Haja Paz no mundo. No aniversário de Vinoba, o sucessor de Gandhi.

Pela Paz no mundo, e em especial, na Síria, e em homenagem aos pacificadores, tal como o sucessor de Gandhi, Vinoba Bhave ou Vinoba Ji, neste dia 11 de Setembro de 2013, no qual faria 118 anos. 

 

Invocando, irradiando e agradecendo a Paz, mais do que nunca nestes últimos tempos em que tem estado tão ameaçada pela ganância e a irresponsabilidade de alguns, lembremos um dos seus adeptos, amante e mestre, nascido em 11 de Setembro, de 1895, perto de Chanai, na Índia: Vinayak Bhave, mais conhecido por Vinoba Bhave, ou ainda Vinoba Ji, um ser com quem ainda dialoguei.

Sendo muito dotado para as línguas e dialectos (chegou a falar doze) e as matemáticas, abandonou um futuro promissor para aderir ao Mahatma Gandhi e aos seus ideais de Ahimsa, não-violência, Swaraj auto-determinação e Satyagraha, a força da verdade, e que, uma vez manifestados num grupo, logo se expandiram galvanizadoramente por milhões de indianos contra o colonialismo inglês e certos defeitos dos próprios indianos mais acomodatícios.

Quando se juntou à vida comunitária no Sevagram ashram (centro ou local de verdade e comunidade) de Gandhi, executava todas as tarefas com tal perfeição que Gandhi confessará ao pastor inglês Andrews, ao  perguntar-lhe quem era ele: «É uma das pérolas raras do ashram, um dos que vieram não para ser benzidos, mas para abençoar, não para receber, mas para dar». 

Gandhi com Vinoba, em 1941, no Sevagraam ashram

Professor do Mahatma Gandhi de sânscrito e na interpretação e recitação dos textos sagrados, pois nascera brâmane, ou seja na casta religiosa, mas discípulo profundo nos votos e técnicas da não-violência, quando Gandhi morre, tomará o seu lugar como líder, guru ou imam. Como disse então o famoso cantor Toukdoji: «O Pai partiu, o Filho carregou o fardo sobre o seu ombro. Vinoba é agora para nós o que Bapou (Pai) era para nós. Gandhiji morto, eis agora o advento do herdeiro do seu imenso amor». E quanto a esta última característica do poder carismático de Gandhi, relembremos que a certos níveis a não-Violência, Ahimsa, corresponde quase ao Amor, Prema.

Vinoba inicia então o Bhoodan, a caminhada peregrinante, para o Gramdan, o dom gratuito de terra rural, e recebe milhões de hectares para os mais desvaforecidos, em grandes peregrinações por toda a Índia, o que o leva  a explicar: «Não basta espalhar ideias e não convém impô-las, e é preciso ainda que venham ter connosco e que adiram às coisas. Se elas aderirem às coisas, impõem-se e espalham-se. Se tivesse atravessado as aldeias a rolar sobre nuvens de poeira, as minhas ideias não teriam raízes». 

Nos nossos dias, não se poderá ainda reinventar este Bhoodan, este ascultar harmonioso das necessidades as pessoas e das terras, esta osmose profunda das ideias e ideais com os humanos e as suas necessidades, reivindicações e aspirações, e para resultados satisfatórios e luminosos, não só quanto a terras abandonadas, tão sujeitas a fogos, como as casas e fábricas? 

No seu ashram em Wardha, no centro da Índia, que desde 1921 lhe fora delegado por Gandhi, e sobretudo depois dele partir da Terra a 30 de Janeiro de 1948, começa a receber homens de Estado, procuradores da verdade e peregrinos, entre os quais se destacou o siciliano francês Lanza del Vasto, mais conhecido por Shantidas e que veio várias vezes a Portugal e Espanha (Bejar, onde participei e onde me tornei o responsável pelas refeições...) estando hoje publicado a sua obra magna, Peregrinação às Fontes, nas ecológicas “Edições Sempre em Pé” de José Carlos Marques, tentar dinamizar a desobediência cívica à violência e à ignorância, que infelizmente ainda hoje regem grande parte dos governos e políticas. Todos encontravam sempre um caloroso e sábio acolhimento dialogante de Vinobaji, como eu próprio o experimentei… 

Na sua luta pela não violência e auto-governação Vinoba sofreu várias prisões ao longo dos anos 20, 30 e 40, chegando a estar preso 5 anos seguidos, mas sempre trabalhando na escrita e na espiritualidade e deixando-nos bastantes obras valiosas sobre a educação, a economia e a espiritualidade.

Num discurso já com a Índia livre do colonialismo inglês, Vinoba Ji, em 1957, em Yelwal, em plena campanha de recolha de terras para os mais necessitados, dirá: «É minha fé fundamental que há um espírito divino no coração do ser humano. Superficialmente pode haver faltas, mas não são da essência interna. Precisamos então de descobrir um caminho que entre no mais íntimo do coração para que toda a bondade seja revelada. E esse caminho pode ser encontrado; descobri-o em Telengana. Eu pedi terra, e um homem avançou e deu-me terras. Para mim, este minúsculo incidente foi um sinal de Deus; confirmou a minha fé em Deus. É contra o Dharma (Ordem do Universo ou cósmica) e a Razão (Budhi) pensar que a terra possa ser propriedade individual. E quando comecei a pedir terra num espírito de amor, as pessoas começaram a responder. Foi como se um vento fresco começasse a soprar, e as pessoas vieram, vindas de longe ou de perto, juntar-se à nossa peregrinação». 

Assim se referia Vinoba às jornadas a pé (bhoodan) que atravessaram a Índia a pedir e a receber terras (gramdan) para os mais necessitados. Esta redistribuição, na sua plenitude, significa «que tudo o que se possui deve ser posto à disposição da comunidade como um todo». 

Assim se realizou na Índia, uma reforma agrária, não-violenta e eficaz, de milhões de hectares, um exemplo sempre actual, sobretudo agora que multinacionais transgénicas, como a Monsanto, ou governos bombistas ou insensíveis à Natureza e à compaixão, ainda tentam destruir as harmonias milenárias da Natureza e manter uma Humanidade, cada vez mais consciente e potencialmente unida, num estado de bastante sujeição, sofrimento e alienação… 

Saudemos e acolhamos então hoje e sempre estes dois mestres da Ahimsa ou não-Violência no séc. XX, e que com Mahavira, o Jina, Gautama, o Budha, Pitágoras, Jesus (bem secundado hoje pelo Papa Francisco), Porfírio, Prisciliano, Rainha Santa Isabel, Erasmo, Vivés, Damião de Góis, Tolstoi, Jaime de Magalhães Lima, Albert Schweitzer, Lanza del Vasto e Martin Luther King, entre outros, são grandes inspiradores das nossas almas e comunidades nas consciencializações, movimentações e esforços pela Paz, o Amor, a Justiça e a Divindade na vida humana e na Terra...