Bô Yin Râ é um dos mestres espirituais mais valiosos do século XX, mesmo que apenas algumas pessoas o conheçam, ou tenham lido os seus livros ou contemplado as suas pinturas e desenhos.
Eis algumas razões do seu valor: 1º Como pintor tem uma capacidade incrível de captar e compartilhar as suas visões espirituais de formas muito belas e inspiradoras. Completou cerca de 200 pinturas durante a sua vida (1876-1943), no Mediterrâneo e principalmente na Alemanha, onde nasceu como Joseph Anton SchneiderFranken, numa família de agricultores, e na Suíça, onde viveu, tendo recebido o seu nome espiritual original de Bô Yin Râ, no qual as letras são como antenas espirituais, durante a sua estadia em 1912 na Grécia.
2º Afirmou ser um mestre, e ter sido iniciado, na Grécia, pelos mestres primordiais da humanidade, podendo assim transmitir os ensinamentos mais elevados e apropriados às primeiras décadas do século XX, mas com uma validade perene. Os mestres têm seu centro no nível espiritual dos Himalaias, no que é chamado de Himavat e é deste elevado e subtil Oriente espiritual que vêm as mais altas correntes espirituais para a Humanidade.
3º Escreveu quarenta e quatro livros de conhecimento muito subtil, profundo e harmonioso, que estão agora traduzidos em algumas línguas, e muitos deles disponíveis online, nos quais dá valiosas explicações sobre os mestres, o caminho e as suas dificuldades, as experiências supersensíveis ou espirituais importantes, o karma, a vida após a morte, a manifestação cósmica, a unidade das religiões, o amor, a guerra, a magia da palavra, a verdadeira vida, os ensinamentos de Jesus, etc. [Encontra alguns abordados neste blogue e no meu canal do youtube https://www.youtube.com/@petrustella ]
4ª Criticou as abordagens intelectuais à vida espiritual, tal como as explorações-investigações científicas, ou a possibilidade de uma ciência do Espírito, e explicou como a maioria das informações dadas pelos instrutores e grupos esotéricos são geralmente incorretas e até nefastas para os discípulos e buscadores. Escreveu criticamente sobre a Teosofia, Blavatsky, mediunidade, alertando as pessoas sobre os perigos das práticas de canalização do que quer que apareça, e dos exercícios ocultos, viagens astrais, segredos mágicos antigos, jejuns, regressões por hipnotismo e vidas passadas, neste aspecto sendo controverso pois descria da necessidade de uma pessoa normal ter de voltar de novo à Terra.
Essas críticas ao que se tornaria a corrente principal das actividades e doutrinas da Nova Era (no que foi acompanhado por René Guénon e Julius Evola) são provavelmente um fator importante para que ele não seja tão lido (ou tão comercial) hoje em dia como foi na sua época, quando as pessoas saindo da Primeira Grande Guerra, e desejando ir além do materialismo e do Cristianismo superficial normal, estavam ansiosas e entusiasmadas por ler e assimilar as suas palavras e ensinamentos espirituais.
Na busca de união com Deus era categórico ao afirmar que o Ser Divino só pode ser contactado dentro da alma, o que implica um processo profundo e perseverante durante toda a vida: tal processo ou caminho tem implícita uma vida equilibrada e criativa, o esforçar-se para unificar pensamentos, actos e sentimentos, e assim obter o controle deles, atingir a necessária auto-transmutação e empatia-amor que permitem alcançar experiências supersensoriais e unitivas e, assim, sentir o espírito individual que cada um é, e no organismo espiritual que potencialmente tem, assim como sentir o espírito de Deus, ou a realização do Deus vivo dentro de si.
Nestes dias de começo do Advento ou de aproximação do Natal, tão obscurecidos pela tristeza e ensopados pelo sangue que está correr no genocídio e urbanocídio da Palestina, vamos aproximar-nos de um dos mais altos mistérios do caminho espiritual, sobre o qual pouquíssimas pessoas têm ideias corretas ou experiências verdadeiras, porque há muito perderam-se nos seus caminhos para o conhecimento interior mais profundo, tanto mais que a maioria dos mestres que estão a ensinar, alguns muito famosos, são apenas semi-cegos, fingindo ser iluminados ou sat gurus, levando as pessoas com pouco conhecimento e desejosas de luz em direções erradas, muitas vezes explorando as suas necessidades ou desejos emocionais e enfraquecendo a sua verdadeira realização.
Então oiçamos Bô Yin Râ sobre o mistério de renascer, apresentado pelos antigos mestres como a iniciação, e especialmente por Jesus nas suas famosas palavras: "Se queres entrar no Reino de Deus, (ou nos mundos espirituais e divinos), tens de renascer," ou "nascer da água e do espírito", no qual não estava a falar do baptismo em água e rios, mas no reino espiritual das águas primordiais ou energias do espírito.
Nalgumas passagens de sua obra, a opera omnia chamada Hortus Conclusus, Bô Yin Râ aborda o tão importante renascimento, e a passagem mais explícita e didáctica está no livro A Sabedoria de João, no quinto capítulo, O puro Ensinamento, aquele confiado por Jesus aos seus discípulos mais preparados:
«Um espírito humano não pode entrar em nenhum mundo espiritual da manifestação - e tudo o que vive no reino do Espírito é apenas apreendido como uma manifestação espiritual - a menos que nasça nele.
Originalmente, o espírito humano é gerado eternamente no mais íntimo deste "Reino de Deus", engendrado por Deus, mas ele deixou o organismo espiritual nascido de Deus - para manter esta imagem - no mais profundo do reino do Espírito, onde este organismo fundiu-se de novo na potencialidade da Divindade. Assim, um renascimento individual deve ocorrer se um dia o espírito humano quiser estar consciente e activo naquele reino de Deus.
Antes, o espírito humano, mesmo que tenha alcançado o mais alto grau de desenvolvimento na sua vida terrena, está apenas consciente de si mesmo e de seu Deus Vivo. E encontra-se, após a morte de seu corpo terrestre, apenas nos mundos espirituais inferiores, para os quais o organismo correspondente foi preservado num estado embrionário, mesmo após a sua queda no mundo da manifestação animal, e tal constitui a única forma de existência espiritual que ele ainda possui, tendo porém a faculdade de a desenvolver pelas suas acções ou comportamentos durante a sua vida terrestre.
Sobre este objetivo mais elevado e último da vida, o autor [São João] da antiga mensagem do Mestre diz: "Enquanto alguém não renascer da água no espírito" - da semente espiritual - "não pode entrar no Reino de Deus".
Para confirmar e esclarecer essas palavras, ele permite que o Mestre diga mais uma vez: "O que é nascido da carne, carne é, e o que é nascido do espírito, espírito é."
Para que não haja dúvida de que aqui se trata da realização da geração de um organismo real, tanto da carne quanto do Espírito...
Mas os únicos desta Terra que, já durante a sua vida terrestre, alcançam este "renascimento" no Espírito, e assim simultaneamente vivem e agem conscientemente no mundo da manifestação terrestre e no reino mais íntimo do Espírito, são os Portadores da Luz Primordial, dos quais o Mestre de Nazaré foi um.»....
Como lemos, o ensinamento é relativamente simples: temos um corpo espiritual embrionário com o qual não podemos contudo alcançar os níveis ou reinos espirituais mais elevados do Cosmos, a menos que ele seja desenvolvido por um modo de vida correto e pelo trilhar o caminho espiritual interno de nos conectarmos com nosso espírito individual e depois com o Ser Divino, segundo a nossa própria face ou relação pessoal, o que é chamado na Índia ishta devata, a Divindade pessoal
Essas duas realizações, raras de serem vistas em seres normais, culminam então com a verdadeira iniciação no espírito, renascendo a consciência num corpo espiritual da mais alta qualidade e capacidade (que ele sugere no livro Welten, ou Mundos, ter a forma de uma estrela), algo visto apenas nos verdadeiros mestres, através de sua conexão com o Pai, tal como Jesus disse: "Eu e meu Pai somos um. Quem me vê, vê também o Pai", ou "Na verdade, quem me enviou está comigo, e ele não me abandona, porque eu sempre faço o que lhe agrada", culminando com o "Eu sou o caminho, a Verdade, a Vida".
Já a frase «Ninguém vem ao Pai senão por mim", afirmação tão fundamental, ou até mesmo um mantra, de Jesus, é bem explicada por Bô Yin Râ desta forma: "A identidade nascida do espírito, e que ele chama de Filho, e que ele experimenta como o seu próprio eu, como um Portador da Luz Primordial, permanece a mesma realidade para todo espírito humano, e somente em seu Filho qualquer espírito humano pode encontrar a vida eterna no mundo do Espírito."
Consigamos então uma comunhão mais profunda com o Amor-compaixão divino, o Espírito individual, ou o Filho em nós, os Mestres ou portadores da Luz Primordial, e com o Ser Divino, a Divindade, pessoal ou impessoal, para o bem-estar da Humanidade e do Cosmos.