quinta-feira, 1 de junho de 2017

Junho e as efemérides do encontro do Oriente e do Ocidente, Índia e Portugal.

                                             
1-VI. Segundo certas tradições, entra no Mahanirvana, "a grande cessação ou extinção" da ignorância, do ego e da separatividade, em relação à Unidade primordial, Siddhartha Gautama, do clã dos Shakya, que se tornara o Buddha, o iluminado, em 483 a.C., em Kusinara, no actual Nepal. Deposta a vestimenta terrena, o corpo psico-espiritual desprende-se da terra e a essência de pura luz manifesta-se mais plenamente liberta, ainda que inefavelmente. Quantos discípulos e discípulas, junto aos seus mestres ou mestras, em tal momento da libertação corpo sentiram, viram ou realizaram o que se passava? Daí os mistérios e interrogações que no seio dos seguidores do Budismo se gerarão quanto ao nirvana, à continuidade ou não do espírito individualizado, ou ainda quanto à seidade da Divindade ou do Absoluto. De qualquer modo, como terapêutica libertadora do sofrimento e da ignorância primária, e como caminho de não-violência, compaixão e discriminação, o Budismo caminhará luminosamente ao longo dos séculos, com uma divisão básica: Via Pequena, Hinayana, mais formal e nua, e a Grande Via Mahayana, sobretudo desenvolvida nos Himalaias e Tibete e mais mágica e carregada de entidades, rituais e iniciações. Com a queda do Tibete livre, o Budismo Mahayana  espalhou-se razoavlemte por vários países, com a irradiação pessoal do Dalai-Lama a destacar-se, embora também a linha Hinayana, sobretudo da Tailândia, tenha conseguido erguer desde os meados do século XX os seus mosteiros no Ocidente, tal o de Amaravati, em Hemel Hempstead, Inglaterra, ou mesmo já hoje em Portugal, na Ericeira, Quinta do Pinhal, Cabeça Alta, onde monges como os Ajans Damiko e Apamado transmitem em português o Budismo Theravada da Floresta. Os encontros mais ecuménicos ou pelo menos dialogantes dos monges budistas com os cristãos portugueses e europeus no tempo das navegações XVI e XVII passaram-se no pequeno e grane Tibete, China e Japão. Eis um excerto do testamento final de Gautama o Buddha transmitido através da sua fala ao fiel e mais íntimo discípulo, Ananda: «Sede vós para vós, Oh! Ananda, o vosso próprio archote e o vosso próprio recurso, não procurai outros apoios. Que a verdade seja o vosso archote e o vosso apoio, não procurai outros apoios... Aquele que será o seu próprio archote e recurso... e o que faz da verdade o seu guia e fundamento, sem se socorrer de mais nada, esses serão, oh Ananda, Ananda, os meus verdadeiros discípulos, os que seguem a boa maneira de viver». 

2-VI. O papa Paulo III em 1537 pela bula Sublimis Deus declara não só que os Índios da América são capazes de receber a fé e os sacramentos cristãos, como os defende energicamente: «Nós decidimos e declaramos que os chamados indígenas, bem como todos os que vierem a entrar em relação com a cristandade, não deverão ser privados da sua liberdade e bens — não obstante as alegações contrárias — ainda que eles não sejam cristãos». Por detrás desta vitória estava a mão e a vida do Padre Bartolomeu de las Casas e atalhava-se assim a cupidez de colonos espanhóis e portugueses que alegavam serem os Índios animais privados de razão. No Brasil, os jesuítas Manuel da Nóbrega, José Anchieta e António Vieira destacar-se-ão como defensores firmes dos seus direitos. Ao longo dos séculos haverá múltiplas opressões mas também amorosas fusões e hoje em dia a matriz indígena, seja misturada com a de outros povos, seja ela própria ainda pura, é um dos mais altos valores do Brasil.
Naufrágio da nau S. Gonçalo no imponente Cabo da Boa Esperança neste dia em 1630. Os sobreviventes experimentam a vida selvagem, ao estilo do que será mais tarde imortalmente tipificado no Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1660-1731, e obra que terá recebido influências dos Descobrimentos portugueses), até construírem, com os restos da nau, dois barcos, dos quais um regressa a Goa e o outro naufraga já na barra de Lisboa.
                                
D. Joana de Castro, a crioula Begun, filha dum francês e duma indo-portuguesa de Baçaim, nasce neste dia em 1706. Casada duas vezes com franceses, vem a ser uma excelente governadora de Pondichery, com o marquês de Dupleix, na orientação do Estado Francês na Índia.
No jornal goês o Repórter deste dia, em 1888, uns dias antes do poeta da Mensagem nascer, o pensador Moniz Barreto faz uma apreciação e resume a obra de Frederico Dinis de Ayala (ambos amigos de Antero de Quental), Goa, Antiga e Moderna, com lucidez e severidade «a acção deste drama é constituída pelo duelo entre a colónia portuguesa e aristocracia bramânica, duelo que termina com a extinção do exército da Índia em 1871. Tem singular interesse esta narrativa, porque se assiste nela, num pequeno teatro, ao jogo daquelas causas gerais que determinam a grandeza e a decadência dos impérios. É um verdadeiro estudo de psicologia colectiva. Vê-se de um lado a força positiva ligada a todas as superioridades sociais; de outro o talento político aliado a uma energia indomável sob aparências de submissão; e é a inteligência quem afinal vence./ O Sr. Ayala faz-nos o retrato da colónia portuguesa da Índia. Constituída em aristocracia militar, pelas suas condições de origem, e pelas suas tendências e gostos, era o exército instituição em que se encarnava, e a vida militar aquela a que destinava exclusivamente os seus filhos. Toda a múltipla e benéfica acção que a variedade das profissões exerce num grupo social, era estranha a essa gente. O instituto em que se educaram, de cultura exclusivamente matemática, não lhes ministrava esse conjunto de conhecimentos que produz uma exacta concepção da vida, e a capacidade de se adaptar às condições reais dela. Junte-se a tradicional incapacidade prática do português. Assim o temperamento étnico, profissão e educação, e a necessidade de se defender contra as potências hostis e fronteiriças, tudo concorria para formar um carácter que se vem manifestando ao longo de três séculos. É o indivíduo aventureiro, bravo, generoso, dadivoso, inapto para a acção tranquila e paciente, insubordinado e petulante, capaz de abnegação mas não de obediência, susceptível em pontos de honra e indiferente em questões de dinheiro, possuindo a bravura turbulenta própria do soldado e do duelista, mas não a grande coragem que consiste em ver claro, e predestinado à ruína final pela sua monstruosa incapacidade prática, manifesta no desgoverno dos negócios e na má administração da fazenda privada, como na perfeita cegueira política. Durante trezentos anos eles realizam a missão que lhes destinaram os fundadores do império colonial, combatendo nas paragens do Oriente, pela bandeira portuguesa, contra os indígenas da África, da Índia, da Oceânia, repelindo as incursões dos chineses, dos holandeses, dos austríacos.» 
Uma obra pioneira na aproximação à unidade das Religiões e Tradições.
3-VI. Manuel Faria e Sousa, escritor de grande cultura e subtileza, embora para historiador com demasiada criatividade imaginativa, morre neste dia em 1649 e o corpo é sepultado na Igreja dos Premonstratenses (ordem fundada em França no séc. XII), na corte de Madrid. Comentador da obra de Camões, defendeu as suas utilizações do paganismo da acusação de heterodoxia. Autor prolífero, com obras de engenho simbólico, foi um dos elos da Cavalaria do Amor, como Sampaio Bruno pioneiramente discerniu, em especial na sua obra Noches Claras Divinas y Humanas Flores, mas também na defesa do maravilhoso pagão na obra de Luís de Camões. Na introdução à sua monumental Ásia Portuguesa mostra bem a sua visão espiritual dos seres e dos portugueses: «Os corações portugueses não cabiam já na pequenez do seu reino. Desse modo, uma ousadia sublime os foi dilatando a tal ponto que os colocou em absoluta necessidade de se alargarem tanto que acabaram por exceder a quantidade de matéria-prima». «Nos assaltos às praças, ou expugnáveis ou duvidosas, obstinavam-se mais intrépidos os seus peitos, porque já os seus espíritos parecia estarem dentro delas... Na medida dos feitos, subiram as utilidades e, com estas, os vícios... Veremos alguns entrarem pobres na Índia rica, e, para de lá saírem riquíssimos, deixarem-na pobre, o que é bem para lastimar. Mas há muito mais: que não bastou o exemplo de alguns terem saído dela sem caudal, quando ela estava caudalosa, para que de lá não saíssem com grande substância, quando ela estava soltando gemidos de pura miséria». Descobrindo constantes analogias entre as religiões, Faria e Sousa relaciona «na Igreja da Santíssima Trindade em Madrid, uma Imagem de três Homens, cujos corpos se uniam em um; com três cabeças divididas, e todas de um parecer; e tudo isto se via incluído num triângulo... por mais que quanto à vista corpórea pareça monstro» aprovada contudo como «virtuosa, lícita, e católica», com a imagem indiana, provavelmente a descrita por D. João de Castro, de um «Gigante de três cabeças, coroado com tiara pontifical, que hoje se vê no estupendo pagode da ilha de Elefante, e o seu nome é Mahamurti, tido por superior a todos os Deuses que se veem na mesma construção». Assim se arriscava Faria e Sousa, considerando ainda ignorantes os que não vissem nisso «utilíssimas memórias da Corte Celeste entre os mortais»...

4-VI. Siddhartha Gautama, o Buddha, teria pregado neste dia o seu primeiro sermão, depois da iluminação em Sarnath, junto a Kashi, em 528 A.C., aos seus antigos companheiros de ascese e que, aceitando o Nobre Óctuplo Caminho do Meio, se tornam os seus primeiros discípulos, dizendo-se que a roda do Dharma, o Dever, Ordem ou Lei começou a rodar para toda a eternidade.
Stupa em Sarnath onde estarão algumas das relíquias de Buda: um local que meditei e que pode impulsionar rapidamente a Luz, interior...
O P. Baltazar Barreira, bem recebido no Congo, Cabo Verde e Serra Leoa, missionário abnegado e cheio de amor, morre com 74 anos, suavemente, pela sua ligação à Divindade, na ilha de Santiago em 1612.
Depois de doze anos na Índia, passou o P. Diogo de Matos em 1620 à Etiópia para apoiar a conversão do imperador Susénio. Assisti-lo-á na morte, em 1632, ainda na fé da Igreja Católica Romana, embora já antes este tivesse restaurado os ritos e costumes antigos em desacordo com os de Roma, vindo a ser o seu filho quem expulsará os jesuítas do reino etíope. Deixou-nos duas Cartas ou relações dos labores religiosos e humanos e morre neste dia em Goa em 1633.
Júlio Gonçalves nasce neste dia em Nova Goa em 1881. Oficial da Marinha e médico, autor de obras sobre a Índia notáveis, até pela abrangência da religião e espiritualidade, como Os Portugueses e o Mar das Índias. Da Índia Antiga e sua História,  explica-nos nesta que «conheceram-na os Iranianos sob o nome de Hendu, com o H fortemente aspirado, porque a banhava o rio Sindhu. A esse rio chamaram os gregos Indu — e Índia ao país adjacente. E Índia ficou sendo para toda a Europa... Só o índio não conheceu como Índia a sua terra, que para ele foi sempre Ariawarta ou Baratawarta, a terra dos Árias (nobres) ou dos reis Baratas».
Ardeshir Ruttoni Wadia, pensador, filósofo, nasce em Bombaim em 1888. Escreverá sobre Zoroastro, Gandhi, a liberdade da Mulher e no seu ensaio Democracia e Sociedade profetizará a era actual da globalização, embora com talvez alguma confiança exagerada na democracia e na educação modernas:«No futuro o Ocidente e o Oriente não serão mais que termos geográficos e não evocarão mais diferenças morais, políticas, religiosas. A democracia é igualizadora e o seu instrumento mais eficaz é a educação. É possível que o Ocidente venha a considerar os princípios fundamentais do pensamento indiano, o karma e a reincarnação; e talvez o génio científico do Ocidente consiga dar-lhes uma base científica, de modo que não terão de ser aceites como dogmas».
5-VI. O infante D. Fernando ganha o cognome de Santo ao suportar com muita paciência o longo e atribulado cativeiro, que ao princípio não quis, e que o levou de Tânger a Arzila e por fim a Fez onde morre neste dia em 1433, depois de 15 meses em estreita cela e a ferros, suspirando: «Ora deixai-me acabar». No testamento antes de partir de Lisboa, numa antevisão já do pobre que de seu, na nua cela, só terá o breviário, dirá: «Deixo a Fernão Lopes que foi meu escrivão de puridade, um livro em português que ele me deu, que se chama Ermo Espiritual». Os seus companheiros enterraram o seu coração e entranhas, enquanto o corpo ficava dependurado nas muralhas da cidade. Oito anos depois, ao ser resgatado o seu secretário o P. João Álvares, foi trazido o coração para Portugal e depositado dentro dum cofre no túmulo real da Batalha, com o infante D. Henrique e outros a rezarem. Le bien me plait, entre ramos de roseiras, foi a sua divisa na vida e com efeito sofreu os espinhos da rosa da glória guerreira, mas destilando-se em fragrância alquímica de virtude imortal. Para alguns ele é o ser central e duplo dos Painéis de Nuno Gonçalves, ou pelo menos uma homenagem a ele.
O jesuíta italiano Mateus Ricci, neste dia, em 1583, aproveitando-se dos almanaques astronómicos portugueses que anunciam um eclipse lunar, consegue determinar a longitude aproximada de Macau: 125° a oriente do meridiano das Canárias, com erro apenas de 5°. Começava assim a reduzir-se a figura geográfica da China aos seus contornos reais, e durante dezoito anos o P. Matteo Ricci será infatigável e certeiro nas observações das latitudes e longitudes em que estava compreendida a China. Para além disso foi um bom estudioso das religiões e costumes chineses procurando um diálogo e um entendimento bem pioneiro de ecumenismo alargado e deixando vários escritos notáveis.
Dadaji, acompanhando Gandhi, quando este deu uma mensagem aos 78 anos de idade.
Neste dia 5 de Junho de 1903 nasceu em Jalna, Hyderabad, aquele que se tornará médico naturista e guru Dinshah K Mehta, vindo a destacar-se como atleta, escritor, naturopata e sobretudo por ter acompanhado Gandhi nos seus jejuns, doenças e morte. Fundou a Society of Servants of God, onde eu estive dois meses, ajudando-o na organização da biblioteca e em conselho alimentares, no ashram ou  sede em Nova Delhi. Um dos seus livros mais interessantes é Fundamental Laws of Health, compilado e editado pela sua discípula principal Sundri P. Vaswani, com quem também dialoguei, parente ainda de um guru pedagógico Vaswani, autor do belo livro Sadhu. A terapia da cura, para Dadaji, comportava: jejum, dieta, sol, agua, massagem, electricidade, kinesoterapia, argila e medicamentos naturais, valorizando muito a eliminação das causas mórbidas pelos intestinos, rins, pulmões e pele. De manhã só podíamos beber líquidos, embora alguns dos seus discípulos estudantes abusassem do leite. Referindo-se ao quarto plano de consciência (acima do inconsciente, subconsciente e consciente), que está antecedido pelo do limbo ou umbral (onde estão muitas almas perdidas), só quem se entrega plenamente ao seu mestre é que consegue entrar nele e começar a receber radiações de Deus. Deixou-se talvez adorar de mais e o seu pequeno grupo sectarizar-se um pouco, mas foi sem dúvida uma pessoa forte e pioneira da naturopatia, influenciando alguns políticos além do Mahatma Gandhi, tal como Indira Gandhi.
O Papa Leão X, um Medici, fiorentino...
6-VI. D. Manuel escreve uma carta em 1513 ao papa Leão X, um Medici de Florença e protector dos humanistas, anunciando-lhe os feitos dos portugueses no Oriente, especialmente a tomada de Malaca por Albuquerque. A reacção do papa é entusiástica, e manda celebrar missas de acção de graças e preces públicas a favor dos Portugueses no Oriente. Traduzida para latim e impressa em Roma em Agosto, a Carta espalha-se por toda a Europa culta em inúmeras reedições.
O vice-rei da Índia D. João de Castro, cientista, humanista e íntegro governador, morre em 1548, com 48 anos de estudos e de lutas. Antes de partir chamou os cidadãos mais importantes de Goa para lhes comunicar: «Não terei, Senhores, pejo de vos dizer, que ao Vice-Rei da Índia faltam nesta doença as comodidades, que acha nos hospitais o mais pobre soldado. Vim a servir, não vim a comerciar ao Oriente, a vós mesmos quis empenhar os ossos do meu filho, e empenhei os cabelos da barba, porque para vos assegurar, não tinha outras tapeçarias, nem baixelas. Hoje não houve nesta casa dinheiro, com que se me comprasse uma galinha; porque nas armadas que fiz, primeiro comiam os soldados os salários do Governador, que os soldos de seu Rei; e não é de espantar, que esteja pobre um Pai de tantos filhos. Peço-vos, que enquanto durar esta doença, me ordeneis da Fazenda Real uma honesta despesa, e pessoa por vós determinada, que com modesta taxa me alimente». E jurou sobre o missal «que em nada se havia aproveitado da fazenda do rei nem de qualquer outra pessoa, que nenhum contrato havia tido para multiplicar a sua». E ditou-lhes uma carta ao rei, em que lhe lembra os grandes serviços feitos por Manuel de Sousa Sepúldeva, Francisco da Cunha, D. Francisco de Lima, Vasco da Cunha, D. Diogo de Almeida Freire e outros. Acompanhado por S. Francisco Xavier e dois franciscanos, liberta-se como espírito do despojo corporal.
"Reencarna" em 1935, e prova (na escolha acertada dos objectos que lhe teriam pertencido na vida anterior) poder ser o 14º e actual Dalai-Lama do Tibete, Tenzin Gyatsu, a fina alma que terá contudo de exilar-se para a Índia desde 1950. Dirá: «Nós, os budistas, acreditamos que todos os seres passam por nascimentos sucessivos e esforçam-se, no decorrer desta série de vidas, por chegar à perfeição búdica [o estado realizado por Gautama, o Buddha])».
O excepcional professor de filosofia e mestre Gurudeva Ranade ou de seu nome completo  Ramachandra Dattatreya Ranade, desencarna neste dia em 1957 em Nimbal, Maharashtra, na Índia, com 71 anos. Mestre reconhecido por centenas de discípulos, ao mesmo tempo que era professor universitário, desenvolveu a linha tradicional da Bhakti yoga, na qual bhava ou sentimento e aspiração por Deus são fundamentais, a par de uma meditação que une o nosso espírito com o espírito Divino. Afirmou: «Não há outro caminho para a libertação a não ser a pronúncia do Nome Divino transmitida pelo mestre e a visão consequente de Deus». Como actividades meritórias apontou: «a seguir à meditação estão as profissões de saúde que diminuem o sofrimento dos outros e a seguir a isto está distribuição de comida aos pobres». Mas advertirá que sem realização divina, a consciência da presença luminosa do Espírito em nós, as obras virtuosas de pouco valem. Tenho dois artigos independentes neste blogue dedicados a ele, e dois sobre o seu discípulo Jacques de Marquette, e em inglês dois no jornal do seu ashram.

7-VI. O rei D. Afonso V, em 1454, doa neste dia à Ordem de Cristo toda a espiritual administração e jurisdição das terras conquistadas e por conquistar em África.
Neste dia em 1494: «Em nome de Deus todo poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo, três pessoas realmente distintas e apartadas e uma só essência divina, manifesto e notório seja a todos quanto este público instrumento virem, como na vila de Tordesilhas, a sete do mês de Junho do ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1494... se assinale pelo dito mar oceano uma raia ou linha direita do polo ártico ao polo antártico... a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde». Castelhanos e Portugueses assinam neste dia o tratado de Tordesilhas pelo qual o mundo é dividido ao meio por uma linha (puxada nas negociações para Oeste de modo a caber o trajecto com ventos favoráveis para a Índia e provavelmente o Brasil que já se deduziria ou saberia), cabendo aos primeiros a zona a nascente e aos segundos a zona a poente. D. João de Sousa, cavaleiro da Ordem de Cristo e senhor de Sagres, e Duarte Pacheco Pereira são dois dos embaixadores enviados por D. João II, arguto delineador das rotas que asseguraram a expansão.
Tratado de paz entre o imperador mogol Jahangir e o rei de Portugal é assinado neste dia em 1615, pondo fim aos apresamentos de navios mogóis em Surate e a um certo desassossego nada adequado ao respeito mútuo que desde a época mais ecuménica de Akbar devia reinar entre tão poderosos e dilatados senhores...
Natural de Peniche, o irmão franciscano Pedro da Madre de Deus esteve servindo no Ceilão, Chaul e Baçaim. Uma noite saiu da oração no coro à pressa e meteu-se na cela a dar muitos ais: «O seu companheiro pôs-lhe a mão no peito donde mostrava queixar-se, e o achou tão inflamado que parecia que abrasava», tão intensos eram o seu amor a Deus e a corrente espiritual. Perguntado à hora da morte se tivera visões em vida, respondeu: «uma só, estando em oração, um frade que ele creu que era o nosso Padre S. Francisco de Assis, e que lhe dissera: — Filho, persevera». Morre neste dia em 1624, emitindo a sonorização e ligação entre a terra e o céu, som  do Verbo ou Palavra, Amen, algo próximo do Aum indiano...

Nasce neste dia 7 de Junho de 1896, em Pangim, António de Noronha Paulino. Estudou no liceu Afonso de Albuquerque, onde teve como professores os generais Marques Pereira e Ferreira Martins, os sábios Egypside de Sousa, Ismael Gracias e os padres Excelso de Almeida e os irmãos Saldanha. Veio a ser oficial do Exército e professor de Educação Física e um pioneiro do desporto e viverá até 31 de Julho de 1979. Filho do poeta e artista Higino da Costa Paulino e de Maria Helena de Noronha, filha do Conde Mahém D. José Joaquim de Noronha, escreveu um livro de memórias de Goa, dos anos 30 a 60, Relembrando Goa, 1963, onde partilha muitos aspectos da vida social, cultural e familiar valiosos, nomeadamente os respeitantes aos seu avôs e a zona tão bela de Mahém:«perto da casa, ficava a linda capelinha, toda caiada de branco, onde tantos dos meus, no antanho, fizeram as suas preces fervorosas aos santos milagrosos. E, mesmo eu, quantas novenas cantadas ouvi lá com devoção! (...) E o que será feito daquele simpático «rei-das-gralhas» - o negro katakoi - que nos habitáramos a ver e a estimar, logo de manhã cedo e ao entardecer, pousado na mais alta ramada da velha araucária do jardim defronte, majestoso, soltando os seus trinados maviosos, de biquinho para cima, como que saudando o astro rei? / O toque dolente e compassado das Avés Marias punha tudo, por momentos, meditativo... Dos outeiros vizinho chegava até nós um aroma acre, mas agradável, dos cajueiros em flor... e na escuridão imensa, picada de milhares de vaga-lumes, os adives, em grandes bandos carpiam as suas mágoas em desafio com o gargalhar das hienas famintas... E lá ficávamos, no escuro, falando ou cismando, até que o criado mouro nos despertava, chamando-nos para o jantar...» Dos amenos serões literários em casa dos seus pais lembra-se da participação do Barão de Combarjua, do Visconde Bucelas, de Frederico Ayala, de Fernando Leal, Alberto Osório de Castro, Dr. Fragoso, Visconde Castelões, poetisa Florência de Morais e de seu pai, e meu bisâvo Higino da Costa Paulino.
Morte e ascensão de Maomé...
8-VI. Maomé, Muhammad Ibn Abdullah, o profeta do Islão, cujos cinco pilares são a oração, a fé, o viver em caridade, o jejum e a peregrinação, abandona a Terra neste dia 8 de Junho, 632 em Medina, a cabeça apoiada em Aicha, a preferida das suas nove mulheres. Não foi fácil a sucessão dos que se tornariam os detentores das rédeas do Islão pois os califas não quiseram aceitar a sucessão indicada por ele: Ali (Ali ibn Abi Talib), casado com a sua filha Fátima, que regerá apenas de 656 a 661, antes de ser assassinado, assim se criando a divisão hoje ainda tão lancinante entre os martirizados shia e os mais ortodoxos e por vezes fanáticos sunitas. Serão os sufis, ascetas e místicos, tanto dos shia como dos sunitas, aqueles que ao longo dos séculos e em todos os povos e lugares se elevarão às sublimidades do conhecimento e amor de Deus, na ausência das quais toda a religião se pode tornar uma caricatura dos seus propósitos divinos. A tradição islâmica, influenciada pelo cristianismo e judaísmo, imaginará como estes uma transladação aos céus do próprio corpo do seu profeta, não deixando os seus ossos em Terra, mas desnecessária e de algum modo materializando os ensinamentos e a visão do mundo espiritual. No tempo dos Descobrimentos a grande fonte do sangue derramado foi a luta islâmico-cristã, talvez mais por interesses políticos e económicos do que pelos ensinamentos religiosos, os quais devem ser hoje equacionados pelo comparativismo ecuménico e comungados ao nível espiritual. Entre os estudiosos ocidentais da espiritualidade islâmica devem-se realçar o espanhol Miguel Asin Palacios, o francês Henry Corbin e o inglês Reynold Nicholson, entre muitos outros. Dois conhecidos intelectuais franceses, o hermetista René Guénon e Roger Garaudy, converteram-se mesmo ao Islão.
Vasco da Gama nos Jerónimos, fotografia de Sílvia Lucero.
Os ossos de D. Vasco da Gama (ou dum seu descendente, pois vieram transladados da Vidigueira), o realizador da tão desejada união por mar entre Portugal e a Índia legendária, são lançados em 1880 solenemente numa barca tumular neo-manuelina no mar fluídico do templo dos Jerónimos, obra imortal dos mestres Boitaca, João Castilho, Diogo Torralva e Jerónimo de Ruão. Aqui mandara erguer o infante D. Henrique em 1460 uma ermida para os navegadores velarem antes das partidas e para socorro dos navegantes, entregando-a aos freires da Ordem de Cristo. Com a chegada à Índia mandou D. Manuel construir os Jerónimos, onde foram inscritos muitos símbolos importantes, dentro da geometria sagrada da sua construção, na recreação dum ambiente tanto marítimo como oriental que evoque o Divino. Num dos templos de Deus, realizado pelo Portugal dos Descobrimentos, as imagens de Luís de Camões e Vasco da Gama, o poeta amoroso e o navegador ousado (a que se juntaram no claustro o íntegro historiador e municipalista Alexandre Herculano e Fernando Pessoa), são um apelo ao aperfeiçoamento dum povo cuja missão mais elevada, como é a de todos os povos, é fraterna e ecuménica e que deve agora unir as dualidades em amor e sabedoria, fazendo guerra ao infiel que está em si próprio, tendo no olhar determinado a subida ao mais alto monte da Ilha do Amor, os Himalaias da alma.

9-VI. D. João II manda em 1493 dar ao Rabi Abraão (Zacuto) astrólogo dez espadins de ouro. Chegado de Espanha em 1492, permanece em Portugal publicando obras como o famoso Almanaque que serviu nas navegações e aconselhando os reis, até que em 1497 D. Manuel o cola à parede com a conversão, ou a saída pela expulsão. Recolhendo-se a Tunes e vindo a morrer possivelmente em Jerusalém, manifestou a crença na vinda próxima do Messias. Luís de Stau Monteiro escreverá em 1968 as Mãos de Abraão Zacuto, denunciando as opressões da liberdade, ainda no tempo do governo e da censura de Salazar 
Duarte Galvão, enviado como embaixador à rainha da Etiópia Helena, morre na ilha do Camarão, no mar Vermelho em 1517, devido às asneiras do vice-rei Lopo Soares de Albergaria que acabaram por anular a expedição e fizeram perder-se os presentes e livros únicos para o Preste João, provavelmente algum manuscrito do Livro da Corte Imperial, uma obra na linha de Raimundo Lúlio e destinada a convencer judeus, muçulmanos e gentios da excelência cristã, exemplares da Vita Christi, etc. Fora Cronista-mor do reino e embaixador em três reinados. Com 70 anos foi ainda animador da expedição que com o patriarca Mateus procurou chegar ao Preste João, tendo então escrito uma Exortação aos que iam à Índia, «para que saibam e folguem muito mais de saber que bem, e serviço de Deus vão fazer». Enterrado o corpo na areia, oito anos depois o P. Francisco Álvares irá buscá-lo e trazê-lo para Cochim, onde seu filho António Galvão o recebe com grande procissão e o finge enterrar no mosteiro de S. António, levando-o secretamente de noite para a sua nau, a Santa Maria do Espinheiro, na qual o traz até Lisboa, para a igreja de Xabregas. António Galvão levou por diante o testamento anímico do pai, na coragem, determinação e altruísmo e será chamado o “Apóstolo da Molucas”.
D. Cristóvão da Gama e os seus 400 companheiros internam-se neste dia pelas terras do Preste João para o ajudar a sobreviver aos ataques dos mouros do emir de Harar, em 1541. Na ardente e saudosa despedida da expedição, o governador e seu irmão D. Estêvão inicia-o: «Aqui vos entrego esta bandeira d’El-Rei nosso senhor, como divisa de Cristo e vo-la encarrego quanto posso, e vo-la mando sobre a bênção do nosso bom pai, vós a guardeis e enxalceis quanto em vós fôr, com todas as vossas forças até por isso fenecerdes a vida».
Abre neste dia em 1585 o 3º Concílio Provincial de Goa. Se no 2º Concílio (1575) ainda se dizia que não devia haver constrangimento nas conversões, neste a rédea já vai solta: multas aos infiéis, proibição dos brâmanes usarem a linha, expulsão de gentios prejudiciais e pede-se ao rei que acabe com os casamentos hindus. Quem ainda os protegia era a população portuguesa de Goa e algumas autoridades como os desembargadores e por isso pretende-se que estes não possam apelar, nem agravar. Uma desgraça para a multiculturalidade...
Morre mártir na Etiópia, depois de oito anos de batalhas para trazer ao grémio católico os fiéis da terra, em 1638, o bispo de Niceia, Apolinário de Almeida. Como teria sido melhor se tivesse compreendido que a uniformidade mata a alma própria de cada ser, região ou povo...
Como tantos portugueses dos Descobrimentos, que evoluíram rapidamente em contacto com tanta amante, madrasta e mãe experiência, Manuel da Cruz, depois de ser capitão na Índia, sentiu-se chamado ao estado de religioso mas, dando-se mal com o clima de Goa, regressou à metrópole e veio a viver 28 anos no convento da Arrábida, onde tinham brilhado S. Pedro de Alcântara, Frei Agostinho da Cruz e tantos outros eremitas franciscanos, falecendo neste dia 9 de Junho de 1730.

10-VI. Dia de Portugal, ser espiritual, anímico e eco-geográfico. Dia dos propósitos duma colectividade e daqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando, ou que têm respondido à condição: «Vós, que à custa de vossas várias mortes / A Lei da vida eterna (a realização da Verdade) dilatais». Embora mais um dia de palavras e condecorações, e numa época de globalismo acentuado e perda de todo o tipo de independência e individualidade, com governantes demasiado vendidos ao dólar e ao euro, do que ocasião para reflexões, invocações, decisões, meditações e realizações, há que manter a esperança, tanto numa melhoria da qualidade de vida tão espezinhada pela má gestão geral europeia, como ainda que as gerações futuras se harmonizarão melhor com a grande alma Portuguesa, com a sua Natureza, que se deseja mais preservada e amada, e com os elos mais importantes da sua Tradição Espiritual, ou mesmo com o  Arcanjo de Portugal.
10 de Junho é também o Dia do Anjo, ou melhor, Arcanjo Custódio de Portugal. Este Ser das hierarquias supra-humanas é o ser essencial de Portugal. Uma sua bela imagem em escultura  de madeira quinhentista está na Charola do Convento de Tomar, um dos centros espirituais de Portugal desde a fundação e particularmente nos Descobrimentos. 
 
Outras imagens existem em algumas igrejas (Bucelas, na imagem), museus e particulares e lembram que a ligação com os mundos superiores faz parte da natureza mais elevada da humanidade. Se S. Jorge fora evocado como protector de Portugal até D. Manuel, este, ao criar a festa do Anjo Custódio de Portugal, reconheceu-o como guia e defensor, e seria bom até conhecermos os religiosos, quem sabe se mais clarividentes, que o impulsionaram para tal consagração. Algo desinformante ou perniciosa tem sido a identificação do Arcanjo de Portugal com S. Miguel aventada e mantida por alguns dos esoteristas e ocultistas ignorantes ou tendenciosos. Num tratado português do século XVII sobre o Anjo, diz-se: «Aos reinos tem Deus nosso Senhor deputado Anjos particulares, que os ensinem, aconselhem, governem e defendam, com especial providência do segundo coro da terceira e última hierarquia que são os Arcanjos». É pois a  D.  Manuel que se deve em 1504 a instituição, culto e procissão do Anjo Custódio, a realizar no 3º domingo de Julho, passando mais tarde a celebrar-se este Ser, tão subtil e ignorado quão essencial, no dia de Portugal e de Camões, o 10 de Junho. Contudo, também no 3º Domingo de Julho podemos sintonizar mais com ele, lembrando-nos que a qualquer momento a ligação se pode estabelecer, frutuosamente...
Vera efígie (anónima) de Camões, na cela prisional de Goa, em 1558, sempre escrevendo, às Musas dado.
Luís de Camões, um dos símbolos da Pátria, morre com ela neste 10 de Junho em 1580, provavelmente numa peste, pouco tempo após a batalha fatal de Alcácer Kibir. Com 17 anos de Oriente, Camões estava pronto para cantar a gesta dos Descobrimentos e para desaparecer com o crepúsculo da pátria, tão sangrada no norte de África. Fernando Pessoa, o “Super Camões” como ele próprio se intitulou na revista portuense  Águia, dirá, na carta ao Conde Keyserling que publiquei pela 1ª vez no livro Grande Alma Portuguesa, que esta, desde Kibir em 1580 tornada subterrânea, se aventurará de novo um dia às grandes Descobertas já não materialmente, mas supra-religiosamente. E se a Mensagem é finalizada com o aviso do nevoeiro, também os Lusíadas, templariamente, murmuram: «Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho destemperada e a voz enrouquecida, / E não do canto, mas de ver que venho / cantar a gente surda e endurecida». Mesmo assim, Luís de Camões, ao deixar algo desiludido da vida terrena o «instrumento da alma» ou corpo perecível, entregava-nos a sua obra, obtida pelo esforço iniciático dum ideal real, «para servir-vos braço às armas feito; / Para cantar-vos mente às musas dada». Ao conseguir realizá-lo com harmonia e beleza, libertou-se da lei da morte e, não só como «sombra gentil, da sua prisão saída, do mundo à pátria (celestial) volveu», como tornou a sua vasta e subtil obra um instrumento imorredoiro da cultura, o culto de Ur, a Luz Fogo.
Sir Edwin Arnold nasce em 10-VI-1832 no Reino Unido e obterá um sucesso extraordinário com os longos poemas dedicados à vida dos mestres Jesus e Buddha, A Luz do Mundo, e A Luz da Ásia, catalizadores dum interesse maior pelo Oriente...
  Nasce neste dia 10-VI-1930, Marc Alain Descamps, em França e virá a ser professor de filosofia e sociologia, psicanalista, conferencista, investigador psíquico e yogi, tendo escrito cinquenta livros e estado dez vezes na Índia em práticas, diálogos e iniciações. Aderiu à designação de psicologia transpessoal e participou em vários congressos, nomeadamente num em Lisboa, liderado por Mário Simões, no qual também participei, tendo dialogado com ele sobre a espiritualidade e as linhas de meditação, já que estávamos iniciados no Kriya Yoga, ele desde 1980, em Puri, por swami Hariharananda.  No seu folheto Histoire du Yoga en Occident, refere os trabalhos dos seus predecessores actuais «Alain Danielou, Jean Varenne, Maurice Maupilier e sobretudo Jean Paul Droit (L'oubli de l'Inde ou le culte du Néant)», bem como os encontros mais antigos do Ocidente Oriente,  os míticos apresentando-os com talvez demasiado arrojo:«4.000 anos antes da nossa era, Dionísio (o Deus de Nysa) vai à Índia e traz os transes, os kirtans, vinho, as panteras, o tirso ou caduceu transmitidos a Hermes, aos Arautos, a Hipócrates e por eles ao corpo médico. Quinze gerações depois Hércules teria deixado uma filha na Índia a rainha Pandeia, coberta de pérolas (...) Sob o império de Domiciano, Apolónio de Tiana viaja até à Índia, encontra Yogis, aprende o Yoga e trá-lo para toda a bacia mediterrânica, como conta Filostrato na sua biografia». Depois num voo de ave passa pelos séculos até aos nossos dias, assinalando as sucessivas traduções europeias dos grandes textos indianos. Sobre a Teosofia escreverá, ainda que com uma comparação desproporcionada, que «fundada para ser um núcleo da fraternidade universal, ela não conseguiu mais que a igreja cristã e foi também objecto de dilaceramentos perpétuos. Todos os primeiros discípulos fizeram secessão para fundarem os seus próprios cultos. Alice Bailey escreveu sobre o ditado do "Tibetano" enorme suma que não corresponde ao que ensinaram sempre os Lamas tibetanos. Steiner funda a Antroposofia em oposição à Teosofia. E, enfim, Krishnamurti o Messias deles, o Chefe da Ordem da Estrela do Oriente, renegou a sua missão e dissolve a Ordem em 3 de Agosto de 1929. E as falsificações vão continuar em Inglaterra com os livros de grande sucesso do jornalista Rampa.» Quanto aos ataques ao orientalismo, anotará: «Em 1813 é Goethe que em nome do ideal clássico se desencadeia contra «esses absurdos ídolos, abstrusas filosofias e loucamente monstruosas religiões. Em 1829 Victor Cousin faz no Colégio de França os primeiros cursos  sobre o hinduísmo, criticando o Yoga. E em 1895 Barthélemy Saint-Hilaire, ministro dos negócios Estrangeiros, faz aparecer três artigos na Revue des Deux-Mondes contra o Yoga, o Hinduísmo e o Budismo que perturbam a sociedade. Depois virão os livros de oposição ao Yoga, tais como o Non, au Yoga, de M. Ray, 1977, e o  de [Gunter von] Hummel, 1984.» Apontará C. Kerneiz (1880-1960), de nascimento Felix Guyot,  professor de filosofia e jornalista, tendo aprendido em Londres de um Sikh, como o primeiro professor em França, desde 1936 em Paris, tendo ensinado a Lucien Ferrer e Philippe de Meric. Desincarnou em 2010.
Marc-Alain com swami Hariharananda, do Kriya Yoga, em 198o
11-VI. D. João III morre em 1557 depois dum reinado de 35 anos marcado pela atribuição de bolsas de estudo no estrangeiro, a fundação do Colégio das Artes em Coimbra, a perseguição dos Judeus, a introdução da Inquisição (mas não ainda em Goa) e dos Jesuítas («os primeiros queimavam os corpos e os segundos inflamavam as almas»), a união na coroa dos mestrados das ordens militares de Cristo, Santiago e Avis, a redução da Ordem de Cristo a conventual, o lento ocaso do que havia de abertura e sabedoria humanista, iniciando-se a curva descendente de Portugal, logo apressada pela regência também algo fanática de sua mulher D. Catarina, a imaturidade de D. Sebastião e a perda da independência em 1580. Alexandre Herculano no fim da sua História da Inquisição caracterizou severamente D. João III como «fanático, ruim de condição e inepto». Contudo, ao menos, entre tantos males, sua estratégia política foi realista e não procurou excessiva expansão territorial, procurando antes manter armadas fortes para viajar, proteger, atacar e piratear. O historiador Garção Stockler escreveu: «Desde que a mal dirigida piedade do senhor rei D. João III deu uma tão desmedida influência à ordem eclesiástica sobre o espírito da nação portuguesa, esta descaiu imediatamente do seu antigo esplendor».
O P. Francisco de Laynes, que chegou a bispo de Meliapor, morre em 1715 em Bengala, depois de 34 anos de apostolado difícil no sul da Índia. Quando veio a Portugal em 1708 mostrou-se vestido à renunciante hindu, saniasse, em Évora, tal e qual como S. João de Brito se mostrará mais tarde. Para além das roupas, havia a alimentação, os jejuns, o recolhimento. Mas o tempo do seu governo de Meliapor obrigou-o a constantes andanças, devido aos conflitos com os missionários estrangeiros enviados pela Congregação da Fé que acusavam os jesuítas de permitirem demasiados ritos e costumes gentílicos aos cristãos indianos, destacando-se nesse atitude reaccionária o Patriarca de Tournon que aprovou um decreto em 1703 com inúmeras proibições, tais as de lerem livros de filosofia e religião hindu, ou de darem nomes de heróis, antepassados ou divindades indígenas nos baptismos dos indianos.
12-VI. Nuno Álvares Pereira nasce na Certã em 1360. Guerreiro e depois frade carmelita, deixando algo da sua aura e auréola ao Carmo de Lisboa, foi um dos pilares da independência em relação a Castela. Em 1415 foi ainda a Ceuta iniciar a expansão portuguesa. Fernando Pessoa na Mensagem cantou-o luminosamente e, algo profeticamente, chamou-o já santo, o que só acontecerá em Abril de 2009. Oiçamo-lo: 
«Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.
Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!»

Entra em 1598, na Companhia de Jesus, Francisco Garcia, natural de Alter do Chão, e virá ser um dos primeiros religiosos portugueses mais interessado no Hinduísmo, traduzindo O Homem das 32 Perfeições, e comentando algumas histórias com máximas, tais como estas: «quem não ouve os conselhos dos mais velhos não tem bom fim»; «Deus não ouve a quem não ora com atenção e a Sua própria morada é o coração do homem».
D. Luís de Meneses, 5º conde da Ericeira, morre em Goa em 1742. Governador do Estado Português na Índia com galhardia no triénio iniciado em 1717, teve problemas com o barco e com os ingleses no regresso e demorou 28 meses para chegar a Lisboa, após ter sido recebido sempre com todas as honras pelas terras francesas onde passou, pela sua alta cultura e coragem e por a sua mulher ser da aristocracia francesa. Regressou segunda vez como governador em 1740, noutra longa viagem, 18 meses. Incentivou a cultura de bambus em Salsete e teve outras medidas de estímulo à agricultura, comércio e indústria. Era membro da Academia Real e o seu corpo foi sepultado junto ao de S. Francisco Xavier.
Roberto Ívens, o infatigável explorador de África, nasce em 1850 na mesma ilha dos Açores, S. Miguel, onde outro ousado palmilhador, dos Himalaias, recebera também na natividade os eflúvios vulcânicos e a aspiração do além de todos os horizontes, o irmão Bento de Góis. A sua vida foi descrita como «breve e ardente».
Morre neste dia em 1931 o juiz António Floriano de Noronha, após uma carreira muito íntegra e já na Relação de Goa. No dia do seu nascimento 18-XII-1873, biografámos-lo. Pessoa de grande cultura e sensibilidade, em 1920 visitou a escola de João de Deus, ao jardim lisboeta da Estrela, com seu amigo Faria e Maia, e no final da sua obra Os Nossos Interiores, iniciada na capa com um citação de Antero de Quental, transcreve do jornal O Debate o que sentira então:«Fiquei maravilhado ao ver essa luminosa escola para crianças de 4 a 9 anos de idade - o que não é de estranhar porque nada conheço do género (...) Tão encantados ficámos, que, dois dias depois, voltámos a visitar a mesma instituição, juntamente com algumas senhoras e crianças das nossas relações. Direi de passagem que descrever essa Escola, a sua arquitectura, a sua decoração, as suas instalações, o seu asseio; a compostura, a satisfação, a alegria dos pequenos seres que a frequentam; os seus trabalhos em papel e barro, os seus desenhos, as suas escritas, os seus cantos corais; enfim, a paciência e o carinho com que são tratadas pelas mestras - seria para o meu espírito uma tarefa grata; mas receio viragens hostis e vingadoras dos padrões escolares da minha feliz terra: para a instrução primária a escola onde, há perto de 40 anos, penosamente soletrei ba-tra-co-mio-ma-chi-a e que se conserva no mesmo pé, altiva e imorredoura, paredes-meias com o cemitério da freguesia"...
Gopinath Kaviraj e Srimat Anirvan
Neste dia 12 de Junho, em 1976, um dos grandes sábios da Índia deixava a terra, junto ao Ganges, em Varanasi, o prof. Gopinath Kaviraj. Nascera em 7-IX-1887 e pelos seus próprios esforços atingira uma mestria de sânscrito que lhe permitiu recusar ofertas de professorados vários para continuar como investigador, aceitando por fim em 1914 o cargo de responsável pela Saraswati Bhavan Library, publicando textos antigos raros e valiosos, com sábios comentários. Foi em 1924 nomeado reitor do Government Sanskrit College. Recebendo o impulso espiritual do yogi Sivaramakinkara Yogatrayananda e depois de Sri Sri Vishuddhananda, mais conhecido como Gandha Baba, avançou tanto na realização espiritual que resolveu retirar-se em 1937 e os restantes quarenta anos da sua vida foram dedicados ao estudo e ao ensino da filosofia indiana, em universidades, nomeadamente de   yoga e tantra, aprofundando visões cosmológicas e  conceptualizações, tais como as de sadhana, Shiva, shakti, prana, libertação, recebendo na sua casa em Sigra, Varanasi  e no ashram de sri Anandamayi Moi, de quem era amigo e devoto, muitos peregrinos e estudiosos, na demanda, sadhana ou caminho. Exemplo e um dos seus ensinamentos era, considerar que a tranquilidade da consciência espiritual  é apenas um aspecto da Divindade, a qual  espera na sua Plenitude  descer na Terra como uma consciência supramental a qual Kaviraj vê como a Mãe ou super-mente, numa linha próxima de Sri Aurobindo, estando portanto a humanidade vocacionada não apenas para a tranquilidade mas para ser um canal activo de transformação global iluminante e divinizante, visão sem dúvida hoje muito utópica em termos de realização exterior ou social mas que muitos seres poderão realizar nos seus meios ambientes, famílias, comunidades...   
13-VI. Alexandre, o Grande, discípulo de Aristóteles até aos 16 anos, morre com 32 anos de idade neste dia 13 em 323 a.C., no regresso da Índia, após dez anos de expedição e quatorze dias de doença pancreática  na Babilónia, hoje Iraque, que pensava tornar a capital do seu vasto império, e quando se preparava, após as suas conquistas da Pérsia e do Oriente, para tentar conquistar a Arábia, Roma e Cartago. Além de um grande estratega e militar, tornando-se legendário, foi um dos primeiros unificadores do Oriente e do Ocidente, permitindo influências recíprocas valiosas. Alexandria será um cadinho dessa universalidade que teve no hermetismo e no sincretismo religioso uma das facetas mais profundas.
 Dia de S. António (deixará o corpo neste dia em 1231, em Pádua), um dos protectores mais amado e lembrado pelos portugueses (e italianos...), passando com o decorrer do tempo de asceta a casamenteiro e descobridor (ou soprador na mente a ele aberta...) de objectos perdidos. A sua paranética (sermões, mesmo que a peixes...) revela grande sensibilidade à Natureza e  inteligência analógica, ainda que só tenhamos  em resumos, baseados  na imagética da Natureza e nas analogias com a Bíblia e seus passos e símbolos. Dirá: «Do oriente da graça para o ocidente da culpa partem os filhos de Adão... No rosto da nossa alma há três sentidos espirituais, dispostos em recta ordem pela sabedoria do sumo artífice: a vista da fé, o olfacto da discrição e o gosto da contemplação».
«Raja Singa Raja Altíssimo, Monarca, Grandíssimo e Potentíssimo Imperador deste mui afamado império do Ceilão, a Adrianen Vander Mejden, governador da minha imperial fortaleza de Galle, envio muito saudar... A carta que Vossa Mercê enviou a esta imperial corte deu-se para se trasladar em língua portuguesa; e como se trasladar, depois de se ler diante da minha imperial presença, conforme a isso lhe mandarei a resposta. Por hora não se oferece mais». 1656. Assim, continuará o português até aos finais do séc. XIX a ser a língua franca do Oriente, usando-a os Europeus (neste caso os Holandeses) para comunicarem com muitos dos povos orientais, num quase império da língua que, com certos costumes, música e religiosidade católica, sobreviveu longamente.
O chinês Fan Shouyi nasce neste dia 13 em 1682 na província de Shanxi: «Fui criado para venerar o verdadeiro Senhor e servi-lo constantemente. Se bem me lembro, no fim do Inverno de 1707 o eminente académico ocidental (o padre) Provana recebeu ordens de conduzir uma embaixada ao Ocidente, levando-me como companheiro. Viajámos através de montes e rios, atravessámos cidades e regiões e experimentámos tantas dificuldades e perigos no meio das ondas e do vento que sou incapaz de as enumerar. E quem poderia compreender, de apenas ouvir contar, sem nunca o ter visto?» Assim nascia o primeira relação duma viagem dum chinês e cristão ao Ocidente, em defesa dum cristianismo chinês que o papa e a Propaganda da Fé farão abortar.
William Butler Yeats nasce na Irlanda em 1865. Relacionando-se com os simbolistas e pré-rafaelitas, tal como o genial William Morris, embrenha-se criativamente nas vias  da espiritualidade através da teosofia, do celtismo, do hermetismo e do orientalismo, poetizando e prefaciando e laborando numa obra de Yoga e o Gitanjali de Rabindranath Tagore. Os seus interesses e vida têm sincronias com os de Fernando Pessoa, só que foi Prémio Nobel em 1923, enquanto  Fernando Pessoa só postumamente e sobretudo nos nossos dias é que atingiu uma consagrada alma espalhada aos quatro ventos. Na introdução à Oferenda de Cânticos de Rabindranath Tagore lamenta-se que «nós escrevemos longos livros onde se calhar nenhuma página tem qualquer qualidade para tornar a escrita um prazer, confiantes em qualquer objectivo geral, assim como lutamos e fazemos dinheiro e enchemos as nossas cabeças com política — tudo coisas que embotam ao fazerem-se — enquanto o senhor Tagore, como a própria civilização Indiana, tem-se contentado em descobrir a alma e entregar-se à sua espontaneidade».
Por Nadia Baggioli, da galeria Novo Século.
Fernando António Nogueira Pessoa nasce em 1888, ao Chiado de Lisboa. Para além de genial poeta e sociólogo interessou-se muito pelo Ocultismo e traduziu alguns livros teosóficos com influências da sabedoria indiana e budista, nomeadamente a Voz do Silêncio. Também se interessará pela  poesia persa, Hafiz, Saadi e sobretudo Omar Khayyan, do qual traduzirá alguns rubayaits e criará outros, que recentemente Maria Alhiete Galhoz, Halima Nainova e Fabricio Boscaglia têm estudado e divulgado. Realçou as três manifestações da grande alma Portuguesa: os Templários, a Ordem de Cristo, e um futuro ressurgimento. Para tal contribuiu com vários escritos de certo modo iniciáticos, muito tempo inéditos e pouco compreendidos. A poesia heteronímica é valiosa, mas será talvez a Mensagem, pelo seu carácter de Lusíadas moderno, a sua obra central, à volta da qual estão encastoadas as miríades de fragmentos artísticos duma personalidade riquíssima, mas por isso dispersa e difícil de se compreender em alguns dos seus aspectos mais herméticos ou subtis, para os quais tentei trazer alguma luz decifrando, editando e comentando alguns textos, o principal sendo Rosea Cruz, 1989.
António da Silva Rego, nasce em Joane, Famalicão, em 1905 e será padre, professor e historiador, com importantes publicações nos domínios religiosos dos Descobrimentos, tendo-se até aventurado no labirinto das religiões comparadas, ainda que limitando-se na compreensão por dificilmente conseguir realizar o que não era a sua crença e doutrina católica romana.
14-VI. Por volta deste dia, em 1510, Afonso de Albuquerque (1453-1515) tendo retirado com a sua frota de Goa para o rio Mandovi, e à espera de oportunidade de a reconquistar, recebe a oferta de alimentos enviados pelo Âdil Khân (de novo na posse de Goa), com o recado que «pelas armas queria vencer seus inimigos e não pela fome» que experimentavam os homens da frota a terem até de rilhar couro e ratos. Afonso de Albuquerque mostra o resto de comida que tem e diz: «Dizei ao vosso Senhor que eu lhe sou obrigado, mas que não receberei os seus presentes senão quando formos amigos». Situações como estas de dificuldades na alimentação e de estoicismo foram comuns na época e a lenda da Nau Catrineta lá inclui a sola do sapato na refeição. Os homens de Cristóvão Colombo tiveram de pôr de molho e cozer o couro das vergas numa das viagens. Menos conhecida é a ordem dum governador de Ceilão de salgarem os cadáveres, durante um cerco prolongado, com os protestos infrutíferos dos padres, embora não viesse a ser necessário usá-los. No consumismo de hoje, esta lembrança de pobreza, jejum e auto-domínio em seres tão enérgicos não deve ser perdida, especialmente tendo em conta a tradição indiana de raízes milenárias nos religiosos jainas, protectores, pela sua extrema ahimsa, não violência, de toda a a forma de vida e que os cronistas portugueses registaram com curiosidade ou até empatia, e já neste século exemplificada, no domínio do irmão corpo (como lhe chamava S. Francisco de Assis) ao serviço do ideal da não-violência, pelos três jejuns de semanas do Mahatma Gandhi.
O P. Luís Fróis escreve em Arima, no Japão, em 1585, o Tratado em que se contêm muito sucinta e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre a gente da Europa e esta província do Japão, com muitas observações culturais valiosas, entre as quais regista a da milenária dietética do Yin e Yang: só bebem bebidas quentes, comem arroz integral em vez de pão e, no país da sopa de miso e da ameixa umeboshi, «quanto na Europa são os homens amigos do doce tanto os japões o são do salgado». Tais produtos da dietética nipónica serão no século XX divulgados no Ocidente por George Oshava, Michio Kushi e Kikushi e entre nós foram pioneiros os restaurantes da Colmeia, Unimave e Suribachi, este ainda brilhando na rua do Bonfim, no Porto.

15-VI. Enviadas por D. Manuel partem de Lisboa, em 1501, trinta velas comandadas por D. João de Meneses, nas quais navegam vários cavaleiros da Ordem de Cristo, para auxiliarem Veneza contra os turcos, mas estes retiram-se. Para além do esforço guerreiro no Oriente, D. Manuel procurava realizar uma cruzada com os reis de Espanha e Inglaterra contra o domínio turco em Jerusalém, mas tal projecto quase utópico não vingou, sucedendo-se antes ao longo deste século algumas batalhas mediterrânicas que culminaram na tomada do Chipre pelos turcos (em que não cumpriram as condições de capitulação, e chacinaram) e, finalmente,  a sua derrota dois meses depois no golfo de Lepanto, em 7 Outubro de 1571, quando a esquadra naval da Liga Santa, composta por Espanha e Portugal, Veneza, Papado e Ordem de Malta, os desbaratou. Conta a legenda que houve quem visse Nossa Senhora (do Rosário...) a auxiliar os combatentes da Cristandade Europeia face ao expansionismo turco-islâmico. Mais certa foi a participação de Miguel Cervantes, tendo perdido um braço, talvez para emparelhar com o nosso Luís de Camões, sem um olho, sinais do preço que a vitória ou a glória por vezes cobra mais fortemente...
Muni Sushil Kumar nasce em 1926 na Índia e aos 24 anos foi iniciado como monge da religião Jaina. Fundou a Fraternidade Mundial das Religiões. «A experiência de comungar com o Divino e o acto da meditação que a realiza, não são prerrogativa de qualquer religião. Por isso quem diz que é o único a possuir a Verdade, não está a dizer a verdade». O Jainismo é como religião provavelmente mais antigo que a religião védica ou bramânica e admite-se hoje que a antiquíssima civilização do Vale do Indo, anterior às invasões dos povos indo-europeus, partilharia de uma religiosidade próxima do que é o Jainismo. Contemporâneo de Gautama Buddha, Vardamana Mahavira foi o último dos Tirthankaras (realizados) e, como muitos historiadores consideraram os 23 anteriores Tirthankaras como lendários, catalogou-se cronologicamente o Jainismo como da mesma época que do Budismo. Sem mencionar Deus, o ênfase desta religião é na libertação da alma (que é pura e omnisciente) da matéria que a obscurece, prescrevendo-se complexas regras de purificação, práticas de reflexão e meditação. A sua oração e meditação principal é: «Namo Arihantanam, eu saúdo os seres perfeitos. / Namo Siddhanam, eu saúdo as almas libertadas (siddha yoguis). / Namo Airiyanam, eu saúdo os nobres mestres. / Namo Uvajjhayanam, eu saúdo os instrutores. / Namo Loe Savva Sahunam, eu saúdo os praticantes espirituais do Universo».                                                                                         Viverá cuidadosa e minuciosamentemente a não-violência até 22 de Abril de 1994, como podemos ver na imagem seguinte, e que é costume usual dos monges Jainas: 
Na 4ª World Religion's Conference, em Nova Delhi, Fevereiro de 1970, de boca coberta,  e com um yogi mais idoso.
16-VI. Carta régia da extinção definitiva do tribunal da Inquisição em Goa, no ano da graça de 1812. Assim terminava o pesadelo que foi alegorizado, como sugeriu Sampaio Bruno, por Fernão Álvares do Oriente no seu livro Lusitânia Transformada, assim: «Da parte Ocidental da vossa Espanha, foi ter naquele tempo ao nosso Oriente um monstro fero, que a todos os que a idade antiga viu no mundo fazia vantagem na crueldade, e na bruteza sendo naquela tão excessivo e nesta tão disforme que nos trazia de contínuo assombrados a imaginação, que só em lhe escapar trazíamos ocupada... Deste cruel açoite da nossa idade com voz sumida falávamos como amigos». Nos nossos dias, o investigador António Cirurgião considerou contudo que tal patética descrição dum ambiente opressivo se deve atribuir antes a um sacerdote ou clérigo repressivo, guarda feroz duma concepção violenta e fanática de Deus. Uma das egrégoras mais tenebrosas deixava de ser alimentada fisicamente, com a extinção da Inquisição, mas quantos inquisidores não habitam ainda em tanta alma, quantos pulhígrafos não abundam nas redes sociais, quantas secretas não prendem e oprimem?
Ernesto Marecos nasce neste dia 16 de Junho de 1836, filho de um outro funcionário público e poeta, e após cursar a Universidade de Coimbra, em Direito, três anos incompletos, teve conflitos políticos e partiu como funcionário para o Ultramar onde estará por Angola, de 1855 a 1857, desenvolvendo intensa actividade literária e teatral (recentemente estudada por Francisco Soares e Fernando Topa). Regressado a Portugal, publicou em 1867 Savitri, Lenda Indiana, poema de grande fôlego e amor à Índia, ainda platónico já que só a conhecerá, após a sua nomeação em 1869 para a alfândega do distrito de Cabo Delgado, em Moçambique, quando foi transferido em 1875  para a de Nova Goa. Deixará a Terra em Moçambique em 1879. Do seu poema Savitri, de grande força e beleza, e que já consagrámos um artigo neste blogue: I - «O Himalaia soberan0, Das montanhas o monarca, Que um vasto horizonte abarca, Do Eterno eterno troféu, Mal aos pés divisa a terra, Mas sobre o gelo constante/ Do seu diadema brilhante/Como que sustenta o céu!» II - «Do topo do espaço imenso/Que, ó monte gigante, ocupas/ Jorra em brancas catadupas, Ferve, irrompe em borbotões/ O Ganges que ora entre as rochas/ Solta em fúria ingentes brados,/Ora em vales perfumados/Modula ternas canções.» No fundo,  vemos o Himalaias apaixonada pela Ganga Ma, pela fertilidade, beleza e felicidade do amor que ela leva por onde passa. E a partir deste episódio inicial himalaico e gangeano  entra-se depois numa peça de amor, com os principais tipos humanos indianos muito bem caracterizados e contextualizados na tropical natureza indiana, que Ernesto Marecos só viria a conhecer ao vivo posteriormente, podendo-se assim dizer que a sua imaginação criativa o fizera merecer a correspondente realização factual.
Alice A. Bailey nasce em Manchester, em 1880. Esteve na Índia e deu à luz uma série de 24 livros em geral de elevado esoterismo (embora por vezes incomprováveis), segundo ela inspirados por um mestre tibetano já revelado por Helena Petrovna Blavatsky, Djwal Kuhl, destinados a preparar "a Nova Era", e donde surgiram movimentos como o Lucis Trust e a Boa Vontade Mundial, com sedes em Londres, e que procuravam estabelecer pontes de conhecimento mais harmonioso e profundo entre povos, religiões e culturas, algo que nos nossos dias de facto se multiplicou numa proporção imensa travada contudo pelas crises financeiras e as guerras do Ocidente no Médio Oriente causadoras do terrorismo. Publicou uns comentários ao livro clássico de Raja Yoga, os Yoga-Sutras de Patanjali, texto este que só foi comentado e editado em Portugal, em 1996, por Maria, num Tratado de Meditação, publicado pelas edições Maitreya, tendo como base uma tradução feita por mim em Calcuta, na Ramarishna Mission Cultural Center, com Satchitananda Dhar. Em Portugal, o seu primeiro divulgador e tradutor das obras do Tibetano e de Alice Bailey foi o irmão (engenheiro técnico) Manuel Lourenço, da Sociedade Teosófica, grande servidor da Humanidade, e com quem aprendi, dialoguei e ajudei nas suas traduções...
17-VI. O P. Jerónimo Xavier, obreiro da 2ª missão à corte mogol, grande amigo do imperador Akbar (cuidaram um do outro em doenças), autor em persa da Vida de Jesus (mais tarde contestada por protestantes pelo facto de conter legendas e os oráculos das Sibilas), do Espelho Reflector da Verdade, do Guia dos Reis (recentemente estudados entre nós pelo notável investigador orientalista Adel Sidarus, de Évora) e dalgumas traduções da Bíblia, morre já em Goa, para onde Akbar não o queria deixar voltar, num incêndio, neste dia em 1617. Na sua viagem ao Caxemira com Akbar entusiasmou-se com o poder e a beleza do Himalaias «maiores que os Pirinéus» e ouviu dizer que havia muitos cristãos no Tibete. Das dúvidas subtis que assaltavam a alma insatisfeita e ardente de Akbar, a maior era a possibilidade de Deus ter um filho nascido duma mulher.
Arjumand Banu Begum, Mumtaz Mahal
Mumtaz Mahal, das três mulheres do imperador mogol Shah Jahan a preferida, morre ao dar à luz o 14º filho em 1631. Tristíssimo, Shah Jahan exclamará: «Da excessiva dor de separação corrosiva da mente, participar na Assembleia do Tempo, o aparato do Império, os objectivos agradáveis, não produzem qualquer resultado, senão cansaço e dor». Ergue então o templo e mausoléu do Taj Mahal, que o portuense Frei Sebastião Manrique na viagem por terra para Portugal viu em construção, indicando até o veneziano Jerónimo Veroneo como o arquitecto do plano, o que, porém, não está confirmado por outras fontes. Filha do poderoso ministro persa Azaf Khan, benigno com os portugueses, Mumtaz era de uma beleza extraordinária e o cronista Qazwini elogiou-a assim: «A rainha de hábitos angélicos era a pessoa única do Tempo e a distinguida (mumtaz) da Era, em castidade, modéstia, bondade de carácter, pureza de conduta, natureza e disposição, no guardar a honra do governo, na observância de orações e procurando o prazer do Senhor dos Céus».
Francisco de Sousa, missionário luso-brasileiro-índio, nascido em S. Salvador da Baía em 1649, parte aos 15 anos para entrar no noviciado de jesuita em Portugal mas logo viaja para Goa em 1667 para concluir os seus estudos e onde será professor de humanidades, retórica, filosofia e teologia moral, reitor do Colégio de Rachol, pároco, perfeito de estudos no colégio de S. Paulo, Pai dos Cristãos e Superior da casa professa de Goa, deixando a terra neste dia 17, de 1712. A sua História do Oriente Conquistado a Jesus Cristo pelos Padres da Companhia de Jesus da Província de Goa, Lisboa, 1710, realizada entre 1695 e 1705 a pedido do seu Geral Tirso González, é uma mina de informações sobre os séc. XVI e XVII, nomeadamente acerca das três missões ao Grão-Mogol, o sábio Akbar.
«Jorge Dias nasceu a 17 de junho de 1932. Em 1966, obteve o grau de licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Concluiu o Mestrado em História da Europa e dos Estados Unidos, na Purdue University, Indiana, em 1968. Em 1972, foi para o Japão como Professor do Instituto de Língua e Cultura Portuguesa, para lecionar na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto. Para além das suas qualidades como professor, Jorge Dias foi um investigador incansável e diligente, que nos deixou uma vasta obra, em vários domínios de investigação: Relações Luso-Japonesas, Cultura Luso-Brasileira-Africana e Cultura Anglo-Americana.»

18-VI. O jesuíta Diogo Ribeiro, que aprendera o concanim, compusera uma Explicação da Doutrina Cristã e acrescentara a Arte da Língua Canarina do P. Tomás Estêvão, impressas em Rachol, onde está hoje o museu duma das mais valiosas realizações dos Descobrimentos, a Arte Sacra Indo-Portuguesa, morre em 1633 no Colégio desta cidade.
Circular do Cabido de Goa, em 1859, confirma que a epidemia de cólera é castigo de Deus, pelo que se requere penitência, mas também «uso dos meios que a medicina prescreve para prevenir e curar este mal não contagioso».
O movimento Jaihindista (Viva a Índia), organiza em 1946 um grande comício em Margão, discursando os doutores Tristão Bragança da Cunha, Lohia e Meneses Bragança, que serão presos em seguida. Condenado tragicaente a oito anos, Bragança da Cunha conhecerá a maresia e a humidade da famosa e triste prisão de Peniche.

19-VI. Carta de D. Manuel ao arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa, em 1508, a dar conta dos progressos dos Descobrimentos feitos por Tristão da Cunha, tal a libertação de cristãos na ilha de Socotorá: «posto que o não sejam perfeitamente, têm muitas coisas do conhecimento da nossa fé e têm-se por cristãos»; a entrega pelo rei de Onor dum porto de mar; e uma batalha perto de Calecut em que «entre os mouros mortos morreram 12 capitães d’El-rei de Calecut, os quais se afirma que antes de à peleja virem, votaram dentro em suas mesquitas de ou defenderem a terra ou morrerem; segundo o que fizeram, cumpriram bem o seu prometimento e como bons cavaleiros». Revela aqui uma consciência cavaleiresca notável, condigna do seu cargo de regedor e administrador da Ordem de Cristo, a sucessora dos Templários, que não tinham tido pejo de travarem relações amigáveis com os cavaleiros das fraternidades islâmicas.
De Aetatibus Mundi Imagines, de Francisco de Holanda.
Francisco de Holanda, mestre pintor, amigo de Miguel Ângelo e inspirado nas obras de Pico della Mirandola e Marsilio Ficino, morre em 1584. Protegido por D. João III e o infante D. Luís, e depois por D. Catarina, os seus desenhos mostram conhecimentos neo-platónicos e herméticos e provavelmente uma certa clarividência. William Blake será, já no séc. XIX, um pintor seu próximo, embora cultivando menos a geometria sagrada. No seu valioso tratado Da Pintura Antiga recomenda ao pintor a ascensão gradual do conhecimento pela geografia, astronomia e «alguma vez lhe cumprirá em toda a vida passar adiante acima do décimo e empíreo céu, e com Dionísio Aeropagita contemplar em casto espírito os nove coros dos angélicos espíritos e inteligências até chegar ali onde ardendo estão os serafins ante a primeira fonte e causa da pintura divina, que é o Sumo Deus, porque sem ele até esta altura chegar, nunca poderá chegar até esta Alteza nem será perfeito pintor dalguma obra celestial». D. João de Castro no seu Tratado da Esfera por Perguntas e Respostas explica que a morada das almas bem-aventuradas se encontra num «céu quieto e sossegado, livre de todo o movimento; este chamam os santos teólogos o céu empíreo, que quer dizer céu de fogo, não que seja inflamado com fogo, mas por que está sempre ardendo com grandíssimo resplendor». Curiosamente, Francisco de Holanda desenhara duas das bandeiras, certamente bem talhadas simbolicamente, que D. Sebastião contava desfraldar vitoriosamente na trágica jornada de África.
O advogado e poeta Nascimento de Mendonça deixa o mundo terreno neste dia em 1926, com 42 anos de vida, muito sofrida e altamente poetizada. Começara a publicar em 1902, e outro grande poeta indiano Paulino Dias admirara em sucessivas críticas jornalísticas «o eu feroz e irredutível» que perpassava no «ritmo memorável e macio» mas também «no desmembramento da ideia e da palavra». Em 1939, o seu filho Francisco fez publicar  o poema  Vatsulá, inédito até então, numa bela edição da Tipografia Rangel, em Bastorá, com proémio do ilustre médico Wolfango da Silva, e uma nota prévia sua, onde partilha a sua comovida admiração imensa pela beleza moral do seu pai. 
20-VI. Bula papal de Alexandre VI, em 1496, a pedido do rei D. Manuel, permite aos cavaleiros da Ordem de Cristo (a exemplo dos de Calatrava e Aviz) casarem-se, fazendo voto de fidelidade conjugal. Tanto se controlava a expansão sexual (embora no Capítulo e reforma de 1503 ainda se estipulará que nenhum Cavaleiro, Comendador, Freire ou Vigário tivesse manceba ou mulher com quem estivesse afamado), como se ampliava a Ordem para enfrentar as tarefas do norte de África e dos Descobrimentos. O número de comendas multiplicando-se (e muitas à custa dos franciscanos e de outras Ordens), passa a haver mais dinheiro para a Coroa. Na Ordem, uns poucos de freires têm funções religiosas e os mais numerosos comendadores e cavaleiros têm funções de poder e guerreiras. Com o tempo, as comendas e hábitos de cavaleiros passaram a ser apenas um sinal de provas dadas, senão uma mera recompensa, e já pouco a pertença a uma tradição.
Celebra-se o sínodo de Diampier, em Cochim, em 1599. Preside D. Aleixo de Meneses e estão presentes 158 sacerdotes e 800 delegados da cristandade de S. Tomé, ou seja, dos ritos sírios-orientais. O objectivo é reduzi-la à obediência de Roma. Mas o sucesso desta normalização, pressionada de fora, foi efémero e ainda hoje há cinco igrejas no Malabar de ligação aos patriarcas orientais. Já no 3º concílio provincial, em 1585, Mar Abraham arcebispo da Serra fizera profissão da fé romana, sendo-lhe exigido o mesmo dos seus fiéis. Mas também aqui, tal como na Etiópia, a resistência proveniente de longas tradições e do princípio racional da diversidade na unidade afirmou-se e a igreja do Malabar, que ao contrário do que padres e cronistas portugueses diziam, em poucos havia a heresia nestoriana (recusarem considerar Maria, mãe de Deus, Theotokos, e que a Divindade e a Humanidade de Jesus eram não só duas naturezas, mas duas pessoas), antes tendo sobretudo influências do cristianismo ortodoxo oriental (tal como os seus padres poderem casar-se), conseguiu sobreviver a todas as pressões e opressões dos portugueses, e manifestar ainda hoje a faceta interessante do cristianismo indiano pré-português.
A guarnição inglesa, com muitos luso-indianos e que se entrincheirara no forte Drake em Calcutá, neste dia em 1756, é obrigada a capitular perante o exército do sultão Suraj-ud-Daula, morrendo depois muitos, enquanto outros se alistarão nas tropas francesas de Chandernagore.

21-VI. O papa Bonifácio IX recebe em 1403 Abraão e Salibe, sacerdotes do cristianismo de S. Tomé, provenientes da Índia. A partir da possível vinda de S. Tomé à Índia, por volta do ano 52,  começou a formar-se uma comunidade cristã, apascentada por bispos de Alexandria e da Síria, na costa do Malabar e que se estendeu mesmo até Patna e o Sião, como foi descrito por viajantes isolados anteriores à chegada do cristianismo da Igreja católica de Roma trazido pelos portugueses. Uma certa fraternidade derivada da moral cristã e do génio português contribuiu para boas relações de amizade com  soberanos do Malabar e foi pena que não tivesse havido melhor entendimento entre o Cristianismo de Roma e o da Igreja Síria e Caldaica que era o da Índia, sobre princípios e práticas que na tão grande diversidade de ambientes não deveriam ser considerados por Roma imutáveis, tal o casamento dos sacerdotes, a comunhão das espécies, a concelebração, a língua diferente do latim (siríaco ou aramaico), altar no meio da igreja, ritos e liturgias especiais, curiosamente muitas práticas que acabaram por ser aceites ou adoptadas no século XX, a partir do Concílio Vaticano II.
Neste 21 de Junho de 1481, pela bula Aeterni regis clementi o Papa (de 1471 a 1484) Sisto IV atribui aos portugueses uma série de privilégios ou exclusividades na navegação, comércio, religião e evangelização, cabendo-lhes a jurisdição espiritual desde o Cabo da Boa Esperança até à Índia.

James Ross nasce em Aberdeen em 1759 e formar-se-á em Medicina e será cirurgião em vários navios e esteve na Índia de 1783 a 1797, data em que retornou a Inglaterra. De 1802 a 1831, quando morreu, foi membro da Royal Asiatic Society, tendo publicado em 1823 uma tradição da tradição persa bem valiosa: O Gulistão, ou Jardim das Rosas, de Saadi, com grande sucesso, pois foi impressa dezanove vezes entre 1823 e 1900. No prefácio explica ter estudado a língua persa e a obra de Saadi durante trinta anos, adquirindo um bom conhecimento sobre a racionalidade e a emotividade de Saadi, de modo que considera ter traduzido com fidelidade as suas riquíssimas kulliat, obras, contudo só o Gulistão virá à luz em inglês, do qual havia já uma tradução parcial francesa de 1634, da qual nasceu uma alemã em 1636, e uma persa latina, de George Gentius, em 1671. No começo do séc. XIX houve uma parcial em português, publicada no Brasil. Quando estive no Irão trabalhei na tradução de alguns versos, que espero ainda publicar.
Circular do Cabido de Goa, neste dia, em 1859: «Por estar continuando a laborar a cólera: primeiro, determina que até nova ordem cesse o tanger dos sinos (...) terceiro, permite fazerem-se nas igrejas preces e procissões penitenciais, contanto que não sirvam elas de infundir maior terror». Boa consciência do medo ou mesmo terror que certos actos, sons, sirenes de ambulâncias ou noticiários televisivos geram ou amplificam...
22-VI. Carta de Malaca do Padre Francisco Xavier para os irmãos jesuítas na Europa, em 1549, na qual, baseando-se nas informações recebidas do japonês Yajiro, baptizado em Goa como Paulo da Santa Fé, afirma o possível parentesco do budismo com o cristianismo pelas muitas semelhanças. Mas  esta posição comparativa foi mais tarde abandonada.
O P. Duarte de Sande, que deixou o Itinerário dos quatro Príncipes Japoneses mandados à santidade de Gregório XIII e de tudo quanto lhes sucedeu na jornada até se restituirem às suas terras, impresso em Macau, morre no Colégio da mesma nobre e muito leal cidade em 1600, depois de 22 anos de valoroso apostolado no Extremo Oriente.
A visão correcta do Sistema Solar, o Heliocentrismo, defendida antes de tempo por Galileu
Galileu Galilei (1564-1642) é obrigado a abjurar pela cúpula da Igreja Católica Romana:«depois de me ter sido intimado juridicamente pelo mesmo que abandonasse completamente a falsa opinião que o Sol seja o centro do mundo e que se mova, e que não pudesse afirmar, defender nem ensinar de qualquer maneira por voz ou por escrito, essa falsa doutrina, e depois de me ter sido notificado que a dita doutrina é contrária à santa Escritura, eu Galileo Galilei, abjurei, jurei, prometi e obriguei-me como está em cima e, em fé do verdadeiro, pela minha própria mão, subscrevi a presente cédula da minha abjuração e recitei-a palavra a palavra no convento de Minerva, neste dia 22 Junho de 1633». Ainda hoje no século XXI algumas autoridades políticas ou sanitárias, tal a União Europeia e a Organização Mundial da Saúde, oprimem e proibem as verdades que não lhes convêm nas suas maquinações  controladoras da Humanidade,
Imagem fidedigna oferecida pela família de S. João de Brito à Sé de Portalegre no séc. XIX.
Canonização do abnegado missionário lisboeta João de Brito neste dia 22 de Junho, de 1947. No processo de beatificação (proclamada em 1883) ainda teve que se declarar, algo que no século XXI já não faria sentido, que ele não aderira interiormente aos ritos e costumes indianos, mas só o fizera exteriormente para melhor se adaptar. Do seu grande amor à Índia, natural, humana e espiritual, testemunhará perenemente o seu dito: «Eu quero mais o céu que a terra, e mais os matos do Maduré que o paço de Portugal».
Nasce na zona de Bombaim o reverendo António Elenjimittan neste dia 22, em 1915. Apoiante da luta pela independência da Índia, detido dois meses em Inglaterra, dedicou a sua vida ao aprofundamento da unidade das religiões e fundou o Instituto para a Compreensão Inter-religiosa, em Monte Maria, Bombaim. Ao contrário dos que ensinam a necessidade de se começar cedo a olhar pela vida espiritual, dirá: «A religião, sendo a comida para a nutrição do Espírito interno, não é um prato já feito, preparado em qualquer cozinha e servido à mesa. É um impulso e necessidade vital que vem tarde na vida, depois de todas as vossas experiências com a vida social, política, prazeres e intoxicações falharem em levar-vos às margens da beatitude e das bênçãos». Algo importante de ser relembrado já que frequentemente praticantes ou mesmos instrutores e dirigentes não tem o amadurecimento psíquico suficiente e são mais egos vaidosos a agirem...

23-VI. Tratado de paz e casamento da infanta D. Catarina com Carlos II de Inglaterra, com entrega de Tânger e Bombaim no dote, com a condição dos ingleses receberem os vinhos e ampararem os vassalos portugueses dos ataques holandeses, em 1661, o que praticamente nunca fizeram. A hipótese da cedência do porto de Setúbal chegou a ser alvitrada pelos adeptos do V Império, ou V Monarquia, inglês.
                                        Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara – Wikipédia, a enciclopédia livre
Em Arraiolos nasce neste dia 23 de Junho de 1809 Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, notável médico e investigador. Servindo uma comissão em Goa, será um valioso estudioso da presença portuguesa na Índia, onde foi professor, bibliotecário e  secretário-geral do Estado Português na Índia. Foi o fundador e redactor de duas importantes revistas históricas e arqueológicas em Goa, onde publica doutamente centenas de documentos da história indo-portuguesa:  Archivo Portuguez Oriental (1857 e 1876) e o Chronista de Tissuary (1866-1869). Escreveu ensaios, livros, dicionários e gramáticas, destacando-se como pioneiro defensor e reabilitador da língua concani, a que se falava na província de Goa, e que ele considerava não um dialecto do marata, mas uma língua independente. Dirá: «No primeiro fogo da conquista derrubaram-se os pagodes, esmigalharam-se todos os emblemas do culto gentílico e queimaram-se todos os livros escritos na lingua vernácula, como convictos ou suspeitos de conterem os preceitos da idolatria. O desejo era exterminar toda a parte da população que se não convertesse logo, e não só era este o desejo então, mas ainda, passados dois séculos, havia quem com gravidade magistral aconselhasse ao Governo esta providência». Outra e bem mais luminosa era a sua receptividade, conforme testemunha a carta a Atmarama Chituis, de 1875, pedindo-lhe de empréstimo livros: «O meu desejo é instruir-me em tudo quanto toca às letras e à religião de vossos naturais e tais livros são, decerto, a fonte mais pura, donde se podem beber as notícias mais certas».

24-VI. As festas de S. João no Oriente: «Dia em que os vice-reis costumam festejar, e celebrar neste Oriente com vistosas, e aparatosas librés cortadas à mourisca, e bem ajaezados cavalos, o alegre Nascimento do Precursor de Cristo S. João Baptista». Além destas festas oficiais havia certamente saltos às fogueiras, idas às fontes, colheita de ervas e trovas de amor, tudo sinais solsticiais.
O cosmógrafo e humanista florentino Paolo dal Pozzo Toscanelli escreve ao padre Fernão Martins neste dia em 1474 pedindo-lhe que recomende ao rei D. Afonso V a viagem até à Índia pelo Ocidente.
Duarte Pacheco Pereira impõe-se definitivamente, em 1504, ao rei de Calecut, libertando o rei de Cochim do assédio daquele. Como reconhecimento dos seus feitos e honra, recebe de Trimumpara, rei de Cochim, um novo brasão, com armas em campo roxo para significar o sangue derramado, sinal de grande amizade cavaleiresca, como realça a distinta historiadora goesa Selma Vieira Velho, precocemente partida para o Oriente eterno. O seu livro e roteiro Esmeraldo de Situ Orbis será muito útil aos pilotos e capitães na rota para a Índia. É a Duarte Pacheco Pereira e à cooperação do rei e dos habitantes de Cochim que se deve em grande parte a permanência inicial lusa em território indiano.
D. João de Mascarenhas capitaneia a segunda famosa defesa de Diu em 1546 e neste dia morre o comandante das tropas turcas, Coge Cofar, italo-albanês islamizado, mas a batalha só finda em Novembro.
Naufrágio em 1552, escrevendo o guardião da nau e sobrevivente Álvaro Fernandes a História da muito notável perda do galeão grande S. João em que se recontam os casos desvairados, que acontecerão ao Capitão Manuel de Sousa Sepúlveda, e o lamentável fim, que ele, sua mulher, e filhos e toda a mais gente tiveram, já em terras africanas. A dado passo interrogar-se-á se tais acontecimentos eram devidos às más acções passadas, ao karma: «Qualquer pessoa que de cima daqueles montes nos estivesse olhando, posto que bárbaro e criado na concavidade daquelas desabitadas serras fora, vendo-nos ir assim nus, descalços, carregados, estrangeiros, perdidos e necessitados, pascendo as ervas cruas, de que ainda não éramos abastados, pelos vales e outeiros daqueles desertos, alcançara sermos homens que gravemente tínhamos errado contra Deus, porque, a nossos delitos serem daqui para baixo, sua costumada clemência não consentira tão áspero castigo em corpos tão miseráveis».
Uma armada de 17 navios holandeses e 2 ingleses desembarca em 1622 na praia de Cacilhas um forte contingente de assaltantes que são contudo derrotados completamente pelos defensores de Macau, onde se destaca o jesuíta Rhó, dum alto escol não só religioso e governamental, como até guerreiro...
Neste dia 24 de Junho de 1916 Fernando Pessoa escreve a sua famosa carta à tia Anica onde faz o seu valioso auto-diagnóstico espiritual no qual descreve alguma escrita automática, e que «consultei um amigo meu, ocultista e magnetizador (uma criatura muito curiosa e interessante, além de ser um excelente amigo)» e «que estou desenvolvendo qualidades não só de médium escrevente, mas também de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam «a visão astral», e também a chamada «visão etérica». Tudo isto está muito em princípio, mas não admite dúvidas». Com o tempo, e as limitações em que se deixou enredar, esta clarividência diminui ou secou mesmo, para a sua tristeza certamente...
O advogado e poeta goês Nascimento Mendonça em 1926, apenas com 42 anos mas de boémia intensa, acolhe serena e anterianamente a hora da grande viagem, vendo-a não pateticamente mas como a libertação ou ressurreição espiritual, na tradição não só indiana como na de Antero de Quental, certamente um dos seus poetas preferidos: «Deixá-la vir, a Morte / Sombra de Deus na Dor, / Deixá-la vir a Morte, Mãe do Infinito Amor». O poeta Paulino Dias, no jornal Debate, 1913, apontou-lhe uma certa «paixão mórbida pela dor». 

25-VI. Mestre Martim Afonso, cirurgião, parte de Ormuz, por espírito de aventura e com cartas do ex-governador do Estado Português na Índia e do capitão de Ormuz, numa cáfila (caravana de camelos) para o Cairo em 1565, na via mais longa através da Pérsia, Arménia e Turquia, e chega a Lisboa ao fim dum ano, escrevendo o seu Itinerário «para não arribar a Portugal sem saber dar razão do que passara, que é um grande descuido de homens, que fazem semelhantes viagens e não as escrevem». Graças a Deus muitos de nós tiverem presente tal recomendação, ainda que frequentemente tais registos fiquem inéditos ou mesmo se percam...
Rammohan Roy (22-V-1772 a 27-IX-1833) funda neste dia  em 1828 o Bramo Samaj, movimento religioso de adoração ao Deus único impessoal, Brahman, e de intenso serviço à comunidade, Samaj. Atrairá Devendranath Tagore (o pai de Rabindranath Tagore), Keshub Sen (grande amigo de Ramakrishna) e outros, e exercerá influência decisiva no chamado Renascimento da Índia, que contribuirá para a futura independência, ao reafirmar a herança nacional teísta, filosófica e devocional perante o emaranhado de superstições e ritualismos, ao complementá-la com a religiosidade e modernidade cristã e ocidental, e ao infundir-lhe um espírito de fermentação activo capaz de responder às necessidades do momento presente. Nesse sentido foi um grande lutador contra a poligamia, o dote, a morte na pira da viúva (sati), e a favor da liberdade individual e da imprensa. Na linha de Asoka, Akbar e Dara Shikoh, Raja (ou Rei, título recebido quando foi enviado pelo imperador mogol Akbar II a Inglaterra em 1830) Rammohan Roy foi um dos pioneiros do reconhecimento da unidade Divina substante às diferentes religiões e para isso se preparou com o conhecimento das línguas e das escrituras sagradas do hinduismo, cristianismo e islão. A sua vida foi uma constante batalha política justiceira e libertadora, exigindo dos ingleses, sempre demasiado gananciosos, que não levassem tanto dinheiro para fora da Índia, e ainda literariamente criativa, com dezenas de panfletos e livros publicados.
26-VI. O impressor e escudeiro real Valentim Fernandes, morávo e desde 1495 em Portugal, ano em que imprime o famoso e belo incunábulo Vita Christi, escreve para o seu compadre Estêvão Glaber, em Nuremberga, neste dia 26 em 1510, relatando as últimas novidades da Índia em relação a Afonso de Albuquerque, a morte do vice-rei D. Francisco de Almeida e pede-lhe obras científicas e um bom astrolábio. O Livro de Marco Polo, trazido de Veneza pelo infausto infante D. Pedro das Sete Partidas, com outras duas relações de viajens, publicado em 1502, foi uma das suas obras ligadas aos Descobrimentos e em 1518, um ano antes de deixar a Terra, publicará o quase eterno Repertório dos Tempos, com tabuas náuticas que servirá posteriormente para a navegação e para os almanaques e bordas do céu.
Fernão Lopes Castanheda narra-nos que António Galvão ouvindo em 1537 novas da receptividade de Celebes «folgou muito, assim por se alargar nela a fé de Cristo, como para os portugueses fazerem o seu proveito» e mandou lá um cavaleiro Francisco de Castro e «lhe deu um regimento que assentasse amizade com os reis daquelas terras e trabalhasse por se tornarem cristãos, para o que lhe deu muitas peças que lhes desse de presentes e que tudo fosse por bem. E despachado Francisco de Castro, partiu de Ternate em Maio e aos 26 de Junho chegou a uma ilha dos Celebes, chamada Chedigão (...) cujo rei e povo eram gentios, e assentou logo amizade com el-rei, vendo-se no mar, e ambos sangraram os braços, e um bebeu o sangue do outro, e de aí a poucos dias se fez el-rei cristão».
Em 1561 Francisco Pizarro morre estrangulado pelos partidários de Almagro, culminando as dissensões espanholas nas Américas. Um dos povos que mais sofreram com a expansão espanhola, os Maias, com uma sabedoria ainda hoje misteriosa e encerrada nos seus glifos, disseram dela: «Os deuses brancos vindos do céu, ensinaram o medo... Não havia neles Alto Conhecimento, Linguagem Sagrada, Ensinamento Divino. Castrar o Sol, isso fizeram os estrangeiros». 
Neste dia 26 de Junho chegam à margem fresca do rio de Agra, na Índia, em 1631, e despedem-se, o P. Francisco de Azevedo e o P. Mateus de Paiva. E com o irmão leigo Manuel Marques, que já viajara com o P. Andrade em 1624 ao reino tibetano de Guge, o Padre Azevedo parte para Chaparangue no Tibete ocidental onde chegará «como fruta em cesto aos 25 de Agosto, tão moído e magoado dos pés que me não pude servir deles por mais de vinte dias». Na viagem admira, tal como eu admirei na peregrinação imemorial às nascentes, «o afamado Ganges tão venerado de toda a gentilidade como buscado de muitos e muitos centos de léguas para se livrarem neles das suas culpas (...) e na corrente tão manso por estes campos como pelos de Coimbra o nosso Mondego». Era o rio Ganges ou o arquétipo rio da vida e do amor, a correr na sua imaginação em Portugal (tal como Fernando Pessoa escreverá 300 anos depois no Livro do Desassossego, "o rio Ganges também passa pela rua dos Douradores"), e as romarias e peregrinações ibéricas a acenarem-lhe na doce e vibrátil saudade viva. Os Himalaias também o enchem de júbilo: «São tantas as serras neste sertão da Ásia que parece que nele depositou o autor da natureza o maior número e peso delas... São estas serras um perene tesouro de toda a casta de mantimentos, um pomar de todas as frutas, um formoso jardim de uma infinidade»... Himalaias, o altar mais elevado da Terra, mas também tantas montanhas sagradas por Portugal e o mundo fora onde o ser humano se pode elevar acima da mediania e superficialidade e comungar com as dimensões infinitas do Cosmos e do Divino, renovando-se, transformando-se, inspirando-se...
Os Himalaias vistos espiritualmente pelo mestre alemão Bô Yin Râ.  
  Neste dia 26 de Junho de 1947 os três orientalistas Louis Renou, director do Institute de Civilization Indienne, Paul Masson-Oursel, especialista no comparativismo religioso e Alfred Foucher acolhem e apresentam (os dois últimos) no Instituto, da Universidade parisiense da Sorbonne, o swami Siddheswarananda, da ordem de Ramakrishna, que começa a dar um curso semanal sobre a religião, a filosofia e a espiritualidade indiana, em especial a partir das Upanishad, que ele virá a traduzir para francês e publicar.
 27-VI. O vice-rei D. Francisco de Tavora, 1º conde de Alvor, em alvará de lei de 1684, para que a língua portuguesa fique sendo para todos a comum e não mais falem a materna, proíbe esta no prazo de três anos sob pena de «demonstração e severidade do castigo, que parecer». Estimula os matrimónios porque «no ajustamento do casamento entre os naturais e os brancos se concilia mais o amor entre todos e na propagação que é o fim do matrimónio se multiplica o número de gente de que tanto se carece para o meneio das armas e defesa destas terras». Já aquando da sua actuação como Governador do Estado Português em Angola apenas com 22 anos de idade, foi chamado o menino prudente pela sua acertada administração de oito anos. No seu vice-reinado na Índia, por causa dos ataques de Sambagi, resolveu construir uma fortaleza em Angediva, melhorar a de Rachol, edificar três fortes em Colvale e Tivim e começar a transferência da capital para Mormugão devido à insalubridade do clima, responsável por não pequeno número de mortes, sobretudo de mulheres e crianças europeias desconhecedoras da adaptação apropriada de modo de vida, alimentação e medicamentos. Daí talvez também o apelo aos casamentos, à maior fusão dos dois povos, impossível contudo pela ignorância, alheamento e repressão de aspectos importantes da civilização indiana, em grande parte pelos preceitos religiosos colonizadores.
Jean Herbert nasce neste dia 27 de Junho em 1897 em Genebra, Suíça, e será um dos mais notáveis orientalistas de língua francesa, conhecendo muito bem tanto a tradição espiritual e cultural indiana como a japonesa, com obras de alta qualidade, vivendo, apesar ou pelas cachimbadas de  paz e inspiração, 83 anos bem luminosos. Podemos mesmo dizer que a sua obra Aux Sources du Japon. Le Shinto, de 1964, é das melhores sobre tal primeva religião. Relembra-nos que «a primeira Divindade (kami) citada pelo Kojiki é Ame-no-minaka-nushi-no kami, o kami mestre do centro do céu e que se bem que o Shinto oficial não lhe dê grande atenção, o seu culto tem uma importância considerável para a maior parte dos grupos místicos»

28-VI. Fernão Rodrigues de Castelo Branco, Vedor da Fzenda e Governador, na ausência de D. Estêvão da Gama, o Governador da Índia portugues, em 1541, e sendo presentes Krishna, tanador-mór, e vários bramanes principais, decide aplicar as rendas dos terrenos das gãocarias ou comunidades tradicionais goesas e que tinham sido desafectadas dos templos hindus destruídos, para manter  ermidas, dar esmolas aos cristãos naturais e criar uma confraria, com mordomos, da Conversão da Fé, de que resultou o Seminário da Santa Fé, e um colégio, que foi denominado Colégio de S. Paulo, por haver na respectiva igreja um quadro da conversão de S. Paulo.
 Heróica defesa de Chaul em que os portugueses capitaneados por Luís Freire de Andrade vencem as tropas muito mais numerosas do Nizâm-ul-Mulk em 1571. Simultaneamente D. Luís de Ataíde vencia em Goa os exércitos do Âdil Khân (sultão de Bijapor). Eram os tempos da máxima pujança guerreira, defensiva e expansiva dos portugueses, então bem liderados, mas a mortandade de Alcácer Kibir, a anexação à Espanha e os ataques dos holandeses e ingleses  apressaram o retalhar da túnica imperial que por momentos o reino português assumiu enquanto rei de reis e animado por uma concepção do mundo em que o poder temporal e o espiritual estariam unidos no mesmo centro e visando a possibilidade da evangelização e unificação de vários reinos. Mas não estava nem porventura estará nos desígnios divinos a uniformização dos credos, ritos, governos, interesses, e muito menos de modo violento. Assim as sincronias guerreiras deverão hoje ser substituídas pelas psíquicas e inventivas, e as sínteses brilharão se feitas a partir do reconhecimento da complementaridade das diferenças, e da vivência da fraternidade humana, da multipolaridade do planeta e da unidade divina, subjacentes a toda a diversidade. Algo muito importante de relembrarmos face às  tentativas de uma nova Ordem Mundial que organizações desumanas e corruptas começaram a erguer no século XXI, não recuando perante nada, pois nem pessoas, nem ética, nem espiritualidade nem Divindade para tais dirigentes contam ou existem.
Tendo os maratas ocupado a fortaleza de Pondá, em resposta à política desconfiada e infeliz do vice-rei D. Luís Mascarenhas, conde de Alva, este resolveu atacar mas, embora estivesse quase a vencer, a chuva forte causou a derrota dos portugueses e a sua morte, neste dia em 1756. Uma carta dum oficial marata da época relata o sucedido: «Os portugueses vieram atacar-nos. A nossa gente estava com medo. Mas graças ao meu Senhor, tudo o que era contrário tornou-se-nos favorável, e os portugueses sofreram derrota. O próprio vice-rei foi morto. Tanto o estandarte como a banda de música do inimigo foram tomados. Não sei o que vai ser para o futuro. Nunca tínhamos derrotado assim os portugueses». Nesta época os portugueses eram cada vez mais acossados pelos maratas, que recebiam por vezes até o apoio ardiloso dos ingleses...
29-VI. Palestra mística em noite clara na viagem para Cabul neste dia em 1581 entre o imperador Akbar e o corajoso missionário catalão António Monserrate, depois deste ter apontado num mapa as posições relativas de Portugal e da Índia. Como sempre o tema era a comparação dos ensinamentos das várias religiões, a partir da qual o sábio e místico Akbar estava a iniciar a sua nova religião, Din-i Ilahi, a religião divina...
A Din-i Ilahi,  دین الهی‎‎, a Visão Divina ou o Divino Monoteísmo, ou a Religião de Deus, é proclamada no começo de 1582, com o abandono do Islão. Mas as pessoas não estavam ainda preparadas para na verdade atingirem os níveis profundos e superiores donde brotam todas as religiões (ainda que aqui tingidos pelo engrandecimento de Akbar), e que são a herança a reclamar por todo o ser humano quando se despir das suas ilusórias identificações, opiniões e crenças, e realizar a sua natureza própria e a de Deus. Nem os padres, nem os ulemas apoiaram o universalista Akbar, e na realidade os germéns da unidade das religiões só com muita dificuldade é que vão crescendo neste mundo ainda tão apanhado em formas ritualisticas e concepções religiosas em certos aspectos muito ultrapassadas pelas necessidades, conhecimentos e estados conscienciais individuais e colectivos da Humanidade.
A venerável Madre Brízida de S. António, uma das ascetas e místicas portuguesas de quem nos ficou a vida detalhada da sua demanda de Deus, parte a 29 de Junho para o mundo espiritual, em 1665, já com 78 anos. Também na Índia a tradição de mulheres rishis, poetisas-videntes, yoginis, eremitas ou não, vem dos remotos tempos védicos, e ainda hoje as há muito veneradas. Entrando no caminho espiritual muito cedo, foi agraciada por muitos dons, entre os quais os proféticos, e foi abadessa do Convento de Santa Brízida das Madres Inglesas, no Mocambo, em Lisboa. Foi discípula do venerável Padre António da Conceição, para o qual desejava a beatificação, e com quem tinha colóquios mesmo depois de morto, mas que acabou por não ser apoiada por Roma. Conseguira atingir ou sentir no «seu coração uma grande quietação e suspensão natural». Era mestra espiritual e poetisa, como nos escreveu a sua companheira a Madre Sor Francisca da Conceição, porque «todas as suas palavras pareciam brasas que queimavam os corações, embora às vezes ficava tão suspensa que não podia pronunciar nem uma só palavra. E com tão grande fervor era isto, que para a aliviarmos, lhe pedíamos que cantasse. E como não desejava outro alívio e desafogo, principiava a cantar os seus acostumados versos». Deixou-nos então alguns poemas e recomendações bem valiosos e pode ter conhecido a existência da Madre Maria do Lado, do convento do Louriçal, terminando um dos seus poemas de algum modo sintonizando com ela, pois o mesmo imenso amor por Deus e pelo mestre Jesus as inundava: 
"Minha alma se esconde toda// Na chaga do costado,// Para que abrasada, seja// Cinzas do Amor Santo.
Aqui estou, como cadelinha,// Ante a mesa do amo// gemendo pelas migalhas, // que lhe caem das mãos.
Do seu ensinamento experimental lembremos como ela sentia e via as revelações de Deus, que eram descobrimento de verdades ao entendimento, sendo as noticias «sentindo altissimamente de algum atributo, como de sua omnipotência, ou de sua fortaleza, de sua bondade, ou de sua doçura»... Por vezes estas notícias amorosas são como toques e provocam estremecimentos, outras vezes «vem no espírito, sem estremecimento algum, com súbito sentimento de deleite, e refrigério no espírito.» Na sua correspondência, costumava dizer: «que o Divino Espírito more sempre na sua alma» ou ainda que «Jesus nos embebede do seu dulcíssimo amor até nos vermos com ele no Céu. Amen, amen, amen...». Nascera a 28 de Janeiro de 1576, em Lisboa e os seus pais eram de Abrantes e foi ou é uma das mestras da Tradição Espiritual Portuguesa...
30-VI. Uma provisão do vedor da Fazenda em Goa, pela ausência do governador D. Estêvão da Gama, determina a destruição dos templos indianos neste dia em 1541. Em 1546 serão proibidas as festividades, em Março de 1550 nova ordem de destruição dos templos indianos e em 1557 proíbe-se  participação de não-cristãos em cargos públicos. Era o crescendo fatal da repressão religiosa e da incompreensão dos valores do hinduísmo, ignorância esta responsável por muita desgraça e mal. Ainda algumas individualidades tentarão inverter a marcha dos acontecimentos, mas a intolerância triunfava em maior escala.
Provisão do vice-rei D. Constantino de Bragança de 1570 proíbe (aliás Afonso de Albuquerque logo o fizera) a mulher gentia de se queimar viva, a satti das viúvas, uma das poucas medidas acertadas pois tratava-se duma lei cruel do Código de Manu (obtida tardiamente por uma alteração de palavras e numa orientação algo machista e de magia negra), e na maior parte dos casos não desejada pelas viúvas, ainda que as limitações na vida que levariam fossem pesadíssimas. Contudo D. Constantino também mandou queimar, com grande pesar dos budistas, uma relíquia de um dente de Siddhartha Gautama, o Buddha. E entretanto a Inquisição queimava almas e corpos...
O inquisidor-mor Veríssimo de Lencastre absolve em Lisboa o médico francês Charles Dellon em 1677, reconhecida «a injustiça e a ignorância dos inquisidores de Goa». Teria dito que o baptismo do espírito é que interessa e que Deus, estando em toda a parte, não residiria especialmente nas imagens. Dellon, regressado a França, não descansará enquanto não espalhar por toda a Europa, na sua História da Inquisição, como Deus não podia estar com tanto fanatismo.
Nasce em Colmar, França, neste dia em 1842 Léon-Joseph de Milloué e que será um orientalista valioso, bibliotecário, conservador e depois director do famoso Musée Guimet, deixando-nos alguns livros bem argutos sobre as religiões da Índia e do Tibete. A sua visão evolutiva era a de que, partindo dos Vedas, compostos de hinos em honra de deuses, pouco definidos, muito ligados aos sacrifícios e ao fogo ritual, e nos quais a imortalidade da alma é reconhecida apenas implicitamente ao crer-se que os antepassados e os sábios (rishis) habitam no sol, planetas e estrelas, passou-se depois para a época da Bramanas e Upanishads na qual a alma individual é já vista como uma partícula da alma universal e as leis divinas e humanas são discernidas, surgindo as hierarquias dos deuses e as castas e, por fim, desaguou-se no Hinduísmo, com as sastras, as puranas, e onde as tendências panteístas se afirmam face às do politeísmo, que declina, dada à preponderância de Shiva e de Vishnu sobre os outros deuses, e «elevando-se pela potência de raciocínio e a pureza da ideia até a uma concepção quase perfeita da Divindade, do Infinito. O seu Deus é eterno, infinito em tudo, bom, todo poderoso, presente em tudo e através de tudo, fonte de toda a vida e de toda a inteligência, mestre supremo do mundo, sem igual, único.» Quanto ao Jainismo, dirá com originalidade que preparou as vias para o Budismo, e que quando este foi perseguido recebeu no seu seio muitos budistas, destacando ainda a sua acção crítica das castas e das concepções de Deuses todos poderosos, face a um cosmos sujeito a leis invariáveis e eternas que regem a sua matéria e das quais só o ser sábio ou realizado se liberta. Consagrei a Milloué um artigo neste blogue, acerca do que ele discerniu no culto a Shiva, o Auspicioso.
Nasce em Zurique em 1904 o P. José Wicki, infatigável pesquisador e editor de textos dos Descobrimentos e da Missionarização, entre os quais se destacam os 15 volumes dos Documenta Indica, de reedição bem necessária, onde avultam páginas de grande fé, devoção e até diálogo intereligioso, hoje cada vez mais uma realidade não só nas sociedades como na psique humana, consciente ou inconscientemente, na crescente unidade planetária e procura da Verdade...
Lizelle Reymond nasce neste dia de 30 de Junho de 1899, na Suíça  e viverá muito dedicada às sabedorias do Oriente até 1994. Foi bibliotecária, casou-se com Jean Herbert, e com este orientalista dirigiu  a colecção Les Trois Lotus onde publicaram obras de, ou sobre, Ramakrishna, Swami Brahmananda, Vivekananda, Sri Aurobindo, Sri Ramana Maharishi, Gandi, Rabindranath Tagore, Swami Randas, Swami Ramdas, Nolini Kanta Gupta, Swami Dyananda Sarasvati, Jean Herbert, Raihana Tyabji, Swami Paramananda, etc. Ao separar-se de Jean Herbert em 1947 parte para a Índia e colabora com a Ordem de Ramakrishna, encontrando mais tarde o mestre Sri Anirvan, da tradição Samkya, com quem vive quatro anos nessa vila sagrada de Almora, já próxima dos Himalaias, descrevendo essa aprendizagem em La Vie dans la Vie. Sobre sri Anirvan e ela escrevi alguns artigos neste blogue. Regressada a Genève vai colaborar e divulgar o ensinamento de Gurdjieff. E a partir de 1965 o Tai Chi, este através do seu mestre Dee Chao. Na obra em co-autoria com Jean Herbert, Études et Portraits, onde trata de Ramakrishna - Ramadas -Tagore - Nivedita - Ananda Moyi - Krishnabai - Femmes de l' Inde - La Gita - Ganesha - La Méditation, valorizará muito o ensinamento de Ramakrishna «pela extrema amplidão de vistas manifestada na sua concepção da liberdade total que todo o ser humano deve desfrutar para escolher as conexões metafísicas, o Deus, a relação entre ele e Deus, o yoga, a religião, o modo de vida e o guru que lhe convém.» Realçará ainda o ensinamento que cada um de nós tem de descobrir o seu "Deus Vivo", tal como o mestre Bô Yin Râ também ensinou, dizendo-nos: «O Deus da sua eleição, Ishta, uma vez escolhido, incarna para o seu adorador, todos os poderes, todas as perfeições, todas as supremacias.... É para Ele que devem ser doravante dirigidas toda a aspiração, toda a adoração do sadhak», ou seja, do salik ou peregrino, a pessoa que está numa sadhana, numa via e prática espiritual.... 
Boas aspirações e comunhões juninas!

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