quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Soror Mariana do Rosário, clarissa de Évora: no aniversário da sua libertação da Terra a 16 de Outubro de 1649, em Évora.

 Os Desposórios do Espírito celebrados entre o Divino Amante, e sua Amada Esposa, a venerável Madre Soror Mariana do Rosário, Religiosa de Véu Branco no Convento do Salvador da cidade de Évora, composto por Frei António de Almada, Religioso dos Eremitas de Santo Agostinho na Província de Portugal, jubilado na Sagrada Teologia, foi dado à luz em Lisboa em 1693 e reimpresso em 1766, e transmite-nos bastantes aspectos da meritória vida da soror Mariana do Rosário, que em  Évora brilhou fulgurantemente como resiliente alma face às dores e como mística ardente na união ao espírito e ao Divino e mestra de noviças nas vias espirituais. O Padre Mestre Francisco de S. Maria, no seu incontornável Anno Histórico, Diário Português, noticia abreviada de pessoas grandes, e cousas notáveis de Portugal, de 1744, consagra-lhe uma breve mas bem suave notícia, onde diz: «Mariana do Rosário, natural de Évora, Religiosa leiga do Mosteiro do Salvador da mesma cidade. Cresceu tanto em virtudes, e participou tantas luzes da Terra, que foi assombro daquele sempre religiosíssimo Convento. Depois de padecer com grande humildade, paciência e resignação gravíssimas enfermidades, securas, participou nesta vida muitos favores soberanos. Predisse muitas coisas, que todas se verificaram. Obrou Deus por ela evidentes milagres, e não foi o menor escrever a sua vida, por mandado do seu director espiritual, sem saber ler nem escrever. Faleceu suavissimamente neste dia [16], ano de 1649».
Começara aos dez anos (nascera a 4 de Abril de 1615) a ter oração mental sem ser ensinada, mas será bem mais tarde que passará da oração à contemplação. Foi aos 18 anos que professou, mais exactamente no dia 10 de julho de 1633 e que alegria imensa sentiu por se consagrar plenamente a Deus e ao mestre Jesus. Embora curta a sua vida, e sofrida de muitas penitências e enfermidades, desenvolveu as virtudes e dons e foi  favorecida por um permanente estado abrasado de amor e por constantes graças divinas, tais como visitas do seu "Esposo" e transportes a planos ou estados subtis e intensificados de consciência. 

Monja da ordem do Santo Espírito. Que Ele nos ilumine e aumente o nosso discernimento.

 Foram na realidade apenas trinta e quatro anos de vida florescida na Terra mas dezasseis deles iluminando as suas condiscípulas sorores clarissas do convento do Salvador em Évora, com as suas virtudes e dons, alguns inatos, como ela nos conta:«de dez anos comecei a ter oração mental, sem alguém me ensinar mais que as inspirações divinas, e tomar Deus esta alma à sua conta (...)  e considerava com gosto que não cansava cansar-me nem afligir-me por amor de Deus "». Hoje estranharemos esta aspiração a Deus tão intensa e precoce, pois estamos tão cheios de informações, conhecimentos, posses, prazeres e capacidades, que conseguirmos arder de amor por Deus é algo muito raro, apenas uma ou outra alma mística o alcança, pois cada vez menos se encontram os apoios de ambientes familiares, escolares e sociais propícios, já que a sociedade post-moderna ocidental tende a manipular, desidentificar, despiritualizar e massificar as pessoas. 

Soror virtuosa e mestra de noviças, atribuía o mérito ao Senhor pois «para isto me ensinou este Senhor duas coisas ou ciências, que me servem, e servirão de grande proveito: uma delas foi ler no Livro das Criaturas, onde aprendi a mais alta ciência, que se pode imaginar; a segunda foi fazer conta que aquela era a última hora da minha vida», e assim afirmava, primeiro, o seu discernimento dos sinais e correspondências entre o interior e o exterior, o psíquico e o físico e, segundo, o seu desprendimento do corpo, do ego, da vida terrena, diariamente morrendo em asceses e esforços, em jejuns, vigílias e orações, pelos quais vencia e transmutava a personalidade e o apego ao corpo e renascia para o espírito, para a compaixão e abnegação.
A sua devoção ao mestre Jesus, o seu amor e entrega, foram constantes e, testemunhando o progresso no caminho do amor devocional, caracteriza o subir da meditação algo esforçada, que durou dez anos, para o descanso e gozo da contemplação: "daí por diante se me mudou outro modo de oração, que era como dois amantes que não podem estar um sem o outro. Aos pés deste Divino Mestre e amante aprendi a mais alta ciência que já mais se pode imaginar», explicitando mesmo o que nesta graça unitiva via e o estado ardente com que era agraciada: «Todo este tempo estive vendo coisas, que a língua humana não pode declarar. Eu bem me sentia, mas não podia sair daquilo; e se alguma pessoa fora falar-me, não pudera responder. Vi nesta ocasião a meu Senhor, como uma pessoa que está muito saudosa de outra, abrindo-me os braços e apertando-me com muito amor. Todo este tempo interiormente lhe pedia não quisesse que alguém me sentisse. Saí daquela fogueira divina, como quem sai dum forno ardente: isto tudo foi desde o jantar até que foram nova horas da noite, a qual não pude dormir, porque não se acabou o fogo Divino. Quem o pudera imprimir em todo o género humano.”......

                              

Este estado ígneo do seu chakra cardíaco e de todo o seu ser, pelo amor que sentia e dirigia ao mestre e a Deus, foi bem assinalado ainda quando afirmou então magistralmente: «sempre meu coração está uma brasa viva.... Dois anos há que trago uma brasa viva no coração...»
Dentro desta mesma
linha de grandes místicas portuguesas, uma  outra das nossas sorores do séc. XVII exclamava, "Ay amor, Ay amor", quando sentia mais intensificada a sua devoção divina, na Índia denominada bhakti yoga.


Em 1648, depois de um grande estado de amor unitivo, e já sabendo que em breve iria desencarnar, transmitiu ao seu confessor «que Deus nosso Senhor por sua infinita bondade era servido prometer a todas aquelas religiosas a salvação das suas almas, e que assim mandava as publicasse a todas juntas em comunidade»......
Soror Mariana
do Rosário, com a sua clarividência dos mistérios da vida e ascensão das almas no além, corajosamente e generosamente afirmada em tempos de Contra-Reforma, entrava assim na legenda pura e flamejante das destemidas místicas portuguesas capazes de arrastar no seu fogo muitas almas, dos purgatórios, para as cercanias luminosas e amorosas divinas.
                                                          
Finalizemos com um episódio
bem significativo da sua vida e vidência, a respeito das  festivas e tão apreciadas procissões e da subtil e íntima omnipresença divina. Conta-nos a Soror Mariana do Rosário (e que pena não haver a sua vera efígie e termos de tentar a comunhão cognitiva pelo coração), que estando em união com o Mestre Jesus, ao ver passar no adro da igreja do Convento de São Salvador uma procissão em dia de Corpo de Deus, reparou que o Senhor também participava, e exclamou então espantada:«"É possível que tenha eu a meu Senhor comigo, e que o veja ir ali tão perfeitamente!" as quais palavras foram nascidas da singeleza do seu ânimo e não de dúvida alguma que tivesse em os Mistérios daquele Santíssimo sacramento [acrescenta o seu biógrafo]. Mas o Senhor que em tudo queria satisfazer a sua serva respondeu: - "Mariana, nisso fecha os olhos e crê que muito mais pode fazer a minha omnipotência"».


Glosemos este caso com as descrições indianas dos amores e dança das Gopis com Sri Krishna, na Bhagavata Purana, e lembremos ainda um outro episódio de ubiquidade na vida das nossas sorores,  citado pelo historiador Lino de Assunção, acerca duma freira do convento de Semide que, durante um incêndio, foi vista em vários sítios simultaneamente, ajudando e guiando as sorores mais timoratas.
Sejamos então seres mais ar
dentes no amor à Divindade, ou ao Mestre, que sentirmos no nosso coração, e logo mais corajosos e persistentes na vivência do caminho da Verdade...

[Com cartoons] Até quando o Ocidente apoiará o psicopata anti-russo disposto a matar todos os ucranianos para o seu sinistro ego brilhar? Uma notícia da Tass.com ecoa a desconfiança crescente em relação à idoneidade e exequibilidade dos seus projectos e no fundo dele próprio...

 

Mais de um milhão de ucranianos e 300 mil russos desincarnados precoce e violentamente. Lux, Pax!

«WASHINGTON, 16 de outubro. /TASS/. O chamado plano de vitória do presidente ucraniano Vladimir Zelensky é considerado inviável tanto pelos EUA quanto pela Europa, à medida que a fadiga em relação ao conflito ucraniano continua a crescer, informou o The Washington Post.

                                  

 De acordo com Ishaan Tharoor [um indiano nova-iorquino] colunista do jornal, "o plano de vitória de Zelensky provavelmente estará longe da 'vitória' absoluta que muitos esperavam, à medida que o cinismo e a fadiga se instalam entre os aliados ocidentais da Ucrânia.", [tanto mais que outra frente de batalha mais importante se abriu, a defesa, no Israel genocida, do sionismo da oligarquia mundial detentora da banca, do dólar e do euro, agora ameaçada gravemente pelo BRICS e a crescente desdolarização da economia mundial]

Entretanto, "há um consenso fracturante entre os governos ocidentais acerca de quanto da 'lista de desejos' de Zelensky deve ser concedido." Mas Kiev, na melhor das hipóteses, espera que o Ocidente lhe possa dar o maior impulso possível numa futura mesa de negociações," observa Tharoor. O autor acrescentou que em dezembro de 2022, quando Zelensky foi "celebrado como um herói em uma sessão conjunta do Congresso," apenas alguns republicanos "desdenharam" da recepção que lhe foi dada e das vastas somas de dinheiro dos contribuintes dos USA que estavam a ser empregues na defesa da Ucrânia, enquanto esse cepticismo se tornou um ponto de vista comum à medida que as realidades de 2024 se foram concretizando. Além disso, esta opinião é enfatizada tanto pelo candidato republicano Donald Trump como pelo seu companheiro ou vice presidente, o senador James David Vance [nisto discordando do partido  Democrático, liderado por Biden, Kamala, Pellosi, Obamas e Clintons.]

O conselheiro do chefe do escritório do presidente ucraniano, Sergey Leshchenko, afirmou anteriormente que Zelensky apresentaria um "plano de vitória" na Verkhovna Rada em 16 de outubro. De acordo com declarações de representantes ucranianos, o plano inclui o aumento do fornecimento de armas para o exército ucraniano, ataques com armas de longo alcance no território russo, um processo acelerado para a adesão da Ucrânia à OTAN e o envolvimento de países ocidentais na reconstrução da Ucrânia. Alguns meios de comunicação dos USA e da Europa citaram fontes indicando que a reação dos aliados de Kiev a essas propostas foi bastante discreta. [Pudera, completamente irreais, provindas de um autor, outrora um comediante e agora um autor de filmes de mortandade e terror, tal como está a fazer com Ucrânia e os seus cidadãos obrigados a morrer por ele e a sua clique extremista.]
                                         
 
O irresponsável e vaidoso Boris Johnson é, com Victoria Nuland, um dos principais responsáveis pela mortandade eslava, ao ter pressionado Zelensky para não aceitar o acordo negociado com a Rússia, na Turquia, no início da operação militar...

                                                             

Moscovo criticou repetidamente a chamada fórmula de paz, que está sendo proposta por Kiev, como irrealista e apontou para a necessidade de levar em conta as realidades no terreno. [Mais do que evidente, pois a Rússia nunca mais deixará Donbass a zona resgatada da opressividade extremista do regime de Zelensky (neste momento a exercer o poder autocraticamente, pois está já fora do prazo da sua presidência), por muito que mintam e manipulem os avençados Milhazes, Rogeiro, Cruz, Pontes e Pinheiro...] 
 
O presidente russo Vladimir Putin enumerou as condições para a resolução do conflito, incluindo a retirada das Forças Armadas Ucranianas de Donbass e Novorossiya e a recusa de Kiev em aderir à NATO. Moscovo considera também que todas as sanções ocidentais contra a Rússia devem ser levantadas, e que a Ucrânia se deve comprometer com um estatuto de não alinhamento e livre de armas nucleares.»
 
 
 
 Entretanto porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov comentou estas últimas notícias: "Desde há muitas semanas tem havido conversas  acerca dum mítico plano de paz … Muito provavelmente, é o mesmo plano Americano de lutar "até o último ucraniano", que Zelensky disfarçou e chama de 'plano de paz', disse o porta-voz, acrescentando "Não há outro plano" .
O porta-voz
enfatizou que ainda existem possibilidades de uma resolução pacífica, sob condições específicas: "Um plano verdadeiramente pacífico pode existir para a Ucrânia," afirmou Peskov, que "implicaria que o regime de Kiev reconhecesse a futilidade de suas políticas atuais, aceitasse a necessidade de uma abordagem mais realista e entendesse as causas subjacentes que levaram ao conflito em curso".

Removam Zelensky, removam Netanyahu, e os seus sequazes, e as duas guerras terminarão...

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Os estados conscienciais post-mortem. Para onde se vai quando se morre? Como nos prepararmos? Breve indagação. Em actualização...

Para onde vão os seres que desencarnam, ou seja, que morrem fisicamente, é uma questão que tem desafiado a humanidade há milénios, gerando muitos pensamentos e sentimentos, teorias e esperanças, ritos e práticas mas sem  se terem estabelecido até agora certezas claras, seja para os que acreditam piamente, seja para os que têm estudado ou investigado tal problema, embora haja excepções, com alguns investigadores psíquicos a obterem experiências e teorizações que, pelo menos a eles e a alguns que as conhecem, os satisfazem mais ou menos plenamente.

Nos últimos anos as experiências de quase morte (near death) têm sido bastante estudadas e embora algo se possa deduzir e generalizar tal serve apenas para confirmar a existência da vida humana, fora do corpo físico, no mundo subtil do além e algumas das possíveis veredas e ocorrências no acesso a certos níveis e seres dele.

As hipóteses principais para a pessoa que acaba de morrer, que desencarna, que abandona definitivamente o seu corpo físico, parecem ser:

1 - Ficar adormecida ou inconsciente, 

2 - Ficar semi-acordada e sentindo algumas memórias, obtendo algumas percepções, num estado próximo do sonho terrestre , 

3 - Ir para um local de descanso e recuperação, ou ser levada para lá por auxiliares, e que pode ser mesmo um tipo de hospital, 

4 - Estar bem desperta e poder discernir os guias, e avançar para as  zonas para onde é atraída pelas suas afinidades, seja quais forem, e ditas "boas" e "más", as boas as que corresponderão a planos de mais luz, amor e liberdade de ambiente, movimento e diálogo.

5 - Ser recebida ou encontrar as pessoas amigas ou familiares e reunir-se a elas, conviver, aprender a funcionar no além

6 - Ser encaminhada por elas para a sua zona ou mesmo para a instalação seja numa casa própria, seja 

7 -Elevar-se ainda mais para os planos já não astrais e psíquicos, mas para os espirituais e divinos, o que acontecerá aos raros seres que ao longo da vida desenvolveram  uma forte, criativa e abnegada realização da sua identidade espiritual e religação divina. E é possivel que se possa ir para fora do ambiente aurico e animico da Terra, passando para mundos distantes

Que toda esta evolução depende do que se fez, desenvolveu, assimilou, sentiu e realizou em vida não haverá dúvida , embora saibamos como há milhares propostas de trabalho espiritual, de práticas religiosas e espirituais ou então simplesmente de regras para bem viver na Terra e no Além, tanto mais que os efeitos nunca são matemáticos e universais e antes tudo depende bastante do sujeito ou observador, numa rede entretecida de influências recíprocas infinitas.

Admitamos então que alguma vida moral e de serviço foi desenvolvida, bem como uma prática religiosa ou espiritual e que pessoa quando morre já sabe que há uma vida depois da morte, que tem um corpo psico-espiritual com o qual funciona, e que neste ora sente e vê como um todo, a partir de todo ele, ora utiliza certos órgãos subtis mais ou menos despertos, ora funciona com uma réplica do seu antigo corpo físico, com a idade em que se sente...

A pessoa sente com o seu coração espiritual e vê com o seu olho espiritual os seres de luz que lhe são afins, pode ouvi-los mesmo, e seguir os seus conselhos....

Uma questão reside na localização da alma: fica a pairar no espaço, arrasta-se em paisagens próximas das terrestres, ou há casas, moradas para as almas, mansões no além? Vai para um quarto de uma casa de alguém, ou para uma casa própria, ou constrói mesmo ela essa casa, numa substância subtil? 

Vive aí sozinha? Com que noção de tempo e de horários? Com que necessidades e obrigações? Com que actividades colectivas seja de educação, seja de serviço, ou ainda de culto, se vai envolver?

Para prepararmos um destino melhor há então que vivermos em amor, sabedoria, justiça e sermos criativos, harmoniosos e  intensificdores da religação espiritual e divina através das consciencializações, práticas e acções que conseguirmos.

Que podemos nós lembrar como adequado de práticas?

1- Orar com regularidade para os familiares e amigos que já partiram.

 2. Praticar com regularidade a abertura ao Cosmos, aos Mundos Distantes, ao Infinito, e igualmente o desprendimento deste corpo físico, afirmando-nos como seres espirituais e cidadãos cósmicos.

3 - Meditar com regularidade e aspiração na ligação ou comunhão com a Fonte Divina, qualquer que seja a forma com que a  imaginamos ou conceptualizamos. 

4 - Desenvolver a saudação, comunicação e comunhão com o seu anjo da guarda, com os seus auxiliares e mestre e com antepassados e amigos com quem sente mais afinidade e ligação

5 - Estar atento aos sonhos, perceber as suas cenas e imagens simbólicos, discernir os  desejos e carências, afinidades e aspirações que se manifestam, e harmonizar-se e melhorar-se em função deles..


domingo, 13 de outubro de 2024

Da perenidade das utopias: Antoine Rondelet, A Minha Viagem aos país das Quimeras. Porto, 1876.

Texto ainda em acrescentos. Volte pelo meio dia... Graças...

Em tempos de grandes desinformações e manipulações, de alterações dos sentidos das palavras e de conceitos,  de  novas ordens mundiais e suas agendas semi-opressivas, mais do que nunca é necessário manter-nos lúcidos, informados, cultos, espirituais, solidários  interactivos, escatologicamente optimistas - tal como ensina Daria Dugina Platonova,  para resistirmos a tal opressivo projecto, e à marginalização dos mais lúcidos e independentes e ao esvaziamento e perseguição dos conteúdos religiosos e espirituais que, sob capas do aparentemente correcto, científico e eficaz, corta as pessoas das suas ligações verticais, tanto quanto às raízes do passado e suas tradições como com os frutos do futuro perene espiritual, no qual já estão muitos familiares e amigos, e no qual estaremos mais ou mais cedo, mais ou menos plenamente.
Sendo muitas e insidiosas  as formas manipuladores que se exercem na educação e nos meios de informação devemos então, para as discernir e suplantar,   procurar tanto ensinamentos de resistência ou de idealização valiosos do passado como informações de criatividade e lutas alternativas, fidedignas, actuais.
Um segmento da criati
vidade humana literária e ideológica salvífica futurante foram as utopias, algumas tornando-se célebres  e de leitura constante, tais como a Utopia de Thomas More (1478-1535), já tão crítica da plutocracia ou oligarquia;  Rabelais (1490-1553) e a sua abadia de Thélème; a Cidade do Sol de do monge calabrês e discípulo de Joaquim de Fiore e de Guillaume Postel, Tommaso Campanela (1568-1639); a Nova Atlântida do monge inglês Francis Bacon (1561-1626); Johann Valentin Andreae (1586-1654), o inventor dos Rosacruzes, e a sua Reipublicae Christianopolitanae Descriptio, de grande sabedoria e harmonia; o padre Jean Meslier (1664-1729), um pioneiro defensor da necessidade duma revolução, e cujo Testamento, crítico do Cristianismo pregado, foi por Voltaire aproveitado com grande sucesso;  Étienne-Gabriel Morelly (1717-1778), com La Basiliade ou le naufrage des îles fottantes, onde o comunismo e o nudismo se pioneirizam,  e o Code de la Nature; Saint-Simon (1760-1825), o conde comunista, autor Du Nouveau Christianisme, e originador da religião São-Simoniana, já propondo sete horas de trabalho no Verão e seis no Inverno; Charles Fourier (1772-1837), dotado de uma imaginação criativa fabulosa, com a  Théorie de l'Unité Universelle,  com os seus falanstérios cooperativos e regidos pelas leis da atração, e que valorizava muito as actividades educativas e culturais, fora dos quadros da exploração económica do capitalismo, e que tantos seguidores teve E outros autores e obras que, embora tendo o seu momento e época, com o decorrer do tempo foram sendo varridas do conhecimento público e já quase ninguém as relembra, lamentavelmente para os autores, as obras e a Humanidade. 

Da Índia, destaquemos Gandhi, Vinoba e Lanza del Vasto, o fundador da Comunidade da Arca, em França, e que marcou presença em Portugal; Auroville, a cidade do futuro idealizada por Sri Aurobindo e a Mãe, inaugurada em 1968, com as suas comunidades e cooperativas, e onde  estive uns dias há umas décadas, tendo ajudado  na construção do Matrimandir. Entre nós devemos realçar, dada  em 2006 à luz, a Utopia III de José V. de Pina Martins (1920-2010), muito actual nas suas propostas concretas de melhoria civilizacional, para o que estava bem preparado pela sua longa convivência com sábios (através da sua excelente biblioteca, e não só), académicos e investigadores, enquanto Presidente e vice-Presidente da Academia das Ciências, e director dos serviços de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian.

Antonin François Rondelet, nascido em Lyon a 28 de Fevereiro de 1823, foi um pensador valioso, tanto na economia como nas ciências sociais, formado em filosofia (duas teses sobre conceitos aristotélicos) e literatura  e que se distinguiu como pensador social, pedagogo, historiador, economista e professor de Filosofia em Rennes, Poitier, Marseille e,  durante treze anos, catedrático na Universidade de Clermont. Viajou bastante para observar as cooperativas (no fundo embriões de utopias) em França e Inglaterra, participou em debates, colaborou em revistas escreveu livros manifestando sempre ética e humanidade,  cristianismo e espiritualidade reformista
 As sua obras principais são: Du spiritualisme en economie politique, 1860, Du découragement: réflexions sur le temps présent, 1868, Le danger de plaire, 1869, Les limites du suffrage universel, 1871, Réflexions de littérature et de philosophie, de morale et de religion, 1881, La Femme bien malheureuse, 1890.
 Ao desencarnar em 24 de Janeiro de 1893, com 70 anos de idade de valiosos trabalhos e abnegações, a sua sensibilidade empática humana foi enaltecida, por exemplo, por outro reformista social A. Delaire (conforme o cita Cristel Chaineaud),  por não ter uma visão economicista estreita e desumana, pois "quer tratasse da moral da riqueza ou da filosofia das ciência sociais, sempre o observador e cristão teve a preocupação de afirmar na economia política o papel do espiritualismo e da consciência, a noção de responsabilidade e dever." Destacou-se ainda no modo como acompanhou nos últimos tempos o notável engenheiro de minas, político e escritor reformista Fréderic Le Play, autor da Reforme Sociale e director da revista com o mesmo título.

com base católica (e por isso editado entre nós na Biblioteca do Cura de Aldeia)  a gerar um foi  , ,
Entre as suas obras encontramos uma utopia valiosa e temo-la nas mãos: A Minha Viagem ao país das Chimeras, numa tradução do oficial do exército José Nicolau Raposo Botelho (Porto,1850-1914), publicada no Porto, em 1876, num in-8º de 285 páginas, um ano apenas após ter sido dado à luz em França, o que revela da parte do tradutor certamente internacionalismo e grande amor pela obra ou utopias, curiosamente sendo o avô maternal da minha ama e do meu irmão Francisco, Maria Alzira Raposo Botelho Coelho da Silva, a Cabé, ou seja, quem mais ajudou a  mãe a tratar do 7º e do 8º filho;  Luz e Amor Divinos neles!

O exemplar que consultamos conserva a dedicatória de José Francisco Duque à portuense Sociedade Alexandre Herculano, e contem três carimbos de instituições. A obra é muito bem pensada e o país utópico visitado apresenta vários aspectos de controle  manipulador ou mesmo opressivo, antecipando medidas tomadas modernamente. É obra recomendável para quem tiver mais tempo e se interessar pelo pensamento utópico, nomeadamente no que ele tem de crítico e de exemplar para os nossos dias quando o Fórum Económico Mundial e a União Europeia tentam implementar uma nova Ordem, felizmente agora muito mais difícil graças à resiliente Rússia e ao BRICS...

Oiçamos Rondelet:"Todo o sistema repousa sobre este princípio: isolar o individuo da família e forcá-lo a viver só, e sobretudo ter cautela em que o passado não legue nenhuma vantagem ao presente, nem nenhuma esperança ao futuro. Então cada indivíduo fica reduzido a uma unidade pura e simples. O ideal seria fazer com que cada cidadão não tivesse outro valor nem outra distinção, senão o número que lhe fosse atribuído." p. 57

Traduzimos em seguida alguns pensamentos valiosos das suas Reflexões de literatura, filosofia, moral e religião, Paris, 1881:
"Cada século teve seus autores favoritos que ele estimou e acolheu, em proporção não do mérito que tiveram, mas pelo prazer que lhe proporcionaram.
O sentimento do ridículo não é mais do que uma das formas exteriores do bom senso.
Não sabemos verdadeiramente nada, enquanto não somos capazes de reproduzir e explicar de viva voz o que cremos saber.
Não somos realmente poderosos em nenhuma ordem de ideias, a não ser que estejamos realmente apaixonados por ela.
Seria necessário haver de ambas as partes numa conversa, mais vontade de  ouvir e entender o parceiro do que de responder e triunfar sobre ele.
Não ter fé no poder da palavra é não ter fé no poder da verdade.
A leitura apresenta a vantagem de se prestar com igual complacência ao relaxamento de uma mente muito tensa, assim como à reflexão concentrada de uma inteligência muito dispersa.
A maioria dos grandes génios, tanto na literatura como noutros campos, praticaram essa arte suprema não apenas de criar beleza de primeira ordem, mas também de governar as almas com autoridade suficiente para dar, de certa forma, ímpeto ao entusiasmo e tom a elas.
Os espíritos medíocres podem vangloriar-se dos espectáculos externos, porque não lhes é dado conceber algo mais elevado, mas não deixa de ser verdade que as almas superiores e os espíritos de elite oferecem a quem sabe vê-los um espectáculo ao qual nada pode se comparar.
A vulgarização, mesmo levada ao extremo, é uma satisfação para o orgulho dos que sabem, um alívio para os que esqueceram, uma necessidade para os que ignoram.
Na literatura, o trabalho fácil não é, no fundo, senão o trabalho sem valor.
Em mais de uma ocasião, o que se chama tão maldosamente de falta de inspiração, não é outra coisa senão uma profunda ignorância da questão, ignorância causada pela preguiça de se informar ou pela incapacidade de tratar a questão.
A arte de escrever consiste precisamente em introduzir nas composições uma espécie de felicidade contínua.
A leitura representa para um grande número de pessoas, incapazes de qualquer meditação original, o único recolhimento de suas vidas.»

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Nicholai Roerich, no seu 150º aniversário (1874-1947), comemorado em Portugal. 9 de Outubro de 2024

                                                           

Uma escultura de Nicholai Roerich, inaugurada em Izvara, santa Rússia, no dia em que perfez subtilmente 150 anos.

Celebrando-se hoje 9 de Outubro de 2024 os 150 anos do nascimento do notável mestre Nicholai Konstantinov Roerich e tendo já escrito alguns textos sobre ele e a sua vida neste blogue, e atarefado com alguns trabalhos, mesmo assim não queremos deixar de o lembrar e comemorar, partilhando algumas pinturas, acompanhadas de pensamentos e sentimentos que testemunhem o seu valor e a sua actualidade para que impulsionem a nossa apreciação e realização espiritual.

Nicholai, Helena e os dois filhos George e Svetoslav, em Naggar, vale de Kullu.
Embora a sua obra escrita como mestre espiritual, pensador, esteta, pedagogo, arqueólogo, cientista, pacifista e universalista seja sempre muito valiosa de se ler e meditar, são talvez as suas pinturas (e foram sete mil) o que mais efeitos têm gerado, considerando alguns que, realizadas com materiais tradicionais, infundidas com a sua energia psíquica ígnea, por ele tão estudada, aprofundada e manifestada, adquiriram um carácter vibratório e causal capaz verdadeiramente de tocar as almas e influenciar o cérebro e neurónios,  e ter portanto efeitos harmonizadores, terapêuticos e  espirituais,  embora mais em quem as vê ao vivo, também operativas nas reproduções...

Uma das pinturas em tempera muito apreciada é a de Santo Panteleão, o curador, colhendo ervas nas montanhas, e que contemplada mais demoradamente permite às pessoas receberem por transmissões e ressonâncias subtis  as energias ou inspirações necessárias a melhorarem e a curarem-se, se a fé for poderosa, dir-se-á, aqui não havendo que mover  montanhas, mas apenas ascendê-las, imaginalmente, e sabemos como a visualização do que se peticiona na oração é considerada uma condição indispensável por alguns mestres da oração, tal  Bô Yin Râ, outro valioso pintor e mestre (1876-1943), conforme seu livro A Oração, traduzido laboriosamente do alemão e dado à luz recentemente em poucos exemplares.

Em 1941, a contraparte polar de S. Pantaleão foi criada, a Vasilisa, a Bela, a jovem inicianda de vários contos tradicionais e de fadas russo - que foi desenhada em livrinho fabuloso por Ivan Bilibin (1876-1942, um amigo de Roerich) -, colhendo flores e ervas, e que serve também de ícone tanto curativo como protectivo, para quem quer orar e contemplar tal inspiradora imagem arquétipa e iniciática.

O Livro das Pombas é outra obra, de 1922, em que a interseção do passado e do futuro se realiza para o desabrochamento de um novo estado de consciência e da humanidade e nela vemos um enorme livro aberto a ser  admirado e consultado junta a uma igreja e a uma congregação de devotos, sendo pombas o que se liberta das suas páginas, e é um apelo a uma escrita harmonizadora e libertadora da Humanidade e não manipuladora, enganadora e violenta, como acaba por suceder a várias Escrituras sagradas com concepções de Deus algo primitivas e  que não são abertas nem lidas como livros de pombas da paz, mas de antes de povos ou religiões eleitas ou superiores. A sua actualidade é grande e o seu tamanho convida-nos sugestivamente a mergulhar no grande Livro dos livros (que já abordei neste blogue), que contém as melhores páginas e em que algumas linhas estão ainda em branco para nós e os nossos tempos as completarmos, tal como na Tradição Espiritual Portuguesa o reconheceram Antero de Quental e Natália Correia chamando-lhe bem adequadamente, na linha dos espirituais fioristas, o Evangelho Eterno, a Boa nova,  a Boa mensagem perene.

Drops of Life, Gotas da Vida é outra das pinturas, de 1924, bem profunda de sentimentos e misteriosa de significados e que tem inspirado muitas almas a sentir a abertura e elevação pura ao alto, sabendo olhar o abismo sem receio. Se está à espera que a sua bilha seja enchida pelo fio de água da fonte pura, para depois levar para a sua casa ou aldeia, ou se apenas medita junto a uma fonte harmoniosamente sonora, não é evidente, mas quem a contempla sente uma grande serenidade e abertura às montanhas ao espaço silencioso, infinito e sagrado, exterior e interior, com que elas nos presenteiam ou propiciam. 

Nicholai Roerich, pintado pelo seu filho Svetoslav, com quem ainda me correspondi.

Após esta hermenêutica minha, soube que Nicholai Roerich escrevera sobre ela a elevada sabedoria que se segue: "O maior valor nas montanhas é a água, mas aqui é ainda mais alto - a Graça Divina, que lentamente se acumula em gotas em um recipiente, que esta Mulher, colectora da graça, levará para as planícies, para o povo.
Na Agni Yoga, menciona-se repetidamente o vaso do discípulo, que deve estar pronto para ir ter com o Mestre e ser enchido de sabedoria.  O aluno deve sempre ter um vaso limpo, livre de preenchimento pessoal. E nós, enchendo o nosso vaso, vamos até as pessoas e tentamos saciá-las com essa preciosa humidade."

Apressando-se, ou O que se apressa, de 1924, é outra das pinturas  contempladas  pelos que sentem  precisarem de mais energia dinâmica, de responderem mais adequadamente à urgência dos diversos desafios do seu novo dia ou das suas vidas ou mesmo ao apelo das causas internacionais da iluminação e preservação da Humanidade em tempos difíceis  de manipulações, desinformações, opressões, discussões, conflitos e guerras.

                          

 A pintura Bandeira do Futuro, da série de Maitreya, pintada em 1925-1926 e oferecida ao Estado Russo, na qual um grupo de monges e adeptos medita e ora pela manifestação do mítico reino de Shambala, diante do seu  rei Manjushrikirti (numa tanka trazido pelo casal Roerich do Sikkim) e sob a qual recentemente Vladmir Putin foi visto numa visita à Mongólia (suscitando especulações da sua ligação a tais níveis), é complementada por outra pintura, de 1933, A ordem de Rigden Djapomuito ígnea, representando o regente de Shambhala e  Mestre invisível da Hierarquia Divina na Terra, denominado também por alguns Sanat Kumara, e constitui com a outra boas sugestões contemplativas, valiosas e acessíveis, no caso para a intensificação do fogo duma religação espiritual bastante elevada, e que poderão dar bons resultados se conseguirmos e merecermos interiorizar, sintonizar  e assimilar as energias, informações e graça Divina.

                               

Eis uma pequena homenagem, no dia de anos do nosso querido amigo e mestre Nicholai Roerich, à sua alma, vida e obra, à sua universalidade e união do Oriente e do Ocidente, do Oeste e do Leste, da Rússia e Portugal, para que saibamos aprofundar os seus ensinamentos de Ética Viva e do Yoga do Fogo e para  cooperarmos pelos modos que podermos na evolução fraterna e multipolar da Humanidade. Agni Aum....

Nicholai Konstantinov Roerich, preocupado nas vésperas da II grande Guerra e sob as bênçãos da Bandeira da Paz, com os três círculos da Arte, Ciência e Religião unidos, e que foi colocada sobre algumas cidades e monumentos para os proteger, depois de ter sido assinado por alguns países esse pacto ou tratado, de protecção cultural e humanitária infelizmente hoje tão desprezada e trucidada e pela qual tanto devemos lutar. Lux, Pax, Agni-Ignis.