Neste 12 de Julho, dia em que Erasmo em 1536 partiu do seu corpo físico, começamos a partilhar uma biografia que escrevi para o Modo de Orar a Deus, impresso nas Publicações Maitreya, levemente ampliada.
Biografia de ERASMO DE ROTERDÃO
1ª parte, de 1469 a 1505.
O nascimento do fino e arguto Erasmo, aliás Desiderius Erasmus Roterodamus, ainda hoje continua um mistério, pois não se sabe se terá nascido em 28 de Outubro de 1467 ou de 1469 ( sendo este o ano mais provável), embora se conheça o local: Roterdão, nos Países Baixos, hoje a Holanda. De igual modo pouco se sabe acerca do seu pai, Gerard, um jovem religioso itinerante, sendo este o seu segundo filho, e acerca de sua mãe, Margareta Brandt. Deram-lhe o nome de Erasmo, um santo popular na região, mas que também quer dizer em grego, amado. Já Desidério é um acrescento posterior voluntário e significativo dele próprio, pois quer dizer desejo, prazer, talvez na aspiração a ser amado da Divindade e quem sabe preservando alguma individualidade desiderativa...
O nascimento do fino e arguto Erasmo, aliás Desiderius Erasmus Roterodamus, ainda hoje continua um mistério, pois não se sabe se terá nascido em 28 de Outubro de 1467 ou de 1469 ( sendo este o ano mais provável), embora se conheça o local: Roterdão, nos Países Baixos, hoje a Holanda. De igual modo pouco se sabe acerca do seu pai, Gerard, um jovem religioso itinerante, sendo este o seu segundo filho, e acerca de sua mãe, Margareta Brandt. Deram-lhe o nome de Erasmo, um santo popular na região, mas que também quer dizer em grego, amado. Já Desidério é um acrescento posterior voluntário e significativo dele próprio, pois quer dizer desejo, prazer, talvez na aspiração a ser amado da Divindade e quem sabe preservando alguma individualidade desiderativa...
Foi
educado pela mãe em casa da avó materna, frequentando a escola de
Gouda desde os quatro anos, em seguida a da catedral de Utrech, onde foi menino
do coro e, desde 1478, a de S. Lebuíno, em Deventer (Sete Montes),
esta última de um grupo cristão então importante, os Irmãos da
Vida Comum (ou Simples), nascido em meados do séc.
XIV, da acção de Geert Groot (1340-1384), um amigo do famoso
místico, nascido perto de Bruxelas, Ruysbroeck.
Dada
a influência deste grupo no movimento da pré-reforma da
Cristandade, bem como no humanismo de Erasmo e do norte da Europa,
mais corporativo e prático, na combinação da fé, moral e obras, do
que o humanismo pioneiro da Itália, mais aberto ao singular estudo e
concórdia de todas as tradições culturais e religiosas,
deter-nos-emos um pouco nele, tanto mais que foi um dos muitos
fermentos da passagem da Europa medieval para o Renascimento e a
Modernidade
Geert
Groot, natural de Deventer, doutorou-se em Artes em Paris e
aprofundou estudos e a prática de medicina e astronomia, magia e
teologia. Desenvolveu uma grande paixão pelos livros antigos,
procurando manuscritos, fazendo-os copiar e emprestando-os. Em 1374
converteu-se pela acção de Aeger, prior de um convento dos Cartuxos
e, depois de doar os seus bens e oferecer a sua morada para uma casa
de Irmãs, com a vida em comum, partiu para uma via de interioridade
e desprendimento. Em 1377 conheceu o sacerdote e notável místico Jan van Ruysbroeck, a
quem visitou várias vezes, inebriando-se na ardência espiritual que
ele, então com 84 anos, depois de ter escrito em holandês alguns
tratados, tal como as famosas Núpcias Espirituais,
reveladores do alto grau de união a Deus a que chegara, transmitia
no seu convento agostinho nos bosques, tão frequentados pelos
eremitas, de Groenendael (onde o místico Taulero também esteve)
mostrando como era possível um coração abrir-se à luz e ao amor
divino, ou, como Erasmo dirá na Instituição do Matrimónio
Cristão, «o Espírito santo habitar no coração das pessoas
devotas».
Ordenou-se Geert Groot diácono em 1379 para pregar e reformar a religião cristã, o que fez
estimulando a virtude e a oração, e criticando os clérigos
dissolutos, os heréticos e o excesso de mendicantes em vez de
apóstolos. Um dos seus amigos e discípulos, o sacerdote Florens
Radewijns, propôs em 1381 que se juntassem os copistas (de
manuscritos) e colaboradores numa casa comum e deste modo ficaram
mais protegidos os Irmãos da vida comum, nome este
designando em especial, na linha de Ruysbroeck, tanto a comunidade de
bens como o facto da realização contemplativa ser partilhada,
tornada comum, na vida activa.
Morrendo Geert Groot em 1384, Florens
funda, em 1387, uma congregação de Canónicos regulares de S.
Agostinho, cuja primeira abadia é em Windesheim, e que chegará a
ter mais de cem casas irradiando por toda a Europa graças à sua
piedade moderna, ou seja, autêntica e activa, sem superstições,
assente na oração, nos Evangelhos e na caridade de Cristo vivo,
acessível a todos, fermento de renovação das almas.
Livro de Horas que pertenceu a Geert Groot |
Nas
suas obras devocionais, Groot cita os clássicos antigos e, em
especial, os mais religiosos, Séneca e Cícero. Critica a
escolástica, o sistema teológico da época demasiado baseado na
arte da disputa, de sentenças e proposições abstractas, e valoriza
a realização interior dos simples, que pela fé, a pureza e a
oração conseguem receber a graça santificadora e libertadora.
Assim, os irmãos e cónegos vão aliar ao culto das letras humanas
uma ligação afectiva e interior com Jesus, o regresso à pureza do
cristianismo primitivo e um trabalho social de assistência aos
desvalidos e de ensino às crianças, nessa época a serem acolhidas
assim nas primeiras escolas públicas abertas a todos, numa vida
simples, de humildade e de partilha.
Chamou-se Devotio moderna a este movimento porque, em contraste
com a devoção anterior, muito condicionada pela armadura
especulativa e escolástica, tão dependente das autoridades e
sentenças, libertou a condição de religioso e a metodologia da
oração e da meditação de várias dessas peias limitantes,
aprofundando o sentido vivencial interior, renovando-o e incarnando-o
num modo de vida ao serviço de Deus e da comunidade, pois a caridade
dinâmica com o próximo era a principal prova do amor a Deus.
A
orientação dos Irmãos da Vida Comum, laicos ou religiosos,
ao tempo de Erasmo tinha já duas linhas: a que pouco valorizava ou mesmo desdenhava dos
estudos clássicos, poesia e filosofia, mormente dos autores
pré-cristãos, e a linha mais avançada que privilegiava a
interioridade espiritual ou mística mas acompanhada ou fortalecida
pela cultura e sabedoria antiga, e que teve mestres como os
humanistas Rudolfo Agricola e Alexandre Hegius, com milhares de
alunos.
A
obra que circulará mais por toda a Europa foi a Imitação de Jesus,
escrita por Thomas von Kempis, discípulo de Florens Radewinjs, um
diálogo pleno de humildade, submissão e devoção amorosa, mas de
qualquer modo propondo a imitação de Jesus, o que era até ousado para a época. Houve mais irmãos a
distinguirem-se na literatura de espiritualidade, como Gerlac Peters,
também discípulo de Florens, autor de um valioso Soliloque
Enflammé avec Dieu, pour rapeller son esprit de ses dissipations et
le ramener vers le bien unique et suprême, Geert Zerbolt de
Zutphen, autor das Ascensões Espirituais, e Jean Wessel
Gansfort, que ensinou o método da escada meditatória onde, em
relação à comunhão, afirmava ousadamente a presença de Cristo em
qualquer pessoa que o invocasse sincera e merecidamente, numa linha
já próxima da justificação ou salvação sobretudo pela fé e
pela graça. Queria aprender o hebreu, valorizava os estudos bíblicos
e morreu em 1499, pelo que Erasmo poderá tê-lo conhecido ou
recebido algumas forças anímicas dele.
Os
anos em que o jovenzinho Desiderius desabrochou para a inteligência num meio
como Deventer, um grande centro cultural e do começo da tipografia,
onde se publicaram cerca de 450 “incunábulos”, ou seja, livros
do berço (cuna) ou início da tipografia (o que se considera
ir até 1500), devem ter sido determinantes na sua vida e seria
interessante sabermos quando terá, pela primeira vez, espreitado ou
entrado numa oficina tipográfica a funcionar, com todo o entusiasmo
que o dar à luz os filhos do espírito gera em todos os que
participam ou presenciam, ouvem e cheiram, e o que sentiram os seus sentidos interiores e alma, ele
que viria a ser um dos primeiros escritores europeus a fazer a sua
vida e fortuna nas obras das tipografias...
Teve então a felicidade de contactar os humanistas Jan Synthen, Alexander
Hegius (1433-1498), director do colégio de St. Libuíno, bem como o
seu mestre, que admirou, como se lerá num dos Adágios (Canis
in balneo), Rudolph Agricola (1442-1495), discípulo do notável
místico e matemático Nicolau de Cusa, pioneiro no norte da Europa
do aprofundamento da tradição greco-latina unida ao Cristianismo
que caracterizava o Humanismo, recebido ou aprendido na Itália
durante onze anos, destacando-se Agricola como renovador da dialéctica e da
retórica, ao empregá-las no estudo da poesia e da literatura
(nomeadamente no De inventione dialectica, estudado e
divulgado por Erasmo, tornando-se mesmo, com uma obra congénere de
Lorenzo Valla, a nova metodologia então adoptada pelo ensino mais
humanista). Rudolfo Agricola terá até um dia, lendo uma composição
premiada de Erasmo, então com 14 anos, e encarando-o demoradamente,
profetizado que viria a ser um grande homem, como nos refere Pierre
Bayle no seu Dictionaire Historique et Critique, embora haja
também a versão do humanista Beatus Rhenanus de que teria sido
outro professor, Jan Synthen...
Até
1483, aprende nessa escola perto de Roterdão, onde certamente foi
bem impulsionado no desabrochar do seu génio literário. Mas,
depois, com a morte dos pais, numa epidemia de peste, em 1484, os
tutores forçam-no a partir para a escola dos pobres (domus
pauperium) de Hertogenbosh (a cidade onde viveu até 1516 o
misterioso pintor Jerónimo Bosh), também dos Irmãos da Vida
Comum, mas que, já sem abertura humanista e antes pelo contrário
muito na linha da humildade, da penitência e do afastamento do mundo
e da cultura não religiosa, atrasaria de certo modo durante três anos
o seu desabrochar cultural, como ele próprio dirá.
Em
1487, com dezoito anos, algo forçado pelas circunstâncias e alguma
pressão dos Irmãos, pelo pudor ou temperamento tímido e
pelas febres («desde a minha infância tive sempre um corpo frágil,
de uma textura muito pouca densa, como os médicos dizem, facilmente
exposto às agruras climáticas»), aceita ingressar no convento dos
cónegos regulares de S. Agostinho, em Emaús, Steyn, perto de Gouda,
ligado aos Irmãos da Vida Comum e à devotio moderna,
pronunciando os votos de religioso no ano seguinte. Pode aí, apesar
das tarefas e horários da regra de vida comunitária, dedicar-se à
leitura e ao estudo dos autores clássicos (Virgílio, Horácio,
Ovídio, Juvenal, Séneca e Cícero, cujo livro De Officiis,
Os Deveres, sempre valorizará) e até dos humanistas
italianos (como Lorenzo Valla, Enea Silvio Piccolomini, Guarino de
Verona e Poggio), para além de cultivar, como era então moda, o
amor ou a amizade ideal na forma epistolar, com alguns amigos mais
íntimos animados do mesmo zelo estudioso, tornando o convento num
foco de estudo das letras antigas e humanas e não só divinas e
cristãs, numa espécie de comunidade ideal dos cultores das letras e
das virtudes, ou seja, uma República Literária.
É
ordenado sacerdote em 25 de Abril de 1492 por David da Borgonha,
arcebispo de Utreque, começando a redigir então o seu primeiro
livro De contemptu mundi, Do menosprezo do mundo, na
linha do De vita solitaria de Petrarca (1304-1374, autor com quem se
considera começar o Humanismo, sincrónico com a vinda de vários
gregos para Florença). Neste ensaio demonstra, com grande cópia de
citações da tradição pré-cristã, de Pitágoras às fabulosas
Sibilas, como o desprezo dos bens mundanos, ilusórios e fugazes é
natural em quem segue o caminho da sabedoria, e como o caminho da
felicidade consiste sobretudo na visão do mundo espiritual e divino,
para a qual o estudo e a contemplação sossegada da sabedoria antiga
e da cristã são o melhor meio.
Neste
sentido afirmará «os pagãos que só conheciam a luz da Natureza
não estavam na escuridão mas eram iluminados pelos raios que
brilhavam da luz imortal e nós podemos usá-los como escadas. Porque
aquele que tenta escalar as ameias do céu cai no desagrado de Deus,
mas o que sobe degrau a degrau não será derrubado». Na parte
final, fazendo de advogado do diabo da causa que defendera tão
persuasivamente, tenta dissuadir os que pensariam que só num
convento se pode atingir tal estado, tanto mais que na época muitos
entravam por pressões familiares, emocionais, reactivas e pouco
fundamentadas numa verdadeira vocação...
Num
ambiente propício ao estudo mas também eriçado pelas barreiras dos
cerimonialismos, costumes e ignorância, Erasmo sente fortemente as
limitações da vida monástica, tanto mais que o prelado superior,
assustado com o desabrochar humanístico de alguns membros da
comunidade, o proibira de estudar e de escrever nessa linha. Este
Antibarbarorum liber primum, o Antibárbaros, só será
publicado e bastante corrigido mais tarde, em 1520, em Basileia, constituindo uma
crítica aos que se opunham aos estudos seculares, um repto contra a
ignorância e preguiça intelectual dos fechados na escolástica das
discussões e deduções, dos baseados em dados pouco exactos ou
falsas alegorizações, ou, ainda, dos que não queriam subir degrau
a degrau a escada do aperfeiçoamento pela combinação da erudição
e elegância humanista com a devoção e a revelação, e não
queriam aceitar o acordo possível entre as letras profanas e as
sagradas, entre a cultura pagã e a cristã, algo que, pelo contrário,
caracterizava a comunidade das letras ou a Respublica Litterarum.
Aí
ousará questionar certas verdades: «Dizes-me que não devíamos ler
Virgílio porque está no inferno. Achas que muitos cristãos, cujas
obras lemos, não estão no Inferno? Não nos compete discutir se os
pagãos antes de Cristo não foram condenados. Mas, se me autorizarem
a raciocinar, ou eles estão salvos, ou ninguém se salva».
Ao seu
lado defendendo a causa da união entre as belas letras e as letras
divinas, entre a piedade e a cultura elegante, estão sobretudo S.
Agostinho e S. Jerónimo, e também os padres da igreja helenistas Basílio e
Crisóstomo. E escreve ainda uma Vida de S. Jerónimo, um
exemplo para muitos humanistas e pintores que trabalharam esse santo e doutor da Igreja, de quem
transcrevera todas as cartas, num trabalho paciente de copista de manuscritos,
valorizando a separação ou o retiro em relação ao mundo dos
bárbaros, para que, na quietude, as fontes da Sabedoria eterna manem
e ressuscitem.
A
sua intensa dedicação ao estudo, a qualidade do seu domínio do
latim e da sua inteligência e talvez o seu desassossego
aspiracional, levam o abade Wernar a sugerir ao bispo de Cambrai,
Hendrik van Bergen, a convidá-lo para
seu secretário, e assim Erasmus parte em meados de 1492, com
autorização do abade do seu mosteiro de Steyn, acompanhando-o
durante cerca de dois anos pelos Países Baixos (Holanda, Bélgica e
Flandres). Gorada a hipótese do bispo se tornar cardeal, é
autorizado em 1495 a aperfeiçoar os estudos, ou a doutorar-se mesmo,
na Universidade de Paris.
Erasmo
inicia-se então na vida errante de peregrino independente do
conhecimento, partindo para Paris e inscrevendo-se como estudante
pobre no colégio de Montaigu, do qual, anos mais tarde num dos
Colóquios, intitulado a A refeição de Peixe,
retrata o fanatismo idealista e ascético que o regia, e por
onde ainda passarão Rabelais ou S. Inácio de Loiola.
Este
colégio era então dirigido por Iohann Standonck que, tal como
Erasmo, aprendera numa escola dos Irmãos da Vida Comum,
tendo-se, após um percurso árduo, doutorado na Sorbonne, a famosa
universidade parisiense, onde chegou a ensinar. Animado de grande
entusiasmo religioso e ascetismo (mas por vezes roçando a humilhação
exagerada dos seus alunos), quis ajudar a reforma dos costumes do clero e fez vir
expressamente da então grande abadia de Windesheim, tanto Jean
Mombaer, autor do Rosetum Exercitiorum Spiritualium, de 1501,
um livro devocional importante e pioneiro, como um amigo de Erasmo, Cornelius Gerard, criando-se um grupo de reforma cristã no qual o
jovem Erasmo também participou e com cujos membros se foi
correspondendo.
Não
se sentia, porém, nada bem com a salubridade do alojamento, nem com
as condições gerais mortificantes e pouco favoráveis aos estudos
das letras humanas, nem com a parca (só se comia depois das 11 horas
da manhã) e má alimentação, à base de ovos já estragados e
peixe, que Erasmo, de saúde frágil, pouco apreciava.
Também
as temíveis epidemias mortíferas repetiam-se, pelo que não se
deteve no Colégio muito tempo, voltando à Holanda para estar de
novo com o seu patrono, e regressar ao mosteiro de Steyn. Aí decide,
apoiado pelo bispo, hospedar-se numa casa particular em Paris, onde
regressa em Setembro de 1496, podendo agora mais facilmente escrever
poesia, estudar e, como estava sem dinheiro, receber alunos, logo
atraídos pela sua inteligência e ironia, afabilidade e idealismo evangélico.
Para
eles, ou impulsionado por eles, escreverá alguns manuais de
aprendizagem humanista, que se tornarão mais tarde tanto o De
conscribendis epistolis, Como redigir cartas, publicado em
1521, segundo os exemplos dos grandes escritores, o De
ratione studii, Da
metodologia do estudo, publicado em
1512, e o De duplici copia verborum ac rerum, Da dupla
abundância de palavras e de ideias, publicado em 1511 e dedicado
ao sábio inglês John Colet, e que era quase um manual de retórica, a arte de bem
escrever e persuadir. E vai redigindo os futuros Colóquios,
então como Fórmulas para conversas familiares, em que a par
do ensino de etimologias, regras gramaticais e um bom pecúlio de
frases e provérbios clássicos, há um claro intento de diálogo
socrático de auto-conhecimento e transformação bem como de crítica
social e civilizacional. Será das obras com mais impacto e sucesso, ainda hoje nos fazendo rir, instruindo...
Convive
entretanto com os outros cultores das letras antigas, em
especial com um dos pioneiros do Humanismo italiano em França,
Robert Gaguin, um trinitário flamengo, fundador da tipografia na
Universidade da Sorbonne, deão da Faculdade de Decretos, diplomata,
que estivera em Itália, nomeadamente na Academia platónica
florentina, e era amigo do genial Pico della Mirandola (que convivera
com ele em Paris, em 1485, e de quem traduzira uma importante carta
em 1498, que Erasmo terá conhecido). Gaguin aconselha-o
literariamente e publica-lhe a sua primeira poesia, o género que
Erasmo na época mais cultivava, embora mais erudita ou intelectualmente do que
sentidamente. Mas também conviverá muito com o poeta italiano
Fausto Andrelini, irreverente e da sua idade.
Lefèvre d'Étaples (1455-1536). |
Dos
outros conhecimentos destacamos tanto Jean Mombaer (formado como ele
nos Irmãos da Vida Comum, e autor do tal texto de meditações
e exercícios espirituais que influenciará o fundador dos jesuítas,
S. Inácio de Loiola), como o teólogo e reformista Lefèvre d’ Étaples, que fora mesmo a Itália na busca do conhecimento. Lefèvre
unia o estudo da ciência (matemática, geometria, lógica) ao
misticismo (em 1499 publicara uma tradução comentada da obra do pseudo-Dionísio Areopagita, e mais tarde de Ricardo de São Victor,
Ruysbroeck e Nicolau de Cusa), valorizando o bom honesto, o silêncio
meditativo e a adesão ao Espírito pela leitura e divulgação dos
Evangelhos. Poderá ter provocado em Erasmo um maior interesse no
estudo dos textos sagrados originais, desiludido como este estava do
ensinamento escolástico reinante então na Universidade e no meio
teológico parisiense, e cuja excessiva ortodoxia o fizeram mesmo
profeticamente recear vir algum dia a ser condenado como herético
(como de facto veio a suceder, ao censurarem partes da sua tradução
dos Evangelhos e algumas posições ou proposições religiosas em vários dos seus livros, ou mesmo no seu todo). O
sonho de uma viagem à Itália acalenta-o e tenta arranjar
patrocínios mecenáticos, mas não consegue, apesar das cartas e
insistência.
Um
dos seus alunos, William Blount, o futuro conde de Mountjoy,
convida-o entretanto a partir para Inglaterra no Verão de 1499, onde
conhece e se torna muito amigo dos primeiros humanistas ingleses
Thomas More, John Colet, Thomas Linacre e William Grocyn, tendo estes
três últimos ido mesmo acender a vela na fonte do Humanismo, a
Itália, e mostrando-lhe as suas insuficiências na língua e na
cultura helénica, o que o levou a começar desde logo a aprendê-la com Grocyn.
John
Colet (1466-1519), que regressara de Itália em 1496, explicava então
em Oxford as Epístolas de S. Paulo com grande profundidade e
misticismo. Erasmo dirá mais tarde numa carta «que lhe parecia
então ouvir o próprio Platão», pois Colet estava bem por dentro
da teologia platónica e neoplatónica, através do pseudo-Dionísio
Areopagita, e dos pioneiros do platonismo florentino, Marsilio Ficino
e Pico della Mirandola, que cita e comenta.
Por
todas estas experiências dá-se em Erasmo uma intensificação da
consciencialização do valor da imanência divina e da combinação
da mensagem de Cristo, enquanto auto-conhecimento, ligação ao Pai ou Divindade e
à caridade, com o amor à sabedoria e literatura antiga ou pagã,
sobretudo transmitida com pureza e elegância de estilo,
impulsionando-o numa senda de estudo crítico e livre das fontes
sagradas antigas, em especial dos Evangelhos.
Em
1500 regressa ao continente, sem não deixar de ser desapropriado do
dinheiro ganho, ao atravessar a fronteira inglesa, como narrará ironicamente em cartas mas mesmo assim prosseguindo cheio
de força e entusiasmo graças à fermentante combinação dos ensinamentos de Jesus
com os estudos humanistas de raiz clássica, platónica e
neoplatónica, e vindo decidido antes de mais a aprofundar o estudo de grego,
indispensável à leitura dos manuscritos antigos dos Evangelhos, ou
dos primitivos Padres da Igreja bem como dos autores antigos greco-latinos.
Publica nesse ano
de 1500 em Paris a primeira edição da Adagiorum Collectanea,
dedicada a Mountjoy, onde colige 800 adágios e provérbios
da sabedoria antiga, de vários autores, nomeadamente do sacerdote e iniciado Plutarco,
com grande sucesso, e até uns meses antes de morrer estará
sempre acrescentando e corrigindo aquele que se torna o livro de
referência da sabedoria greco-latina e humanista, um verdadeiro
manual, tanto nas escolas (sobretudo na forma abreviada, o Epítome,
desde 1521) como nas pessoas cada vez mais despertas para a cultura, uma obra que assentando em exemplos antigos é completada com reflexões ou
críticas irónicas de factos e mentalidades actuais. Será talvez a
obra geradora de maior número de exemplares no século XVI, com mais
de cento e vinte edições.
E em
1501
publica a sua primeira edição anotada de um texto da sabedoria
antiga, o De
Officiis, Sobre os Deveres,
de Cícero, autor romano muito valorizado durante toda a sua vida,
inaugurando assim a sua longa carreira de filólogo e comentador de
autores clássicos e patrísticos (dos primeiros Padres da Igreja), que se enquadra bem na sua missão
de restaurador da filosofia perene ou crística, piedosa (face a
tanto dogmatismo e violência) e libertadora (face a tanta ignorância
e superstição).
Viaja
bastante entre Paris, Steyn (onde lhe concedem mais um ano de
itinerância estudantil) e Saint-Omer, onde convive no Outono de 1501
com o guardião franciscano Jean Vitrier, um homem «cheio de ardor
pela piedade», entrando quase em êxtase nos sermões e fazendo-o
sentir aos ouvintes, como descreverá mais tarde no seu extenso e
profundo elogio, e que era grande adepto de S. Paulo e de Orígenes, tendo confidenciado acerca deste a Erasmo: «não é possível que o Espírito Santo não
tivesse habitado esse peito donde saíram tantos livros sábios,
redigidos com tanto ardor». Este amor a Orígenes e à sua sabedoria
é significativo, até pelo seu aspecto corajoso, pois uma das treze, das 900 Teses propostas por Pico della Mirandola nas suas Conclusiones para serem
discutidas em Roma com qualquer teólogo, consideradas heréticas
pelo papa e uma comissão, afirmava: «é mais racional crer que
Orígenes está salvo, de que crer que ele esteja condenado
(dannatum)».
Vitrier,
um sábio e místico, ou um espiritual, vai impulsioná-lo na busca
das verdadeiras bases do cristianismo em espírito e em verdade, ou
seja, dos sentidos mais profundos e transformadores dos Evangelhos,
através do estudo, meditação e publicação dos primeiros padres
da Igreja, sobretudo os que receberam ou aceitaram mais a cultura ou
paideia grega (e nesse sentido os mais próximos do
Humanismo), e que valorizaram também os sentidos místicos e
alegóricos na interpretação dos textos: antes de mais Orígenes
(185-254), e depois Clemente de Alexandria (m. 212), Cipriano (m. 258)
Ambrósio (333-397), Crisóstomo (347-407), S. Jerónimo (m. 419) e
S. Agostinho (354-430), a maior parte deles vindo a ser publicados e
comentados ou anotados por Erasmo. É possível que tenha sido deste
contacto com Vitrier, com as suas Homilias sobre os Evangelhos,
e através dele com Orígenes, que começaram a germinar em si as
futuras Paráfrases aos Evangelhos, e antes de mais o
Enchiridion.
Começa
então de facto a redigir o Enchiridion militis Christiani, o
Manual do cavaleiro Cristão, repleto de salubérrimos
preceitos ou, se quisermos ainda, o Manual do militante
Cristão, ou do soldado Cristão, para indicar a rota da virtude que leva à
tranquilidade da alma, que sairá em 1503, no meio da
Lucubratiunculae, Miscelânea, ou seja, várias pequenas
obras ou lucubrações de carácter religioso e ético, impressa em Antuérpia (que
continha uma oração a Maria, mãe de Jesus e outra ao seu filho), e
onde expõe a sua concepção da filosofia de Cristo, uma
designação dos primeiros Padres da Igreja mas desafiante já que a
filosofia e a essência do ensinamento de Cristo estavam soterradas
pela pesada e indigesta escolástica medieval (discutindo
interminavelmente sentenças e dogmas tão abstractos), e pelo
excessivo cerimonialismo, de tal modo que pouco se conseguia viver e
transmitir do espírito de Jesus Cristo e da sabedoria amorosa e
libertadora que ele encarnara e suscitava.
Serão
os pioneiros como Lorenzo Valla, Pico della Mirandola, Erasmo,
Lefèvre d’ Etaples, John Colet, John Fisher e Thomas More que vão
tentar impulsionar o despertar crítico e espiritual da humanidade,
através de uma melhor preparação cultural e moral, através do
retorno ou recurso à teologia patrística, em substituição das
sumas e sentenças escolásticas, e através de um olhar mais
penetrante e livre sobre os textos antigos, a par de uma vida piedosa
e misericordiosa.
Daí
o esforço e a dedicação de Erasmo ao estudo científico filológico
e comparativo dos textos antigos e das escrituras sagradas, no fundo
à investigação racional e livre da verdade (sem limitações de
imposições exteriores), de modo a que a transformação e a
intuição interior aconteçam, não pela imposição mas pela
compreensão, a qual deriva de um estudo e aprendizagem baseados na
assimilação inteligente pessoal em vez da mera acumulação na
memória do que se decora. Disto resulta uma sã investigação, pioneira
criatividade, estímulo a melhores interpretações e até respeito
pelos trabalhos e conclusões dos outros, conduzindo à tolerância e
à concórdia entre as diferentes visões, compreensões ou mesmo
facções ou religiões, ideias estas que transmitirá na sua missão
pedagógica ao longo de toda a vida.
O
Enchiridion, o Manual do cavaleiro Cristão ou do soldado
Cristão, o que, alistado na milícia de Jesus Cristo, luta por
uma vida sábia e justa de amor a Deus e ao próximo, torna-se uma
obra verdadeiramente popular pois era muito prática e nela estão
dadas «algumas regras gerais do verdadeiro cristianismo»,
nomeadamente contra os vícios, como a luxúria, a cupidez e a
ambição, «para que guiado por elas, como por um fio de Dédalo,
possas facilmente emergir dos erros do mundo, como de um labirinto
difícil de se sair, e atingires a luz pura da vida espiritual» e
assim recuperares «aquela luz puríssima da face (vultus)
divina, que o Originador infundira sobre nós», bela e profunda afirmação a merecer meditação maior nossa.
Continha a sua visão da verdadeira religião cristã, que culminará mais tarde com a sua grande obra: a tradução, a partir de manuscritos gregos antigos, do Novo Testamento, significativamente intitulada na sua primeira edição Novum Instrumentum, e que será ainda continuada por outras, como o Modo de Orar a Deus. O sucesso internacional do Manual foi grande pois entre a data da primeira edição, 1503, quando estava ainda incluída na colectânea ou miscelânea de escritos (só se autonomizando desde 1515), e o ano de 1533, com Erasmo ainda vivo, publicaram-se sessenta edições, chegando-se às cem, aproximadamente, em 1550.
Continha a sua visão da verdadeira religião cristã, que culminará mais tarde com a sua grande obra: a tradução, a partir de manuscritos gregos antigos, do Novo Testamento, significativamente intitulada na sua primeira edição Novum Instrumentum, e que será ainda continuada por outras, como o Modo de Orar a Deus. O sucesso internacional do Manual foi grande pois entre a data da primeira edição, 1503, quando estava ainda incluída na colectânea ou miscelânea de escritos (só se autonomizando desde 1515), e o ano de 1533, com Erasmo ainda vivo, publicaram-se sessenta edições, chegando-se às cem, aproximadamente, em 1550.
Uma das grandes luzes da Península Ibérica na época do Renascimento, Cisneros. |
Na
península Ibérica houve um esplendoroso florescimento humanista graças à
visão e acção humanista do cardeal Jiménez de Cisneros (1436-1517), fundador, no ano em que Vasco da Gama chegava à Índia, da Universidade de
Alcalá, onde leccionarão notáveis humanistas, a maior parte deles
concordando com as ideias de Erasmo, tais como Juan de Vergara, Bartolomeu
Carranza de Miranda (autor de um Catecismo da Doctrina Cristã, muito simples e bondoso mas atacado e censurado de tal forma que sobreviverão pouquíssimos exemplares), Antonio de Nebrija, Hernán Núñez e Pablo
Coronel. Será o impressor da Universidade Miguel Eguía, protegido
pelo Arcebispo Don Alonso de Fonseca, a conseguir publicar não só o
Enchiridion mas mais vinte e três obras entre 1516 e 1527,
impulsionando a influência erasmiana na península Ibérica (embora já só em 1541 saia a primeira edição em Portugal de uma obra de Erasmo, em Lisboa, na oficina de Luís Rodrigues, o Enquiridio o manual dei caballero Christiano), a qual se
prolongará por muitos autores, tal como Marcel Bataillon expôs
magistralmente no seu Erasme et l’Espagne e muitos outros
investigadores têm comprovado, tais como entre nós Pina Martins, Moreira de Sá, Silva Dias, Manuel Augusto Rodrigues e Cadafaz de Matos.
A
vida é então uma luta dentro de cada ser contra as tendências e
potências da carne, do ego e do mundo, uma batalha constante, que
exige o querer tornar-se cristão de todo o coração (toto
pectore, velle fieri christianum), a qual é agraciada com
momentos de luz e deleite divino, ou de maior ligação ao mestre
Jesus Cristo. As duas asas, a da oração e a do estudo dos textos
sagrados, além das boas obras pelo amor ao espírito em cada ser,
são apontadas como os meios essenciais de religação a Deus, pois
ajudam a vencer a cegueira da ignorância, os desejos ou sensualidade
da carne, as fraquezas e enfermidades do corpo. A missa e a paixão e
morte de Cristo reproduzem-se em nós pela morte das paixões
desenfreadas. O estudo, tal como vinha da tradição clássica,
começa pelo conhecer-se a si próprio, na triplicidade corpo, alma e
espírito, passa pelo culto interior de Deus e do amor, e derrama-se
na vida social lúcida, fraterna e livre.
Numa carta escrita ao seu grande
amigo John Colet, deão mestre em Londres, em Dezembro de 1504, diz: «compus o Enchiridion,
não para provar a inteligência ou a eloquência, mas só com a
intenção de curar do seu erro os que colocam comummente a religião
nas cerimónias e nas observâncias mais que judaicas, pode-se assim
dizer, respeitantes a coisas materiais, enquanto, para espanto,
negligenciam tudo o que diz respeito à piedade. Esforcei-me por dar
uma espécie de método à piedade, à semelhança dos que redigem
métodos precisos de ciências».
A edição espanhola do Enquírídio, impressão do erasmiano Miguel de Eguia. |
E
de facto era uma obra pioneira, propondo a douta piedade, ou
seja, a união do conhecimento e da cultura com a oração e a
religiosidade, liberta de todas as gangas e desvios, superstições e hipocrisias, autêntica em
si, amorosa com todos e acessível a toda a gente. Da sua ressonância,
de certo modo o primeiro verdadeiro catecismo da Europa, escreverá o
tradutor (e adaptador...) da primeira edição espanhola (saída em 1526), o
arcediago (chefe dos diáconos numa catedral) Alonso Fernandez, de
Madrid, escreverá mais tarde: «Na corte do Imperador, nas cidades, nas igrejas, nos
conventos, mesmo nas pousadas e caminhos, todo o mundo tem o
Enchiridion de Erasmo em espanhol. Até agora lia-o em latim
uma minoria de latinistas, e mesmo estes não o compreendiam
completamente. Agora lêem-no em espanhol pessoas de todo o género, e
os que nunca tinham ouvido falar de Erasmo, sabem agora da sua
existência por este livro simples.»
Em
1502 morre o seu protector Hendrik van Bergen e estabiliza em
Lovaina, onde convive com o futuro papa Adriano, convidando-o mesmo
este a tornar-se professor de retórica na Universidade, mas Erasmo recusa (não tanto talvez por humildade mas mais por
liberdade, a sua mais fiel dama), preferindo antes trabalhar só e
fazer incursões nos mosteiros à procura de manuscritos antigos,
iniciando as suas primeiras traduções dos textos gregos e dos
primeiros padres da Igreja.
Em
1504 lê o extenso Panegírico congratulatório ao ilustre
príncipe borgonhês Filipe, filho do imperador Maximiliano e pai
do futuro Carlos V, regressado triunfante e feliz da ida a Espanha,
diante de uma eminente corte em Bruxelas, todos encantados com as
virtudes do príncipe, sem pressentirem a sua morte eminente, a qual
Erasmo sentidamente comentará mais tarde no adágio Homo bulla,
O Ser humano é uma bolha. Erasmo será presenteado com uma
soma considerável, que bem falta lhe fazia (pois Bergen prometia
muito mas dava pouco...) e entrará no círculo imperial, pelo menos nominalmente. Este
Elogio será recomendado no Modo de Orar a Deus como um
texto de educação dos príncipes e nele, Erasmo, depois de
recomendar várias virtudes, exemplificando com heróis e sábios da
antiguidade, denuncia a calúnia e a adulação como os piores
perigos que rodeiam o príncipe e apela ousadamente não só ao amor
da pátria acima do familiar, como ao diálogo, à não-violência e
à concórdia.
No
final de 1504 está de novo em Paris e publica as valiosas
Anotações ao Novo Testamento de Lorenzo Valla (1407-1457),
um manuscrito que descobrira no Verão, «um dia que caçava numa
biblioteca muito antiga», na abadia carmelita do Parque, perto de
Lovaina, que continha a segunda versão, até então desconhecida,
das anotações de Valla ao Novo Testamento. É uma obra pioneira da
crítica textual, na qual, a partir da colação de sete manuscritos
gregos e três traduções latinas, desenvolvera uma crítica
filológica, gramatical e estilística, mais do que um comentário,
corrigindo assim a até então intocável Vulgata, a versão do Novo
Testamento por S. Jerónimo, consagrada desde os remotos ou iniciais tempos
pela Igreja.
É de certo modo o começo da crítica filológica livre dos textos base do cristianismo, que Erasmo aprofundará e alargará com o seu fino discernimento, até irónico ou céptico, das circunstâncias, contextos e hipóteses, não só nas cinco edições crescentemente anotadas realizadas até ao seu fim da vida, como sobretudo nas suas investigações nas letras sagradas, em especial nesse, para muitos, cavalo de Tróia que é a Bíblia, e mais concretamente no Novo Testamento, realizadas por Erasmo numa busca da verdade, com rigor metodológico, imparcialidade e ausência de sectarismo ou seguidismo.
É de certo modo o começo da crítica filológica livre dos textos base do cristianismo, que Erasmo aprofundará e alargará com o seu fino discernimento, até irónico ou céptico, das circunstâncias, contextos e hipóteses, não só nas cinco edições crescentemente anotadas realizadas até ao seu fim da vida, como sobretudo nas suas investigações nas letras sagradas, em especial nesse, para muitos, cavalo de Tróia que é a Bíblia, e mais concretamente no Novo Testamento, realizadas por Erasmo numa busca da verdade, com rigor metodológico, imparcialidade e ausência de sectarismo ou seguidismo.
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