanos» desejoso de ver mundo e ganhar os salários em cruzados e pimenta prometidos por D. Manuel. Comporá um diário de espanto e curiosidades dos seis anos de navegação e em que participou na tomada de Goa, o qual será aperfeiçoado e impresso por Juan Aguero em 1512, em Salamanca.
François Pyrard de Laval parte neste dia do porto de Saint-Malo em França em 1601 rumo ao Oriente. Após viagens e aventuras incríveis, e de uma estadia prolongada nas Maldivas, é capturado pelos portugueses no caminho de Calicute para Cochim e é, posto a ferros. Doente, é o dominicano Fr. Manuel de Cristo quem o ajuda a sobreviver na viagem até à Índia e não estranhemos que o que mais apreciará em Goa seja o hospital: «Fui muito bem tratado e sarei da minha enfermidade, porque é um hospital verdadeiramente real, excelente, magnífico onde os doentes, assim pobres como ricos, são servidos com tanto cuidado, asseio e carinho, que mais não pode ser». Servira depois como militar nas tropas portuguesas durante dois anos e regressará à Europa pelo Brasil e depois Galiza, onde chega em Janeiro de 1611 (onde cumpre a sua promessa de peregrinar a Santiago de Compostela), entrando por fim em França, No seu livro, Discours du voyage des François aux Indes orientales, ensemble des divers accidents, adventures et dangers de l'autheur en plusieurs royaumes des Indes, etc. Traité et Description des animaux, arbres et fruits des Indes, etc., plus un bref avertissement et advis pour ceux qui entreprennent le voyage des Inde publicado logo em 1611, já em Paris, narra como 240 mil habitantes das mais diversas nações e religiões cruzavam as ruas da Goa Dourada, e «ver o grande número de navios que ali se encontram, tanto no porto como na praia, é o espectáculo mais belo do mundo». Do Colégio de S. Paulo dirá que o frequentavam três mil estudantes de várias nações. As suas descrições fidedignas dos costumes e natureza serão aproveitadas e editadas com grande sucesso. Foi certamente um dos europeus que melhor conheceu, e sofrida e heroicamente, o Oriente.
Os holandeses comandados pelo conde Maurício de Nassau neste dia em 1638 tentam reconquistar a Baía e são desbaratados. Os holandeses tinham criado uma Companhia das Índias Ocidentais para conquistar o Brasil e a partir de 1624 começaram a atacar os domínios dos portugueses fazendo alianças com algumas tribos índias, portando-se por vezes com grande crueldade, como nesses dias em que derrotados na Baía deram sobre a povoação de Recôncavo, passando a fio de espada todos os seus moradores.
Pela morte do conde da Ericeira e vice-rei na Índia D. Luís de Meneses começam a governar o Estado português na Índia neste dia em 1743 D. Luís Caetano de Almeida e D. Lourenço de Noronha. Nas cartas patentes deste último, nascido em 1689, constavam então 23 anos de serviço em África e na Ásia, destacando-se como mestre-campo do terço da cidade de Goa e governador e capitão-general de Moçambique e Rios de Sena. Em 1735 o conde de Sandomil e vice-rei da Índia oficiara ao rei: «Este fidalgo prefere pelo seu nascimento a todos os mais que existem na Índia: é sumamente bem procedido em verdade, desinteresse e limpeza de mãos... Com seu dinheiro tem servido a Vossa Majestade várias vezes sem lucro algum».
D. Lourenço de Noronha..
19-V. Krishna Ray, senhor do império de Vijayanagar que controlava o sul da Índia, toma ao Âdil Khân (o Hidalcão) os territórios de Bardez, Salsete e Pondá e doa-os ao rei D. Manuel em 1520. De hábitos cruéis mesmo para com os seus súbditos, enfraquece o seu império que não resistirá à coligação dos estados muçulmanos do Decão em 1564, extinguindo-se.
O açoriano José Agostinho foi um dos muitos escritores atraídos pela alma e aura do Terribile...
Os ossos de Afonso de Albuquerque (embora haja quem defenda que não os eram), desde Abril chegados a Lisboa (não obstante a revolta da população de Goa, apegada a eles), e provisoriamente depositados na igreja da Misericórdia, são transferidos numa impressionante procissão para a igreja da Graça neste dia em 1566. Fora o filho de Albuquerque que o conseguira, pois apesar da vontade testamentaria dos seus restos virem para junto da família na Graça, tanto D. Manuel como D. João III acreditaram sempre que eles contribuíam para assegurar a Índia portuguesa. As bandeiras dos soberanos vencidos no Oriente, e a velha e rôta que D. Manuel lhe entregara, estão dependuradas sobre o túmulo e quem prega sobre as virtudes de Albuquerque é o frade agostinho, do convento da Graça, Sebastião Toscano, um dos místicos da época (autor da Mística Teologia, que estudei, tenho preparada e mereceria ser reeditada), que estabelece uma analogia entre o dito final de Albuquerque ao rei: «quanto às coisas da Índia ela falaria por si e por ele», e o epitáfio que lera em Florença no túmulo do humanista Pico della Mirandola: «Aqui jaz enterrado Pico Mirandulano. O demais — quem foi e que fez — sabe-o o Tejo e o Ganges, scilicet, o Oriente e o Ocidente, e os Antípodas, lá o outro mundo debaixo deste (se o há). Que é tanto como dizer: são tão manifestas e excelentes suas obras, que não se podem esconder ao mundo onde há gente.»
Pico numa pintura quinhentista que pertencia a José V. Pina de Martins. Fotografia minha. |
Proclamação do vice-rei João Nunes da Cunha, conde de S. Vicente em 1668, apelando ao regresso a Goa dos portugueses que serviam os maratas, mogóis e mouros, dado que Shivaji, o rei dos maratas, vencendo os mogóis e o Âdil Shâh, ameaçava atacar a Província do Norte e Goa, o que fez infiltrando 500 homens nas fortalezas, mas que descobertos foram expulsos.
Os maratas conquistam as terras do Norte, Salsete e Bardez, neste dia em 1739. Só em 1741 é que serão recuperadas pelo activo vice-rei, segunda vez nomeado, D. Luís de Meneses, conde da Ericeira.
Neste dia 19 de Maio de 1820 surge na língua bengali em Calcutá um panfleto intitulado A Tract against Idolatry, Refutação da Idolatria, publicado anonimamente mas da autoria de Ram Mohun Roy (nascido a 22 de Maio de 1772) contendo um bem fundamentado ataque a alguma excessiva dependência de imagens e de múltiplos dos deuses na religião hindu o qual começa assim: «Perguntarei aos Pundits (professores-mestres) com os seus seguidores, que são contra a adoração da Divindade suprema e devotas do serviço das imagens: Porque é que vós vos tornais o gozo ou escárnio das pessoas sensíveis, ao considerardes miseráveis imagens que não tem sentidos, movimento e poder da palavra, como sendo o omnipotente, omnipresente e todo poderosa Divindade?», quando nas próprias Shastras (escrituras) está escrito: «Uma pessoa que pela ignorância me esquece, Espírito omnipresente, e adora as imagens, não faz mais do que um sacrifício sobre cinzas». Ou ainda:«As pessoas ignorantes consideram a terra e o barro como Deus, mas pessoas bem instruídas o Espírito supremo». A obra teve grande sucesso, em várias publicações e traduções, às quais se associaram alguns padres ou missionários cristãos. Será só em 1828 que Ram Mohun Roy funda um movimento religioso unitário (um só Deus, Brahma), o Brahmo Samaj bem influente no renascimento bengali e no reforço de uma identidade mais forte hindu ou indiana, preparando-a para luta pela Independência da sujeição e opressão inglesa. Excelente conhecedor das shastras hindus lembrará que «o guru (mestre) é quem pelo colírio do conhecimento dissipa a escuridão da ignorância e ilumina os olhos do conhecimento», ou ainda que «um guru ignorante que tenta instruir uma pessoa ignorante é como um cego tentando guiar um cego» ou mesmo que «só o conhecimento do Espírito Supremo ilumina ou salva as pessoas».
O barão siciliano Julius Evola nasce neste dia em Roma, em 1898. Atingido por uma bomba no final da 2ª grande guerra, vive com as pernas paralisados até deixar a vestimenta física em 1974. Representante do pensamento tradicional, aristocrático e guerreiro indo-europeu, da sua vasta obra ressaltam duas obras mais orientais, A Doutrina do Despertar e a Metafísica do Sexo, esta já traduzida em português. É considerado um dos metafísicos espirituais tradicionais mais fortes do séc. XX e, embora próximo de René Guénon, conhecia muito melhor que este a tradição espiritual indiana, que aprofundou e correlacionou bastante bem, nomeadamente no Yoga Tântrico. Certamente uma das melhores obras ocidentais sobre a filosofia indiana e em especial o tantrismo, hoje com alguma moda mas muito superficializado. Num diálogo dirá: «o que importa na acção é a obtenção duma tensão ligada a uma vida não banal. Tender para um ultrapassar que contribua para essa revolução interior sem a qual não há comprometimento significativo. Esta atitude pode então ser heróica, espiritual, e é ela que inspira o homem no meio das ruínas». O famoso pensador russo Alexandre Dugin, pai da filósofa mártir Daria Dugina Platonova, é hoje um dos seus continuadores mais valiosos.
20-V. «Abandona neste dia o seu corpo físico em 1449 na batalha de Alfarrobeira, D. Pedro, da ínclita geração de Avis, duque de Coimbra, o infante das Sete Partidas, que pela Europa manifestara o seu génio e valor, trazendo de Veneza um manuscrito das viagens de Marco Polo. Bom governador do reino por oito anos, nos quais impulsionou as ousadas navegações mas não a expansão guerreira no norte de África. Com ele dão a vida terrena os seus mais fiéis amigos e leais portugueses, tendo ele e Álvaro Vaz de Almada, Capitão do mar, conde de Avranches, um dos doze de Inglaterra e também membro da Ordem da Jarreteira, jurado não sobreviver à morte do outro. É a D. Pedro que devemos a forte e sábia definição de cavalaria inserta nas Ordenações Afonsinas: «Cavalaria foi chamada antigamente compnahia de nobre homens que foram ordenados para defender as terras e por isso lhe puseram o nome de Milícia, que quer dizer, companhia de homens duros e fortes e escolhidos para sofrer grandes medos e trabalhos e lazuras por prol do bem comum», acrescentando ainda a qualidade de gentileza, conforme a divisa que assumira Désir, aspiração, desejo de ser justiça, amor e claridade.»
A trágica morte sacrificial de fidelidade à sua honra, de D. Pedro.
«Já a manhã clara dava nos outeiros / Por onde o Ganges murmurando soa, / Quando da celsa gávea os marinheiros / enxergaram terra alta pela proa». «Já se viam chegados junto à Terra, / que desejada já de tantos fôra, / Que entre as correntes Índicas se encerra, / E o Ganges que no céu terreno mora». Chegam a Calecut, em 1498, os primeiros navegadores a realizarem a viagem por mares nunca dantes navegados da Europa até à Índia, em dez meses, comandados pelo corajoso jovem de 28 anos Vasco da Gama, ficando assim aberta a possibilidade de melhor comunicação entre o Oriente e o Ocidente, a Índia e Portugal. Os valores mais elevados das várias nações que se encontrarão serão transmitidos dificilmente, numa época ainda de guerra santa, ignorância, intolerância e ganância. Alguns seres fraternos, outros santos, justos ou heróicos libertar-se-ão da lei da morte, abrindo até pontes para a humanidade se poder reconhecer como fraternidade, mas serão cálices isolados, insuficientes.
Vasco da Gama, numa invulgar e imaginada pintura do Museu Real de Greenwich.
Cristóvão Colombo, o heróico e visionário descobridor do Novo Mundo, liberta-se do corpo em 1506 neste dia 20 de Maio, véspera da Ascensão, em Valladolid, Castela. Falhara a descoberta do ouro, mas a sua capacidade de orientação no mar pelos sinais do céu era legendária. Menos conhecidos são os seus estudos das visões e profecias, reunidos num manuscrito com o título Profecias que juntou o Almirante D. Cristóvão Colombo, da recuperação da santa cidade de Jerusalém e o descobrimento das Índias, dirigidas aos reis católicos. Nelas diz: «Alguns disseram que as visões são de três classes: uma, segundo os olhos do corpo; outra conforme o espírito. A terceira é aquela que não se percebe nem pelos sentidos corporais, nem por aquela parte da alma, mas sim pela intuição da mente, com a qual se intuem as verdades». «Os géneros e profecias são sete. O primeiro é o êxtase, o segundo é a visão, o terceiro é um sonho, o quarto à maneira de uma nuvem, o quinto a voz do céu, o sexto a parábola e o sétimo género é a plenitude do Espírito Santo, como acontece na maioria dos profetas». Mais interessante ainda é ver o Quinto Império a surgir a partir de Espanha: «Certamente que sabemos que Joaquim, o abade calabrês, previu que de Espanha há-de trazer sua origem o que há-de restaurar a fortaleza de Sião». As suas últimas palavras foram: «In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum», "nas tuas mãos Senhor encomendo (ou entrego) o meu espírito".
Nasce nese dia em 1842 Guilherme Vasconcellos d'Abreu, formado em Matemática pela Universidade de Coimbra, condiscípulo e grande amigo de Antero de Quental e colaborador no seu In Memoriam. Aprofundou os estudos sânscritos em Paris e Munique entre 1875 e 1877, graças a uma portaria emitida pelo Duque de Avila e Bolama, sendo depois convidado pelo mesmo estadista a redigir uma gramática de sãoscrito e uma crestomatia de textos e hinos, donde veio a sair num trabalho Princípios elementares da grammatica da lingua sãoskrita, saída a lume em 1897 na Imprensa Nacional. Veio a ser o primeiro professor da cadeira de sânscrito criada então na Universidade de Lisboa. Um dos nossos descobridores da milenária cultura indiana, deixou vários livros de traduções e investigações, dignos de reimpressão e continuação. No In Memoriam de Antero dirá que «Antero lia muito acerca do Budismo; e para distracção de meditações e cogitar em problemas religiosos e filosóficos, lia o Panchatantra, os Cinco livros de Contos, apólogos, e fábulas mais ou menos derivados de contos búdicos». Dirá ainda que em certos diálogos: «ele pouco falava e queria ouvir-me acerca do panteísmo hindu, acerca do pessimismo, de nirvana». Santificantes conversas ou leituras. Quantas vezes Antero se terá deliciado com a audição viva do sânscrito, que significa a língua perfeita, entoada pelo seu querido amigo Guilherme? Transcrevi o seu contributo no In Memoriam para https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/06/antero-e-oliveira-martins.html
José Júlio da Costa, notável professor e funcionário público goês, abandona o plano terrestre neste dia, em 1956. Nascera em 1870 e em 1911, já com a bandeira da República aos ventos de Goa, publicara em Ponda, Goa, na tipografia Sry Atmarama, devido ao seu grande amor pelo teatro e pela cultura indiana, a primeira tradução portuguesa da famosa peça de Kalidassa, Shakuntalá, de quem Goethe afirmara: «Quereis ver o céu e a terra reunidos em única palavra? Lede o Shakuntalá». No prefácio regozija-se com a crescente apreciação pelos sábios ocidentais da grandeza cultural da Índia e, embora admitindo «com Barles, do berço da humanidade ter sido país de Iran, a actual Pérsia», atribui também uma origem remotíssima à história da Índia. Reconhecendo que pela sua maior força e astúcia a Inglaterra conseguiu triunfar das outras nações europeias quanto ao comércio e conquista da Índia, verbera os maometanos e os cristãos por não terem respeitado a religiosidade indiana, o que a Inglaterra não fez tanto, apesar de «na sua insaciável ambição ter derramado muito sangue hindu», acrescentando, e «sobretudo não entorpeceu, como Portugal, com o terrível tribunal da Inquisição, o progresso do império fundado por aquele grande herói [Afonso de Albuquerque]», fundando antes pelo contrário em 1784 em Calcutá a Sociedade de Estudos Asiáticos, onde se destacaram orientalistas como «William Jones, oráculo dos conhecimentos orientais, Charles Wilkins, Collebrook e outros». Deles, traduz dos Vedas um dos seus mais belos hinos o CXXIX do Livro X, «No princípio nada existia; não havia nem a abóbada celeste nem céu. Nada nos cobria nem nos abrigava. Haveria o insondável abismo das águas? Não havia morte e por isso não havia nada imortal! Não havia diferença entre o dia e a noite. Só um ser vivia por si só e antes deles nada existia. Tudo era escuro. Quem poderá dizer donde surgiu essa enorme criação de seres, se os próprios deuses vieram depois? Só ele que os criou! Se a sua vontade cooperou ou não nesse milagre só o saberá o Altíssimo que habita o mais alto dos céus, ou talvez, nem ele». Luís Filipe Tomás, um dos nossos últimos sanscritólogos, deu-nos também a sua versão.
21-V. O degredado e cristão-novo João Nunes é o primeiro português da frota de Vasco da Gama a desembarcar na Índia neste dia em 1498. Encontrando dois mouros de Tunes que falavam castelhano perguntaram-lhe: «Ao diabo que te dou, quem te trouxe cá? — Vimos buscar cristãos e especiarias. Porque não manda cá el-rei de Castela, e el-rei de França e a senhoria de Veneza? — El-rei de Portugal não queria consentir que eles cá mandassem». Assim relata Álvaro Velho. Não foram, porém muito bem conduzidas estas duas demandas, devido também às naturais reacções contrárias dos muçulmanos e indianos, pelo que não será tanto a Vénus Urânia ou Celestial a unir, como o fero Marte a talhar.
A fusta de Diogo Botelho Pereira chega a Lisboa em 1536, depois duma épica viagem de nove meses num barco de 16 pés de comprido e 6 de largo (em que teve de lutar com parte da tripulação que ao princípio não sabia para onde navegava), com a intenção ao dar a notícia tão agradável ao rei que em Diu já havia fortaleza. Tentava assim cair nas boas graças do rei e ser provido numa capitania que há muito desejava. A fusta segue até Almeirim para D. João III a admirar, e foi depois queimada para que não se soubesse que em tão frágil embarcação era possível fazer a navegação desde a Índia. Nascido na Índia, bom piloto, homem ousado mas ambicioso demais, esteve preso e por duas vezes partiu para a Índia como degredado, mas rapidamente alcandorava-se a posições de comando marítimo que contudo não lhe chegavam, desejando antes a vida estável e talvez faustosa duma capitania. Só no fim da vida, doente, com mais de 40 anos de piloto e cerca duma dezena de idas e voltas, é que lhe foi concedida a capitania de Cananor. Ferreira Martins e Aquilino Ribeiro, no seu tão valioso livro Os Portugueses das Sete Partidas. Viagens, aventureiros, troca-tintas. imortalizaram-no.
A trágica morte sacrificial de fidelidade à sua honra, de D. Pedro.
«Já a manhã clara dava nos outeiros / Por onde o Ganges murmurando soa, / Quando da celsa gávea os marinheiros / enxergaram terra alta pela proa». «Já se viam chegados junto à Terra, / que desejada já de tantos fôra, / Que entre as correntes Índicas se encerra, / E o Ganges que no céu terreno mora». Chegam a Calecut, em 1498, os primeiros navegadores a realizarem a viagem por mares nunca dantes navegados da Europa até à Índia, em dez meses, comandados pelo corajoso jovem de 28 anos Vasco da Gama, ficando assim aberta a possibilidade de melhor comunicação entre o Oriente e o Ocidente, a Índia e Portugal. Os valores mais elevados das várias nações que se encontrarão serão transmitidos dificilmente, numa época ainda de guerra santa, ignorância, intolerância e ganância. Alguns seres fraternos, outros santos, justos ou heróicos libertar-se-ão da lei da morte, abrindo até pontes para a humanidade se poder reconhecer como fraternidade, mas serão cálices isolados, insuficientes.
Vasco da Gama, numa invulgar e imaginada pintura do Museu Real de Greenwich.
Cristóvão Colombo, o heróico e visionário descobridor do Novo Mundo, liberta-se do corpo em 1506 neste dia 20 de Maio, véspera da Ascensão, em Valladolid, Castela. Falhara a descoberta do ouro, mas a sua capacidade de orientação no mar pelos sinais do céu era legendária. Menos conhecidos são os seus estudos das visões e profecias, reunidos num manuscrito com o título Profecias que juntou o Almirante D. Cristóvão Colombo, da recuperação da santa cidade de Jerusalém e o descobrimento das Índias, dirigidas aos reis católicos. Nelas diz: «Alguns disseram que as visões são de três classes: uma, segundo os olhos do corpo; outra conforme o espírito. A terceira é aquela que não se percebe nem pelos sentidos corporais, nem por aquela parte da alma, mas sim pela intuição da mente, com a qual se intuem as verdades». «Os géneros e profecias são sete. O primeiro é o êxtase, o segundo é a visão, o terceiro é um sonho, o quarto à maneira de uma nuvem, o quinto a voz do céu, o sexto a parábola e o sétimo género é a plenitude do Espírito Santo, como acontece na maioria dos profetas». Mais interessante ainda é ver o Quinto Império a surgir a partir de Espanha: «Certamente que sabemos que Joaquim, o abade calabrês, previu que de Espanha há-de trazer sua origem o que há-de restaurar a fortaleza de Sião». As suas últimas palavras foram: «In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum», "nas tuas mãos Senhor encomendo (ou entrego) o meu espírito".
Nasce nese dia em 1842 Guilherme Vasconcellos d'Abreu, formado em Matemática pela Universidade de Coimbra, condiscípulo e grande amigo de Antero de Quental e colaborador no seu In Memoriam. Aprofundou os estudos sânscritos em Paris e Munique entre 1875 e 1877, graças a uma portaria emitida pelo Duque de Avila e Bolama, sendo depois convidado pelo mesmo estadista a redigir uma gramática de sãoscrito e uma crestomatia de textos e hinos, donde veio a sair num trabalho Princípios elementares da grammatica da lingua sãoskrita, saída a lume em 1897 na Imprensa Nacional. Veio a ser o primeiro professor da cadeira de sânscrito criada então na Universidade de Lisboa. Um dos nossos descobridores da milenária cultura indiana, deixou vários livros de traduções e investigações, dignos de reimpressão e continuação. No In Memoriam de Antero dirá que «Antero lia muito acerca do Budismo; e para distracção de meditações e cogitar em problemas religiosos e filosóficos, lia o Panchatantra, os Cinco livros de Contos, apólogos, e fábulas mais ou menos derivados de contos búdicos». Dirá ainda que em certos diálogos: «ele pouco falava e queria ouvir-me acerca do panteísmo hindu, acerca do pessimismo, de nirvana». Santificantes conversas ou leituras. Quantas vezes Antero se terá deliciado com a audição viva do sânscrito, que significa a língua perfeita, entoada pelo seu querido amigo Guilherme? Transcrevi o seu contributo no In Memoriam para https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/06/antero-e-oliveira-martins.html
José Júlio da Costa, notável professor e funcionário público goês, abandona o plano terrestre neste dia, em 1956. Nascera em 1870 e em 1911, já com a bandeira da República aos ventos de Goa, publicara em Ponda, Goa, na tipografia Sry Atmarama, devido ao seu grande amor pelo teatro e pela cultura indiana, a primeira tradução portuguesa da famosa peça de Kalidassa, Shakuntalá, de quem Goethe afirmara: «Quereis ver o céu e a terra reunidos em única palavra? Lede o Shakuntalá». No prefácio regozija-se com a crescente apreciação pelos sábios ocidentais da grandeza cultural da Índia e, embora admitindo «com Barles, do berço da humanidade ter sido país de Iran, a actual Pérsia», atribui também uma origem remotíssima à história da Índia. Reconhecendo que pela sua maior força e astúcia a Inglaterra conseguiu triunfar das outras nações europeias quanto ao comércio e conquista da Índia, verbera os maometanos e os cristãos por não terem respeitado a religiosidade indiana, o que a Inglaterra não fez tanto, apesar de «na sua insaciável ambição ter derramado muito sangue hindu», acrescentando, e «sobretudo não entorpeceu, como Portugal, com o terrível tribunal da Inquisição, o progresso do império fundado por aquele grande herói [Afonso de Albuquerque]», fundando antes pelo contrário em 1784 em Calcutá a Sociedade de Estudos Asiáticos, onde se destacaram orientalistas como «William Jones, oráculo dos conhecimentos orientais, Charles Wilkins, Collebrook e outros». Deles, traduz dos Vedas um dos seus mais belos hinos o CXXIX do Livro X, «No princípio nada existia; não havia nem a abóbada celeste nem céu. Nada nos cobria nem nos abrigava. Haveria o insondável abismo das águas? Não havia morte e por isso não havia nada imortal! Não havia diferença entre o dia e a noite. Só um ser vivia por si só e antes deles nada existia. Tudo era escuro. Quem poderá dizer donde surgiu essa enorme criação de seres, se os próprios deuses vieram depois? Só ele que os criou! Se a sua vontade cooperou ou não nesse milagre só o saberá o Altíssimo que habita o mais alto dos céus, ou talvez, nem ele». Luís Filipe Tomás, um dos nossos últimos sanscritólogos, deu-nos também a sua versão.
21-V. O degredado e cristão-novo João Nunes é o primeiro português da frota de Vasco da Gama a desembarcar na Índia neste dia em 1498. Encontrando dois mouros de Tunes que falavam castelhano perguntaram-lhe: «Ao diabo que te dou, quem te trouxe cá? — Vimos buscar cristãos e especiarias. Porque não manda cá el-rei de Castela, e el-rei de França e a senhoria de Veneza? — El-rei de Portugal não queria consentir que eles cá mandassem». Assim relata Álvaro Velho. Não foram, porém muito bem conduzidas estas duas demandas, devido também às naturais reacções contrárias dos muçulmanos e indianos, pelo que não será tanto a Vénus Urânia ou Celestial a unir, como o fero Marte a talhar.
A fusta de Diogo Botelho Pereira chega a Lisboa em 1536, depois duma épica viagem de nove meses num barco de 16 pés de comprido e 6 de largo (em que teve de lutar com parte da tripulação que ao princípio não sabia para onde navegava), com a intenção ao dar a notícia tão agradável ao rei que em Diu já havia fortaleza. Tentava assim cair nas boas graças do rei e ser provido numa capitania que há muito desejava. A fusta segue até Almeirim para D. João III a admirar, e foi depois queimada para que não se soubesse que em tão frágil embarcação era possível fazer a navegação desde a Índia. Nascido na Índia, bom piloto, homem ousado mas ambicioso demais, esteve preso e por duas vezes partiu para a Índia como degredado, mas rapidamente alcandorava-se a posições de comando marítimo que contudo não lhe chegavam, desejando antes a vida estável e talvez faustosa duma capitania. Só no fim da vida, doente, com mais de 40 anos de piloto e cerca duma dezena de idas e voltas, é que lhe foi concedida a capitania de Cananor. Ferreira Martins e Aquilino Ribeiro, no seu tão valioso livro Os Portugueses das Sete Partidas. Viagens, aventureiros, troca-tintas. imortalizaram-no.
Neste dia 21 de Maio, em 1859, em Crix-sur-Meuse, França, nasce o Reverendo Padre missionário capuchinho Paul, entrando na Índia em 1885 onde vive até se libertar da terra em 12-V-1936, em Ajmer, onde era o vigário geral. Aprendeu rapidamente sânscrito, hindi, rajput e tanto foi um estudioso e amante (crítico também) da literatura e filosofia indiana como um missionário evangelizando e preparando os religiosos capuchinhos na compreensão das riquezes e defeitos do Hinduímo. Tendo traduzido para hindi os Evangelhos e a Florzinhas de S. Francisco de Assis, escreveu ainda sobre a vida de Jesus e da Igreja. Todavia a sua obra mais valiosa é L'Enigme Religieuse des Indes, publicado já postumamente pelo P. Jean de Dieus, no Mercure de France, em 1946, no qual põe à luz algumas contradições da Bhagavad Gita e da Advaita Vedanta, tais as da indiferença perante o bem e o mal, e algumas ilusões do yogi, que «mantendo-se longamente na zona das intuições não conceptualizadas, tem a ilusão de estar não só ordenado pelo Transcendente como ainda consubstancial ao Transcendente de modo permanente e indefectível». A condenação que faz à Advaita ou Não Dualidade é forte: «esta doutrina destrói mais do que eleva, pois aniquila o homem pretendendo divinizá-lo. O que ela chama Libertação, união ao Supremo, é esvaziado de toda a realidade, fazendo desparecer a individualidade.» Certamente que estendia tal aos Budistas. Valorizará as adaptações que o P. Roberto da Nobili fizera no séc. XVII, acreditando que poderiam surgir novas liturgias de aculturização, algo que tanto o P. Bede Griffiths, sacerdotes indianos e os últimos concílios foram adoptando. Não conseguiu foi sair da condenação do politeísmo dos hindus, que são capazes de adorarem Deus em múltiplas formas ou ícones, mas reconheceu nos devotos, nos que seguiam a via da Bhakti, a devoção a Deus pessoal (em contraste com os Advaitas) grande sinceridade e realização religiosa.
22-V. Raja Ram Mohan Roy nasce em Radhanagar, Bengala, em 1772. Mestre de várias línguas, viajante, educado na religião Vaishnava assimila os melhores ensinamentos e valores do Ocidente e do Oriente, para fundar em 1828 um movimento religioso unitário (um só Deus, Brahma), o Brahmo Samaj, e ser um dos modernizadores da Índia e dos seus costumes, em especial lutando pela abolição da sati, da morte por imolação no fogo das viúvas, e estimulando a aprendizagem do inglês, mantendo todavia a ligação às raízes eternas da Índia, o Sanatha Dharma, de cujas Escrituras, comparando as contradições, propôs as melhores traduções e soluções, apelando ao seu estudo e vivência, acrescentando ainda o valor dos Evangelhos ou da oração concisa perfeita que é o Pai-Nosso. Será Devenadrath Tagore quem continuará o movimento do Brahmo Samaj e o místico Ramakrishna deixar-nos-á interessantes visões de diálogos com eles. O Padre Castilho de Noronha na sua obra O Budismo em confronto com o Cristianismo, Nova Goa, 1926, citará a apreciação do orientalista Monier William acerca de Ram Moham Roy:«é o mais inteligente e o mais apaixonado investigador da Ciência comparada das Religiões que o mundo até hoje produziu». As últimas décadas tem sido muito pródigas em estudos de comparativismo religioso e espiritual.
Francisco da Veiga Cabral toma posse como governador na Índia em 1794. Em 1798 os ingleses chegarão a Goa e por uma série de manobras de intimação e aliciamento vão tentando assenhorear-se do poder, chegando a oferecer-lhe dinheiro para abdicar, o que este recusa, só então percebendo a teia em que se deixara envolver.
Propércia Correia Afonso de Figueiredo nasce neste dia em 1882 em Salsete. Escritora, óptima conferencista, autora de estudos valiosos sobre o simbolismo, tanto mais que compara as diferentes tradições, dirá: «Será verdade que o Oriente e o Ocidente jamais se darão as mãos? Mas para a salvação da humanidade eles se têm de dar as mãos, para que a humanidade não pereça nem na apatia a que conduz o espiritualismo oriental, nem na luta sem tréguas que é o resultado do materialismo ocidental». Estas suas palavras continuam bem válidas no séc. XXI em que o inepto imperialismo anglo-americano continua a semear tragédias no Médio Oriente e no Oriente...
23-V. A fúria dos elementos destroça quatro naus da armada de Pedro Álvares Cabral, as comandadas por Bartolomeu Dias, Simão de Pina, Aires Gomes da Silva e Vasco de Ataíde, quando atravessavam o Cabo da Boa Esperança, em 1500, acabando engolidos no Oceano os corpos de muitos valiosos navegadores e guerreiros. As naus comandadas pelos dois cavaleiros da Ordem de Cristo, Simão de Miranda e Pedro Álvares Cabral, chocam na tormenta mas «milagrosamente se salvarão». Diminuía a capacidade da armada portuguesa para impressionar, ou impor-se, ao Samorim, o rei do mar (samudra), de Calecute.
O exército vermelho chinês, depois de ter invadido o Tibete e de derrotar o seu artesanal exército em Outubro de 1950, impõe neste dia em Pequim, perante o silêncio da comunidade internacional, o Tratado dos Dezassete Pontos, em 1951, pelo qual se torna na prática o dono da Terra dos Deuses. O historiador e orientalista Francisco Esteves Pereira escrevia em 1921: «Dos oito reinos ou províncias, em que antigamente se dividia o país do Tibete, no princípio do século XIX os Chineses anexaram ao seu império as províncias de Kansu e de Sse-tchuen; o rei de Cachemira anexou a província de Ladak, e o Governo da Índia inglesa estendeu o seu domínio sobre a província do Sikkim; de modo que actualmente o Tibete somente compreende as províncias de U, de Tsang, de Nagari e de Khams». Como se vê, a espoliação já vinha de longe. A resistência maior virá nos anos de 1958, 1959 com os guerreiros de Kham e Amdo, da parte oriental do Tibete, mas em vão. As manifestações em Lhasa foram reprimidas duramente ao longo dos anos e hoje a resistência é já escassa. Há que manter a fé e a esperança que um dia a China se restitua aos seus valores tradicionais, e a intensa emigração chinesa para o Tibete augura uma provável simbiose futura.
24-V. O astrónomo polaco Nicolau Copérnico, que nascera em 1473, neste dia em 1543 recebe nas suas mãos o primeiro exemplar da sua obra De Revolutionibus Orbium Coelestium, na qual se atreveu a mudar o ponto central fixo do mundo, destronando Aristóteles e Plotomeu, e parte para o Sol (que tanto estudara e amara) da Realidade, no mundo espiritual.
Helena Roerich, autora de algumas obras sobre a sabedoria oriental, mulher do pintor e mestre Nicholai Roerich, transmissora do ensinamento do Agni Yoga à humanidade, e que viveu muitos anos em Kulu Valey e em Kalimpong, junto aos Himalaias, escreve numa carta neste dia em 1936: «Tendes razão ao dizer que Jesus Cristo foi uma manifestação excepcional na história, mas, pode-se dizer igualmente que não menos excepcionais eram os Kumaras, ou Homens-Deuses. E apenas uma ignorância preconceituosa tentará medir as estaturas respectivas deste elevados Espíritos. Uma fórmula excelente é dada no Ensinamento: «O povo perguntará, Quem é maior, Cristo ou o Buddha? Resposta — É impossível medir os mundos distantes. Só podemos ser arrebatados pela sua irradiação. Vós escreveis acerca do lamentável de todas as discussões e polémicas sobre conceitos elevados. Tal é perfeitamente verdadeiro, mas especialmente entristecedor são os polemistas ignorantes que não trazem senão irritação. É impossível explicar aos outros o que não é claro para nós, e nada resultará a não ser confusão malfazeja. A troca de pensamentos entre pessoas educadas é muito criativa, porque duma troca de ideias e do contraste de opiniões, centelhas da verdade são atingidas. Precisamente, é necessário uma troca de pensamentos, não argumentos ignorantes».
25-V. A pedido de D. João I, o infante D. Henrique é investido como regedor e administrador da Ordem de Cristo pelo papa Martinho V em 1420, substituindo o mestre D. Lopo Dias de Sousa há pouco falecido e que se notabilizara nos seus 46 anos de mestrado na Ordem, nas lutas contra Castela, como mordomo-mor de D. Filipa de Lencastre e como combatente de Ceuta. Os dinheiros e rendas da Ordem de Cristo passam a suportar as despesas dos Descobrimentos e a frol da Cavalaria alarga os seus horizontes de serviço: entre os conselheiros e capitães das naus e estratégias dos Descobrimentos muitos serão cavaleiros da Ordem de Cristo.
Pormenor da Bíblia dos Jerónimos, com Anjos tenentes das Armas de Portugal.
D. Manuel concede em 1511 ao florentino Jerónimo Sernige o título e privilégios de cidadão de Lisboa pelos seus serviços mercantis e capitalistas na empresa dos Descobrimentos, e eleva-lo-á a fidalgo em 1515. É a uma sua oferta que devemos a belíssima Bíblia dos Jerónimos, sinal da cooperação frutuosa entre Florença e Portugal. Por vezes, as prioridades guerreiras traziam prejuízos aos armadores, que viam requisitados os seus barcos, pelo que lentamente se foi operando uma cooperação mais monetária, concentrando-se os capitais emprestados a Portugal em Antuérpia, pagos directamente pelas especiarias trazidas, mas já sem risco para o capital.
O cronista João de Barros escreve da sua quinta da Ribeira de Litém, perto de Pombal, neste dia em 1531, a Duarte de Resende, que viera de feitor em Ternate e que escreveu acerca de Fernão de Magalhães e traduziu alguns dos textos mais profundos de Cícero, uma carta que virá a fazer parte da dedicatória do livro, que chegou a entrar no Índice dos livros proibidos, Ropica Pneuma: «Direis: para que me mandaste fruta de tal casta? A isto respondo: Em todas as cousas que se pedem, se há-de considerar quem pede, quem dá, a coisa pedida, e se é tempo dela e convém a ambas as partes. Esta regra quis seguir no que me pediste: considerei virdes poucos dias dias há do Maluco, onde estivestes por feitor del-Rei, nosso senhor, e eu sair de tesoureiro, e que nenhuma linguagem podia convir mais a vós e a mim que a que tratasse de mercadoria, feita em colóquios, por ser tempo deles. Não lhe pareça que o digo por os de Erasmo, que estes já são velhos, mas por alguns novos portugueses que vós e eu temos ouvido, entre homens que neste trato de mercadoria falam tão solto como se estivessem na Alemanha nas xiras (festas) de Lutero. Assim que esta foi a causa de vos enviar tal fruta, porque leva dentro em si a tenção com que Paulo desejava ser anátema de Cristo, que era por trazer à verdade os seus parentes e naturais. Eu não direi anátema, mas, como diz o provérbio «fiz de mim mangas ao demo», com quantas coisas por sua parte movi». O grande conhecedor de Erasmo, Marcel Bataillon, considerou esta obra (já na época muito apreciada por Luís Vives), o mais original texto de prosa filosófica impresso em Portugal no século XVI. E pelas referências aduzidas nesta carta vemos bem o espírito de liberdade e de insubmissão mental que reinava no escol que liderou os Descobrimentos. A instauração da Inquisição e da Censura dos livros e pensamento serão fatais a Portugal, tal como Antero de Quental dirá em 27 de Maio de 1871 na sua polémica e ousada conferência, logo impressa, das Causas da Decadência dos povos Pensinsulares nos últimos três séculos. A obra porém mais famosa e importante de João de Barros são as Décadas da Ásia, onde narra a gesta heróica portuguesa no Oriente num estilo tão clássico que foi apelidado de Tito Lívio português.
O imperador da Etiópia afirma em relação ao jesuíta espanhol, ao serviço da fé cristã com os portugueses Pêro Pais, que com 20 anos de missionarização em todo o terreno da Etiópia, morre de cansaço e desgaste neste dia em 1662: «Nele tenho tudo: mestre para a doutrina, conselheiro para as dúvidas, cativo e escravo para o serviço». «Deixou uma legenda do padre estrangeiro que conhecia os nossos livros melhor que os nossos sábios», dizem as crónicas etíopes e o imperador Susénios elogiou também «a sua pia conversação e maduro conselho». A sua História da Etiópia continua a ser relida e a inspirar almas.
Imagem de S. Filipe, na igreja de Santa Maria Vallicella, em Roma
26-V. Dia de S. Filipe de Néri (morre neste dia em 1595), um coração ou chakra cardíaco a arder de Amor por Deus e pelos seres, fundador da Congregação do Oratório. Reformulada pelo P. Bartolomeu de Quental, os oratorianos na Índia serão dos mais abertos ao sacerdócio local, donde sairão os abnegados evangelizadores do Ceilão, especialmente S. José Vaz.
Carta do vice-rei do Estado Português na Índia João Nunes da Cunha, matemático, escritor, membro da Academia dos Generosos, escrita para o rei neste dia 26 de Maio em 1668: «Os gentios não têm fazendas e os canarins apenas cultivam o que comem; das pedras não se tira mel, nem de seixo duríssimo o azeite, estes milagres são para Deus. Vossa Majestade deve mandar à Índia quem lhe facilite impossíveis; que eu não sei mais que chorar as misérias, que vejo, e conhecer dificuldades, em tudo o que obro; se isto nasce de mim, venha outro, se isto nasce dos povos, tenha Vossa Majestade piedade deles, porém está tal a Índia que se há-de ter compaixão das pedras, porque não há homens de que ter lástima, e deste deserto há agricultores, que esperam tirar fruto». O infatigável e aventuroso viajante Niccolao Manucci, que esteve quase sessenta anos (1653-1708) no Oriente, autor da Storia do Mogor, repleta de aventuras portuguesas, conta-nos que Nunes da Cunha preparara uma forte armada com destino secreto (conquistar Mascate), mas que os holandeses receando ser contra eles subornaram alguns dos oficiais dos navios, que acabaram por sabotar a reunião final dos barcos diante de Mascate, pelos mais diversos pretextos e estratagemas.
27-V. O Padre jesuíta Diogo de Monteiro, regressa ao mundo espiritual em 1634, no colégio de Coimbra. Escreveu um volumoso e valioso tratado sobre a Arte de Orar no qual certas práticas respiratórias e de concentração mostram influência oriental através do hesicasmo dos monges ortodoxos gregos. Define aí o êxtase «como elevação e excesso sobrenatural, com que a alma se põem fora de seu estado extraordinário e de tal maneira se aplica a uma operação, que por força dela, desampara as outras... E pode ser do entendimento (acto veemente aplicado com permanência ao objecto e desacordo de tudo o mais que não é objecto), da vontade ou afecto, e dos sentidos exteriores». As analogias com certo tipo de samadhi da mística indiana são claras, embora a consciência total devesse permanecer sempre.
Muita luz e amor para Antero de Quental
A 2ª das Conferências do Casino é proferida por Antero de Quental em Lisboa, no Casino Lisbonense ao Chiado, neste dia em 1871 sobre o título Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos, onde depois de reconhecer a delicadeza do assunto afirma não quer impor opiniões mas expô-las, nem pedir adesões mas discussão, apelando não só para a fraternidade de ideias que não é unânime mas sim para «a fraternidade moral, fundada na mutua tolerância e no mútuo respeito, que une todos os espíritos numa mesma comunhão - o amor e a procura desinteressada da verdade». São segundo ele três as principais causas de decadência: a transformação do Catolicismo, pelo Concílio de Trento, com os seus dogmas e a Inquisição; «o estabelecimento do Absolutismo, pela ruína das liberdades locais», e de tristes consequências para o desenvolvimento económico da classe média da nação, e por fim «o desenvolvimento das Conquistas longínquas», com os seus efeitos negativos sobre o trabalho e a indústria e com uma colonização muito limitada e imperfeita. Criticará ainda com originalidade e sentido pedagógico, como muito imperfeita e perniciosa a visão histórica que Jacinto Freire fez do heroísmo vice-rei da Índia D. João de Castro, quando nessa biografia «uma só coisa há ali a aproveitar como exemplo: é a nobreza da alma daquele homem magnânimo; mas essa nobreza de alma deve ser aplicada pelos homens modernos a outros cometimentos, e dum modo muito diverso. Foi aquele género de heroísmo, tão apregoado por Jacinto Freire, que nos arruinou!». O ciclo de discursos será proibido, depois das conferências de Augusto Soromenho, Eça de Queiroz e Adolfo Coelho, quando a seguinte, que seria a 27 de Junho, foi anunciada no Jornal da Noite, na véspera: Prelecção do Sr. Saraga. Assumpto: Os críticos de Jesus. A portaria do Marquês de Avila e Bolama, desse mesmo dia 26-VI, justifica a proibição porque as prelecções «expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do estado». Os cinco conferencistas protestarão em nota de imprensa no dia 27-VI e uns dias depois Antero escreve a sua famosa Carta ao Ex.mo Sr. António José d'Avila, Marquez d'Ávila, Presidente do Conselho de Ministros. Anote-se ainda que no seu mais seminal discurso histórico, político e pedagógico Antero contrapõe ao seguidismo do passado familiar e religioso, «a ardente afirmação da alma nova, a consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano, (isto é, a fusão do divino e do humano), a filosofia, a ciência e a crença no progresso, na renovação incessante da humanidade pelos recursos inesgotáveis do seu pensamento, sempre inspirado». No jornal Revolução de Setembro, (certamente nem dos sectores mais conservadores da Religião e do Estado), três dias depois do discurso, a 30-V, saía um alto (ou mesmo exagerado) elogio, mas de um lúcido observador: «esta conferência é um dos acontecimentos mais notáveis que se têm visto em Portugal. Nunca entre nós o poder da crítica se elevou tão alto, nunca se fez uma exposição com mais admirável lucidez, nunca se reuniu tanta eloquência na forma a uma profundidade de vistas tal. O discursos do sr. Anthero do Quental é uma obra perfeita, onde as partes se unem por um laço indissolúvel, se completam umas às outras de uma maneira brilhante. (...). O sr. Anthero do Quental foi frequentes vezes interrompido por bravos e aplausos unânimes, que era a mais bela e a mais sincera homenagem que se podia fazer ao seu talento, porque mostrava que as ideias expostas pelo orador entravam no espírito luminoso, claras, com toda a força e inflexibilidade da lógica (...)»
22-V. Raja Ram Mohan Roy nasce em Radhanagar, Bengala, em 1772. Mestre de várias línguas, viajante, educado na religião Vaishnava assimila os melhores ensinamentos e valores do Ocidente e do Oriente, para fundar em 1828 um movimento religioso unitário (um só Deus, Brahma), o Brahmo Samaj, e ser um dos modernizadores da Índia e dos seus costumes, em especial lutando pela abolição da sati, da morte por imolação no fogo das viúvas, e estimulando a aprendizagem do inglês, mantendo todavia a ligação às raízes eternas da Índia, o Sanatha Dharma, de cujas Escrituras, comparando as contradições, propôs as melhores traduções e soluções, apelando ao seu estudo e vivência, acrescentando ainda o valor dos Evangelhos ou da oração concisa perfeita que é o Pai-Nosso. Será Devenadrath Tagore quem continuará o movimento do Brahmo Samaj e o místico Ramakrishna deixar-nos-á interessantes visões de diálogos com eles. O Padre Castilho de Noronha na sua obra O Budismo em confronto com o Cristianismo, Nova Goa, 1926, citará a apreciação do orientalista Monier William acerca de Ram Moham Roy:«é o mais inteligente e o mais apaixonado investigador da Ciência comparada das Religiões que o mundo até hoje produziu». As últimas décadas tem sido muito pródigas em estudos de comparativismo religioso e espiritual.
Francisco da Veiga Cabral toma posse como governador na Índia em 1794. Em 1798 os ingleses chegarão a Goa e por uma série de manobras de intimação e aliciamento vão tentando assenhorear-se do poder, chegando a oferecer-lhe dinheiro para abdicar, o que este recusa, só então percebendo a teia em que se deixara envolver.
Propércia Correia Afonso de Figueiredo nasce neste dia em 1882 em Salsete. Escritora, óptima conferencista, autora de estudos valiosos sobre o simbolismo, tanto mais que compara as diferentes tradições, dirá: «Será verdade que o Oriente e o Ocidente jamais se darão as mãos? Mas para a salvação da humanidade eles se têm de dar as mãos, para que a humanidade não pereça nem na apatia a que conduz o espiritualismo oriental, nem na luta sem tréguas que é o resultado do materialismo ocidental». Estas suas palavras continuam bem válidas no séc. XXI em que o inepto imperialismo anglo-americano continua a semear tragédias no Médio Oriente e no Oriente...
23-V. A fúria dos elementos destroça quatro naus da armada de Pedro Álvares Cabral, as comandadas por Bartolomeu Dias, Simão de Pina, Aires Gomes da Silva e Vasco de Ataíde, quando atravessavam o Cabo da Boa Esperança, em 1500, acabando engolidos no Oceano os corpos de muitos valiosos navegadores e guerreiros. As naus comandadas pelos dois cavaleiros da Ordem de Cristo, Simão de Miranda e Pedro Álvares Cabral, chocam na tormenta mas «milagrosamente se salvarão». Diminuía a capacidade da armada portuguesa para impressionar, ou impor-se, ao Samorim, o rei do mar (samudra), de Calecute.
O exército vermelho chinês, depois de ter invadido o Tibete e de derrotar o seu artesanal exército em Outubro de 1950, impõe neste dia em Pequim, perante o silêncio da comunidade internacional, o Tratado dos Dezassete Pontos, em 1951, pelo qual se torna na prática o dono da Terra dos Deuses. O historiador e orientalista Francisco Esteves Pereira escrevia em 1921: «Dos oito reinos ou províncias, em que antigamente se dividia o país do Tibete, no princípio do século XIX os Chineses anexaram ao seu império as províncias de Kansu e de Sse-tchuen; o rei de Cachemira anexou a província de Ladak, e o Governo da Índia inglesa estendeu o seu domínio sobre a província do Sikkim; de modo que actualmente o Tibete somente compreende as províncias de U, de Tsang, de Nagari e de Khams». Como se vê, a espoliação já vinha de longe. A resistência maior virá nos anos de 1958, 1959 com os guerreiros de Kham e Amdo, da parte oriental do Tibete, mas em vão. As manifestações em Lhasa foram reprimidas duramente ao longo dos anos e hoje a resistência é já escassa. Há que manter a fé e a esperança que um dia a China se restitua aos seus valores tradicionais, e a intensa emigração chinesa para o Tibete augura uma provável simbiose futura.
24-V. O astrónomo polaco Nicolau Copérnico, que nascera em 1473, neste dia em 1543 recebe nas suas mãos o primeiro exemplar da sua obra De Revolutionibus Orbium Coelestium, na qual se atreveu a mudar o ponto central fixo do mundo, destronando Aristóteles e Plotomeu, e parte para o Sol (que tanto estudara e amara) da Realidade, no mundo espiritual.
Helena Roerich, autora de algumas obras sobre a sabedoria oriental, mulher do pintor e mestre Nicholai Roerich, transmissora do ensinamento do Agni Yoga à humanidade, e que viveu muitos anos em Kulu Valey e em Kalimpong, junto aos Himalaias, escreve numa carta neste dia em 1936: «Tendes razão ao dizer que Jesus Cristo foi uma manifestação excepcional na história, mas, pode-se dizer igualmente que não menos excepcionais eram os Kumaras, ou Homens-Deuses. E apenas uma ignorância preconceituosa tentará medir as estaturas respectivas deste elevados Espíritos. Uma fórmula excelente é dada no Ensinamento: «O povo perguntará, Quem é maior, Cristo ou o Buddha? Resposta — É impossível medir os mundos distantes. Só podemos ser arrebatados pela sua irradiação. Vós escreveis acerca do lamentável de todas as discussões e polémicas sobre conceitos elevados. Tal é perfeitamente verdadeiro, mas especialmente entristecedor são os polemistas ignorantes que não trazem senão irritação. É impossível explicar aos outros o que não é claro para nós, e nada resultará a não ser confusão malfazeja. A troca de pensamentos entre pessoas educadas é muito criativa, porque duma troca de ideias e do contraste de opiniões, centelhas da verdade são atingidas. Precisamente, é necessário uma troca de pensamentos, não argumentos ignorantes».
25-V. A pedido de D. João I, o infante D. Henrique é investido como regedor e administrador da Ordem de Cristo pelo papa Martinho V em 1420, substituindo o mestre D. Lopo Dias de Sousa há pouco falecido e que se notabilizara nos seus 46 anos de mestrado na Ordem, nas lutas contra Castela, como mordomo-mor de D. Filipa de Lencastre e como combatente de Ceuta. Os dinheiros e rendas da Ordem de Cristo passam a suportar as despesas dos Descobrimentos e a frol da Cavalaria alarga os seus horizontes de serviço: entre os conselheiros e capitães das naus e estratégias dos Descobrimentos muitos serão cavaleiros da Ordem de Cristo.
Pormenor da Bíblia dos Jerónimos, com Anjos tenentes das Armas de Portugal.
D. Manuel concede em 1511 ao florentino Jerónimo Sernige o título e privilégios de cidadão de Lisboa pelos seus serviços mercantis e capitalistas na empresa dos Descobrimentos, e eleva-lo-á a fidalgo em 1515. É a uma sua oferta que devemos a belíssima Bíblia dos Jerónimos, sinal da cooperação frutuosa entre Florença e Portugal. Por vezes, as prioridades guerreiras traziam prejuízos aos armadores, que viam requisitados os seus barcos, pelo que lentamente se foi operando uma cooperação mais monetária, concentrando-se os capitais emprestados a Portugal em Antuérpia, pagos directamente pelas especiarias trazidas, mas já sem risco para o capital.
O cronista João de Barros escreve da sua quinta da Ribeira de Litém, perto de Pombal, neste dia em 1531, a Duarte de Resende, que viera de feitor em Ternate e que escreveu acerca de Fernão de Magalhães e traduziu alguns dos textos mais profundos de Cícero, uma carta que virá a fazer parte da dedicatória do livro, que chegou a entrar no Índice dos livros proibidos, Ropica Pneuma: «Direis: para que me mandaste fruta de tal casta? A isto respondo: Em todas as cousas que se pedem, se há-de considerar quem pede, quem dá, a coisa pedida, e se é tempo dela e convém a ambas as partes. Esta regra quis seguir no que me pediste: considerei virdes poucos dias dias há do Maluco, onde estivestes por feitor del-Rei, nosso senhor, e eu sair de tesoureiro, e que nenhuma linguagem podia convir mais a vós e a mim que a que tratasse de mercadoria, feita em colóquios, por ser tempo deles. Não lhe pareça que o digo por os de Erasmo, que estes já são velhos, mas por alguns novos portugueses que vós e eu temos ouvido, entre homens que neste trato de mercadoria falam tão solto como se estivessem na Alemanha nas xiras (festas) de Lutero. Assim que esta foi a causa de vos enviar tal fruta, porque leva dentro em si a tenção com que Paulo desejava ser anátema de Cristo, que era por trazer à verdade os seus parentes e naturais. Eu não direi anátema, mas, como diz o provérbio «fiz de mim mangas ao demo», com quantas coisas por sua parte movi». O grande conhecedor de Erasmo, Marcel Bataillon, considerou esta obra (já na época muito apreciada por Luís Vives), o mais original texto de prosa filosófica impresso em Portugal no século XVI. E pelas referências aduzidas nesta carta vemos bem o espírito de liberdade e de insubmissão mental que reinava no escol que liderou os Descobrimentos. A instauração da Inquisição e da Censura dos livros e pensamento serão fatais a Portugal, tal como Antero de Quental dirá em 27 de Maio de 1871 na sua polémica e ousada conferência, logo impressa, das Causas da Decadência dos povos Pensinsulares nos últimos três séculos. A obra porém mais famosa e importante de João de Barros são as Décadas da Ásia, onde narra a gesta heróica portuguesa no Oriente num estilo tão clássico que foi apelidado de Tito Lívio português.
O imperador da Etiópia afirma em relação ao jesuíta espanhol, ao serviço da fé cristã com os portugueses Pêro Pais, que com 20 anos de missionarização em todo o terreno da Etiópia, morre de cansaço e desgaste neste dia em 1662: «Nele tenho tudo: mestre para a doutrina, conselheiro para as dúvidas, cativo e escravo para o serviço». «Deixou uma legenda do padre estrangeiro que conhecia os nossos livros melhor que os nossos sábios», dizem as crónicas etíopes e o imperador Susénios elogiou também «a sua pia conversação e maduro conselho». A sua História da Etiópia continua a ser relida e a inspirar almas.
Imagem de S. Filipe, na igreja de Santa Maria Vallicella, em Roma
26-V. Dia de S. Filipe de Néri (morre neste dia em 1595), um coração ou chakra cardíaco a arder de Amor por Deus e pelos seres, fundador da Congregação do Oratório. Reformulada pelo P. Bartolomeu de Quental, os oratorianos na Índia serão dos mais abertos ao sacerdócio local, donde sairão os abnegados evangelizadores do Ceilão, especialmente S. José Vaz.
Carta do vice-rei do Estado Português na Índia João Nunes da Cunha, matemático, escritor, membro da Academia dos Generosos, escrita para o rei neste dia 26 de Maio em 1668: «Os gentios não têm fazendas e os canarins apenas cultivam o que comem; das pedras não se tira mel, nem de seixo duríssimo o azeite, estes milagres são para Deus. Vossa Majestade deve mandar à Índia quem lhe facilite impossíveis; que eu não sei mais que chorar as misérias, que vejo, e conhecer dificuldades, em tudo o que obro; se isto nasce de mim, venha outro, se isto nasce dos povos, tenha Vossa Majestade piedade deles, porém está tal a Índia que se há-de ter compaixão das pedras, porque não há homens de que ter lástima, e deste deserto há agricultores, que esperam tirar fruto». O infatigável e aventuroso viajante Niccolao Manucci, que esteve quase sessenta anos (1653-1708) no Oriente, autor da Storia do Mogor, repleta de aventuras portuguesas, conta-nos que Nunes da Cunha preparara uma forte armada com destino secreto (conquistar Mascate), mas que os holandeses receando ser contra eles subornaram alguns dos oficiais dos navios, que acabaram por sabotar a reunião final dos barcos diante de Mascate, pelos mais diversos pretextos e estratagemas.
27-V. O Padre jesuíta Diogo de Monteiro, regressa ao mundo espiritual em 1634, no colégio de Coimbra. Escreveu um volumoso e valioso tratado sobre a Arte de Orar no qual certas práticas respiratórias e de concentração mostram influência oriental através do hesicasmo dos monges ortodoxos gregos. Define aí o êxtase «como elevação e excesso sobrenatural, com que a alma se põem fora de seu estado extraordinário e de tal maneira se aplica a uma operação, que por força dela, desampara as outras... E pode ser do entendimento (acto veemente aplicado com permanência ao objecto e desacordo de tudo o mais que não é objecto), da vontade ou afecto, e dos sentidos exteriores». As analogias com certo tipo de samadhi da mística indiana são claras, embora a consciência total devesse permanecer sempre.
Muita luz e amor para Antero de Quental
A 2ª das Conferências do Casino é proferida por Antero de Quental em Lisboa, no Casino Lisbonense ao Chiado, neste dia em 1871 sobre o título Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos, onde depois de reconhecer a delicadeza do assunto afirma não quer impor opiniões mas expô-las, nem pedir adesões mas discussão, apelando não só para a fraternidade de ideias que não é unânime mas sim para «a fraternidade moral, fundada na mutua tolerância e no mútuo respeito, que une todos os espíritos numa mesma comunhão - o amor e a procura desinteressada da verdade». São segundo ele três as principais causas de decadência: a transformação do Catolicismo, pelo Concílio de Trento, com os seus dogmas e a Inquisição; «o estabelecimento do Absolutismo, pela ruína das liberdades locais», e de tristes consequências para o desenvolvimento económico da classe média da nação, e por fim «o desenvolvimento das Conquistas longínquas», com os seus efeitos negativos sobre o trabalho e a indústria e com uma colonização muito limitada e imperfeita. Criticará ainda com originalidade e sentido pedagógico, como muito imperfeita e perniciosa a visão histórica que Jacinto Freire fez do heroísmo vice-rei da Índia D. João de Castro, quando nessa biografia «uma só coisa há ali a aproveitar como exemplo: é a nobreza da alma daquele homem magnânimo; mas essa nobreza de alma deve ser aplicada pelos homens modernos a outros cometimentos, e dum modo muito diverso. Foi aquele género de heroísmo, tão apregoado por Jacinto Freire, que nos arruinou!». O ciclo de discursos será proibido, depois das conferências de Augusto Soromenho, Eça de Queiroz e Adolfo Coelho, quando a seguinte, que seria a 27 de Junho, foi anunciada no Jornal da Noite, na véspera: Prelecção do Sr. Saraga. Assumpto: Os críticos de Jesus. A portaria do Marquês de Avila e Bolama, desse mesmo dia 26-VI, justifica a proibição porque as prelecções «expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do estado». Os cinco conferencistas protestarão em nota de imprensa no dia 27-VI e uns dias depois Antero escreve a sua famosa Carta ao Ex.mo Sr. António José d'Avila, Marquez d'Ávila, Presidente do Conselho de Ministros. Anote-se ainda que no seu mais seminal discurso histórico, político e pedagógico Antero contrapõe ao seguidismo do passado familiar e religioso, «a ardente afirmação da alma nova, a consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano, (isto é, a fusão do divino e do humano), a filosofia, a ciência e a crença no progresso, na renovação incessante da humanidade pelos recursos inesgotáveis do seu pensamento, sempre inspirado». No jornal Revolução de Setembro, (certamente nem dos sectores mais conservadores da Religião e do Estado), três dias depois do discurso, a 30-V, saía um alto (ou mesmo exagerado) elogio, mas de um lúcido observador: «esta conferência é um dos acontecimentos mais notáveis que se têm visto em Portugal. Nunca entre nós o poder da crítica se elevou tão alto, nunca se fez uma exposição com mais admirável lucidez, nunca se reuniu tanta eloquência na forma a uma profundidade de vistas tal. O discursos do sr. Anthero do Quental é uma obra perfeita, onde as partes se unem por um laço indissolúvel, se completam umas às outras de uma maneira brilhante. (...). O sr. Anthero do Quental foi frequentes vezes interrompido por bravos e aplausos unânimes, que era a mais bela e a mais sincera homenagem que se podia fazer ao seu talento, porque mostrava que as ideias expostas pelo orador entravam no espírito luminoso, claras, com toda a força e inflexibilidade da lógica (...)»
Nasce neste dia 27 de maio de 1876 Antoni Ossendowski Ferdynand nasceu em Ludza, Polónia, mas acompanhou o médico seu pai para S. Petersburg onde veio a estudar física e química e começando cedo a viajar pelo Oriente e Extremo Oriente, de que resultaram vários sucessos literários. Teve também muitas aventuras revolucionárias e políticas. A sua obra mais famosa é Animais, Homens e Deuses, onde menciona a existência de um rei do Mundo, na mítica cidade de Agarta, e que influenciou alguns ocultistas.
Nasce neste dia de 27 de Maio, em 1913, na França, Vincent Monteil, filho de Charles Monteil (irmão de um coronel explorador das montanhas de Tibesti, Chaad), que fora discípulo e amigo de J. K. Huysmans e que lhe transmitiu o amor por África. E que o fez conhecer aos 25 anos o sábio orientalista Louis Massignon com quem manterá uma relação de grande amizade ao longo de toda a vida, escrevendo mesmo uma biografia de Massignon quando este partiu, intitulada: Le Linceul de Feu. Foi militar na 2ª grande Guerra, e depois diplomata em vários países, tendo feito parte de arbitragens colectivas internacionais (desmascarando já o sionismo de Israel como uma forma de racismo) e só em 1977 é que por natural amadurecimento interior deixa de ser ateu e assume a religião que melhor conhecera e convivera, o Islão, a Comunidade dos Crentes e que ele via tão perseguida e oprimida. Recebeu o nome de Mansour. Dá a luz em 1978 uma obra polémica Le Terrorisme de l’État d' Israel embora numa editora de um judeu Guy Authier, que era também crítico do Estado de Israel. Explicou então que «que pode ter-se muitos amigos judeus (é o meu caso), condenar completamente Auschwitz e Tréblinka, mas sentir que isso nada tem a ver com o Estado de Israel». Profeticamente dizia já em 1991 que a democracia e o modernismo ocidentais, esvaziados de religiosidade, seriam complementados pelo Islão. Deixou obras sobre o Islão nos vários países em que esteve, nomeadamente de 1957 a 1968 em Dakar, no Institut Français d'Afrique Noir, e noutros como a Indonésia, Marrocos, Palestina e Irão, sendo um apoiante da revolução iraniana do Ayatollah Khomenei, tanto mais que a polícia secreta do Shah já o impedira de entrar no Irão. Desse seu amor pelo Irão nasceu uma antologia de poemas que traduziu de Ḥafeẓ (1325-1390), L'amour, l'amant, l'aimé: cent ballades du Divân. Os seus testemunhos sobre Louis de Massignon são notáveis, tendo já este elogiado Vincent Monteil, dizendo: Vós sois uma franco-atirador, a criança perdida, que reaviva em mim o desejo de evasão para fora do quotidiano mundano». Viverá até 2005.
O 1º ministro indiano Jawaharlal Nehru morre em 1964. Participou na luta pela independência da Índia tendo estado preso. Aristocrata, historiador, não-violento como amigo de Gandhi e do seu sucessor Vinoba, socialista, acabou por ter de usar a força tanto para se libertarem da opressão inglesa como, já independente, para defender a Índia dos chineses e para integrar Goa na União Indiana. Dirá: «Apesar de estar envolvido na política, eu concordo com as ideias de Vinoba. As políticas de partidos devem-se ir, as religiões sectárias devem-se ir. Os nossos problemas básicos só serão resolvidos quando lhes aplicarmos uma ciência e uma sabedoria espiritual de bases amplas».
28-V. Desembarcados os arrojados nautas lusitanos da primeira e mais cândida viagem à Índia, em Calecute em 1498, pés finalmente firmes, diz-nos Álvaro Velho no Diário da Viagem, visitaram neste dia uma grande igreja «e dentro estava uma imagem pequena, a qual eles diziam que era Nossa Senhora». De fora, possivelmente por cortesia e agradecendo terem chegado a salvo a bom porto, «fez o capitão-mor oração e nós outros com ele». Depois de terem sido aspergidos pelos brâmanes com água benta, deram a Vasco da Gama cinzas «que os cristãos desta terra costumam pôr nas testas», mas «o capitão o tomou e o deu a guardar, dando a entender que depois o poria». Fernão Lopes Castanheda acrescentará: «João de Sá, estando de joelhos, ao ver a fealdade das imagens que ornavam a igreja disse para Vasco da Gama: se isto são diabos, eu cá adoro ao Deus verdadeiro, ao que o capitão sorriu», enigmática e sabiamente.
Partem de Belém, depois de terem na capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso «cantado uma missa e contado uma ladainha a Nossa Senhora Mãe de Deus, tomando-a por luz e guia em nossa viagem», neste dia em 1662, doze frades capuchos, rumo a Cabo Verde, Guiné e Serra Leoa. Frei André Faro relata que na navegação: «antes de anoitecer dizíamos todos a ladainha de nossa Senhora, e muitas vezes, se cantava o Rosário, por todos os que iam, no navio, e os marinheiros cantavam a seu modo os mandamentos e mais doutrina, como costumam quando navegam». As lutas maiores serão contra os ídolos, e contra os hábitos de ao morrer o rei de Bissau serem mortas as suas mulheres e cortesãos, e de se sacrificar uma vez por ano uma jovem no mar, para o aplacar.
Neste dia de 1548 desembarcam em Malaca os jesuítas Francisco Perez e Roque de Oliveira, três anos depois de S. Francisco xavier ter estado lá pela 1ª vez. O irmão Roque de Oliveira no dia seguinte abriu uma escola, junto ao hospital, e em breve teve 180 escolares. Era a grande apetecência dos malaios para os estudos. Em 1613 chegou a haver, segundo Godinho de Erédia, 7.500 católicos, 4 conventos (jesuítas, franciscanos, dominicanos e agustinianos), 14 igrejas, dois hospitais e alguns oratórios e ermidas, e a diocese de Malaca abrangia nas ilhas e países próximos mais de 300.000 católicos. Mas muitas batalhas tiveram de ser enfrentadas com vários reinos adjacentes até que os Holandeses luteranos conseguiram em 1641 conquistar Malaca e quase abafar o catolicismo, passando este a ser praticado às escondidas ou nas florestas.
O vice-rei do Estado Português na Índia D. Pedro de Noronha de Albuquerque na instrução dada neste dia em 1696 ao embaixador que partia para a Pérsia, a ratificar a liga estabelecida pelo capitão-mor da armada do estreito de Ormuz e do mar Roxo, dir-lhe-á: «Os holandeses como os nossos maiores inimigos na Índia hão de ser os que mais se oponham aos nossos partidos, assim contra estes é que vos haveis de armar de toda a destreza política».
Morre em 1852 Eugène Burnouf, apenas com 51 anos de vida dedicados intensamente ao estudo das línguas e civilizações antigas, em especial a persa e a indiana. Foi professor de sânscrito de 1832 a 1852 no Colégio de França, pioneiro dos estudos linguísticos mais rigorosos sobre o budismo e os Vedas. O culto e entusiasta historiador Michelet, também orientalista e tão apreciado por Antero de Quental, elogiou assim o seu ensino: «Eu via nascer do Oriente e do Ocidente, o milagre único dos dois Evangelhos! Identidade tocante! Dois mundos separados há tanto tempo na sua mútua ignorância e encontrando-se de repente para sentirem que são um, como dois pulmões no peito ou os dois lóbulos dum mesmo coração». Antero de Quental tambéu o leu e elogiou. Ernest Renan foi um dos seus alunos e em 1929, a Seara Nova, no nº160, na sua secção Calendário do Seareiro, para este dia 29, cita-os: «Nenhum pensamento se absorveu mais do que o seu na investigação da verdade», escreveu Renan, que dedidou a Burnouf, em 1849, o seu Avenir de la Science:«nos meus desfalecimentos interiores, sempre que o meu ideal científico pareceu obscurecer-se, pensando em vós, vi dissiparem-se todas as nuvens, e fostes a resposta a todas as dúvidas. Foi a vossa imagem que tive sempre diante dos olhos, quando procurei exprimir o ideal elevado em que a vida é concebida, não como uma papel de teatro, mas como uma coisa verdadeira e séria.
Nasce neste dia de 27 de Maio, em 1913, na França, Vincent Monteil, filho de Charles Monteil (irmão de um coronel explorador das montanhas de Tibesti, Chaad), que fora discípulo e amigo de J. K. Huysmans e que lhe transmitiu o amor por África. E que o fez conhecer aos 25 anos o sábio orientalista Louis Massignon com quem manterá uma relação de grande amizade ao longo de toda a vida, escrevendo mesmo uma biografia de Massignon quando este partiu, intitulada: Le Linceul de Feu. Foi militar na 2ª grande Guerra, e depois diplomata em vários países, tendo feito parte de arbitragens colectivas internacionais (desmascarando já o sionismo de Israel como uma forma de racismo) e só em 1977 é que por natural amadurecimento interior deixa de ser ateu e assume a religião que melhor conhecera e convivera, o Islão, a Comunidade dos Crentes e que ele via tão perseguida e oprimida. Recebeu o nome de Mansour. Dá a luz em 1978 uma obra polémica Le Terrorisme de l’État d' Israel embora numa editora de um judeu Guy Authier, que era também crítico do Estado de Israel. Explicou então que «que pode ter-se muitos amigos judeus (é o meu caso), condenar completamente Auschwitz e Tréblinka, mas sentir que isso nada tem a ver com o Estado de Israel». Profeticamente dizia já em 1991 que a democracia e o modernismo ocidentais, esvaziados de religiosidade, seriam complementados pelo Islão. Deixou obras sobre o Islão nos vários países em que esteve, nomeadamente de 1957 a 1968 em Dakar, no Institut Français d'Afrique Noir, e noutros como a Indonésia, Marrocos, Palestina e Irão, sendo um apoiante da revolução iraniana do Ayatollah Khomenei, tanto mais que a polícia secreta do Shah já o impedira de entrar no Irão. Desse seu amor pelo Irão nasceu uma antologia de poemas que traduziu de Ḥafeẓ (1325-1390), L'amour, l'amant, l'aimé: cent ballades du Divân. Os seus testemunhos sobre Louis de Massignon são notáveis, tendo já este elogiado Vincent Monteil, dizendo: Vós sois uma franco-atirador, a criança perdida, que reaviva em mim o desejo de evasão para fora do quotidiano mundano». Viverá até 2005.
O 1º ministro indiano Jawaharlal Nehru morre em 1964. Participou na luta pela independência da Índia tendo estado preso. Aristocrata, historiador, não-violento como amigo de Gandhi e do seu sucessor Vinoba, socialista, acabou por ter de usar a força tanto para se libertarem da opressão inglesa como, já independente, para defender a Índia dos chineses e para integrar Goa na União Indiana. Dirá: «Apesar de estar envolvido na política, eu concordo com as ideias de Vinoba. As políticas de partidos devem-se ir, as religiões sectárias devem-se ir. Os nossos problemas básicos só serão resolvidos quando lhes aplicarmos uma ciência e uma sabedoria espiritual de bases amplas».
Nehru e santo Vinoba que ainda me recebeu de braços abertos no seu ashram de Wardha! |
28-V. Desembarcados os arrojados nautas lusitanos da primeira e mais cândida viagem à Índia, em Calecute em 1498, pés finalmente firmes, diz-nos Álvaro Velho no Diário da Viagem, visitaram neste dia uma grande igreja «e dentro estava uma imagem pequena, a qual eles diziam que era Nossa Senhora». De fora, possivelmente por cortesia e agradecendo terem chegado a salvo a bom porto, «fez o capitão-mor oração e nós outros com ele». Depois de terem sido aspergidos pelos brâmanes com água benta, deram a Vasco da Gama cinzas «que os cristãos desta terra costumam pôr nas testas», mas «o capitão o tomou e o deu a guardar, dando a entender que depois o poria». Fernão Lopes Castanheda acrescentará: «João de Sá, estando de joelhos, ao ver a fealdade das imagens que ornavam a igreja disse para Vasco da Gama: se isto são diabos, eu cá adoro ao Deus verdadeiro, ao que o capitão sorriu», enigmática e sabiamente.
Partem de Belém, depois de terem na capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso «cantado uma missa e contado uma ladainha a Nossa Senhora Mãe de Deus, tomando-a por luz e guia em nossa viagem», neste dia em 1662, doze frades capuchos, rumo a Cabo Verde, Guiné e Serra Leoa. Frei André Faro relata que na navegação: «antes de anoitecer dizíamos todos a ladainha de nossa Senhora, e muitas vezes, se cantava o Rosário, por todos os que iam, no navio, e os marinheiros cantavam a seu modo os mandamentos e mais doutrina, como costumam quando navegam». As lutas maiores serão contra os ídolos, e contra os hábitos de ao morrer o rei de Bissau serem mortas as suas mulheres e cortesãos, e de se sacrificar uma vez por ano uma jovem no mar, para o aplacar.
Neste dia de 1548 desembarcam em Malaca os jesuítas Francisco Perez e Roque de Oliveira, três anos depois de S. Francisco xavier ter estado lá pela 1ª vez. O irmão Roque de Oliveira no dia seguinte abriu uma escola, junto ao hospital, e em breve teve 180 escolares. Era a grande apetecência dos malaios para os estudos. Em 1613 chegou a haver, segundo Godinho de Erédia, 7.500 católicos, 4 conventos (jesuítas, franciscanos, dominicanos e agustinianos), 14 igrejas, dois hospitais e alguns oratórios e ermidas, e a diocese de Malaca abrangia nas ilhas e países próximos mais de 300.000 católicos. Mas muitas batalhas tiveram de ser enfrentadas com vários reinos adjacentes até que os Holandeses luteranos conseguiram em 1641 conquistar Malaca e quase abafar o catolicismo, passando este a ser praticado às escondidas ou nas florestas.
O vice-rei do Estado Português na Índia D. Pedro de Noronha de Albuquerque na instrução dada neste dia em 1696 ao embaixador que partia para a Pérsia, a ratificar a liga estabelecida pelo capitão-mor da armada do estreito de Ormuz e do mar Roxo, dir-lhe-á: «Os holandeses como os nossos maiores inimigos na Índia hão de ser os que mais se oponham aos nossos partidos, assim contra estes é que vos haveis de armar de toda a destreza política».
Morre em 1852 Eugène Burnouf, apenas com 51 anos de vida dedicados intensamente ao estudo das línguas e civilizações antigas, em especial a persa e a indiana. Foi professor de sânscrito de 1832 a 1852 no Colégio de França, pioneiro dos estudos linguísticos mais rigorosos sobre o budismo e os Vedas. O culto e entusiasta historiador Michelet, também orientalista e tão apreciado por Antero de Quental, elogiou assim o seu ensino: «Eu via nascer do Oriente e do Ocidente, o milagre único dos dois Evangelhos! Identidade tocante! Dois mundos separados há tanto tempo na sua mútua ignorância e encontrando-se de repente para sentirem que são um, como dois pulmões no peito ou os dois lóbulos dum mesmo coração». Antero de Quental tambéu o leu e elogiou. Ernest Renan foi um dos seus alunos e em 1929, a Seara Nova, no nº160, na sua secção Calendário do Seareiro, para este dia 29, cita-os: «Nenhum pensamento se absorveu mais do que o seu na investigação da verdade», escreveu Renan, que dedidou a Burnouf, em 1849, o seu Avenir de la Science:«nos meus desfalecimentos interiores, sempre que o meu ideal científico pareceu obscurecer-se, pensando em vós, vi dissiparem-se todas as nuvens, e fostes a resposta a todas as dúvidas. Foi a vossa imagem que tive sempre diante dos olhos, quando procurei exprimir o ideal elevado em que a vida é concebida, não como uma papel de teatro, mas como uma coisa verdadeira e séria.
Nasce em Paris neste dia 28 o génio linguístico, sinólogo e orientalista Paul Pélliot, aluno de Edouard Chavanes e de Sylvain Levi, e que terá uma vida aventurosa muito rica de viagens e descobertas, ensinos, invejas e ataques, reconhecimentos e consagrações, até desincarnar apenas com 67 anos. A sua expedição à Ásia Central, de três anos, foi épica, tendo descoberto e selecionado dezenas de manuscritos bem valiosos graças aos profundos conhecimentos que tinha de mandari, turquestão e sanscrito, nomeadamente nas famosas grutas de Mogao, um conjunto arquitectónico e artístico chinês de incaculável valor.
29-V. Constantinopla (com a sua incomparável Hagia Sophia) e o império cristão de Bizâncio caem nas mãos dos turcos em 1453, que ficam com a porta aberta sobre a Europa. A acção dos portugueses no norte de África e no Oriente, e a da Ordem de Malta no Mediterrâneo criam outras frentes de batalha que enfraquecerão o expansionismo turco, que assentava contudo por vezes numa certa tolerância religiosa, patente com os judeus e os cristãos na Terra Santa (sobretudo porque pagavam taxas), e no misticismo sufi dos derviches e faquires que comungavam num amor a Deus acima das religiões e que por vezes temperavam os fanatismos e crueldades gerais.
O feitor do samorim de Calecute, em 1498, perante os presentes que Vasco da Gama quer oferecer, começou-se a «rir daquele serviço. Dizendo que aquilo não era nada para mandar a el-rei; que o mais pobre mercador, que vinha de Meca ou das Índias, lhe dava mais que aquilo e que se lhe queria fazer serviço que lhe mandasse algum ouro, porque el-rei não havia de tomar aquilo. E o capitão, vendo isto, houve melancolia e disse que não trazia ouro e demais, que não era mercador mas que era embaixador, e que daquilo que trazia lhe dava, o qual era do seu e não del-rei». Se os presentes eram mesmo de pouco valor, já a melancolia era um sinal de auto-consciência e de germinação, tal como Albert Dürer nos desafia na sua famosa gravura que leva o mesmo nome.
O comissário régio Neves Ferreira, oficial da Marinha natural do Porto, por portaria, neste dia em 1896, em Goa, pouco depois da partida do Príncipe D. Afonso que indultara os ranes revoltosos, determina passar-se por armas todo o que for encontrado em flagrante delito de roubo ou homicídio, para pôr cobro a actos violentos que os ranes e outros continuavam a fazer (sinais duma vontade de independência e que se prolongavam há muito), medida esta que se podia prestar a abusos e que era em si um retrocesso nas garantias dos direitos individuais. O Visconde de Bardez, aliado dos ranes, protestou por vários modos contra tal posição extremada mas acabou por ser detido e confirmada a sua aliança com alguns dos cabecilhas dos ranes, que assaltavam pessoas e atacavam edifícios públicos, mesmo depois do indulto pacificador. Curiosamente nesse mesmo ano saía à luz no Porto, uma publicação com desenho colorido na capa e de 20 páginas intitulada Servindo a Pátria, ao Ex.mo Senr. João A. de Brissac das Neves Ferreira, homenagem ao valor e ao patriotismo prestada pelos seus amigos do Porto, onde se descreve a vida enérgica e integra como governante em Benguela, Congo, Moçambique e Índia, defendendo-se a sua actuação em Goa, pois fora o modo de se acabar com os roubos e violências.
O ponto mais alto das montanhas sagradas dos Himalaias, o Qomolangma, onde habitam as Cinco Irmãs da Longa Vida, denominado pelos ingleses Evereste, em memória do agrimensor Sir George Everest, perde a sua prístina condição, ao ser escalado em 1953 pelos audaciosos e tenazes descobridores das alturas e vistas máximas Edmund Hillary, neo-zelandês e Tenzing Norgay, sherpa do Nepal. Hillary irá quatro anos depois com Fusch até ao pólo sul, noutra corajosa viagem de descobrimento.
Representação espiritual dos Himalaias por Bô Yin Râ, do valioso livro Welten, Mundos.
30-V. Em Calecut, em 1498, recusado o presente e esperado um dia inteiro para ser levado ao samorim, tendo estado o capitão «apaixonado, de se ver entre homens tão fleumáticos e de tão pouca certeza», impaciente por ir ao paço, embora nas naus já se cantasse e bailasse em sintonia oriental, Vasco da Gama é levado finalmente ao samorim que o interroga: «Que é que ele vinha a descobrir, pedras ou homens? Que pois vinha descobrir homens, como dizia, porque não trazia alguma coisa? E mais, que lhe disseram que ele trazia uma Santa Maria de ouro. Disse o capitão que a Santa Maria, que ele trazia, não era de ouro; e que ainda que fora de ouro que ele lha não dera, porquanto ela o trazia pelo mar e o trouxera à sua terra». O culto da Dona ou Nossa Senhora espiritual era assim afirmado e mal sabia ele que na Índia tantos cultos havia também dedicados à Divindade no seu aspecto feminino, a Shakti, a Devi, que tem hoje mesmo no Brasil uma valiosa representante corpo-poemática.
Arjan Dev, o 5º guru da religião Sikh.
Arjan Dev, o 5º guru da religião Sikh, morre por tortura em Lahore em 1606. Nascera em 15 de Abril de 1563 e ainda muito se esperava dele. Os Sikhs começam então a organisar-se militarmente para se oporem à opressão mogol, que com a morte do imperador Akbar em Outubro de 1605 de certo modo já começara e que com Aurangzeb se intensificará. Comentando o famoso mul mantra, ou parte inicial do livro sagrado Guru Grahant Sahib: Ek-Oamkar Sat-nam karta-purakh nir-bhau nir-vair akaal-murat ajuni-saibham guru-prasad, que significa «O Som Primordial da Unidade, Nome da Verdade, Criador e Prosperador, sem medo, sem ódio, Imperecível, para além do nascimento, Existente por Si mesmo, Graça do Mestre», dirá: «A língua pronuncia ou canta os Teus nomes derivados. Mas o teu Verdadeiro Nome, Sat Nam, antecede mesmo o Princípio».
Wenceslau de Morais nasce neste dia 30 de Maio em 1854, em Lisboa. Oficial da Marinha durante alguns anos e depois colocado em Macau, abandona a Marinha, ao apaixonar-se pelo Japão e passa a cônsul em Kobe, onde se casa com uma gueixa, Ó-Yoné Fukumoto e depois da morte dela com a sua sobrinha Ko-Haru É um ser de imensa sensibilidade à beleza e aberto à serenidade contemplativa do Oriente nipónico, pelo que, como fruto dos seus 31 anos no Japão (1898-1929), escreverá dos mais belos livros de impressões suaves sobre o Japão, o seu povo, costumes e história.«Dir-nos-á:«Duas religiões, principalmente, infiltram-se, pelas suas crenças, na alma japonesa: o shintoísmo, nativo, e o buddhismo, importado da China, por via da Coreia, — ambas com os seus templos. Os deuses adoram-se nos templos shintoísticos, O’-Myra; os budhas nos templos buddhisticos, O’-Tera. Estas religiões completam-se, pelas influências que exercem no íntimo da alma nipónica». Pouco conhecido no Ocidente, o Shintoísmo, o Caminho de Deus ou do Espírito, descreve no seu registo sagrado, o Kojiki, o surgimento de formas individualizadas a partir da diferenciação polar centrífuga e centrípeta do infinito. Tendo como objectivo uma consciência ou julgamento supremo, preconiza a purificação do corpo, ambiente, coração e alma, usando o banho frio, o sal (tal nas lutas de sumo), a dieta, a postura direita, a aquietação mental, e a unificação anímica dos opostos, a fim de que o ser humano se torne makoto, seja ele próprio. O Imperador do Japão, como símbolo da humanidade perfeita, possuiu os três tesouros sagrados: a espada, a jóia e o espelho. Já os santuários destinados a cultivar os Kamis, os espíritos, invocam sobretudo o fluxo unitivo entre os opostos, seja céu e terra, visível e invisível, na maior simplicidade e são realmente maravilhosos... Wenceslau diz ainda: «Feliz gente, muito feliz!... Feliz gente, que passa a vida em comunhão com os espíritos superiores que regem os destinos do Nippon; sem flagelar-se, sem penitenciar-se, porque as suas crenças não comportam mortificações e penitências».
O notável historiador Pandurang Pissurlencar.
Nasce em Goa a 30 de Maio de 1894 Pandurang Pissurlencar, historiador e arquivista, responsável pela salvação ou preservação de milhares de documentos dos arquivos húmidos de Pangim. Deixou uma vasta obra, especialmente sobre as relações portuguesas-maratas, destacando-se ainda A Antiga Índia e o Mundo Externo (Notulas historico-arqueológicas), impressa pela Livraria Coelho-Editora, em Nova Goa, em 1922 e dedicada a «Francisco Maria Esteves Pereira, abalizado Orientalista» e onde refere a existência de hospitais e asilos para seres humanos e animais desde os tempos de Chandragupta e de Asoca (273-232 A. C.), algo que o nosso cronista Duarte Barbosa também referirá admirado, bem como o nível de desenvolvimento da arte de navegação dos indianos na época dos Descobriemntos e antes. Deixará o corpo físico em 10 de Julho de 1969.
O comissário régio Neves Ferreira, oficial da Marinha natural do Porto, por portaria, neste dia em 1896, em Goa, pouco depois da partida do Príncipe D. Afonso que indultara os ranes revoltosos, determina passar-se por armas todo o que for encontrado em flagrante delito de roubo ou homicídio, para pôr cobro a actos violentos que os ranes e outros continuavam a fazer (sinais duma vontade de independência e que se prolongavam há muito), medida esta que se podia prestar a abusos e que era em si um retrocesso nas garantias dos direitos individuais. O Visconde de Bardez, aliado dos ranes, protestou por vários modos contra tal posição extremada mas acabou por ser detido e confirmada a sua aliança com alguns dos cabecilhas dos ranes, que assaltavam pessoas e atacavam edifícios públicos, mesmo depois do indulto pacificador. Curiosamente nesse mesmo ano saía à luz no Porto, uma publicação com desenho colorido na capa e de 20 páginas intitulada Servindo a Pátria, ao Ex.mo Senr. João A. de Brissac das Neves Ferreira, homenagem ao valor e ao patriotismo prestada pelos seus amigos do Porto, onde se descreve a vida enérgica e integra como governante em Benguela, Congo, Moçambique e Índia, defendendo-se a sua actuação em Goa, pois fora o modo de se acabar com os roubos e violências.
O ponto mais alto das montanhas sagradas dos Himalaias, o Qomolangma, onde habitam as Cinco Irmãs da Longa Vida, denominado pelos ingleses Evereste, em memória do agrimensor Sir George Everest, perde a sua prístina condição, ao ser escalado em 1953 pelos audaciosos e tenazes descobridores das alturas e vistas máximas Edmund Hillary, neo-zelandês e Tenzing Norgay, sherpa do Nepal. Hillary irá quatro anos depois com Fusch até ao pólo sul, noutra corajosa viagem de descobrimento.
Representação espiritual dos Himalaias por Bô Yin Râ, do valioso livro Welten, Mundos.
30-V. Em Calecut, em 1498, recusado o presente e esperado um dia inteiro para ser levado ao samorim, tendo estado o capitão «apaixonado, de se ver entre homens tão fleumáticos e de tão pouca certeza», impaciente por ir ao paço, embora nas naus já se cantasse e bailasse em sintonia oriental, Vasco da Gama é levado finalmente ao samorim que o interroga: «Que é que ele vinha a descobrir, pedras ou homens? Que pois vinha descobrir homens, como dizia, porque não trazia alguma coisa? E mais, que lhe disseram que ele trazia uma Santa Maria de ouro. Disse o capitão que a Santa Maria, que ele trazia, não era de ouro; e que ainda que fora de ouro que ele lha não dera, porquanto ela o trazia pelo mar e o trouxera à sua terra». O culto da Dona ou Nossa Senhora espiritual era assim afirmado e mal sabia ele que na Índia tantos cultos havia também dedicados à Divindade no seu aspecto feminino, a Shakti, a Devi, que tem hoje mesmo no Brasil uma valiosa representante corpo-poemática.
Arjan Dev, o 5º guru da religião Sikh.
Arjan Dev, o 5º guru da religião Sikh, morre por tortura em Lahore em 1606. Nascera em 15 de Abril de 1563 e ainda muito se esperava dele. Os Sikhs começam então a organisar-se militarmente para se oporem à opressão mogol, que com a morte do imperador Akbar em Outubro de 1605 de certo modo já começara e que com Aurangzeb se intensificará. Comentando o famoso mul mantra, ou parte inicial do livro sagrado Guru Grahant Sahib: Ek-Oamkar Sat-nam karta-purakh nir-bhau nir-vair akaal-murat ajuni-saibham guru-prasad, que significa «O Som Primordial da Unidade, Nome da Verdade, Criador e Prosperador, sem medo, sem ódio, Imperecível, para além do nascimento, Existente por Si mesmo, Graça do Mestre», dirá: «A língua pronuncia ou canta os Teus nomes derivados. Mas o teu Verdadeiro Nome, Sat Nam, antecede mesmo o Princípio».
Wenceslau de Morais nasce neste dia 30 de Maio em 1854, em Lisboa. Oficial da Marinha durante alguns anos e depois colocado em Macau, abandona a Marinha, ao apaixonar-se pelo Japão e passa a cônsul em Kobe, onde se casa com uma gueixa, Ó-Yoné Fukumoto e depois da morte dela com a sua sobrinha Ko-Haru É um ser de imensa sensibilidade à beleza e aberto à serenidade contemplativa do Oriente nipónico, pelo que, como fruto dos seus 31 anos no Japão (1898-1929), escreverá dos mais belos livros de impressões suaves sobre o Japão, o seu povo, costumes e história.«Dir-nos-á:«Duas religiões, principalmente, infiltram-se, pelas suas crenças, na alma japonesa: o shintoísmo, nativo, e o buddhismo, importado da China, por via da Coreia, — ambas com os seus templos. Os deuses adoram-se nos templos shintoísticos, O’-Myra; os budhas nos templos buddhisticos, O’-Tera. Estas religiões completam-se, pelas influências que exercem no íntimo da alma nipónica». Pouco conhecido no Ocidente, o Shintoísmo, o Caminho de Deus ou do Espírito, descreve no seu registo sagrado, o Kojiki, o surgimento de formas individualizadas a partir da diferenciação polar centrífuga e centrípeta do infinito. Tendo como objectivo uma consciência ou julgamento supremo, preconiza a purificação do corpo, ambiente, coração e alma, usando o banho frio, o sal (tal nas lutas de sumo), a dieta, a postura direita, a aquietação mental, e a unificação anímica dos opostos, a fim de que o ser humano se torne makoto, seja ele próprio. O Imperador do Japão, como símbolo da humanidade perfeita, possuiu os três tesouros sagrados: a espada, a jóia e o espelho. Já os santuários destinados a cultivar os Kamis, os espíritos, invocam sobretudo o fluxo unitivo entre os opostos, seja céu e terra, visível e invisível, na maior simplicidade e são realmente maravilhosos... Wenceslau diz ainda: «Feliz gente, muito feliz!... Feliz gente, que passa a vida em comunhão com os espíritos superiores que regem os destinos do Nippon; sem flagelar-se, sem penitenciar-se, porque as suas crenças não comportam mortificações e penitências».
O notável historiador Pandurang Pissurlencar.
Nasce em Goa a 30 de Maio de 1894 Pandurang Pissurlencar, historiador e arquivista, responsável pela salvação ou preservação de milhares de documentos dos arquivos húmidos de Pangim. Deixou uma vasta obra, especialmente sobre as relações portuguesas-maratas, destacando-se ainda A Antiga Índia e o Mundo Externo (Notulas historico-arqueológicas), impressa pela Livraria Coelho-Editora, em Nova Goa, em 1922 e dedicada a «Francisco Maria Esteves Pereira, abalizado Orientalista» e onde refere a existência de hospitais e asilos para seres humanos e animais desde os tempos de Chandragupta e de Asoca (273-232 A. C.), algo que o nosso cronista Duarte Barbosa também referirá admirado, bem como o nível de desenvolvimento da arte de navegação dos indianos na época dos Descobriemntos e antes. Deixará o corpo físico em 10 de Julho de 1969.
31-V. Nasce em Alcochete em 1469, da Infanta D. Beatriz e de D. Fernando, irmão de D. Afonso V, em dia de Corpo de Deus, aquele que será chamado Emanuel, Deus está connosco, e que se tornará o venturoso rei D. Manuel I. Tendo todas as condições preparadas do reinado anterior para boas realizações, ainda que tenha sido feliz em certos aspectos, não conseguiu ser bem um Rei de Reis como quis e que D. Francisco de Almeida lhe recomendou numa carta: «Vossa Alteza devia trabalhar por se chamar imperador da Índias, e se isto tem inconvenientes que eu não entendo chamar-se rei dela, porque os reis de Quíloa e Mombaça... Melinde e Mogadíscio vos chamarão seu senhor», pois continuando na senda da centralização absolutista iniciada pelo seu cunhado D. João II, não logrando evitar a expulsão dos judeus do reino exigida pela infanta D. Isabel de Castela para se casar com ele, nem gerindo da melhor maneira os ideais, recursos, cargos e estratégias do reino, deixou desenvolverem-se tendências e características fatais para os sentidos mais fraternos, universais e duradouros que a expansão imperial portuguesa poderia realizar com outros reinos e impérios. E contudo, era homem "muito prudente, de claro e bom juizo", no dizer do humanista e cronista Damião de Goes que o conheceu bem.
A nau S. Filipe atraca em 1587, em Goa carregada com os quatro embaixadores japoneses, 21 jesuítas e a valiosa tipografia móvel que será responsável pela primeira impressão em Macau no ano seguinte - a Christiani Pueri Institutio, um manual de civilidade e cidadania cristã para os estudantes -, seguindo mais tarde para o Japão, onde se imprimirão outras obras, desde Cícero e Platão em latim, às Fábulas de Esopo e às obras de Frei Luís de Granada em japonês, para além de valiosos dicionários e gramáticas, úteis durante séculos.
A aldeia de Candolim, em Goa, vê nascer neste dia 31 de Maio de 1756, José Custódio de Faria, aquele que virá a ser o famoso Abade de Faria, filho dum padre ligado à conjuração dos Pintos, mas que antes de ela ser descoberta emigrará de Lisboa para França onde participa na Revolução Francesa tornando-se experimentador científico do hipnotismo que denomina Sono Lúcido, sendo o título da sua obra de teorização pioneira De La Cause du Sommeil Lucide, Paris, 1819, tendo sido reeditada apenas uma vez em 1906 pelo médico Daniel Gelásio Dalgado com uma excelente contextualização. O sucesso do Abade Faria em certo aspecto antecipou o da vinda dos primeiros mestres indianos ao Ocidente, embora também fosse vítima de várias caricaturas nos jornais da época. Formara-se em Roma e aí doutorara-se em 1780 com uma tese intitulada De Existencia Dei, Deo Uno et Divina Revelatione. O prémio Nobel de Medicina português Egas Moniz dedicar-lhe-á um estudo valioso O Padre Faria na História do Hipnotismo, um in-4º de 193 págs., impresso em Lisboa em 1925. Oscar Paxeco escreve, na colecção Pelo Império, uma biografia O Abade de Faria, num in-8º de 77 págs., impresso em 1957. Nas palavras preliminares lembra a pleiade de luso-indianos, começando em S. Gonçalo Garcia e S. José Vaz e passando por escritores como Cristóvão Aires, Moniz Barreto, Francisco Luís Gomes e Fernando Leal; jurisconsultos da estirpe dos Drs. Luis da Cunha Gonçalves, Caetano Gonçalves e Bernardo da Costa, etc.». Santana Rodrigues, o distinto médico e escritor natural de Salsete, Goa, biografa-o em Lisboa, em 1946, O Abade Faria. Muitas das observações do Abade Faria contidas no seu único livro publicado Da Causa do Sono Lúcido são ainda hoje válidas: «Não se consegue o sonambulismo quando o espírito está preocupado quer pela agitação do sangue, quer por inquietações e preocupações». Utilizava as expressões «durma» depois de a pessoa se ter relaxado, pensando que ia dormir, e «desperte», nas suas sessões. D. G. Dalgado publicou ainda um opusculo Braidismo e Fariisme ou la Doctrine du Docteur BRAID sur l'hypnotisme comparée avec celle de l'Abbé DE FARIA sur le Sommeil Lucide, mostrando que cabia ao Abade de faria a primazia da doutrina e da metodologia hipnótica por sugestão, a que ele dera o nome de sono lúcido. Em 1950 o médico Fred Waschmann publicava na tipografia Rangel, de Bastora, uma ficção histórica em 4 actos, Os Padres Faria, introduzindo-nos no ambiente vivo de oposição que o Abade Faria teve de suportar no seu pioneirismo.
Nasce em Salcete, Índia, Francisco de Luís Gomes, em 1829. Médico distinto, jornalista, deputado pelo círculo de Margão nas Cortes Portuguesas oito anos (tendo intervido sobre os Direitos Humanos, a questão religiosa do Padroado Português do Oriente ameaçado pela Propaganda Fide, papal), escreveu obras económicas e históricas (tal como o Marquis de Pombal. Esquisse de sa Vie Publique, Lisbonne, 1869), o famoso e pioneiro romance de temática indo-portuguesa Os Brahamanes (de 1866 e que reeditei, prefaciado, em 1998), e a vibrante Carta a Lamartine, ao chegar a Lisboa, em 1861, tão apreciada por esse francês viajante do Médio Oriente, e donde traduzimos: «Nasci na Índia oriental, nesse país que foi o berço de poesias, filosofias e histórias, e que é agora o túmulo. Pertenço à raça que compôs o Mahabharata e inventou o jogo de xadrez, duas obras que têm em si algo de eterno e de infinito. Mas esta nação que fazia dos seus poemas os seus códigos e formulava a política num jogo, não vive mais... Peço para a Índia a Liberdade e a Luz!...».
Foi também um defensor da igualdade dos povos, da não existência da escravatura e dos pobres e explorados, crítico das castas e do egoísmo das civilizações mais desenvolvidas, e um defensor acutilante das Comunidades Agrícolas de Goa, as Gãocarias, ameaçadas por Joaquim Catão da Costa, numa polémica que fará lembrar a anteriana do Bom Senso e Bom Gosto. O deputado Luciano Cordeiro, um dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa em 1875, elogiou a sua actuação no Parlamento: «Naquele lugar para onde a desmoralização e ignorância públicas e o feudalismo dinheiroso da burguesia atira em cada eleição tantos alarves que melhor andariam à rabiça do arado do que às cangas dos governos e das facções; naquele lugar onde a inteligência, o estudo comprovado e a honestidade firme deviam ser os únicos títulos de admissão, Luís Gomes começou decerto a sentir as amarguras e nojos da vida política em Portugal, mas soube afastar-se das mediocridades mudas e das mediocridades verbosas, e conquistar breve e brilhantemente um nome entre os homens verdadeiramente ilustres pelos seus talentos e estudos no Parlamento que todos lhe estenderam, sem distinções partidárias, cordialmente a mão». A Sociedade de Geografia homenageou-o em 1929, com intervenções de Luís da Cunha Gonçalves, António Ferrão, Júlio Dantas, Agostinho Fortes e Moses Amzalack e em 1971 falaram Agostinho de Sousa, Silva Rego, Amândio César e Ismael Gracias, sendo publicadas as comunicações pela Agência Geral do Ultramar.
Em 1834 é publicado neste dia 31 de Maio em Lisboa, fruto dum liberalismo laicista exagerado embora algo compreensível no contexto das lutas de mentalidades da época, o decreto de extinção das ordens religiosas, fechando a entrada de novos monjes e monjas nos mosteiros e conventos, o que enfraquecerá a acção evangelizadora, que tinha certamente muitos aspectos positivos e aluguns negativos, bem como a assistência dos portugueses no Oriente, já então muito diminuída. No ensino, o governador na Índia, Lopes de Lima, em ano e meio de administração, cria inúmeras escolas, e melhora outras, tentando contrabalançar o vazio originado pela extinção abrupta.
5 comentários:
Faz as delícias de quem ama história. Obrigado.
Muitas graças pela sua simpática apreciação, Andreia. São sintetizadas na verdade nas pequenas efemérides muita história pouco conhecida por vezes e bem luminosa.
Estou profundamente comovida.Gratidão, Pedro.
Gratidão Pedro por tão profunda partilha. Grande exemplo
Graças, Devi Sat e amigo desconhecido pelas apreciações. Boas inspirações, hoje dia 7 com esse especialissimo poeta, artista e místico Rabindranath Tagore...
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