domingo, 4 de dezembro de 2022

O Mosteiro dos Jerónimos, comemorando a ligação com a Índia. E o seu portal sul, axial e espiritual de Portugal num vídeo de visitação súbita matinal.

Uma breve visitação outonal do mosteiro dos Jerónimos (em Belém, Lisboa), erguido a partir de 1502 em memória e agradecimento pela fortuna ou sucesso da viagem de descoberta do caminho marítimo entre Portugal e a Índia, iniciada  em 7 de Julho de 1497, com uma vigília nocturna numa capelinha  acima do local do onde partiria no dia seguinte a frota comandada por Vasco da Gama, na nau S. Gabriel, seu irmão Paulo da Gama capitaneando a nau S. Rafael e Nicolau Coelho liderando a nau Bérrio, com cerca de cento e sessenta navegadores, marinheiros e frades. Pensa-se que nos medalhões do claustro do Mosteiro ficaram assinalados tais capitães, enquanto que na coluna espiralada do eixo do portal sul o Infante D. Henrique, o iniciador persistente dos Descobrimentos e da ligação à Índia, com a ponta da espada em terra, assinala a força invencível de concretização da vontade justa ou "dharmica" inspirada.

Chegados à Calecute na Índia a 17 de Maio de 1498, com negociações de paz e comércio algo difíceis pelas rivalidades árabes e com alguns momentos de veneração pioneira, ecuménica, de representações divinas indianas por Vasco da Gama, o regresso iniciou-se em Outubro de 1498, e dos mestres-capitães  Paulo Gama foi o sacrificado, ao chegar doente à Ilha Terceira,  tendo seu irmão Vasco da Gama ficado à sua cabeceira, até ele partir para o mundo espiritual, e atrasando-se no regresso com a S. Rafael cerca de 40 dias. Foi portanto Nicolau Coelho, com a nau Bérrio,  a dar a boa nova do cumprimento da missão ao rei D. Manuel, chegando a 12 de Julho de 1499, surpreendendo e alegrando as Tágides e a gens olisiponense, unindo para sempre as correntezas dos rios Tejo e Ganges, como depois vários portugueses e indianos sentiram e viveram mais ou menos profundamente e o frade agostinho do convento da Graça, Sebastião Toscano, realçou na cerimónia da trasladação dos ossos do heróico governador da Índia, de 1509 a 1515, Afonso de Albuquerque. Da dificuldade da viagem iniciadora e iniciática falam os quarenta e oito homens que regressaram, e Luís de Camões, experiente também no Oriente exterior e interior, consagrará o feito perenemente nos Lusíadas, dados à luz em 1572, e constantemente glosado e comentado na tradição espiritual portuguesa, de cuja corrente um dos mais belos e concentrados elos é o Camões e a fisionomia espiritual da Pátria, gerado no verbo ou sermo de Leonardo Coimbra em 1920, e por mim já trabalhado: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2016/12/leonardo-coimbra-camoes-e-fisionomia.html

                                     

O mosteiro de Santa Maria de Belém, cheio de ícones exteriores e interiores (e que continha ainda uma bela, pequena e poderosa estátua seiscentista de Nossa Senhora dos Navegantes, desaparecida há pouco anos), foi entregue por D. Manuel à Ordem de S. Jerónimo, donde o seu nome, Mosteiro dos Jerónimos, estando o santificado escritor bem representado no tímpano do pórtico, com os dois leões (quem sabe Shu e Tefnut, provindos do Egipto, aonde S. Jerónimo esteve) a dardejarem na base da coluna da entrada no unificador templo...

O pórtico sul, edificado entre 1517 e 1519 por João Castilho e a sua campanha,  que dá para a praia (outrora) donde partiram as naus, tal como o do poente, este já de Nicolau de Chanterene, estão esculpidos com grande arte, simbolismo, geometria sagrada, sabedoria e religiosidade, e a visitação breve feita e gravada no vídeo partilha algo do que se pode sentir e orar n entrada e contemplação do portal axial. Lux!

 



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