A revista Seara Nova tinha em Antero de Quental uma das suas almas tutelares e assim quando no Verão de 1934 resolveram consagrar o número de Setembro a ele não tiveram dificuldades em recolher um conjunto de artigos que ainda hoje nos podem transmitir alguns estímulos tanto à nossa caminhada como à compreensão de Antero, da tradição portuguesa e do género humano.
No amplo corpo directivo, que incluía António Sérgio, Câmara Reys, Jaime Cortesão, Mário de Azevedo Gomes, Raul Proença e Sarmento Pimental, já encontrávamos notáveis anterianos, e em especial António Sérgio, autor até à data da mais completa análise dos Sonetos, mas a eles ainda se juntaram homens da revista coimbrã Presença, como José Regio, e outros anterianos, destacando-se então o mais conhecedor da temática e autor da opus magna em dois volumes, Antero de Quental, subsídios para a sua biografia, José Bruno Carreiro, que partilhou a sua compreensão da cadente questão: "As mulheres em Antero"; António Salgado Júnior tratou de "Antero e a Literatura Infantil"; Vieira de Almeida, em pequenos quadros sob citações de Antero, traça a visão estética e heróica que leva Antero por entre o Amor e a Morte, no seu artigo ..."Entre as formas incompletas"...
Outro açoriano, tal como José Bruno Carreiro e Antero, é Vitorino Nemésio que assina uma valioso artigo em que percorre o relacionamento entre Herculano e Antero, duas almas muito próximas em certos aspectos, nomeadamente em «o perfil enérgico e simples dos heróis típicos» de Portugal, tal como Antero considerava Herculano, escrevendo mesmo a Oliveira Martins «é pena que ele não deixasse um tratado de Filosofia», o mesmo se podendo dizer também de alguns que desejaram mais finalizado tela pensamento em Antero.
José Marinho escreve "Perspectiva crítica do Divino nos Sonetos de Antero", certamente não o melhor lugar na obra de Antero para encontrar o que do Divino Ser Antero acolhia ou intuía. Hernâni Cidade, um dos homens da Renascença Portuguesa e da revista portuense Águia contribui com "A Intervenção de Antero na vida pública" e mostra a capacidade sacrificial dele se envolver nas batalhas que julgava justas, destacando a do Bom Senso e Bom Gosto, as Conferências do Casino e a a intervenção uns meses antes de morrer na Liga Patriótica do Norte.
O nosso amigo Agostinho da Silva escreve a "Consideração sobre o papel de Antero", Câmara Reys sobre "Antero e a Música", António Sérgio partilha um extenso diálogo, em que cita por vezes o "Antero", recentemente saído, de Sant'Anna Dionísio e, por fim, Álvaro Salema envia de Viana de Castelo a sua colaboração intitulada "Antero e o heroísmo de pensar", terminando assim o seu artigo bastante apologético (tanto mais que era para a Página da Mocidade, na revista) da exemplaridade (quase samuraica) de Antero: «Para a mocidade que neste momento alimenta uma chama idealista de combate, o seu exemplo é o do sofredor paladino que correu à morte quando se sentiu passivo, e não o schopenhaueriano impotente que levou a vida morrer».
No Calendário Seareiro, rubrica mensal, a citação da carta que assinalava a morte a 11 de Setembro de 1891 de Antero é das enviadas a Fernando Leal, certamente uma das mais profundas da sua valiosa epistolografia, aquela em que lhe recomenda meditar na Voz da Consciência, que jaz nas profundezas do coração, até que ela se oiça bem claro:«Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho Eterno, porque é a expressão da existência pura e última do homem, e até de todas as coisas, mas só no homem tornada consciente e dotada de voz. Ouça essa voz, e não entristeça».
Começo do texto de José Régio, como ele diz uma simples introdução na qual releva a seu ver os defeitos de Antero, entre os quais sobreleva o não ter conseguido dedicar-se a um só, ou mais exclusivamente, aspecto criativo e artístico, reflectindo-se tal na qualidade geral..
Com um forte elogio ao recente livro de Sant'anna Dionísio "Antero".
Esforcemo-nos criativamente com sinceridade e clarificação...
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