domingo, 30 de março de 2025

(des) Velamentos de Pedro e Inês. Algumas imagens da exposição no Museu do Vinho de Alcobaça. E com o texto do meu contributo.

Cartaz da exposição de curadoria do Alberto Guerreiro, com uma das notáveis fotografias de Jorge Prata. Seguem-se dois dos trabalhos da Maria De Fátima Silva.

                                           

As fotografias dos túmulos, por Jorge Prata, numa imagem da autoria do Alberto Guerreiro.

           Três imagens das belas pinturas da Nélia Caixinha, baseadas nos sublimes túmulos:

                                           As alegres e multicoloridas  pinturas da Joana Guerra...

 
O delicado e original trabalho de João Leirão e Cristina Henriques
As apresentações, primeiro pelo director do Museu, Alberto Guerreiro e depois pelos artistas, nesta imagem a da Maria da Fátima Silva, perante um público bem interessado.
Nélia Caixinha
Joana Guerra explicando a sua obra.
O Céu dando sinais do Amor "até ao fim do mundo", que devemos viver...
Nelson Ferreira apresenta o seu sacro trabalho de ícones russos e gregos.
Uma fotografia do relicário de Inês, por Jorge Pratas...
São Nicolau, pintura de Nelson Ferreira, e moldura em prata russa.
Imagens da notável conferência de Jorge Pereira Sampaio, na 2ª imagem mostrando o relicário com cabelos de Inês..
O relicário de Agnes: seus louros cabelos, sete séculos nos interpelando: o que fazemos de amor e de bem?
Uma assistência paciente, pois a valiosa conferência foi de mais de uma hora  e prolongou-se num animado diálogo
Fotografia de todos os artistas participantes, rodeando o Alberto Guerreiro, director do excelente museu.
Fotografia da frente do painel, e tal como a seguinte captada pelo João Leirão, onde estava o meu contributo, que  transcrevo acompanhado  de sete fotografias obtidas na igreja do mosteiro antes de nos dirigirmos para a exposição. 
A minha breve oração em homenagem a  Pedro e Inês e à Tradição Espiritual Portuguesa. 

                               INÊS E PEDRO:  AMOR ATÉ AO FIM DO MUNDO...

Quando Inês e Pedro, a Galiza e Portugal, em 1340, se encontraram e apaixonaram: olhos, cabelos e gestos, forma, voz e espírito, não poderiam antever como o fogo do amor aceso nas suas almas, e irradiante por quinze anos, da Lisboa cortesã à Coimbra das ninfas do Mondego e das fontes, da Serra d'El- Rei e Moledo ao rio Douro e Oceano em Canidelo, atingiria a perenidade de nos congregar, quase setecentos anos depois, nesta exposição, em Alcobaça, terra e junção de rios sagrada e onde os seus corpos e almas estão sublimemente imortalizados.

Inês de Castro, ao ser morta violentamente, no sombrio 7 de Janeiro de 1355, no paço de Coimbra, em plena formosura, maternidade e doçura, derramou a sua energia por toda a eternidade, e a paixão que os transfigurava circula ainda hoje no sangue e alma dos que os amam e intuem os seus êxtases e dores e aspiram ao desabrochar do coração e do amor, da liberdade e da unidade.

Depois das oposições e desterro saudoso, morrendo D. Constança, viveu alguns anos Inês com ele, ledos e de comunhão com a natureza, coroada de rosas e boninas por D. Pedro oferecidas e, dessa intimidade nua e pura inscrita no coração, em três partos foi abençoada. Mas, depois, quanta apreensão pelas ameaças, quanta revolta e luta face aos assassinos, quanto sacrifício na entrega à morte e abandono dos meninos, olhos postos no céu cristalino?

O pleno amor de Ynês, subitamente ceifado, permanecerá vibrante em Pedro e entrará no além e no imaginário, fecundando a grande alma portuguesa e europeia na demanda da justiça, da beleza e do amor, inspirando muitos a exaltar Inês como musa e mártir ungida.

Depois da guarda do corpo de Inês pelas sorores clarissas nas margens alagadiças do Mondego, em Abril de 1362 dá-se a sua impressionante trasladação para a firme Mater cisterciensis de Alcobaça, ao qual se juntará o de Pedro em 1367, e os túmulos vão tornar-se um íman impulsionador de criações artísticas e literárias, lendas e mitos, no culto dum Graal de amor extremo.

                        

O perigo da audácia traiçoeira dos adversários da relação ou casamento, perigosa para o Reino segundo eles, fora negligenciado por Pedro e, ao ausentar-se para o exercício da montaria, deu azo à fatalidade da qual ninguém poderá sentir o impacto desintegrante na sua alma e cérebro, bem como nos três filhos de tenra e impressionável idade.

Em "grande desvairo", como narra o cronista Fernão Lopes, D. Pedro, sangrando, com as suas hostes e as dos irmãos de Inês vindas da Galiza, faz seis meses de razias no Entre Douro e Minho, onde os conselheiros culpados tinham suas terras. Acercando-se do Porto, porque o Rei e o seu exército já estavam em Guimarães, e pela mediação do Prior do Crato e de D. Beatriz, santa mãe e avó, assinam-se três acordos de amnistia e concórdia, em Agosto de 1355, jurando D. Pedro o perdão dos matadores e recebendo poderes judiciais.

Passados dois anos, com a morte do pai, D. Pedro, rei e senhor da Administração e da Justiça, assume a responsabilidade de as bem executar, e logo revoga o juramento pronunciado verbalmente, enquanto alma mutável mas não de coração e faz morrer cruelmente dois dos culpados. Confiava na justiça e misericórdia Divina, e nas orações e missas, velas, aspersões e incensos que os frades cistercienses lhes consagrarão durante séculos, e só os clarividentes intuirão os efeitos subtis de tais elementos, sons e intenções nas suas almas ascendendo no corpo místico da Igreja.

                                                               

O cognome de Justiceiro ou Cruel será apropriado conforme as circunstâncias, pois tal virtude cardeal tão demandada por Pedro e exercida duramente, também o foi sublimemente, ao fundar a obra-prima da estatuária jazente portuguesa, fazendo justiça ao amor divino incarnado e tão precocemente separado, imortalizando-o na união artística da Mors-Amor, sublimadora dos participantes das limitações corporais e históricas.

A perenidade exemplar do amor de Pedro e Inês, vencendo interesses políticos e matrimónios de conveniência, ódios, fragilidade e morte, brota tanto da intensidade do Eros vivido e da unidade alcançada, derramados por seus descendentes e todos, como da arte dos anónimos artífices dos túmulos, orientados por D. Pedro e os monges brancos alcobacenses.

As suas vidas e sentimentos, cinzelados em rosáceas e pétalas animadas de cenas historiadas e íntimas, em roda da vida e via sacra paralelas à dor e amor do ungido Jesus e do mártir e mítico apóstolo das Índias S. Bartolomeu, fecundarão de modos caleidoscópicos os sucessivos peregrinos, poetas e fiéis do Amor que as admirarão.

                                     

A numinosidade serena das faces de Inês e Pedro, brotando das suas estátuas jazentes, entre seis pares de anjos de guarda, é uma iniciação ao fogo do Amor divino no coração, e à luz da Sabedoria no olho e corpo espiritual, ou de glória, de cada um.

                            

A missão de revificar o fogo do amor unificador e imortalizador de Inês e de Pedro, e em quem ama, pois provimos do Logos solar e devemos emaná-lo em reciprocidade e criatividade, inspirará ao longo dos séculos os que entrarão nesta grã-corrente e tenção do "quem puder fazer bem, faça" (Garcia de Resende), do "désir", divisa do infante D. Pedro (seu neto e de Teresa Lourenço, da Galiza), e do  amar "até ao fim do mundo", fortificando a chama do Amor, na condição humana frequentemente "mísera e mesquinha", tal como nos Lusíadas canta Camões para Inês, na esteira de Sannazaro no De Partu Virginis para Maria, tal como discerniu Faria e Sousa.

Ao lermos, ouvirmos e admirarmos tais criadores e criações unimo-nos num culto à liberdade e beleza, energia psíquica e amor, na religação ao espírito, à Divindade, ao Cosmos, no campo unificado pluridimensional de energia consciência informação.

Que o nosso coração e ser brilhem flamejantes, em sintonia com Jesus e Bartolomeu, Inês e Pedro, os anjos e arcanjos e a tradição Espiritual de Portugal. Viva Deus, santo Amor!

                                       



sábado, 29 de março de 2025

Extractos do diário dos meus 26 anos quando era um yogi peregrino, ensinante, e com três menções do Afonso Cautela



  Anos em que praticava e ensinava Yoga em Évora, Covilhã, Guimarães e Porto... Na busca de menções do Afonso Cautela, para contribuir para o seu In-Memoriam, em organização pelo José Carlos Marques, encontrei duas, aquando de um retiro no Algarve, em Armação de Pera, além de uma inicial na qual, após me exercitar no que faria se tivesse de morrer em cinco dias, nomeava as pessoas  mais próximas que poderiam estar presentes celebração da morte ou desincarnação: «Maria Francisca, Dalila Pereira da Costa e Mário Pinto, do Porto. Alguns familiares. De Coimbra, Raul Traveira e Guida. De Lisboa, Maria de Lurdes, Teresa, Gustavo Andersen, Carlos Barroco, Afonso Cautela. De Sintra o grupo da vila Eugénia, e o da Arca, de Lanza del Vasto.» Segue-se a transcrição das menções e contextos das práticas e intuições espirituais nessas semanas algarvias, e que fotografei, de duas folhas seguidas:

Recebo algumas cartas: Lemam, da Nova Zelândia. Diz que uma vaga de medo controlado por uns poucos influencia muitos. E pergunta se há sítios [bons] em Portugal? - O sítio é a nossa própria alma. Quando estamos em paz connosco estamos bem em toda a parte. Certo que há grandes medos a serem lançados sobre o mundo, como eu ontem senti em relação ao meu trabalho espiritual: nasceria um aborto, ou uma criança envelhecida, isto pelo prematuro ou pelo tardio da nossa ligação energética com Deus. Pode ser que em função do que experimentei e sofri no passado já não devo ter de conhecer os planos intermédios entre a Terra e o Espírito. Mas libertar-nos do medo e cumprir o nosso dharma presente é fundamental. O meu agora é estabilizar o mental para a descida do espiritual

Carta do Afonso Cautela. Há alguns terrenos no Alentejo, mas são sítios isolados. Pergunto-me qual deve ser a minha missão, e como posso estar já a procurar sítio, se não sei o trabalho que irei assumir mais? Como poderei escolher já o ambiente? Primeiro tenho que saber da missão, o que equivale a uma iluminação maior do propósito desta vida, pelo que só depois disso lhe darei notícias. [Uma rara carta do Afonso, e que espelha o seu apoio ao meu ideal  de encontrar  um terreno para um centro de yoga, espiritualidade, agricultura biológica, comunidade ou família...]

Chega-me um reclame de propaganda do ashram do Vishnu Devananda, do Canadá, dizendo que estamos a entrar no séc. XXI e que devemos preparar-nos física e psiquicamente para a auto-suficiência. É interessante realmente existir um ashram já dentro destes moldes, com casa alimentada a energia solar e uma comunidade ao serviço do país.

Carta do Brasil, do Aureliano Tavares [ceramista, casado com a Maria João, também ceramista, que tiveram a Mufla, em Lisboa, amigos do Carlos Barroco e da Nadia Bagioli]  Pergunta, qual é o melhor caminho (rápido) espiritual? - Só há práticas pessoais, conforme o estado de cada um. As práticas visam purificar e harmonizar os corpos subtis, os nossos níveis psíquicos, para que se dê a acoplagem com o alto, com o espiritual e o divino. Ora cada ser precisa precisa de trabalhar mais aqui e acolá. Por isso são precisos os Mestres, seres que já subiram e vêm o que se passa nos outros e lhes ensinam o que devem fazer. Eu estou a aprofundar esta subida para poder transmitir,

                                                    *****

O Yoga é ecologia, é a purificação individual das fontes "desecológicas" do egoísmo e da ignorância.

Viver Deus no contacto com o exterior, corresponde a ver Deus ou a sua energia em tudo, e logo estar em amor, mas lutar para corrigir o que está errado, e para tal o Yoga enquanto ligação entre o coração e o cérebro ajuda.

A Verdade é só uma e é pelo silêncio que ela se escuta.

O prana [a energia vital em partículas] solar pode ser absorvido ou sorvido pela boca.

As 14.00 horas vou para a praia onde estou até às 15 e tal, com três banhos, mas no espelho vejo-me um pouco branco. É natural se faço meditação em Sushuma (canal central subtil] que haja disparidade no sangue. A alimentação também tem pouco vermelho [ou alimentos ricos] em ferro. Assim medito na praia, mas em casa lanço-me [ao jantar cedo] sobre a aveia e peras. A aveia é que está bem, mas o estômago ao fim da tarde refila um pouco. É importante durante e após as refeições estar consciente do prana [ou energia] que entra e sabermos tanto assimilá-lo como  dirigi-lo para o alto, para Deus [por isso em algumas religiões alguém lê em voz alta durante as refeições em comum]. Começo a tapar os ouvidos com algodão [quando medito] e engraçadamente os amigos velhotes do campo que visito ao fim da tarde estão os dois com zumbidos e comichões nos ouvidos. É esta civilização barulhenta. Lembro-me do [Afonso] Cautela biliento [reagindo com a bílis do fígado, contra o fascismo do ruído das cidades] com certa razão, mas devia [ou seria melhor] transformar o ódio em amor construtivo   [o que ele ainda assim foi conseguindo muito fecundamente alquimizar em tantos artigos ecológicos e em várias investigações e práticas das energias subtis].

Sobre o espírito este só se manifesta [ou manifesta-se mais...] se acreditamos ou nos dirigimos para Deus, pois este é a sua essência. Não em nome da Verdade, da pureza, do altruísmo. Mas Deus. Yoga é a ciência da união com Deus, depois com o Universo, depois consigo próprio. Pati [Deus, Shiva] e Pasu [a alma individual, e encadeada (pasa)] na terminologia da Sidhanta, [uma filosofia do sul da Índia

Nestas sadhanas [práticas psico-espirituais] longas pela noite fora, em que Deus é invocado e muito do passado vai sendo queimado na aspiração ao Alto, os nossos amigos das forças demoníacas resolvem atacar quando começamos a enfraquecer e nos preparamos para dormir. Estando um pouco virado para o lado direito, eis que queriam entrar na minha cabeça pelo lado esquerdo. Antes aparecia numa espécie de imagem um máquina de ver se se se fala a verdade e que consistia em fazer uma pergunta e depois havia duas luzes, uma se era verdade, outra se era falsa. E o princípio consiste em que acendia-se a luz e o olhar da pessoa perguntada dirigia-se logo para a certa [ou correspondente].

Ao abrirmos o chakra cardíaco ficamos muito expostos [ou sensíveis] e por isso fraternidades e mestres se formaram [para gerar certas orientações e controles]. Por isso se ensina também que a vontade tem de ser elevada ao rubro, numa firme confiança no Cristo interno. "Eu e o Pai somos um",seja o teu bordão.

Antes de me deitar, um miúdo gritara "é um ovni, é um ovni", em brincadeira [certamente]. E eu resolvi abrir a janela para cumprimentar um pouco tal vibração da criança, e mal estava a fazê-lo quando se ouviu a voz do pai: "Parto-te a cara". As pessoas estão entregues aos seus prazeres [ou às suas concepções opressivas dos outros] e não querem ser despertas para a luz. [E quem sabe se foi a voz e as energias de tal pai, que depois senti como forças demoníacas a tentarem entrar na minha cabeça, e talvez até da criança, como de facto tal brutalidade de comportamento indica?]

Lux, Amor, Pax....

sexta-feira, 28 de março de 2025

Francisco Moraes Sarmento, um heterodoxo e fiel da Filosofia Portuguesa, deixa a Terra. 1960-2025. Breve notícia e oração.

João Botelho apresenta o último livro do Francisco (sentado): uma incursão no mundo mais elevado do Amor,  em 2012: Madalena, fragmentos dum romance.

O Francisco Moraes Sarmento, que nascera em 1960 em Coimbra e que muito jovem convivera com Miguel Torga, foi um notável pensador, jornalista, escritor, e em especial um discípulo da Filosofia Portuguesa, tanto dos seus fundadores Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, como em especial e de boca a ouvido de Álvaro Ribeiro, José Marinho, Orlando Vitorino, Luís Furtado e Afonso Botelho, ou mesmo Dalila Pereira da Costa e António Quadros, este polarizando através de revistas e do IADE bastantes iniciativas e encontros. Participou em várias tertúlias, grupos e comemorações, trabalhou em revistas e jornais (tais Diário de Coimbra, Tempo, Diário de Notícias e Semanário), dirigindo mesmo algumas, tal a valiosa revista de filosofia Leonardo, entre 1988 e 1989 (no 1º número, com um fulgurante diálogo com o dilecto amigo Sant'Anna Dionísio: "Não percam tempo, não percam tempo"). Depois de intervir activamente no jornalismo e na dinamização cultural em Angola, estava nestes últimos anos à frente de jornais de bairro lisboetas e da linha, tais O Freguês de Benfica, O Freguês de Carcavelos Parede, zonas onde residiu, e ainda outros três, congregando uma valiosa equipa de colaboradores. Aliando bem dinamicamente à cabeça pensante o coração e afectividade intensa, beneficiou de valiosas vivências de amor, ou casamentos, que teorizou, e deixou descendência de boa qualidade anímica.
Esta revista de geração, da qual o Francisco foi o fundador e director, congregou valiosos colaboradores e contributos,  dos quais destacaremos os de Dalila Pereira da Costa (nº 2 e 4º), Jorge Preto(nº 5-6), Garcia Domingues (nº4), José Blanc de Portugal (nº3), além dos bons textos do próprio Francisco, um dos quais bem crítico da manipulação da informação e do jornalismo, tão actual nas narrativas oficiais da União Europeia.
Era a par de um dialogante nato, e um bom apreciador do banquete, um solitário, um heterodoxo ou questionador no seio do grupo dos discípulos de Álvaro Ribeiro, e nas comemorações dos 150 anos da Filosofia Portuguesa, realizados em Sesimbra em 2007, na sua comunicação intitulada O Lugar dos Solitários, alertava para não nos distrairmos pelos obstáculos no caminho interno ascensional: «A iniciação autognósica, far-se-á segundo a idealidade da escola formal [sobre a qual Álvaro Ribeiro teorizou bastante]. Tudo o resto é obstáculo ao movimento que vai da alma ao espírito. E há ainda os que apenas ficam na sombra e discutem o obstáculo, sem desconfiarem que a sombra é ausência de luz.» 
E na sua ânsia de liberdade e livre conhecimento clamava, talvez com certo optimismo no generalização do uso da razão ou Logos: «O Espírito não se licencia, nem carece de autorização de seita, associação, sociedade ou ordem. A tradição é palavra, acto de razão, e todos a ela têm acesso. Tudo o que há a saber pode-se saber e a todos é dado. A inteligência [ou a presença do Logos em cada um de nós] determina o grau de saber, visão ou teoria.»
Breve saudação de avanço na Luz e no Amor, rumo ao centro Divino, ó Francisco...
Partiu quando estava em pleno lançamento duma Fundação e Biblioteca da Filosofia Portuguesa em Movimento, para o qual juntara muitos livros e documentos, e sobre a qual dialogáramos, nomeadamente aquando das mortes da sua mulher e do Luís Furtado, consultando-me posteriormente. No dia 18 de Março falei-lhe eu pelo entardecer mas, prestes a deixar a vestimenta terrena, já não ouviu ou atendeu... Lux, Amor! 
Acrescento duas fotografias captadas a 27 de Março em Alcobaça, onde fui participar numa homenagem a Pedro e Inês, junto ao sublimes monumentos ao Amor eterno, evocando os Anjos protectores sobre ele. 
    Muita Luz e Amor no teu caminho ascensional, caro Francisco. Que o Álvaro Ribeiro, o Leonardo Coimbra e demais seres de Luz te assistam! 
  Anexo a ligação a um vídeo (o 1º de três) gravado há 12 anos no qual ele partilha as suas vivências e a sua teorização do Amor (e acabara de publicar o seu Madalena, fragmentos dum romance, 2012), num animado convívio platónico em casa do Manuel Bernardes, e em que participou ainda o João Botelho.
Com o Luís Furtado, realizámos outros encontros, alguns registados, como pode ver no meu canal do youtube, tal como o referido e agora anexado: https://www.youtube.com/watch?v=4eJrTUEWcOs

terça-feira, 25 de março de 2025

Inês e Pedro: Amar até ao Fim do Mundo... Texto para a exposição (des)VELAMENTOS DE INÊS E PEDRO, no Museu do Vinho de Alcobaça, Março-Junho de 2025.

                                    

                              INÊS E PEDRO: AMAR ATÉ AO FIM DO MUNDO...

Quando Inês e Pedro, a Galiza e Portugal, em 1340, se encontraram e apaixonaram: olhos, cabelos e gestos, forma, voz e espírito, não poderiam antever como o fogo do amor aceso nas suas almas, e irradiante por quinze anos, da Lisboa cortesã à Coimbra das ninfas do Mondego e das fontes, da Serra d'El- Rei e Moledo ao rio Douro e Oceano em Canidelo, atingiria a perenidade de nos congregar, quase setecentos anos depois, nesta exposição a eles dedicada no Museu do Vinho de Alcobaça, terra e junção de rios sagrada e onde os seus corpos e almas estão sublimemente imortalizados.

Inês de Castro, ao ser morta violentamente, no sombrio 7 de Janeiro de 1355, no paço de Coimbra, em plena formosura, maternidade e doçura, derramou a sua energia por toda a eternidade, e a paixão que os transfigurava circula ainda hoje no sangue e alma dos que os amam e intuem os seus êxtases e dores e aspiram ao desabrochar do coração e do amor, da liberdade e da unidade.

Depois das oposições e desterro saudoso, morrendo D. Constança, viveu alguns anos Inês com ele, ledos e de comunhão com a natureza, coroada de rosas e boninas por D. Pedro oferecidas e, dessa intimidade nua e pura inscrita no coração, em três partos foi abençoada. Mas, depois, quanta apreensão pelas ameaças, quanta revolta e luta face aos assassinos, quanto sacrifício na entrega à morte e abandono dos seus meninos, olhos postos no céu cristalino?

Dona Inês diante do rei D. Afonso IV. Pormenor da pintura de Eugènie Sèrvieres, 1822

O pleno amor de Ynês, subitamente ceifado, permanecerá vibrante em Pedro e entrará no além e no imaginário, fecundando a grande alma portuguesa e europeia na demanda da justiça, da beleza e do amor, inspirando muitos a exaltar Inês como musa e mártir ungida.

Depois da guarda do corpo de Inês pelas sorores clarissas nas margens alagadiças do Mondego, em Abril de 1362 dá-se a sua impressionante trasladação para a firme Mater cisterciensis de Alcobaça, ao qual se juntará o de Pedro em 1367, e os túmulos vão tornar-se um íman impulsionador de criações artísticas e literárias, lendas e mitos, no culto dum Graal de amor extremo.

Inês, Pedro e os Anjos. Pintura de Maria de Fátima Silva.

O perigo da audácia traiçoeira dos adversários da relação ou casamento, perigosa para o Reino segundo eles, fora negligenciado por Pedro e, ao ausentar-se para o exercício da montaria, deu azo à fatalidade da qual ninguém poderá sentir o impacto desintegrante na sua alma e cérebro, bem como nos tres filhos de tenra e impressionável idade.

Em "grande desvairo" como narra Fernão Lopes, Dom Pedro, sangrando, com as suas hostes e as dos irmãos de Inês vindas da Galiza, faz seis meses de razias no Entre Douro e Minho, onde os conselheiros culpados tinham suas terras. Acercando-se do Porto, porque o Rei e o seu exército já estavam em Guimarães, e pela mediação do Prior do Crato e de D. Beatriz, santa mãe e avó, assinam-se três acordos de concórdia, em Agosto de 1355, jurando Dom Pedro o perdão dos matadores e recebendo poderes judiciais.

Passados dois anos, com a morte do pai, D. Pedro, rei e senhor da Administração e da Justiça, assume a responsabilidade de as bem executar, e logo revoga o juramento pronunciado verbalmente, enquanto alma mutável mas não de coração e faz morrer cruelmente dois dos culpados. Confiava na justiça e misericórdia Divina, e nas orações e missas, velas, aspersões e incensos que os frades cistercienses lhes consagrarão durante séculos, e só os clarividentes intuirão os efeitos subtis de tais elementos, sons e intenções nas suas almas ascendendo no corpo místico da Igreja.

O cognome de Justiceiro ou Cruel será apropriado conforme as circunstâncias, pois tal virtude cardeal tão demandada por Pedro e exercida duramente, também o foi sublimemente, ao fundar a obra-prima da estatuária jazente portuguesa, fazendo justiça ao amor divino incarnado e tão precocemente separado, imortalizando-o na união artística da Mors-Amor, sublimadora dos participantes, das limitações corporais e históricas. 

A perenidade exemplar do amor de Pedro e Inês, vencendo interesses políticos e matrimónios de conveniência, ódios, fragilidade e a morte, brota tanto da intensidade do Eros vivido e da unidade alcançada, derramados por seus descendentes e todos, como da arte dos anónimos artífices dos túmulos, orientados por D. Pedro e os monges brancos alcobacenses.

As suas vidas e sentimentos, cinzelados em rosáceas e pétalas animadas de cenas historiadas e íntimas, em roda da vida e via sacra paralelas à dor e amor do ungido Jesus e do mártir e mítico apóstolo das Índias S. Bartolomeu, fecundarão de modos caleidoscópicos os sucessivos peregrinos, poetas e fiéis do Amor que as admirarão.

A numinosidade serena das faces (de olhos abertos, videntes) de Inês e Pedro, brotando das suas estátuas jazentes, entre seis pares de anjos de guarda, é uma iniciação ao fogo do Amor divino no coração, e à luz da Sabedoria no olho e corpo espiritual, ou de glória, de cada um.

A missão de revificar o fogo do amor unificador e imortalizador de Inês e de Pedro, e em quem ama, pois provimos do Logos solar e devemos emaná-lo em reciprocidade e criatividade, inspirará ao longo dos séculos os que entrarão nesta grã-corrente e tenção do "quem puder fazer bem, faça" (Garcia de Resende), do "désir", divisa do seu neto (fruto da sua união com Teresa Lourenço, outra donzela da Galiza) o infante D. Pedro, e do seu amar "até o fim do mundo", fortificando a chama do Amor, na condição humana frequentemente "mísera e mesquinha", tal como nos Lusíadas canta Camões para Inês, na esteira de Sannazaro no De Partu Virginis para Maria, tal como discerniu Faria e Sousa.

Ao lermos, ouvirmos e admirarmos tais criadores e criações unimo-nos num culto à liberdade e beleza, energia psíquica e Amor, na religação ao espírito, à Divindade, ao Cosmos, no campo unificado pluridimensional de energia consciência informação.

Que o nosso coração e ser brilhem flamejantes, em sintonia com Jesus Cristo e Bartolomeu, Inês e Pedro, os Anjos e Arcanjos e a tradição Espiritual de Portugal. Viva Deus, santo Amor-Sabedoria!

domingo, 23 de março de 2025

As amizades, com as redes sociais, foram beneficiadas, alteradas ou diminuídas?

As amizades foram beneficiadas com as redes sociais, ou pelo contrário as aparências iludem e, por detrás dos sucessos dos "gosto e adoro", foram antes afectadas, diminuídas, enfraquecidas?

Como em todos os fenómenos psico-sociais há aspectos positivos e negativos a considerar, pois se a oferta de possibilidades de amizades se intensificou tremendamente, se a comunicação se alargou muitíssimo, vencendo muitas das distâncias, e se a instantaneidade também é valiosa na diminuição do tempo necessário às comunicações, temos de reconhecer que  a superficialização e a dispersão das relações é grande e pode tornar-se perigosa para as amizades em si e as suas virtudes, outrora tão exaltadas por exemplo Pitágoras, Cícero, Dante, e Erasmo, que manteve uma correspondência grande e substancial, criando amigos em muitos humanistas ou simples leitores das suas inspiradas e sábias obras, graças a essas trocas de sentimentos e informações nas hoje tão descartadas cartas?

Erasmo, mestre perene da humanidade. https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2017/07/biografia-de-erasmo-de-roterdao-por.html

Sabermos controlar as novas formas de diálogo com as pessoas amigas bem como o tempo que consagramos a elas é então fundamental, de modo a aprofundá-las e a fazer que elas saiam de automatismos, pois frequentemente são só de nome e de apoios ou gostos esporádicos, pouco se procurando saber com quem verdadeiramente comunicamos, e se somos verdadeiramente amigos, ou mesmo afins, e transmitindo com valor perene o que comunicamos.

Se outrora as amizades nasciam dos contactos presenciais, e das cartas escritas com o magnetismo pessoal e assentavam portanto em vários tipos de conhecimento e de interação, hoje pela internet a amizade perdeu tal substância corporal e pessoal, e podemos subitamente constatar que alguém que era nosso amigo no Facebook por certos motivos ideológicos nos detesta, ou então está apenas em oposição total e activa ao que nos propomos ou defendemos.

O que devemos fazer? Cortar com essas pessoas? Explicar-lhes que enquanto forem a favor de tal ou tal pessoa, governo ou ideologia mais vale mantermo-nos distantes nas redes sociais para não termos de entrar em discussões, seja para não gastarmos muito tempo nisso e que poderia ser melhor utilizado, seja porque por vezes por teimosias, insensibilidades e fanatismos tais confrontos arriscam-se a provocar cisões ainda mais fortes?

Muitos de nós já fomos cortados nas amizades de várias e também já cortamos algumas. Se a nossa conta-perfil é aberta, então essa pessoa em vez de ser contrariada pela notícia que damos, poderá simplesmente consultar o que partilhamos quando quiser.

Conseguirmos selecionar algumas pessoas com bastantes afinidades em vários aspectos da demanda da vida,  e mantermos diálogos internos ou pessoais, ou mesmo interacções presenciais (as normais nas amizades), sem termos de perder tempo com tanta gente que tem ideias e sensibilidades diferentes das nossas, parece-me então fundamental, tendo em conta que a vida é curta e a demanda da sabedoria, da verdade e do amor longa...

Nicholai Roerich e as amizades...

sexta-feira, 21 de março de 2025

Projectos antigos: "O livro das nossas amigas ervas, flores e fadas". As primeiras páginas: dedicatória e um poema.

                                                  

                 “O livro das nossas amigas, ervas, flores, fadas.”

          A quem amei desde criança até há tempos:
Mãe, Cabé, Edite, Bendita, Fátima, Alda D,  
           a quem amo hoje:
             você, Nancy, Inês e sobretudo essa alma de Itália, Cristina,
e ainda Dalila, Teresa, Leonor, Joca, Margarida, Helena,
Teresa, esta nova alma que vem da Luz.
E acima destes seres todos aqueles grande Seres
que são os Mestres, as Hierarquias Divinas, Cristo
e vós, ó Deus. Obrigado...


«Inaugurado em 17 de Janeiro de 1987, dia de S. Antão, abade no Egipto, aquele que suportou as tentações pela força da pureza, do espírito e do templo de Deus que invocou na sua vida.
Também a nós nos cabem estas tentações e quando as vencemos pela ardência ainda maior das nossas aspirações do coração, podemos então gerar estes frutos de sabedoria e amor.
Vou bebendo uma mistura de Valeriana, Bardana e Dente de Leão e saúdo a Mãe Terra, a Natureza pura e todas as suas fadas, gnomos, silfos, salamandras e anjos, para que um dia, o mais cedo possível, eu possa deixar a cidade e partir para o seu seio, e aí trabalhar e viver na harmonia do Amor Divino, que tinge os nascentes e o poentes e quanta cor ondula nas brisas do vento que passa.


Ó`Terra, ó alma dos campo e florestas,
feita de silêncios e recolhimentos,
santuários naturais presentes.
Quanto poderemos rever-vos?

Natura, Natura minha alma apela por ti,
pelo verde dos campos, pelos pássaros a chilrear
pelos regatos cristalinos e as montanhas nevadas.
Contudo, a terra está dura, seca, difícil de se trabalhar.

Porquê? Porque falta o amor à história,
o Logos que religa o universo
em sinfonias de alento interno,
respiração duma mesma Fonte
que do Alto brota e no vale se derrama.

Digo-te aDeus, ó Mãe Terra, ó mulher amada,
ó seios puros dos sorrisos verdadeiros.
Ó nuvens dos céus, ó cereais nascentes,
ó amigas árvores, até breve. Eu vos amo. 

quinta-feira, 20 de março de 2025

O uivar da noite, o yoga das mil gerações, e um poema-oração do amor ao Anjo e a Deus. Dum diário.

Smirnov-Rusetsky. Anjos de vigia.

Da demanda em diários antigos de encontros e diálogos com o Afonso Cautela, para o seu In-Memoriam, vou transcrevendo para o blogue alguns poemas-orações, ou pequenos textos:

«Retomo a escrita neste caderno [diário] pois o outro desapareceu há dias. Hoje são 6 de Fevereiro[de 1990], o vento cobriu a santa noite do seu desesperado uivar e arremessou-se contra as janelas procurando entrar nos quartos, camas e almas.
Acolhi a noite de braços abertos, enlacei-a
na minha procura de repouso e saúde.
Num dos sonhos alguém me dizia que o meu yoga, agora, tinha o poder das mil gerações. Ou seja, penso eu, que vinha de várias reincarnações. Ou então, que estou ligado a linhas de tradição imemoriais. Ou que a minha união ou yoga era mais completa...


Rezamos poucos, meditamos pouco.
Muito mais faziam-no os cavaleiros do Amor.
Os que nos falta para tal? O fogo do Amor?

Ó meu Deus, ajuda-nos a orar.
Abre-nos às tuas inspirações,
para a nossa alma a Ti se ligar
e aos santos, mestres e anjos.

Que as tuas forças desçam sobre nós
e sobre todos os que precisam delas.
Que a saúde, a paz, a alegria estejam connosco.
Que este novo dia seja feito com tua Presença.

Ó meu Deus, quero-te amar mais,
quero ver e viver sempre a verdade.
Auxilia-me com o teu discernimento,
Anjo, torna-me mais clarividente.