Bô Yin Râ, aliás Joseph Anton Schneiderfranken, nasceu em Aschaffenburg, perto de Frankfurt am Main, em 25 de Novembro de 1876, às 2:00 da manhã, numa família de agricultores e artesões, o pai Joseph Schneiderfranken e a mãe Maria Anna Albert. Aos treze anos, quando estudava na escola de Merian, em Frankfurt, foi obrigado, pelas dificuldades familiares, a abandonar os estudos secundários e a trabalhar como torneiro mecânico durante dois anos.
Conseguiu porém inscrever-se e estudar três semestres, mas de 1892 a 1895, no Städelsche Art
Institute, em Frankfurt, trabalhando em seguida de Outubro de 1896 a Abril de 1898 nos estúdios de arte do Teatro Municipal, de Frankfurt. Na época, através de um familiar, entrou em contacto com o notável pintor Hans Thoma (1839-1924), que, gostando tanto das suas paisagens e desenhos, o tomou por discípulo gratuitamente durante ano e meio, apoiando-o ainda depois.
Relacionou-se ainda com dois pintores importantes que o apreciaram e apoiaram: Fritz Boehle (1873-1916) e o genial Max Klinger (1857-1920), este elogiando muito a sua visão espiritual pictográfica e influenciando-o em certo tipo de desenhos e gravuras.
Formou-se finalmente no Städelsche Art
Institute em 1899 e estudou depois pintura em Viena de 1900 a 1901, com breve passagem por Munique, onde conviveu com o pintor Gino Parin (1876-1944). Estuda em Paris em 1902 na importante Académie Julian (fundada em 1867), onde tem como professores Tony Robert-Fleury (1837-1911), especialista em cenas históricas, e Jules Joseph Lefebvre (1836-1911), um simbolista, regressando a Viena no ano seguinte.
Psyché ou, mais literalmente, Pandora, de Jules Lefebvre. |
Em 1903 casara-se com Irma Schönfeld (nascida em 1876), de Viena, mas que, de saúde frágil e diabética, morrerá cedo, em 1915, e sem descendência.
O local da Academia Platónica, junto a Atenas. |
Envia para Leipzig o esboço do seu primeiro livro, intitulado Licht vom Himavat, Luz de Himavat, a que se seguirão mais três pequenos, no número de páginas, publicados entre 1914 e 1917 por Hugo Vollrath (1877-1943), um editor artista e ocultista, ostentando como autor apenas as iniciais BYR. Os quatro, com algumas modificações, serão integrados no Livro da Arte Real, para o qual tinham sido idealizados. É nestes anos que escreve alguns dos livros publicados posteriormente, tais como o Livro do Deus Vivo, O Livro do Homem, Mais Luz, Livro dos Diálogos.
Regressa a Munique, onde vive até ao começo da 1ª grande Guerra, com uma ida pelo menos a Paris, tendo René Guénon sido informado por Hiran Sing, ou Swami Narad Mani (um indiano muito crítico da Sociedade Teosófica e de Helena Blavatsky), como sendo o único representante na Europa de uma importante fraternidade espiritual oriental.
Alistado para a 1ª grande Guerra em 1916, serve na Prússia e depois em 1917 já na Silésia, em Görlitz, como intérprete de prisioneiros gregos. Pinta e desenvolve actividade cultural nessa cidade onde vivera desde 1599 o místico Jacob Boehme (1575-1624). E casa-se em 1918 com Helene Hoffmann (1887-1978), de Görlitz, cujo marido perecera na guerra, e que tinha duas filhas, Ria (1909) e Ilse (1912), nascendo do casal, em 1919, Devadatti (que ainda visitei e conheci na casa de seu pai em Lugano, nos anos 90, conforme: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2021/12/visita-e-dialogo-com-filha-de-bo-yin-ra.html).
Helene Hoffmann e as suas duas filhas. |
Como esteve de 1917 a 1923 em Görlitz, expôs uma série de paisagens naturais e arranjos florais, em 1919, no museu Kaiser-Friedrich. Nessa época viviam e trabalhavam na cidade valiosos artistas expressionistas e com eles se deu, sobretudo com Fritz Neumann-Hegenberg (que chegou a escrever um livrinho Die deutschen Mantra des Bo Yin Ra), e ainda comWilly Schmidt, Johannes Wüsten, Dora Kolisch, Walter Deckwarth, Arno Henschel e Walter Rhaue. Em 1920 fundou a Sociedade Jakob Böehme, pois considerava este escritor hermético e místico um dos verdadeiros mestres da humanidade. E em 1921 expõe na galeria da Sociedade vinte pinturas de vistas ou perspectivas dos mundos espirituais, a que chamou "quadros metafísicos", fundados nas suas vivências espirituais, e que virão a ser incluídos no livro tão importante quão belo Welten, Mundos.
Durante os anos de 1920 a 1922 publica mais livros através Kurt Wolff. Em 1922 passa duas semanas na paradisíaca ilha de Capri onde escreverá o livro Geheimnis, as Conversas secretas.
O lago de Lugano, visto da encosta da casa, e hoje fundação museu, de Bô Yin Râ. |
Conhecera nesse ano de 1923 o Dr. Alfred Kober-Staehelin (1885-1963), editor de Basileia, o qual começa em 1927 a publicar em exclusivo na sua editorial Köber Verlag as obras de Bô Yin Râ e acerca de quem deixará os seus testemunhos em Meine Stellung zu Bô Yin Râ, de 1930, e Weshalb Bô Yin Râ? de 1931.
Dos seus amigos ou discípulos mais conhecidos destacaremos ainda o barão siciliano ou melhor napolitano Roberto Winspeare (1887-1954), seu primeiro tradutor para a língua francesa e autor em 1932 de uma conferência em Paris acerca de Bô Yin Râ (resumo em: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2018/11/o-barao-robert-winspeare-apresenta-o.html:), Rudolf Schott, um seu biógrafo, os músicos e compositores Eugen d’Albert (1864-1932), Egon Wellesz (1885-1974) e Felix Weingartner (1863-1942), este tendo publicado uma boa introdução à sua obra em 1923, Bô Yin Râ. Já em 1994, Otto G. Lienert publicará na Kober Verlag uma biografia e resumo do ensinamento, Weltwanderung.
Como o seu sucesso levara algumas pessoas a deixarem as igrejas, atraídas pela sua espiritualidade de realização interior fortificante e libertadora, a Igreja Evangélica Protestante sentiu-se incomodada e há documentos internos da sua Apologetishe Centrale com referências aos aspectos do ensinamento de Bô Yin Râ que os desgostavam, já que proviriam de um falso guru ou profeta, o qual, ao igualar Jesus a um mestre, e ao considerar-se um seu mensageiro, negando a visão tradicional do pecado original e da sua redenção por Jesus Cristo, estaria a perverter o Cristianismo. Encontram-se todavia arquivadas também cartas de crentes e fiéis protestantes comunicando a experiência viva de Deus graças ao ensinamento de Bô Yin Râ.
Era uma época complexa para os cultores do ocultismo e da espiritualidade, bem retratada numa obra recente de Corinna Treitel, A Science for the Soul: Occultism and the Genesis of the German Modern, devida à desconfiança e repressão pelo Estado alemão, a qual se acentuara com o erguer mais forte do Nacional-Socialismo, originando a perseguição a grupos ou pessoas, entre os quais os ligados a Bô Yin Râ, que contudo permanecerá a salvo na Suíça (algo vigiado) até abandonar a cena terrestre em 14 de Fevereiro de 1943, deixando no seu legado perene gravuras, desenhos, as cerca de duzentas pinturas, os quarenta e três livros e algumas cartas.
Foi na Grécia que se encontrou com o mestre oriental que o iniciou espiritualmente (que aliás já lhe aparecera em criança) e é, de certo modo, após tal acontecimento e vivência que as suas pinturas passam talvez a revelar mais profundidade de visão e a sua experiência espiritual começa a ser transmitida em livros, surgindo o primeiro, o já mencionado Luz de Himavat, em 1919 e o trigésimo segundo, o qual fecha o seu ensinamento, o Hortus Conclusus, Jardim Fechado, em 1936, havendo ainda onze livros sobre arte, cultura, esoterismo e a sua missão publicados até 1939, perfazendo os quarenta e três publicados.
Num dos últimos livros que publicou, Briefen an Einen und viele, Cartas a Um e a Muitos, explica como a correspondência mantida com os seus leitores o absorvia muito e como o trabalho de escrever e de pintar o foi desgastando, nomeadamente na mão, vendo-se forçado a renunciar à correspondência manual, passando a ditá-la e decidindo assim transcrever nesse livro algumas cartas-tipo e seus ensinamentos.
O ensinamento de Bô Yin Râ é inegavelmente de primeira qualidade, a mesma que sentimos nos grandes Mestres da Humanidade, que ele afirma serem seus irmãos na fraternidade dos Irradiantes da Luz Primordial, considerando-os necessários ou essenciais no Caminho espiritual de todos os seres humanos, contra o parecer de muitos que os dispensam, pois eles são as pontes ou pontífices, ajudantes ou guias para o mundo espiritual e divino.
A certeza que as obras e pinturas transmitem, a claridade que trazem, a harmonia poética e mágica com que as suas palavras vibram e ressoam, as impulsões que lançam, tudo contribui para considerarmos a sua obra como das mais valiosas sobre os mistérios da vida, pois encontramos nela valiosas aproximações à descrição do caminho espiritual e da ligação à Divindade, certamente difícil de ser realizada, mas verdadeira e praticável...
A sua extensa obra de trinta e dois livros, o Hortus Conclusus, Horto fechado, de profundos mas simples e claros ensinamentos sobre a Realidade Última e Primordial e os caminhos para lá se chegar e estar, assenta no que ele nos diz brevemente no seu folheto Sobre os meus Escritos: «Eu comunico o meu conhecimento experimental das raízes do homem terrestre numa esfera de forças “espirituais” substanciais, inacessível aos sentidos físicos mas alcançável duma maneira “sensível”, esfera na qual a consciência individual do ser humano pode despertar já nesta vida corporal terrestre, mas na qual despertará inevitavelmente assim que a sua existência terrena terminar.
Comunico o meu conhecimento experimental da Hierarquia de ajudas espirituais individuais, que parte do próprio centro Primordial da esfera das forças espirituais, que desce até à Humanidade deste planeta e que se manifesta por certos homens preparados para esta missão já antes do seu nascimento terrestre. Comunico o meu conhecimento experimental relativo à possibilidade de entrar em ligação espiritual com esta hierarquia, e mostro o caminho a seguir para se chegar a tal.
Comunico finalmente de que maneira adquiri a experiência que me era acessível e porque é que eu devia chegar a ela»....
Ora numa época em que são tantos os semi-cegos guias de cegos, ou os fiéis estagnados no que não é essencial nas suas religiões, ou que é tão grande o carnaval ocultista, a manipulação das seitas, a imaginação das canalizações, as superficialidades e embustes nas auto-ajudas e nova Era, regressões e cabalices, este ensinamento certamente será muito útil, ajudando as pessoas tanto a aprofundar as suas religiões como a discernir melhor, entre tanto falso instrutor e doutrina, o caminho real que conduz à realização própria e á religação espiritual e divina.
Se houve muita gente valiosa a crer em Bô Yin Râ, como alguns dos seus ensinamentos eram difíceis e simultaneamente teceu críticas à Teosofia da Sociedade Teosófica e às descrições mirabolantes de vidas passadas de alguns dos seus corifeus (tal Leadbeater e Annie Besant), e à fundadora Helena Petrovna Blavastky, esta considerando-a mais uma medium de que em contacto verdadeiro com os mestres, surgiram oposições. Também a sua afirmação de que a mulher em si não estava capacitada intrinsecamente para atingir a mais alta realização espiritual enquanto na Terra, suscitou reacções adversas, embora ele diga que o mesmo se passa para a imensa maioria dos homens.
Dos esoteristas devemos destacar os reparos de René Guénon que considerava o seu ensinamento fraco e que não levaria a um nível muito elevado, algo que Julio Evola, próximo de Guénon, também afirmaria. Contudo, os três estavam de acordo nas críticas à Teosofia e aos dirigentes da Sociedade Teosófica, algo que Gustave Meyrink também subscrevia. Mais recentemente, o erudito Antoine Faivre no seu Dictionary of Gnosticism and Esotericism, 2006 tende a menosprezar as capacidade e obras "prolíficas" de Bô Yin Râ, considerando-as baseadas na sua "crença" em intrincadas relações entre a substância omnipresente espiritual e as formas de vida no mundo material, numa crítica nada fundada e clara, já que desprovido de visão espiritual apenas deduz do que lê e pensa e, provavelmente, sente, estando ainda influenciado por algumas linhas ocultistas maçónicas, a do Rito Escocês Rectificado a que pertencia, [pois recentemente, em 2021, desincarnou. Dialoguei com ele duas vezes, cordialmente. Lux!]
Era uma época complexa para os cultores do ocultismo e da espiritualidade, bem retratada numa obra recente de Corinna Treitel, A Science for the Soul: Occultism and the Genesis of the German Modern, devida à desconfiança e repressão pelo Estado alemão, a qual se acentuara com o erguer mais forte do Nacional-Socialismo, originando a perseguição a grupos ou pessoas, entre os quais os ligados a Bô Yin Râ, que contudo permanecerá a salvo na Suíça (algo vigiado) até abandonar a cena terrestre em 14 de Fevereiro de 1943, deixando no seu legado perene gravuras, desenhos, as cerca de duzentas pinturas, os quarenta e três livros e algumas cartas.
Foi na Grécia que se encontrou com o mestre oriental que o iniciou espiritualmente (que aliás já lhe aparecera em criança) e é, de certo modo, após tal acontecimento e vivência que as suas pinturas passam talvez a revelar mais profundidade de visão e a sua experiência espiritual começa a ser transmitida em livros, surgindo o primeiro, o já mencionado Luz de Himavat, em 1919 e o trigésimo segundo, o qual fecha o seu ensinamento, o Hortus Conclusus, Jardim Fechado, em 1936, havendo ainda onze livros sobre arte, cultura, esoterismo e a sua missão publicados até 1939, perfazendo os quarenta e três publicados.
Num dos últimos livros que publicou, Briefen an Einen und viele, Cartas a Um e a Muitos, explica como a correspondência mantida com os seus leitores o absorvia muito e como o trabalho de escrever e de pintar o foi desgastando, nomeadamente na mão, vendo-se forçado a renunciar à correspondência manual, passando a ditá-la e decidindo assim transcrever nesse livro algumas cartas-tipo e seus ensinamentos.
O ensinamento de Bô Yin Râ é inegavelmente de primeira qualidade, a mesma que sentimos nos grandes Mestres da Humanidade, que ele afirma serem seus irmãos na fraternidade dos Irradiantes da Luz Primordial, considerando-os necessários ou essenciais no Caminho espiritual de todos os seres humanos, contra o parecer de muitos que os dispensam, pois eles são as pontes ou pontífices, ajudantes ou guias para o mundo espiritual e divino.
A certeza que as obras e pinturas transmitem, a claridade que trazem, a harmonia poética e mágica com que as suas palavras vibram e ressoam, as impulsões que lançam, tudo contribui para considerarmos a sua obra como das mais valiosas sobre os mistérios da vida, pois encontramos nela valiosas aproximações à descrição do caminho espiritual e da ligação à Divindade, certamente difícil de ser realizada, mas verdadeira e praticável...
A sua extensa obra de trinta e dois livros, o Hortus Conclusus, Horto fechado, de profundos mas simples e claros ensinamentos sobre a Realidade Última e Primordial e os caminhos para lá se chegar e estar, assenta no que ele nos diz brevemente no seu folheto Sobre os meus Escritos: «Eu comunico o meu conhecimento experimental das raízes do homem terrestre numa esfera de forças “espirituais” substanciais, inacessível aos sentidos físicos mas alcançável duma maneira “sensível”, esfera na qual a consciência individual do ser humano pode despertar já nesta vida corporal terrestre, mas na qual despertará inevitavelmente assim que a sua existência terrena terminar.
Comunico o meu conhecimento experimental da Hierarquia de ajudas espirituais individuais, que parte do próprio centro Primordial da esfera das forças espirituais, que desce até à Humanidade deste planeta e que se manifesta por certos homens preparados para esta missão já antes do seu nascimento terrestre. Comunico o meu conhecimento experimental relativo à possibilidade de entrar em ligação espiritual com esta hierarquia, e mostro o caminho a seguir para se chegar a tal.
Comunico finalmente de que maneira adquiri a experiência que me era acessível e porque é que eu devia chegar a ela»....
Ora numa época em que são tantos os semi-cegos guias de cegos, ou os fiéis estagnados no que não é essencial nas suas religiões, ou que é tão grande o carnaval ocultista, a manipulação das seitas, a imaginação das canalizações, as superficialidades e embustes nas auto-ajudas e nova Era, regressões e cabalices, este ensinamento certamente será muito útil, ajudando as pessoas tanto a aprofundar as suas religiões como a discernir melhor, entre tanto falso instrutor e doutrina, o caminho real que conduz à realização própria e á religação espiritual e divina.
Se houve muita gente valiosa a crer em Bô Yin Râ, como alguns dos seus ensinamentos eram difíceis e simultaneamente teceu críticas à Teosofia da Sociedade Teosófica e às descrições mirabolantes de vidas passadas de alguns dos seus corifeus (tal Leadbeater e Annie Besant), e à fundadora Helena Petrovna Blavastky, esta considerando-a mais uma medium de que em contacto verdadeiro com os mestres, surgiram oposições. Também a sua afirmação de que a mulher em si não estava capacitada intrinsecamente para atingir a mais alta realização espiritual enquanto na Terra, suscitou reacções adversas, embora ele diga que o mesmo se passa para a imensa maioria dos homens.
Dos esoteristas devemos destacar os reparos de René Guénon que considerava o seu ensinamento fraco e que não levaria a um nível muito elevado, algo que Julio Evola, próximo de Guénon, também afirmaria. Contudo, os três estavam de acordo nas críticas à Teosofia e aos dirigentes da Sociedade Teosófica, algo que Gustave Meyrink também subscrevia. Mais recentemente, o erudito Antoine Faivre no seu Dictionary of Gnosticism and Esotericism, 2006 tende a menosprezar as capacidade e obras "prolíficas" de Bô Yin Râ, considerando-as baseadas na sua "crença" em intrincadas relações entre a substância omnipresente espiritual e as formas de vida no mundo material, numa crítica nada fundada e clara, já que desprovido de visão espiritual apenas deduz do que lê e pensa e, provavelmente, sente, estando ainda influenciado por algumas linhas ocultistas maçónicas, a do Rito Escocês Rectificado a que pertencia, [pois recentemente, em 2021, desincarnou. Dialoguei com ele duas vezes, cordialmente. Lux!]
- Seguem-se alguns ensinamentos, segundo o que Bô Yin Râ transmitiu e eu compreendi ou assimilei:
O caminho espiritual é basicamente o do auto-conhecimento, o do controle e unificação dos átomos e forças anímicas sob a vontade única de nós mesmos, pela qual a pessoa começa a controlar o seu pensamento dispersivo e a conseguir interiorizar-se até começar a sentir e realizar o seu corpo espiritual, a Luz divina, o Espírito.
Para esta unificação e discernimento requere-se longa e perseverante escuta de nós próprios até as flores de lótus da nossa alma se abrirem à luz do alto ou do espírito, particularmente com a ajuda do nosso Anjo da Guarda ou Mestre.
Uma vida justa, de trabalho consciente, de afectividade e humanidade, deve ser acompanhada de uma prática diária de meditação, de escuta interior, de aspiração à Divindade, para que possamos ir avançando na ligação e união, primeiro ao espírito e depois a Ela, e assim reforçarmos a nossa sintonização com a realidade espiritual em nós e no Universo.
Não é pela alimentação, a respiração, a sexualidade, as drogas, os mantras, a especulação filosófica, a carga erudita cerebral, o fanatismo, a auto-sugestão, as cabalices e esoterices, que tal se consegue mas sim por uma vida dinâmica e desprendida, uma unificação anímica que nos proporcione o domínio harmonioso dos desejos e pensamentos, uma vida sob a orientação ou aspiração da ligação a Deus e de estarmos alinhados com a Sua vontade, e com a auto-consciência silenciosa e atenta ao sentir interior da presença subtil do espírito em nós. Ou seja, vivendo numa perseverante auto-consciencialização e revelação espiritual, e numa vida criativa, justa e abnegada.
O caminho espiritual é uma vida harmoniosa realizada com mais consciência do ser espiritual em nós, um alargamento da dimensão dos nossos sentidos psico-espirituais - que se podem abrir então para os mundos espirituais - e uma inserção criativa na fraternidade da Humanidade e dos Mestres, numa vivência do Espírito Eterno na nossa interioridade e coração e na inter-acção não egoísta e solidária com os outros.
Para esta unificação e discernimento requere-se longa e perseverante escuta de nós próprios até as flores de lótus da nossa alma se abrirem à luz do alto ou do espírito, particularmente com a ajuda do nosso Anjo da Guarda ou Mestre.
Uma vida justa, de trabalho consciente, de afectividade e humanidade, deve ser acompanhada de uma prática diária de meditação, de escuta interior, de aspiração à Divindade, para que possamos ir avançando na ligação e união, primeiro ao espírito e depois a Ela, e assim reforçarmos a nossa sintonização com a realidade espiritual em nós e no Universo.
Não é pela alimentação, a respiração, a sexualidade, as drogas, os mantras, a especulação filosófica, a carga erudita cerebral, o fanatismo, a auto-sugestão, as cabalices e esoterices, que tal se consegue mas sim por uma vida dinâmica e desprendida, uma unificação anímica que nos proporcione o domínio harmonioso dos desejos e pensamentos, uma vida sob a orientação ou aspiração da ligação a Deus e de estarmos alinhados com a Sua vontade, e com a auto-consciência silenciosa e atenta ao sentir interior da presença subtil do espírito em nós. Ou seja, vivendo numa perseverante auto-consciencialização e revelação espiritual, e numa vida criativa, justa e abnegada.
O caminho espiritual é uma vida harmoniosa realizada com mais consciência do ser espiritual em nós, um alargamento da dimensão dos nossos sentidos psico-espirituais - que se podem abrir então para os mundos espirituais - e uma inserção criativa na fraternidade da Humanidade e dos Mestres, numa vivência do Espírito Eterno na nossa interioridade e coração e na inter-acção não egoísta e solidária com os outros.
Templo Espiritual |
Não é pela abertura a espíritos desencarnados, tão vulgar no espiritismo (quase sempre entidades brincalhonas ou obsessivas) ou a extraterrestres (canalizados quase sempre imaginativamente) mas pelo silêncio e a escuta interior que a presença espiritual é sentida e que eventualmente imagens, pensamentos e sentimentos subtis em ligação aos mundos espirituais podem brotar em nós e inspirar-nos, embora o mais importante seja a unificação interna e a aproximação silenciosa ao espírito divino íntimo.
É o culto da voz da consciência, do Génio ou Daimon de Sócrates e que entre nós Antero de Quental recomendou muito, por exemplo, nas suas belas cartas escritas ao poeta, oficial e viajante luso-indiano Fernando Leal, e que é no fundo a sintonização e audição da Palavra, do Verbo que se pronuncia em nós intimamente: "Lá no fundo do seu coração há uma voz humilde, mas que nada faz calar, a protestar, a dizer-lhe que há alguma coisa porque se existe e porque vale a pena existir. Escute essa voz: provoque-a, familiarize-se com ela, e verá como cada vez mais se lhe torna perceptível, cada vez fala mais alto, ao ponto de não a ouvir senão a ela e de o rumor do mundo, por ela abafado, não lhe chegar já senão como um zumbido, um murmúrio, de que até se duvida se terá verdadeira realidade. Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho eterno, porque é a expressão da essência pura e última do homem, e até de todas as coisas mas só no homem tornado consciente e dotada de voz. Ouça essa voz e não se entristeça», Antero de Quental....
Ainda que, certamente, certas frases ou sons, os mantras, alguns consagrados milenariamente em tradições espirituais, pela disposição e vibração sobretudo das vogais, sejam eficazes auxiliares na modelação harmonizadora das nossas forças anímicas, a fim de conseguirmos interiorizar-nos e silenciar-nos, ou fortificar-nos, para que o Espírito divino possa ser sentido, visto ou acolhido, e por isso Bô Yin Râ partilhou os "seus" mantras, apresentados em Funken, Centelhas.
Mas valorizou certamente os mantras indianos mais sagrados, tais como o Tat Twam Asi, Tu és esse Espírito, que nas Upanishads o mestre indiano transmite ao discípulo, ou o Om Mani Padme Hum, a jóia da consciência espiritual está na flor de lótus em ti, que muitos budistas entoam. Bô Yin Râ complementa-os com alguns mantras escritos por ele em alemão, embora diga que se encontram em todas as tradições espirituais tais frases operativas, e que as línguas antigas, tal o Latim para o Ocidente, tem nelas muito da sua força espiritual, considerando assim a tradução do latim na liturgia para a língua nacional como uma diminuição na sua eficácia espiritual.
As suas imagens, palavras e ensinamentos apelam a libertar-nos de intelectualismos, de curiosidades e saberes livrescos e sectários, de esoterices complicadas e imaginadas, e despertarmos para o auto-conhecimento directo e libertador...
Para Bô Yin Râ, em contraste com a maior parte do que imaginam ou realizam muitos Budistas ou cultores do vazio, não há um mundo sem forma nem símbolos, pois pelo contrário mesmo os mundos espirituais mais elevados têm formas; e também não há que extinguir-se o eu, pois os espíritos individuais estão destinados a evoluir e a irradiar eternamente, aperfeiçoando a sua vontade e criatividade singular harmoniosamente (sem se deixar limitar pela personalidade antes brilhando através dela, diremos) no seio do Todo e maximamente em união com Deus...
Considera também Bô Yin Râ que muitas das visões de videntes e pseudo-mestres não passam de aberturas reduzidas das janelas sobre mundos relativamente inferiores (e há-os verdadeiramente negativos) e em muitos casos modeladas pelos próprios observadores e as suas idiossincrasias, expectativas e preconceitos.
A interacção entre estes mundos subtis e o humano físico é grande, daí muitas das lutas e fanatismos que tanto criam consequências no além, como são alimentadas na Terra por esse além, devido às suas egrégoras ou entidades grupais, e a seres, em geral não humanos, negativos que influenciam ou tomam conta dos humanos mais fanáticos e ambiciosos...
Bô Yin Râ, tal como outros mestres, defende que o ser humano é uma centelha espiritual emanada do Sol Divino primordial e eterno e não um deus ou Deus. E que pela queda ou união ao corpo físico animal terrestre perdeu a consciência do mundo de onde vem e da sua identidade.
Mais polémica será para alguns a afirmação de Bô Yin Râ de que só em casos excepcionais é que as almas por falhanços, mortes prematuras e suicídios são obrigadas a viver duas vezes na Terra. Ou ainda, a de que as lembranças regressivas, hipnóticas ou de dejá vu, correspondem em geral apenas a algumas das milhares de forças anímicas que nos constituem e que já passaram por outros seres, locais e tempos...
Disto resulta a recomendação de não desejarmos mais do que podemos realizar nesta vida, pois senão ficamos algo encadeados a essas energias e desejos que não cumprimos, e que terão que aguardar que haja outros seres que as cumpram, satisfaçam ou completem, algo que contudo a sua filha Datti me confessou em diálogo na bela villa Gladiola, em Massagno, não ser motivo para a apreensões já que naturalmente tais forças e aspirações encontrarão quem as exerça ou satisfaça...
Alguns pensamentos finais importantes:
“Tens de desenvolver uma certa prática ou treino de concentração para que não te disperses numa frustrada busca de constantes excitações e distracções e deixes atrofiar a faculdade de fazeres experiências interiores nas quais tomes consciência de ti mesmo, e que te revelem o mundo do espírito substancial.
A experiência interior não tem qualquer relação com o pensamento, pois o mundo do espírito real e autêntico situa-se infinitamente para além dos meandros ou prodígios do mundo cerebral..."
Sobre a Arte de Ler dirá:
“Entramos em comunhão com a alma do escritor e só devemos ler se temos a certeza que as ideias engendradas pela leitura favorecerão o desenvolvimento supremo da nossa alma.
Também o cómico e o satírico despertarão em ti as forças divinas necessárias, ou mesmo livros cujo poder cativante reside na tensão que criam em nós.”
Sobre os objectivos da vida:
“ O teu objectivo supremo é a realização de ti mesmo na tua forma de manifestação engendrada pelo Espírito, na tua forma espiritual.
Tu mesmo, unido a Deus.
De toda a eternidade levas em ti a forma engendrada uma só vez pelo Espírito, forma que é tua e que só tu, por toda a eternidade, tens a possibilidade de atingir, mesmo que tal tenha que tornar-se-te acessível somente após uma infinidade de séculos....”
E fica por aqui a nossa homenagem, neste dia de 25 de Novembro do ano da graça de 2014, e que foi ampliada algumas vezes de 2018 a 2024, a um dos grandes mestres e pintores espirituais da Humanidade, pouco conhecido entre os portugueses, embora eu tenha traduzido colectivamente e publicado o Livro do Deus Vivo, preparando agora a 2ª edição bastante melhorada, e haja, além dos originais em alemão, vários dos livros traduzidos noutras línguas. E se houver almas luminosas que saibam alemão e que queiram ajudar na tradução de obras de Bô Yin Râ para português, óptimo.
Anote-se que finalmente em 18 de Maio de 2019 será (e foi, estando eu presente...) inaugurada a fundação e museu de Bô Yin Râ, no belíssimo local em que residia, a villa Gladiola, em Massagno, Suíça, conforme as duas fotografias reproduzidas.
Anote-se que finalmente em 18 de Maio de 2019 será (e foi, estando eu presente...) inaugurada a fundação e museu de Bô Yin Râ, no belíssimo local em que residia, a villa Gladiola, em Massagno, Suíça, conforme as duas fotografias reproduzidas.
E que em Setembro de 2022 acabei a laboriosa tradução e publicação de Das Gebet, A Oração, havendo ainda exemplares disponíveis a um módico preço, dos trezentos que dei à luz....
Saibamos aprofundar o ensinamento luminoso e imortalizante de Bô Yin Râ. Que ele nos inspire!
6 comentários:
Belíssimas imagens,clareiam internamente.E profundos ensinamentos,muitas graças Pedro!
Muitas graças, Devi Sat, pela sua apreciação. Sem dúvida, um ensinamento muito valioso, o ensinamento, e muitas belas pinturas dos mundos espirituais, boas para contemplação ou simples fruição harmonizadora, ou como diz, clareadora...
É um bom texto, bastante completo, sobre alguém que merece ser divulgado. se ao princípio achei interessante que escrevesses da tua experiência benéfica com ele, já tenho dúvidas sobre outras coisas peremptórias: todos os mundos tem formas...mas é a tua opinião e até onde te levou a experiência. As sua obras artísticas são realmente extraordinárias, muito inspiradoras. Nunca soube quem era o mestre dele, sabes?
Graças pela apreciação.Sim, enquanto existe a manifestação cósmica há formas, diz ele e faz-me sentido.... Do mestre há duas pinturas dele, e as referências de René Guénon e do seu amigo, mas publicamente não se sabe o nome nem a biografia.
Estou inteiramente feliz por ter encontrado essa biografia dessa grande alma iluminada que pela luz divina sem sombras de dúvidas. Seus ensinamentos se suscita naqueles espiritualizados ao longo de sua vida verdades que só podem ser sentidas por eles. Só os que buscam sinceramente entende que somos direcionados para alguns que durante sua vida também o foram. SDS
Graças pela apreciação e sintonia grande com ele e seu ensinamento. E sem dúvida que é bom irmos encontrando, por entre a grande oferta de ensinamentos e instrutores, aqueles que mais verdadeiramente respondem às nossas questões e demandas, e em tal associação vivenciarmos mais o corpo místico dos mestres, da Humanidade e da Divindade. Aum.
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