É
em Novembro, 17, que se comemora merecidamente o fim da meteórica passagem
terrena de Giovanni Pico della Mirandola (ou João Pico de Mirandula)
pois, tendo nascido numa manhã de Fevereiro de 1463, no condado de
Concórdia, entre Ferrara e Mântua, e morrido uns escassos 31 anos
depois, em 1494, em Florença, deixou contudo um tal rasto luminoso que ainda
hoje quem entra em contacto com a sua obra, vida e espírito não pode deixar de entusiasmar-se com o seu ardor e sabedoria, bem como amá-lo ou pelo menos admirá-lo pelo Amor em que se consumiu...
Nomeado
protonotário apostólico aos 10 anos, a pedido de sua mãe aprendeu
Direito Canónico desde os 14 anos na Universidade de Bolonha mas,
com a morte dela em 1478, resolveu estudar em Ferrara pois o que gostava mais era de Retórica e Poesia. Em 1480 está em Pádua não só recebendo o
magistério aristotélico e averroísta do sábio Ermolau Barbaro,
como o hebraico de Elia del Medigo, para os seus estudos do Antigo Testamento, em especial o Genesis, acerca do qual editará mais tarde um profundo e imaginativo comentário, o Heptapulo, ou Discurso sobre os sete dias da criação
Em
1484, a convite do médico e filósofo Marsilio Ficino e de Lorenzo de Medici, o
governante de Florença, Pico chega a esta urbe, então um centro de
grande vitalidade artística e com desígnios de renovadora
universal, na base duma simbiose entre a investigação
(arqueológica, científica), a filosofia (sobretudo a neo-platónica)
e a arte, onde se destacam o Studio, onde Policiano brilhava com a
sua sensibilidade e alegria, e a Academia Platónica, da vila de Careggi,
idealizada pelos Medici e por Marsilio Ficino, e onde dialogaram artistas como Botticeli, Verrochio, Ghirlandaio, Leonardo da Vinci, Lippi,
Fancelli, Fillipino e Alberti.
Fresco pintado em 1488, com Pico ainda vivo, no meio de Ficino e Poliziano, por Cosimo Roselli e ainda hoje contemplável na igreja de Sant'Ambrogio, Florença... |
Sempre
na busca do conhecimento mais elevado, em 1485 Pico parte para a Sorbonne, a Universidade de Paris, onde assiste
ao fervilhar de ideias e discussões que caracterizavam o
funcionamento daquele grande centro cultural europeu. Em 1486
regressa a Itália e tem a sua aventura amorosa com uma bela dama
casada, Margarida, que lhe pediu para a raptar. “Volúpia breve e
exígua”, pois é alcançado no mesmo dia e, depois duma renhida
batalha contra um número superior nas hostes adversárias, tem de a
entregar.
Recolhe-se
então em Perugia, aprofunda os estudos filosóficos, teológicos e até esotéricos e inicia-se no Caldaico, com Mítriades, fazendo rápidos
progressos devido à sua excepcional inteligência e capacidade de
memorização. Com a sua exuberância juvenil, aliada à sua sede
inexaurível de sabedoria, desembocava nas nascentes fabulosas da
sageza antiga e o desejo de não só aprofundar e esclarecer essa
Filosofia Perene, como o de estabelecer a concórdia entre todos
os diferentes filões da mesma Tradição, emerge poderoso na sua
alma.
Nasce
então, da sua alta visão interior e concepção do ser humano, e do seu ardor
optimista de elevação à Verdade e à Divindade, uma das mais belas obras do
Renascimento, A Oração da Dignidade do Homem, uma apologia breve, escrita em 1486 mas só publicada em 1496, e que serviria de introdução ao seu projecto de discussão universal de 900 conclusões ou teses, na qual a posição ímpar do ser humano no Universo,
capaz de união com o Pai ou de degradar-se ao nível animal, é
transmitida com bastante intensidade e mística, apoiada nas
diversas tradições e metodologias espirituais e certamente nas suas intuições. Começa
assim:
«Li, Padres muito
veneráveis, nos textos Árabes, que interrogado o sarraceno Abdallah [pensa-se que fosse um tradutor árabe de obras persas]
sobre o que lhe parecia de admirar mais neste quase palco do mundo,
respondeu que nada lhe parecia mais admirável do que o homem,
sentença esta de acordo com o que exclamou Mercúrio: Magno, ó
Asclépio, milagre é o ser humano.»
Comenta
ainda na mesma época, com grande entusiasmo e profundo conhecimento, uma
Canção de Amor que o seu amigo Girolamo Benivieni
compusera, resumindo a filosofia de amor de Platão e de
Ficino, diferenciando-se em certos aspectos das posições do seu
grande amigo e inspirador da famosa Academia Platónica florentina, Marsilio Ficino.
Acerca do Amor celeste e Divino diz-nos, numa linha ascensional que liga o ser humano ao ser angélico, sobretudo pela sua capacidade de contemplação:
“A
beleza corporal exterior encoraja sobretudo a contemplar-se a da
alma, donde nasce e provém a do corpo. Ora a beleza da alma é uma
participação na beleza angélica que se eleva cada vez mais à
medida que se atinge um grau mais sublime de contemplação, de tal
modo que se chega à fonte primeira de toda a beleza, a Divindade...”A obra de Girolamo Benivieni comentada por Pico... |
Escreverá ainda nesse seu magistral trabalho: “já explicamos que o Amor
Celeste é um apetite intelectual e como em toda a alma bem
constituída, todos os os outros apetites devem ser governados por
esse; ora este governo, como se se diz no Fedro [e na canção de Benivieni “Amor que nas suas
mãos/segura alto o freio do meu coracão"], é representado pelo
freio. Diz então que o seu coração é refreado ou jungido pelo Amor;
noutras palavras, cada um dos seus desejos depende do Amor; onde ele
diz “coração” entenda-se, conforme está nos Livros Sagrados,
que se atribui as operações das potências cognitivas da alma à
cabeça e as apetitivas ao coração.”
Na
valiosa aproximação de Pico della Mirandola à harmonia das capacidades e níveis
do ser humano, e ao desabrochar do Amor Celestial, realçemos o valor dado à invocação do Amor. ou chama amorosa inspiradora do
poeta e de quem aspira ao Bem, a Deus ou à Verdade e que, quando o Amor se acende mais em nós, ou desce sobre nós, ao nosso ser, peito e coração espiritual, é para nos envolver, fazer arder e elevar-nos à Unidade e à Divindade.
Mas
onde trabalha mais nesses anos de 1486 e 1487 é no conjunto de 900 conclusões ou
teses, resumindo as principais doutrinas de todos os tempos, dos
egípcios e gregos aos persas, hebreus, latinos e árabes, provando o seu valor
intrínseco, concordância e catolicidade (ou universalidade).
Uma edição quinhentista das 900 Conclusões ou Teses |
Traduzamos
as seis primeiras das "dez conclusões segundo a prisca (ou vetusta)
doutrina do egípcio Hermes Trismegisto":
1-
Onde haja vida, aí está alma; onde haja a alma, aí está a mente.
2- Tudo o que é movido é corporal, tudo o que move é incorporal.
3- A
alma no corpo, a mente na alma, o verbo na mente e o pai destes,
Deus.
4-
Deus está cerca de tudo e por entre tudo; a mente cerca da alma, a
alma cerca (ou à volta, em latim circa) do ar, o ar cerca da
material.
5- Nada há no mundo sem vida.
6- Nada no universo é passível de morte ou de corrupção. - Corolário: ubíqua é a vida, ubíqua é a providência, ubíqua a imortalidade.
7- De seis modos Deus denuncia ao homem o futuro: por sonhos, portentos, aves [voo], as estranhas [examinadas], espírito e a Sibila.»
5- Nada há no mundo sem vida.
6- Nada no universo é passível de morte ou de corrupção. - Corolário: ubíqua é a vida, ubíqua é a providência, ubíqua a imortalidade.
7- De seis modos Deus denuncia ao homem o futuro: por sonhos, portentos, aves [voo], as estranhas [examinadas], espírito e a Sibila.»
[Veja ainda outras teses em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2023/08/pico-della-mirandolaas-teses-de-egidio.html]
Viajar ou comunicar sob as bênçãos ou inspirações de Pico... |
Tencionava
convidar (com as despesas pagas de viagem... ) quem quisesse
discutir as 900 Conclusões ou Teses, a Roma. A Cúria romana assustou-se
e o papa Inocêncio VIII, depois de consultar uma comissão que
considerou treze das teses heréticas, e insuficientes ou mesmo semi-heréticas as explicações que Pico ofereceu numa Apologia, proibiu-a por bula em 4 Agosto de 1487 devendo-se
queimar as cópias manuscritas já impressas, e excomunga Pico della Mirandola.
A desilusão deste foi grande e teve de abandonar Roma a toda a pressa. Acabou por ser detido por ordem do Núncio apostólico, já depois de ter estado nos Países Baixos, por Filipe de Sabóia, em França e ficou preso
no castelo de Vincennes. Acabará por ser libertado graças à
acção de Lourenço de Médici e de Clara Gonzaga e à adesão do rei de França Carlos VIII.
Refugiado
no ambiente liberal da Florença de Lorenzo de Médici, o
Magnífico, seu admirador e protector, Pico della Mirandola continua os seus estudos espirituais explicando simbolicamente os
sete dias da Criação do Génesis, no Heptaplus, uma obra à partida dificílima tais as limitações do Génesis ser uma manta de retalhos de tradições, imaginações e simbolismos, e sobretudo quando se tenta interpretar cabalísticamente, em que qualquer coisa pode significar tudo. (Mesmo assim há explicações valiosas, das quais dei eco em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2017/08/ensinamentos-de-pico-della-mirandola.html) Numa carta da época descreve, possivelmente já a trabalhar na sua próxima obra, o seu dia a dia: «de
manhã aplico-me assiduamente na concordância de Platão e
Aristóteles, as horas da tarde são para os amigos, e a recreação
do espírito através da leitura de obras literárias, e as horas da
noite reparto-as entre o estudo dos textos sagrados e um breve sono».
Em 1491,
depois de vender grande parte dos seus bens ao sobrinho João
Francisco Pico (que escreverá uma piedosa biografia do tio,
traduzida para inglês por Thomas More), viaja com Policiano e Critino visitando
várias bibliotecas, então verdadeiros e plenos templos da Sabedoria e da Divindade. Em 1492 publica o De Ente et de Uno, no qual desenvolve a identidade entre o Ser e o Uno e como ambos estão
e são na Divindade, dedicado ao seu grande amigo, o retórico e poeta, Angelo Policiano (que teve alguns alunos
portugueses e autor de uma longa e entusiástica carta ao D. João II), que lhe responderá assim: «A posterioridade narrará um dia
que houve um certo Policiano, o qual foi tão estimado que mereceu
que o Pico, luz de todo o saber, falasse dele num belíssimo livro,
que trata das coisas sublimes. Rendo-te pois, pela imortalidade,
graças imortais».
Ficino, Pico e Poliziano |
Entretanto
em 1493 morre prematuramente Lorenzo, o Magnífico, e em Ferrara recebe a
notícia da eleição do novo papa, Rodrigo Bórgia, um humanista e
esteta, o que pressagia a sua absolvição e a realizar-se de facto, liberta-lo-a de um certo pesadelo realmente singular: um excomungado andar vivo e livre tanto anos. Entretanto Ermolau Bárbaro, grande retórico e sábio, morre
também e Pico sente-se mais isolado, aumentando a sua convivência
com o austero reformador Savonarola, o qual se torna quase o mentor e
líder de Florença, impulsionando Pico no ascetismo e pietismo cristão...
É só em
Agosto de 1493 que sai o breve de Alexandre VII absolvendo Pico della Mirandola,o qual,
feliz, e pouco se sabe do desgaste que a excomunhão lhe provocara, passa logo a escrito as suas últimas vontades, nomeando testamenteiros Policiano e
Savonarola, e entrega-se a uma vida cada vez mais retirada do mundo.
Resolve então, sob a inspiração ou impulsão de Savonarola, que
censurava e atacava fortemente tudo o que lhe parecesse paganismo, escrever um
tratado contra a vaidade e a superstição dos astrólogos, as Disputationes adversus astrologiam divinatricem, os quais se
gabavam de poder conhecer os destinos do ser humano, e põe em causa na obra não as influências dos Astros mas a capacidade de através do conhecimento delas se poder determinar o curso dos acontecimentos das vidas humanas. Esta polémica chegará até Portugal e à corte da rainha D. Leonor, com a obra de Frei António Beja, Contra os Juizos dos Astrologos, impressa por Germão Galhardo em 1525, em Lisboa, e foi nos nossos dias por José Vitorino de Pina Martins bem estudada e divulgada.
Uns meses
depois, em 1494, uma febre prostrava Pico della Mirandola no leito da morte, e será certamente numa ardência amorosa de aspiração à Divindade e ao Uno que atravessou a porta do umbral neste dia de 17 de Novembro, em 1499.
Que muita luz e amor circulem entre nós e ele, agora e sempre, Amen...
Pese a ligeireza de algumas das suas teses ou a imaginação mistificador cabalística das suas explicações do começo do Universo segundo o Genesis, o seu valor como pioneiro da Filosofia Perene e da
unidade das Religiões e Tradições, bem como as suas aproximações ao Amor, Beleza, Liberdade e Verdade, serão valiosas perenemente...
Opera Omnia, Obra Completa, de Pico, numa edição veneziana de 1556 |
Para Pico della Mirandola, o Amor é a inclinação para o objecto do seu desejo, que é o Bem
ou o Belo. A Beleza é a proporção justa, o brilho, a harmonia que
resultam da combinação ou mistura de diferentes elementos. Por
causa disto, diz-nos, o grande contemplativo Plotino pensava que a palavra Eros, Amor,
derivava de orasis, que significa visão.
Dois
tipos de visão se distinguem, a do mundo visível e a do mundo
invisível ou inteligível, o qual abrange as ideias, os seres
angélicos, a Divindade, e que é visto pela inteligência ou visão
espiritual. Há portanto dois amores para Pico, o engendrado pela
Vénus ou Beleza terrestre, e o da Vénus Celestial, o desejo por
parte da inteligência da Beleza ideal. Será da Divindade que o ser
humano pode receber a perfeição da Beleza máxima.
Medalha de Pico, com as três Graças: Pulcritude, Amor e Volúpia |
Para
Pico as Três Graças eram consideradas as servas do Amor e
representavam a juventude, o esplendor e a alegria... Ou seja, a
capacidade de permanência e duração duma coisa ou ser na sua
integralidade. A iluminação da inteligência e a movimentação da
vontade para alcançar essa beleza, e a resultante felicidade, ou
alegria, ao ser atingida.
Três
graus principais podemos ainda distinguir no amor humano: primeiro, o amor da
beleza exterior e corporal. Em seguida, o da imagem dessa pessoa ou
coisa que amamos em nós sempre que a queremos pela imaginação. E, finalmente, a visão da Luz divina, através do nosso amor
universalizado, no coração, e que nos eleva, ora súbita ora gradualmente para a sua
Origem ou Fonte Divina.
Pico
realçava assim que a grandeza do ser Humano estava no objecto do seu
livre arbítrio ou desejo, que criativamente o pode degradar em
formas inferiores brutas, ou o pode regenerar em formas superiores,
divinas, nomeadamente até unus cum Deo spiritus factus, ser feito um
espírito com Deus, como culmina a ascensão humana no início da Oração
da Dignidade Humana…
Eis um
brevíssimo resumo biográfico daquele que veio a ser chamado «a mais pura
figura do humanismo cristão», e que, ao que consta, transparecia a
beleza angélica, como podemos ver na relativamente abundante iconografia,
nomeadamente, na famosa pintura de Cosimo Rosseli, na igreja de S.
Ambrósio, em Florença, pintada ainda em vida de Pico, e numa
pintura do século XVI (provavelmente inspirada num fresco em Veneza,
hoje perdido, de Bellini ou de Carpaccio, seus contemporâneos), que
foi estudada por um dos melhores conhecedores de Pico e do Humanismo, o prof. José
Vitorino de Pina Martins, encontrando-se hoje na posse da sua filha Eva Maria, em Portugal, onde aliás já desde o século XVI há sinais da influência de
Pico, nomeadamente nas obras de Aires Barbosa, Frei António Beja,
Garcia da Orta, Sebastião Toscano, Coelho Amaral, Frei Luís de
Granada, etc.
De facto, entre os amigos da perenidade de Pico della Mirandola, cabe destacar inegavelmente o investigador e professor, e durante muitos anos Presidente da Academia das Ciências de Portugal, José Vitorino de Pina Martins, um grande estudioso e amador de Pico, Erasmo, Thomas More, Sá de Miranda, Camões, Pascal, Antero, etc. Com ele convivi bastante, e confidenciou-me mais de uma vez a fortíssima impressão sentida (talvez de já ter estado noutra vida em Florença, admitia) quando entrou pela primeira vez na basílica principal de Santa Maria Maior, onde se encontram os restos mortais de Marsilio Ficino...
Marsilio Ficino, no seu busto na parede da Basílica Maior, em Florença |
O inglês Jesup, na sua obra
The Lives of Picus and Pascal, 1723, Londres, impresso
por W. Burton, explica-nos que Pico della mirandola, na linha pitagórica e que ele
tanto apreciava, “nunca estimou os ricos e os poderosos por o serem
assim, mas as marcas de Honra, Piedade e Virtude sempre prenderam a
sua afeição às pessoas em que apareciam”. E que costumava
dizer «que a liberdade de acção e da mente devia ser estimada
acima de todas as coisas, e que para a gozar, nunca residia muito
tempo no mesmo lugar». E que «A mais pequena propensão para a devoção amorosa era preferível a tudo o que o homem pudesse conhecer». Ou ainda: «Nunca conheceremos a Divindade, nem as obras da sua criação, enquanto não A amarmos».
A Oração, [apologia ou discurso] da Dignidade Humana é uma obra muito bela e nela encontramos valiosas descrições ascensionais do ser humano. Oiçamos algumas para finalizar:
"E, se não ficar contente
com a sorte de qualquer criatura, se recolher ao centro da sua
unidade, feito um espírito com Deus, à sombra do Pai, que está
acima de todas as coisas, a todas antecederá...
"Quem portanto não
admirará o nossa camaleão? Ou de outro modo, quem poderá admirar
mais outrem? Asclépio ateniense não errou ao dizer que nos
Mistérios, devido à sua natureza mutável e susceptível de se
transformar, se designa este ser por Proteu. Daí as metamorfoses
célebres dos hebreus e pitagóricos. Por um lado, a mais secreta
teologia dos hebreus transforma tanto Henoch num santo anjo da
Divindade, chamada Malak háshekinah, tanto outras personagens
noutras divindades. E os pitagóricos, os celerados em brutos. E, se
acreditarmos em Empedocles, em plantas..."
"Se vires um filósofo
discernir todas as coisas segundo a correcta razão, venerai-o: é um
ser celeste e não terreno; se virdes um contemplador puro, liberto
da preocupação corporal, retirado no santuário do espírito, já
não se trata dum animal terreno ou celestial, mas de uma divindade
muito augusta circumvestida de carne.»
Em 1998, em homenagem aos 500 anos da viagem de Vasco da Gama e aos principais artífices da ligação do Oriente e do Ocidente, publiquei o:
nele inserindo esta notícia, entre outras efemérides do dia 17 de Novembro:
"Em
Florença, a bela, assistido pelo austero Savonarola, em 1494, Pico
della Mirandola, o príncipe dos humanistas, abandona o corpo rumo
aos planos elevados da Divindade. Na lápide da sua sepultura ressoa
inscrito: «Aqui jaz Pico della Mirandola. O Tejo e o Ganges
conhecem-no, e porventura os antípodas». O historiador das Décadas da Ásia, João de Barros terá
talvez pensado nisto quando diz que os portugueses ultrapassaram
tanto «as próprias fábulas da gentilidade grega e romana, que vêm
a ser antípodas da própria pátria, e se Deus tivera criado outros
mundos, já lá tiveram metido outros padrões de vitória;
contendendo os perigos do mar, trabalhos de fome e de sede, dores de
novas enfermidades, e finalmente com as malícias, traições e
enganos dos homens, que é mais duro de sofrer». Embora tendo uma vida muito activa inicialmente e depois a sujeição alguns anos à tenebrosa excomunhão, a odisseia de Pico foi mais no mundo das
ideias, das religiões e do espírito, tentando descobrir e provar a unidade do
Aristóteles ocidental com o Platão oriental, e a Filosofia Perene
que caldaicos e persas, gregos, árabes, judeus, cristãos e de outras religiões tinham e têm em comum."
Om, Lux, Amor, Pico della Mirandola|!
5 comentários:
Magnífico texto! Parabéns!
MAA
Muitas graças, Maria Augusta.! E fez-me reler o texto e corrigir algumas gralhas... :)
Parabéns pelo excelente texto sobre este Cavaleiro do Neoplatonismo Puro e Original ( de Plotino e do Corpus Hermeticum) e da Doutrina Neoplatónica do Amor.
Parabéns pela resenha histórica. Ainda mais por envolver Florença, os Médicis, sábios perenes; e o formidável Pico culminando com o hermetismo para uma definição global, em poucas palavras ....tudo. Apenas uma ressalva, pela época o rei de França era Carlos Vlll.
Muitas graças, Lucia. E pedido de grande desculpa por este atraso grande de agradecimento pela sua simpatia e conhecimento, mas só hoje vi o comentário, e vou entou corrigir o texto. E fundei uma página no Facebook: Pico, Ficino, Erasmo, Góis e Pina Martins, onde poderá cooperar....
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