quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Rudolfo Steiner: Na Cristandade, a Rússia é o actual povo de Cristo. E o filósofo Soloviev é o seu mais puro e belo representante.

Como sabemos Rudolfo Steiner (1861-1925, um cientista, filósofo e clarividente, e se sempre acertado no que via ou não pode-se discutir, fundou a concepção de história antroposófica que reconhece épocas anteriores, tal a da Lemúria e a da Atlântida,  considerando que na civilização actual post-Atlântida,  sucedendo à época índiana (que Steiner datou entre 8.200 e 5.000 a. C.), a  época persa, e depois a egípcia, e por fim a época greco-latina, que começou em 747 a.C. e durou até o início do século XV, a 1413 entrou-se na quinta época, na qual começa a desenvolver-se o que ele denominou da Alma Consciência, ou Alma da Consciência, acima da mera Alma da Razão, ou Alma Racional e Intelectual, até então a predominante.  Na  sua palestra VIII, do ciclo de conferência intitulado Do Sintoma à Realidade na História Moderna proferida a 2  de novembro de 1918, em Dornach, Steiner traçou o quadro dos acontecimentos históricos exteriores e os anímicos correspondentes interior que se  destacaram até ao século XX, a denominada quinta época post-atlanteana, ou seja após o período da ainda hoje tão hipotética e misteriosa Atlântida, e consignou algumas afirmações muito interessante para compreendermos nos nossos dias o conflito do Ocidente oligárquico, hegemónico, imperialista e infrahuamnsita contra a Rússia e a sua  alma religiosa, patriótica e tradicional, e o valor da Rússia como o catual povo de Cristo, algo que Alexander Dugin e sua filha Daria também têm exposto, e finalmente excepcional valor espiritual de Vladimir Soloviev, que temos vindo a abordar no blogue. 

 Oiçamo-lo, a dado passo da sua comunicação: «Por volta da época em que começou a quinta época pós-atlanteana, não apenas muitas coisas, mas também a vida religiosa da humanidade foi envolvida num movimento com repercussões, um movimento que de forma alguma está hoje concluído. Deveremos ter uma compreensão profunda desse movimento se os homens realmente desejam fazer uso da Alma Consciência. Pois só quando os homens chegarem a uma compreensão clara do que está a acontecer na evolução poderão participar do desenvolvimento futuro da humanidade na Terra.

Por volta do início do século XV,  são perceptíveis os primeiros indícios dos impulsos religiosos. Vamos primeiro observar esses impulsos religiosos na Europa, pois, ao vê-los em ação na Europa, teremos também uma imagem de seu impacto no resto do mundo. Os primeiros impulsos religiosos haviam sido preparados há muito tempo—desde o século X ou até mesmo o século IX na vida espiritual da Europa e do Oriente Próximo. E tal  deveu-se ao facto de que o efeito residual do impulso crístico se manifestou-se no mundo civilizado de um modo muito especial. Este impulso crístico, como sabemos, é um processo contínuo. Mas esta afirmação abstrata—que o impulso crístico é um processo contínuo—diz, na realidade, muito pouco. Devemos também averiguar de que maneira ele adquire um caráter distinto e separado, de que maneira, nas suas diferenciações, ele é então modificado, ou melhor ainda, de que modo ele é metamorfoseado e assume formas amplamente diferentes.
Aquilo que começou a despertar no início do século XV e que ainda exerce uma profunda influência sobre os seres humanos de hoje—muitas vezes inconscientemente e sem que eles suspeitem—está relacionado com eventos catastróficos do presente. E isto explica-se pelo fato de que, a partir dos séculos IX e X, foi possível para o ‘povo do Cristo’ a Cristandade emergir num certo território dentro do mundo civilizado, um povo que estava dotado da 
especial capacidade inata de se tornar o veículo da revelação do Cristo para as gerações futuras. Exprimimos uma verdade profunda quando dizemos que, nesta época e em preparação para tempos futuros, um povo foi especialmente preparado pelos eventos mundiais para se tornar o Povo do Cristo.
Essa situação surgiu porque, no século IX, aquilo que continuava a operar como o impulso crístico adquiriu, em certa medida, um carácter separado na Europa e essa diferenciação é vista no facto de que certas almas mostraram-se capazes de receber diretamente a revelação do impulso crístico (ou seja, essa forma particular do impulso crístico), e que essas almas foram desviadas para o Leste da Europa. E a consequência da controvérsia entre o Patriarca Fócio e o Papa Nicolau I foi que o impulso crístico, na sua intensidade particular, foi desviado para o Leste da Europa.
Como sabem, isto levou à famosa controvérsia do filioque— a questão se o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, ou apenas do Pai. [Sincronicamente, há dias o papa aboliu essa diferença que separara a Igreja Católica de Roma da Igreja Ortodoxa de Bizâncio e da Rússia.] Mas não desejo entrar em disputas sobre dogmas. Quero discutir apenas aquilo que tem uma influência duradoura—essa diferenciação, essa metamorfose do impulso crístico que caracterizada pelo facto de que os habitantes da Europa Oriental ficaram receptivos ao influxo contínuo do impulso crístico, à presença contínua do ‘sopro’ de Cristo. Esta forma particular (ou metamorfose) do impulso crístico foi desviada para o Oriente e, como consequência, o povo russo, no sentido mais amplo do termo, tornou-se, dentro do quadro da civilização europeia, o Povo do Cristo.
É particularmente importante saber disso no momento actual. Não digam, diante dos acontecimentos actuais, que esta verdade parece estranha, pois isso seria não compreender o princípio fundamental da sabedoria espiritual, a saber, que, paradoxalmente, os acontecimentos exteriores muitas vezes contradizem a sua verdade interior. Que essa contradição possa ocorrer aqui e ali não é importante; o que é importante é que reconheçamos quais são os processos internos, as verdadeiras realidades espirituais. Por exemplo, temos aqui o mapa da Europa (aponta para um diagrama no quadro-negro); vemos varrendo para o leste desde o século IX aquela onda espiritual que levou ao nascimento do Povo do Cristo.
O que queremos dizer ao afirmar que o Povo de Cristo surgiu no Oriente? Queremos dizer com isso  e isso pode ser verificado ao estudarem-se os sintomas na história externa; aí encontrareis, se tiverdes em conta os processos internos e não os fatos externos que muitas vezes contradizem a realidade, que esta afirmação é plenamente confirmada  — que um território foi reservado no Leste da Europa onde viveram homens que estavam diretamente unidos ao impulso crístico. O Cristo está sempre presente como uma aura interior impregnando o pensamento e o sentimento deste povo.
Não se pode talvez encontrar prova mais clara ou mais direta do que eu disse aqui do que a personalidade de Solovieff [Soloviev], o filósofo russo mais destacado dos tempos modernos. Leiam-no e  sentirão — apesar das características peculiares de Soloviev que já discuti de outros pontos de vista —  como flui directamente para ele o que poderia ser chamado a inspiração de Cristo. Essa inspiração actua de forma tão poderosa dentro de Soloviev que ele não consegue imaginar toda a estrutura da vida social de outro modo senão ordenada por Cristo Rei, o Cristo Invisível como soberano da comunidade social. Para Soloviev tudo está imbuído de Cristo, cada ação realizada pelo ser humano está permeada [ou impregnada] pelo impulso cristão que penetra mesmo até ao sistema muscular. O filósofo Solovieff é o mais puro e belo representante do Povo de Cristo.
Daí flui toda a evolução russa até aos nossos dias. E exactamente quando se sabe que o povo russo é o Povo de Cristo, também poderemos entender, como veremos mais tarde, a evolução actual até à sua 
presente forma. Esta é metamorfose que o Povo de Cristo preparou, numa diferenciação única do impulso Cristo.»

                 From Symptom to Reality in Modern History

GA 185 2 November 1918, Dornach   Lecture VIII

If we wish to understand all that plays into the souls of men of this fifth post-Atlantean epoch we must bear in mind the part-evolution that intervenes in the total evolution of mankind. For this part-evolution proceeds slowly and gradually. In order to examine briefly the religious development of this epoch it will be necessary to keep this threefold evolution to some extent in the background. About the time when the fifth post-Atlantean epoch began, not only many things, but also the religious life of mankind was caught up in a movement that has repercussions, a movement that is by no means concluded today. We must have a profound understanding of this movement if men really wish to make use of the Consciousness Soul. For only when men arrive at a clear insight and understanding of what is happening in evolution will they be able to participate in the further development of mankind on earth.

Towards the beginning of the fifteenth century the first stirrings of the religious impulses are perceptible. Let us first look at these religious impulses in Europe for having seen them at work in Europe we shall also have a picture of their impact upon the rest of the world. The first religious stirrings had long been prepared—since the tenth century or even the ninth century in the spiritual life of Europe and the near East. And this was due to the fact that the after effect of the Christ impulse manifested itself in the civilized world in a very special way. This Christ impulse, as we know, is a continuous process. But this abstract statement—that the Christ impulse is a continuous process—says in reality very little. We must also ascertain in what way it acquires a distinct and separate character, in what way, in its differentiations, it is then modified, or better still, in what way it is metamorphosed and assumes widely different forms.

That which began to awaken at the beginning of the fifteenth century and which still exercises a profound influence on men today—often unconsciously and without their suspecting it—is related to the catastrophic events of the present time. And this is explained by the fact that from the ninth and tenth centuries onwards it was possible for the ‘people of the Christ’ to emerge in a certain territory within the civilized world, a people that was endowed with the special inborn capacity to become the vehicle of the Christ revelation for future generations. We express a profound truth when we say that in this epoch and in readiness for later times a people had been specially prepared by world events to become the People of the Christ.

This situation arose because, in the ninth century, that which continued to operate as the Christ impulse acquired, to some extent, a separate character in Europe and this differentiation is seen in the fact that certain souls showed themselves capable of receiving directly the revelation of the Christ impulse (i.e. this particular form of the Christ impulse), and that these souls were diverted towards Eastern Europe. And the consequence of the controversy between the Patriarch Photius1 and Pope Nicholas I was that the Christ impulse in its particular intensity was diverted to the East of Europe.

As you know this led to the famous filioque controversy—the question whether the Holy Ghost proceeds from the Father and the Son, or from the Father only. But I do not wish to enter into disputes over dogma. I want to discuss that which has a lasting influence—that differentiation, that metamorphosis of the Christ impulse which is characterized by the fact that the inhabitants of Eastern Europe were receptive to the continual influx of the Christ impulse, to the continuous presence of the ‘breath’ of Christ. This particular form (or metamorphosis) of the Christ impulse was diverted to the East and in consequence, the Russian people, in the widest sense of the term, became, within the framework of European civilization, the People of the Christ.

It is particularly important to know this at the present time. Do not say in face of present eventsT1 that such a truth seems strange, for that would be to misunderstand the fundamental principle of spiritual wisdom, namely, that, paradoxically, external events often contradict their inner truth. That this contradiction may occur here and there is not important; what is important is that we recognize which are the inner processes, the true spiritual realities. For example, we have here the map of Europe (points to a diagram on the blackboard); we see sweeping eastwards since the ninth century that spiritual wave which led to the birth of the People of the Christ.

What do we mean by saying that the People of the Christ arose in the East? We mean by this—and it can be verified by studying the symptoms in external history; you will find, if you bear in mind the inner processes and not the external facts which often contradict reality that this statement is fully confirmed—we mean by this that a territory has been set apart in the East of Europe where lived men who were directly united with the Christ impulse. The Christ is ever present as an inner aura impregnating the thinking and feeling of this people.

One cannot find perhaps any clearer or more direct proof for what I have said here than the personality of Solovieff, the most outstanding Russian philosopher of modern times. Read him and you will feel—despite the peculiar characteristics of Solovieff which I have already discussed from other points of view—you will feel how there streams into him directly what could be called the Christ inspiration. This inspiration acts so powerfully within him that he cannot imagine the entire structure of social life otherwise than ordained by Christ the King, the Invisible Christ as sovereign of the social community. To Solovieff everything is imbued with the Christ, every single action performed by man is permeated with the Christ impulse which penetrates even into the muscular system. The philosopher Solovieff is the purest and finest representative of the People of the Christ.

Here is the source of the entire Russian evolution up to the present day. And when we know that the Russian people is the People of the Christ we shall also be able to understand, as we shall see later, the present evolution in its present form. That is the one metamorphosis prepared by the People of the Christ one example of the differentiations of the Christ impulse.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A corrupção na Ucrânia e na União Europeia começa a ser desvendada. Quantos cairão? Zelensky, Kaja Kallas ou mesmo Ursula?

  Como sabemos todos a Bélgica sofreu muito com o nacional- socialismo e o nazismo alemão, tanto na I como na II grande guerra, com milhares de mortos resultantes da invasão e ocupação. É natural que não tenham uma simpatia enorme pela Alemanha e pelo contrário estejam mais gratos aos russos e norte-americanos por terem derrotado Hitler.
Esse sofrimento da Bélgica ecoou muito em Portugal e conheço duas peças teatrais escritas e representadas na época em homenagem ao povo belga e com as receitas destinadas às crianças belgas. Uma delas, intitulada Pátria, foi escrita pelo meu bisavô materno Higino da Costa Paulino, e representada em Panjim, em Goa, sendo o dinheiro entregue ao cônsul da Bélgica.
É assim natural que o desejo da direcção da União Europeia de se apoderar do dinheiro russo que está depositado nos seus bancos seja visto com desagrado, pois não só está-se a pôr em causa a estabilidade do sistema monetário internacional, como a trair a confiança russa.
Neste sentido tem sido noticiada a constante recusa do governo belga em ceder às pressões repetidas da Direccão da União Europeia de se apoderar de tal dinheiro para enviar para o sorvedouro da Ucrânia,  para os accionistas das fábricas de armamento e para os bolsos dos homens do regime de Kiev, vários dos quais estão já comprovadamente indiciados, alguns mesmo fugidos para Turquia e Israel.

                                               
Assim a 3
de dezembro  a agência TASS noticiava que o Primeiro-Ministro belga Bart De Wever, numa entrevista ao jornal La Libre, respondendo a uma pergunta sobre a possível confiscação dos ativos congelados da Rússia para financiar a Ucrânia, dissera: "Quem é que realmente acredita que a Rússia será derrotada na Ucrânia? São contos de fadas, ilusões puras," acrescentando que, no passado, os activos soberanos de um país eram congelados apenas durante conflitos e podiam ser usados por outro país como reparações em caso de derrota. No entanto, isso era muito pouco provável no caso da Rússia. "Roubar os activos congelados de outro país, os seus fundos soberanos - isso nunca foi feito antes," realçou o  corajoso 1º ministro belga De Wever. Anote-se que quem talvez devesse pagar seria o Ocidente pois as terras e construções de Donbas ficaram quase todas arrasadas pela violência inútil dos extremistas ucranianos e da NATO e seus mercenários, com o dinheiro extorquido ao cidadão europeu.

                               Belgium swerves to the right as Bart De Wever sworn in as prime minister | The Times of Israel

Simultaneamente a sensação de Bruxelas ter deixado de ser a capital  Bélgica e ser sobretudo da União Europeia, que a invadiu e ocupa,  também deve estar viva em muitos belgas. Não é assim de estranhar que recentemente, em simultâneo, com as investigações sobre a corrupção nas figuras altas  do regime de Kiev, que tem apanhado muitos, o mesmo se tenha realizado pela polícia belga, por  reclamações ou denúncias de que nem tudo se estava  a mover em conformidade legal e que houvera quem aproveitasse da sua posição para manipular decisões e para desviar dinheiro. Estão em curso...

Fotografia histórica e desanimada da chamada coligação dos dispostos a teimosamente continuarem  a fazer morrer milhares de eslavos, no dia em que os USA assinalou o seu desapoio da aventura anti-russa iniciada por Joe e Hunter Biden, Victoria Nulland, Boris Johnson, Stoltenberg e agora Rutte..

Que tal não seja nada do agrado de Ursula, Kallas e Costa, e colateralmente de Macron e Starmer,  que ainda recentemente apresentavam a ideia de instalarem mais mecanismos de controle sobre a liberdade de pensamento e de comunicação (que chegou a um estado absurdo de opressão, ao apoio pacífico ao povo palestiniano tão martirizado, pela polícia do  governo do Reino Unido do sionizado Keir Starmer), é muito natural  e, portanto, estarão a ver com apreensão o desbobinar do fio da meada  dos biliões que a União Europeia, ou  os seus governos, cobram dos seus habitantes e usam mal, e distribuem e corrompem com efeitos péssimos na moral das comunidades e partidos europeus...

Foi assim com relutância que tiveram de ver noticiada, a 1 de Dezembro, a detenção preventiva duma alta figura  da União Europeia, Federica Mogherini, que já fora vice-Presidente e chefe da política externa, e era agora a actual reitora do Colégio de Europa, um Instituto para o treino de jovens diplomatas, mais o seu assessor Stefano Sassino, por indiciamento "de corrupção e fraude, conflito de interesses e violação do segredo profissional". Após dois dias de interrogatórios  foram soltos pois não apresentam perigo de fuga.

  Se já se sabe há muito, pelos próprios jornais britânicos, que  o sinistro Boris Johnson deu a ganhar muito dinheiro ao amigo dono da fábrica de drones (e logo a si), que o acompanhou a Instambul para influenciarem Zelensky no sentido de não aceitar o acordo e cessar-fogo proposto pela Rússia, garantindo-lhe o apoio do Ocidente, missão que cumpriu certamente a soldo da oligarquia do Forum Económica Mundial, Open Society e &, mas só recentemente começou a circular a informação que Kaja Kallas pode estar envolvida também no desvio do dinheiro enviado para rearmamento da Ucrânia.

Notícia via Max Blumenthal, com George Galloway, Douglas MacGregor, Dima e Alexander Dugin, Jeffrey Sachs, Mersheer, Marandi, dos melhores analistas mundiais.

Faz sentido então que  possa vir a ser detida esta neta dum oficial nazi que foi levada para  a Sibéria após a II grande Guerra,  criando-lhe esse ódio visceral que tem demonstrado pela Rússia, tanto mais que haverá muito belga e nomeadamente na polícia que ainda tem alguma consciência  da história europeia e da dignidade humana e da amizade com a Rússia e que não está disposta a ver a Europa outra vez em guerra com a Rússia, tal como as "hubricas" e obcecadas Ursula, e Kallas, além de Costa, Starmer, Macron, Merz, Tusk, querem.

 Tal como na Ucrânia os investigadores da anti-corrupção, mandados por Trump,  estão a descobrir um número elevado de oficiais corruptos, admitindo-se que tal possa chegar até ao indiciamento,  afastamento ou mesmo  detenção de Zelensky, tanto pelos desvios de dinheiro, visíveis nas moradias luxuosas que a sua família têm pelo mundo, como pelo facto de estar ser  posto em causa, externa e internamente, pela sua liderança suicida que fez morrer quase dois milhões de ucranianos e milhares de russos inutilmente,  também a detenção de Kaja Kallas e de outros membros da UE, diminuiria  a ódio à Rússia e  geraria um espaço branco de silêncio redentor nas ondas do éter e nas mentes dos cidadão, há quatro anos violentadas e soterradas por tais políticos ocidentais com os seus megafones, amplificados pelos Milhazes e Rogeiros, Isidros e Sollers de cada país.

Isso
permitiria a possibilidade da III grande Guerra não continuar a crescer e diminuiria a estupidificação europeia pela corrente narrativa oficial ocidental da defesa da Ucrânia atacada, quando o que o Ocidente pretende é sobretudo ganhar riquezas, com o objectivo de fragmentar a Rússia e aus aliderança no BRICS, através da mudança de regime, das sanções ou  da guerra, algo que falhou completamente, e só os tolos e russófobos é que se mantêm ainda no apoio ao regime de Zelensky e à política da actual direcção da União Europeia.

Esperemos que sejam indiciadas e que  não possam escapar, tal como Ursula von der Leyen tem conseguido, adiando  a sua prestação de declarações quanto às ajudas ilegais fornecidas à firma do seu marido, a Modena, durante a crise do Covid, no que é conhecido como o Pfizer case.
                                        
Esperemos que termine rapidamente esta página tenebrosa da União Europeia, ins
ensível, fanática, ditatorial, woke, rota, desorientada, infrahumanizada, e que os principais culpados sejam detidos, julgados e afastados e que a Europa sábia de Pico della Mirandola e Marsilio Ficino, de Erasmo e Thomas More, Valentim Andrea e Jacob Böehme, de Fitche e Schelling, de Soloviev e Berdiaev, de Agostinho da Silva e de Dalila Pereira da Costa ressurja...   

Sancte Erasme, ora pro nobis, ora cum nobis!

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Rudolfo Steiner: "Vladimir Soloviev, um mediador entre o Ocidente e o Oriente" O valor da sua leitura para a espiritualidade Ocidental se ampliar.

 É conhecido por muitos (ligados à espiritualidade e à antroposofia),  a valorização do povo Russo que Rudolfo Steiner expôs ou desenvolveu em várias palestras, mas poucos conhecerão a admiração sentida por Vladimir Soloviev, que tinha como o maior filósofo russo de então (algo reconhecido hoje por todos, tendo entre nós Álvaro Ribeiro apresentado e traduzido do francês A Verdade do Amor, altamente recomendável), e que pela sua alma oriental era ainda capaz de, a partir das forças da natureza e humanas, sentir e viver a religação espiritual ao Cristo, ao Logos Solar, à Divindade, considerando-o mesmo como um representante dos antigos sacerdotes que conseguiam estar conscientes dos mundos superiores.
Já escrevi sobre ele, https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2023/05/vladimir-soloviev-vida-e-obra-santa.html e https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/11/vladimir-soloviev-e-oracao-o-que-e-o.html, e iremos provar a asserções com alguns textos, que contextualizaremos em dois artigos. O primeiro, escrito por Rudolfo Steiner (27/2/1861 a 30/3/1925) em Janeiro de 1922,   é a introdução a uma edição alemã das obras completas de Vladimir Soloviev (28/1/1853 a 13/8/1900): 

  Vladimir Solovyov, um mediador entre o Ocidente e o Oriente"

«O facto de que a Kommende-Tag-Verlag em Estugarda ter decidido apresentar ao público as obras do filósofo russo Vladimir Soloviev em tradução alemã corresponde nos dias de hoje  a uma necessidade na vida intelectual. Da riqueza do que Soloviev escreveu, foi recentemente publicada a seguinte obra: Doze Palestras sobre o Deus-Homem, traduzida do russo por Harry Köhler (Stuttgart, 1921). A vida de Solowjoff  insere-se na segunda metade do século XIX, e as suas obras no  final dele. Como é que o pensamento da Europa Oriental pondera as questões mais profundas da existência humana, como é que lida com as questões vitais de seu próprio tempo, é revelado de forma vívida nas reflexões de Soloviev. Ele é uma personalidade que examina minuciosamente a maneira de pensar das visões de mundo da Europa Ocidental e Central. Ele comunica dentro das formas de pensamento nas quais Stuart Mill, Henri Bergson, Émile Boutroux e Wilhelm Wundt também se exprimem. Mas fala de uma maneira completamente diferente de todos eles. Usa essas formas de pensamento como uma linguagem, mas revela a vida interior do ser humano a partir de um espírito diferente. Ele mostra que na Europa Oriental ainda vive muito daquele espírito [geist] que no início da evolução cristã era o das outras regiões europeias, mas que na Europa Ocidental  foi completamente convertido [ou transformado]. O que o resto do Ocidente só pode compreender a partir da história é [ou tem] vida [ou visão] imediata no Oriente [no caso, na Rússia e em Soloviev].
 Soloviev fala de tal maneira que se sente uma certa revivificação de como, até ao século IV, os pensadores do cristianismo lidavam [abordavam, trabalhavam] com a união [ou unificação] do Ser Cristo no homem Jesus de Nazaré [der Vereinigung der Christus-Wesenheit in dem Menschen Jesus von Nazareth]. Para falarem sobre tais assuntos tal como Soloviev fala,  os pensadores da Europa Ocidental e Central  carecem hoje de todas as possibilidades conceptuais.
Na alma de Soloviev, duas experiências coexistem claramente: a experiência do Pai-Deus na Natureza e na Existência Humana [Menschendasein], e a do Filho-Deus, Cristo, como a força que arranca a alma humana dos laços da existência natural e primeiro a introduz na verdadeira existência espiritual. [Rudolfo Steiner não menciona, na visão do mundo divino de Soloviev, Sophia, a Sabedoria Divina, o aspecto feminino de Deus, mas de facto nos Fundamentos espirituais da Vida ela não é mencionada.]
Rudolfo Steiner esculpindo em madeira o Cristo entre as polaridades adversárias
 Os teólogos contemporâneos na Europa Central já não conseguem distinguir entre essas duas experiências. A alma deles chega apenas à experiência do Pai. E dos Evangelhos, eles apenas ganham a convicção de que Cristo Jesus foi o anunciador humano do Pai divino. Para Soloviev, o Filho está na sua divinidade [göttlichkeit] junto, [neben, ou para além], do Pai. O ser humano pertence à natureza como todos os seres. A natureza em todos os seus seres é o resultado do divino [göttlichen]. Pode-se [uma pessoa pela reflexão e meditação] impregnar-se com este pensamento. Então, olha-se para o Pai-Deus. 
Mas também se pode sentir: o homem não deve permanecer na natureza. O ser humano deve elevar-se acima da natureza. Se ele não se elevar acima da natureza, a natureza torna-se nele pecaminos . Se alguém seguir os caminhos da alma nessa direção, chega às regiões onde encontra no Evangelho a revelação do Filho de Deus. A alma de Soloviev move-se por esses dois caminhos. Ele oferece uma visão de mundo que se vivencia bem acima da religião ortodoxa russa , e embora completamente cristã em termos religiosos, também se revela como um autêntico pensamento filosófico.
A filosofia fala através da religião de Soloviev; na sua obra, a religião transforma-se numa visão do mundo filosófica. No pensamento europeu, o único caso semelhante encontra-se em Escoto Erígena no séc. IX [815-877], e depois não mais. Este  irlandês, vivendo na Francônia [França Ocidental], deu no seu livro Sobre a Organização da Natureza [De divisione de natura] uma visão geral da natureza do mundo e do ser humano na qual   ainda vivia no Ocidente algo de semelhante ao que se respira nos pensamentos e sentimentos de Soloviev.  Mas em Erigena já podemos ver a desaparecer o elemento da visão de mundo ocidental que ainda está cheia de vida em Soloviev. Isto emerge da apresentação dela à alma do leitor europeu como uma ressurreição do espírito [presente n'] os primeiros séculos cristãos.
Considere-se como Soloviev começa a falar [e Steiner vai transcrever com algumas leves adaptações] sobre Natureza, Morte, Pecado, [Lei] e Graça num ensaio [Os Fundamentos espirituais da Vida, o qual foi abordado por mim, sobretudo quanto à oração, em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/11/vladimir-soloviev-e-oracao-o-que-e-o.html]: 
“Na alma humana há duas asas invisíveis, dois desejos [wünsche, ou aspirações].” Elas elevam a alma acima da natureza. Elas são o desejo [ou sede] de imortalidade e o desejo [ou sede] de verdade ou perfeição moral. Uma aspiração  sem a outro não tem sentido. Uma vida imortal sem perfeição moral não traria felicidade [ou não é um bem]. O homem não pode  contentar-se em ser imortal; ele  deve também tornar-se digno dessa imortalidade, vivendo de acordo com a [ou realizando a]verdade. Mas a perfeição também não serve de nada se expirar na morte. Uma vida imortal sem perfeição seria um logro; a perfeição sem imortalidade seria uma falsidade revoltante que faria mal."
Solowjoff, ou Soloviev, fala a partir de tal modo de pensar. Isso dá às suas descrições o seu caráter oriental. A presente era precisa de ampliar o horizonte do seu espírito. As pessoas do círculo terrestre devem-se aproximar umas das outras. Soloviev é um representante da Europa Oriental. Ele pode servir para expandir a vida espiritual da Europa Ocidental. Ele próprio tinha-se integrado nessa vida intelectual segundo o seu modo  de sua expressão; mas também mantendo plenamente a sua alma oriental.  Encontrá-lo, para um ocidental, significa descobrir algo que revela aspectos significativos da humanidade, mas que o homem ocidental e centro-europeu já não consegue encontrar, pelo menos nos caminhos que se tornaram os caminhos do conhecimento nos últimos séculos.
O Ocidente e o
Oriente têm de descobrir o entendimento de um com o outro. Conhecer-se melhor Soloviev contribuirá muito para ajudar o Ocidente a ganhar tal entendimento.»
       Possamos ler, meditar e aprofundar  obras de Soloviev e de Steiner, e vivenciar melhor as realidades espirituais referidas, tão essenciais por entre as lutas e a manipulação geral, tendo o centro do coração ígneo e intensificando o bater das asas referido no início...
 Encontra o texto em alemão e a tradução inglesa oficial, em   https://rsarchive.org/Articles/GA036/English/SOL2024/15_Vladimir_Solovyov.html

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

1º de Dezembro, na história e hoje. O Arcanjo de Portugal. A luta contra a opressão de Portugal pelos actuais dirigentes oligarquizados e globalizados.

                                          

Lutar e vencer a ignorância e arrogância dos que se opõem agressiva, opressiva ou violentamente ao Bem, à Justiça, à Verdade, ao Amor, à Fraternidade e à Liberdade de Portugal e da Multipolaridade equitativa mundial. 

Escrito  extraído do texto do blogue intitulado: Dezembro e as Efemérides do encontro do Oriente e do Ocidente, e em especial da Índia e de Portugal. Constantemente ampliadas, e actualizado.

1640. Portugal reconquista neste dia 1º de Dezembro a independência nacional, após sessenta anos de subordinação à uma má e bastante opressiva administração castelhana, sobretudo com o conde de Linhares e Miguel de Vasconcelos, graças à conjuração rápida e corajosa desencadeada vitoriosamente na capital do reino, no paço Real e nos centros nevrálgicos do poder, na qual se destacam D. Antão de Almada (num desenho das época, em baixo), o futuro marquês de Marialva D. António de Meneses, o 3º conde de Arcos D. Tomás de Noronha (1593-1669) e outros dos quarenta patrióticos restauradores. A boa nova leva o seu tempo até chegar ao Oriente, e é acolhida com júbilo. Não sendo aceite pelos castelhanos nem pela Santa Sé que a eles estava condicionada, será por batalhas e lutas prolongadas durante vinte e oito anos que a Restauração triunfará.

D. Antão de Almada, 7º conde de Avranches (1573-1644) uma alma abnegada e heróica do Portugal, exemplo que nos deve impulsionar criativamente na luta contra a decadência política, partidária e humana de Portugal e da Europa espezinhada  pela clique neo-liberal anti-democrática e ditatorial que dirige a União Europeia e o Reino Unido..

O Arcanjo de Portugal, numa representação quinhentista cultuável na charola de Tomar.

 Tornado feriado nacional, o 1º de Dezembro permitirá aos portugueses consagrarem algum tempo à invocação e comunhão com o Arcanjo de Portugal, sua essência espiritual, relembrarem-se de portugueses patrióticos e corajosos, e receberem inspirações e forças para os seus trabalhos e caminhos de resistência e independência, hoje em dia tão necessários face às novas opressões tecnológicas, financeiras, sanitárias, globalistas, além do que se passa na comunicação, media e redes sociais, numa percentagem enorme vendida à alienação e à repressão dos conteúdos que ponham em causa os que pretendem tornar-se os donos duma Humanidade cada vez mais desprotegida de direitos sociais e logo explorada e manipulada pelo neo-liberalismo transhumanista ou melhor infrahumanista implementado pelo Fórum Económico Mundial, a Open Society, a Blackrock, e &, e no qual direitos dos trabalhadores, planos nacionais de saúde, identidades de género, famílias, nações, tradições e religiões estão a ser neutralizadas, alteradas, manipuladas, destruídas. 

Em 2023, com um governo demitido, assistiu-se uns dias antes desta data histórica à tentativa de mudança de símbolos  da Tradição Portuguesa, por parte de governantes submissos a Ursula e seus assessores, provavelmente a mando dos dirigentes da oligarquia super-imperialista que têm no Fórum Económico Mundial e outras instituições congéneres, no dólar infinitamente impresso, nas individualidades e organizações não governamentais avençadas, na indústria dos armamentos e da farmácia e nos meios de comunicação arregimentados, os seus instrumentos de domínio manipulativo e destrutivo, e que através da anti-democrática e insana direcção da União Europeia, têm levado os políticos portugueses no poder constantemente a agir contra o sentir, a alma e os verdadeiros interesses e objectivos de Portugal, Terra, pessoas e história, que foi e é espiritual e de fraterna universalidade, tal como tanto realçaram Jaime Cortesão, Damião de Peres e Agostinho da Silva, e deveria ser hoje não de histérica russofobia,  de complacência com o genocídio palestiniano pelo sionismo e de aceitação da destruição da democracia e do estado social, mas pelo contrário de democracia económica, social e cultural,  e de multipolaridade equitativa e fraterna, liderada hoje pelo BRICS, onde deveríamos estar....  

 
Ore ao Arcanjo de Portugal, e com o seu Anjo da Guarda, ou mestres, santos e santas preferidos, à Divindade na forma que A possa sentir mais (a ishta devata, na tradição indiana), e alinhe-se, fortifique-se, seja agraciado e logo corajoso na vivência e irradiação do Logos, que foi, é e será a essência e objectivo do ser humano, enquanto Divindade, Amor, Inteligência, Palavra, Ordem justa ou Dharma, e Harmonia bela ou Kosmos, na sua criativa peregrinação e ascensão psico-espiritual..

domingo, 30 de novembro de 2025

Oligarquia e escândalos: de Georges Pompidou a Emmanuel Macron. O auge da corrupção no Estado francês. Por Laurent Brayard. Texto bilingue.

O notável jornalista Laurent Brayard publicou recentemente no  reseauinternational.net, e nos International reporters,  dois artigos valiosos sobre o grau extrems da corrupção na classe política francesa,  comparável a da Ucrânia, como se está agora a revelar, mas que está presente em quase todos os governos ocidentais. Oiçamos então este corajoso jornalista de investigação acerca dos mecanismos manipuladores, circenses e fraudulentos em acção em França e por detrás de Emmanuel Macron, o arrogante avençado dos Rothschild e Klaus Schwab, e dos que mais odeiam a Rússia e amultipolaridade.

                                                  

 «Desde o final dos anos 60, a República Francesa foi atingida por numerosos escândalos políticos, com uma aceleração notável a partir da presidência de Valéry Giscard d'Estaing, mas sobretudo nos dois septenários de François Mitterrand. Após uma ligeira queda nos dois mandatos de Jacques Chirac, eles voltaram a subir para bater recordes nos atuais mandatos de Emmanuel Macron. 

Noutro artigo que escrevi [La corruption endémique des élites européistes, en France et dans l’UE] sobre este tema, mostrei que a explosão é notável sobretudo desde a chegada ao poder do atual presidente Macron, um nível de corrupção que a França não conhecera nem nas horas sombrias [ou tão corruptas] da presidência Mitterrand. O cursor da corrupção está, infelizmente, no seu auge e levanta questões legítimas.

Uma corrupção transversal que atinge desde o mais alto nível do Estado, até as administrações das regiões, departamentos e prefeituras. 

Desde 1969, foram 205 escândalos políticos no total, mas o número real é muito maior, pois esta lista inclui apenas os que envolvem presidentes, ministros, senadores ou deputados. Outros, como os que afetam instituições francesas, deveriam ser adicionados a esta lista, como os que atingiram desde os anos 90 a Safer (Sociétés d'aménagement foncier et d'établissement rural), ou ainda importantes associações ligadas ao Estado francês e cujas causas foram ou são financiadas com dinheiro público (por serem reconhecidas de utilidade pública). Um dos exemplos mais tristes foi o da Fundação para a Pesquisa sobre o Câncer (ARC), que fez manchetes com seu presidente, Crozemarie, que desviou mais de 20 milhões de francos e estava envolvido em múltiplas fraudes. A nível regional, depoimentos que colectei no passado, especialmente em torno da Previdência Social, também mostram uma corrupção generalizada em certas administrações francesas. As práticas são frequentemente aquelas que giram em torno de privilégios durante as licitações públicas, que na realidade são tendenciosas, com contratos lucrativos sendo posteriormente confiados a "amigos" próximos dos dirigentes, mediante serviços e propinas que deslizam por baixo da mesa. Um dos fatos mais graves que tive que relatar foi o roubo a uma startup de três jovens empreendedores, uma empresa de design gráfico, que foi afastada e desapropriada de seu projeto por altos funcionários da Prefeitura de Dijon, no início dos anos 2000, a respeito de um projeto cultural sobre o castelo de Dijon, uma pequena irmã da Bastilha que foi demolida no final do século XIX.

Uma sociedade doente que não tem um farol para guiá-la. 

A razão dessa corrupção endémica reside, acima de tudo, na própria fraqueza do poder político, que está diretamente envolvido. Os faróis não funcionam há muito tempo e, na ausência de exemplos vindos do mais alto nível do Estado, as práticas  democratizaram-se e espalharam-se  por todos os níveis do aparelho estatal e administrativo. 

Os importantes escândalos políticos que surgem nos meios de comunicação são, aliás, muitas vezes apenas "golpes" organizados por facções políticas adversas, em lutas onde a informação é usada como arma. Sem isso, aliás, seria difícil ter acesso aos principais escândalos. Mas os casos, mesmo expostos e revelados ao público em geral, muitas vezes afundam-se em procedimentos judiciais intermináveis. Eles nem sempre levam a condenações justas e, portanto, também são objeto de novos escândalos. Porque a vontade dos políticos não é punir as más práticas, mas sim, numa república eleitoralista, provocar constrangimentos, ver a derrota de um candidato adversário, derrubar um governo, ou simplesmente vingar-se de inimigos políticos. Esta é a recompensa de uma "democracia" que, por sua vez, levanta questões. É normal, de fato, que esses diferentes escândalos sejam, na realidade, apenas armas políticas, de vingança política e de acertos de contas? Obviamente não. Estranhamente, a opinião pública parece se conformar-se com a situação, pois do ponto de vista mediático, existe um efeito de "show" [que tanto é amplificado pelos comentadores televisivos alienantes e estupidificantes.]

A política espectáculo, uma consequência da era da "mídia fast food da imagem". 

 Desde o aparecimento da imprensa e a lei de 1790, as lutas políticas  expressaram-se sempre por meio da difusão mediática. Inicialmente reservada a uma elite capaz de ler e escrever, ou seja, cerca de 20% da população da época, a alfabetização em massa dos cidadãos franceses, por meio das políticas de instrução pública, das escolas da Terceira República, com os famosos "Hussardos Negros", as lutas políticas se espalharam-se massivamente na sociedade francesa, com o surgimento das rotativas tipográficas e os avanços técnicos na esteira da Revolução Industrial. Desde então, a imprensa percorreu um longo caminho, com a propaganda de massa invadindo-a desde o início do século XX, e depois com a chegada de novas revoluções tecnológicas: o rádio, a televisão, a internet e o digital. De fato, a mídia tornou-se um poderoso instrumento de poder, muito rapidamente cortejada pelos poderosos, e depois até mesmo colocada sob controle estatal, criada pelo Estado, ou mesmo comprada por famílias oligárquicas ou grandes grupos financeiros.
É a razão de uma queda vertiginosa da l
iberdade de imprensa e de expressão, sendo os desafios maiores, especialmente num sistema eleitoral universal. Para "divertir o povo", a política precisa encenar-se a si mesma e, às vezes, dar exemplos, desejados ou não. As populações, é necessário dizer, são ávidas por esse espetáculo, onde personalidades de primeira linha são dilaceradas em episódios tragicómicos. É uma forma de manter uma válvula de segurança para o sistema republicano francês, entregando alguns políticos como bode expiatório. Segundo o próprio poder, seria até mesmo a "expressão da democracia", a sua realidade, um padrão tranquilizador para a opinião pública, imaginando que essas revelações também induzem à proteção e à luta contra as corrupções, quaisquer que sejam.
Com o tempo, e o desaparecimento de uma política benevolente e próxima das populações, o percurso do sistema francês afundou-se cada vez mais profundamente em más práticas, cinismos, mentiras e manipulações. É um jogo onde as asas de personagens que pareciam honestos às vezes se queimaram, com o exemplo de Beregovoy e sua morte mais do que suspeita permanecendo um dos mais marcantes. O escândalo político tornou-se, portanto, ao mesmo tempo um instrumento de governação, parte integrante dos bastidores do Estado, dos ministérios e até mesmo das oficinas mais modestas, das administrações, das regiões ou dos municípios. É também, sobretudo, a expressão mais sinistra do desvio das instituições, das fraudes e de uma degradação muito nítida da República Francesa, até no seu templo e essência. As moedas ou divisas tornam-se então obsoletas, a Liberdade é ameaçada, a Igualdade é substituída por uma república comunitária e de elites endogamicas. Quanto à Fraternidade, ela está abandonada na rua e até mesmo espezinhada. Os últimos vernizes republicanos só se sustentam por palavras, que se tornaram vazias de sentido. Quem poderá afirmar que hoje esta república será um exemplo para o mundo inteiro, a exemplo do que foi tão repetido ou matraqueado a respeito da Grande Revolução de 1789, mostrada como o acontecimento que conduziu o Povo francês "à felicidade suprema", como tendo chegado ao porto?

 Depuis la fin des années 60, la République française a été frappée de nombreux scandales politiques avec une accélération notable à partir de la présidence de Valéry Giscard d’Estaing, mais surtout des deux septennats de François Mitterrand. Après une légère baisse sous les deux mandats de Jacques Chirac, ils sont repartis à la hausse pour battre des records sous les mandats actuels d’Emmanuel Macron. Dans un autre article que j’avais rédigé sur cette thématique, l’explosion est même notable depuis l’arrivée au pouvoir du président actuel, un niveau de corruption que la France n’avait pas même connue dans les heures sombres de la présidence Mitterrand. Le curseur de corruption est hélas à son paroxysme et il pose de légitimes questions.

Une corruption transversale touchant le plus haut niveau de l’État, jusqu’aux administrations des régions, des départements et des mairies.  

Depuis 1969, c’est un total de 205 scandales politiques, mais leur nombre est beaucoup plus important en réalité, car cette liste ne concerne que ceux touchant des présidents, des ministres, des sénateurs ou des députés. D’autres comme ceux touchant des institutions françaises devraient être ajoutés à cette liste, comme ceux ayant frappé depuis les années 90, la Safer. (Sociétés d’aménagement foncier et d’établissement rural), ou encore d’importantes associations liées à l’État français et dont les causes ont été ou sont financées par de l’argent public (car reconnues d’utilité publique). L’un des plus tristes exemples fut celui de la Fondation pour la recherche sur le cancer (ARC), qui défraya la chronique avec son président, Crozemarie qui détourna plus de 20 millions de francs et trempait dans des magouilles multiples. Au niveau régional, des témoignages que j’ai relevé dans le passé, notamment autour de la Sécurité Sociale, montrent également une corruption généralisée dans certaines administrations françaises. Les pratiques sont souvent celles tournant autour des passe-droits durant les appels d’offres publics, qui en réalité sont biaisés, de juteux contrats étant ensuite confiés à des «amis» proches des dirigeants, moyennant des services et des enveloppes qui se glissent sous la table. L’un des faits les plus graves que j’ai eu à relever, fut le vol à une startup de trois jeunes entrepreneurs, une entreprise de graphisme, qui fut écartée et dépossédée de son projet, par de hauts fonctionnaires de la Mairie de Dijon, au tout début des années 2000, à propos d’un projet culturel sur le château de Dijon, une petite sœur de la Bastille qui fut rasée à la fin du XIXe siècle.

         Une société malade qui n’a pas de phare pour la guider.  

La raison de cette corruption endémique est avant tout dans la faiblesse justement du pouvoir politique, lui-même impliqué au premier chef. Les phares ne fonctionnent plus depuis longtemps et faute d’exemples venus du plus haut niveau de l’État, les pratiques se sont démocratisées et répandues à tous les niveaux de l’appareil d’État et administratif. Les importants scandales politiques qui font surface dans les médias, ne sont d’ailleurs souvent que des « coups » organisés par des franges politiques adverses, dans des luttes où l’information est utilisée comme une arme. Sans cela, il serait d’ailleurs difficile d’avoir accès aux principaux scandales. Mais les affaires, même sorties et révélées au grand public, sombrent ensuite souvent dans des procédures judiciaires interminables. Elles ne mènent pas toujours à de justes condamnations et font alors également l’objet de nouveaux scandales. Car la volonté des politiques n’est pas de punir les mauvaises pratiques, mais plutôt, dans une république électoraliste, de provoquer des gênes, voir la défaite d’un candidat adverse, de faire chuter un gouvernement, ou tout simplement de se venger d’ennemis politiques. C’est ici la rançon d’une «démocratie» qui pose des questionnements à son tour. Est-ce normal en effet que ces différents scandales ne soient en réalité que des armes politiques, de vendetta politique et de règlements de compte ? Évidemment non. Étrangement, l’opinion publique semble s’arranger de la situation, car du point de vue médiatique, il existe un effet de «show».

La politique spectacle, une conséquence de l’ère des médias fast food de l’image.  

Depuis l’émergence de la presse et la loi de 1790, les combats politiques se sont toujours exprimés par le biais de la diffusion médiatique. Au départ réservée à une élite en capacité de lire et écrire, soit environ 20 % de la population de cette époque, l’alphabétisation massive des citoyens français, via les politiques de l’instruction publique, des écoles de la IIIe république, avec les fameux «Hussards Noirs», les combats politiques se sont massivement répandus dans la société française, avec l’apparition des rotatives et de progrès techniques dans le sillage de la Révolution industrielle. Depuis, la presse a fait du chemin, avec la propagande de masse qui s’invita dès le début du XXe siècle, puis avec l’arrivée de nouvelles révolutions technologiques : la radio, la télévision, internet et le numérique. De fait, les médias sont devenus un puissant instrument de pouvoir, très vite courtisés par les puissants, puis même placés sous des contrôles étatiques, créés par l’État, ou même achetés par des familles oligarchiques ou de grands groupes financiers. C’est la raison d’une chute vertigineuse de la liberté de la presse et d’expression, les enjeux étant majeurs, notamment dans un système électoral universel. Pour «amuser le peuple», la politique a elle-même besoin de se mettre en scène et parfois de faire des exemples, voulus ou non. Les populations, il faut le dire, sont friandes de ce spectacle, où des personnalités de premier plan sont lacérées dans des épisodes tragi-comiques. C’est une façon de garder une soupape de sécurité pour le système républicain français, en livrant en pâture quelques politiciens. Selon le pouvoir lui-même, il s’agirait même de «l’expression de la démocratie», de sa réalité, un standard rassurant pour l’opinion publique, s’imaginant que ces révélations induisent aussi une protection et une lutte contre les corruptions, quelles qu’elles soient.

Avec le temps, et la disparition d’une politique bienveillante et proche des populations, le cheminement du système français s’est enfoncé de plus en plus profondément dans les mauvaises pratiques, les cynismes, les mensonges et les manipulations. C’est un jeu où se sont parfois brûlés les ailes des personnages qui paraissaient honnêtes, l’exemple de Beregovoy et sa mort plus que suspecte restant l’un des plus frappants. Le scandale politique est donc devenu à la fois un instrument de gouvernance, partie intégrante des coulisses de l’État, des ministères et jusque dans les officines les plus modestes, des administrations, des régions ou des municipalités. C’est aussi surtout l’expression la plus sinistre du dévoiement des institutions, des tromperies et d’une dégradation très nette de la République Française, jusque dans son temple et son essence. Les devises deviennent alors désuètes, la Liberté étant menacée, l’Égalité remplacée par une république communautaire et d’élites endogames. Quant à la Fraternité, elle est abandonnée sur le pavé et même foulée au pied. Les derniers vernis républicains ne tiennent plus que par des mots, devenus vide de sens. Qui pourrait affirmer qu’aujourd’hui cette république serait un exemple pour le monde entier, à l’instar de ce qui fut martelé à propos de la Grande Révolution de 1789, montrée comme l’événement conduisant le Peuple français "au bonheur ultime", comme se trouvant arrivé  au port?»
                         

Fernando Pessoa, e os Anjos e Arcanjos. Nos 90 anos da sua partida, breve contributo.

Outrora numa parede do Hospital de São Luís onde Fernando Pessoa desincarnou.

 Para saudar o espírito de Fernando Pessoa, nos 90 anos da partida (30/11/2015) eis um texto escrito há uns anos para a editorial Caminho e agora alterado e melhorado.          

                Anjos e Arcanjos, na obra de Fernando Pessoa

A brisa diáfana, a canção angelical ou mesmo a presença angélica (do grego angelos, mensageiro, anunciador) perpassam espaçada e subtilmente a obra de Fernando Pessoa pois tanto o Cristianismo em que fora educado, como também a Tradição espiritual, tanto a pré-cristã como a iniciática das Ordens e Religiões que estudou, lhe permitiram aceitar e intuir estes seres intermediários entre a Humanidade e a Divindade, e que, imaginados, vistos ou pressentidos em todos os tempos e povos, emergem mais na literatura e no ocultismo e hermetismo dos últimos séculos, numa reacção ao positivismo materialista e ao vazio de transcendência, sendo acolhidos ou referidos por vários autores lidos ou conhecidos de Fernando Pessoa, tais como Swedenborg, Martins de Pascoal, William Blake («quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos»), Balzac, Victor Hugo, Eliphas Lévi, Papus, A. E. Waite, Yeats e Rilke, ou mesmo Camilo Pessanha, um dos mestres de poesia de Fernando Pessoa.
Contudo, pela
 ligação à civilização greco-romana e na sua fase neo-pagã, Fernando Pessoa preferiu evocar mais  como intermediários os deuses e espíritos da natureza, tais as ninfas, fadas, elfos e silenos do que os anjos, por ele associados ao Cristianismo e ao misticismo e então combatidos. Assim, embora haja bastantes referências em poemas aos Anjos, as mais substanciais são poucas, surgindo em poemas de conteúdo espiritual e iniciático, tal na Iniciação, publicado na revista Presença em 1932, (e já hermeneutizada neste blogue) e no  qual  a alma é liberta da identificação com os corpos inferiores pela acção sucessiva dos Anjos, Arcanjos e Deuses, para receber, por fim, a injunção libertadora: - "Neófito, não há morte." 

                              
 Na Mensagem, também os encontramos no poema dedicado a Dona Filipa de Lencastre: «Que enigma havia em teu seio/ Que só génios concebia?/ Que arcanjo teus sonhos veio/ Velar, maternos, um dia?»
Já nos textos de teorização e investigação sobre as hierarquias angélicas e os nomes de Deus, os planos do Universo, as sefirotes cabalistas e os graus dos sistemas das Ordens mágicas e herméticas, as referências abundam, em parte devedoras de fontes neoplatónicas, cristãs, gnósticas e cabalísticas. Fernando Pessoa enumera assim mais de uma vez as nove hierarquias celestiais descritas pelo pseudo-Dionísio Areopagita, e faz culminar a escala de níveis de interpretação, com os sentidos místicos, mágicos, alquímicos, angélicos e arcangélicos . 
Noutros textos, em ensaios sobre a Iniciação, ecoando ensinamentos das ordens herméticas inglesas a que teve acesso, afirma que «a conversação com o Santo Anjo da Guarda é a mais alta obra de magia»  e que esta conversação significa não só a intimidade interior mas o despir-se da inteligência pessoal e da personalidade, o abdicar-se delas, para que   aconteça abertura ao nível supramental ou angélico.
Certamente que estes níveis mais elevados do Cosmos e estes seres tão subtis não são facilmente coaguláveis-fixáveis-definíveis- teorizáveis, sobretudo para quem os conheceu apenas por leituras, imaginação mágico-poética, ou já intuição fugaz, e por isso dirá, repetindo mais de que uma vez a glosada afirmação oculta «vi Anjos, toquei Anjos, mas não sei/ Se Anjos existem». 
Isto indica a fragilidade evanescente ou até ilusória da via mágica, sobre a qual Fernando Pessoa confessara: «não esqueçamos a advertência de um Mestre da Magia, «Já vi Ísis, já toquei em Ísis; não sei contudo se ela existe», donde a sua saudade da simplicidade da aproximação directa infantil, tal como diz no mesmo poema, mais à frente, que quem lhe dera «ser agora qual menino eu era/ dos mesmo anjos mais fiel vizinho». Podemos considerar  que provavelmente tendo aprendido  a Oração do Anjo da Guarda, poderá ter, com a sua imensa sensibilidade, intuído em jovenzinho a sua presença...
Fernando Pessoa reconhecerá que o ultrapassar dos condicionamentos psíquicos implica um trabalho persistente, o qual é no fundo a iniciação: o dissipar ou desvendar das trevas e ilusões, em parte resultantes da nossa dispersão mental e social, das nossas impurezas, da falta tanto da capacidade de concentraçã como de aspiração à luz e à verdade e ainda do olho espiritual não estar aberto, o que nos impede de vermos que os Anjos, pois «os Deuses não morreram: O que morreu foi a nossa visão deles. Não se foram: deixámos de os ver.» 
                                     
Por estas razões Fernando Pessoa afirmará a sua ligação à Tradição primordial do Um e das suas emanações de estados múltiplos de ser, e do retorno ascensional a Ele, nomeadamente na famosa carta a Adolfo Casais Monteiro, de13/1/1935, uns meses antes de morrer: «Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo». 
Relembremos ainda, destes seres mediadores ou níveis intermediários, o Arcanjo de Portugal, citado como o «Espírito da Nação na sua alma recôndita» que sabe os segredos mas não os revela facilmente,  bem como as referências aos Arcanjos    em vários escritos sobre a Trindade, o Demiurgo e a tradição da Queda dos Anjos e dos Homens. 
                                                  
 Não encontramos todavia em Fernando Pessoa uma Angeologia  realizada e estruturada pois na sua vida poética fluíram provavelmente mais (embora não as tenha contado)  as brisas, o vento, o eco, os pressentimentos de fadas e elfos do que as intensificações do numinoso divino, reveladas pelo seu mensageiro por excelência, o Anjo, ainda que existam alguns textos e poemas do final da vida bem significativos. 
 Assim, num curto escrito que aponta (pelo papel e tinta) para ser do último ano da sua vida, crítico da divisão da psique humana segundo a teoria freudiana, relaciona originalmente o que poderei chamar o supramental com os níveis angélicos: «Os herméticos admitem estas duas divisões do espírito [consciente e sub ou in-consciente] – a primeira puramente humana, a segunda obscuramente animal, mas acima delas estabelecem a existência de uma terceira divisão – a sobrehumana, esboçada, embrionária, incompleta, tida por a qualidade que liga o homem às existências superiores, designando-as frequente e porventura simbolicamente, por anjos, arcanjos e a outros nomes assim». Anote-se uma certa originalidade na síntese esboçada distinta  da freudiana e da  junguiana,  preferindo a designação de plano sobrehumano onde vivem as  existências superiores, designadas tradicionalmente pelos nomes simbólicos de anjos e arcanjos...
                                                                 
Numa visão mais simbólica, iniciática e hermética,  o Anjo da Guarda, humanamente e na  identificação interna, pode ser visto como o Espírito, o Mestre da alma, e sabemos, graças aos estudos de Henry Corbin, Louis Massignon e Paul Ballanfat, que muitos iniciados designam o Anjo como o Segredo mais íntimo, o Mestre do coração, nomeadamente na Tradição sagrada do Irão xiita, com raízes nas entidades angélicas femininas denominadas fravartis, companheira e guia de cada ser, sobretudo  após a desencarnação, e nesse sentido Fernando Pessoa interrogou-se intimamente: «A alma da alma é um homem à parte de cada homem e isto é o Mestre, um Anjo da Guarda. A alma desta alma é Deus. (Ou é isto apenas no génio e inspiração». 
Já noutro texto, sobre esta questão da identificação ou da identidade angélica e espiritual, concluirá certas interrogações sobre ensinamentos duma ordem mágica, aceitando que «a fórmula Santo Anjo da Guarda corresponde ao Eu Superior, e exprime a verdade. O Espírito da nossa Alma, sendo a substância de nós, é apesar de tudo distinto de nós neste mundo e é outrem. A fórmula Santo Anjo da Guarda está portanto correcta.». E num valioso mas menosprezado poema, meses antes de morrer, ondula à volta do mistério do Anjo: «Meu coração também/ É o túmulo do Bem/Que a minha Alma não tem.// Mas há um anjo a me ver/ E a meu lado a dizer/ Que tudo é outro ser». 
O itinerário iniciático de Fernando Pessoa, que não foi mistificação ou ambiguidade tal como muitos pessoanos quiseram ou querem, embora fosse limitado pela sua dispersão psíquica, enfraquecimento somático e afectivo, e menor associação-ligação-invocação com os seres e energias mais luminosos, tais mestres e santos, o Anjo, Jesus Cristo, a Divindade, continua naturalmente ainda hoje longe de ser compreendido, sobretudo nas influências, na originalidade e nas realizações internas, e não é fácil conseguir-se transmitir tal hermenêutica mais acertada.
Um exemplo de textos que questionam superficiais  ou tendenciosas aproximações ou interpretações do ocultismo, esoterismo e misticismo de Fernando Pessoa é aquele em que ele nos diz ousadamente que «a iniciação é a admissão à conversa dos Anjos. Alguns ouvem, outros ouvem e veem... A essência da doutrina oculta é que não há comunicação com Deus (Martins Pascoal a Saint-Martin). A essência do misticismo é procurar esta comunicação, quebrar os limites da pluralidade. (1) Conhecimento e conversação com o Anjo da Guarda, (2) Conhecimento dos outros anjos, (3) Caminho para Deus» , afirmações esta escritas nos últimos meses da sua vida e que marcam a sua crescente compreensão do valor da ligação directa mística salvífica ou do coração espiritual com o anjo, o mestre, o Cristo e a Divindade.
Certamente muitas das actividade tradicionalmente reconhecidas ou atribuídas aos Anjos estão presentes na sua obra, tais como manifestarem o esplendor divino, intensificarem o júbilo adorativo ao nascer e ao pôr do sol, guardarem a memória, interpretarem os sonhos, sustentarem o esforço e a ascese no Caminho, ajudarem a ver os outros como espíritos filhos de Deus e a pensar com discernimento, protegerem no invisível, advertirem e apoiarem nas dificuldades, curarem,  mostrarem-se aos que merecem, acompanharem e transmitirem intenções e orações nos mundos subtis, religarem-nos a Deus, serem psicopompos na hora da desincarnação, surgindo de facto  explícita ou implícitamente na obra de Fernando Pessoa  não tão poucas vezes como se pensaria.
Smirnov Rustzek. Anjos Guardiões

 Demos  ainda  exemplos, tal o de poderem  ser o espírito protector e inspirador de uma igreja ou local de culto:

 O anjo da sua capela 
conhece quem ela ama. 
A brisa passa por ela,
Mas ela não a chama. 
Descerem, relembrarem, religarem, e escrito um ano exacto antes da sua morte: 
Que anjo, ao ergueres
 A tua voz 
Sem o saberes 
Veio baixar 
Sobre esta terra
Onde a alma erra 
E com as asas 
Soprou as brasas 
   Do ignoto lar? 
Finalizemos esta breve homenagem a Fernando Pessoa, aos Anjos, Arcanjos e ao Arcanjo de Portugal, com o final de um  dos mais belos poemas de Fernando Pessoa, e que publiquei em Poesia Profética, Mágica e Espiritual, em 1989
«Mãos do meu Anjo da Guarda,
 Que bem guiais, como dois, 
O meu ser que teme e tarda,
Postas firmes nos meus ombros 
Sem de que eu saiba de quem sois! 
 
Vou pela noite infiel  
Sentindo a aurora raiar 
Por traz de alguém que me impele 
Mas já adiante de mim 
Vejo a luz a se espelhar.