segunda-feira, 26 de junho de 2017

Da Comunhão do Livro e do Campo Unificado da Tradição Cultural e Espiritual.

Os livros, ao serem manuseados e lidos, transmitem-nos certas vibrações e informações, gerando  ideias e  emoções, risos e lágrimas, orações e acções.  Todavia, para eles entrarem e permanecerem em nós precisam mesmo de ser bem lidos e até anotados e relidos, para que haja a osmose ou absorção suficiente. Quando sabemos de cor o seu conteúdo, ou algumas frases ou imagens, podemos dizer que tendo entrado em nós não saíram, ficaram e se forem postos em acção, se ecoarem em nós de quando em quando, então frutificam mesmo.
Um amante de livros, ou da sua sabedoria, pode começar o dia escrevendo algum ensinamento dos sonhos ou lendo algum trecho de uma obra mais amada, e todas as noites antes de adormecer pode abrir um livro ou lembrar-se de  algum ensinamento, e sentir, aprofundar e até adormecer com tal ligação, bússola da verdade na confluência dos oceanos oníricos...
Não há ainda máquinas que  fotografem ou filmem no nosso interior, seja cerebral seja anímico, o percurso e os efeitos de um livro ao longo dos sucessivos momentos da sua relação connosco: desde que o vimos numa estante ou banca e o pegamos pela mão e o desejamos ou quisemos e gostamos e trouxemos, lemos e meditámos, e sobre ele escrevemos, dialogamos ou sonhámos. E depois os efeitos que foram sendo gerados em nós, a sua durabilidade  e os actos, sentimentos e pensamentos que fizeram surgir e irradiar...
Ah, esses livros que são como um Sol dentro de nós, que em quase todas as páginas irradiam luz e amor, força e harmonia e nos fazem bem multidimensionalmente e plenificam são poucos e frequentemente estamos até dispersos e quase incapazes de saborearmos e assimilarmos tal desvendação e visitação graciosa.
Em verdade a grande maioria dos livros não consegue reunir tais requisitos e mesmo as Sagradas Escrituras das várias Religiões têm muitas páginas de violência, de sombra e de exagero propensas a criar mais barreiras e divisões entre os seres...
Por vezes num livro de cem páginas só há luz para se captar em duas ou três delas, as mais valiosas para nós, donde nascerá talvez um acto,  uma meditação, uma nova compreensão, impulsão e intuição anímica, ou então algumas linhas de escrita original, que nos satisfaz e coopera na demanda do Graal do Bem comum, filiada nesse livro e autor...
Ah, as filiações anímicas e espirituais dos livros e das pessoas que vão passando ao longo dos séculos, por vezes intensificadas pelas anotações, as assinaturas, as dedicatórias, e que podem causar, quando estamos a ler e a pensar num sentido ou direcção, nem sequer suspeitarmos das forças e seres que estão a contribuir para tal...
Neste ler, dar as mãos e avançar somos todos gigantes em relação ao passado, pois estamos sentados ou erguidos sobre os que nos antecederam e tantas são embarcações de escrita deixadas para a nossa navegação que a eles devemos dar muitas graças, com alguns mesmo cultivando uma fidelidade mais amorosa, dentro das tais afinidades electivas das quais nem sabemos bem as suas dimensões, cores e repercussões mas que nos levam, em comunhão maior ou menor com eles, a ler, a meditar, a escrever e a criar, saindo da sombra e do mistério para mais luz e verdade...
Na realidade, por detrás, acima ou num certo nível interior do livro e para além dos pensamentos e sentimentos potencialmente nele contidos, e que nos podem levar a fazer as associações  que nos plenificam, está  o autor e mesmo a sua filiação nos que o inspiraram, ainda que por vezes num livro anónimo nem sequer a identidade do autor nos seja conhecida e só no campo unificado das visões e dos sonhos poderemos intuí-la.
Esta continuidade de elos de escritores e escritoras é verdadeiramente uma traditio, uma passagem de testemunho e por isso se fala na Filosofia Perene e, por exemplo, na Tradição cultural e espiritual Portuguesa, que perpassa neste  aqui e agora, na língua e no ser dos que a cultivaram com mais profundidade, brilho e eficácia anímica e que nós comungamos, saudamos e invocamos.
No fundo, os livros são um desafio libertador a que, por entre as milhares de fontes de informação que a todo momento nos rodeiam, e das quais muitas são de desinformação e de ruído político ou desportivo, por entre as centenas de pensamentos e sentimentos que possamos ver gerarem-se em nós, saibamos tanto sentir ou pensar, ler ou escrever o que é o luminoso e certo como sobretudo despertar mais o nosso próprio Ser, que jaz em geral semi-abafado ou semi-soterrado  sob as dispersões e alienações, desilusões e ferimentos, perdendo assim a nossa personalidade espiritual a sua inata capacidade de se expandir e de comungar com o ser luminoso dos outros autores, leitores e ideias-forças ou psicomorfismos justos.
Quando a consciência do corpo subtil, místico ou universal de uma obra, autor, linha de investigação ou ideia se torna presente ou circula sentidamente em quem está a ler, a pensar, a escrever e isso o faz aprofundar e axializar ou verticalizar o seu meditar, sentir e ser, então o milagre da Unidade é mais realizado, e as intuições, sincronias e clarificações acontecem, e podemos dar graças e irradiar mais auto-consciência, luz e amor para além de todo tipo de distâncias e aparentes obstáculos.
Como os livros (e hoje em dia também os écrans dos computadores) são veículos tão especiais e meigos ou ductéis da transmissão do pensamento e da alma, permitindo-nos a comunhão com outros seres ou espíritos, devemos então volta e meia parar e sondar que pessoas nos vêm ao pensamento, incarnados ou desincorporados, e portanto quem possa estar também de certo modo subtil a ler connosco ou a receber um eco do que vamos gerando e iluminando, ou até inspirando-nos...
Um caso muitíssimo mais raro da relação entre um livro, ou  um escritor, e quem o lê resulta do facto dos campos de força que se estabelecerem serem tão afins ou ressoantes que  o ser que escreve está a dialogar intimamente com alguns dos seus leitores ou leitoras, seja no momento original seja sempre que tal for lido.
Assim o que eu posso intuir ou mesmo referenciar invisível ou metaforicamente enquanto escrevo  só uma alma muito próxima e intuitiva é que conseguirá discernir:  quando ele escreveu estas duas linhas anteriores pensou em mim, ou quis transmitir-me isto. 
E tais linhas ficaram redigidas como invocação ou co-criação nas entrelinhas subtis ou dimensões da escrita, as quais escapam-nos ainda tanto ou que ninguém quase consegue ler. Assim, em certos casos, uma pessoa é também autora do livro, musa e destinatária, respirando o mesmo sopro criativo e amoroso.
Ah, os milagres da Unidade, os segredos da escrita criativa e unitiva, espiritual, clarificadora, amorosa, iluminadora e libertadora, gerando frequências vibratórias subtis que atraem as correntes e as bênçãos dos seres celestiais e subtis, dos humanos e animais que ressoam com tais energias conscienciais...
Nas Três Graças, para mim, para ti, para nós, em nós, na adoração Divina...

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