Outrora pelas cartas circulavam muitas energias valiosas das almas, e quando eram abertas derramavam os seus eflúvios magnéticos e anímicos e causavam reacções fortes. Depois, passam os anos, as décadas, os séculos, e tudo isso que se depositou nas profundezas das almas, se as cartas escaparam à sua fragilidade material e foram preservadas, pode subitamente renascer e provocar conversas, estudos, impulsões, transmutações. Certamente há as mais modestas nos seus efeitos, fazendo relembrar momentos mais difíceis ou mais felizes, mais criativos ou mais esperançosos, frequentemente amorosos, familiares, espirituais. Todos nós as escrevemos, todos nós as recebemos, pelo menos até começo do séc. XXI, quando a comunicação digital as relegou para os museus públicos, particulares, imaginários mas todos desfrutámos (e poderemos desfrutar) de tal comunicação animada pela mão quente e o coração ardente, e como isso encantava, agia subtilmente...
Esta carta foi escrita pela Manuela, que conheci quando ensinava Vedanta e Agni Raj Yoga no Porto há já bastantes anos, no restaurante macrobiótico Suribachi, à rua do Bonfim, ainda hoje a funcionar e bem, mas o tempo encarregou-se de nos afastar e já não sabemos se ainda peregrinamos em simultâneo na Terra, como então realizámos nas aulas, meditações e "visitas de estudo" ao Sant'Anna Dionísio, à Dalila Pereira da Costa e à Natureza. Patenteia a fase difícil mas bem introspecionada que a Manuela passou, com vários choques, o apoio que lhe dei com livros, cartas e meditações e a sua transmutação anímica, saída para a luz e abertura à unidade perene, numa vontade aprofundada de viver grata, harmoniosa e amorosamente.
Oiçamos a Manuela, e muita Luz e Amor na sua alma:
Querido amigo:
A vinda do Pedro a minha casa foi determinante no processo da minha cura, assim como as cartas que me escreveu. Obrigado pelas algas e pelo livro sobre a Macrobiótica.
Estou muito gorda (70 Kg). Espero que em breve comece a perder um pouco desta gordura porque me incomoda bastante. Os remédios abrem o apetite e engordam um pouco. Além disso, o meu estado de abatimento levou-me a uma super-alimentação como compensação. Os choques foram muito fortes e simultâneos, sofri mais do que poderia pensar que um ser humano tivesse capacidade de suportar. Meditei muito sobre o significado da vida.
Agora só quero respirar e ter saúde para poder viver aqui e agora, no eterno sempre presente. Eu, consciência, impessoal, unido ao todo, abarcada por este. Viver aqui e agora, mas como se estivesse já no outro lado, na outra margem. A vida às vezes quase me sufoca. Sei que existe algures algo que me poderá dar essa religação espiritual que tanto anseio. Agora, assim, sinto-me por vezes alheada de mim mesma e um pouco só.
Mas como é bom estar vivo! Quero tanto viver! Amo tudo o que existe. Passo pelas flores e pelas árvores e toco-lhes suavemente como se acariciasse uma velha amiga. Olho para tudo como se fosse pela primeira vez porque os meus olhos vêm realmente de uma maneira diferente. Sinto-me mais perto de tudo e de todos e principalmente estou mais preparada para partilhar o sofrimento dos outros.
Se não existisse o Pedro, eu não estaria neste momento com esta vontade de crescer, criar e amar. Por tudo o que me doou, ser-lhe-ei
eternamente grata.
Com todo o carinho
e estima,
Manuela.
2 comentários:
Belíssima, Pedro, esta carta da sua amiga Manuela. Tal como ela, quantas e quantas vezes dou Graças a Deus pela amizade, pelo apoio e ensinamentos do Pedro. É uma benção na nossa vida. Muitas graças, carissimi amicum.
Que lindo testemunho de amor e partilha
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