terça-feira, 31 de outubro de 2017

Efemérides de Novembro do encontro entre o Oriente e o Ocidente, da Índia e Portugal, com notícia de muitas subtis almas e seus feitos..

1-XI. Termina neste dia em 1539 o famoso 1º cerco de Diu, na Índia, no qual 700 portugueses e algumas corajosas mulheres, capitaneados por António da Silveira, conseguiram resistir durante quinze meses às investidas duma poderosa armada (com navios europeus), de 20.000 turcos do sultão do Cairo comandada por Solimão, e dos exércitos de Cambaia ou Guzarate comandados por Coge Sofar. Após o último ataque, «o capitão vestiu os seus melhores fatos e ordenou aos seus fizessem o mesmo, depois do que, começaram a cantar e a bailar todos, em grande algazarra de vozes e soar de trombetas, gastando toda a noite nessa folgança», tentando fazer crer ao inimigo o excesso de forças que lhes minguava já, como relata Damião de Goes, para o ataque final. Mas de manhã chegam as naus de Goa, com os reforços portugueses e alguns milhares de nobre malabares, os naires, que responderam ao apelo do rei de Cochim e a derrota dos inimigos é grande. Tal  vitória ergue alto o prestígio dos portugueses, rendendo-lhes mais tratados e alianças. Esta colaboração de uma Cavalaria espiritual indiana com os portugueses não passou desapercebida a um Fiel do Amor, Jorge Ferreira de Vasconcelos que os nomeia no seu magnífico Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, dado à luz em 1567.
Grande terramoto, com tsunami, arrasa Lisboa em 1755 e arrebata cerca de sessenta mil almas, sobretudo os fiéis das missas das nove da manhã, desaparecendo ainda muitos dos monumentos de Lisboa e muitas preciosidades. À volta do rei D. José e dum grupo de fidalgos, o futuro marquês de Pombal
assume energicamente o domínio da situação e da reconstrução, com o  arquitecto Eugénio dos Santos a destacar-se.
Nasce em 1935, em Jerusalém, Edward Wadie Said, filho dum palestiniano e de uma libanesa cristã. O pai, tendo sido um oficial na 1ª grande Guerra nas Forças Expedicionárias Norte-americanas, obterá a nacionalidade americana pelo que Edward Said fará os seus estudos nos USA manifestando grandes qualidades humanas e intelectuais e tornando-se professor na Columbia University, sendo autor de livros importantíssimos e um pensador corajoso e respeitado. Será o seu livro Orientalisms, dado à luz em 1978, que  grangeará muitos seguidores da sua visão crítica das narrativas ocidentais do Oriente e em particular do Médio Oriente (nomeadamente Maria Todorova, e Lorenzo Kamel com The Impact of "Biblical Orientalism" in Late Nineteenth and Early Twentieth-Century Palestine, 2014), na qual demonstrou e destacou quão fortes tinham sido os preconceitos de superioridade, racismo  e desvalorização do outro ou do tema do oriente em muitos dos historiadores. Tomou parte activa em tentativas de coexistência de árabes e judeus, co-fundando mesmo uma orquestra mista (tanto mais que era um excelente pianista e escreveu quatro livros sobre música),  defendeu a solução de dois estados independentes, Israel e Palestina, e venceu com as suas posições bem estruturadas alguns orientalistas que ofendidos pelas suas críticas o atacaram fortemente. Não teve medo de assumir algum activismo, mais simbólico do que radical, nomeadamente quando lançou em 2000, no fim da ocupação israelita do norte do Líbano (1985-2000) um calhau em direcção das linhas de força do exército israelita, o que provocou reacções iradas dos grupos de direita e do sionismo norte-americano, e ainda da suspeita Sociedade de Freud, na Áustria.  Em 1998 saiu uma edição revista e melhorada de outra obra seminal acerca do Islão visto pelo Ocidente, muito actual e profético em relação ao que se passará com as sucessivas guerras do império norte-americano e dos seus coligados e terroristas: Covering Islam: How the Media and the Experts Determine How we see the rest of the World, no qual desmascara muito do imperialismo norte-americano e da sua aliança com os meios financeiros, os media e os especialistas mais racistas e reaccionários. Foi membro de várias sociedades internacionais e recebeu numerosos prémios, deixando algumas prestações valiosas para televisões ou filmes. Partiu da Terra em 25 de Setembro de 2003, deixando um filho também de valor intelectual e humano forte. Cartaz de homenagem a ele na Palestina, West Bank, provavelmente destruído no genocídio
                                           
2-X. Lopo Vaz de Sampaio (1480-1534), 6º governador interino na Índia de 1526 a 1529, e por meios forçados mantido na posição em detrimento de Pêro de Mascarenhas (pois só deveria governar enquanto este não chegasse de Malaca, onde se encontrava quando se abriram as vias de sucessão), derrota neste dia uma parte da armada do Samorim de Calecut em 1528, ano em que se empenhou em derrotar os dois destemidos irmãos Kutti Ali, capitães do Samorim e há muito numa luta de resistência ao domínio português. O mais novo foi mesmo capturado e em seguida resgatado por alto preço, jurando sobre o Corão não mais combater os portugueses. Era da escola de Vasco da Gama, de quem fora capitão.
De regresso de Portugal, onde se mostrara vestido à monge indiano e celebrara no Porto e em Évora a missa ao modo Índia, resistindo às tentativas de o reterem na corte, desembarca em Goa neste dia, em 1690, S. João de Brito. Consegue que um objecto tido como relíquia por ter sido tocado pelo corpo de S. Francisco de Xavier seja enviada para sua mãe D. Brites, de quem se despedira há pouco com o pressentimento que já não se veriam mais, e parte para missionarização indiana e o final martírio. 
O notável vice-rei D. Pedro de Noronha Albuquerque (1661-1731) escreve neste dia ao rei em 1694 acerca das pensões às famílias de goeses que a Fazenda real não quisera pagar: «Não sei que razão pode haver para que não sejam premiáveis os serviços e ainda a morte destes homens, sendo cristãos e vassalos de Vossa Majestade e assim lhe peço mande Vossa Majestade declarar esta matéria». A resposta do rei determinará «que àqueles naturais da terra que morreram em acto semelhante de guerra, vivendo por este caminho gloriosamente para a memória, se deve dar a suas mulheres seu sustento a meia praça, como fizestes praticar no caso que referis». Será ainda vice-rei do Brasil de 1713 a 1618, e o 1º marquês de Angeja, numa longa vida dinâmica. 
O inspirado poeta e pensador Teixeira de Pascoais nasce neste dia em 1877, em Amarante, junto à sua serra mágica, o Marão. Foi com Leonardo Coimbra o mestre do movimento da Renascença Portuguesa, no princípio do século. Visionário do Portugal telúrico, poeta duma capacidade inaudita de humanizar imaginativamente a natureza, também soube entrar no mar, como nos Poetas Lusíadas,  sugerindo «que o espírito de Neptuno encarnara em Luís de Camões, quando ele, em certas estrofes dos Lusíadas, é a própria voz do mar. Todos cenários marítimos, deslumbrando ou aterrorizando os nautas descobridores, se integraram por fim no génio da Raça. Camões, tendo herdado aquela imensa lembrança tempestuosa, contemplava o grande Oceano, a bordo da nau S. Bento que o levou para a Índia, em 1553. Ele via a vastidão das águas e outras águas, mais profundas e salgadas, marulhavam na sua memória, como longínqua recordação. E assim as duas imagens do mar (a exterior e a interior) se desdobraram nas ondas dos seus versos oceânicos. Nenhum poeta deu o mar como Camões, porque ninguém, como ele, tão intimamente o possuiu».
 

3-XI. Uma postura do Senado de Goa datada deste dia de 1618 determina que ninguém de qualquer nacionalidade está autorizado a exercer a profissão de médico, cirurgião, ou barbeiro sangrador cirurgião, sem ter sido primeiro examinado e obtido o respectivo diploma. Visava-se obstar a consequências mais melindrosas do ditado: «De médico e de louco todos temos um pouco»..
  Pronunciando os nomes "Jesus, Maria" desencarna em 1713 o padre Francisco de Santa Maria, autor do Ano Histórico, vasta obra em que muitas das efemérides dos Descobrimentos estão debuxadas catolicamente. Nunca dizia mal dos sermões que ouvia, menos quando confessou ter colhido o grande fruto de conhecer-se pelo homem mais ignorante, já que ouvira pregar na sua língua uma hora, mas nada entendera. 
  Começa a publicar-se em Pangim neste dia em 1897 o jornal Era Nova, órgão do conde de Mahém D. José de Noronha, sendo editor José Maria Pereira, e durante seis anos será um dos jornais, primeiro semanário e depois diário, animadores da vida cultural de Goa. O historiador Germano Correia dirá: «D. José de Noronha era oriundo daquela fidalguia de outrora que deixando os seus lares pátrios, acorre presurosa e intimorata, para a maior glória de Deus e da Nação, onde quer que a sua presença fosse reclamada... Foram os fidalgos dessa têmpera — quais cavaleiros do Graal — em cujo seio não se sabe o que brilhava mais, se o rútilo eco das suas armaduras brasonadas, se o fulgor do seu amor pátrio. O conde de Mahém foi um autêntico valor nesta sociedade, onde escasseiam as individualidades produtivas. A sua inconfundível figura de gentil homem brilhou tanto nos salões como nos campos de lavoura, junto à terra em prol de que tanto trabalhou, e no seio da qual criou juz a repousar em paz».  
Nasce Charlotte Vaudeville, na Isére, França, em 1918, e será uma das mais sábias indologistas, na filologia e nas ciência históricas e religiosas, aprendendo e trabalhando com Louis Renou, Dhirendra Varma, Jules Bloch, e desenvolvendo estudos muitos valiosos sobre o Ramayana e o Ayhodya Khanda, de Tulsi Das, o Granthavali de Kabir, o Haripath de Jnana Deva, e as Pastorais de Surdas, sendo considerada a melhor especialista moderna de Kabir. Foi professora em diversas universidades, membro de várias instituições cientificas e deixou uma vasta obra de livros e artigos. Deixou a Terra em 28 de Abril de 2006.
 

 4-XI. O papa Paulo III envia em 1543 um breve a D. João III, o Piedoso, sobre o pedido deste de expulsar-se de Roma, pela sua maldade, o bispo de Viseu e já então cardeal D. Miguel da Silva e Menezes (1448-1456), no qual afirma que «é digno de Vossa Majestade, pela sua piedade e religião, não se intrometer nas coisas eclesiásticas, nem de modo algum impedi-las». Da alta qualidade humanista e anímica de D. Miguel da Silva, sobrinho de Santa Beatriz da Silva e do Beato Asmodeu da Silva, durante muitos anos embaixador de Portugal, e depois, pela animosidade algo fanática de D. João III, que o chegou a desnaturalizar, refugiado em Roma, falam o papa Leão X, considerando-o "embaixador óptimo, cheio de bondade, de prudência e inteligência", e a dedicatória que lhe consagrou Baltasar Castiglione da sua famosa obra acerca das pessoas dos paços e cortes, do amor e costumes gentis, O Cortesão.  Além da inveja pessoal do rei D. João III, o pouco apoio à instalação da Inquisição em Portugal e o seu erasmismo, devem ter sido outros dos factores do ódio do famigerado rei tido como piedoso. Em contraposição, as vibrações anímicas de D. Miguel de Silva e dos seus amigos humanistas  serão perenemente luminosas, ou não fossem todos eles amigos de Erasmo, tais como Pietro Bembo, Paolo Giovio, Beroaldo, Sadoleto e Castiglione.
  Carta do P. Francisco de Pina em 1561 acerca da viagem feita na armada do vice-rei D. Francisco Coutinho: junto a Moçambique quando se receava o naufrágio há «um milagre evidentíssimo, que em saindo o sol, que já estávamos todos desconfiados, Nosso Senhor parece que movido das vossas orações lá, veio logo de improviso um vento fresco da terra e começou-nos a tirar do baixo, e durou-nos até nos pôr na altura do mar. Todo o caminho a gente falava neste milagre». Conta também como «ao dia do Espírito Santo fizeram um Imperador; preguei-lhe aquele dia», prova importante da vitalidade ainda em curso desta corrente espiritual, mesmo em plena navegação.
  São publicados em 1609 dois alvarás contra as doações, dádivas e acrescentamentos dos bens eclesiásticos, criticando-se ainda a devassidão do trato e mercância por religiosos, registando-se que «a conversão dos gentios esfriara pelo escândalo». 

                                      
  Nasce o 5º conde da Ericeira D. Luís Carlos Inácio Xavier de Meneses neste dia em 1689. Estudioso, falando várias línguas, participando nas Academias e conferencias da época, foi duas vezes vice-rei na Índia (1717-1721 e 1740-1742), vitorioso nas batalhas, mas atribulado nas viagens e nas intrigas invejosas, nomeadamente do próprio rei,  de que sairá contudo triunfante. Em 1719 valoriza a acção dos jesuítas na China, ao pedir ao arcebispo de Goa que os apoie na questão dos ritos chineses. Tornar-se-á o 1º marquês do Louriçal.

    
5-XI. Valiosa carta de S. Francisco Xavier escrita neste dia em 1549, em Kagoshima, no Japão, relatando ter «conversado frequentemente com bonzos mais instruídos, sobretudo um deles, muito respeitado dos seus irmãos pela sua doutrina, a sua vida, a sua dignidade e também a sua idade; tem 80 anos, chama-se Ninjit, ou seja, em japonês, coração da verdade. É como o abade deles... Ele mostra-se tão meu amigo que é maravilhoso... Temos os dois conversado frequentemente; encontrei-o hesitante quanto ao ponto de saber se a alma é imortal ou se ela morre com o corpo; tanto diz sim, como diz não; assim devem ser todos os seus letrados». Assim referia Francisco Xavier um dos pontos principais das doutrinas do budismo zen, a inexistência do eu e portanto a mortalidade da alma, com a qual ele não podia concordar. O P. Luís Fróis, na  sua História do Japão, explica que «era aquele mosteiro da seita dos Jenxus (ramo Sôtô), que tem para si não haver mais que nascer e morrer, e que não há outra vida, nem castigo dos males, nem remuneração dos bens, nem autor que governe o universo. Entre outras muitas coisas, que o P. Mestre Francisco passou com este Ninjit, foram duas: a 1ª é que têm por costume aqueles bonzos, dentro dum ano, meditarem — cem dias uma ou duas horas determinadas, a que chamam zazen — sobre este não haver nada, para melhor extinguirem o remorso da consciência; e na compostura do corpo estavam com tanta modéstia, recolhimento e tranquilidade, como se estivessem arrebatados em uma contemplação divina. Passando uma vez o P. Mestre Francisco com este bonzo velho, superior do mosteiro, por este lugar comum, aonde todos os bonzos estavam fazendo sua meditação, perguntou o padre a Ninjit: «Que é que fazem aqui estes religiosos?» Ele sorrindo-se, lhe respondeu: «Uns estão fazendo de conta de quanto têm ganhado com seus fregueses os meses atrás passados; outros, donde poderão adquirir melhores vestidos e tratamentos para suas pessoas; outros em suas recreações e passatempos; e finalmente nenhum, em coisa que seja de algum momento». Eram as primeiras descrições ocidentais do zazen. Em 1560, o P. Luís de Almeida e os discípulos de Ninjit relembrarão com gratidão os diálogos de seus mestres, sem duvida momentos pioneiros do diálogo interreligioso ainda hoje tão necessário para a paz e a sabedoria das pessoas e religiões...
                
  O alvará do privilégio para a impressão dos Colóquios dos simples e drogas he coisas da Índia, de Garcia de Orta é dado neste dia pelo vice-rei D. Francisco Coutinho em 1562. Da dedicatória a Martim Afonso de Sousa: «É aprovada de todos a sentença de Salústio em que encomenda aos homens que trabalhem exceder e ter preeminência sobre os outros animais, que não passem a vida em silêncio, como fazem os brutos que não têm mais cuidado que de comer e beber... determinei fazer este tratado». Segue-se um soneto ao mesmo, umas odes de Camões ao vice-rei, recomendando Garcia de Orta: «Olhai que em vossos anos / Produz uma Orta insigne várias ervas, / Nos campos Lusitanos, / As quais, aquelas doutas e protervas / Medeia e Circe nunca conheceram, / Posto que as leis da Mágica excederam... O qual está pedindo / Vosso favor e ajuda ao grão volume, / Que agora em luz saindo / Dará da medicina um novo lume; / E descobrindo irá segredos certos, a todos os antigos encobertos». Vem depois um prólogo do médico valenciano Dimas Bosque: «Comum doutrina foi de todos os filósofos, prudente leitor, os homens, por causa e razão dos próprios homens serem nascidos, e de seu próprio nascimento, terem obrigação de aproveitar os outros: isto sentia o divino Platão quando dizia, não ser nascido homem só para si, mas também para pátria e amigos, e ainda que os homens, cumprindo com sua humana inclinação, aproveitando os outros, façam aquilo para que naturalmente gerados foram, contudo se lhes deve muito, pois não receando trabalhos, puseram suas forças em descobrir a verdade, tirando a névoa e véu que impedem os humanos entendimentos no perfeito conhecimento dela, e, o que mais é para arrecear, sujeitar-se a opinião de tantos e tão diversos pareceres». Por fim, há uma epístola do mesmo licenciado ao Dr. Tomé Rodrigues, lente de Medicina na Universidade de Coimbra, e um epigrama em latim de Tomé Dias Caiado considerando Garcia de Orta excelente médico quão filósofo.
  Graças à iniciativa do Físico-mór Mateus Cesário Rodrigues Moacho, formado em Lisboa e Lovaina, é criada a Escola Médico-Cirúrgica de Nova Goa por portaria provincial datada de 5 de Novembro de 1842  emitida pelo governador da Índia Francisco Xavier da Silva Pereira, Conde das Antas, que teve apenas uns meses no cargo.  Nesta escola formaram-se mais de 1300 médicos e cerca de 470 farmacêuticos, de grande qualidade, até ser extinta dois anos depois da reintegração de Goa no Estado indiano, em 1963.
                                
6-XI. O padre Henrique Henriques (1520-1600), em carta escrita neste dia em 1550 ao seu patriarca S. Inácio de Loiola refere a abundância de palavras do vocabulário ou dicionário da língua do Malabar, o  Tamil, que ele aprendera e compusera, que espantará os naturais e será muito útil aos outros missionários. Natural de Vila Viçosa, primeiro frade franciscano e depois jesuíta, cheio de energia e de fé, não parou enquanto andou pelas costas ocidentais da Índia a pregar, sendo um dos mais ousados dialogantes com a religião oriental e convivendo bastante com um mestre yogi, que conseguiu por fim converter. Restam da sua faina algumas cartas notáveis: «Fizemos uma regra entre nós senão falar malabar e há uma pena para quem falar em português, a não ser falando nós das coisas de Deus, encorajando-nos a servi-Lo». Imprimiu em caracteres tamil uma Vidas de Santos e uma Doutrina Cristã, e permitiu que a língua tamil fosse a primeira não-europeia a ser impressa em caracteres móveis.
 Neste dia, 6-XI-1556, o Patriarca da Etiópia [e Oriente], Dom João Nunes Barreto, em Goa, escreve para Lisboa dando conta ao provincial dos jesuítas Luís Gonçalves da Câmara  não só do bom funcionamento do curso de Filosofia no Colégio de S. Paulo, como do começo da Tipografia na Índia, que chegara dois meses antes ao continente indiano, ao sair à luz hindustânica as Conclusiones Philosophicas que Francisco Cabral defendeu perante Padre António Quadros, seu professor no Colégio de S. Paulo: «António Quadros prega a filosofia. Houve conclusões públicas, que parecia que eram sustentadas em Coimbra, onde houve grande concurso de gente e padres (...) João   [Bustamante] imprimiu já estas conclusões e outras coisas, o que se faz já bem e muito melhor se fará cada vez mais ao diante. O índio é muito bem inclinado e amigo de se confessar muitas vezes; no mar nos serviu muito bem na cozinha e aqui mostrou saber bem da impressão; e de que o P. Francisco Rodrigues está contente e deseja outro. Neste colégio agora querem imprimir a Doutrina Cristã que fez mestre Francisco; espero que em Etiópia se faça muito fruito com essa impressão».                                             
  D. João IV morre em 1656, com 52 anos de idade e o corpo é sepultado debaixo do sacrário da capela-mor de S. Vicente de Fora, com bela música, a que tanto se dedicara, a acompanhá-lo. Filho de D. Teodósio II, sétimo duque de Bragança e duma duquesa castelhana, manteve-se discreto durante a ocupação e espanhola, e hesitando em aderir à revolução de 1640, foi sua mulher Dona Luísa de Gusmão, por sinal espanhola de nascimento mas portuguesa de afeição quem o espicaçou, dizendo-lhe: «Mais vale ser rainha uma hora, que duquesa toda a vida». No seu reinado, de apertada luta pela sobrevivência perante Espanha, mas vitoriosa, a opção do Brasil em vez da Índia começou a desenhar-se cada vez mais. Está sepultado no mosteiro de S. Vicente de Fora, no antigo refeitório transformado em refrigerante panteão real da Casa de Bragança.
                                                           
7-XI. Morre neste dia em 1629 em Goa, Frei Sebastião de S. Pedro. Natural de Condeixa-a-Nova, partira para a Índia em 1582, como frade agostinho. Em 1614 escreveu a Recopilação das causas, porque o Imperador de Japão desterrou de seus Reinos todos os Padres, criticando a actuação dos missionários jesuítas, sendo refutado pelo provincial jesuíta Valentim Carvalho, na sua Apologia do Japão. Como bispo de Cochim entre 1615 e 1625, escreveu para a Mesa de Consciência e Ordens, em Lisboa, o organismo do Estado que fundado em 1532 superintendia o espiritual no Ultramar, queixando-se dos franciscanos no Ceilão. Esteve depois na Pérsia, onde os missionários eram tanto agentes comerciais e diplomatas como sacerdotes. Regressado a Lisboa, parte como bispo de S. Tomé de Meliapor, que governará de 1623 a 1625, defendendo-a contra os holandeses três meses; pelo seu conhecido destemor foi mandado pelo vice-rei na expedição contra o cerco dos holandeses em Paleacate, que será também levantado. Chegará depois a arcebispo de Goa e Primaz das Índias em 1625 e será construtor de templos, até em 1629, rasgar o véu que o separava do Templo da Eternidade e para aí se encaminhar. A luta pela sobrevivência dos portugueses era tão forte que não será avaliar-julgar estes monges militares que, não oferecendo a outra face, preferiam expulsar os, para eles, vendilhões do templo, neste caso os holandeses. 
O sábio historiador Luciano Cordeiro, vice-presidente da Comissão dos Monumentos Nacionais, lê o seu parecer As Obras dos Jeronymos, na sessão de 7 de Novembro de 1895, historiando as vicissitudes das reparações e reconstruções com que uma série de arquitectos e responsáveis destruíram e alteraram partes substanciais da Igreja e do mosteiro. Apresenta a visão do que se poderá fazer de mais harmonizador,  e defenderá o espírito do local: «No Monumento fundiu-se uma ideia; reside e perpetua-se nele uma intenção, um culto, uma consagração histórica que se quer respeitar desde que se quer conservar e restaurar o Monumento./ Se não se compreende, se não se sente, se não se respeita isto, parece hipocrisia o empenho e o cuidado da conservação material./ O monumento comemorativo de um feito que sintetiza e glorifica o nome, o esforço, a missão histórica de um povo através das idades e nações, não pode ser vazadouro ou asilo eventual de serviços e instituições avulsas sem carácter nem significado que com a dele condigna numa espontânea e nobre consonância moral./ Santa Maria de Belém é o Te-Deum que agradece e celebra a vitória da ideia, da fé e do esforço que alargaram o nome e a terra da Pátria portuguesa./ Como Santa Maria canta e celebra o triunfo do direito, da vontade, da razão das gerações que fizeram essa Pátria independente e soberana./ Completam-se e continuam como padrões do desenvolvimento de um povo no tempo e no espaço, na sua solidariedade histórica e na sua individualidade política. Pertencem à história desse país. São monumentos religiosos, menos já porque o sejam de uma crença mística do que porque o são da honra e do nome comum. Guardar, conservar, reparar, amoravelmente, devotamente, tais monumentos, - estes como tantos; - restituir aos Jerónimos, - que é o caso especial, oportuno, que nos preocupa, a continuidade, a integridade, a conclusão panorâmica, estética, monumental, nada mais honesto, mais digno, mais digno, mais afirmativo da nossa dignidade cívica e da nossa cultura moral. Mas não é tudo...» Admitirá então mais do que se tornar um Panteão, acolher a Torre do Tombo ou um Museu de Arqueologia. Luciano Cordeiro, um ser de visão alargada e com vasta obra sobre os Descobrimentos.

8-XI. Carta enviada de Goa do P. Egusquiça e escrita neste dia em 1564 a relatar o fervor e o fruto que a indulgência plenária, concedida pelo papa a quem convertesse ou ajudasse a converter um gentio, provocara. Já o 9º vice-rei da Índia, de 1564 a 1568, D. Antão de Noronha, mais ecuménico e realista, em carta ao rei D. João III informa que tal estímulo à conversão apregoado nos púlpitos e praticado por alguns zelosos «bastou para se despejarem muitos desta ilha e se passarem a outra banda». 
                                     
  Regressado a Agra, centro do império mogol de então, o padre Andrade redige
ou data neste dia 8 de Novembro de 1624a sua carta para o seu Provincial em Goa, relatando a heróica viagem de Agra até a Chaparangue, no Tibete, na qual passou pelas nascentes do Ganges em Badrinath, e pelas tormentos da neve, cegando e gelando mas sempre a avançar, até ser bem acolhido pelo rei de Guge, em Chaparangue no Tibete ocidental, com quem iniciou discussões diárias religiosas bem acolhidas e que lhe suscitam esperanças de conversão e donde só pôde partir debaixo do juramento de voltar dentro dum ano. Leva consigo uma carta real bem elogiosa do P. Andrade: "ao qual tomamos por nosso mestre lama maior, e lhe damos toda a autoridade para livremente poder pregar e ensinar aos nossos povos a lei santa, nem consentiremos que alguém lhe dê por isso moléstia, e lhe mandaremos dar sítio e toda ajuda que quiser, para fazer casa de oração, e somos contentes que sendo caso venham a nossas terras mercadores frangues...". Por sua vez, sobre os lamas tibetanos, escreve ele: "é gente de muito bom viver, não se casam, ocupam-se a maior parte do dia em rezar, e pelo menos o fazem pelas manhãs, por espaço de duas horas, e à tarde outro tanto; cantam a nosso modo suavemente, como cantochão entre nós". Esta carta ou Relação, e já com a segunda carta que relata a segunda viagem, publicada dois anos depois, em 1626, em Lisboa, por Mateus Pinheiro, com o título fulminante, Novo Descobrimento do Gram Catayo ou Reinos de Tibete,  espalhou-se como uma chama pela Europa sendo logo traduzida em cinco idiomas, com grande sucesso. Já no séc. XX foi reeditada por Francisco Maria Esteves Pereira, em 1921, em Lisboa, permitindo que mais investigadores admirassem as qualidades extraordinárias do P. António de Andrade e escrevessem sobre ele e as suas descrições pioneiras do Tibete ocidental, nomeadamente na sua vertente psicológica e religiosa.  No livro Portugueses das Sete Partidas, Aquilino Ribeiro amplifica com graça e força a descrição das intrépidas viagens. 400 anos depois desta data memorável, a Câmara Municipal de Oleiros organiza um colóquio em honra do seu conterrâneo, moderado pelo Joaquim Magalhães de Castro, a realizar-se em 9-10 de Novembro de 2024.
                                         
9-XI. Nasce em Sialkot, no Caxemira, Muhammad Iqbal, em 1877,
duma família brâmane há algumas gerações convertida ao Islão, do qual se tornará um ardente reformador como poeta e, por fim, como político. Glosando o legendário amor de Quais por Leila, um dos arquétipos árabes dos amantes, insurgir-se-á contra a obrigatoriedade do uso do véu: «Hoje os amorosos não são como Quais; não conseguem suportar a solidão dos baldios desérticos; / Respiraram os ares da cidade; para os vinhos do deserto não tem sabor. / Quais está louco de amor; pode ou não escolher a cidade como sua residência. / Mas não há razão para que Leila não erga o seu véu e mostre a sua radiosa face. / Chega de protestar contra a crueldade; chega de queixas contra a tirania; / Se o amor pode perambular livremente, porque é que a beleza não deve ser libertada?» O que diria ele da moda submissa de andar amordaçado por causa do virus gripal Sar, de 2020 e 2021? Certamente que em certos termos repudiaria..
  O último rei de Portugal, D. Manuel II, nasce neste dia em 1889 no palácio de Belém. Com o assassinato de seu pai, o artista D. Carlos, e de seu irmão mais velho D. Luís Filipe, no Terreiro do Paço em 1908 por republicanos extremistas, o príncipe é aclamado rei. O seu curto reinado será muito agitado pelas movimentações republicanas. Em 5 de Outubro de 1910 a revolução triunfa e o rei exila-se para a Inglaterra, onde apoia a participação portuguesa na 1ª grande Guerra e se dedica à aquisição e ao estudo dos livros antigos portugueses, de que publicará um valioso catalogo, até morrer em 1932. Apesar de alguma tentativas monárquicas posteriores, terminava assim esta simbologia governamental que, apoiada pelas ordens militares e pelo clero, nobreza e povo, representados nas cortes ou nos conselhos, liderara e galvanizara durante séculos a gente lusitana, e em especial na época áurea dos Descobrimentos, ora bem, ora menos bem. Com a república e a democracia os defeitos do partidarismo, num país pouco culto, têm contudo continuado a enfraquecer a qualidade e a eficácia dos providos de cargos políticos quanto a criarem ou conservarem as condições necessárias aos Portugueses e a Portugal para realizarem os seus principais ou melhores propósitos e
capacidades. 
        
10-XI. A comissão de bispos reunida em Goa em 1579 dá a sua aprovação para a partida da 1ª missão à corte do imperador mogol Akbar, de acordo com a carta convite dele: «Em nome de Deus. Carta de de Jalal-ud-din Muhamad Akbar, rei assente no trono de Deus. Ao Chefe dos sacerdotes da Ordem de S. Paulo. Que saibam que eu sou um grande amigo deles. Enviei para aí o meu embaixador Abdullah, e Domingos Peres, para vos pedir que me enviais com eles dois dos vossos sábios, que devem trazer os livros da lei e acima de tudo os Evangelhos porque eu verdadeira e seriamente desejo compreender a sua perfeição; e com grande urgência peço de novo que eles venham com o meu embaixador e tragam os seus livros. Pois da sua vinda obterei a mais profunda consolação; e eles ser-me-ão queridos, e recebê-los-ei com todas as honras possíveis». Serão dos mais valiosos momentos do encontro religioso e espiritual entre a Índia e Portugal, e entre as várias religiões, os que resultarão desta aprovação....
  Frei André de Santa Maria passou à Índia aos 18 anos como soldado, fez-se depois franciscano e chegou a bispo de Cochim governando por vinte e oito anos. Foi um pioneiro da evangelização do Ceilão, procurando que também os jesuítas e não só os franciscanos actuassem. Escreveu uma Relação sobre um sadhu ou asceta indiano que teria vivido 400 anos (impressa em Salamanca em 1609) e morre neste dia em 1618. Houve muitos portugueses que se passaram da milícia guerreira para a religiosa, depois de algum tempo no Oriente, provavelmente pela intensificação evolutiva sofrida.
  Diogo de Melo Sampaio, capitão na Índia, recolhe-se com o seu irmão na corte do imperador mogol Aurangzeb, por desinteligências havidas em Goa, sendo muito bem recebido. Servirá de diplomata nas disputas com Shivaji, o líder dos maratas. Já retirado em Bombaim, escreve neste dia, em 1682, o Frutífico Poema da árvore de Cristo, «sobre os proveitos e as doçuras das suas contempladas amarguras». Os portugueses e europeus que passavam para cortes dos soberanos indianos, eram chamados renegados quando as cortes eram inimigas, ou se pegavam mesmo em armas contrárias.
  Manuel António Sousa, indiano, nasce em Maçupa, Goa, neste dia 10.XI.1835 e esteve ainda no seminário de Rachol mas dotado de energias guerreiras acabou por ir para Moçambique aos 17 anos e destacar-se na sua capacidade guerreira e estratégica, ajudando muitos as autoridades portuguesas nas lutas contra os landins e os vátuas, chegando a ser nomeado capitão-mor de Manica e Quiteve, e coronel de 2ª linha. Veio a Lisboa, e foi recebido como herói, o rei D. Luís tratando-o mesmo como o rei do Barué, e a Socidade de Geografia fazendo-lhe uma sessão de homenagem e nomeando-o sócio honorário. No dizer de Lúcio de Miranda, na Índia e Indianos, 1936, que tenho seguido, «a sua boa estrela caiu no dia em que o costumeiro aliado traiçoeiro inglês, o conseguiu prender nas terras de Chifansóbio, donde fora enviado para Salisbury e a cidade do Cabo, donde virá a ser solto por negociações diplomáticas. Estava porém perdida a sua aura de invencibilidade para os milhares de africanos que o seguiam e em pouco tempo será contestado, atacado e por fim morto. O sábio Joaquim Paiva de Andrade, um dos mais famosos militares da época e dinamizadores da economia africana, e que se opôs fortemente ao imperialismo inglês, elogiará os indianos portugueses, que "souberam viver perigosamente", deste modo: «É minha profunda convição de que não existe pessoa alguma, na Metrópole ou em África, cujos serviços ao país, na província de Moçambique, se igualem aos de Manuel António de Sousa.»

Nasce em Pondá, Goa, neste dia, em 1915, Raul de Sepúlveda Fontes e foi desde novo um dinâmico jornalista e comunicador, colaborando em numerosas revistas e jornais portugueses e ingleses, brasileiros e indianos. Publicou duas obras místicas: By the Candle of the Light, tales of mystical fancy, Bombay, 1942 e Nicholas Roerich. Análise de um génio, Nova Goa, 1946, pois correspondera-se com o notável pintor russo. Dedicou a obra «A minha Mãe, que foi meu alento e meu guia até partir para as Regiões do Além, dedico este livro sobre a obra de Roerich, grande alma e grande guru.» No fim do prefácio, escrito na Índia em 1945, diz-nos: «Pouco antes de eu terminar este livro foi declarada a Paz Mundial. Neste momento os que conhecem o trabalho de Nicholas Roerich em prol da Paz lembrar-se-ão com certeza do Pacto Roerich firmado em Washington em 15 de Abril de 1935 que tem por fim salvaguardar os monumentos históricos e artísticos dos horrores da guerra. Esse Pacto fora aprovado pela Liga das Nações que também adoptara a bandeira sugerida por Roerich: três esferas em um círculo vermelho simbolizando a religião, cultura e arte./ O Mestre bendiz a paz./ Nicholas Roerich crê na missão da mocidade que, devidamente orientada e educada, poderá vir a ser um dos factores a assegurar a paz universal. Trabalhemos, pois, para tornar uma realidade o sonho do mestre: paz Perpétua ao Mundo sob a bandeira da Arte e da Cultura. Pax per Cultura.»
  Liberta-se do corpo terreno, em Lisboa, em 1931, com 60 anos, nos braços de sua mulher e companheira de vida D. Leonor de Paiva e Gracias, Mariano Gracias, natural de Goa, licenciado em Direito em Coimbra, secretário da Relação em Goa e Moçambique, poeta lírico e místico, com grande ânsia de beleza e amor, que deixou vasta obra poética, onde destacamos Missal de um Crente, (1898) Regresso ao Lar (1906), O ABC da Nenita (ilustrado) (1913), A Bíblia do Amor (1913), O Crepúsculo da Saudade (1922), Terra de Rajáhs (1925) Oração ao Suryá (1925). É um poeta imbuído da espiritualidade indiana (que a explica até em glossários), a qual perpassa constantemente pela sua inspiração, bem cingida com a tradição clássica platónica e neo-platónica e o cristianismo, tal como o ouvimos dirigindo-se à amada: «Tu és bela! Tu és formosa! - e mais aos olhos meus!...// E bem mais linda e formosa Deus te faça.// A mocidade é breve e a formosura passa,// Mas a beleza d'Alma, Oh! não nos diz adeus!». No post-scriptum de O Crepúsculo da Saudade" pede humildemente que escrevam sobre o seu vaso coval, junto ao símbolo da cruz e do raio: «Aqui dorme quem, em suma// Sempre amou o Belo e o Bem// Quem jamais foi coisa alguma,// Nunca passou de ninguém.»
                  
11-XI. Em 1546, o sábio e guerreiro D. João de Castro, chegado a Diu, lança neste dia o ataque final sobre as forças sitiantes de mouros e turcos do Rumecão, infligindo-lhes, exemplificando com a sua espada em acção, pesada derrota e terminando assim com o heróico 2º cerco de Diu, de Abril a Novembro. Do cadáver de seu filho D. Fernando, enterrado há dias, quis retirar ossos para pedir um empréstimo ao Senado de Goa mas, como estava ainda em carne, teve de arrancar das suas barbas o que serviu de penhor de honra. 
  O fundador do império francês na Índia, casado com a indo-portuguesa D. Joana de Castro, o almirante Dupleix, morre em 1763 em Paris, vítima da inveja e da perfídia. Três dias antes, no seu último escrito, diz: «Sacrifiquei a minha fortuna, a minha mocidade, a minha vida em cumular a minha nação das riquezas da Ásia... Sou tratado como o mais vil dos homens; estou na mais deplorável indigência, os poucos bens que tinha foram arrestados».
  O ministro da Marinha e do Ultramar, o funchalense Jaime Moniz (1837-1917), durante o governo de Fontes Pereira de Melo, decreta a extinção do Exército da Índia neste dia em 1871, por ser «insubordinado, luxuoso e inútil». Pouco antes reduzira-se em mais de 2.000 homens os efectivos, o que provocara revoltas dos descendentes de europeus, a partir de então desprovidos da sua principal forma de vida e subsistência. Alguns militares pedirão a integração no exército da metrópole e elevar-se-ão nos postos, tais como Cristóvão Aires e Fernando Leal. Frederico Dinis de Ayala, em 1888, no seu valioso livro Goa Antiga e Moderna, deplora tal acto, embora exagerando a sua importância:
«Aniquilou-se o exército, isto é, o único elemento que representava o direito de conquista, o lustre e o prestígio do nome português na Índia». 
                                              
12-XI. O 8º governador da Índia portuguesa Lopo Vaz de Sampaio (1480-1534), depois de incendiar e conquistar Porcá, junto a Cochim, em 1529,
obriga Arel, o senhor dela a pedir a paz e protege a sua mulher e a irmã, de acordo com a tradição cavaleiresca, recolhendo benefícios de amizade do mesmo. Armado cavaleiro em Arzila por Afonso V e, porque a sua coragem o levava nas batalhas para os locais mais perigosos, ferido em Toro, Alcácer Kibir, Alcácer Ceguer e Tânger, Lopo Vaz seguiu para a Índia em 1512, onde se notabilizou até 1526, quando recusou-se a passar o governo interino do Estado português para Pedro de Mascarenhas, então em Malaca, prendendo-o no regresso, organizando uma junta que votou a seu favor e mandando-o para Lisboa. Aquando das discussões sobre a capacidade de atacar-se ou não Cananor «tomou a sua espingarda e disse em voz alta: Quem quiser sustentar a bandeira del-Rei de Portugal siga-me». Muito destemido e activo, reforçando também a armada e as fortalezas, deu contudo um mau exemplo de insubordinação e conluios ardilosos com o vedor da Fazenda de Cochim Afonso Mexia, o principal inimigo de Pedro de Mascarenhas. Não escapou, ao regressar a Portugal, de ser preso e lamentar-se longamente nos cárceres antes de se poder defender, como regista Diogo de Couto. Embora condenado a degredo e multas pesadas, foi pouco depois perdoado e libertado tendo em conta a sua folha de serviços.
                                            
13-XI. Nataputta Vardhamana, Mahavira, o 24º Tirthankara (local
de piedade, ou um ser realizado espiritualmente) da antiquíssima religião Jaina atinge o grande nirvana, maha nirvana, libertando-se do corpo terreno neste dia em 523 A.C, em Pavapuri, Bihar. Tornara-se um arhat (realizado), ou jina (vitorioso), um kevala jnanin, um conhecedor liberto, aos 42 anos: «Eu sou omnisciente (kevala jnan) e omnividente, e possuo um conhecimento infinito. Quer, eu caminhe ou esteja quieto, durma ou vigie, o supremo conhecimento e intuição estão presentes em mim, constante e continuamente... Para se atingir isto há que não causar novo karma e purificar-se dos actos passados». Ainda hoje há milhões de Jainas (0,5% da população indiana), sobretudo na zona de Bombaim e Rajasthan, com belíssimos templos duma alvura inexcedível, seguindo o caminho de purificação e libertação vivido e apontado pelo último dos tirthankaras Mahavira. 
                                     
Deixa a orbe terrestre, jazendo os seus restos no mosteiro da
Batalha, o infante D. Henrique, regedor e administrador da Ordem de Cristo, neste dia 13-XI, em 1460, depois de ter começado a revelar ao Ocidente as costas de África rumo ao reino do Preste João e à Índia e de ser pela sua acção o principal iniciador dos Descobrimentos. D. Manuel mandou esculpir a sua estátua, segundo Damião de Goes, no portal magistral dos Jerónimos. Nos seus testamentos, reza: «primeiramente encomendo a alma minha e o corpo ao meu senhor Deus e lhe peço que antes da ressurreição e desde que ressurgir, ele me dê salvação e me faça do conto dos seus santos por a sua grande misericórdia e piedade... E peço ao meu senhor S. Luís, a quem desde a minha nascença fui encomendado, que ele com todos os santos e santas e anjos da corte celestial, roguem a Deus por mim que me dê salvação». Instituiu missas duradouras pela sua alma que deviam ser rezadas em diferentes capelas e pagas aos vigários da Ordem de Cristo que as celebrassem, mas em 1556 os jesuítas absorvem tal privilégio celebrando todas as missas no Colégio que detinham em Coimbra, de certo modo substituindo-se à Ordem de Cristo como hierofantes do seu testamento e impulso espiritual expansivo. De temperamento vincado, costumava dizer quando se impacientava, para se controlar, "dou-vos a Deus", ou "sejai de boa fortuna". E deixou-nos a sua divisa Talent de Bien faire, Vontade de Bem Fazer, muito valorizada na reconstituição dos princípios da ordem Espiritual de Portugal que Fernando Pessoa debuxava. Também Antero de Quental, estudante, escreveu em 1860, para a revista científica e literária O Académico, uma pequena biografia histórico-filosófica, inacabada, intitulada O Infante Dom Henrique, sobretudo sobre a alma da época.  
O P. António Fernandes, missionário na Etiópia, nascido em Lisboa em 1569, enviado em 1602 para a Índia, e desde 1604 em Etiópia, onde missionou com grande sucesso em diversas regiões tendo traduzido e impresso (em Goa) em caracteres abexins o Flegelo Mendaciorum e outras obras de catecismo e de correcção do desvio ou heterodoxia nestoriana, morre neste dia em 1642. 
 O prémio Nobel da Literatura é atribuído a Rabindranath Tagore (1861-1941) neste dia em 1913 pela sua obra poética,  na qual se destaca Gitanjali, prefaciada pelo poeta Yeats, grande apreciador da sabedoria indiana e que será também prémio Nobel em 1923. Ali aludirá a um importante escutar: «Se não me falares encherei o meu coração com o teu silêncio e aguentá-lo-ei. Manter-me-ei calmo e à espera como a noite com a vigília estrelada e a sua cabeça curvada com paciência». Terá bastante apreciação no mundo Ocidental e nomeadamente em Portugal, onde vários pensadores e escritores o traduziram ou comentaram, desde Adeodato Barreto a Telles de Mascarenha. Neste blogue consagrei-lhe alguns artigos e novas traduções para português comentadas.

14-XI. O primeiro mártir jesuíta em Bengala passa neste dia para o outro mundo em 1602. Era o Padre Francisco Fernandes, morto pelas tropas do rei de Arracão, em retaliação pelos portugueses terem destruído a sua frota e matado muitos dos seus súbditos, dois anos depois de ter fundado a sua esperançosa igreja em Chatigão.
  Dezassete franciscanos armados (algo turbulentos desde 1567), não aceitam o novo presidente do Colégio de S. Boaventura, em 1694, prendem o provincial e o visitador e resistem à artilharia enviada pelo vice-rei, que se queixará ao Rei de que «com pouca decência e respeito expuseram o Santíssimo Sacramento em uma janela do dormitório que cai para o rio Mandovi». Só mais tarde se rendem. O maior amor e liberalidade de costumes e de disciplina que caracterizava os franciscanos, por oposição a jesuítas e dominicanos, com o tempo, nos ambientes quentes do Oriente, causou com frequência faltas na disciplina e voluntarismos
desordenados. 
                                            
15-XI. No castelo de Palmela, sede da Ordem de Santiago, no
priorado de D. João de Braga, e sendo mestre das Ordens monástico-militares de Santiago e Avis D. Jorge de Lencastre, são recebidos em procissão um bordão, uma vieira e umas contas em ouro enviados por Afonso de Albuquerque em 1515, que com muitos outros portugueses costumava iniciar as lutas ao som do «Por Santiago, Por Portugal...». Cavaleiros da Ordem de Santiago foram D. Francisco de Almeida, Nuno da Cunha, D. Constantino de Bragança, André Furtado de Mendonça, e muitos outros dos seus membros, notabilizaram-se no Oriente. Desde 1233 existiam as comendadeiras da Ordem de Santiago no Convento de Santos, donde saíam certamente orações por todas as almas em partes certas e incertas do mundo.
  
Por carta régia datada deste dia no ano de 1526, depois de se ter provado ousado realizador de muitas das missões no Oriente, Fernão Afonso é nomeado mestre de navegação da Índia como em outras partes, o qual na ocasião «jurou na minha chancelaria aos santos Evangelhos que bem e verdadeiramente sirva o dito ofício».
                                           
Swami Vidyanand Videh, o fundador do Ved-Sansthan, em Ajmer
(em 1948), nasce neste dia em 1899 e será um notável transmissor e pregador da tradição religiosa e espiritual védica, na linha de Swami Dayanand Saraswati, mas por si próprio, aprofundando as práticas de yoga com Swami Japananda e vivendo até 5-III-1978. Avisará que a complexidade dos problemas económicos e sociais tem aumentado e que com o nome de "melhoria dos níveis de vida", tem-se é estrangulado mais o ser humano. As falhas nos deveres, a má utilização da ciência, a comercialização dos grupos religiosos, a confusão de valores e a perplexidade geral só poderão ser resolvidas por quem se realizou a si mesmo como alma e que portanto é capaz de ver a omnipresença divina em todos os seres, sacrificando-se por isso. Recomendará a repetição e concentração na frase: Ahamindro, na shariram, Eu sou a alma e não o corpo. 
  Vinoba, o sucessor de Gandhi na liderança do movimento de não-violência, desprende-se do corpo num jejum no ashram de Paune em 1982, com 87 anos de grande serviço. Um dos maiores pedagogos da Índia, com vasta obra, advertirá: «Ciência e tecnologia científica devem ser diferenciadas. Não é a ciência mas a sabedoria espiritual que deve decidir até onde a tecnologia científica deve ser aplicada na prática, numa sociedade particular, num tempo particular. Não deve haver restrições no avanço da ciência pura; quanto mais progredir melhor. Mas o seu uso e aplicação deve ser pelo auto-conhecimento. No mundo do futuro, ciência e sabedoria espiritual terão um lugar; políticas de poder e religião sectária não terão nenhum». Lanza del Vasto dedicou-lhe em 1959 Vinôbâ ou a nova peregrinação, um belo livro sobre o encontro dos dois e a alma de Vinobaji, embora segundo este, que ainda conheci pouco antes de morrer, Lanza del Vasto regressara cedo demais ao Ocidente.

16-XI. Pedro Álvares Cabral, neste dia em 1500, perante a chacina de Aires Correia e dos 53 homens da feitoria que se erguia em Calecut (ao que parece por Cabral ter capturado um barco no porto), e já impaciente da lentidão com que se carregavam os seus barcos de especiarias, resolve passar ao ataque queimando quantos barcos via e bombardeando dois dias a cidade, matando umas centenas de adversários. Segue depois para Cochim, onde reinava uma dinastia inimiga do Samorim, é recebido amigavelmente, faz aliança, negoceia e, evitando os barcos do Samorim, segue para Cananor, donde sairá carregado para Portugal, mas deixando para trás um rasto de inimizades e reclamações na esfera de Calecut.
 
Noite de vigília, oração e despedidas ardentes. Chegou já a véspera da partida de Goa neste dia em 1579 dos padres Rudolfo Aquaviva, António Monserrate e Francisco Henriques para a corte do imperador mogol Akbar, onde sufis, jainas, yogis, shaktas, e parsis se reúnem com a ortodoxia islâmica, tais como sayyids, ulamas e amirs, sob a orientação magnânima e mística, denominada até sulh-i-kul, tolerância universal, de Akbar. Será sobretudo em discussão com os muçulmanos e em conversas culturais e religiosas com o imperador e os membros mais iluminados da sua corte que os missionários se distinguirão. A partir do fim de 1581, Akbar menospreza cada vez mais a religião islâmica, e fundará mesmo em 1582 a Din-ilahi, a Religião Divina, como religião universal contendo o melhor do islão, do hinduísmo e do cristianismo. Seu neto Dara Shikoh foi também um realizado espiritual e místico universal e em alguns poemas ironizou também aspectos comuns religiosos, no caso os sacerdotes do Islão: «Paraíso é onde nenhum Mulla habita,/ Onde não há argumentos e tumultos com ele./ Possa o mundo  ficar livre do barulho do Mulla! [eclesiástico do Islão]/ Que ninguém obedeça às suas Fatwas! [decretos]/ Na cidade em que vive um Mulla,/ Não se encontra um só sábio.»
O cronista Diogo de Couto (1542-1616) escreve neste dia em 1599, em Goa a dedicatória da sua obra Tratado de todas as cousas socedidas ao valoroso Capitão Dom Vasco da Gama primeiro Conde da Vidigueira: Almirante do Mar da Índia no descobrimento e conquistas dos Mares, e Terras do Oriente: e de todas as vezes que a India passou, e das cousas que socederam nella a todos seus filhos. Dirigido a D. Francisco da Gama, Conde de Vidigueira Almirante do mar Indico, e visorreida Índia, [bisneto de Vasco da Gama], o qual se conservou inédito até José Manuel Azevedo e Silva e João Marinho dos Santos o darem à luz em 1998. É provável terem sido os descendentes, ao não apreciarem críticas acertadas de Diogo Couto a alguns dos filhos de Vasco da Gama, a obstarem a  que tão valiosa obra, escrita em Goa e em contacto com bons informadores, tenha permanecido na obscuridade. A 1ª parte da obra historia as três viagens e "as maravilhosas coisas e os raros e espantosos sucesso" do "valoroso capitão" Dom Vasco da Gama, dotado de "muito tento", "prudência e cautela", apesar de por vezes "ser homem colérico e apressado nas resoluções" mas sempre guiado pelo seu amor à causa pública, e que cognomina de O Índico, o que avatarizou um velho sonho e profecia: "tornar comunicáveis o Ganges com o Tejo, o Eufrates com o Minho, o Nilo com o Douro, o Tigre com o Guadiana, ajuntando o primeiro ponto do nascimento do sol com o último fim de seu ponte". E a 2ª parte, historia a actuação de cinco dos seus sete filhos: Estêvão da Gama, Paulo da Gama, D. Cristóvão da Gama (e a sua heróica e imortal expedição e defesa do Preste João), D. Pedro da Silva e D. Álvaro de Ataíde da Gama, dentro do contexto cronológico e histórico de cada época, ousando criticar alguns pela falta de manterem o segredo, a circunspecção, a prudência, a comensurabilidade...
                                            
17-XI. Em Florença, a bela, assistido pelo austero Savonarola (1452-1498),
em 1494, Pico della Mirandola, um dos mais gentis e místicos dos humanistas, abandona o corpo físico, rumo certamente a planos elevados no Cosmos e já muito transparentes e vizinhos do nível da Divindade, e tendo contado apenas com 31 anos terrenos para tanto que sentiu, pensou, dialogou e escreveu. Na lápide da sua sepultura ressoa inscrito: «Aqui jaz Pico della Mirandola. O Tejo e o Ganges conhecem-no, e porventura os antípodas».  João de Barros terá talvez pensado ou ecoado este dito quando escreve que os portugueses ultrapassaram tanto «as próprias fábulas da gentilidade grega e romana, que vêm a ser antípodas da própria pátria, e se Deus tivera criado outros mundos, já lá tiveram metido outros padrões de vitória; contendendo os perigos do mar, trabalhos de fome e de sede, dores de novas enfermidades, e finalmente com as malícias, traições e enganos dos homens, que é mais duro de sofrer». O teólogo místico Sebastião Toscano, no Sermão pregado na transladação dos ossos (se vieram mesmo) de Afonso de Albuquerque para a igreja do convento dos agostinhos da Graça em Lisboa, em 1566, comparou Pico e Albuquerque, universais pelo menos no valor e fama das suas ideias e obras, aludindo à mesma união do Ganges e do Tejo. E em 16 de Novembro de 1599, o sábio cronista Diogo de Couto utiliza a mesma imagem unitiva dos rios e antípodas, como já citámos. A odisseia de Pico della Mirandola, embora vivendo alguns anos excomungado, prosseguiu no mundo das ideias, das causas e do espírito, tentando descobrir e provar a unidade do Aristóteles ocidental com o Platão oriental, e partilhar a  Filosofia Perene que persas e gregos, árabes e judeus, cristãos e de outras religiões tinham e têm em comum. A sua fase final, mais católica, terá sido influenciada por Savonarola. Em Portugal, frei António de Beja deu cedo prova da popularidade e valor de Pico della Mirandola traduzindo-o para a rainha D. Leonor, no seu Contra os juizos dos Astrologos, na qual critica com várias razões a astrologia judiciária ou de previsões, que tanta água tem feito face aos astrólogos e suas previsões. No séc. XX, entre nós, foi a vez de José Vitorino de Pina Martins, com quem muito convivi, destacar-se no estudo, amor e divulgação deste sábio precoce e prodigioso, entre uma plêiade de seus devotados estudiosos como Eugenio Garin, Paul Oskar Kristeller, Giovanni Semprini, Louis Gauthier Vignal, Andre Chastel, Henri de Lubac, Pierre-Marie Cordier, Giuseppe Tognon, etc. A sua Oratio, também intitulada Discurso sobre a Dignidade Humana, uma introdução às suas 900 Teses, na qual queria discutir com os sábios da época, ficou como um manifesto do idealismo cristão humanista e universalista e é a sua obra mais lida e comentada.
  É fundada em Nova Iorque a Sociedade Teosófica neste dia em 1875 pela russa Helena Petrovna Blavatsky e o coronel norte-americano Henry Steel Olcott, que se tinham conhecido pouco antes como adeptos e investigadores do espiritismo, destinada a divulgar no Ocidente os conhecimentos esotéricos e orientais, a estudar os poderes ocultos do homem e a desenvolver uma consciência espiritual e fraterna no mundo. Com muita literatura ocultista produzida e grandes polémicas na sua história, nomeadamente as protagonizadas por Annie Besant e sobretudo Leadbeater, ainda hoje funciona em muitos países do mundo, embora já bastante decaída, muito modificada pela influência de Krishnamurti e ultrapassada por milhares de organizações e publicações esotéricas e sobretudo pseudo-esotéricas. Na imagem, em 1891, Helena P. Blavatsky com James Pryse e o notável tradutor de grego e conhecedor das religiões antigas George Robert S. Mead.
                                   
 
Yensho Kanakura nasce neste dia em 1896. Professor de civilização indiana na Universidade Imperial de Sendai, escritor sobre as várias religiões da Índia, nomeadamente o Jainismo, no seu importante Hindu-Budhist Thought in India, dirá: «O papel desempenhado pelo Japão na última guerra mundial foi um dos maiores erros que ele cometeu. Porém, um estudo sério da história japonesa mostra que isso foi um abandono inabitual e temporário das características e ideais (de harmonia) próprios do Japão».
                                  
Mira Alfassa, a companheira de Sri Aurobindo, mais conhecida como a Mãe, já que era considerada uma incarnação da Mãe Divina, e que esteve cinquenta e três anos a chefiar o Ashram ou
centro do movimento espiritual iniciado por Sri Aurobindo em Pondichery, desencarna neste dia em 1973 com 95 anos, deixando uma vasta obra de literatura espiritual. Dirá: «É uma posse de grande valor cada ser humano ter aprendido a conhecer-se e a dominar-se. Conhecer-se a si próprio significa conhecer os motivos das suas acções e reacções, e o como de tudo o que acontece em si mesmo. Dominar-se a si próprio significa fazer o que se decidiu fazer, não fazer nada senão isso, sem ouvir ou seguir impulsos, desejos ou fantasias».

18-XI. Carta do Padre Baltasar Nunes aos irmãos jesuítas em Coimbra, em 1548, acerca dos aspectos mais místicos e doces de Francisco Xavier, que contudo pediu a Inquisição para Goa ao rei : «Seu andar em boa maneira, de maneira que não o sentis, seu rosto descoberto, os olhos sempre altos e cheios de água, e a boca cheia de riso, as palavras poucas e movidas a chorar, em sua boca nunca ouvireis senão Cristo Jesus, a Santíssima Trindade, e dizendo estas coisas acode dizendo: "Oh! Irmãos meus e meus companheiros, quão melhor Deus temos do que cuidamos; olhai e dai graça e muitos louvores a Deus"».
  Termina em 1617 o prazo de leilão dos cargos públicos e capitanias do Oriente que D. Filipe III determinara, arrecadando 643 mil xerafins, mas pondo em causa o mérito dos que vieram a ser providos, e desfigurando gravemente a administração portuguesa. As despesas da manutenção do império ibérico eram então muitas e desde dinheiro a homens tudo era requisitado constantemente para acudir a tantas e tão desvairadas partes e empresas.

19-XI.O P. Gaspar Afonso, provincial dos jesuítas, dá em 1687 ao governador na Índia o seu parecer sobre a conveniência da mudança da capital de velha Goa para Pangim: «Parece muito acertada assim pela fortaleza do sítio como pela bondade dos ares em que se reparariam os males que nós de Goa experimentamos. E ainda que essa mudança tem muitas e grandes dificuldades sem elas não se faz coisa grande.» E como tal, a mudança concretiza-se em 1835...
  O 44º vice-rei Pedro Miguel de Almeida Portugal, 1º marquês de Alorna (1688-1756, numa vida muito activa) escreve neste dia em 1744 na sua Relação do Estado da Índia deixada ao seu sucessor: «Quantas vezes se tem visto na Índia, por afecto, e por paixão torcer a vara! Quantas vezes para favorecer o indigno se causou irreparável prejuízo ao benemérito? Quantas vezes se viu na Índia colocados nos altares os mesmos que deveriam ser pendurados nos 
patíbulos?» Esta última frase marca o rigor ou severidade excessiva com que por vezes agiu, nomeadamente numas das primeiras revoltas independentistas no Brasil, a de Filipe Santos, em 1720.
                                                  
Nasce Keshub Chandra (ou Chunder) Sen, neste dia 19 de Novembro de 1838, em Calcutá, numa família de pessoas cultas, pois o seu avô chegara a secretário da famosa Sociedade Asiática e publicar um dicionário bengali-inglês pioneiro e uma versão dos contos do Hitopadesa, que já na idade média circularam na Europa. A partir de 1859 ingressa no movimento reformador teísta Brahmo Samaj, e funda pouco depois um ramo, o Sangat Sabha, que alargava o culto e estudo aos profetas e textos de todas as religiões, bem como a pensadores de então, tais como Theodhore Parker, Cardeal Newman, Victor Cousin, realçando tanto o aspecto racional e ético, como o espiritual interior. Ao escrever em 1860 Jovem Bengala, isto é para Ti e Um Apelo à Jovem Índia, teve um grande impacto na juventude e celebrizou-se. O  vice-rei inglês John Lawrence que acreditava que ele estariainclinado a converter-se ao Cristianismo convidou-a a ir em 1870, até Londres, onde esteve seis meses, brilhando pela sua palavra sábia e entusiástica, encontrando-se com a Rainha Vitória, Max  Müller e Stuart Mill, mas sentindo alguma desilusão, bem natural face à vaidade e arrogância proverbial inglesa, resumindo a assim a viagem, no discurso antes de regressar à Índia: «Vim aqui como um indiano, e regresso reforçado como indiano. Cheguei aqui como um Deísta, e regresso como Deísta confirmado. Aprendi a amar o meu próprio país mais e mais». Tendo tido várias controvérsias religiosas e educativas (nomeadamente ao permitir o casamento ainda que por procuração da sua filha apenas com 14 com o noivo de 15), foi a partir do forte contacto com o carismático e realizado mestre Ramakrishna Paramahamsa (1833-1886), em 1875, que desenvolve mais a aproximação unitiva com Deus, tentando aprender com ele a devocionalidade e os aspectos tântricos mais valiosos. Ramakrisna gostava muito de Keshub e tentou aperfeiçoá-lo e as páginas do Evangelho de Ramakrisna narram belos episódios desse relacionamento de mestre e discípulo. Em 1880. Proclamará muito entusiasticamente: «Nos dias de hoje a Ciência matou a distância, no mundo físico pelo vapor e a electricidade, no mundo espiritual pela introspecção e a visão imediata (...) Está a chegar o tempo em que não só o Deus vivo revelar-se-á à visão imediata dos seres humanos por todo o mundo, mas também os santos desencarnados no céu manterão comunhão com os homens e mulheres nos seus corações». Optimismos fortes que o materialismo, imperialismo, corrupções bancárias e ditaduras vendidas e opressivas neo-liberais enfraqueceram muito, embora aqui e acolá pessoas e grupos vão realizando tais aspirações mais luminosas. Deixará a Terra em 8 de Janeiro de 1884.
Nasce Edmé Casimir de Croizier,  neste dia de 16 de Dezembro, de 1846, e será um valioso orientalista, Conde e depois Marquês, e Cavaleiro da Legião Francesa, pelas suas viagens e obras, donde se destacam La Perse et les Persans, 1873, L’Art Khmer, Étude historique sur les Monuments de l'Ancien Cambodge... suivi d'un Catalogue raisonné du Musée Khmer de Compiegne, 1875, este sendo o primeiro museu de arte do Cambodja na Europa, no qual quase tudo se deveu ao tenente L. Delaporte, da Marinha Francesa, que explorou, revelou e trouxe as peças, descrevendo ainda bem as suas expedições. Outras obras de Croizier: Les Explorateurs du Cambodge, 1878; Histoire de l’Architecture Cambodgienne d’après James Fergusson, 1879; Les Monuments de l’ancien Cambodge classés par provinces, 1879; Les Monuments de Samarkand de l’époque des Timourides. 1891. Entre as peças trazidas (hoje no museu do Louvre) ou reproduzidas no livro de 1875, há um excelente baixo relevo esculpido numa galeria de Angkor Vat, com um episódio do famoso Ramayana indiano, a morte de Hanumam, o deus rei dos macacos e ajudante do Rama, de provável origem dravidiana e associado tanto a Rudra (Vayu, vento) como a Shiva, e cujo culto floresce simbolizando a fidelidade, a devoção, o serviço rápido ou deligente e a fraternidade de todos os seres na terra, tendo ainda hoje milhares de templos e milhões de devotos.
20-XI. A Inquisição de Goa anota que o 31º governador do Estado Português na Índia de 1588 a 1591, Manuel de Sousa Coutinho (1540-1591) e a mulher dona Leonor consultam em 1589 médicos gentios e «mandavam consultar pagodes a terra firme quando esperavam as naus e tratavam misticamente com feiticeiros gentios». Teria o casal pressentido  que iriam morrer num naufrágio ao regressarem do Oriente, onde ele tanto se notabilizara como governador de Ceilão, capitão de Malaca e vice-rei da Índia? O que lhe teriam segredado os astrólogos ou videntes? Eis um sinal interessante de interesse e valorização do psiquismo e da religiosidade universal.
 
Diogo de Couto (1542-1616, Goa), neste dia em 1589, já depois de ter estado de 1559 a 1569 na Índia, escreve ao rei Filipe e diz que começou a redigir  uma Crónica Geral da Índia para qual pede o seu favor «para com mais ânimo e ousadia ir por diante com este trabalho». Disto resultará a continuação das três Décadas de João de Barros e o muito  crítico Soldado Prático. Como filósofo e humanista, Diogo de Couto constata lucidamente o «empioramento» do Estado Português na Índia, pondo a culpa nos «reis que vieram a gostar mais de lisonjeiros que de filósofos e sabedores», nos governadores que acrescentam «a sua fazenda com muita perda da do rei e Deus sabe por que meios» e na mentalidade geral que dizia «fazei por trazer dinheiro que o mais é vento». Nesta mesma linha crítica se inserirá Antero de Quental, com as suas Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos, uma conferência fracturante na história e literatura portuguesa, logo passada a opúsculo, em 1865.
  D. Filipe III em carta datada deste dia em 1598, para o vice-rei D. Francisco da Gama, bisneto de D. Vasco da Gama, sugere o afastamento do incómodo cronista Diogo de Couto do cargo de guarda-mor da Torre do Tombo de Goa, mas em vão, pois o vice-rei é homem de grande alma e amigo de Diogo de Couto, como este era de Camões, e a tradicional camaradagem cavaleiresca dos Fiéis do Amor vivia ainda, como está registado na Década VIII: «Em Moçambique achámos aquele Príncipe dos Poetas de seu tempo, meu matalote e amigo Luís de Camões, tão pobre que comia de amigos, e para se embarcar para o reino lhe ajuntámos os amigos toda a roupa que houve mister, e não faltou quem lhe desse de comer».
O Reverendo Padre Filinto Dias deixa a terra neste dia em 1986, com 82 anos, pois nascera a 3-III-1904, após uma vida cheia de amor à Língua e Literatura Portuguesa que ensinou nos seminários de Rachol, de Nossa Senhora e Pilerne-Saligão, para além de escrever em dezenas de publicações, algumas em Portugal, tal o Novidades. Ainda o conheci no lar de sacerdotes do Alto de Porvorém e apreciei a sua frescura psíquica e a notável cultura e capacidade de dialogar. O seu esboço da História da Literatura Indo-Portuguesa foi obra bem pioneira e ainda hoje se lê com proveito e gosto, pois dominava muito bem o português clássico, sendo também familiar com as obras dos místicos, unindo o engenho e o coração na via da Verdade rumo à Divindade.
21-XI. O 9º governador do Estado Português na Índia, de 1529 a 1538, e comendador da Ordem de Cristo, o sábio e honesto Nuno da Cunha (1487-1539), coloca a pedra de fundação da fortaleza de Diu em 1535, com todos os usos e cerimoniais. Foi devido à sua acção em defesa do rei de Cambaia que os portugueses receberam Baçaim e a ilha de Diu.
O padre mestre Francisco Xavier adoece em 1552, na ilha de Sanchoão, em frente a Cantão, do continuado trabalho e porque seu amigo e hospedeiro Jorge Álvares partira, e vê-se obrigado a andar a pedir aos portugueses dum barco. O irmão António China, que o acompanhava, numa carta ao irmão Manuel Teixeira conta que o P. Mestre Francisco, numa das noites com mais febre, foi dormir à nau «mas logo de manhã veio ter comigo a terra com uns calções de pano debaixo do braço, que lhe deram lá para o frio, que eram grandes, e com umas poucas de amêndoas na manga que também lhe lá deram para comer. E vinha com tão grande febre e tão abrasado que parecia uma brasa». O tratamento foi o clássico da época: sangrado repetidas vezes, esmorecendo nalgumas, e começando a intuir que chegara a sua hora de partir da Terra... 
Os Estados Gerais das Províncias Unidas, em 1585, determinam que ninguém saia com mercadorias ou navios para Espanha e Portugal, sob pena de confisco dos mesmos. Respondia-se assim ao apresamento que D. Filipe II fizera dos navios holandeses que se encontravam nos seus domínios. Poucos anos depois (1595) saiam os primeiros barcos para o Oriente, os da Companhia dos Países Distantes, e os holandeses (mais pragmáticos, mais capitalistas e menos missionários) preparavam-se para substituir em grande parte os portugueses, numa roda da fortuna que rodaria ainda a favor dos ingleses, até que já no século XX as independências de muitos povos orientais reemergem finalmente.  
Em Nova Goa, filho de Luiz Caetano Nazaré e de Angelina Lauriana Fonseca, nasce neste dia 21 de Novembro, em 1830, Casimiro Cristóvão de Nazaré. Formar-se-á em Teologia no seminário do Rachol, fará muita investigação na Torre do Tombo e noutros arquivos lisboetas e será Vigário Geral de Cochim de 1875 a 1884. Foi ao longo dos seus 98 anos de vida um dos grandes investigadores da religião cristã no Oriente e publicou obras de grande mérito, entre as quais o manuscrito Oriente Conquistado, bem prefaciado e anotado, e uma obra ainda hoje de referência: as Mitras Lusitanas no Oriente.  
Nasce em 1865 em Lorient, França, o arqueólgo e historiador de arte orientalista Alfred Charles Auguste Foucher, que terá uma longa vida como filógo, indianista, espacialista de budismo e da arte Gandhara, vivendo oito anos no Oriente, dirigindo as escavaçãoes arqueologicas no Afeganistão e sendo professor de língua e literatura indiana de 1907 a 1936 na Faculdade de Letras na Sorbonne. Em 1919 quando tinha 59 anos casou-se com a sua aluna Eugene Bazin, de 29 anos, que se tornará a sua assistente e colaboradora de grande qualidade em todas a suas viagens e missões. Em 1927 regressam a França, donde não mais sairão. Tendo sido eleito membro da Societé Asiatique em 1897, será só em 1937 que a sua mulher se tornará também, e é lá ques e encontra o valioso espólio que legaram, ele deixando a Terra já com 86 anos e em grande amor com ela.
Alfred Fouchet e Eugénie, no difícil Afeganistão

22-XI. «E à quarta-feira, ao meio-dia, passámos pelo dito Cabo ao longo da costa, com vento à popa». O Cabo da Boa Esperança é dobrado pela frota de Vasco da Gama em 1497 e os ares quentes e perfumados da Índia começam a aproximar-se.
  Zarpa de Fingem, no Japão, uma nau com Francisco Xavier e o seu amigo piloto Francisco de Aguiar em 1551. O santo clarividentemente manda mudar de velas e evita o naufrágio na tempestade que se formou. «Falando familiarmente com o piloto o assegurou que não morreria em água, senão em terra, e levaria a salvamento todas as embarcações onde navegasse, por maior que fosse a tempestade», o que veio a suceder a Francisco Aguiar, desde então ainda mais destemido...
  Dá-se neste dia 22 de Nvembro a Fundação do Instituto Vasco da Gama, em Pangim em 1871, graças à iniciativa do bardo e secretário do Governo Tomás Ribeiro (um grande amante da Índia), de Caetano Gonçalves e outros. Será um importante meio do estudo da história e cultura de Goa, da acção dos portugueses na Índia e de assuntos científicos. Com a entrada na União Indiana em 1961, ganha o nome de Instituto Meneses de Bragança. Tem editado ao longo dos anos um boletim com valiosos estudos e notáveis colaboradores, entre os quais destacarei, por o ter conhecido, o Rev. Alberto de Mendonça, um pedagogo que procurou unir a filosofia e a religião, orientais e ocidentais.
  O Dr. Raimundo Venâncio Rodrigues, natural de  Badém, Bardez, foi um dos quatro melhores estudantes escolhidos pelo vice-rei da Índia para irem estudar na metrópole, a convite do governo liberal de 1832. Estudante em Coimbra, formando-se em Filosofia e Matemática, em 1843 foi nomeado lente da Faculdade de Matemática, quando  se formava  em Medicina. Era uma alma de índole generosa e muito dinâmica, entregando-se às batalhas políticas da época como liberal contra o cabralismo e notabilizando-se como vereador (1846), deputado e presidente da câmara municipal de Coimbra, de 1857 a 1862,  libertando-se deste mundo em 1879, com 66 anos. 
                                
 Nasce neste dia 22, em 1883, em Nova Goa o médico, professor, poeta e jornalista, Adolfo Sinval da Costa. Dotado de grande sensibilidade, casou-se com Ana Ayala e com ela escreveu em 1907, De mãos dadas, prefaciado pela poetisa Florência de Morais, e onde num dos poemas "Velho Portugal" canta os antigos grandes seres da epopeia da Índia, terminando com uma oração por Portugal. Ethel M. Pope na sua valiosa India in Literature Portuguese, publicado na tipografia Rangel, de Bastorá, em 1937, anota em relação a tal, que numa Soirée d'Art dada por uma família aristocrática de Goa, quando ela teve a oportunidade de «ouvir o poeta recitar o mesmo poema, concluindo-o com um verso afirmando a sua fé na regeneração  de Portugal debaixo da bandeira republicana verde e vermelha. O poema foi depois publicado desde então com esta adição.» É possível que tenha sido em casa de Higino da Costa Paulino, casado com uma das filhas do Conde Mahém, e onde se realizavam com regularidade tertúlias poéticas e literárias referidas por escritores como Caetano Gonçalves e o cap. António de Noronha e que já referi na biografia de Fernando Leal. Com o notável poeta Paulino Dias, fundou a Revista da India, de 1913 a 1914, onde publica um belo poema, Rishi: «Enlevados nos shastras [livros sagrados], nobres e altivos,/Impassível na dor, como um herói/ Ele é no bosque a força que constrói/  E a voz que os Vedas místicos proclama.// Em sua volta cantam moluonis/ Passam na sombra tigres e reptis/ E ele só diz baixinho: Rama, Rama». Viverá até deixar a Terra em Ribandar já em 1960.

  23-XI. Na carta à muito nobre e sempre leal cidade de Goa, de 1546, enviada depois da tremenda batalha de Diu, D. João de Castro afirma: «Eu mandei desenterrar D. Fernando meu filho, que os mouros mataram nesta fortaleza, pelejando por serviço de Deus e de el-Rei, Nosso Senhor, para vos mandar empenhar os seus ossos, mas acharam-no de tal maneira, que não foi lícito ainda agora de o tirar da terra; pelo que me não ficou outro penhor, salvo as minhas próprias barbas, que aqui vos mando por Diogo Rodrigues de Azevedo, porque como já deveis ter sabido, eu não possuo ouro, nem prata, nem móvel, nem coisa alguma de raíz, por onde vos possa segurar vossas fazendas, somente uma verdade seca, e breve, que me Nosso Senhor deu». E receberá os donativos e empréstimos necessários à reconstrução da fortaleza. 
  Nasce em Lisboa neste dia, em 1611, D. Francisco Manuel de Melo, cavaleiro da Ordem de Cristo, soldado, oficial, embaixador, historiador, poeta e sábio numa vida movimentada e acidentada (" Não sou já mancebo. Criei-me em Cortes; andei por esse mundo; atentava para as coisas; guardava-as na memória. Vi, li, ouvi..."), com prisões, desterros e naufrágios, tal aquele em que aconteceu à armada da Índia, na Corunha. Mas não quis ser desterrado para a Índia, preferindo o Brasil, donde só voltou após a morte de D. João IV, sendo depois reabilitado, graças ao conde de Castelo Melhor, servindo então ainda como embaixador. Duma cultura e fecundidade enorme (e por isso admirado pelo erudito e imaginativo Padre Athanasius Kirchner), a sua obra principal são os quatro Apólogos Dialogais em que os valores literários, sociais e morais, sobretudo dos povos latinos, são subtil e animadamente confrontados. Mas escreveu ainda um tratado sobre as artes, por vezes bastante mistificadoras, cabalísticas, publicado já após a sua morte.
  Nasce no Andhra Pradesh, em 1926, Satya Sai Baba e aos 14 anos, afirma ter entrado no seu corpo Sai Baba de Sirdhi, célebre mestre que deixara o corpo em 15-X-1918. A partir daí começa a realizar com frequência materializações de objectos que têm atraído milhões ao seu ashram, sendo considerado por muitos como um avatar, enquanto que outros o contestavam com várias razões e factos fraudulentos ou imorais. Dizia que morreria em 2022 e reincarnando oito anos depois aconteceria a famosa e mítica Idade de Ouro, a Satya Yuga, ou era da Verdade. Todavia, a Ordem do Universo cortou-lhe a vida terrena em 24-4-2011. O seu ensinamento era sobretudo o de lembrar o Amor e bastante fez nesse sentido
em actividades humanitárias, embora ao que consta com vários tipos abusos.

 24-XI. Tendo em conta o impacto que as imagens têm na transmissão do conhecimento ou no estímulo da devoção, um sacerdote português na Índia escreve contando como « O P. Patriarca [Nunes Barreto] sabendo que alguns convertidos tinham muito respeito e acatamento às imagens e folgam de as ter em casa, ordenou com o P. Francisco Rodrigues que se fizessem aqui de forma algumas imagens de Cristo crucificado, com a Virgem N. Senhora de uma parte e de S. João de outra, para se repartirem pelos cristãos... Este Domingo passado, a 24 de Novembro de 1560, levaram cada um dos irmão obra de uma dúzia para dar nas igreja aos principais por ser as primeiras que se fizeram. Declaravam-lhes os irmãos primeiro pelos interpretes o que significavam aquelas figuras, como as haviam de adorar e o acatamento e o respeito que lhes haviam de ter.» Era o começo da tipografia luso-indiana (1ª com esta  dos jesuítas e no colégio de S. Paulo, e a 2ª de Quinquêncio-Endem, desde 1561) e, no caso, das primeiras xilogravuras, santinhos para levar ao peito ou contemplar mais demoradamente quando necessário ou por devoção regular...

                                                      
 O nono guru da religião Sikh, Tegh Bahadur, é executado às ordens do famigerado imperador Aurangzeb, vergonha e desgraça da dinastia mogol, em Delhi em 1675, com 54 anos de idade, ainda mais se aguçando a oposição entre os Sikhs e Aurangzeb, o qual reinou e oprimiu intolerante e violentamente, preparando certamente uma vida no além bem castigada. Tegh Bahadur foi escolhido como guru porque demonstrou ao contrários dos outros candidatos uma certa comunhão com a omnisciência divina, como reza a história. Foi um místico, um poeta e simultaneamente um bom administrador das actividades humanitárias da sua religião  No Rag Basant canta: «Fui abençoado com a riqueza do nome de Deus. A minha mente cessou de divagar e calmamente descansa. Todos os anseios materiais em mim terminaram e em seu lugar ergueu-se o desejo ardente do Conhecimento Divino puro. Já não posso ser afectado pelas  influências poderosas da avareza e do apego material, pois estou dedicado completamente ao amor do Senhor. Quando adquiri a jóia do Nome do Senhor, todos os meus medos deixaram-me. A minha mente despojou-se dos desejos de coisas materiais, ao realizar o meu verdadeiro Eu. Quando a Divindade Toda Misericordiosa  abençoa, o ser humano canta-lhe louvores. Nanak [o 1º guru ou fundador dos Sikhs] diz que há poucos seres de Deus abençoados com este tipo de riqueza». 
Por Carta Régia de 24 de Novembro de 1694 era prometido aos habitantes das comunidades ou gãocarias de Salsete «que se lhe guardariam todos privilégios, liberdaes e isenções que logravam no domínio [anterior] do mouro, e com efeito debaixo desta palavra e capitulação tornaram para as aldeias seus moraores, e posto que hoje se achem reduzidos à nossa Santa Fé, parece,lhes não pode alterar o pactuado.» Era uma pequena medida de protecção dos direitos das milenárias comunidades indianas,  e compensando o que em 1694 o vice-rei D. António de Melo e Castro dizia ao Rei D. Pedro II, acerca das explorações que elas sofriam: «nossa destruição nestas partes toda nasceu de tratarmos os naturais dela como se foram cativos e pior que se nós foramos mouros...»
 
  O filósofo e mestre indiano Sri Aurobindo atinge neste dia em 1926 a culminação da sua disciplina espiritual, a experiência da Sobre-Mente (Overmind), que prenuncia a descida da Supermente (Supermind) na sua discípula e companheira, a Mãe, em 1956. Dirá: «Mesmo na Europa a existência de algo por detrás da superfície é frequentemente admitido, mas a sua natureza é incompreendida e é chamada subconsciente ou subliminal, quando na realidade é muito consciente à sua maneira e não subliminalmente, mas apenas por detrás do véu. Está, de acordo com a nossa psicologia, ligada com a pequena personalidade exterior da qual nos tornamos conscientes pelo yoga. Apenas um pouco do ser interior escapa através destes centros para a vida exterior, mas esse pouco é a melhor parte de nós e é responsável pela nossa arte, poesia, filosofia, ideais, aspirações religiosas, esforços no conhecimento e perfeição». 
                                                           
José Ferreira Martins, historiador de Goa e tradutor da cultura indiana para português abandona o corpo físico neste dia em Lisboa, em 1960, com 86 anos de idade, deixando uma vasta obra publicada. Estivera como professor em Portugal, dirigira a Imprensa Nacional em Panjim, colaborara em muitos jornais e revistas e criara muitos amigos na sociedade goesa, sendo filho do General António Ferreira Martins. A sua obra Poemas em Prosa, extraídos dos livros Gitanjali e Lua Nova, de Rabindranath Tagore, dedicou-a «À memória do Poeta Fernando Leal», seu amigo e que partira pouco antes para o Além. Num desses fragmentos, Tagore (12ª p.) expressa ou  invoca assim a comunhão com alguém amado e distante: «Peço-te um momento de indulgência para me sentar a teu lado. Deixarei para mais tarde os trabalhos que tenho entre as mãos./ Longe da tua vista, o meu coração não conhece paz, nem repouso e meu trabalho assemelha-se a uma interminável cadeia num mar infinito de fadigas./ Surge hoje o verão à minha janela com suspiros e murmúrios; e as abelhas entoam coros ao auditório do bosque em floração./ São horas de descanso, sento-me diante de ti e elevo a voz entoando cantares de vida nesta quieta e exuberante paz.»
                                       
25-XI. O mestre tibetano Tsongh-Khapa, fundador da linhagem dos barretes amarelos, os Gelug-pa (virtuosos), e da sucessão dos Dalai Lamas, os mestres do Oceano da Sabedoria, que unificarão o Tibete, morre, segundo certas tradições, neste dia em 1419, com 62 anos. Os mestres fundadores das outras linhas principais são 
Marpa (1012-1096) da Kargyu, Khongyal (1034-1071) da Sakya e, o mais famoso, Padmasambhava, ou Guru Rimpoche, da linha Nyingma, que chegara ao Tibete, vindo da Índia, em 810, e em todas elas Tsongh-Khapa aprendeu e foi iniciado. Deixou 18 volumes de obras, algumas das suas aproximações tendo sido consideradas inovações e menos correctas, sendo a base do seu ensinamento a interpendência, o vazio duma realidade intrínseca. 
                                        
 Afonso de Albuquerque reconquista Goa após porfiada batalha no  dia de S. Catarina, neste dia em 1510. No arco de triunfo por onde entra ficarão a sua estátua e a de S. Catarina sobre o sultão mouro Âdhil Khân. Da destruição só escapam algumas mulheres para se casarem com portugueses. Os hindus são confirmados nos seus direitos e privilégios, nomeadamente as comunidades agrícolas - as gãocarias - (e que virão mesmo a ser consignados em foral), diminuindo-se até os impostos tanto em relação aos que pagavam ao soberano hindu de Vijayanagar (até 1475), quer depois os que o sultão de Bijapur lhes exigia. Conta o seu filho Brás, nos Comentários de Afonso Albuquerque, que este «mandou apregoar, sob pena de morte, que nenhuma pessoa tocasse em nenhuma coisa dos mouros e gentios que estavam em Goa, mas que os tratassem como vassalos d’El-Rei de Portugal». Clarividente da posição de Goa, no que fora apoiado pelo capitão de mar indiano Timoja, em carta a D. Manuel chama-lhe já a «Mãe de toda a Índia» e, observando a fusão que se operava pelos casamentos, em 1512, admitirá que tudo isto seja obra de Deus para «alguma coisa muito do seu serviço escondida a nós», chegando, segundo Gaspar Correia, a solicitar a D. Manuel o envio de mulheres de Portugal, de acordo com a fusão civilizacional que visionava e acalentava. Os casamentos segundo mandamento de Afonso de Albuquerque atravessarão os séculos como uma legenda, memória de um cavaleiro do Amor, acima de Roma...
   «Peço-lhe por amor da Virgem Madre de Deus, que se lembre de mim e me despache, que é para um filho meu por nome Afonso Fernandes, que é o derradeiro que me ficou de 18 filhos que tinha, que todos se gastaram em serviço de Deus e de Vossa Alteza, nestas partes de Goa. Isabel Fernandes, a velha de Diu». Assim solicitava ajuda, em 1559, uma das mais notáveis mulheres, com Catarina Lopes, Isabel Dias e Isabel Madeira, esta a capitã do corpo feminino, do cerco de Diu, ocorrido em 1538 e que foi palco para grandes proezas de ambos os lados em luta, mas sobretudo dos portugueses
  É concedida a liberdade de religião e a possibilidade de erguerem templos aos hindus das províncias das Novas Conquistas, Bicholim, Sanquelim e Satari, em 1755, uma medida acertada, certamente para desagrado dos mais fundamentalistas católicos,  pois era também uma cintura necessária à segurança das Velhas Conquistas. 
Nasce em Aschafemburg, na Alemanha, em 1876, Joseph Anton Schneiderfranken, artista e  ser espiritual de grande valor, iniciado por um mestre oriental aquando de uma sua estadia na Grécia, entre 1912 e 1914,  recebendo o nome iniciático de Bô Yin Râ, com o qual se tornará conhecido. O seu ensinamento, em vasta e bela obra de 32 livros, o Hortus Conclusus (além de oito fora do conjunto), da qual preparamos e editamos o Livro de Deus Vivo, e no Youtube e nese blogue partilhámos traduções e comentários, é o da arte real da religação do ser humano com o seu espírito, os mestres e com Deus e advertirá que da Índia tanto vem a mais elevada realização, como a maior superstição. Localiza nos Himalaias o centro espiritual do planeta, designando tal local com o nome sânscrito das escrituras indianas Himavat, a montanha nevada espiritual, da qual fará a  pintura reproduzida no fim deste texto, contida no seu original livro contemplativo Welten. Recomendará: «Procura em ti a simplicidade da criança, se queres aprender a reconhecer o que é espiritual! Evita toda a sabedoria tecida pelo pensamento. Foge dos mundos que não são que uma criação do teu pensamento e que se esfumarão como um vago fantasma com o teu último pensamento cerebral! Abandona o mundo mutável da imaginação que só na tua cabeça vive e existe! Eis a grande renúncia»!  Deixou cerca de 200 pinturas bastante utéis, se contempladas mais demoradamente
Margarida Correia de Lacerda nasce neste dia em 1914, filha do herói do Niassa na 1ª grande Guerra, o tenente Viriato Portugal Correia de Lacerda, morto pelos alemães. Discípula do padre Mariano Saldanha, será a sua sucessora no ensino do sânscrito, impulsionando Luís Filipe Tomás e Ana Salema. Também eu com o Mário Simões, a Maria, o José Carlos Calazans, o Rui Simões, a Sandra ou Melissa Pinheiro, entre outros, seguiremos algumas das suas aulas sempre bem animadas. Dirá: «Na Índia, essa terra em que o misticismo está na massa do sangue do seu povo e a respeito dos quais Lin Yutang teve a seguinte expressão, que tão bem os define: uma terra e um povo intoxicado com Deus, dizíamos, nessa terra onde a variedade dos cultos e o número das divindades nos desconcerta, por muito absurdo que nos pareça, o hinduísmo é uma religião monoteísta. Esse monoteísmo está decerto bem oculto por detrás dum exuberante politeísmo, somente uns 330 milhões de deuses adorados de per si, mas que os doutos brâmanes afirmam serem as inúmeras manifestações dum ser único. São disso testemunhas as escrituras sagradas, como os Upanishads dos quais Dvivedi disse: "Os Upanishads ensinam a filosofia da Unidade Absoluta". A Bhagavad Gita é outro exemplo entre tantos».
 
 26-XI. Provavelmente a 1ª entrada de navegadores e comerciantes portugueses no Sião (Tailândia), em 1518. 

Carta do padre Sebastião Gonçalves, escrita neste dia em 1565, referindo os cânticos do místico Namdeva, que os goeses antes de serem convertidos entoavam nas ruas. Namdeva é um dos mestres do misticismo devocional da Idade Média, com Kabir, Pipaji, Raidas na imagem, e os mais famosos Ramadas, Tulsi Das e Tukaram, ainda hoje populares e que valorizam o amor a Deus e a repetição do Seu nome como os meios principais de se O sentir ou, vamos lá, ver de algum modo subtil.                                           
 Quando os exércitos maratas de Sambaji poderiam conquistar Goa dado as poucas tropas aí existentes, os portugueses vêem com alívio, em 1683, Sambaji retirar a toda a pressa, porque chegava a armada do Norte, ou porque os inimigos mogóis avançavam sobre as terras maratas (o mais certo) e porque o Governador entregara o bastão de comando na mão de S. Francisco Xavier, tido como protector da cidade. 
Nasce neste dia 26 de Novembro de 1871, em Batajore, Bengala Oriental, hoje Bangladesh, filho de um brâmane, que ensinava em casa, e de uma mãe muito piedosa, Harideva.  tornará Swami Premananda Tirtha, um dos grandes santos ou mestres da Índia, mas que sempre preferiu o anonimato, até deixar a terra em 2 de Maio de 1959. Escrevendo cartas para os seus discípulos (e em especial uma, Maji) cerca de 60 anos, que vieram a ser publicadas, primeiro em bengali, em 8 volumes, depois hindi e finalmente inglês, deixou nelas grande sabedoria, pois estudara e experimentara os vários caminhos de realização espiritual e das religiões. Após terminar o último exame do seu bacharelato, em 1899, parte com três livros, a Bhagavad Gita, Ashtavakra Gita e Imitação de Cristo, e  torna-se por si mesmo um renunciante, com o nome de Krishnananda. É dessa época a sua primeira carta conhecida, onde afirma a verdade de que: «A alma mais íntima do Universo, isto é, Sat Chit Ananda (Ser, consciência, felicidade) da Divindade universal, tendo penetrado todos os níveis da Natureza, está tentando manifestar-se a si mesma. Quando mais limpa for a mente, tanto maior e mais limpa será a sua reflexão. O objectivo da vida humana é descobrir e manifestar Deus dentro de si». Poucos anos depois é formalmente iniciado como sannyasin em Benares, no mosteiro de Kamrup, pelo swami Ramananda Tirtha  e reside nele 12 anos servindo, e para grande gosto do mestre, Ao longo da sua vida teve inúmeros exemplos fabulosos de que tudo vem de Deus, ou como disse, na conhecida tradição não dual ou advaitica: «Há um só corpo, um só princípio de vida, um corpo e um espírito em todo o universo. Se a mente está pura e calma, é fácil discernir os pensamentos dos outros».  
 O etnógrafo, historiador, sociólogo e positivista republicano Consiglieri Pedroso (1853-1910) pronuncia neste dia, em 1897, na Sociedade de Geografia de Lisboa, uma conferência Influência dos descobrimentos dos portugueses na História da Civilização onde refere de início como as modificações que «revolucionaram as relações comerciais entre o Oriente e o Ocidente, o deslocamento do centro de atração em torno do qual gravitavam as velhas hegemonias da Europa; o advento à vida política nas diferentes nações do nosso continente de novas camadas sociais; tudo isso que constitui a radiante mas laboriosa génese do mundo contemporâneo», exigiria muitas conferências.  Quanto o Infante D. Henrique, interroga-nos, depois de o criticar por ter abandonado D. Fernando e depois D. Pedro, «o regente, a mais nobre figura de entre os filhos do mestre de Aviz (...) Esmagou santas afeições de família, a que devia como homem carinhoso respeito. Foi mau irmão, filho desamorável, amigo calculador e egoísta talvez. Mas aqueles que disso fazem cargo contra a sua memória, e pior do que contra a sua memória contra sua obra, esquecem-se de que tão duro para com os outros, foi-o ele consigo próprio. Pois quê! não merece o agradecimento da posterioridade esse príncipe que, podendo viver em meio dos prazeres fáceis de uma das mais ilustradas cortes da Europa; cercado do conforto e das atenções a que lhe dava direito a sua alta posição junto ao trono; adurado e adulado por todos, que disputariam a sua boas graças; um inútil, é verdade, mas um inútil feliz como tantos que em idêntica situação regista a nossa história portuguesa, preferiu consagrar a existência inteira  ao ingrato labor de arrancar em proveito de Portugal  o misterioso segredo aos mares desconhecidos, renunciando com terrível estoicismo a todas as alegrias e a todas as comodidades que jamais encontraram guarida no seu gabinete solitário de estudo?» 
E  a dado momento confrontando o passado e o presente, interroga: «Estamos atravessando um mau quarto de hora, não há dúvida. Mas qual é a nação, que os não tem atravessado análogos?
Todos os grandes potentados da terra obedecem à mesma lei fatal e superior - descair em colapso mais ou menos prolongado, depois de haverem atingido as culminâncias da missão história que lhes foi imcumbida. O que é preciso é que semelhante colpaso não se converta em ocaso definitivo. E por isso mais indispensável se torna, que nestes tristes períodos de declinação a alma nacional se retempere no espectáculo sgestivo das grandezas de outrora, sem desvanceimentos que a enervem mas com o entusaismo bastante para galvanizar o nosso corpo social adormecido por três séculos de decadência. E foi sempre este o segredo da ressurreição dos povos, que não se deixaram morrer numa condenável apatia, e que pelo seu esforço viril poderam ver rebrilhar de novo os grandes dias de propseridade, que pareceia tê-los abandonado de vez». Realce-se algum eco do verbo de Antero de Quental na sua famosa conferência das Causas da Decadencia dos povos Peninsulares nos três últimos séculos.  Valorizará a destruição de ignorância e superstições (citando o cronista árabe Edrisi e as ilhas encantadas), e a pléiade de grandes seres (de Gil Eanes a Fernaõ de Magalhaes pasano pelo Bartolomeu Dias e pelo Gama) que os Descobrimentos manifestaram, e que «deixaram na História um rasto de luz que jamais se apagará.» Já se foi uma missão imcumbida e cumprida ou se foi uma expansão livre da realeza e da nação, com suas virtudes e limitações, não se poderá afirmar com objectividade.
                                              
 O notável geógrafo e explorador do Tibete, Sven Hedin, deixa a Terra neste dia 26 de Novembro de 1952, na sua terra natal, com 88 anos de idade e grande viajens árduas, e dezenas de livros de grande sucesso traduzidos mundialmente, com mais de 30.000 páginas Quatro dias antes de morrer, convidado para escrever uma pequena mensagem para a jovem Kajsa Wickmann palestrar no colégio sobre as suas viagens, para além de lhe recomendar "saudar os desertos e montanhas quando os evocares", conclui " tu e os teus camaradas, nos anos que veem, abereis mais sobre o lago Lop-Nor, sobre as ruínas bimilenároas e sobre o Tibete, que eu jamais soube no decorrer das minhas explorações. Mas eu terei abandonado a Terra e habitarei num país bem mais sagrado sobre a protecção de Deus. De qualuer modo, espero que fales de alguns episódios divertidos do tempo em que eu me sentia o rei do coração do maior dos continentes».
                                              
27-XI. Dia de S. Josafat, um santo cristão que afinal é o Boddhisatva, aquele que se vai tornar o Buddha, pois tem já as qualidade luminosas suficientes para estar em constante unificação espiritual. A partir duma vida de Buddha, os cristãos maniqueus fizeram esta adaptação na Ásia Central, que traduzida depois para árabe, veio a ser captada pelos cristãos da Geórgia e no século X canonizada com a chancela de S. João Damasceno. A sua fortuna na Europa é grande: desde o tempo de Afonso X que circula na Península e Bocacio, Shakespeare e La Fontaine usam-na, mas será o cronista Diogo de Couto, na Década V, quem primeiro avisa que S. Josafat «bem pode ser o Budão». Estêves Pereira, Vasconcellos Abreu, Alberto Pimentel e Margarida Correia de Lacerda escreveram sobre este santo budista. Sampaio Bruno refere o facto de se festejar em datas diferentes nas cristandades orientais e ocidentais: «No Oriente, no Ocidente. A 26 de Agosto; a 27 de Novembro. O Buddhá... Siddhartha».                 
  O 8º vice-rei da Índia de 1561 a 1564, D. Francisco Coutinho, conde do Redondo, formado na coragem e destemor nas lutas de Arzila antes de ir para o Oriente, é obrigado em 1563 neste dia a publicar uma carta real que expulsa os gentios que não sejam agricultores, ferreiros, botiqueiros, rendeiros, fiscais, médicos, carpinteiros, «sob pena de serem cativos para as galés para sempre e perderem as suas fazendas para mim». Amarga sorte para quem iniciara o seu vice-reinado tentando obstar aos efeitos perniciosos do seu antecessor, o zeloso D. Constantino de Bragança, embora no fim tenha falhado ao permitir ao capitão Domingos Mesquita cometer os seus ataques traiçoeiros aos paraus munidos de cartazes de livre trânsito. Em 1567 os panditas (doutores) hindus são proibidos de praticarem medicina e obrigados a abandonar Goa num mês. Mas em 1574 serão só proibidos de andarem a cavalo ou de palanquim em Goa, com a excepção do pandita ou médico pessoal do Governador, o que mostra que a milenária medicina Ayur Veda mantinha-se ainda útil. John Huighen Linschoten, que esteve em Goa de 1583 a 1588, assinala no seu livro de viagens com belas gravuras, que ainda então os vaidyas eram os médicos do vice-rei, arcebispo e nobreza, pessoas que provavelmente não recusavam alívio de nenhuma fonte em caso de dor...
   O vice-provincial jesuíta Cristóvão Ferreira apostolou 23 anos a seara japonesa.
Foi preso aquando da repressão das actividades missionárias portuguesas e não querendo morrer ainda (no suplício das covas), abjurou e durante 19 anos foi Sawano Chuan, bonzo budista e transmissor da cultura ocidental, escrevendo entre outras traduções A Tradição Secreta da Cirurgia Namban, que o P. Luís de Almeida iniciara, e que os discípulos japoneses deles continuarão. Mas aos 74 anos, o corpo já definhando, quis passar para o outro lado na antiga barca e protestou, morrendo então, nas ditas covas da famigerada Nagasaki, neste dia 27 de Novembro em 1652. O escritor cristão Shusaku Endo, que foi amigo do nosso embaixador no Japão Armando Martins Janeira prefaciando-lhe mesmo um livro, dedicou a Cristóvão Ferreira um interessante e famoso romance, O Silêncio, já traduzido em português, no qual revela uma magistral penetração na psicologia e ambientes da época, e do qual há uma apreciação por mim neste blogue. O cineasta Scorsese fez uma adaptação ao cinema, sob o mesmo título, que teve bastante sucesso.
                                  
 
28-XI. O místico do amor sufi Sham de Tabriz, chega pela primeira vez a Konya neste dia em 1244, segundo certas tradições, e inflamando o coração de Jalal u’ddin Rumi torna-se o seu mestre adorado. Da relação entre estes dois amantes de Deus nasce o Divani Shams i Tabriz, uma das obras primas da literatura persa, conhecid de muitos dos persas com quem os portugueses conviveram:
«Vem, vem, pois não encontrarás outro Amigo como eu.
Onde há na verdade um Amado como eu em todo o mundo?
Vem, vem, e não gastes a tua vida a andar dum lado para outro.
Já que não há mercado noutro sítio para o teu dinheiro». 

Konya e os locais dos diálogos e dos túmulos tornaram-se um ponto de peregrinação, já profetizado por Rumi, tal como reza a inscrição à entrado do museu e mausoléu: Kaabat ul usshaq bashad een maqam/ Har ke naqas aamad eenja shod tamam,  «Uma Kaa'ba [pedra sagrada, em Meca] é este espaço para os que amam. Todos os que sofrendo e divididos  aqui peregrinarem serão harmonizados, plenificados.» Um poderoso local de Amor divino...
    
O humanista Cataldo Sículo (1455-1517), em Portugal desde 1485, discursa neste dia perante as famílias reais de Espanha e Portugal em Évora, em 1490, e elogia D. João II: «É de tal modo investigador das coisas mais profundas, que recentemente quase alcançou a Índia, ultrapassando, com os seus navios, as plagas do sul e, à custa de enormes despesas, descobriu lugares recônditos, nunca encontrados nos tempos dos romanos, trazendo ao conhecimento da fé católica muitos homens de seitas erróneas». O professor da Universidade de Coimbra, Américo da Costa Ramalho será um dos seus melhores estudiosos.
  O bispo de Goa D. João Afonso de Albuquerque (1479-1553), franciscano, que fora confessor do Rei e que partira para a Índia já com 60 anos, escreve neste dia
em 1548 ao rei D. João III informando-o da descoberta duma caixa cheia de livros religiosos em casa dum brâmane em Diwar e que o filho do capitão Krishna tentara recuperar com ordens militares, mas que ele correra com o bordão em riste, partindo-o no portal. Alguns livros da sabedoria indiana virão a ser resumidos e traduzidos por naturais convertidos ou intérpretes, referindo-se em 1560 a existência na biblioteca do Colégio de S. Paulo em Goa da Bhagavad Gita e do Raja Yoga Tilak, dois dos principais livros da espiritualidade indiana. Alguns poucos virão para Portugal e jazem em repouso (o pralaya indo-português...) nas bibliotecas públicas de Évora, Braga, Lisboa e Roma.

29-XI. O 23º vice-rei da Índia (de 1629 a 1635) conde de Linhares D. Miguel de Noronha (1585-1647), neto de D. Afonso de Noronha também vice-rei de 1550 a 1554, em carta  escrita
a el-Rei neste dia em 1632, diz: «Na corte de todos os reis da Índia tenho espias. Por meio do licenciado médico Fernão Lopes de Orta negoceio estas matérias e já elas por serviço de Vossa Majestade lhe custaram o nariz e uma orelha que em Bijapor lhe cortaram», por não ter conseguido curar o rei Ibrahim Âdhil Châh II, da sua segunda doença. Mas em casa não conseguiu essa eficácia pois que pela sua severidade e rigor de administração criara inimigos que fizeram um dia aparecer a sua figura em boneco enforcado e insultado, nunca conseguindo apurar quem eram os responsáveis. Contudo, a população manifestou-se por ele, pois a acção de D. Miguel de Noronha de 1629 a 1635 foi construtiva, com hospitais, igrejas, pontes, fortificações a surgirem ou a melhorarem. Já em Lisboa teve de servir de intermediário entre o governo de Madrid e os insurrectos de Évora, precisando ainda da colaboração de D. Francisco Manuel de Melo e, ao contrário deste que será preso e desterrado, vai permanecer em Espanha, depois da revolução de 1640. 
  Nasce neste dia de 29-X-1884, em Carmolim, Bardez, Goa, António Nascimento Mendonça, filho de advogado e também advogado, jornalista, grande boémio e poeta notável. Pertencia de certo modo à geração de Orpheu na Índia portuguesa, e pena foi que não se disciplinasse e e pudesse ter evitado partir como alguns deles tão precocemente. O outro grande poeta da época, Paulino Dias, realçaria nele, no Debate, em 1913 «o exibicionismo de movimentos íntimos e indecisos«  e «a paixão mórbida pela dor», e «o estilo é tentador, brumoso. Sente-se colear uma lenta polpa de veludo sobre um sentimento escondido». Já o distinto médico goêz Francisco António Wolfgango da Silva, casado com uma filha do conde de Mahém, tal como o poeta Fernando Leal, grande amigo de Antero de Quental, no proémio à edição póstuma do poema Vatsyala, de 1939, intui afinidades electivas com Antero de Quental, a quem se dirige invocadoramente:  «Ó alma de Antero de Quental, sublime no vosso misticismo, santa nos vossos arroubamentos, arfando o peito, gemendo e arrulhando em estos de ânsia insatisfeita em visões de Além, tivestes nesta Índia de Afonso de Albuquerque e de Camões, uma alma gémea da vossa, dedilhando a sua harpa de dor por entre frémitos de amor no isolamento do seu leito escuro por entre os fulgores de visões de mansão eterna». Nascimento Mendonça, num do seus versos mais belos, dirá: «Amar é dar mais e mais; / Disso Deus nos deu o claro exemplo. Coração, Ó lótus de Aurora, / Quero abrir-te como um templo».
                                         
 
30-XI. Carta escrita neste dia de Goa, do P. Luís Fróis, um dos grande missionários e autor da valiosa História do Japão, para as casas e colégios jesuítas na Europa, em 1557, descrevendo o programa de estudos humanistas e místico-devocionais dos estudantes indianos e portugueses: «No colégio lê-se na primeira classe dos estudos de humanidades Cícero, Salústio e Virgílio». Há horas de oração mental, mas tem que se estar preparado para tudo: «como nestas partes até dos religiosos andarem com as armas às costas se quer Nosso Senhor servir e a perfeição que para tão várias coisas há mister quem no meio de todas estas perturbações não há-de perder a paz e o repouso da alma». Foram certamente dos momentos de mais entusiasmo de magistério cultural realizado no Japão pelos missionários
  Luís Freire de Andrade, valoroso capitão de Chaul, escreve ao rei D. Sebastião neste dia em 1571: «Por estas naus não tive cartas de Vossa Alteza por onde me parece que não está informado de meus serviços e que me é necessário para mim fazer-lhe lembrança deles: nestas partes morreu meu pai em serviço de Vossa Alteza e quatro irmãos seus. E eu há vinte anos que ando no seu serviço... Mando a Vossa Alteza um caderno dos fidalgos vivos e mortos que o serviram neste cerco por descargo da minha consciência... Os moradores de Chaul ficaram mui pobres e desbaratados porque perderam as suas fazendas e derrubaram-lhe as suas casas e são dignos de muito louvor. Vossa Alteza os favoreça com mercês e mande fortificar a fortaleza». 

  Nasce no Porto em 1857 José Pereira Sampaio, mais conhecido como Sampaio Bruno, livre-pensador, maçon, bibliotecário público e jornalista. As suas obras contêm muitas referências dispersas ao Oriente e ao concluir um dos seus livros mais considerados, A Ideia de Deus, profetiza a vinda do próximo Avatar, tentando até caracterizá-lo de um modo que reflecte algo do positivismo racionalista que ainda o tingia: «o fecharei eu anunciando, no frescor, no fervor duma esperança essencial, seu advento. Chegará, lá para os dias mais confiantes do longínquo porvir. Ai de nós os desta geração céptica e maldosa! Ai dos que próximo hão-de vir, estupidamente escarnecendo, como nós! Não veremos, destes olhos terrenos, o jorro de luz cujos eflúvios serão baptismo espiritual dos vindoiros, o esplendor genético da verdade. Sim. Virá um Buddha experimentalista e dialético. Um Cristo virá, cujos prodígios sejam argumentos». O seu livro Cavaleiros do Amor, publicado postumamente por Joel Serrão, e posteriormente bastante mais ampliado e bem contextualiado por Joaquim Domingues, sob o título Plano de um livro a fazer: os Cavaleiros do Amor ou a religião da razão, é talvez, pela sua recolha de esoterismos portugueses dispersos e pouco conhecidos, o melhor.

Jagadish Chandra Bose, com seus colegas e alunos
 Jagadish Chandra Bose nasce neste dia em 1858, em Bengala. Físico reconhecido mundialmente, embora não tanto nas suas teorias mais subtis e avançadas de fisiologia, dedicará a sua vida a provar a teoria da identidade da reacção entre a molécula viva e não viva, demonstrando ainda especialmente o envelhecimento e cansaço dos metais e a sensibilidade das plantas através de frequências eléctricas e inventando aparelhos ultra-sensíveis capazes de registar as frequências vibratórias mínimas da vida subtil sensível das plantas, sendo considerado hoje um dos pioneiros da biofísica e das micro-ondas e  de uma identidade de fundo energética sensível de todos os seres e coisas.  O yogi Parahmansa Yogananda visitou-o, e na sua valiosa Autobiografia dum Yogi transmite alguns dados presenciais, tais como extractos do discurso de Bose, aquando da fundação do Bose Institute: "eu dedico hoje este Instituto não só como um laboratório mas como um templo. Na prossecução das minhas investigações fui levado inconscientemente à região fronteiriça entre física e fisiologia. Para meu espanto, vi esfumarem-se as linhas de demarcação, e pontos de contacto emergirem entre os reinos vivos e não vivos. A matéria inorgânica foi observada como tudo menos inerte; estava vibrante sob a acção de múltiplas forças. Uma reacção universal parecia trazer metal, planta e animal sob a mesma lei. Todos eles exibiam essencialmente os mesmos fenómenos de fadiga e depressão, com possibilidades de recuperação e de exaltação.» Actualíssimo....
 
Eduard Salim Michael nasce neste dia 30 de Novembro de 1921 em Manchester, pelo lado da sua mãe com ascendência indiana, e destacar-se-á como músico, director de orquestra e compositor, deixando músicas bastante profundas e espirituais, pois aprofundou bastante o caminho espiritual, já que nos anos 60 partiu para a Índia onde andou em buscas e práticas espirituais sete anos, voltando como professor de yoga. Conheci-o em Paris, assistindo a uma sua conferência, com a Maria que, tendo gostado bastante dele e do seu ensinamento, promoveu a edição em Portugal, por tradução da Helena Galis, de uma das suas  obras, A Via da Vigilância interior, certamente uma das mais valiosas publicadas pelas publicações Maitreya. A obra leva um prefácio de Ajhan Sumedho, o abade budista do mosteiro de Amaravati que elogia o livro e a sua prática de audição do som sem som interior, o Nada Yoga, prática desenvolvida por Ajahn Amaro em  livrinho (com partes boas para se discutirem) e oferecido gratuitamente pelo mosteiro do Budismo da Floresta, na Ericeira, Portugal. Salim deixará o corpo em 2006, em Nice, com grande realização espiritual numa linha yoguica suave, musical.
                                      
Neste dia 30 de Novembro, em 1935, parte do plano físico para os planos subtis o empregado do comércio, tradutor, ensaísta, poeta e ocultista Fernando Pessoa, deixando uma vasta obra inédita onde avultavam numerosos textos de espiritualidade, alguns dos quais respeitantes ao Oriente, tais como as suas versões de Rubaiyat ao estilo de Omar Khayyam, de quem alguns poemas ele também traduziu, ou os seus projectos de edições de poesia persa de Hafiz e Saadi.  Há também alguns textos mostrando o interesse de Fernando Pessoa pelo fundo árabe da nacionalidade portuguesa, tal como entre nós Fabrizio Boscaglia tem divulgado.  O conhecimento religioso e espiritual do Oriente em Fernando Pessoa é secundário, embora tenho lido alguns livros sobre Budismo, Yoga e Islão e autores ocultistas como Hargrave Jennings, Franz Hartman e Aleister Crowley, que lhe transmitiram aspectos ora mais curiosos ora mais práticos e valiosos. Por exemplo, através da biografia  de Alesteir Crowley teve acesso a alguns conhecimentos yoguicos. A ligação de Alberto Caeiro com o budismo Zen tem sido bastante exagerada pois embora haja afinidades Caeiro foi criado mais em parte como oposição a Teixeira de Pascoaes e ao seu excessivo simbolismo e animismo da Natureza. Também o orientalismo teosófico, ou o budismo esotérico teosófico, a que Fernando Pessoa teve acesso ao traduzir cinco livros, foi repudiado por ele, valorizando mais a tradição ocidental vinda dos mistérios e da gnose e transmitida pelos templários, rosacruzes e maçónicos. Deixou contudo alguns apontamentos interessantes sobre o caminho espiritual na tradição indiana, através de versões teosóficas, dois dos quais publiquei no nº 9, intitulado Oriente e Orientalismo em Fernando Pessoa, da revista Pessoa Plural, Primavera de 2016. Oiçamo-lo num deles, bem valioso: «À passagem da actividade inferior, para a superior, do espírito dão os hindus o nome velador de O Caminho, ou A Senda. Não tem outro sentido este termo, tão vulgarmente empregado na litteratura budhistica ou theosophica. Assim se explica a expressão atribuída a Krishna –“torna-te tu próprio o caminho” –, isto é, concentra a tua actividade na carreira ascensional dentro de ti próprio, torna-te todo a “direcção pura” de subires dentro de ti.» Possamos nós realizar boas orações, meditações e elevações, tão necessárias face à tão horizontalizante, manipulante e massificante influência do quotidiano informativo e que frequentemente nos afecta bastante vivencialmente. Tal como Fernando Pessoa traduziu da tradição indiana, saibamos de quando em quando ouvir os mestres do Oriente ou, se quisermos, Sri Krishna: «Torna-te todo a “direcção pura” de subires dentro de ti».

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