quarta-feira, 29 de março de 2017

Da Mítica Atlântida à Eternidade do Amor de Inês e de Pedro. Uma Peregrinação de Maria de Fátima Silva.

Eis a Inês...
As imagens que a Maria de Fátima Silva nos oferece nesta exposição "Amare # Atlantis", organizada pela Hélder Alfaiate Galeria, na Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva, da Ericeira (inauguração a 1-IV-2017), são verdadeiramente mágicas, mais propriamente no sentido de, ao serem contempladas, permitirem-nos entrar em dimensões subtis e insuspeitadas, vencendo as barreiras do tempo-espaço e fazendo-nos sentir, intuir e comungar energias e emoções, ideias e seres, ritmos e ritos que, vividos há séculos e séculos, ainda hoje nos proporcionam expansões e aprofundamentos de sensibilidade e compaixão, de de conhecimento e de consciência... 
A série "Atlantis" remete-nos para as épocas mais ancestrais da Humanidade, quando a unidade entre os elementos da Natureza, as pedras, águas, peixes, aves, animais e humanos era intimamente sentida, vivida e celebrada, e de modos tais que só os mais artistas ou sensíveis conseguirão imaginar ou tornar a focalizar.
A Atlântida é em verdade um dos icebergues que nos chegou da história antiga e perdida da Humanidade, graças à referência de Platão no Timeu de ter ouvido os sacerdotes egípcios de Saís falarem do desaparecimento da sua última ilha no meio do Atlântico. Os mistérios da sua existência permanecem no séc. XXI, apesar dos estudos e livros tanto de historiadores e arqueólogos como dos ocultistas ditos clarividentes dos finais do séc. XIX e começos do séc. XX: Helena Blavastky, Rudolf Steiner, Max Heindel e Edgar Cayace, alguns deles algo devedores do Atlantis, The Antedeluvian World, de Ignatius Donnely, de 1882.
Celebrações e comunhões com os elementos e o Divino...
A Maria de Fátima oferece-nos uma estreita simbiose nesta série "Atlantis" entre o que poderia ter sido a Atlântida e o que sabemos terem sido os tempos pré-históricos, com os seus diversos cultos e estreita osmose do ser humano com as pedras, as águas, as aves, os animais e que a Fátima intui a partir da sua experiência concreta das antas e tholos, falésias, rios e eco-sistemas existentes na região da Ericeira e em Portugal e que ela e a sua família bem conhecem, vivendo ainda hoje no campo, cultivando a terra e com animais.
Entre nós, Dalila Pereira da Costa foi talvez a escritora que mais cultivou a chamada "memória do lugar", dando-nos seja do Porto, seja dos cultos da Antiguidade celebrados nas margens e santuários do rio Douro descrições e ressurreições em que combina tanto os dados intuitivos e oníricos, ou de reminiscências, como os históricos. A Maria de Fátima Silva fá-lo também com as suas pinturas, e não nos é difícil discernir, emergindo das pedras e águas omnipresentes, determinados ritos e celebrações, grandes deusas e deuses, prefigurações de Jesus e Maria, sacerdotisas e shamanes, espíritos da natureza e Anjos, fecundidade e maternidade, nascimentos e mortes, iniciações e purificações, sacrifícios e amores.
Das danças e peregrinações shamânicas...
A sua pintura é na verdade bem invocadora pois é bastante poderosa na policromia, nas formas dos corpos, na expressividade dos pés, das mãos, dos seios, das faces, de cada ser, que estão sempre interconectados com um momento, um ambiente natural ou ritual, o todo, visível e invisível mas bem sensível e perceptível. É verdadeiramente uma pintura animista a que nos é apresentada, e corresponde bem ao estágio da Humanidade que então via e sentia a alma presente em tudo e todos e a grande Alma do Mundo que a todos ligava, com menos barreiras entre o mundo material e o subtil e espiritual. Algumas das suas pinturas fazem-nos então entrar num "no man's land", numa percepção na qual não sabemos se estamos a ver com os olhos físicos ou se com o olho espiritual, podendo talvez então caracterizar-se como uma entrada numa terra lúcida, luminosa, a que alguns estudiosos das almas e obras místicas e clarividentes chamaram de imaginal. 
Neste sentido são especialmente mágicas algumas pinturas (e cada observador sentirá as que mais ressoam animicamente), esbatendo subtil mas fortemente as nossas certezas e limitações objectivantes redutoras e fazendo-nos pairar e entrar por um umbral misterioso, rico e profundo, mítico e divino, para o qual contribui todo o dinamismo sacralizante que as constantes metamorfoses, derivadas da interconectividade de todos os seres, apresentam e interrogam, sugerem e propulsionam.
Cada pintura pode-se então dizer que é realmente uma janela aberta para dimensões anímicas insuspeitadas e, para quem mais demoradamente as contemplar, para estados expandidos de consciência e de Amor.
Amare. Da amostragem e antevisão do que será a sua próxima grande exposição sobre o Amor de Inês de Castro e Dom Pedro de novo somos levados a realçar a grande qualidade tanto da sua pintura,  por vezes em filigrana minuciosa do sublime estilo gótico, como da sua percepção do Campo unificado e histórico de energia consciência que a todos envolve e que a Maria de Fátima soube extraordinariamente trazer ao de cima em cada pintura, unindo o passado, o presente e o futuro, o visível e o invisível, o potencial e o actual, o exterior e o interior, o individual e o colectivo, o histórico e o mítico, o animal e o humano, a dor e a beatitude, o angélico e o divino.
Elevada aos céus do Amor Eterno...
Como todos sabemos o amor entre Inês de Castro e Dom Pedro foi e é de todos os que aconteceram na terra e mátria portuguesa o que mais foi sentido e trabalhado ao longo dos séculos, em milhares e milhares de obras, artigos e referências, seja pela sua tragédia, ou intensidade ou perdurabilidade imortalizadora na aura popular e dos literatos (bem manifestada na coroação e beija-mão), e portanto é uma alegria vermos uma mulher da costa portuguesa, da Ericeira, enfrentar o repto de desenhar e pintar, aprofundar e desvendar a riqueza do mistério inesiano, o qual ainda hoje nos aperta o coração ou faz brotar o desejo do Amor invencível e imortal que eles sacrificialmente realizaram.
Perante as razões do cérebro ou dos interesses da corporação ou do Estado, ainda hoje frequentemente evocadas contra o coração e a Humanidade, devemos, com o ensinamento-testamento do amor trágico de Inês e de Pedro, saber dizer não a tais violências ou crimes e afirmar o direito do Amor pleno e pacífico ser vivido entre os seres que verdadeiramente se amam, numa Terra mais lúcida e harmoniosa.
No fundo, sentirmos e trabalharmos a relação de Inês e Pedro nos dias de hoje, como a Fátima assumiu, é queremos afirmar o Amor invencível e imortal, que une os seres para além das oposições e ódios da sociedade, ou mesmo da morte, e comungarmos assim do Amor divino que a todos une e no nosso ser mais profundo arde, é...
Sabemos que, pelos túmulos de ambos, esculpidos como obras-primas (e ainda hoje semi-anónimas) da Beleza e do Amor, tal relação amorosa e matrimonial se tornou ainda mais imortal, permitindo-nos eles ainda hoje sentir a eternidade do Amor vivido, quando peregrinamos ao transepto do mosteiro de Alcobaça e diante dos dois túmulos jazentes nos abismamos em maravilhada contemplação...
A Maria de Fátima fez essa peregrinação à Alcobaça gótica por mais de uma vez, sentiu, emocionou-se, absorveu, fotografou, compenetrou-se. Depois viu a iconografia e leu muitas obras, modernas e antigas, algumas que eu próprio lhe fiz chegar às mãos, afluentes do grande rio mítico do Amor que passa bem luminoso para além da margem da morte aparente. E assim fez-se uma com Inês e Pedro, corpos e almas, ascendentes e descendentes, vida e morte, no histórico e no lendário, no misterioso e no íntimo, e transmite-nos, neste dealbar do séc. XXI, a última visão portuguesa plástica, emotiva, conceptual, profunda e espiritual do Amor infinito que por eles passou e passa e que ainda hoje nos toca e inspira.
Em verdade, muitas destas pinturas consagradas pela Fátima a Inês de Castro e a Dom Pedro, na história e na iconografia, no mito e no mundo espiritual, bem contempladas, fazem-nos sentir, vislumbrar ou intuir o Sublime e ajudam-nos a querer ser mais ardentes e flamejantes como eles foram, ainda que trágica e sacrificialmente, abrindo veios para o ungimento nosso, aqui e agora, como Fiéis do Amor Divino e Cósmico, cada vez mais presente e vivido pelos seres da Terra...

quinta-feira, 23 de março de 2017

A demanda dos Anjos e da comunhão com o Anjo da Guarda.

                                                                                                                                                          

Os Anjos e demais Espíritos Celestiais, têm uma percepção muito melhor ou mais perfeita da Divindade do que os seres humanos e conseguem portanto receber e conservar um influxo, uma comunhão e presença bem maiores e, logo, não se desviarem da Harmonia, Providência, ou Vontade Divina, servindo-a, passando-a e partilhando-a em termos energéticos e psíquicos em todos os multidimensionais Universos em que estarão presentes...
O mesmo não se passa com os seres humanos, bastante menos abertos aos mundos espirituais e ao Ser Divino, demasiado identificados em geral ao corpo físico, demasiados pressionados ou stressados pela vida moderna e só intermitentemente e em certos casos tendo mais consciência ou percepção de tais níveis e seres.
Os Anjos e Arcanjos vivendo no mundo e fluxo vital e psíquico de sintonização mais espiritual e divina tentam partilhar com os seres humanos tal correnteza de Luz e o Amor divinos, ajudando-os a saírem das limitações da sua personalidade terrena, relembrando-os que também eles são cidadãos do Céu, mesmo vivendo encarnados na Terra.
Ora quem ora, medita ou contempla pode impregnar-se mais de tal consciência e receber o influxo dos Anjos, ao desejar abrir-se, por exemplo, ao Anjo da Guarda (nossa subtil companhia), e tornando-se assim um ser mais alinhado e luminoso e capaz tanto de se sentir como espírito como de contemplar os mundos espirituais e divinos, comungando em alguma medida da Consciência Divina, caracterizada em geral pelo Amor e Sabedoria, mas que é também Beleza, Pureza, Força, etc, etc. Cem Nomes lhe dão os Islâmicos, Mil e uma pétalas de qualidades Lhe assinalam os antigos yogis ditos clarividentes, miríades de espíritos (kami) o manifestam no Shintoísmo...
Orar com o Anjo significa então abrirmos-lhe mais o coração, comungá-lo mais intensamente e deixarmos impregnar-nos de mais influxos do Ser e Vontade Divina. E, por vezes, mesmo receber alguma graça de visão da Hierarquia Celestial ou mesmo das Faces da Fonte ou do Sol Divino Primordial...
                               
Quando pedimos a Deus que Ele nasça mais em nós, ou que se faça a Sua vontade em nós, estamos também a sintonizar com a essência do Anjo e a permitir que ele nos passe algo da sua contiguidade ou proximidade divina, em termos de inspirações,  imagens,  amor, pureza, caridade, desprendimento, alegria, devoção, lucidez, coragem...
Quando uma pessoa nos pede para fazermos algo num dia, nós guardamos a mensagem e no dia aprazado ela é realizada. Assim também o Anjo da Guarda, quando oramos, passa-nos certas energias ou mensagens, e por isso eles são chamados Mensageiros (Angeloi, em grego) e, ainda que não estejamos conscientes delas, durante o dia a dia vamos estar expostos a esse campo de forças transmitido e poderemos inspirar-nos e realizá-lo, porque ele está dentro de nós, no nosso amplo corpo de consciência e de energia e em comunicação transparente (maior ou menor, conforme a pureza do coração e da vida, e a atenção e sensibilidade) connosco...
Interrogar-nos sobre as funções dos Anjos, as suas actividades, os seus fins,  quando temos algum tempo para nos  interiorizarmos mais,  é importante, pois vamos trabalhar com as energias subtis do pensamento e da imaginação, as quais fazem de intermediárias com eles, pois se não acreditamos, se não lhes falamos ou cantamos, se não temos ou desenhamos qualquer imagem ou ideia deles, é bem mais difícil recebermos a visão, as inspirações, as bênçãos.
A clássica distribuição dos Anjos por nove classes ou níveis, e cada um deles com certas funções, e que proveio de uma sistematização de dados soltos e até contraditórios  do Antigo e do Novo Testamento, realizada pioneiramente pelo pseudo-Dionísio Areopagita e pelo o papa Gregório Magno, ambos no séc. VI d. C., embora bela e muito ordenada não nos dá certezas pois quase ninguém teve vivências dos níveis mais elevados deles. Cada um tem de descobrir por si mesmo o que consegue ver e receber e intuir, pelo que vamos considerar apenas os Anjos, mencionando além deles o Arcanjo de cada país e que existem ainda espíritos celestiais que sob a designação de Arcanjos adquiriram grande nomeada e culto.
Ora, quanto ao nosso Anjo da Guarda, o que faz ele podemos admitir que em grande parte depende de nós. Se lhe ligamos, se oramos com ele, ou seja, se fazemos petições pelo bem de seres ou de causas, ele tem mais actividade.
Certamente que, quando oramos à Divindade e Lhe damos graças, a as energias levitantes da alma angélica intensificam-se, batem mais, em especial quando lhe pedimos que levem as nossas orações e aspirações até à esfera Divina. Aliás podemos orar exclamando ou ciciando, qual mantra:«Anjo, Deus// Anjo, Divindade». Mas o que parece mais evidente é que fica a haver mais luz entre e  nós...
Certamente que uma das melhores orações é a da quietude amorosa com ele, quando conseguimos não nos dispersarmos por múltiplos pensamentos e sentimos o  amor por ele e como que vêmo-lo sobre nós, ou mesmo descendo e fundindo-se connosco, o que pode culminar na graça de o contemplarmos subtilmente.
Há aqui um trabalho dos chakras (centros de forças, subtis) do coração, do 3º olho e do cimo da cabeça. Mantermos mais a consciência de que lhe estamos a abrir o cimo da cabeça  ou o coração pode ser bem importante e luminoso e cada um o deverá sentir por si mesmo.
Certamente que as outras funções clássicas de porem a mão sob nós quando caímos, protegerem-nos em caso de acidentes ou de perigos, ajudarem-nos a suportar ou vencer as dores e doenças, acontecem sempre que a Providência Divina o permite.
O tentar ajudarem-nos sonhos, o tentarem segredar-nos perante cada pessoa ou situação a resposta ou reacção adequada, o aconselharem-nos nos momentos de indecisões, são também tarefas que realizam no seu amor por nós.
Ou ainda inspirarem-nos a encontrar as pessoas afins e frutíferas, os livros adequados, ou mesmo a abri-los na página certa.
Ou ainda para nos ajudarem a não entrar em excessos, e nesta linha poderemos lembrar-nos do Anjo ou Génio (em grego, daimon) de Sócrates que lhe dava sinal do que ele não devia fazer (pelo menos, pois noutras versões gregas dizia também o sim), o que significa entre outros aspectos (tal como o de atrasar e cogitar mais a decisão) que nas alturas em que estamos com dificuldades de tomar a melhor decisão, ou de inverter ou transmutar uma marcha energética (na Índia explicada nos três gunas de tamas, rajas, satva), a ligação ao Anjo, ou a chamada dele, podem ajudar-nos...
Quantos dos nossos sentimentos ou pensamentos podem ser mais inspirados por eles será uma questão que ficará a vibrar entre nós e eles....
Pensemos então mais no Anjo ou no Arcanjo com o coração, o sorriso, a aspiração, o silêncio, ou tenhamos mais frequentemente momentos de recolhimento no nosso recanto meditativo para sintonizarmos  e abrirmos os canais comunicantes com eles e com o Bem, a Verdade e a Divindade... 
Amen, Om, Hum, Hri...

domingo, 19 de março de 2017

Despedida do Inverno no seu último dia, 19 de Março. Fotografias das nuvens e céus lisboetas.


Arco-íris de passagem e continuidade luminosa. Contemplemos, comunguemos...


Extractos e níveis no Campo Unificado de energia e informação que nos inspira e onde temos o nosso Ser, para criativamente cooperar na Harmonia e Beleza do Cosmos Divino...

Estarmos mais conscientes nas cores das nossas almas ao longo da Primavera florida...

Árvores sagradas, ainda tão mal tratadas em Portugal em tantos casos...

Árvores divinas que ligam a terra e o céu, eixos do mundo e por onde se sobe e desce, tão cultuadas e protegidas no Shintoísmo nipónico e em tantos povos africanos...

Omkar Sat Nam Ek Omkar

Demos graças e amor ao Inverno natural benigno e oremos e lutemos para que o Inferno humano diminua na Terra e termine a desgovernação mundial...

Deixa a ave do teu espírito voar e descer sobre ti

Nimbos, coroas e coretos flamejantes. Chakra do alto mais resplandecente...

Transfigurações, em persa Xvarnah, Far, Khorreh

Raios e flechas ardentes de Amor Divino

Qual copa do Graal...

Toques de almas, subtis, beatíficos...

A processão e procissão de equinócios e solstícios, e sabermos darmos graças incessantemente, ou estar em postura, tensão e respiração de graça...

Dragão telúrico-celestial


Santo Antero, oremos com ele pela Justiça e o Bem na Humanidade


Nuvens viajantes com os seus habitantes...

Paz luminosa no céu e na terra, fim dos imperialismos e opressões. A criança-coala ao poder. Amor!

A Primavera (com as andorinhas) a chegar, dia 20, pelas 10:29. Seja Bem-vinda com os seus Espíritos celestiais (anjos e arcanjos) e da Natureza (sílfides e fadas, dríades e duendes).
Sintonizemos com eles, sejamos templos deles e do Espírito e da Divindade, em felicidade...

sexta-feira, 17 de março de 2017

"Contemplação", soneto de Antero Quental, do ciclo final de 1880-1884, comentado.

Antero de Quental, na fotografia de que mais gostava..
Contemplação é o título dum poema do ciclo final da estrutura organizativa dos Sonetos de Antero de Quental, estando portanto incluído, embora não datado, nos que foram escritos entre 1880 e 1884, em Vila de Conde, e dedicado ao seu conterrâneo, companheiro em Coimbra e grande amigo Francisco Machado de Faria e Maia (1841-1923).
O soneto, com um título elevado e difícil em termos de realização espiritual efectiva, pois podemos dizer metodologicamente que primeiro há a concentração (focalização de atenção mental em algo), depois a meditação (continuidade desse fluxo unitivo) e por fim a contemplação (visão da essência, unidade de quem vê com o que é visto), acaba contudo por revelar-se como fruto mais de uma sensibilidade desiludida e de uma visão intelectual da vida senão pessimista pelo menos triste e vazia, e assim contrastar com a ideia repetida de que os seus últimos sonetos (de 1883, 1884) seriam já uma antevisão de unidade entre espírito e matéria, unidade que ele continuaria a cogitar e a demandar, e mesmo a demonstrar melhor apenas no penúltimo ano de vida, no seu seminal texto Tendências gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, publicado em 1890 na Revista de Portugal.
Na ordenação dos sonetos da edição de 1886 realizada por Oliveira Martins, mas a ela anuindo Antero (saindo mesmo uma segunda edição, enriquecida de várias traduções, em vida do poeta),  este soneto é o quarto da série final, seguindo-se a um primeiro, Transcendentalismo, onde anuncia um "espírito impassível" que terá avistado acima do bem e do mal terrenos; e a um segundo soneto, Evolução, onde afirma a sua crença na metempsicose dos seres através dos vários reinos da Natureza, até se chegar ao estado em que o ser ergue os braços e aspira só à Liberdade;  e a um terceiro poema, o longo Elogio da Morte, composto de seis sonetos, nos quais (muito sumariamente resumidos aqui por mim) sente e poetiza a sua imaginação-visão da Morte como uma amada Beatriz (a amada e guia de Dante na Divina Comédia), de mão gélida mas consoladora e que no seu nível mais elevado simbolizaria  a Paz universal e o regresso ao Não-Ser, o qual seria o único Ser Absoluto, como ele afirmou ou pensava então.
Estamos a ver que as forças psico-espirituais convocadas ou trabalhadas para entrar no elevado nível da contemplação não eram as melhores: Antero de Quental, no término dos seus esforços, vai apenas, e já foi muito na época e pela demanda filosófica e social em que se embrenhou, conseguir aspirar a, e intuir, um nível psico-espiritual do Universo impassível e libertador, que é no fundo semelhante ao estado da morte,  e que fora apontado pelos textos budistas que lera e pelos filósofos do Inconsciente, embora de modos  vagos ou superficiais em relação, por exemplo, aos níveis de consciência mais elevados ou subtis conhecidos dos místicos ocidentais e dos mestres espirituais orientais e admitidos e estudados hoje  pela psicologia moderna transpessoal e outras.
Com a morte, acontece para ele,  um regresso ao Não-Ser, estado este que tem uma avatarização (da palavra sânscrita avatar, descida divina à manifestação), formalmente cristã no soneto final da ordenação do livro, mas que de facto foi escrito em 1882, Na Mão de Deus, devendo esta expressão e imagem ser vista dentro da realização por Antero de Quental de Deus  como Justiça, Libertação e Paz, e não tanto referindo um Ser divino pessoal (Deus), como ele aliás explica em duas cartas, a primeira a Alberto Sampaio, de Maio de 1882: «Fiz depois que aqui estiveste mais um Soneto, que aí vai. Não te assuste a palavra Deus. É um símbolo para exprimir uma certa coisa, que doutro feitio não caberia num verso. Pura liberdade poética.» E segunda a João de Deus, a 20-VII-1882: «E agora aí vai um Soneto. Será talvez o primeiro de que gostes por mais alguma coisa do que só pela forma. O meu pessimismo tem-se desvanecido com esta vida contemplativa no meio da boa natureza. Reconheci que andar por toda a parte a proclamar, com voz lúgubre, que o mundo é vão, era ainda uma última vaidade...».
Muito significativo este afirmar do abandono de uma visão niilista, pessimista ou mesmo "oriental" do mundo como ilusão, e a valorização, no meio de uma natureza boa (Vila do Conde, o oceano, a praia, a maresia),  de um certo tipo de contemplação, ou seja, de unidade sentida da alma tanto com o Cosmos como com um ambiente que se lhe revelava muito benéfico, saudável mesmo, como alguns dos seus amigos que o visitaram afirmavam em cartas...
Foi pena ter de abandonar Vila de Conde, onde esteve dez anos bem harmonizadores e até contemplativos,  com as últimas desilusões: a da falta de reacção política ao levantamento popular nortenho que ele liderara contra o imperialismo inglês, com o Ultimatum de 1890, e a da falta de perspectivas afectivas, ambas a contribuirem para afunilarem o seu percurso para uma trágica morte voluntária, entregando-se a esse misterioso Não-Ser no qual anteveria a paz, tanto mais que a sua ideia de ter cumprido a sua missão, ou melhor, de que pouco mais teria para fazer, com os seus desgastados nervos, para tal o inclinavam.
Oiçamos então o soneto Contemplação, que se segue ao Elogio da Morte, e que significativamente foi um dos dois escolhidos para adornar o excelente busto realizado por Canto Maia, para o jardim Antero de Quental em Ponta Delgada...
«Sonho de olhos abertos, caminhando 
Não entre as formas já e as aparências, 
Mas vendo a face imóvel das essências, 
Entre ideias e espíritos pairando... 

Que é o mundo ante mim? Fumo ondeando, 
Visões sem ser, fragmentos de existências... 
Uma névoa de enganos e impotências… 
Sobre vácuo insondável rastejando... 

E dentre a névoa e a sombra universais 
Só me chega um murmúrio, feito de ais... 
É a queixa, o profundíssimo gemido 

Das coisas, que procuram cegamente 
Na sua noite e dolorosamente 
Outra luz, outro fim só pressentido...» 

Realçaremos numa hermenêutica simples e espiritual, a rica expressão inicial de sonhar de olhos abertos e ir caminhando, já não por entre as formas materiais mas por entre essências, ideias e espíritos.
Este "sonhar de olhos abertos" tanto aponta para o sonhar no qual estamos conscientes ou mesmo bem lúcidos do que sonhamos ou vemos, como ainda para um acto imaginativo, no qual, de olhos abertos ele sonha, visualiza-se ou sente-se, caminhando por entre ideias e espíritos, ou seja entre vibrações, entidades psíquicas e seres. 

Poderia ainda referir-se ao olho espiritual aberto, o denominado 3º olho, mas não cremos que ele estivesse tão consciente de tal, embora certamente a sua capacidade visionária e imaginal possa ao longo da vida ter-lhe dado intuições, imagens ou fulgores rápidos de visão subtil...
Antero de Quental tem a franqueza de não dizer que é uma visão verdadeiramente clarividente e assim podemos deduzir que a sua descrição corresponderá em grande parte ao que ele sobretudo sente e pensa, e assim dá-nos uma visão de abertura ao mundo subtil intensa e sentida mas na qual, embora com uma alma ou psique bondosa e de compaixão e aberta ao universal e ao infinito, não consegue ver senão um umbral subtil do universo material transitório e perecível, sem alcançar o nível espiritual dele, pois não conseguira gerar e desenvolver em si vibrações e órgãos subtis correspondentes ou afins dos planos espirituais elevados.
Deste modo a descrição dada do Além e do mundo subtil e espiritual tem as suas limitações, deriva das suas leituras e tendências, experiências e configuração psico-corporal e portanto do seu difícil e doloroso caminho e demanda.
A visão que nos oferece é então por um lado niilista e pessimista, pois tem por base um vácuo insondável, um tipo de vazio correspondente ao Não-Ser, ao qual sobrepõe um mundo de névoas e sombras transitórias, donde só lhe chegam os gemidos das coisas e seres que contudo ainda assim, diz-nos ele, procuram outra luz e outro fim.

Há aqui a admissão, e é o lado luminoso deste poema, de que a Natureza procura a Luz e um fim perene, divino ou de Bem, algo que ele no início do soneto afirmou de certo modo para si mesmo quando disse: contempla, as faces imóveis das essências, por entre ideias e espíritos pairando, fechando com este final de aspiração à luz o círculo do soneto.
                                 
Podemos perguntar, que filosofias e autores, que leituras e conhecimentos estão por detrás desta tríade composta de ideias, essências e espíritos, que paira acima do vácuo e dos gemidos do mundo, e é certamente difícil de responder-se com segurança, embora possamos apontar o dedo aos filósofos gregos, nomeadamente Sócrates e Platão, ao Oriente e aos autores das suas leituras mais espirituais.
É valiosa esta tríade, com as essências vistas por Antero como imóveis e fixas (e que para outras visões não o serão), atribuindo depois o movimento de, ele, a sua alma ou a visão, pairarem por entre as ideias e os espíritos, aqui aludindo ao espaço onde elas têm a sua existência designado na Antiguidade como a Alma do Mundo, referida por vezes na sua obra e que de certo modo corresponde ao que é hoje denominado Campo Unificado de energia informação consciência. 
Antero de Quental também experiencialmente intuíra e deduzira tal das experiências de magnetismo e transmissão de pensamento em que participou ou que conheceu, tal como refere na conhecida carta a Carlos Cirilo Machado, enviada precisamente em 1886, de Vila de Conde, nomeadamente quando diz: «O magnetismo parece estabelecer uma unidade de consciência entre várias pessoas, ainda que separadas por grandes distâncias, de sorte que o que uma sabe, sabem-no as outras logo».
Talvez o verbo "pairar" aplicado às ideias e aos espíritos não seja o mais exacto, pois o dinamismo intrínseco (aliás bem valorizado nas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do séc. XIX) dos espíritos individuais fora de corpos físicos não os reduz a pairarem, notando-se assim uma certa visão do Além fruto de uma justaposição ou compromisso entre a dissolução no Não-Ser e um provavelmente relativo pairar dos espíritos por algum tempo, não na fase post mortem que é vivida frequentemente semi-consciência, mas como maneira de se estar ou sentir na leveza do corpo subtil. 
Não é de excluir contudo em  tal pairar  alguma sugestão bíblica do Génesis de descida do "espírito que pairava sobre as águas", embora precisamente nos tercetos finais do 2º soneto do Redenção, encontremos de novo o pairar, mas no sentido bem ascensional da tradição neo-platónica e mesmo da metempsicose oriental, como transcreveremos mais extensamente no fim: «Almas ... E pairando, já puro pensamento»...
Não poderemos pois dizer que tenha sido muito elevada a visão contemplativa luminosa alcançada ou gerada por Antero de Quental, embora seja a sua, sofrida e ansiosamente vivida e demandada, quem sabe se mesmo sacrificialmente enquanto consequência do envolvimento empático com todas as aspirações e demandas de uma época de embates e crises.
Seria melhor outra contemplação do mundo espiritual, mais luminosa, interactiva e unitiva, na qual estivesse mais clarividente e com o coração flamejante, em comunhão maior e mais dialogante seja com os espíritos seja com as ideias arquétipas primordiais, certamente desprendido das formas ilusórias.
Assim a sua grande alma, plena de compaixão e de solidariedade, de aspiração à liberdade e à justiça e, logo, ao amor, ao bem e à felicidade, apenas vê, adivinha, intui ou pressente nas coisas ou seres «que procuram cegamente/ Na sua noite e dolorosamente/, Outra luz, outro fim só pressentido...»
Anote-se que os sonetos seguintes desta edição definitiva ou completa dos Sonetos de 1886 são todos bem significativos no tormentoso desvendamento da busca de Antero, estando intitulados Lacrimae rerum e Redenção (que em manuscrito se chamara Panpsiquismo), dedicados a Tommasso Cannizzaro e a Celeste Batalha Reis, e sendo a Contemplação e a Redenção por ele valorizados em carta a Carolina Michaelis, de 25.X.1886, já que esta  notara "concordância" da sua poesia com o Hino ao Sol de S. Francisco de Assis e as epístolas de S. Paulo, replicando Antero que embora tendo lido o Hino e algo das epístolas de S. Paulo, «a concordância que V. Ex.ª. encontrou não pode ser senão fortuita, ou antes filha de um estado análogo daqueles grandes místicos. Justamente aqueles dois sonetos (Redenção), juntos com o outro (Contemplação) representam em forma de imagem e sentimentalmente uma das ideias fundamentais da compreensão das coisas, a que cheguei e em que fiquei, e que espero ainda desenvolver em prosa e com rigor de exposição filosófica». 
Será na carta a Jaime de Magalhães Lima, de 15-X-1886 que ele explicitará melhor a sua síntese do naturalismo e da natureza humana de modo a chegar ao mais «completo espiritualismo, a um panpsiquismo»  que ele intuíra reger dinamicamente tanto os seres como a Natureza, e que os faz encaminhar para o Bem e a Liberdade moral. 
Ressalve-se contudo ser o Lacrimae rerum  de uma desolação grande na busca de certezas e que só os dois sonetos da Redempção, esses sim (sobretudo o último), numa sentida imaginação, a partir da ânsia que já haveria nas coisas pelo espírito universal, e sendo por isso almas cativas suas irmãs, concluem numa ascensionalidade elevada ou libertadora, panpsíquica, e com o tal pairar: 
"Almas no limbo ainda da existência,
Acordareis um dia na Consciência,
E pairando, já puro pensamento,

Vereis as formas, filhas da Ilusão,
Cair desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim o vosso tormento."

Será na importante carta auto-biográfica a Wilhelm Storck, de 14-V-1887, que Antero de Quental explicitará melhor a sua filosofia, e como o espírito ou pensamento moderno «não pode sair do naturalismo, cada vez mais em estado de bancarrota, senão por esta porta do psicodinamismo ou panpsiquismo».
Possamos nós em comunhão com Antero de Quental e com os demais espíritos luminosos demandarmos, menos inconscientemente, alienada ou limitadamente, e mais amorosa, sábia e clarividentemente, a Luz, a Divindade, o Bem, a Realidade e, no caso prático, tentando volta e meia contemplarmos com algum tempo e concentradamente uma paisagem, um cristal, uma flor, uma pintura, uma ideia, o espírito, o anjo, o mestre, a Divindade...
   
Visão dos mundo espirituais pintada por Bô Yin Râ (1876-1943).

domingo, 12 de março de 2017

Giordano Bruno, "Dos Furores Heróicos", e com Antero de Quental e S. Francisco de Assis, panteístas, no jardim, zimboório e céus da Estrela.

 
Lermos um bom livro é ainda do que melhor se pode fazer num Domingo. No meu caso, hoje e em parte, no jardim da Estrela, em Lisboa, espaço paradisíaco que alberga uma evocação de Antero de Quental e patos conviviais, um aberto coreto e dois lagos refrescantes, além de criança e passeantes, flores, arbustos e algumas grandes árvores que aqui encontram protecção para as suas várias missões tão benéficas ao planeta e à humanidade...
O nosso Antero de Quental refere o sábio italiano Giordano Bruno (I.1548-17.II.1600), numa carta de Vila Conde de 5 de Setembro de 1886 para Tommazo Cannizaro, onde depois de agradecer-lhe os dois livros que recebeu sobre S. Francisco de Assis, de Luigi Palomes e Ruggiero Bonghi, afirma: «Considero-o [S. Francisco] como o primeiro dos precursores do espírito moderno, digo, o espírito moderno como representado por Bruno, Schelling e Hartmann, do Panteísmo espiritualista. Neste ponto de vista haveria um paradoxo (no fundo nada paradoxal) a desenvolver, que S. Francisco de Assis não fora cristão; e a fazer sobressair o contraste entre a sua concepção do mundo e da vida, toda ela dum optimismo poético e panteísta, e a trágica e sombria concepção pessimista da Igreja, de um mundo radicalmente mau e condenado por Deus»... 
Ora ler autores panteístas, que sentem ou reconhecem o influxo ou a omnipresença divina na Natureza num jardim, e da Estrela, é certamente sempre bom...
O livro que estive a ler e a meditar é um dos mais valiosos de Giordano Bruno, Dos Furores Heróicos, na edição bilingue franco-italiana da editora parisiense Les Belles Lettres, dada à luz em 1954, numa cuidada edição e tradução anotada de Paul-Henri Michel. Eis alguns pensamentos valiosos:
«Tal como acto da vontade que tende para o Bem não tem termo, assim é infinito o acto de cognição que tende para a Verdade»... 
Bem desafiante proposição de Giordano Bruno: a nós de conseguirmos destilar o elixir da persistente demanda da infinidade do Bem e da Verdade...
«O corpo não é o local da alma porque a alma não está no corpo localmente, mas como forma intrínseca e formador extrínseco, como formadora. O corpo está portanto na alma, a alma na mente-intelecto, e este intelecto-mente ou é Deus, ou está em Deus, como disse Plotino. E assim como por essência está em Deus, que é a sua vida, semelhantemente, pela operação intelectual e pelo acto de vontade consequente, relaciona-se com a sua luz e beatífico propósito [da Divindade]» Parte I. Diálogo III.
Que luzinha se terá acendido ou avistada de lá em cima, das nuvens no céu, ou na Alma do Mundo, no Campo unificado de energia-informação-mente, sinalizando que em Portugal alguém está a ler com studium aquela magnífica obra, publicada pela primeira vez em Paris, em 1585, numa audaciosa e bela  síntese humanista filosófica, teológica e espiritual, tão sábia e profunda na sua abordagem em diálogo das relações do corpo, alma, intelecto e espírito, nomeadamente a partir das suas potências de vontade, conhecimento e amor,  e que constituem a base do caminho espiritual do auto-conhecimento harmonizador e da religação divina..

Perante os pensamentos e desejos em dispersão ou luta, como se produz a conversão geradora de luz?
«Por três preparações, que o contemplativo Plotino anota no livro Da Beleza inteligível, das quais a primeira é propor-se conformar-se a uma semelhança divina desviando a vista das coisas que estão abaixo da própria perfeição e comuns às espécies iguais e inferiores; a segunda é aplicar-se com toda a intenção e a atenção às espécies superiores; a terceira, cativar toda a vontade e afecto a Deus. Porque disto recebe sem dúvida o influxo da Divindade, a qual está presente em tudo e pronta a interferir naquele que se volta com um acto do intelecto e se expõe abertamente com o afecto da vontade.» I parte, V Diálogo.

E Giordano Bruno, tão perseguido na Terra, como estará ele nos mundos espirituais? Chegar-lhe-ão alguns raios do meu ou seu agrado ou amor, esforço ou visão, levando-o a esboçar um leve sorriso? No Campo unificador das almas acima e por dentro de espaço-tempo linear, o que conseguiremos nós alcançar pelo coração espiritual, "o afecto da vontade" das Cavaleiras e Cavaleiros Fiéis do Amor?
Giordano Bruno foi um erasmiano e leu muito Marsilio Ficino, nomeadamente as suas traduções de Platão e Plotino, Jâmblico e Pitágoras, as quais cita com frequência... 
 
Um belo livro e da mais elevada espiritualidade que bem merecia ser traduzido em português e entrar mais no zimbório da grande Alma Portuguesa, tão aberta ao Universal e ao Infinito, ao Bem e à Verdade, valores que Giordano Bruno cultivou com grande coragem, pioneirismo e profundidade ...
«Pois que eu desfraldei as asas ao belo desejo/ Quando mais sob os meus pés descubro o ar// mais ofereço ao vento a minha plumagem rápida/ e menosprezo o mundo e para o céu me envio.///
E nem o fim trágico do filho de Dédalo/ faz com que eu retorne, antes mais me elevo./Que ele caiu morto na terra bem me recordo:/ Mas que vida se equiparará à morte minha?///
A voz do meu coração através do ar sinto [que frase maravilhosa...]
Onde me levas, temerário? desce
Pois raro é sem dor muito ardimento (ou audácia)///
Não temer, respondo eu, a alta ruína.
Fende seguro as nuvens, e morre contente;
Se o céu a tal ilustre morte nos destina.»
 
Este poema, da Prima parte, Dialogo III, revelou-se profético quanto ao seu destino e morte, como mártir do conhecimento, da verdade e da liberdade...
A nós de o lermos e meditarmos mais, para comungarmos com o seu alto espírito imortal e ganharmos forças para as lutas contras as forças manipuladoras, opressivas ou mesmo destrutivas de tantas almas e grupos, meios de informação, instituições e Estado.
Saibamos contemplar os níveis superiores e mais harmoniosos e sob tal influxo mais claramante divino vivermos e agirmos, em lutas vitoriosas sobre nós e as narrativas tendenciosas que nos tentam impor, persistindo destemidamente na comunhão com o Infinito bem, como Giordano Bruno, S. Francisco de Assis e Antro de Quental tanto demandaram e realizaram!