Suportando nas mãos a edição organizada, prefaciada e anotada por António Sérgio dos Sonetos de Antero de Quental, de 1956, li algumas das suas palavras preliminares, apresentei a ordenação e a divisão em oito ciclos que António Sérgio fez em contra-corrente a todos os comentadores e, em dois vídeos, li e comentei os melhores sonetos, dum ponto de vista espiritual e actual.
No 1º vídeo, ou 1ª parte, li alguns dos sonetos dos últimos ciclos: do sétimo ciclo (Metafisica) e do oitavo (Da voz interior e do Amor puro, sempiterno), realçando então os momentos mais luminosos ou fulgurantes deles, tal como no soneto Ad Amicos o maravilhoso terceto:
"Filhos do Amor, nossa alma é como um hino
À luz, à liberdade, ao bem fecundo,
Prece e clamor dum pressentir divino;"
À luz, à liberdade, ao bem fecundo,
Prece e clamor dum pressentir divino;"
Ou do soneto Com os Mortos, os dois tercetos finais:
"Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei: vivem comigo,
Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem."
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei: vivem comigo,
Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem."
Numa segunda parte e 2º vídeo, li e comentei alguns do quinto ciclo (Da Morte), em especial os seis sonetos do Elogio da Morte (já publicados em 1875 na Revista Ocidental e cada um com o seu título), o qual muito significativamente leva como epígrafe inicial o mantra Morrer é ser iniciado, invocado e bem "ocultizado" também por Fernando Pessoa no seu famoso poema a Iniciação, tendo-o muito certamente recebido de Antero de Quental, embora Joaquim de Araújo tivesse sido sentido e dedilhado tal mantra no seu belo poema (e livrinho) à morte do seu amigo e mestre Antero de Quental, em 1891, na aura do momento trágico, como pode ler em: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2017/09/na-morte-de-antero-joaquim-de-araujo.html
Ora este mantra ou frase poderosa de auto-conhecimento é por António Sérgio localizada também em Ernesto Havet, transcrevendo-a, embora confesse que não consegue compreender a razão de ser dela no poema de Antero de Quental. Todavia, ela está no último dos seis sonetos, quando Antero afirma o seu destemor perante a morte e o não-ser: «minha alma humilde, mas robusta/ entra crente em teu átrio funerário»..., terminando com o «Talvez seja pecado procurar-te, Mas não sonhar contigo e adorar-te,/ Não-ser, que és o Ser único absoluto». Ora este Ser e não-Ser tanto pode ser lido negativamente como positivamente, e alguma indicação foi dada até numa citação que António Sérgio faz de uma carta de Antero a João de Deus: «Deus, ou é nada, ou é a plenitude do Ser, o Absoluto, a Perfeição».
Este quinto ciclo "Da Morte" termina com o famoso e belo poema Mors-Amor, no qual Antero vê e ouve um negro corcel «que cruzou regiões sagradas e terríveis», com um cavaleiro de expressão potente que «cavalga a fera estranha sem temor:/ E o corcel negro diz: «Eu sou a Morte!»/ Responde o cavaleiro: «Eu sou o Amor!». Compreende-se então que Antero Quental tenha dito em cartas que escrevera estes sonetos sem pessimismo nem tristeza, e que sentia que transmitia uma filosofia «confortativa idealista», o Amor triunfando da morte, sem dúvida uma batalha para todos nós a todo o momento, face a todos os tipos de morte que nos ameaçam...
Do sexto ciclo "Pensamento de Deus", referi alguns aspectos da crítica de Antero às limitações do Cristianismo, patentes nos sonetos e em cartas, lendo também as leituras ético-espirituais que António Sérgio fez corroborando Antero e passei por fim para o último soneto do oitavo e último ciclo, na ordenação de António Sérgio, o intitulado Solemnia Verba, que transcrevemos:
Este quinto ciclo "Da Morte" termina com o famoso e belo poema Mors-Amor, no qual Antero vê e ouve um negro corcel «que cruzou regiões sagradas e terríveis», com um cavaleiro de expressão potente que «cavalga a fera estranha sem temor:/ E o corcel negro diz: «Eu sou a Morte!»/ Responde o cavaleiro: «Eu sou o Amor!». Compreende-se então que Antero Quental tenha dito em cartas que escrevera estes sonetos sem pessimismo nem tristeza, e que sentia que transmitia uma filosofia «confortativa idealista», o Amor triunfando da morte, sem dúvida uma batalha para todos nós a todo o momento, face a todos os tipos de morte que nos ameaçam...
Do sexto ciclo "Pensamento de Deus", referi alguns aspectos da crítica de Antero às limitações do Cristianismo, patentes nos sonetos e em cartas, lendo também as leituras ético-espirituais que António Sérgio fez corroborando Antero e passei por fim para o último soneto do oitavo e último ciclo, na ordenação de António Sérgio, o intitulado Solemnia Verba, que transcrevemos:
«Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...
Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E noite, onde foi luz de Primavera!
Olha a teus pés o Mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!»
Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do penar tornado crente,
Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi de mais o desengano e a dor.»
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...
Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E noite, onde foi luz de Primavera!
Olha a teus pés o Mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!»
Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do penar tornado crente,
Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi de mais o desengano e a dor.»
Possamos nós despertar e estar sempre em Amor, embora certamente ondulando, harmonizando tal fogo divino com o momento e a actualidade. Corajosamente, na Verdade, na Divindade...
1ª parte ou vídeo está aberto neste artigo do blogue.
Da 2ª parte deixo a ligação: https://www.youtube.com/watch?v=VMdOQdDfoYg
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