sábado, 30 de abril de 2016

Evolução da Humanidade e Intuição.

               Acerca da evolução da Humanidade e do desenvolvimento                                               intuitivo.
Neste século XXI, em que a evolução da Humanidade se encontra, como é costume, pressionada por diversas forças, cada vez mais poderosas e exigentes, e basta ver como a alta finança mundial explora miseravelmente muitos povos e milhões de seres, para não falarmos do imperialismo Ocidental no Médio Oriente, há que sabermos resistir a elas e simultaneamente desenvolver as qualidades próprias e mais nobres do ser humano: a sua criatividade e sabedoria, a fraternidade e o amor.
Podemos mesmo dizer que as qualidades intuitivas e espirituais estão a desabrochar naturalmente na evolução da humanidade, na passagem do ser sentiente, perceptivo e racional para um estado em que a libertação em relação a muitos mitos, crenças e ilusões, e a integração maior do corpo e cérebro com o eu espiritual, gera na alma ou psique por vezes capacidades, fenómenos ou manifestações que, apesar da sua excepcionalidade, devem ser assumidos sem medos, sem comercializações, sem perdas da unidade de consciência.
Estamos todos interligados num campo unificado de energia-informação e é a intensificação da sensibilidade da nossa consciência que captará mais informação através de modos supra-sensíveis e de supra-racionalidade analítica, os quais a ciência moderna mais avançada, isto é, a um nível ou entendimento quântico, consegue compreender, estudar ou acolher designando tal, por exemplo, como o emaranhamento das mentes (conforme Dean Radin), ou o Campo unificado de informação cósmica e os seres mais sensitivos a ela. Mas já na Antiguidade o conceito de Anima Mundi, a Alma do Mundo, cobria estes aspectos ainda que não detalhados ou precisos em termos quânticos, embora o mundo das partículas de energia já lhes fosse conhecido.
As pessoas mais sensíveis e psíquicas, muitas das quais naturalmente mulheres, tornam-se assim actrizes ou palco de manifestações inusitadas de poderes psíquicos os quais frequentemente são tratados como distúrbios e sujeitas a medicamentos, dos quais podem ficar , quando o acolhimento compreensivo de tais capacidades e a sua orientação criativa e harmoniosa faria florescer a personalidade rumo a uma integração espiritual maior ou mais elevada, pois tais pessoas têm uma sensibilidade consciencial mais vasta ou mais profunda, uma comunhão maior com o Campo unitário de energia informação consciência, donde esse brotar maior de fontes de energia ou informação, algumas certamente disruptivas, nomeadamente as involuntárias, ou mesmo derivadas da actuação de forças ou seres exteriores, que por vezes certas leituras, exercícios, grupos ou seitas provocam desequilibrdamente. Pelo que teremos de discernir muito bem o que está a desequilibrar e a desestruturar a personalidade, é o que é natural e harmonioso ou mesmo o que é uma graça ou um carisma, instrumento evolutivo e benfazejo para a Humanidade... 
Há que sabermos ser mestres de nós próprios, ligando-nos ao Espírito, num modo de vida harmonioso ou justo, e estarmos atentos às meditações, aos sonhos, às telepatias, aos pressentimentos e intuições, compreendendo-se que vivendo nós num Oceano de energias-informação-consciência universal, com múltiplos planos ou realidades, por certas afinidades, merecimentos ou aspirações, seja com pessoas, assuntos ou coisas, será natural conseguimos intensificar com originalidade descobertas, no grande diálogo evolutivo sábio e amoroso da Humanidade com o Cosmos e a sua Fonte, o qual se quer mais profundo e luminoso, harmonizador e libertador.
Perguntar-se-á: Mas como poderemos desenvolver mais a intuição, como sairmos de um estado geral de pensamento tão horizontal e limitado para um estado em que brotem mais as intuições do futuro, do interior dos seres e das coisas, do que é mais apropriado ou acertado para nós, dos mundos e seres espirituais e divinos?
Certamente por um modo de vida mais justo e harmonioso com os seres humanos,  com os ritmos e leis da Natureza, e que se torne luminoso pelas consciencializações e práticas que trabalhem a fluidez de circulação das energias e informações entre o campo unificado cósmico, e os seus seres e arquétipos, e o nosso ser, nomeadamente na visão e auto-consciencialização espiritual. 
Práticas como movimentos e respirações mais conscientes, escrita e pintura mais atenta e receptiva, meditação e contemplação e estar o mais atento e desperto a cada momento, o que Erasmo, numa linha tradicional cristã, chamava de oração incessante. 
O discernimento de símbolos e arquétipos no que nos rodeia facilita o nosso acesso aos planos subtis e espirituais que envolvem a Humanidade e logo a intuirmos e acolhermos energias e informações desses planos... 
A oração diária às linhas de força espirituais ou divinas que nos são mais afins ou amadas deve ser praticada, com momentos seja de movimentação dos braços, posturas e danças seja de pleno silêncio receptivo para que sejamos harmonizados pelo alto e para que eventualmente as intuições mentais ou clarividentes aconteçam.
A concentração do pensamento em certos seres, assuntos, símbolos, formas geométricas, mandalas, sons, permite tanto uma intensificação vibratória como uma capacidade de atrair resposta do Campo unificado de consciência e dos seus particulares psicomorfismos ou, se quisermos, campos mórficos, como Rupert Sheldrake tem estudado, invocados mais especificamente pela concentração-meditação.
Também como a consciencialização espiritual trabalha com níveis ou planos subtis, de certo modo ela aproxima-nos do Infinito em que todos temos o nosso ser, pelo que ela acede, sobretudo clarividentemente, à quarta dimensão na qual a profundidade e a unificação do dentro e fora brilham e na qual a noção de tempo e espaço é bem menos rígida e portanto intuições desvendantes se nos oferecem.
Fundamental então mais momentos de sintonização vertical, interior e de harmonização do psicosoma para que o psico espiritual universal nos inspire e ilumine...

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Antero de Quental, " Palavras Aladas", no Graal de Portugal. Da antologia "Raios de Extincta Luz"


                       
Sob o nome de Raios de Extincta Luz surgiu em 1892 uma colectânea de poemas  juvenis de Antero de Quental, publicada por Teófilo Braga, logo que Antero morreu, o qual se socorreu da preservação deles por Eduardo Xavier de Oliveira Barros Leite.
Embora com uma biografia algo maldosa dada a rivalidade e hostilidade que Teófilo a dado momento começou a nutrir por Antero, a selecção contém bastantes tesouros da sensibilidade afectiva, artística, ética e espiritual de Antero, e poderá portanto ser lida ou relida de quando em quando com efeitos luminosos em todos, descontando a biografia inicial. É neste livro que se encontra talvez o mais belo e profundo poema de Amor de Antero de Quental, à Beira Mar.
                           
Seleccionamos o primeiro, Palavras Aladas, pelo que de tão elevado animicamente perpassa nele, nomeadamente no apelo à continuidade da Tradição Espiritual Portuguesa (e Antero neste poema glosa Bocage...), que há-de saber cultivar estas folhas e palavras aladas no vento do transitoriedade histórica e recolhê-las na urna ou Graal que cada um de nós tem no seu coração, aí onde se pode operar o milagre da ressurreição e da iluminação, ao unir o espírito com a letra ou, como Antero sugere, se sonharmos ou imaginarmos a pura essência de Antero de Quental animando a sombra fugidia e unindo-se ainda a voz ao eco, o foco ao raio e, acrescentaremos nós, o raio ao Sol Logos....
Estamos pois diante de uma invocação mágica, de focalização no círculo ou anel da Graça da meditação do raio subtil do espírito. E, quem recitar ainda o poema em voz alta e amorosamente,  poderá sentir mais o eco, a ressonância da música das partículas e ondas que nos interligam com Antero de Quental, com o Todo, com a Fonte Divina, fortificando-se em tal comunhão o santo Graal em Portugal...
                 «Se alguém souber do canto o sentir íntimo (...) 
                  Canto e lira à Liberdade, ao Amor e a Deus votada»
                                
                                
                                 
                                   PALAVRAS ALADAS

                  «Raios de extincta luz, eccos perdidos
                   De voz que se sumiu no espaço absorta —
                   Meus cantos voarão de edade em edade,
                    Como folhas que ao longe o vento espalha.

                    Não sabe a folha já mirrada e secca,
                    Que um sôpro do tufão levou revolta,
                    Que outro sopro talvez desfaça em breve —
                    Não sabe a triste o ramo onde nascera,
                    A seiva que a nutriu, quando inda bella,
                    O tronco que adornou com verde galla,
                    E onde entre irmãs folgou por tarde amena?
                    Soltos do tronco, sem calor, sem vida,
                    Filhos orphãos que um seio não aquece,
                    Um seio maternal ebrio de affectos,
                    Meus cantos voarão de edade em edade,
                    Como folhas que ao longe o vento espalha.

                 Mas se alguem, vendo a folha abandonada,
                 Lembrar e vir na mente o tempo antigo
                 Em que bella, vestindo pompa e gallas,
                 Brilhou rica de seiva e luz e vida;
                 Se na mente sonhar a pura essencia
                 Que animara esse pó ahi revolto;
                 Se corpo der á sombra fugitiva,
                 E a voz unir ao ecco, e o foco ao raio;
                 Se alguem souber do canto o sentir intimo,
                 Oh, esse ha de entender a vida, a crença
                 D'essa alma que animara outr'ora o canto.

                     Se alguem tiver no peito a urna mystica
                     Onde o Amor se recolhe, esse hade amar-me;
                     Se livre, por tyrannos não comprado,
                     Pulsar um coração, esse commigo
                     Hade a aurora saudar do novo dia;
                     Se uma alma recordar a eterna patria
                     Que lhe dera o Senhor, do céo saudosa
                    Commigo a Deus n'um hymno hade elevar-se.

                     Aos mais será mysterio o canto e a lyra,
                     Á Liberdade, a Amor e a Deus votada:
                    E já, soltos do tronco onde medraram,
                    Meus cantos voarão de edade em edade,
                   Como folhas que ao longe o vento espalha.

Coimbra, Novembro, 1860.» E  transcrita para si e chegada a si neste vento que nos une e nesta idade ou época em que é tão necessário erguermos persistentemente os nossos seres à Verdade e à Liberdade, ao Amor e à Divindade.... Lux!

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Fernando Pessoa, em auto-biografia....

Eis uma breve leitura de alguns dos textos autobiográficos mais significativos de Fernando Pessoa, gravada no vídeo reproduzido no final e agora um pouco contextualizados.
Escolhemos, lemos e gravamos dois registos dos diários do tempo juvenil e de estudante universitário, de 1907-8, e depois mencionei a sua ideia de missão, referida por exemplo nas cartas a Armando Cortes Rodrigues (1914), ou num texto de 21-XI-2014: «Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser».
                                  
Mencionei ainda as cartas a Mário de Sá Carneiro (1915) e à Tia Anica (24-VI-1916), da qual transcrevemos esta parte mais significativa e confessional: «Quando o Sá-Carneiro atravessava em Paris a grande crise mental, que o havia de levar ao suicídio, eu senti a crise aqui, caiu sobre mim uma súbita depressão vinda do exterior, que eu, ao momento, não consegui explicar-me. Esta forma de sensibilidade não tem tido continuação.
Guardo, porém, para o fim o detalhe mais interessante. É que estou desenvolvendo qualidades não só de médium escrevente, mas também de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam «a visão astral», e também a chamada «visão etérica». Tudo isto está muito em princípio, mas não admite dúvidas. É tudo, por enquanto, imperfeito e em certos momentos só, mas nesses momentos existe.
Há momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente alvoradas (?) de «visão etérica» — em que vejo a «aura magnética» de algumas pessoas, e, sobretudo, a minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque o que eu vejo outros vêem-no, pelo menos, um outro, com qualidades destas mais desenvolvidas. Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver na Brasileira do Rossio, de manhã, as costelas de um indivíduo através do fato e da pele . Isto é que é a visão etérica em seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser?
A «visão astral» está muito imperfeita. Mas às vezes, de noite, fecho os olhos e há uma sucessão de pequenos quadros, muito rápidos, muito nítidos (tão nítidos como qualquer cousa do mundo exterior). Há figuras estranhas, desenhos, sinais simbólicos, números (também já tenho visto números), etc.»
                             
Mencionámos ainda a explicação dada em 29/11/1920 a Ofélia Queiroz para justificar não continuar a namorá-la (embora nove anos depois reatem...), da qual transcremos a parte final:
«Não sei o que quer que lhe devolva — cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memória viva de um passado morto, como todos os passados; como alguma coisa de comovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos anos é par do progresso na infelicidade e na desilusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.»
E depois vamos até ao último ano de vida, para ler a parte final da sua nota biográfica de 30 de Março de 1935, seguida de uma carta explicativa do conteúdo da Mensagem, e de um texto sobre a sua posição de nacionalista e liberal.
Por fim, concluí com dois poemas da Mensagem que se me afiguram os mais autobiográficos: o Aviso Terceiro, e o final, Nevoeiro.
Tentei por um lado clarificar a confessionalidade ou mistagogia dos textos pseudo-biográficos, ou seja, se são verdadeiros ou se são formas mistificadores ou literárias, as quais, por exemplo, no Livro Desassossego abundam, e por outro realçar e partilhar o caminho espiritual de Fernando Pessoa, ainda hoje pouco claro para a maioria das pessoas e com razão tal a disparidade de leituras da sua vida e obra...

                         

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A filosofia de Antero de Quental apreciada por Leonardo Coimbra, em 1921, e em vídeo comentada agora..

Pequeno contributo para as comemorações dos 174 anos do nascimento de Antero de Quental, nos Açores e na Terra...
Como o genial Leonardo Coimbra publicou em 1921 um livrinho intitulado O Pensamento Filosófico de Antero de Quental,
                                
no qual, após a Introdução (que já lemos e comentámos noutro vídeo), passa em revista os textos filosóficos de Antero de Quental, escolhemos alguns extractos das páginas dedicadas por Leonardo Coimbra ao principal deles, As Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, e tecemos alguns comentários e actualizações...
                                            
                          

domingo, 17 de abril de 2016

Antero de Quental, na revista Seara Nova. E a introdução de José Régio ao estudo de Antero e a Arte.

                                                 
A revista Seara Nova tinha em Antero de Quental uma das suas almas tutelares e assim quando no Verão de 1934 resolveram consagrar o número de Setembro a ele não tiveram dificuldades em recolher um conjunto de artigos que ainda hoje nos podem transmitir alguns estímulos tanto à nossa caminhada como à compreensão de Antero, da tradição portuguesa e do género humano.
No amplo corpo directivo, que incluía António Sérgio, Câmara Reys, Jaime Cortesão, Mário de Azevedo Gomes, Raul Proença e Sarmento Pimental, já encontrávamos notáveis anterianos, e em especial António Sérgio, autor até à data da mais completa análise dos Sonetos, mas a eles ainda se juntaram homens da revista coimbrã  Presença, como José Regio, e outros anterianos, destacando-se então o mais conhecedor da temática e autor da opus magna em dois volumes, Antero de Quental, subsídios para a sua biografia, José Bruno Carreiro, que partilhou a sua compreensão da cadente questão: "As mulheres em Antero"; António Salgado Júnior tratou de "Antero e a Literatura Infantil"; Vieira de Almeida, em pequenos quadros sob citações de Antero, traça a visão estética e heróica que leva Antero por entre o Amor e a Morte, no seu artigo ..."Entre as formas incompletas"...
Outro açoriano, tal como José Bruno Carreiro e Antero, é Vitorino Nemésio que assina uma valioso artigo em que percorre o relacionamento entre Herculano e Antero, duas almas muito próximas em certos aspectos, nomeadamente em «o perfil enérgico e simples dos heróis típicos» de Portugal, tal como Antero considerava Herculano, escrevendo mesmo a Oliveira Martins «é pena que ele não deixasse um tratado de Filosofia», o mesmo se podendo dizer também de alguns que desejaram mais finalizado tela pensamento em Antero. 
José Marinho escreve "Perspectiva crítica do Divino nos Sonetos de Antero", certamente não o melhor lugar na obra de Antero para encontrar o que do Divino Ser Antero acolhia ou intuía. Hernâni Cidade, um dos homens da Renascença Portuguesa e da revista portuense Águia contribui com "A Intervenção de Antero na vida pública" e mostra a capacidade sacrificial dele se envolver nas batalhas que julgava justas, destacando a do Bom Senso e Bom Gosto, as Conferências do Casino e a a intervenção uns meses antes de morrer na Liga Patriótica do Norte.
O nosso amigo Agostinho da Silva escreve a "Consideração sobre o papel de Antero", Câmara Reys sobre "Antero e a Música", António Sérgio partilha um extenso diálogo, em que cita por vezes o "Antero", recentemente saído, de Sant'Anna Dionísio e, por fim, Álvaro Salema envia de Viana de Castelo a sua colaboração intitulada "Antero e o heroísmo de pensar", terminando assim o seu artigo bastante apologético (tanto mais que era para a Página da Mocidade, na revista) da exemplaridade (quase samuraica) de Antero: «Para a mocidade que neste momento alimenta uma chama idealista de combate, o seu exemplo é o do sofredor paladino que correu à morte quando se sentiu passivo, e não o schopenhaueriano impotente que levou a vida morrer».
No Calendário Seareiro, rubrica mensal, a citação da carta que assinalava a morte a 11 de Setembro de 1891 de Antero é das enviadas a Fernando Leal, certamente uma das mais profundas da sua valiosa epistolografia, aquela em que lhe recomenda meditar na Voz da Consciência, que jaz nas profundezas do coração, até que ela se oiça bem claro:«Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho Eterno, porque é a expressão da existência pura e última do homem, e até de todas as coisas, mas só no homem tornada consciente e dotada de voz. Ouça essa voz, e não entristeça».
                           
Começo do texto de José Régio, como ele diz uma simples introdução na qual releva a seu ver os defeitos de Antero, entre os quais sobreleva o não ter conseguido dedicar-se a um só, ou mais exclusivamente, aspecto criativo e artístico, reflectindo-se tal na qualidade geral.. 
                             
Com um forte elogio ao recente livro de Sant'anna Dionísio "Antero".
                                  
                             
Esforcemo-nos criativamente com sinceridade e clarificação... 
                                  

terça-feira, 12 de abril de 2016

Dos ensinamentos espirituais das nuvens, 10/11/12 de Abril de 2016, em Lisboa.

Imagens de nuvens e fenómenos atmosféricos mais interessantes, acolhidas de 10 a 12 de Abril de 2016, com algumas legendas afins da sabedoria e da terapia das nuvens... 
 Belos filamentos de cirrus em formações de ascensão para os céus divinos... 
Bright ascending scale of cirrus clouds, asking us to meditate on the ascending order of the subtle levels and beings 
Poderosas formações de cumulus limbus no horizonte oriental de Lisboa, com nuvens de precipitação a formarem-se... 
Caminhar por entre os prédios antigos de Lisboa, comungando com as nuvens e seus agentes, e o vasto céu consciencial que as acolhe.... Om Brahman... 
Diálogos entre as sombras e a Luz... Ou como temos constantemente de reacender a luz interna da mais alta consciência possível, amorosa... 
O casario Lisboeta percorrido pelas procissões e marchas fantasmagóricas das nuvens apressadas na transitoriedade poderosa que as constitui... 
Começo do dia com sinais de chuvas e trovoadas, enquanto a passarada canta... 
Cumulus nimbus, com sinais de chuva próxima, perfilam-se nas bandas do oceânico poente lisboeta. 
Fiery gaseous clashes, forecasting rain and thunders 
Subitamente, l'arc en ciel, o arco íris que liga o mundo de todas as cores e a cinzenteza citadina, brilha, prakash 
Partiu, partiu, desapareceu para o outro lado do Manifestado (Gate, gate, paragate, paransangate, Bodhi swa) aquele Raio de luz colorida que nos alegrou... 
Saberemos manter as torres da aspiração, os canais de sintonização? 
Acendamos constantemente o fogo do coração......  Ommm 

domingo, 10 de abril de 2016

Antero de Quental, sua vida e obra, e a bibliografia da "Questão Coimbrã", por Francisco Martins de Carvalho.

Antero de Quental e a Escola Coimbrã, com a bibliografia completa da Questão Coimbrã.
Extractos fotografados  da erudita obra Algumas horas na minha Livraria, impressa em Coimbra em 1910, na qual Francisco Martins de Carvalho manifesta as suas grandes qualidades de bibliófilo, isto é, de amante, preservador e leitor de livros. Quanto aos aspectos de biblioterapia que a sua biblioteca e a sua alma adepta da Sabedoria realizaram haveria que investigar, interrogando-o a ele, aos livros e a quem com ele os discutiu, emprestou ou deu...
No fim, transcrevemos a descrição feita por Antero de Quental da Questão Coimbrã, anos mais tarde da polémica, em carta auto-biográfica de 14 de Maio de 1887...
No panfleto Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Ex.º Sr. António Feliciano de Castilho, Antero de Quental responde às críticas que António Feliciano Castilho expressara em Outubro de 1865, na carta-posfácio ao Poema da Mocidade, do seu protegido Pinheiro Chagas, e tanto ataca o compadrio que rodeava Castilho, então quase que o patriarca das Letras em Portugal como exalta "a bela, a imensa missão do escritor": «É um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras.
Para isso toda a altura, toda a nobreza interior são pouco ainda.
Para isso toda a independência de espírito, toda a despreocupação de vaidades, toda a liberdade de jugos impostos, de mestres, de autoridades, nunca será demais».
Segue-se a digitalização da lista das obras que foram dadas à luz durante a polémica, coligida pelo bibliófilo Francisco Martins de Carvalho, provenientes dos diversos observadores e agentes das nuvens psicomórficas que se ergueram e se derramaram, por vezes tempestuosamente, na então pacata alma portuguesa e nos seus veios e canais culturais e espirituais, a partir daí mais iniciados na modernidade, como bem observou posteriormente Fernando Pessoa, apontando Antero de Quental como a ponte, o precursor...
Na carta autobiográfica enviada a 14 de Maio de 1887 de Ponta Delgada ao seu amigo e tradutor alemão Wilhelm Storck, Antero de Quental caracterizará assim essa famosa polémica e o que ela significou e manifestou:
«Entre esses dois extremos, coloca-se a famosa Questão Literária ou A Questão Coimbrã, que durante mais de seis meses agitou o nosso pequeno mundo literário, e foi o ponto de partida da actual evolução da literatura portuguesa. Os novos datam todos de então. O hegelianismo dos coimbrões fez explosão.
O velho Castilho, o árcade póstumo, como então lhe chamaram, viu a geração nova insurgir-se contra a sua chefatura anacrónica. Houve em tudo isto muita irreverência e muito excesso; mas é certo que Castilho, artista primoroso mas totalmente destituído de ideia, não podia presidir, como pretendia, a uma geração ardente, que surgia, e antes de tudo aspirava a uma nova direcção, a orientar-se como depois se disse, nas correntes do espírito da época. Havia na mocidade uma grande fermentação intelectual, confusa, desordenada, mas fecunda: Castilho, que a não compreendia, julgou poder suprimi-la com processos de velho pedagogo. Inde irae. Rompi eu o fogo com o folheto Bom senso e Bom gosto, Carta ao Ex.mo A. F. de Castilho. Seguiu-se Teófilo Braga, seguiram-se depois muitos outros, la mêlée devient générale. Todo o inverno de 1865 a 66 se passou neste batalhar. Quando o fumo se dissipou, o que se viu mais claramente foi que havia em Portugal um grupo de dezasseis a vinte rapazes, que não queriam saber da Academia nem dos académicos, que já não eram católicos nem monárquicos, que falavam de Goethe e Hegel como os velhos tinham falado de Chateaubriand e de Cousin; e de Michelet e Proudhon, como os outros de Guizot e Bastiat; que citavam nomes bárbaros e ciências desconhecidas, como glótica, filologia, etc., que inspiravam talvez pouca confiança pela petulância e irreverência, mas que inquestionavelmente tinham talento e estavam de boa-fé e que, em suma, havia a esperar deles alguma cousa, quando assentassem.
Os factos confirmaram esta impressão: os dez ou doze primeiros nomes da literatura de hoje saíram todos (salvos dois ou três) da Escola Coimbrã ou da influência dela. O germanismo tomara pé em Portugal. Abrira-se uma nova era para o pensamento português. O velho Portugal ainda conservado artificialmente por uma literatura de convenção morrera definitivamente. Desta espécie de revolução fui eu o porta-estandarte, com o que me não desvaneço sobremaneira, mas do que também não me arrependo. Se a uma ordem artificial se seguiu uma espécie de anarquia, é isso ainda assim preferível, porque uma contém gérmenes de vida, e da outra nada havia a esperar. Pertence ainda a essa época o folheto: Dignidade das Letras e Literaturas Oficiais.»

Pouco depois da polémica Coimbrã. Antero, já formado em Direito, deixou com algumas saudades Coimbra e partiu para Penafiel, onde estava o seu grande amigo Germano Vieira Meireles (de quem adoptará as duas filhas quando ele morre), seguindo depois para Guimarães, onde estava Alberto Sampaio, antes de regressar à ilha mãe dos Açores, sempre na demanda inquieta e ardente de inserção e aprofundamento da Justiça, da Verdade e do Bem, e será bom conseguirmos discernir, ano após ano, quais os ideais ou ideias forças que o movimentavam mais, tanto psiquicamente como socialmente, até para estarmos mais conscientes do que nos move ou pode mover na dinâmica realidade que nos desafia.
A odisseia de Antero de Quental pode ser um espelho de auto-conhecimento e uma bússola de orientação para qualquer peregrino sério ou sincero... Lux Dei!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Poesia espiritual, escrita em Mafra, 1995, comentada pelo autor em 6/4/2016

        Nos diários que fui escrevendo ao longo dos anos poemas, sonhos, intuições, visões, diálogos e peregrinações foram registados e deles gravei um poema escrito em Mafra, em 6 de Fevereiro de 1995, à noite.
De certo modo é uma oração, como a maior parte da poesia em mim, e foi escrito no momento. Passados estes anos, ao lê-lo, acrescentei-lhe duas ou três palavras apenas.
Fica como testemunho da demanda perene e, pelo comentário de hoje, 6 de Abril de 2016, brilhará ou flamejará com a actualidade e intensidade do presente..
                   
TE DEUM LAUDAMUS...   por Bô Yin Râ...

domingo, 3 de abril de 2016

O Jardim Botânico de Lisboa é uma escada ou carta para o Céu...

Como as quotas da Liga dos Amigos do Jardim Botânico não estavam em dia, já há bastante tempo que não o demandava. Hoje, finalmente, voltei a peregriná-lo e a amá-lo. 3-4-2016
Subidas fluindo com o tempo, a terra, a estação, a destinação... 
As cartas de amor que chegam à pessoa certa criam o Céu...
Lírios subtis e dançantes... 
O jarro que nos serve o amor da beleza divina.. 
O pato que nos ouve e vem visitar 
Cabeças e corpos na água verde e fresca e o pão vivo que alimenta... 
Uma palmeirinha Doryanthes oferecendo um cacho de flores de amor: vibra mais em amor feliz! 
Fios de energias subtis perpassam e tecem o jardim: a Doryanthes palmeri em floração ígnea é como um pássaro de fogo em comunhão com todo o verde e dourado que desce do céu e nos envolve no recinto fechado e aberto... 
Estranhos anõezinhos, os Pneumatóforos, seres raízes que vêm do interior da terra e aspiram ao Espírito, Pneuma (em grego) e Ar, e que fortificam assim as ligações com o Céu. 
Diálogos subtis de duendes pressentem-se nestes seres que aspiram à luz e das profundezas da terra emergem e se erguem... 
Assinale-se o que parece um duende mais sábio... 
Explosões do Graal vegetal... 
Da juventude como potencial imenso puro e perfumado 
Maturidade, inclinado para a terra, carregado de frutos.. 
Ilha circular encantada e um mensageiro em pralaya... 
Sakura... Flores de cerejeira no borboletário... 
Borboletas abrigadas da chuva, com um botão frutífero e odorífero, sob o azul do infinito que sempre nos cobre... 
Troncos com seiva bem sanguínea... 
Rugosidades, seivas, cores, seres, toques e proximidades 
Visões do paraíso... 
Dos bambuzeiros nipónicos 
Cedros centenários dos montes sul-americanos... 
Corolas abertas ao que desce do céu, sempre brancas ou virgens
Escreve com o fogo do Amor da humanidade à Divindade, ao Anjo, ao amado ou à amada, e a mensagem unirá a Terra e o Céu, fortificarás o teu sistema imunitário e no teu coração e aura o espírito intensificar-se-á e brilhará mais...