Nadia Bagiolli, a mulher de Carlos Barroco, e outro fiel amigo da galeria e das inaugurações, com o José Fabião, sócio inicial da galeria e notável fotógrafo. Ao fundo, a mesa contendo o meu texto manuscrito: O Amor é cego mas imortal e imortalizante, e que é um aprofundamento do amor e em diálogo de dedicação ao Carlos, onde quer que ele esteja, sorridente, e que transcrevo:
O AMOR É CEGO mas IMORTAL e IMORTALIZANTE.
«Todos nós, peregrinos ou peregrinas pelos mundos manifestados, devemos testemunhar a perenidade artística do Amor e que ele, apesar de cego, é imortal e imortaliza.
Este texto nasce para a exposição de homenagem, de 22 artistas incarnados e desencarnados, ao Carlos Barroco, o qual, muito amando criativamente, partiu recentemente para a Fonte do Amor, da qual todos nós recebemos o ser e aonde todos regressaremos, mais ou menos cegos e clarividentes pelo Amor criativo que manifestarmos e que o Carlos Barroco tão multifacetada e coloridamente partilhou.
O Amor é chama do Coração e fogo da Unidade envolvente e que se desenvolve na reciprocidade de desejar e querer, de sentir e ver, de moldar e acolher, em especial o bem, a especificidade única de outro ser, acto ou objecto.
O Amor é então um estado de transparência, de abertura, de acolhimento e por isso se diz que ele é cego pois cega-se para o que não seja o processo metamórfico de visão criativa e amorosa que o inspira e anima ou entusiasma e transfigura.
O Amor é o ver pleno, sem medos, desconfianças ou barreiras, entre dois seres ou entre um ser e um processo criativo, numa corrente do mesmo querer de bem e beleza que nos atravessa e nos unifica.
O Amor é cego e imortal porque, não podendo ainda ver bem quem ama ou o que ama, luta criativamente por atingir a proximidade e a unidade com a ideia ou imagem, objecto ou ser, desejado ou por manifestar.
O Amor paixão é dos mais intensos e imortalizantes estados do Amor pois, ao arder intenso na alma e corpo, ilumina-nos de belas visões e impulsos e derrama através de nós os seus anseios e raios criativos e unificantes, introduzindo-nos no mundo ardente, fecundante ou mesmo extasiante do Amor.
O Amor é perene pois desperta em nós a vontade de mais amar, a qual, não tendo fim, à hora da morte nos imortaliza. Assim os que mais amam, ou que exercem mais a sua vontade criativa, vão obtendo acesso ao mundo do Amor e do Espírito e intensificando o seu corpo glorioso psico-espiritual, com o qual vencem a morte do esquecimento e voam nas asas desenvolvidas em si e nos que os amam.
O Amor é cego porque quanto mais arde mais subtis, belos e invencíveis são os seus raios e emanações, de tal modo que o olhar contempla interiorizado e o olho espiritual aberto e vendo a Luz ama melhor o outro e torna-o transfigurantemente presente, na comunhão do Amor Sabedoria divina, a energia consciência substancialmente unificadora de todos os seres e fenómenos.
O Amor é cego e imortal porque fechando os olhos ao que o possa diminuir, ou desviando-os do que o possa tolher, alcança a essência do outro e une-se a ela no Amor imortal e Divino.
O Amor no Carlos Barroco foi uma constante da sua vida. Era cego ao que não era Amor e a sua busca de mais amor levou-o à criatividade irradiante do Amor primordial na arte que criava, na Nadia, a mulher e companheira plena que amava, nas terras e amizades que cultivava e na galeria Novo Século que animava.
Pelo Amor, confluímos todos para esta galeria Novo Século, constelada de estrelas e vale ou monte de tantos momentos de arte e beleza, diálogo e fraternidade e, peregrinos na mutabilidade das amizades, formas e ocupações dos espaços, erguemos o Graal do nosso coração e oferecemos ao Carlos os raios mais sentidos e criativos, coloridos e musicais que o nosso amor, no infinito Amor, possa gerar, imaginar e irradiar.»
Pedro Teixeira da Mota. 17-9-2015.
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