sexta-feira, 14 de março de 2025

Camões, Inês de Castro e Dom Pedro, fiéis do Amor. Breve hermenêutica da transmissão nos Lusíadas.

Quem relê a narrativa poética camoniana de Inês e Pedro admira-se certamente da classificação de "mísera e mesquinha" que surge no Canto III, estância CXVIII, sobretudo tendo em conta a simpatia que Camões exprime pelo desventurado casal, pelo que é levado a pensar se terá sido mesmo a redação original pois, como cavaleiro de Amor que era Camões, tal como Damião de Goes, Jorge Ferreira de Vasconcelos e outros, podiam sofrer os tratos de censura ou mesmo de polé da inquisição e dos seus esbirros, pelo  que o "mísera e mesquinha" poderia ser expressão derivada da visão de poder do Estado e da Igreja contra o amor natural não conveniente.

Será Manuel Faria e Sousa  (18.III.1590 a 3.VI.1649)  nos seus  comentários aos Lusíadas, eruditíssimos e por vezes mesmo esotérico, anagógicos, espirituais quem nos esclarece que a expressão mísera fora empregado em relação a Vénus por poetas greco-romanos e que fora mesmo usada em relação a Maria, mãe de Jesus, por Sannazaro (1458-1530), no De Partu Virginis, fazendo assim Camões uma comparação de sacralização, cripticamente, subterraneamente: Inês como uma ungida do alto.
Camões, apostrofa criticamente o Amor puro por ter causado tal encontro fatal ou desventurado, mas depois vai-nos apresentar Inês com tal doçura, amor e sabedoria, que nos empatiza com ela imediatamente, erguendo-a uma santa
mártir do Amor.
As estâncias 120 e 121 do Canto III dos Lusíadas são maravilhosas de ensinamentos e de evocação ou invocação de Inês:

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano de alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam.
E quanto, em fim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria."

A profunda osmose de Inês com a Natureza e com o seu amado é descrita com grande sensibilidade, e assim os seus olhos, pela doçura amorosa e a saudade, conservam a ligação à correnteza transparente do rio Mondego e extravasam-na no marejamento de felicidade que brota do olhar, enquanto o coração irradia orficamente, ou seja com o poder mágico da palavra, dando o nome, não das próprias ervas como os míticos Adão e Eva deram segundo o Genesis, mas do seu amado, do seu "deus", Pedro, compartilhando o seu mantra, a sua palavra passe para entrar no reino dos Céus na Terra, o do Amor, o que reintegra os dois na unidade. Tal pronúncia de um nome ou mantra com muito amor é beatífica não só para os dois, como benéfica para  todos os que a ouvem e que não são contra ele, que não estão amilhazados em ódios e fobias, que não são contra a verdade do amor...

Luís de Camões acrescenta ainda  que tal presença amorosa em som está escrito no peito, o que quer dizer que está viva no coração espiritual, no íntimo e cerne da alma, que está escrito nele pelo efeito do muito o sentir, ver, pensar, amar, pronunciar, meditar, invocar...

Da alma lhe brotam então constantes voos de pensamento para ele, memórias alegres do amor reciprocado, em graças de gestos e comunhão de sentimentos enraizados e que mesmo nos sonhos se concretizam ou então adivinham, traçam e projectam venturas.

Entra em seguida Camões na fase trágica do casal  criticando a  intenção indigna de assassinarem um fraca dama delicada, ou de matarem o fogo acesso do firme amor, esta uma bela descrição do amor firme em si: um fogo acesso que arde sempre...

Na descrição da hesitação do rei Afonso IV, encontramos uma nova analogia com Jesus e Maria,  pois atribui ao povo a vontade de que ela morra, persuadindo o rei com falsas razões para que ela morra. Como se Inês fosse outro Cristo, condenado à morte  pelos próprios judeus.

Ora sabemos e Camões sabia que não fora o povo mas sim os inimigos de D. Pedro, conselheiros do rei seu pai, e chamar-lhe-á mesmo  ministros rigorosos, perante os quais e o rei Afonso IV, Inês invoca a Divindade e o corpo místico dos santos e santas, ao levantar para o céu cristalino os seus olhos, e ao mostrar os três filhos e ao erguer a voz por ajuda e piedade, num discurso imaginal camoneano que tem ainda a peculiaridade de apresentar uma solução que satisfaria as pretensas ou invocadas razões de Estado sem a matar:  desterrem-me na Cítia fria ou na Líbia ardente e onde possa cuidar ou educar os rebentos ou relíquias de nosso amor flamejante.

Não movidos à piedade, o povo e os carniceiros feros que se consideram cavaleiros, e eis uma nova condenação de Luís de Camões ao acto, lançam mão às armas e matam-na, "brutos matadores", "fervidos e irosos", mais uma vez Camões posicionando-se como um cavaleiro do Amor e criticando o crime contra o Amor. 

Ao poder mantrico do nome pronunciado com amor, seja o da Divindade, ou uma das suas manifestações terrenas, o profeta, imam, guru, deus, seja o do Amado, Pedro nesta união, volta Luís de Camões com uma belíssima visão-criação-sugestão do seu poder órfico, ou melhor ainda psico-mórfico, o da psique modeladora das formas materiais: cultua o deus Eco, presente nos concavos vales, humildes e amorosos que acolhem os últimos sons  de Inês,  o nome do seu Pedro, repetindo-o pelas reentrâncias e diremos pela eternidade, "até ao fim do mundo", como o próprio D. Pedro escolheu para legenda da sua maravilhosa estátua jacente, no mosteiro de Alcobaça, junto a Inês.

A comunhão das almas amorosas com a Natureza é ainda testemunhada e realçada poetica e miticamente por Camões, pois depois de repetirem ou ecoarem o santo nome os côncavos vales e montes, também as ninfas e nereidas do Mondego e das fontes não deixam perder as vozes e lágrimas de Inês e  alquimizam o líquido sentimento e sangue amoroso de Inês fazendo-o correr pelo rio e brotar por uma fonte, na que se virá a denominar a Quinta das Lágrimas.

Perenizada Inês na Natureza sagrada a que ela pertencia, restará a Camões apenas nomear brevemente D. Pedro como um justiceiro, de certo modo apoiando o seu comportamento em relação aos assassinos de sua mulher e futura rainha. 


Não fala Camões dos monumentos imortalizadores de Alcobaça, e cremos que não terá conhecido os sublimes túmulos, senão mais beleza e transcendência conseguiria talvez cantar no amor até ao fim do Mundo de Inês e de Pedro; mesmo assim ergueu-o magnificamente como o episódio mais longo dos Lusíadas e contribuindo deste modo para a sua sacralização e imortalização  na grande alma portuguesa, e desafiando-nos a sermos cavaleiros do Amor. E contra os inimigos da alma, da justiça, da humanidade, do Amor, tão activos nestes tempos de manipulação e alienação nas narrativas e instâncias oficiais do globalismo infrahumanista dominante ocidental, sabermos lutar, iluminar, vencer e harmonizar, como fiéis do Amor!

Sejamos fiéis ao Amor de Pedro e Inês, cavaleiros como o de Antero Quental  no seu poema Amor-Mors, e arda invencível em nós o fogo cósmico e imanente do Amor Divino.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Poema-oração para um irmão em processo de desincarnação. Dum diário antigo.

Já há umas décadas o  meu irmão mais velho, o Carlos, teve um inesperado aneurisma e entrou num processo de desincarnação.
Escrevi então alguns textos e poemas orações, seja enquanto ele ainda podia sobreviver, seja quando deixara o corpo. Tendo transcrito do diário para este blogue já um, este é outro da fase de luta e oração.
                                        
Pintura de Nicholas Roerich.

Enviámos luzes para o irmão que sofre
e recordei tempos antigos em que vibrámos.
Depois vi o seu corpo subtil luminoso:
Carlos, identifique-se com seu espírito eterno.

Voltei atrás, como ao sair de uma porta
sem fazer barulho, e espreitando, 
 sussurrei-lhe de novo:
Ó Carlos, você é um espírito divino.

A dor rasga os tecidos e traz o mar aos olhos
Somos então obrigados a esquecer
e o fogo do coração a acender.
Ardentes são então os nossos pensamentos
e o espaço treme de comoção.

Carlos, irmão, você é uma estrela,
que seu espírito aspire a Deus e à Luz.
Mulher e crianças, sois ainda seres corporais,
respeitai os testamentos e heranças mortais
que indicam o caminho do aperfeiçoamento
livre mas custe o que nos custar.

Sagradas dores do parto da nova humanidade
e as mortes inesperadas que rompem o ritmo
são sinais da Terra estar agitada por conflitos:
há que criar pessoas e sítios de luz, amor e espírito.

Quem vem lá na curva da estrada?
São os jovens duma nova Era.
Para eles trabalharemos,
almas luminosas a serem educadas
no eterno e luminoso Ensinamento. Ámen...
Pintura de Nicholas Roerich...

Invocação do Anjo. De um diário antigo e sofrido.

Revendo diários antigos, eis um poema emanado de uma passagem difícil:

Igreja de S. Silvestre, Aquila, Itália.

Anjo da Guarda
vem ter comigo
porque estou muito triste
de estar sozinho.

A noite é fria,
o corpo estremece de dor,
minha alm
a chora por ti,
vem, ó
meu amigo,
vem, ó meu amor.

Anjo, onde andas tu
que me fazes chorar?
Anjo, anjo, vem até mim
Enche a minha alma de ti.

Anjo, quem és tu,
Onde pairas tu?
Sei que és, que eu não sou
   senão em ti, luz em mim.

Vem, vem, sê revelação
No interior do meu coração.
Anjo Guardião, abre o portão
que me leva para além da prisão
e permanece no meu coração...

terça-feira, 11 de março de 2025

Poema de aproximação à morte precoce do meu irmão Carlos, já há uns anos. Muita luz na sua alma.

                               
Já há umas décadas o irmão meu mais velho, o Carlos, teve um inesperado aneurisma quando era diplomata no Brasil e entrou num processo de desincarnação.
Escrevi então alguns textos e dois poemas orações, e nesta releitura de diários em busca de menções do Afonso Cautela (para o seu In-Memoriam), e também do Agostinho da Silva, Sant'Anna Dionísio,  Dalila Pereira da Costa e outras pessoas mais sábias, extraí o mais pequeno deles e transcrevo-o, apropriadamente até pois foi o Carlos que me fez conhecer o Agostinho da Silva. Luz e Amor neles!

    Rápido ofegante, o traço de luz desenhado no céu,
a busca contínua de nos
ultrapassarmos,
as emoções em
alta subida?
Para quê, para quê?

Correm os rios vagarosos,
as noites enxameadas de contradições.
Uma dor aqui e um prazer acolá
para quando esse estado infinito?

Alquimia sonhada aspirada
que vamos realizar
a vela está erguida, o vento será de feição,
o folêgo estará firme, a rota indesviável
a cadência ritmada já se nota,
a luz começa a fazer-se.
Deixamos para trás as terras movediças
ao largo, ao largo.

Enfim essa janela aberta sobre o teu leito
e no fundo do oceano teu barco que singra.
Uma luz brilhante virá,
mil vezes mais forte que o sol,
lua enfim já não desejada.

Então guerreiros de elmos para o que der e vier
lanças pelo interior do corpo ao alto alevantadas,
Uma breve escrita, uma breve conversa,
beijos na noite trocados, passes e senhas benzidos,
a caminhada de noite é solitária.

Enfim, para quê dormir, comer, falar?
Agora nossa é a noite libertadora.
O tempo ultrapassado
Renascemos de novo
na eterna criação espiritual.
 

domingo, 9 de março de 2025

Um poema oração do caminho espiritual, numa noite de sofrida fractura. Dum diário dos 31 anos.


Poema escrito após um acidente e fractura de clavícula, dos diários dos meus 31 anos.

A solidão do sofrimento e da noite
sob um crepitar infinito nos ouvidos:
   tudo está parado, enquanto o coração bate.
Só haverá uma palavra e ideia:
- Deus.

Recolher-nos e só agir quando estamos certos:
entrarmos em acção numa predeterminação
invencível, iluminante, flamejante.

Só dizer e fazer o necessário, justo e belo,
em que maravilha se tornaria o Universo.
Avançarmos sem recriminações ou frustrações
corações abertos, em sons e sinais de cooperações.

Amigos trocam suas vozes nos desertos da vida:
 essa terra prometida quando surgirá, 
esse anjo iluminante quando nos guiará,
essa nova Era quando plenamente brilhará?

Deixo os ramos do passado e folhas do presente
e para a frente lanço todo o meu querer e ser,
um futuro de amor para toda a humanidade,
na sabedoria da hierarquia que liga à Divindade.
 
Maitreya, sinais. Por Nicholai Roerich...

sábado, 8 de março de 2025

Dia Internacional da Mulher de 2025. Oração e mensagem urgente, apelo à Providência divina: Livrai-nos de todo o mal da direcção da União Europeia

Pintura de Nicholai Roerich. Mensajeira e líder libertadora

Dia Internacional da Mulher de 2015. Trazido pelo vento da história, oração e mensagem urgente, verdadeiro apelo à Providência divina e aos seus mestres, santos e anjos e arcanos: livrai-nos de todo o mal da direcção da União Europeia e dos seus líderes lacraus...

Dia Internacional da Mulher comemora-se hoje. Oiçamos as vozes e os clamores das verdadeiras mulheres do passado, presente e futuro, e sintamos o que brota do coração do sagrado feminino em cada um de nós...

De Nicholas Roerich, a Mãe do Mundo desfraldando a bandeira do pacto da paz e apoiando os esforços humanos de salvaguarda contra as violências destrutivas e os extremistas.

 Para além das aspiração de amor e de justiça e de paz, e de respeito e valorização das mulheres, da maternidade, da beleza, da cultura, de compaixão que todos sentimos,sejamos sinceros e  procuremos discernir, para além das figuras artísticas mediáticas, quem é mais importante mulher no Ocidente, decisiva em vários aspectos da vida de milhões e que portanto deveríamos cumprimentar, admirar? Existe uma tal pessoa, sem serem as anónimas e abnegadas mulheres que labutam em prol dos outros?
Quem é a actual rainha no Ocidente? Não será Ursula, a ab
elha mestra do ódio à liberdade, à dignidade de vida,  à saúde natural, à família tradicional, à paz, à multipolaridade, à Rússia

                                       

Então porque não desejarmos, orarmos e pedirmos todos à Providência Divina para que essa manipuladora, avençada, vaidosa e inepta da Ursula von der Leyen seja rapidamente afastada da desgovernação europeia e que leve com ela as suas aias de bruxa má, pois ainda quer desgraçar mais a Europa e o Mundo, quando os familiares de milhões de eslavos traumatizados, feridos ou mortos querem o fim da expansão da oligarquia ocidental e da Nato, e o afastamento do cocainómano psicopata e do regime ultranacionalista e extremista de Kiev? 

                    

Certamente esta será o melhor oração das mulheres europeias (e dos homens) e, pelas interdependências económicas e emaranhamentos psíquicos no planeta, cada vez mais necessária devido ao estado inflacionado e perturbado do mundo pela sua ação e dos seus lacaiozinhos...
Oremos então com confiança as nossas orações, ou mesmo o clássico Pai-Mãe nossos que estais nos céus e mundo espiritual, santificado, incarnado seja o vosso nome ou vibração de amor-sabedoria, seja feita a vossa vontade assim no mundo espiritual como no humano e material, e expulsai essa desgraçada para ser reeducada algures...

Possam a Terra Mãe, a Humanidade, a Europa, o Mundo, graças sobretudo a muitas mulheres luminosas, abnegadas e corajosas, reflorescerem em justiça e paz, amor e harmonia de novo... 

sexta-feira, 7 de março de 2025

Um poema ao Mestre, do diário dos meus 27 anos. Ilustrado com uma pintura de Nicholai Roerich


                             O Mestre é um centro luminoso,
                                     a porta que se abre,

                                  a voz amiga que ensina. 

    O Mestre é um vento do qual somos folhas,
  a presença que em nós se intui,
     a certeza da gloriosa renascença.

O Mestre traz a paz e o amor
e a sua visão é infinita,
e a nossa resposta é uníssona.

Mestre, rente ao horizonte
como a gaivota esvoaçante
ou o barco na onda gigante.

Mestre, a antiga catedral incarnada,
o mantrizar de mil agradecimentos,
a frescura do tanque no Verão.

Mestre, és só tu o Sol,
    o fogo, a força, a inspiração
e a religação à
unidade divina.
Aum, Mestre, Om, Om.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Saudação aos que buscam. Um poema espiritual, extraído do diário dos 30 anos.


Saudações aos que buscam!

Em comunhão com esta pátria terra,
descerro as pétreas lápides
inclusas sobre a ramagem da hera
para que se ergam verdades límpidas.

Eternos caminhantes nos elementos,
esforçados artesões do desapego,
retomemos intimamente os rudimentos
das sacras artes de abrir os regos.

Terra com seiva
Mar agitado
Ar puro
Fogo sublimado.
 
Que cruz oculta se forma assim
na memória subterrânea dos átomos
erguidos em aspiração sem fim,
impulsionando-nos intemeratos?

Sim, o tempo ingente de avançar:
cascatas de novos raios caem
e uma turba imensa se espanta
antes do fulgor da aurora raiar.

Cavaleiros firmes na suas missões,
trabalhadores lutando por suas perfeições:
 a igualdade de potencial na fraternidade,
a hierarquia da experiência na Unidade.

Portugal, terra do santo Graal,
quantos dos teus a alma conhecem
e querem o caminho real trilhar?
É a hora do fogo espiritual despertar!

quarta-feira, 5 de março de 2025

Um poema espiritual, em inglês, quando ensinava Yoga aos trinta anos. Com tradução.

Do sábio russo Nicholai Roerich. Drops of Life.1924. Revendo diários para um texto sobre Afonso Cautela, eis um poema...

 I will transform my love for you, o God,
in the most secret poems and doctrines.
Poems from the depths of my heart,
abyss of aspiration to your fulness.


In my body grows a fruit of several specimens
from the tree that you have planted in me.
So we are one with thee.

That is transmissible. 

From being with you,
as I sit with someone, at that moment
you pass through my soul's mirror
to enlighten the other soul
and it is found that we are all one.
****

 Transformarei o meu amor por ti, ó Deus
Nos mais secretos poemas e doutrinas.
Poemas do fundo do meu coração,
abismo de aspiração à tua plenitude.

No meu corpo cresce um fruto de várias espécies
da árvore que plantaste em mim.
Assim, somos um contigo.

Isso é transmissível. De estar contigo,
quando me sento com alguém, nesse momento
tu passas pelo espelho da minha alma
para iluminar a outra alma
e descobre-se que somos todos um só.

terça-feira, 4 de março de 2025

Poemas antigos, dum caderno diário.


Onda alta e redonda
Meu mal espanta sem sonda.

Barco velho e revelho
Solta as amarras do lodo que não quero.

Vento que tanges as liras
rebenta as cordas que nos prendem aos dias.

Sol que abençoas os que trabalham
faz os corações reverdecerem no orvalho.

Sentinelas, não há inimigos a temer
E a aurora já está a chegar. 

Só polícias é que estão crescendo
porque as ruas de vícios se vão enchendo.

Chega, chega velha Era,
agora vem o Desejado.

Este que aqui aporta és tu próprio,
descoberto e manifestado.

Ser de Luz, em comunhão com Deus
irmão de todos, vivente da Eternidade:
- Melhorar, melhorar a Humanidade 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Do Diário de Tomar, de 1990: meditações e visões da Cruz e dos seus signíficados nas almas místicas.

Do diário de Outubro 1990.
Quarta-feira de manhã. Acordar às sete horas como de costume. E 
meditar.

Surge a imagem que está por detrás do porta-paz que comprei há dois dias em Lisboa: vísivelmente está pintada a Cruz. Invisivelmente estava Jesus vestido de túnica vermelha, comprida, calmo, simples e na mão direita com a palma.
Será a con
traparte que eu intuí dos planos superiores, ou a que eu projectei. Ou será a do artista [que a deixou plasmada no plano psíquico subtil da peça em madeira com a cruz pintada?]

                                                                         
Meditações que me levaram a sentir Jesus apenas como um ser humano que atinge uma forte ligação com o Pai, com a Divindade.  Assim [temos] um só ser, Jesus o Cristo, o purificado [o ungido]. Desafio maior a nós: sem incarnação divina especial, ou filiação único divina, um ser manifesta profundamente a Divindade imanente.
Agora:
a cruz templária, ou de outras ordens sem Jesus representado, é como sinal de: "Se tornares-te, se atingires a Cruz, tornas-te um Cristo, [um ungido]". Talvez não tão perfeito como Jesus, mas houve muitos santos e mestres, [sorores e místicas que conseguiram assumir a sua cruz e serem ungidas pelo espírito, e logo ico-simbolicamente empunharam a palma do martírio, tal como vi hoje com o olho espiritual, com certa originalidade significativa em relação a Jesus.]

Que os objectos, em especial sagrados e já com alguma antiguidade podem estar carregados de emanações não há dúvidas e daí a sua tão apreciada circulação, e com as relíquias e amuletos atingindo o seu expoente máximo protector ou inspirador. Mas também pode ter sido apenas a forma geométrica, e o que está representado ou pintado que despoleta na nossa meditação ou contemplação o acesso (denominado anagógico) aos planos subtis, arquétipos ou espirituais ligados a ele, e que se podem mesmo consubstanciar com hierofanias, sagradas, ou teofanias, divinas, como tantas místicas e místicos conseguiram.

Consigamos merecer a contemplação que a oração e a meditação perseveradas e aprofundadas podem propiciar...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Tomar: no cineteatro o "Não ou a vã gloria de Mandar" de Manuel de Oliveira e depois no castelo Templário e iniciático. Do diário de 1990, com leves acrescentos.

   Vai haver cinema à noite e iremos ver, Manuel de Oliveira, " Non ou a vã glória de mandar" sobre a história de Portugal, a ambição e imperialismo. O que irá acontecer: sair a meio do filme? Fazer uma crítica no jornal de Tomar? Trabalhar invocações e linhas de forças antigas?
    O filme é razoável. Recupera a história de Portugal no seu cerne, os descobrimentos como enriquecimento cultural da Humanidade. Mas compara apenas as pesquisas cosmonauticas e as do progresso técnico e científico. Não consegue ir às descobertas espirituais.
Do cine-teatro saímos para o Castelo. Subimos o muro numa zona em que é possível, saltamos para dentro e meditámos junto à Charola. Sempre um sítio ígneo. No quarto da meditação no Vale da Figueira devo pôr algumas pedras de lá e outros ícones e começar a trabalhar mais com o Agni Yoga, o Yoga do Fogo, nomeadamente aprofundando os ensinamentos dos seus quatorze livros dados por Helena Roerich.
A cruz templária arredondada expansiva recolheu-se na de Cristo em quadrado e interiorizante. Hoje a cruz, que liga o alto e o baixo, será espirálica, ligando o interior e o exterior revelando os defeitos e manifestando as qualidades pelo Espírito da Verdade: exemplificado no ser humano por Jesus, o Cristo, vivido na harmonia com a Natureza inspirado pelo Espírito santo, e graças ao Poder Divino, universal, o Pai.
Manuel de Oliveira é algo agnóstico, pois vê ainda apenas o enigma da vida e do ser [embora anos mais tarde conversando umas duas horas com ele tenha apreciado a sua forte aspiração à experiência e certeza espiritual, que ainda não possuía), mas tem uma excelente visão estética e algumas cenas são muito bem conseguidas, e devo referir nelas o meu amigo Diogo Dória, notável actor. Mas quanto à sua argumentação ou argumento, o non deixara de o ser em Portugal e passar a não, já não capicua mas atravessado, pegado, empunhado. Non, não, negação, a serpente, força atractiva, palavra, olhar, desejo... Quando conseguiremos controlar e unificar todos estes níveis, por vezes contraditórios, e sermos verdadeiros discípulos-mestres em comunhão com o coração e o mundo espiritual?
Há-de chegar a altura. Pacientemente, não deixarei que a esperança seja vã ou inerte mas trabalharei para que ela frutifique e se exercite no dia a dia.
A Missão de Portugal. A dádiva de se ter uma língua suave e bela de cultura, em grande parte vinda do latim e do galaico-português, pela qual muito se escreveu, poetizou, dialogou, conversou ou convergiu luminosamente, mas o seu sentido maior é a de poder permitir a auto-consciência espiritual e ligação com a hierarquia dos guias, santos, mestres, anjos e Arcanjo de Portugal e finalmente Deus. O Logos, inteligência, ou Sermo, palavra, sacralizante, órfica, mágica, em acção sábia e libertadora, em oração, litanias, mantras, com seus efeitos harmonizadores, invocadores, desvendadores.
Seres mais clarividentes, eis agora e sempre a questão e tarefa. O que implica uma maior sublimação e concentração das energias e capacidades de que normalmente dispomos. As obrigações familiares e profissionais [e agora as redes sociais] são o maior obstáculo a uma intensificação mais forte do trabalho vertical, ainda que as possamos realizar com bastante amor e consciência espiritual. Devemos pois controlá-las, cerceá-las das suas tendências absorventes e sabermos elevar-nos mais vezes ou com mais intensidade à nossa consciência espiritual, ou seja, irmos erguendo a serpente e o graal,o que se faz em geral pelo esforço, a oração, a meditação.
Seja pois a nossa demanda irradiar como o sol radioso, sem nos deixar ensombrar pelas nuvens temporárias, obstáculos, doenças, desilusões, alienações.
Brilhe a estrela do espírito em nós.

Sábado de manhã.
Acordar cedo. E fazê-lo com uma visão no olho espiritual alargada ----~~~~~ de chamas.... Penso que a falha entre os planos espirituais e materiais é menor aqui no campo. A terra e o céu estão mais unidos nas aldeias do que nas cidades. Como se a transição entre o plano subtil e o físico fosse mais harmoniosa e suave e pudéssemos conservar a consciência da descida dos planos espirituais para o físico.
Mas a visão do fogo ao acordar pode ter sido por ter estado de noite dentro do recinto amuralhado da cerca do castelo de Tomar, um local cheio de fogo sagrado invisível, que se manifestou ainda no meu olho espiritual de manhã. O convento e castelo de Tomar é um local de fogo e de iniciação...

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Diário dum retorno ao campo, em Vale da Figueira, Tomar. Páginas de Outubro de 1990.

 Nascer do Sol rosa vermelho. Mas se ontem as nuvens que chegaram do Norte e do Leste prenunciavam degradação do bom tempo, hoje o céu limpo mostra como é difícil prognosticar. Mas, claro, o tipo de nuvem ainda não foi observado com mais atenção e aprofundado e comparado suficientemente.

Meditação a receber algumas forças do Sol. E tentar compreender  diferença entre desejo e amor. O amor é uma casa de dois andares, em que o 1º é o desejo ensual e o 2º a dádiva pessoal. Ou pode ser de três ou sete andares, se formos subindo pelas dimensões subtis do ser humano.

A neblina vinda do rio e dos vales baixos subiu e o céu está enevoado agora.

Meditação boa, até atingir a consciência de que sou o Espírito, sem medo de nada. [Uma boa realização, que nos cumpre actualizar, sentir mesmo].
A tarefa meditativa é realizar, manifestar o que já compreendemos ou sabemos. E aprofundar rumo ao que não sabemos nem compreendemos.

Noite: Foi um dia activo. Arranjos da casa. Ida ao empreiteiro e a Tomar. Na Feira comprar couves diversas para plantar: bróculos, flôr, lombarda, boi. E sementes. E fruta e rosas.
Tarde: plantar, limpar, pôr betume nas janelas, tirar as tábuas velhas da coelheira (que dá um estrume bom) para fora. Surgirá um dia uma divisão, mas não sei ainda para quê
Veio chuva. As nuvens indicavam-no. E choveu, como era natural, primeiro nos vales. Para vermos cá de cima (nesta casa num encosta). Foi só às 19:00 quando meditávamos que ela caiu aqui, mas não muita.

Os dedos estão com as pontas secas, mas o pior podia ter sido aquando da destruição da coelheira. Uma tábua caiu-me na testa, mesmo me baixo da cicatriz  por pouco que o galo não era sangue. Pensei mais tarde  que devia ter cuidado com as entidades que podiam estar ligadas aquele edificiozinho. Na dimensão astral quem habitava nele?Será que há seres que prendem os bichinhos do outro lado? Até onde vai a imaginação dos seres desencarnados?
Curiosamente na feira quando comprava as três rosas por 60$00e os marmelos a 60$00 o kilo, fiz um afago a um coelhito no canto duma caixa  o dono disse-me, "já está vendido". Respondi-lhe, parece bem comportado. Mas o que descobri nos olhos do coelho era afinal medo. Suspeitaria de que estava a ser exposto para ser comido? E a cara avermelhada do camponês-coelheiro era do vinho, do rio ou dos animais mortos?
Cada ser numa feira é um mundo. Desde a beleza, à força, aos anões, às velhinhas, há de tudo.

Um poema de alma, algures no tempo e na perenidade...

Um poema escrito algures no tempo...

Geme a Alma,

Aspira à sobreposição dos dois no Um original.

Cada aurora estilhaça a obscuridade passada

e torna mais eminente a visão do Espírito.

Cada meditação oração ou contemplação

é um acto de intensificação verticalizante

no qual o nosso amor deixa de depender dos outros

e se anima com as asas e a sensibilidade do coração

e escrevemos ou oramos então com sangue.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O Amor e a União. Escrito no processo meditativo e inspirativo para um casamento que se iria realizar, em 2015 e em que falei, claro, bem diferente do que esboçara

 Abrindo os documentos-registo dos diários escritos no computador em 2015, eis um texto que surgiu com algum valor: 

O Amor é a base, fonte ou origem do Cosmos e dos seres humanos. O Absoluto imanifestado, ou a Divindade, no começo da manifestação, inicia o processo emanativo no qual brotamos e estamos por Amor, por desejo da Divindade de compartilhar a felicidade, a beatitude, as qualidades divinas que nós só podemos intuir e vivenciar parcelarmente enquanto centelhas emanadas deste Fogo Primordial.

Por isso, na Terra, quando duas centelhas ou dois seres resolvem já plenamente maduros e conscientes unir os seus caminhos sob a invocação da Unidade do Amor, estes seres estão verdadeiramente a atrair sobre eles as bênçãos divinas e estão no fundo a recriar o amor da Vida e da Unidade, face a todas as fragilidades do mundo físico e histórico, tão mutável e frágil.

O casamento ou união de dois seres passa-se sobretudo ao nível da alma. É aí no corpo espiritual, que subjaz e que coroa os corpos fisicos, que se tecem os fios e entrelaçamentos que gerarão a intensificada invocação do amor e sabedoria da Unidade e da Divindade.

O casamento é assim o fazer de dois seres, separados, dois seres unidos, entre si, e com o melhor de si e do Universo.

É pois trazer à Terra a Graça divina da harmonia dos contrários, tornados complementares, activamente, no dia a dia, companheiros, portanto, da mesma construção e labuta, alegria e adoração.

Dois seres já amadurecidos na idade e na experiência, quando resolvem unir-se, unem também mais com o Amor todos aqueles seres que conheceram e que ficaram para trás, ou para o lado, ou que já partiram mesmo, e que quer estejam em Amor e em estados de unidade frequentes ou não, sempre receberão os eflúvios, as ondas, as informações de amor e sabedoria que eles comunicarão e desabrocharão.

Qualquer união amorosa é pois um modo de se refrescar a secura da Terra, de diminuir a separatividade e a guerra, de se intensificar a descida do fogo do Amor divino no coração dos seres e dos ambientes..

E por isso ao juntar-nos aqui todos para celebrar esta união, este casamento entre a Graça e o César, fazemo-lo perante ou unindo a Terra e o Céu, os corpos e espíritos, duas almas na grande Alma do Cosmos de Amor-Sabedoria que é a Divindade, tanto transcendente como em nós e nos nossos corações agora mais flamejantes e mais unidos entre si...

                                   

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma paráfrase da oração do Pai Nosso, da sua 1ª parte, sobre um desenho aguarelado.

 A oração do Pai Nosso, passados dois mil anos de ter sido pronunciada e ensinada por Jesus, continua a ser orada, e pronunciada por muita, muita gente. A sua hermenêutica ou interpretação não é fácil, embora  haja certamente uma leitura simples e já boa se dita ou pensada sentidamente, ainda que saber mesmo realizá-la e merecê-la seja sempre exigente.

Não admira que ao longo dos séculos, além das explicações e doutrinações, tivessem surgido  diferentes versões, em especial de religiosos, e entre nós apresentou algumas o Padre Mário Martins, notável estudioso da época medieval e um amigo de Dalila Pereira da Costa, que me o fez conhecer e apreciar, como já testemunhei num artigo.  .

Também eu ao longo dos anos as escrevi, ou pronunciei apenas e vogarão no espaço infinito os ecos subtis do que da minha alma em aspiração se ergueu. Há dias encontrei uma  já de há uns anos, escrita de uma só vez sobre um desenho de fundo (30x50 cm) e resolvi dá-la à luz, com leves correcções ou melhorias. Ei-la, embora seja só a primeira  parte do Pai Nosso, certamente a mais valiosa. E a esta oração, nas suas tão variadas versões e hermenêuticas, esperamos voltar...
                                

Pai Nosso, nós te invocamos, por nós todos,

todos teus filhos, emanados de Ti, a Ti te amando.

Que estais nos céu, visível no mundos espirituais,

e na consciência pura e una do amor em todos seres,

 presente como estado de consciência puro e iluminado. 

Santificado seja o Vosso nome, memória e ser,

que embora não patente no mundo em que vivemos

por sabermos que és Nosso Pai te podemos invocar

e  prestar culto em espírito e verdade

de modo a que nossa vida seja constante testemunhar

da Vossa presença em nós, e da nossa ligação a Vós,

a fim manifestarmos a Vossa Vontade e Amor.

Venha a nós o vosso Reino, a vossa governação nossa,

que sejam vós  e a vossa Bondade e Sabedoria

a inspirar e a dar realeza ao mundo e às pessoas

que Te seguem no interior, na consciência íntima

que lhes vai sugerindo como estarem mais abertas a Ti,

mais penetradas e envolvidas por Ti,

de modo a podermos estar mais plenos e felizes,

desenvolvendo capacidades e obras luminosas.

Seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu,

que possas verdadeiramente circular vitoriosamente

em todas as dimensões e estados de consciência,

para sermos canais, eixos de ligação entre o Céu e a Terra, 

entre a tua Sabedoria omnisciente e nossa aspiração ardente,

e assim cooperarmos na plenitude dos seres e tempos, 

na união dos múltiplos opostos, na harmonia dos contrários,

vencendo as vontades contraditórias e exclusivas, 

unindo-as na tolerância, liberdade e Amor.

Que todo o nosso ser, da cabeça aos pés,

da manhã à madrugada

viva iluminado ou harmoniado pela Tua consciência nele,

que lhe dê lucidez, destemor, criatividade

e capacidade de ser pontífice,

construtor de pontes

por onde nos podemos

encontrar, amar, iluminar.

Demos graças, em Ti, para Ti, por todos. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Uma flor-de-liz e uma oração iconograficamente muito belas, e uma grande alma: Elizabeth Philiphine Marie Hélène, princesa de França.

A Flor-de-Liz, como capitular da oração, e as três flores-de-liz, brasão de Elizabeth. Impressão parisiense sobre pergaminho, começo do séc. XX.

 Tendo hoje partilhado num artigo do blogue um dos símbolos proféticos do Paracelso, o das flores-de-liz, ao arrumar alguma iconografia religiosa deparei-me com um santinho francês com uma bela flor-de-liz ilustrando uma oração de uma tal M. Elizabeth, que pensei ser uma Mère Elizabeth, mas não, a oração é bem conhecida e foi escrita por Elizabeth Philiphine Marie Hélène (3-V-1664 a 10-V-1694), a irmã mais nova do rei de França Luís XVI e que com ele e Maria Antonieta foi guilhotinada no auge da Revolução Francesa, quando tinha 30 anos de idade, nada a demovendo de acompanhar o irmão, a mulher e os sobrinhos, face ao ataque do revolucionários, sustentando-os com a sua espiritualidade no caminho que os levará, através das provações,  até ao desenlace fatal e também libertador da realeza absolutista francesa.

Como era nova, bela, artista, inteligente, religiosa, e se mantivera firme nas suas convicções e aconselhamentos no tempo da provação, em que saindo da sua vida retirada fora da corte passou acompanhar o rei seu irmão, logo se ergueu no meios realistas e religiosos um certo culto, pois  morrera corajosa e serenamente e ter-se-ia sentido na atmosfera, na actual Place de la Concorde, no momento da "abertura das portas do céu", o perfume de flores, rosas, fenómeno subtil  que é chamado odor de santidade, transversal a várias tradições e religiões e não tão, tão raro de ser sentido...
A oração é bela, de grande amor e ent
rega a Deus e à sua providência, sacrificando tudo à Sua Vontade, apenas Lhe pedindo que continue a sustentar-lhe a paciência (ou ciência da Paz) e a aceitação perante as provações e sofrimentos que tiver de atravessar, e que foram bem intensos, embora saibamos que o seu estado de consciência espiritual e de abertura e ligação a Deus e a Jesus e Maria subsistiram sempre.

                                              
Saber ou discernir porém qual é a Vontade divina não é assim tão fácil frequentemente. Deveria Elizabeth, e Luís XVI e a austríaca Maria Antonieta, terem tido mais sensibilidade aos problemas do povo francês, e aceitado as imposições anti-religiosas e anti-monárquicas dos revolucionários, e assim escaparem ao fim trágico que os vitimou? 

                                       

Deveria ter-se exilado, como o seu irmão queria, em vez de ficar a residir em Paris nas Tulherias com o irmão e, depois dele ser levado para a prisão na torre do Templo, se ter ido entregar também, em 1792, para  apoiar o seu irmão a enfrentar dignamente a morte e decapitação?
O certo é que depois de ajudar os familiares
e próximos será a  última das vinte e cinco pessoas a morrer no mesmo 10 de Maio de 1794, sempre escudada nas suas práticas espirituais, orando nos últimos momentos  das profundezas da sua alma abnegada e reafirmando às que iam ser mortas que nesse mesmo dia se encontrariam no Paraíso, um leif-motive e certeza que aparece em algumas almas mais elevadas de várias religiões, embora o Paraíso dos crentes das várias religiões e teodiceias seja multidimensional  e multipolar...

Poderemos concluir esta breve janela com a lembrança de que a oração e a meditação diária de um certo modo são formas de nos abrirmos a uma melhor percepção do que devemos ser ou fazer, de nos alinharmos melhor com as forças cósmicas, ambientais, sociais, orgânicas que  nos estão a influir ou afectar mas que geralmente não nos consciencializamos o suficiente para evitar erros, doenças, acidentes, traições, manipulações, ou fraquezas perante as cruzes do destino.

 Possa esta tão imaculada flor-de-liz, símbolo ascensional psico-somático, e a bela e tão sacrificial quão trágica oração, impelirem-nos então a praticar mais a oração, a ligação ao sagrado coração, os mantras, a meditação, a contemplação, o silêncio, os sacrifícios a fim de sermos ou estarmos mais inspirados seja pelo nosso espírito, seja pelos celestiais, seja pelo Espírito Santo,  e assim cumprirmos melhor e mais criativamente o nosso dharma, a nossa missão em ligação divina, tal como tentou realizar Elizabeth Philiphine, a quem endereçamos as melhores invocações divinas. E que ela nos possa inspirar do Corpo Místico da Igreja e da Humanidade, onde se encontra certamente bem consciente, tanto mais que se tenta a sua beatificação.

 Duas traduções, já que deparei-me com duas versões:

"O que me acontecerá hoje, ó meu Deus.? Eu nada sei. Tudo o que sei, é que não me acontecerá nada que não tenhas prevenido, regulado e ordenado de toda eternidade. Isso chega-me, ó meu Deus.
Eu adoro os vossos desígnios eternos e impenetráveis. Eu submeto-me de todo o meu coração pelo amor de vós. Eu quero tudo, eu aceito tudo. Eu faça-vos um sacrifício e tudo e eu uno este sacrifício ao de Jesus Cristo, meu divino Salvador.
Eu vos p
eço em seu nome, pelos seus méritos infinitos, a paciência nas minhas dificuldades e a perfeita submissão que vos é devida por tudo o que vós quereis e permitis."

"O que me vai acontecer hoje, ó meu Deus, eu ignoro. Tudo o que eu sei é que nada me sucederá se vós não o tiveres previsto desde toda a eternidade. Isso chega-me, meu Deus, para estar tranquila. Adoro os vossos desígnios eternos e submeto-me de todo o meu coração. Eu quero tudo, aceito tudo, faço-vos um sacrifício de tudo; uno este sacrifício ao do Vosso querido Filho, meu Salvador, pedindo-Vos, pelo seu Sagrado Coração e pelos seus Méritos infinitos, a paciência nos meu males e a perfeita submissão que Vos é devida para tudo o que quereis e permitais. Assim seja." ...   

 Aum, Amen, Lux, Amor!

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Da compreensão dos caminhos da mística, individuação, realização espiritual e evolução da Humanidade no séc. XXI.

                                   

O estudo,  compreensão, formatação e enquadramento da experiência mística e espiritual tem sofrido ao longo do tempo sucessivas tentativas, em geral com unilateralidades limitativas,  a causa principal sendo a falta de experiência e prática espiritual, ou de alma mística e experimentada que possa compreender por dentro, por vivência. o que se lê, observa, analisa, julga, contextualiza. Lamentavelmente tais estudiosos, especialistas ou escritores menosprezam a vivência interna escudados numa objectividade de não tomarem partido ou via religiosa, e desse modo não conseguindo chegar à essência e vivência do que subjaz tais fenómenos ditos místicos:  que somos seres de corpo, psique-alma e espírito, que vivemos num mundo pluridimensional e sobrevivemos enquanto almas espirituais à morte do corpo e do cérebro, e  mesmo em vida no corpo físico podemos já ter experiências subtis com os órgãos do corpo espiritual. Finalmente, que a Divindade é, existe, pelo que a devemos demandar e amar, tanto mais que Ela agracia de diversos modos quem medita, ora, e acrifica, e supera, internamente, providencialmente e até pelos anjos ou pelos espíritos que já morreram fisicamente mas que no corpo místico da Humanidade subsistem e dos quais podemos receber ajuda, sobretudo se tal admitirmos ou aspirarmos.

Na realidade muito do que se inclui na fenomenologia da mística religiosa implica a alma ou psique intensificar o seu amor e entrega ao Divino, ao Cosmos, à Humanidade no amor-compaixão, e no ser capaz de interiorizar-se, silenciar-se, orar, e ora sentir na alma, chakras e coração ora ter visões, e portanto de abrir o seu olho espiritual e receber informações e ensinamentos, que certamente a podem transcender mais ou menos nos seus significados e causas, tal como noutro nível se passa com os sonhos...

Que haja pessoas que se perturbam psiquicamente e geram também visões, que haja pessoas que por terem uma capacidade imaginativa forte se possam iludir, distorcendo, ou sugestionando-se quanto ao que vêem não há dúvidas,  e os hospitais psiquiátricos  apresentam-nos muitos casos de delírios, de psicoses, de manias, tal como também poderemos discernir certas inflações egóicas, proféticas ou de poder em alguns instrutores ou gurus. Mas não devemos por isso recusar a existência, ou o valor das experiências místicas num todo ou sem uma atenta investigação da realidade caso a caso dos fenómenos, para não misturarmo duas realidades diferentes, uma patológica e outra espiritual, esta   exigindo elevadas condições, qualidades ou virtudes do praticante duma via religiosa, espiritual, criativa.

Com a predominância do laicismo, materialismo,  cientismo,  estruturalismo e psiquiatria freudiana não há grandes hipóteses de encontrarmos na maioria dos hermeneutas compreensões profundas dos fenómenos místicos, embora certamente a contextualização mais ampla possível do fenómenos e recorrendo a uma multidisciplinariedade, permita uma melhor elucidação do que foi vivido e afirmado por alguém, e dada a actual ampla democratização ou divulgação dos conhecimentos energético-conscienciais tanto pelas práticas tradicionais e pluralidade religiosa  como pelas neurociências, devemos registar que há cada vez melhores compreensões e estudos, duns poucos, embora pouco chegue ao grande público, bastante infrahumanizado e amilhazado, em preços certos e as narrativas oficiais

A existência de tradições espirituais, no sentido de linhas ou elos de seres e de forças ligadas a mestres, iniciações, símbolos,  técnicas ou métodos,  orações, mantras, ícones e imagens é um factor pouco valorizado em geral pelas abordagens exteriores académicas, sobretudo na sua dimensão interior, subtil e espiritual, nomeadamente no que um santo, yogui ou mestre viveu, praticou e ensinou e como isso se pode afirmar fortemente numa  continuidade nos actuais discípulos, fiéis, leitores ou praticantes.

Daí, face ao globalismo  infrahumanista e materializanteques e pretende instaurar na humanidade a importância das tradições culturais e espirituais de cada país, cidade,  época,  religião e que nos convidam por diversas formas a aproximá-las e a receber os seus eflúvios e impulsos veículados mais especifica e directamente. por livros, objectos, vídeos, filmes, ensinamentos e sobretudo locais e seres vivos.  

O acesso às múltiplas tradições espirituais intensificou-se tremendamente nestas décadas  do séc. XXI graças à internet, de tal modo que a oferta é ilimitada, quase infinita, ainda que nada suplante como já sugerimos o contacto directo com o livro, a pessoa, a cerimónia, o mestre, tanto mais que há muita aparência que ilude e há muita manipulação, ganância económica, megalomania e fingimento mesmo no campo religioso e espiritual, nem sempre sendo fácil de discernir com tanta ilusão e marvilhamento que se cria à volta de certo seres ou instrutores, pelo que a consulta e diálogo com pessoas no caminho é bem conveniente.

Relembremos pois   que nas tradições orientais e ocidentais está muito presente a continuidade da partilha e prática de ensinamentos, que se exerce seja num convento ou num ashram, seja numa irmandade ou fraternidade, e seremos tolos se menosprezarmos tais continuidades nos nossos dias, pelo que devemos estar atentos ao que nos pode chegar de informações ou de relações, orações e jaculatórias, yantras e mantras, imagens e cantos, para podermos receber indicações correctas de pessoas, locais, comunidades, ou sentirmos se é verdadeiro ou apropriado, ou  como melhor estudarmos e praticarmos o que é afim da nossa alma e logo eficaz, integrativo, salvífico.

 Vivemos pois numa época extraordinária, embora haja certamente muita gente manipulada e fanatizada, e cabe-nos aproveitar o melhor possível o tempo para diminuirmos a ignorância e o ego e intensificarmos a harmonização da nossa personalidade e vida diária, o contributo para a evolução social e ambiental, e simultaneamente aprofundarmos com persistência (ou "optimismo escatológico", como transmitia Daria Dugina Platonova),  a vivência interior possível dos mundos subtis e espirituais, do Cosmos, do espírito e da Divindade, esta até com a mística pessoal e subjectiva, individuante de cada um.