Na literatura sobre os Anjos das últimas décadas há certamente de tudo, do pior ao melhor. Estes aspectos ou extractos que vamos referir não sabemos onde os classificar mas que contém superficialidade ou mesmo asneiras parece evidente e contudo provém de alguém que aparenta ter nome e obra: Monica Buonfiglio, com o seu livro Histórias, Dicas e Magias, S. Paulo, 1996. Pretende ser uma enciclopédia esotérica mas faz várias afirmações inconsistentes ou mesmo erradas, algumas das quais, humildemente, tentaremos clarificar um pouco...
Após a primeira entrada, sobre as Almas-gémeas, e na qual de original nada diz, começa a falar sobre os Anjos e em quatro páginas diz algumas ideias bizarras que convirá esclarecermos: no 1º parágrafo dessa entrada da enciclopédia, depois de dizer que o Anjo acompanha a pessoa do nascimento à morte, acrescenta que o Anjo acompanha a pessoa, uma vez desencarnada, para aprender «junto aos grandes mestres ascensionados, para um possível retorno à terra», juntando logo dois conceitos de seres que não são assim tão facilmente explicáveis, o anjo e os mestres "ascensionados", estes tão mitificados modernamente e aqui numa função de mestres escolas, e pondo logo no horizonte um "retorno", quando a "pobre" da pessoa mal se libertou da peregrinação terrena e muito provavelmente não terá que regressar...
No 2º parágrafo escreve: «Os anjos são seres inteligentes, lembra-se? Então para entrar em contacto com seu anjo da guarda, você não se pode fragilizar perante ninguém, e deve pensar. Mas pensar em coisas boas, é claro. Quando pensa você está com Deus, e faz uma ligação com o elo mental do anjo. O que acontece então? Segundo os textos angelicais, os anjos não têm memória»....
Para além de ser um parágrafo algo confuso ou infundado ("Quando pensa você está com Deus", como se o pensar por si mesmo levasse ou elevasse a Deus), gostaríamos de saber que "textos angelicais" são estes, se são de humanos se de anjos e se estes o escreveram ou ditaram sem memória, quem sabe se apenas por visão pura intemporal...
E quanto à ideia de que quando pensamos, estamos com Deus, e supomos que sejam bons pensamentos, há uma certa ingenuidade optimista, próxima talvez dos Donald Walsh, Gary Renard e Alexandra Solnado, que falam tu cá, tu lá, com Deus ou com Jesus...
Continuemos com a Mónica Buonfiglio:
«Existe um lugar chamado MEMÓRIA KAUSTICA [Será um erro e quereria dizer Akasica?], que armazena todos os pensamentos da humanidade. Seu pensamento demora dois dias para chegar até essa dimensão. Quando, finalmente, o anjo recebe seu apelo, ele começa a trabalhar para a obtenção daquilo que você pediu, fazendo com que tudo aconteça aqui na Terra como se fossem coincidências. Por isso, durante os sete primeiros dias que antecedem seu correio angelical é muito importante não comprar briga com qualquer pessoa».
Aqui termina o 2º parágrafo, cheio de imaginações provavelmente erradas, a começar na que os Anjos não tem memória ou sobretudo que precisam de ir ao armazém dos pensamentos da Humanidade e para depois começarem a trabalhar. Mas não sabemos como, se eles não têm memória, onde a guardam no caminho da memória Kaustica até à pessoa?
Quanto aos dois dias da viajem do nosso pensamento (como cronometrou ela?) até ao Anjo é de estranhar já que a autora começou o texto dizendo que ele está sempre connosco, excepto quando o magoamos, e di-lo no 3º parágrafo, onde lembra logo na primeira linha que «Nossos anjos, além de inteligentes, são também muito sensíveis. Quando agimos com infidelidade, nós os magoamos muito», então refugiando-se eles no astral. Resta saber se não será do plano ou nível astral que ele se afastará...
Quando a não "brigar" durante uns dias, porque afecta o "despacho" angélico, não comentaremos também pois parece um "bom" comportamento algo interesseiro...
No 4º parágrafo Monica Buonfiglio continua a passar atestados de menoridade aos anjos, na sua concepção claro:
"A melhor maneira de conversarmos com o nosso anjo da Guarda é sendo criativo. Não fique mendigando para o seu anjo. Converse com ele como se tivesse conversando como uma criança [....], sem pressionar nem cobrar resultados. [Alude a outra maluqueira, a de que se pode ordenar aos Anjos, "cobrar", fazer-lhes decretos...]. Use sempre o tempo presente e nunca diga, por exemplo:"Eu não quero ser gordo" Isso confunde seu anjo e atrapalha o seu pedido»...
Esta última frase então, que podemos atrapalhar os Anjos com frases e pedidos que não sejam simples e directos, é de bradar aos céus, a menos que o Anjo para ela seja o inconsciente das pessoas, o que até já poderia fazer mais sentido...
Monica Buonfiglio então explica como devemos falar às criancinhas pseudo-angélicas imaginadas e enuncia então a sua metodologia: «Ao invés disso você deve dizer:«Obrigado pelo meu peso ideal" [160 ?] E não se esqueça nunca de dizer esta frase:" Bendito é o meu desejo, porque ele é realizado"»
Bem, deixemos a frase algo pouco clara, pois não sabemos quem abençoa e porquê, e sigamos para as últimas recomendações acerca de como realizar os pedidos, pois é disso é que a autora parece mais especialista.
E são elas, primeiro pedir em voz baixa, que é a prece, ou em voz alta, a oração, distinção inventada por ela, já que como poderia a oração ser em voz alta se é pedido por exemplo por Jesus que a oração seja sem cessar (S. Lucas, 21, 36) ou é tão recomendada a oração mental pela maior parte dos místicos?
Depois, o "correio angelical", quando se escrevem os vários pedidos, dirigidos numa carta «Ao meu Anjo da Guarda (....) (e escreve-se o nome do Anjo próprio) ou ao Anjo supremo». Anjo supremo, quem será ele? Arcanjo? E temos assim relação com ele, ou merecimento, para lhe pedir isto ou aquilo tão facilmente?
Esta existência do nome do Anjo da Guarda, que se encontra numa tabela, ou seja, que todas as pessoas nascidas no mesmo dia teriam o mesmo Anjo, é então de fazer sorrir mesmo o mais sisudo, como se os Anjos tivessem que ter sido baptizados sonoramente para uso egoísta das pessoas. Sabemos todavia que foi uma moda cabalista proveniente dos finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX, embora com raízes em Paracelso e Agripa, e que pegou em alguma gente, desde a ocultista à ingénua, e até aos nossos dias, um dos mais conhecidos vendedores de tal mistificação tendo sido Haziel, um dos grandes barretes do new age angélico.
Finalmente. colocar-se-ia a carta dentro da Bíblia na página do salmo 91, e acender-se-ia uma vela das sete cores, conforme o tipo de pedido. Como exemplo apenas do conhecimento da enciclopédia esotérica. saiba-se que será indicado a vela Azul, se a maioria dos pedidos forem relativos a trabalho e a dinheiro, a vela Rosa para encontrar a alma-gémea, e a vela Vermelha para problemas jurídicos. Uma nova doutrinação em cronoterapia, graças às velas...
Esta autora termina a sua quarta página de síntese do seu ensinamento, descrevendo as várias velas e suas virtudes e recomendando acender um incenso ao lado da vela, «pois faz com que seus pedidos cheguem mais rapidamente ao plano astral...»
Resta saber quem é que está no astral, ou se deveria orar-se antes mais para o plano espiritual e o divino, e à Divindade?
Não negamos que a autora possa até ter ajudado muita gente e esteja com boas intenções mas parece ter, ou tem mesmo, alguns pontos fracos ou enganadores no seu ensinamento e por isso, pelo Amor e a Verdade Angélica, este artigo surgiu ao findar de um dia longo e desgastante, de acompanhamento da despedida de um grande amigo que partiu para o mundo espiritual e a quem desejamos que o seu Anjo da Guarda subtil o guie luminosa e verdadeiramente, como a cada um de nós o possa fazer também o nosso Anjo...
Viva o Anjo e a sua frequência vibratória pura em nós.