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quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Hallowen, Samain, ou as celebrações sacras celtas e pré-cristãs...
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Erasmo, pedagogo do Renascimento e a actualidade das suas propostas. Homenagem no dia do seu aniversário de 2013 e de 2021
Erasmo de Roterdão (1466 ou 1467-1537), ainda hoje passados cerca de 500 anos da sua vida na Terra sobrevive no coração e alma de quem o lê, estuda e ama, numa aura de graça e de luz, de sabedoria e amor à verdade, fazendo juz ao que alguns, como ao nosso Antero Quental, ou a Sócrates, clamaram: Sancte Erasme, ora pro nobis...Ou seja, possamos comungar com a tua sabedoria e espírito libertador, ou o que da Sabedoria Divina conseguiu passar por ti...
No dia do seu aniversário destacaremos, entre os muitos aspectos da sua riquíssima personalidade e individualidade, o pedagogo, o educador em latim e de latim, tarefa que iniciou cedo por ter de pagar os seus estudos de grego em Paris, prosseguindo-a mais tarde pelo natural fluir da sua imensa erudição, ironia e amor.
Ora como pedagogo Erasmo inseriu-se na corrente humanista da península itálica, que vinha de Coluccio Salutati, Lorenzo Valla (a sua maior fonte e que editou e parafraseou), Angelo Poliziano, Pico della Mirandola, Marsilio Ficino, mvalorizadora da individualidade e dignidade Humana, da Tradição Perene universal, e da metodologia filológica crítica dos textos de autores sagrados e profanos, nomeadamente os cristãos da patrística (deles dizendo "o melhor Orígenes, o mais agradável Crisóstomo, o mais santo Basílio", e dos latinos ("Ambrósio, extraordinário nas suas alegorias, e Jerónimo, tão prático nas Escrituras santas") e não-cristãos (tal "Platão, Aristóteles e o seu discípulo Teofrasto e depois Plotino, que une as duas correntes"), e foi bastante pioneiro não só nos autores abordados como nos métodos, que partilhou com os seus alunos, e depois em livros, em especial no De Ratione Studi, De Pueris instituendis, De duplici copia verborum, Como escrever cartas, Adágios e Colóquios.
A segunda edição dos Adágios, bem mais alargada, impressa em Veneza, com Aldo Manuzio, em 1508, como Graal da Sabedoria perene, e sobre a empresa aldina: Festina lenta. Apressa-te lentamente. |
Poderemos realçar certos aspectos, tais como no seu plano de estudos, desvalorizar a memorização, preferindo a compreensão ("o essencial da memória, é ter-se compreendido algo a fundo"), pois fórmulas decoradas não são tão duradouras como as aprendidas pela descoberta sentida e livre do aluno. Desenvolver o sentido crítico em vez da submissão, oferecendo uma variedade de autores e soluções, deixando aos alunos a escolha das suas vias e preferências e impulsionando também o estudo da retórica e da argumentação (sobre as quais escreveu bastante) para fortificarem a capacidade de discernimento e julgamento.
Valorizava ainda o estudo da etimologia e da elegância das palavras e frases, bem como a escrita, mesmo que em pequenos ensaios e poemas, e o dialogar-se na língua que se estuda, considerando-as práticas fundamentais, pois depois viriam as teorias abstractas e as regras. Propôs que o
estudo “seja visto como lúdico e não labor», escrevendo por
isso muito dos seus Colóquios, nos quais ensina pelos exemplos, diálogo,
paradoxo, ironia, estética ou decoro, alguns sendo muito divertidos e ainda actuais, embora na época tivessem enfurecido muitos religiosos ou monges por troçar de aspectos comportamentais pouco coerentes.
Assim a auto-consciência crítica, e nomeadamente do que exteriormente
condiciona e manipula, e logo esmaga e destrói as melhores potencialidades humanos, é muito valorizada e desenvolvida por Erasmo que, na linha de
Luciano, de quem traduz as obras com Thomas More aquando da sua
estadia em Londres, e publica em 1506 com o fim de exaltar a ironia e o sentimento crítico que desmascaram os vícios e hipocrisias, vai imortalizá-la no Elogio da Loucura como a grande libertadora social e a geradora de uma
mente ou alma mais sincera, desperta, criativa, irenaica (irene-paz, em grego), capaz de não se prender nas limitações e modas, superstições e dogmas reinantes.
Realçou
Desidério Erasmo ainda muito a sacralidade e amor que estão na essência da Educação,
apresentando a paternidade-maternidade como o meio mais natural e
nobre dela e de tal modo que o ensino ou a transmissão de mestre a aluno, ou a
discípulo, deve ser como a de um pai, e visar, com o recurso a exemplos e modelos valiosos ou esforçados do passado, ao desabrochamento do
génio próprio, ou seja, da individualidade pelo seu livre arbítrio e aspiração sábia modelada e manifestada com decoro, ética, harmoniosamente. Pioneiro também ao afirmar o direito das mulheres a uma
educação mais completa e que se emancipassem da tutela patriarcal asfixiadora.
Na formação da sensibilidade na Educação, Erasmo realçou muito o valor
da poesia, do subjectivismo, da imaginação poética, da leitura e
do culto dos grandes poetas e escritores clássicos greco-latinos (tendo
sido por
isso criticado, já que eram pagãos), da escolha e colheita das palavras e ditos mais valiosos, e se compôs inicialmente uns
poucos de poemas, ao longo da sua vida desenvolveu bastante mais a
prosa e a epistolografia, esta sendo vista
como um diário afectivo e intelectual dialogante, e que teve um
sucesso enorme (cerca de 3.200 cartas e publicadas em 1958 The Complete Letters of Erasmus, por Allen, em latim, em
12 volumes, hoje já com tradução francesa) e por onde perpassa muito
da sua argúcia e amizade, liberdade e sabedoria, além de todas as perseguições
que lhe fizeram ou polémicas em que se envolveu, sobretudo no
começo da Reforma, sem dúvida afirmando-se como o pedagogo ou mestre principal da Cristandade não só pela qualidade das suas obras e intervenções como pela extensão dos seus dialogantes ou destinatários.
Na pedagogia erasmiana uma das ideias forças é a do irenismo,
a não-violência, o pacifismo, a tolerância activa, a conciliação. Uma
forte oposição e condenação da resolução dos conflitos pelo
recurso às armas, considerando que mesmo os animais da mesma espécie
raramente lutam entre si, pelo que o ser humano deve procurar pelo
diálogo chegar à concórdia. Por conhecimentos transmitidos a ele pelo seu amigo, confabulador e discípulo Damião de Goes, Erasmo criticou a cristianização forçada dos Lapões pagões, tal como, e já não por Goes (algo envolvido ou comprometido nos Descobrimentos dos portugueses e suas lutas), se opôs a mais guerras com os Islâmicos e Turcos, pois os cristãos é que eram frequentemente os infiéis e violentos, entre si e contra os não-cristãos. Anote-se a publicação entre nós em 1990 da valiosa tradução do adágio Dulce Bellum e da Querela da Paz, por A. Guimarães Pinto, sob o títulos A Guerra e Queixa da Paz, no qual está condensada muito da sua imensa sabedoria justificadora da não-violência.
São os pedagogos, os professores, os cultores das belas letras, os humanistas (por vezes unidos em círculos, as sodalidades, na grande república literária), hoje diríamos os intelectuais, os professores, os cientistas, artistas, psicoterapeutas e os espirituais, quem deve exercer o papel de mediador ou de esclarecedor nos grandes conflitos de opiniões, interesses, partidos, povos, estados, religiões. E se no Renascimento durante alguns anos algo disso se passara no aconselhamento dos reis e governantes, com a Reforma e a Contra-Reforma muito se impossibilitou e extremizou, desvanecendo-se essa concórdia ou unidade entre sábios e governantes da Europa.
Erasmo, num altar lisboeta. Que nos inspire. Aum, Amen..
Nestes últimos sentidos considerará, por exemplo, que na frase de Jesus ”Ninguém vai ao Pai senão através de mim”, o mim, é o Logos, ou Jesus, o Cristo, e que tal corresponde à Ratio, a Razão, e Sermo (que sempre preferiu a Verbo), a Palavra, a Língua, ou ainda que é pelo diálogo verdadeiro, amoroso, unificador que nos podemos religar à Divindade. Neste sentido corre também a expressão paradigmática do mestre:”Onde dois ou três se reunirem em meu nome eu estarei no meio deles”. Reunirem, ou seja, em diálogo, em colóquio, silencioso ou na palavra luminosa audível, e com a presença da Razão e Inteligência Divina que nos torna verdadeiramente seres humanos e nos unifica.
A pedagogia irenaica ou educação pela não-violência, contra as guerras, os fanatismos e autoritarismos, desagua numa ideia de religião interior, pura, simples, que Jesus transmitiu e cuja base de simplicidade, amor, douta piedade e verdade é universal e subjaz a todas as outras religiões. Assim diremos que é fundamental que desde cedo isso seja ensinado, e idealmente poderemos pensar até com o apoio da Unesco, embora esta esteja ainda muito atada por pressões e interesses negativos, e pelo laicismo neutro das modernas democracias. Isto dá azo a que a ignorância, o fundamentalismo e o fanatismo grassem de Oriente a Ocidente, ainda que o ecumenismo e o diálogo inter-religioso floresçam em alguns pontos, e cada vez mais tudo esteja em rede reveladora ou denunciadora instantânea, para a verdade ou para a desinformação, pesem as censuras, frequentemente vendidas e opressivas exercidos pelos meios e redes de comunicação digitais.
Para Erasmo, muito mais do que organização, dogmas e sacramentos, a religião ou a Igreja é a prática do amor ao próximo e a Deus, e é a assembleia ou congregação da fé e vontade de ligação amorosa à Divindade e à Humanidade, sendo por isso universal e apoia-se no estudo profundo e sentido dos textos sagrados, na oração (incessante, explicará mesmo enquanto modo de vida e aspiração ao Amor divino, como publiquei em 2008 no seu Modo de Orar a Deus) e na comunhão com o corpo místico em que todos fazemos ou podemos fazer parte.
Tal constante abertura e manifestação do bem desagua na
metanóia, ou transformação interior, na reforma das mentalidades e
costumes, na defesa dos oprimidos e perseguidos, na distribuição
mais justa dos bens, e na menor valorização das hierarquias e
autoridades exteriores, e nesse desprendimento consegue-se o recolhimento e uma maior capacidade de sentir o espírito, o amor ou mesmo a Divindade no centro da alma e coração e sermos portanto melhores nas relações com os outros e a Natureza,
As suas propostas de Educação são vastíssimas e apenas partilhamos uma pequena amostra ou introdução à leitura das suas imensas e riquíssimas obras…
Concluamos com algumas das frases que são testamentos deste humanista,
de quem o notável sábio francês Lefévre d'Étaples escreveu em
1514, "Quem é que não admira, ama, honra Erasmo?", ou de quem Rabelais disse ser "campeão invencível da liberdade" (e lembremo-nos da sua intervenção, a pedido do Papa, de polémica com Lutero, na qual defendeu convincentemente o Livre-arbítrio ou liberdade), ou de quem o nosso Damião de Goes, seu grande
amigo, afirmou em 1538, pouco após a sua morte (11 Julho de
1535):”aquele prudentíssimo e gravíssimo Erasmo de Roterdão,
neste nosso áureo e doutíssimo século, príncipe de toda a
doutrina e eloquência”.
“Um homem não nasce homem, torna-se”, dito este extraído do seu tratado Da Educação das Crianças, o De Pueris.
E os que epigrafei nas páginas ante-prefaciais do livro dele que publiquei em 2008, Modo de Orar a Deus:
"As pessoas de engenho generoso e livre gostam de ser guiadas, não de ser coagidas”
“Ego mundi civis esse cupio, communis omnium vel peregrinus magis”, “Eu desejo ser cidadão do mundo, em comunhão com tudo ou mesmo mais peregrino”
E finalmente, de grande pedagogia e actualidade: “Não nego que procuro a paz sempre que possível. Sou a favor de ouvir ambos os lados com ouvidos bem abertos. Amo a liberdade. Não servirei, nem posso servir, nenhum partido”
Assinatura de Damião de Goes num exemplar da sua Crónica do rei D. Manuel. |
Dedicado a Erasmo e aos seus discípulos Damião de Goes e José Vitorino de Pina Martins, neste dia 28 de Outubro de 2013 e bem ampliado no de 2021, no qual Erasmo faria 555 anos, a ter nascido em 1466, já que não é certo. E como disse o deão da igreja de S. Paulo em Londres, seu amigo e sábio John Colet: Nomen Erasmi nunquam peribit, "O nome [e espírito] de Erasmo nunca perecerá…" Saibamos sintonizá-lo, acolhê-lo e frutificá-lo…
Erasmo e o orar sem cessar. Escrito em 2013 e melhorado, por oito anos de vivências, em 2021. Sancte Erasme, ora cum nobis!
São tantos os ensinamentos espirituais
valiosos de Erasmo, para aqueles que procuram aprofundar o caminho do
conhecimento, da sabedoria, da verdade, da espiritualidade e da religação divina, que neste dia (28
de Outubro) em que se festeja o seu aniversário escreverei sobre a
Oração (e em 2021 melhorarei e ampliarei bastante), acerca dos sentidos do orar ininterruptamente, tanto mais que traduzi, com Álvaro Mendes e
depois comentei e prefaciei, o seu Modo de Orar a Deus,
impresso em 2008 nas Publicações Maitreya, do Porto, e que recomendo.
A oração sem cessar ou oração
ininterrupta, a oração veemente ou intensa, as orações ao levantar, ao deitar e ao comer, e a oração pelo outro e a recíproca (muito fáceis para quem mais amamos), em cerimónias religiosas, nas aflições, pelos mortos e em grupo, são algumas das formas de orações trabalhadas e recomendadas por Erasmo.
Mas como conseguir a equanimidade, intensidade e capacidade de estarmos sempre a orar, quando em tantos momentos estaremos obrigados a prestar atenção a isto ou aquilo?
Podemos obter tal com uma vida justa, sábia e esforçadamente amorosa e beneficamente activa, que será a
nossa forma de oração de base, à qual acrescentamos preces ou mantras de quando em quando e o desenvolvimento
de uma mais plena
consciência, tentando estarmos mais auto-conscientes, o mais
lúcidos possíveis. E assim consciencializar-nos com regularidade dos fios ou canais de ligação ao
cosmos (tal no nascer e pôr do sol, etc), ao espírito, aos mestres, anjos e à Divindade, e fazermos circular por eles energias nossas subtis de aspiração e de irradiação e simultaneamente estarmos atentos aos sinais que deles podem descer para nos orientarem...
Destes modos conseguimos afastar da nossa mente, ego e corpo os factores de aceleração, perturbação, dispersão e enfraquecimento que constantemente surgem, derivados das reacções e envolvimentos múltiplos com o mundo ou até em especial com os meios de informação, nomeadamente os que não são harmoniosos, que atemorizam ou em que perdemos essa ligação interna e pura com a natureza, o espiritual e o Divino...
Um certo desprendimento é então
necessário e um constante reposicionamento supra-mental e supra-envolvência material da nossa
consciência. Isto implica praticarmos o acolhimento da
intencionalidade elevada do nosso ser espiritual ou essencial, que está
acima da personalidade e da constante competição, comparação e
conflitualização, ou então das dependência e envolvimentos com os
outros, ou com os hábitos, vícios, preguiças, ser espiritual em nós que nos impulsiona a aspirar à mais alta evolução espiritual possível e à comunhão com ele.
É assim que a nossa personalidade e alma
conseguirão estar mais em oração permanente, ou seja, com o
coração e a mente mais abertos e para os níveis superiores nossos, do cosmos e Divindade, em
gratidão, sentindo e irradiando o amor e a presença do espírito, ou mesmo a comunhão do
corpo místico. Deste modo podemos receber as inspirações do acesso ao intelecto
único de Deus, que pode ser visto como o Espírito Santo, ou seja, o
vastíssimo e ainda misterioso campo unificado de consciência e informação da
humanidade e do Cosmos em que os espíritos encarnados e celestiais apenas, circulam, fluem e por vezes inspiram, soam...
Esta oração sem cessar pode ainda
basear-se ou apoiar-se numa consciência mais plena da nossa
verticalidade tanto postural como respiratória, e de aspiração
e sintonização com a Unidade ou Unicidade Divina, o Tawhid i-ilahi, proclamado pelo imperador mogol Akbar, e daí terem nascido tantas
práticas psico-energéticas ligadas à respiração e à concentração em todos os
povos, algo que Akbar, um místico ecuménico clamava: «A Divindade deve ser cultuada com todo o tipo de
adoração», ou o que o seu bisneto Dara Shikoh propunha ao praticarmos a escuta da música interior ou das esferas e partículas, para abstrairmos do excesso de ruído horizontal mental e sermos mais atraídos para os planos espirituais, al-malakut, al-jabarut, donde nos podem vir os sinais necessários para a alma peregrina...
Estamos a
orar sem cessar quando a intencionalidade da nossa vida é luminosa,
é e destina-se ao bem, ao amor, à compaixão, à ética, à sustentabilidade planetária, à justiça, à partilha com os
seres tudo isto sendo ainda apurado quando oramos e meditamos mais concentradamente, e assim exercemos a arte de Orar, tanto pela capacidade
de pedirmos, vermos e esforçar-nos pelo que pensamos ser bom para todos ou para alguém mais necessitado, como pela
capacidade de abrir-nos às correntes divinas, de caminharmos
constantemente na sua Luz, algo que é apoiado ou intensificado pelas tais orações
mais ardentes e veementes, as jaculatórias, mantras, palavras de
poder que encontramos também em todas as tradições espirituais da Terra…
Saibamos pois escolher bem os modos de
viabilizarmos melhor a oração sem cessar em nós, ou ainda a
consciência da Unidade divina, também chamada por Erasmo de simplicíssima, já que assenta no coração mantido simples e confiante e por aí comungando com o ser divino, qualquer que seja a forma ou modo como ele se desvende ou manifeste...
Concluamos com excertos do seu Modo de Orar a Deus:
«Não se deve menosprezar o lugar dedicado (dicatus) à oração, nem a quantidade de pessoas que se juntam a fim de orar (multitudo conveniens gratia orandi)
Deus ouve de muito melhor grado, de facto, as preces harmoniosamente (unanimiter) irradiadas (fusas) por muitos, sobretudo se o sacerdote as oferece como um vizinho (vicinior) de Deus; todavia, qualquer local é um templo para um cristão: o quarto, a cozinha, a oficina, o navio, o veículo, o cavalo, a casa de banho e mesmo a latrina.
O próprio peito do cristão é templo de Deus, contém o seu próprio altar (circumfert suum propiciatorium), contém Deus em pessoa (circumfert Deum praesentem).
Quanto mais te recolheres (recesseris) em ti próprio, tanto mais ingressarás no mais sagrado do santuário (sacratius adytum), tanto mais te tornarás mais próximo de Deus.»
Este último parágrafo de Erasmo foi assim comentado por mim nas profusas notas do Modo de Orar a Deus e agora ampliada: « Bela e valiosa e sagrada frase, bem capaz de ser utilizada como “abre-te sésamo”, na nossa alma, se for mesmo meditada, assimilada, realizada, encarnada, vivida, abrindo-nos as portas do reino de Deus, ou seja, do mundo espiritual interior. Nesta frase «o próprio peito do cristão é templo de Deus, contém o seu próprio altar (circumfert suum propiciatorium), contém (ou leva consigo) Deus em pessoa (ou a presença de Deus) (circumfert Deum praesentem)», temos uma estrutura de correspondências muito vizinhas ou interconectadas de peito, templo, altar e Deus.
domingo, 27 de outubro de 2013
Da Tradição Espiritual de Portugal e da missão de cada um. Do Arcanjo de Portugal.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
O que é a meditação? Contributos...
Vejamos uma das muitas metodologias de aproximação:
Após um certo alinhamento e desbloqueamento, para o que podemos fazer alguns exercícios de movimentação, já sentados, podem ainda brotar alguns gestos e sons com os dedos ou mãos, tal como várias tradições desenvolveram, estimuladores da energia nos meridianos que começam ou terminam nas mãos, gestos para limpar, harmonizar e elevar os fluxos energéticos e psíquícos, e eis-nos então prontos a embarcar na viagem auto-consciencial e meditativa.
No início, depois de uma invocação do Ser e seres divinos, mestres, santos ou anjos, conforme as nossas afinidades, começaremos a observar o ritmo da respiração, descontraidamente, e até procurando sentir energias luminosas a entrarem, sendo retidas para nos fortificarem e na expiração saindo e deixando-nos mais harmonizados. Aos poucos, os pensamentos que nos preocupam vão-se também acalmando e, sendo vistos com mais interioridade e calma, vão perdendo as suas energias emotivas ou conflituosas que os tornam repetitivos ou que nos afectam mais...
Depois, deveríamos começar a sentir a Presença interna do Espírito e a sua ligação com o Infinito ou o Ser Divino...
Mas como é difícil chegar a um estado imediato de poucos pensamentos, deveremos de quando quando invocar e adorar com mais aspiração a forma ou nome do Absoluto ou do Divino que mais nos toca, para isso também contribuindo, por exemplo, o inclinar-nos sobre o peito e aí juntar as mãos, sentindo bem nessa postura a receptividade invocativa grata e humilde...
Entre nós e o Espírito ou a Divindade não deveria haver tantas barreiras, tantos véus, tantos canais desviando-nos para outros direcções e seres, pensamentos e imagens. E por isso esses momentos de tentativa de união maior das meditações são muito valiosos, podendo ainda ser acentuados pelos cantos e preces, ou mesmo pelas mãos juntas. Mãos, que podem depois elevar-se ao céu em forma de Graal, taça ou cálice, e acolher melhor as bênçãos luminosas ou ainda, mais tarde, derramá-las para pessoas já falecidas, ou para as que, vivas, mais precisam.
A destilação maior do elixir da imortalidade acontece então pela auto-consciencialização do Ser profundo que está em nós, e pela captação e circulação da luz divina que permeia o universo, que começa então a ser mais vista no olho espiritual, sensível no nosso corpo interior energético espiritual, e pelas bênçãos e expansões de consciência que possamos sentir.
E meditamos não só para nós e o ambiente, mas também pelos mortos, terrenamente ou já no além, sobretudo quando a luz circula e emana visivelmente do coração ou do olho espiritual e que, pelo nosso amor, chega até eles...
Então, quando meditamos, ou apenas perseveramos no respirar consciente e no orientar das ondas do pensamento mais concentradas, já não estamos apenas a acalmar as ondulações psíquicas, a harmonizar os dois hemisférios, a clarificar a nossa mente e alma mas estamos também a unir mundos e seres, personalidade e o Espírito divino, talhando o corpo espiritual, recuperando a nossa dimensão mais profunda e extensa, cooperando na clarificação e iluminação planetária, religando-nos à Divindade...
Boas meditações...
Fernando Pessoa, conde Hermann von Keyserling, e a defesa da "Grande Alma Portuguesa"...
Elogiará ainda tanto as palavras de Keyserling, vindas de «quem compreende a sua vida como uma missão», inserindo-as nas vozes que se elevam contra «as pretensões do pensamento racional, crítico e analítico, como também a sua visão «do primado da vida, libertada pela compreensão e espiritualizada pelo sentido», lembrando por fim o sentido universal de Portugal e «que se fomos os primeiros a ocidentalizar o Oriente, fomos também os primeiros a compreende-lo sem perder a nossa essência», dando mesmo o exemplo de Wenceslau de Morais, o nosso grande amante do Japão.
Esta carta acabou por ser apenas publicada pela primeira vez em 1988, no livro que então escrevi e intitulei A Grande Alma Portuguesa. Nela, Fernando Pessoa não questiona tanto o que o conde de Keyserling disse como antes os seus pressupostos e bases: «Viestes a Portugal para compreender - nós teríamos preferido que fosse para conceber – a alma portuguesa. Muniste-vos da preparação ilógica para o fazer? Seria suficiente que estivesse munido do conceito da alma como tripla – comum aos platonizantes e aos cabalistas, como a outros (...) Que Portugal pensa ter podido ver? Há três e tudo está lá (...) Da terceira alma portuguesa feita de inteligentes e de entendedores, nada há a compreender. Quanto à primeira alma portuguesa, se a vossa intuição é subtil, tê-la-eis adivinhado. Talvez a tenhais mesmo deduzido da paisagem e da luz, mais até do que a aprendido nas próprias almas. Nisto tudo, viu bem, mas não tereis visto que o visível. O Portugal essencial – a Grande Alma portuguesa, em toda a sua profundidade aventurosa e trágica – foi-vos velada...». Anote-se que esta tríade anímica surge de modo semelhante em outros textos de Pessoa, tal como os dos três tipos de portugueses, apontando a génese do português essencial, ou «imperial», ao tempo de D. Dinis.
Rabindranath Tagore e o conde Keyserling em Darmstaad |
Das Noites Claras. Meditações e Reflexões....
Ah, e é importante antes de adormecermos revermos um pouco o dia e deixarmos evolar-se para os céus a gratidão imensa, primeva, que liga os mundos e seres, iluminando-nos na comunhão com os antepassados, os guias, os mestres, os anjos, a Divindade...
By the night, well inside, we feel: don't stop, even if it is to late... Indeed, the wings of the soul and the fire of the spirit make us work, pray or worship with gratitude and love, in the night's blessing silence of the unfathomable Unity...
Mantermos aberta ou sintonizada a unidade dos mundos e dos estados psíquicos numa unificada consciência é uma tarefa grande ou exigente que nos desafia a sairmos dos compartimentos estanques e das medianias das agitações, cansaços e indignações para estarmos cada vez mais em lucidez, paz e amor...
Saibamos pois manter a chama do coração acesso e a consciência expandida, crendo e lutando por um futuro melhor para a Humanidade...