terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Espiritualidade da Identidade Portuguesa. Conferência de Pedro Teixeira da Mota, no Palácio da Independência.

   Dia 22 de Dezembro de 2013, sexta-feira, às 18:00, no Palácio da Independência, no Largo do 1º Dezembro, ao Rocio, Lisboa, o embaixador Jorge Preto, o professor Joaquim Domingues e Pedro Teixeira da Mota  reflectiram e dialogaram a Espiritualidade da (ou na) Identidade Portuguesa, o primeiro na Cultura, o segundo na relação Independência Política e Autonomia Espiritual e o terceiro na Realização Espiritual, tradições e correntes, espiritualidade e universalidade...

      A conference on the Spirituality of Portuguese Identity, by Jorge Preto, Joaquim Domingues and Pedro Teixeira da Mota...

      
          1º vídeo, o da intervenção de Pedro Teixeira da Mota:
http://youtu.be/71BhOt6engA
A assistência, já no fim do diálogo sobre a Espiritualidade da Identidade portuguesa, onde participei com Jorge Preto, Joaquim Domingues e Lourenço Almada
Na conferência sobre a Espiritualidade da Identidade Portuguesa, os dois outros oradores, o embaixador Jorge Preto, e o professor de Filosofia Joaquim Domingues.
Luz nas almas...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Jerónimos, best photos. Visitação fotográfica espiritual.

I - Mosteiro dos Jerónimos, a união entre o Ocidente e o Oriente, conseguida pelo mar por Vasco da Gama e a sua armada, em 1498, celebrada real e divinalmente...

II- Torres, flechas, apelos, orações, chama e lume que liga a terra e o Céu...

III. Octogonais torres de apelo à oração e à bem-aventurança, sinos que tangiam e ao Divino apelam, arcobotantes e contrafortes de ordens monástico-militares, a guerra justa contra os inimigos da alma e da Humanidade sã...

IV - The spiritual world is full of guides, masters, saints, angels, ready to help us, if we in true merit them, in our meditations, prayers and needs...
O mundo intermediário: os santos, mestres e anjos que invocamos no coração..
.

V- Sybils, Prophetess, Saints, inspirers...

VI- The human soul is a feminine principle and so is a receptive chalice, a holy Grail, to receive the Spirit and manifest the Divine Child


VII - Prayer of the pilgrim: I am searching for truth and love, I am knocking at the door and I shall enter by my love and perseverance...

VIII - Doors, pointing to the spiritual worlds and beings... Have friends there...

IX- - Open thy soul windows to the Light, aspire to the Divine...

X - The crosses of the four and eight directions, quadrating and centering us in the all-pervading Spiritual Space...

XI- Discerning the doors and windows, invoking the blessings from the subtle and Divine levels...

XII- Patterns of heavens and orbs, chakras and stars...


XIII- Our Lady, Mary, Fatima, Zhara, a Divine Feminine Face on Earth...
A really animated statue, much alive and blessing one... Be in the whitheness, purity and  silent aspiration...

domingo, 17 de novembro de 2013

As nuvens pelos Anjos podem ser modeladas. Fotografias.

                            Nuvens quase angélicas, ou trabalhadas pelos Elementais do vento  cruzam os ares e inspiram-nos...
                                                             
1 - No céu Outonal contemplamos uma passagem grandiosa de nuvens que parecem plenas de energias e de seres subtis, e assim comungamos as bênçãos divinas na Natureza..
The beauty of these clouds was so much powerful and wonderful that we become aflame with them, almost seeing the faces of the subtle beings beyond them...

Fiery beings in the clouds...
Espíritos da Natureza, Anjos, quem vai ou quem modela estas nuvens, em 16.XI.2013?
Encounters of  subtle worlds, emanations of beings...
Soft whispers...
Correntes subtis, seres que se adivinham, expansões de alma...

sábado, 9 de novembro de 2013

30-XI-1935. Fernando Pessoa, pesquizador da Verdade. Comemoração no Centro Nacional de Cultura.Vídeo...

            Fernando Pessoa, sempre apressado para levar a sua mensagem aos destinatários afins...


 30 de Novembro de 1935, dia em que Fernando Pessoa partiu para os mundos subtis e espirituais. E eis uma breve homenagem comemorativa realizada no Centro Nacional de Cultura, em 6-11-2013, na qual partilhei aspectos da sua vida e dos seus ensinamentos espirituais. Estive na mesa em companhia de José Barreto e Pedro Saraiva, sendo apresentado por este. Participaram ainda os artistas plásticos Vítor Pomar e Graça Delgado. Ficaram registadas a minha intervenção e a de José Barreto.

To Fernando Pessoa, in his birthday of the admission into the subtle worlds. May his spiritual soul be well theres and may his valuable teachings be more recognized and understood in Portugal...
Vídeo link of my speech:
http://youtu.be/JQ6nrNswI7A

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

POESIA, intemporal brotada da alma de Pedro Teixeira da Mota.

      I - Fadas, mulheres e musas.

As fadas perpassam ainda
Pelas cidades modernas,
Invisíveis às nossas janelas,
Cumprindo as suas tarefas.

Dando cor às flores.
Harmonias aos bordados,
Espargindo pétalas leves,
Cingindo frontes suadas.

Cândidas e serenas,
Desconhecidas de muitos,
Preservando a beleza,
Inspirando a espiritualidade.

Não estranheis o seu rumor
Leve, aéreo e perfumado.
Apenas apressados, não as vemos
Mas elas estão entre nós...

Dizer que conheço uma
Seria grande ousadia,
Mas quis cumprimentá-la
E esta poesia dedicar-lhe...

A floração poética é subtil e perfumada

II - DAS PALAVRAS

Belas e subtis palavras,
Que cantais no meu peito,
Donde vindes tão alegres,
Tão fortes na minha alma?

Não é da terra, nem do vento
A nossa origem misteriosa.
Somos espíritos, somos divinas,
Falamos em ti, escuta-nos atento.

Corremos as veias,
Enchemos os ossos,
Ressoamos no cérebro,
Saboreamo-nos na boca,
Aquecemos a circulação,
Expandimo-nos pelas auras,
Somos as palavras profundas,
Aquelas que curam e iluminam.

Ouvidos abram-se,
Olhos espantem-se,
Bocas assobiem e cantem,
Reinamos na comunicação,
Ouve-nos no teu coração.

Somos silêncio e gratidão,
Somos amor e aspiração.
Somos a vida imortal,
Queremos-te como tal...

Belas e dançarinas somos nós,
Cantamos na noite e madrugada.
Poetas e poetisas saboreiam-nos,
Pobres e inspirados amam-nos.

Ó Belas palavras, clamo-vos!
Oiçam-me, sede benignas,
Quero-vos, aqui e agora:
Palavra Divina mostra-te,
Ressoe o teu Som em mim...

Ó Deus, Ó Nome Santo,
Ecoa no meu ser,
Desvenda os mistérios
E os caminhos a seguir...

Om Amen Hum,
Om Amen Ihs,
Canta em mim,
O ardor sagrado.

Vinde, ó belas palavras,
Palavras de Deus e dos Anjos,
Ó Música das Esferas pitagóricas
Ó Hierarquias do Céu brilhante.

Abra-se a aura da Terra,
Limpe-se a baixeza dos homens.
Vinde belas e subtis palavras,
Harmonizai as nossas almas

Belas palavras,
Hóstias sagradas,
Em nós entradas,
Almas iluminadas.

Belas palavras nós somos,
Perante ti surgimos em dança.
Anima-te, ergue a tua alma,
Arde no fogo de ti próprio...

Abre-te à alma do Mundo,
À Sabedoria Cósmica e perene.
Comunga de nós, altas montanhas
De sábias, subtis e belas palavras.

Tece a tua alma com os nossos ritmos,
Sacraliza os teus gestos nos nossos ritos.
Sê uma fonte que jorra as da vida eterna
Sons de harmonia emanem do teu coração
Abençoado sejas minha irmã, meu irmão.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Da Imortalidade na vida e obra de Fernando Pessoa: um contributo de Pedro Teixeira da Mota..

     Da Imortalidade em Fernando Pessoa. Contributos ou centelhas para iluminar um pouco mais a aura e alma do seu nome, palavra e Ser, em si e em nós, e para que possamos ter mais destemor justificado em relação à morte...
Podemos dizer que a intensa busca da imortalidade psico-espiritual por parte de Fernando Pessoa desenvolveu-se, e segundo ele, por duas vias principais, assinaladas em duas cartas à sua namorada Ofélia Queiroz, a qual poderia constituir a terceira via imortalizante, na descendência carnal, que ele contudo não quis ou não pode assumir. E são elas, na ordem das duas justificações do fim do namoro: o destino e a demanda ligados aos Mestres, e a dedicação à obra literária, à volta da qual a sua vida girava ou se entretecia.
Dotado de um oceano anímico muito vasto e poderoso, Fernando Pessoa teve de desdobrar-se em vários pseudónimos, heterónimos e grupos, através dos quais exprimiu e aprofundou diversos estados de emoções e consciência, pulsões e concepções de vida que o multiplicaram e dispersaram mas não o impediram de se manter lúcido até ao fim, na demanda da compreensão da Verdade, ciente da sua razoável verticalidade espiritual, certo de que morrer seria apenas o dobrar de uma esquina do Caminho que ele soubera percorrer com genialidade e dignidade, inteligência e sentido de missão, apesar de todas as vicissitudes e limitações que apressaram o desagregar do seu invólucro corporal e o seu enfraquecer afectivo.

«- Ó curva do horizonte, quem te passa,
Passa da vida, não de ser ou estar.
Seta, que o peito inerme me trespassa
Não doas, que morrer é continuar».

A sua profunda cosmovisão, alicerçada (ainda que por vezes algo tremida pelos abismos de que o seu Fausto nos relata) em abrangentes estudos ocultistas e gnósticos e provinda de alguém capaz de ser de certo modo tudo das mais diversas maneiras e de buscar sempre os sentidos dos símbolos e ensinamentos da Tradição, bem como, em certa medida, a ligação aos mestres e a Deus, revela vários aspectos doutrinários mais ou menos esotéricos, tais como a Unidade e a Trindade Divina, a Hierarquia dos seres, o conhecimento dos planos ou níveis do Universo, a triplicidade corpo, alma e espírito, com a preexistência dos dois, e a via iniciática, sobre a qual muito reflectiu, escrevendo, por exemplo: «o verdadeiro sentido da iniciação é que este mundo visível no qual vivemos é um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sonho, ou, por outras palavras, que o que vemos é uma ilusão. Iniciação é o dissipar - um dissipar gradual, parcial – dessa ilusão».
Face a esta dupla demanda, alicerçada em tantas especulações mais ou menos verídicas ou correctas, talvez a mais certeira tenha sido a da conquista da celebridade imortal pela sua obra literária,  antevista e expressa ousadamente na profecia do super-Camões que estava a chegar, quando tinha apenas 24 anos, em 1912, na revista Águia, da Renascença Portuguesa, de Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão e Leonardo Coimbra, este vindo a publicar em 1918 a importante obra A Luta pela Imortalidade, onde narra certas experiências psíquicas que realizou e que muito provavelmente Fernando Pessoa terá lido, já que o admirara bastante, confessando-lhe mesmo em carta: «eu conhecia já de sua obra-base, as grandes qualidades e os (a meu ver) alguns defeitos do seu espírito, o mais alto, porventura, porque plenamente lúcido e intelectual, que a nossa Raça hoje reveladamente possui» (in Agenda do Centenário de Fernando Pessoa. Lisboa, 1988)
Não era um delírio narcisista  nem uma mistificação para incomodar os burgueses, mas uma revelação da sua precoce e intensa genialidade e pressentimento dela. Neste sentido, e são muitos os textos sobre o génio, referindo-se a Milton, diz-nos belamente que ele «escreveu os seus sonetos como se cada um deles fosse o candidato à sua imortalidade. Pôs o todo da sua alma em cada parte do que exprimia num momento. Assim deve ser o génio – uma sentinela dos deuses grandiosos que em nenhum momento pode dormir».
Ora se a genialidade literária imortal tem sido bem reconhecida e estudada já a demanda mais esotérica da imortalidade, que o levara, por exemplo, na curiosa e juvenil idade a interessar-se pelo espiritismo, ou a recorrer à escrita automática, processos que veio compreendida ou aceite, talvez porque tenha sido registada em fragmentos e textos longamente inéditos, e por ser difícil de se vivenciar e ainda pela oposição materialista ou de outro género de muitos dos investigadores ou publicistas pessoanos…
Ora tal demanda, e depois convicção, assentava segundo ele próprio primeiramente num instinto, tal como nos afirma: «a fome deve ser satisfeita pela comida e a fome da alma da imortalidade pela própria imortalidade. Ambas são instintos verdadeiros», e depois em leituras, compreensões e intuições que Fernando Pessoa realizou com constância e das quais hoje podemos ler os vestígios em breves textos ou ensaios, nomeadamente nos que escreveu sobre os Mistérios da Antiguidade e os seus ensinamentos reveladores da imortalidade da alma: «Era em Eleusis, não em Atenas, que se sabia a boa-nova. A doutrina da ressurreição era pois tida por imprópria para se dizer aos profanos, que serão sempre a maioria: era considerada como tema e motivo de iniciação; como doutrina verdadeira, porém para raros somente». 
Também em textos sobre as influências na Europa do espiritismo e do ocultismo, encontramos Fernando Pessoa a valorizar a imortalidade da alma como uma doutrina metafísica «enquanto insusceptível de prova e contendo, de qualquer modo, a ideia do infinito», bem acima das provas da sobrevivência da alma tão procuradas pelos espíritas.
Noutros ensaios, intitulados Reincarnação, onde depois de afirmar que a rosa crucificada é também um símbolo da reincarnação, tenta determinar como poderemos calcular quem fomos na reincarnação anterior, e noutros textos intitulados em epígrafe Crisálida ou Fénix,  considera o génio como a iniciação obtida noutra vida. 
E cogitando, ou afirmando, sobre a complexa questão da metempsicose, escreverá num texto sobre o Sebastianismo, numa linha ou hermenêutica algo mágica, e que ele de algum modo praticou pela escrita e propaganda: «A metempsicose. A alma é imortal e, se desaparece, torna a aparecer onde é evocada através da sua forma». Já num poema de 1932 traça de novo o encadeamento da vida e a queda neste mundo, tal como ele vê: «Em outro mundo, onde a vontade é lei, / Livremente escolhi aquela vida/ Com que primeiro neste mundo entrei./ Livre, a ela fiquei preso e eu a paguei/ Com o preço das vidas subsequentes/ De que ela é a causa, o deus; e esses entes,/ Por ser quem fui, serão o que serei.»
Em verdade, Fernando Pessoa sentiu desde muito novo, tal como os gnósticos e os místicos de todos os tempos, que a origem da sua alma-espírito não era deste mundo, que em si é incompleto («porque a vida é só metade»), mera sombra e sonho do espiritual e, talvez por isso, a sua já imensa criatividade interrogante e dialogante juvenil.
Numa época de crescimento do materialismo reducionista, do agnosticismo e do ateísmo, que deu origem a tanto desassossego e descrença, como também a tanta reacção ou compensação espírita, ocultista e iniciática, por vezes bastante mistificadoras, vemos que Fernando Pessoa sentiu-se e afirmou-se convicto da imortalidade desde muito novo e terá tido um percurso rico de ideações e consciencializações neste sentido, que algo perpassa num ou noutro texto para quem os sabe sentir e ver.
O próprio termo de metempsicose, frequente em poemas de Fernando Pessoa, é já aos 14 anos, no jornalzinho Palrador do Dr. Pancrácio, o título de um poema, significando a metamorfose da psique que se opera nele em «mística ternura» desde que avistou uma formosa jovem e que um «celeste olhar de suprema candura» desterrou da sua «mente o que é vil, nefando», de modo que «é a sua alma pura que em minha alma habita!!», revelando já os sonhos e ideais que em vida não conseguirá tanto realizar. E aos 16 anos, ou seja, em 1904, sob o nome de Alexander Search, diz poeticamente: «pequena flor, não choro por ti/Nada, verdadeiramente, morre/ Estás agora em Deus, e estás em mim /Estás nos céus certamente».
Na sua fase juvenil crítica e idealista valorizou a ideia de uma certa condicionalidade da imortalidade, e com a qual manterá uma afinidade dada a sua posição algo aristocrática, como transparece no que nos diz comentando uma obra ainda hoje na sua biblioteca: «– Imortalidade condicional. Drumond e a sua teoria do “spiritual environement”. Imortalidade condicional. Só quem tem estado em relação com o ideal é que não morrerá para ele. Antes não se pode dizer que “não morrerá”, mas sim que “continuará morto” para o ideal. Há apenas uma injustiça relativa – em não dar a alguns a vida eterna. Quem nunca viveu num meio, não pode morrer para ele. Aquele livro estupendo: Natural Law in the Spiritual World».
Da leitura deste livro talvez provenha o seguinte fragmento dos seus numerosos escritos sobre o "Cristismo" ou o Cristianismo: «A imortalidade é condicional: leva a ela a prática do Bem, tira-a a prática do mal e o único castigo de Deus é morrermos inteiramente», exemplificado um pouco mais à frente no mesmo texto com a afirmação: «Cristo é a vida eterna, a imortalidade tornada carne para nos vir mostrar pelo exemplo das suas acções qual o caminho que devíamos seguir para obter a vida imortal».
Da sua biblioteca, ainda hoje continuando  mal catalogada tematicamente, na casa museu Fernando Pessoa, constavam obras bem afirmativas da imortalidade espiritual, tais como as de Xavier de Maistre, Sir Walter Barret, Gustave Geley, Gabriel Dellane, Bothwell Gosse e Manly P. Hall, outras da sua condicionalidade, tal a de Henry Drumond e a de J. F. B. Tinling, The promise of life and the doctrine of everlasting punishment, bem anotada a lápis, na qual se referem algumas afirmações dos primeiros padres da Igreja que a propunham, tal Justino o Mártir, Teófilo, Irineu e Arnóbio) e, finalmente, algumas obras sobre a problemática da metempsicose, tais como a de H. D. Taylor, Reincarnation refuted (muito crítica das pretensas revelações clarividentes do desequilibrado teósofo Leadbeater sobre mirabolantes vidas passadas, autor que Fernando Pessoa traduziu e criticou) ou a Ring of Return, an anthology of references to reincarnation and spiritual evolution: from prose and poetry of all ages. Compiled by Eva Martin, publicada já em 1927...
Mesmo na época da teorização neo-pagã, durante a qual faz múltiplas tentativas de contacto com espíritos através da escrita automática,  afirma que a alma é imortal e identifica-se com um discípulo dos discípulos de Jâmblico, Juliano, o Apóstata, que «era, propriamente, um mitraísta, o que hoje se chamaria um teosofista ou um ocultista». Depois, ao longo dos anos, com os seus amplos estudos ocultistas, maçónicos e iniciáticos aprofundará essa certeza que vai culminar no seu testamento autobiográfico de 30 de Março de 1935, onde se afirma como «cristão gnóstico». Ou seja, cristão, crente em Deus, em Cristo e na imortalidade espiritual, e gnóstico, por realização e auto-conhecimento e afirmando-se, por via tradicional, iniciado na Ordem Templária de Portugal, nos três graus menores.
Para uns, esta afirmação, realizada uns meses depois de ter dito em carta a Adolfo Casais Monteiro que não pertencia a ordem nenhuma, seria uma mistificação, mas há fragmentos do espólio que nos mostram claramente que Fernando Pessoa se iniciara nesses três graus. Um texto, cuja importância apontei em 1ª mão mas que tem sido menosprezado, contém mesmo a lápis as datas de 1931, 32 e 33 para a obtenção de tais estados e níveis, e aí afirma que para se obter o grau de Adepto Menor da Ordem de Cristo de Portugal era preciso «vencer o amor à vida como vida e o temor da morte como morte».
Como o conseguira Fernando Pessoa? «Vencendo o mundo, a carne, o diabo», como ele nos diz nas provas ou testes do grau de Aprendiz da Ordem Templária ou de Cristo, pela iniciação, pela transformação interior, pela tomada de consciência espiritual, que permitem a realização expressa no fim do seu famoso poema de 1932, A Iniciação: «Não estás morto entre os ciprestes. Neófito, não há morte». Ou num discurso iniciático dos últimos anos da sua vida: «Cego, nu e pobre entraste na vida. Cego, nu e pobre entrareis na morte. Não há, porém, vida nem morte: não há, Neófito, senão vida. O que vos sucedeu ao nascer, vos sucederá ao morrer: entrareis na vida. Isto é a verdade; o entendimento dela é convosco; assim como o regrar-vos por ela como deveis». No mesmo sentido da imortalidade corre um outro fragmento de um seu discurso iniciático: «Tudo aqui em baixo é símbolo e sombra. Julgas que vivemos e estamos mortos; julgas que morremos e vamos a viver.»
De realçar ainda textos onde lembra que, para se chegar à reconstrução do Templo que «é a plenitude da nossa vida espiritual», há que desarreigar «a Ignorância, o Erro, a Ambição, não apenas de nós próprios, mas (já que de certo modo o nosso Eu superior é um com toda a humanidade) da humanidade», pois são estes três defeitos ou vícios (trindade que glosará com frequência, com outras equivalências) que matam o Mestre, ou seja, que impedem ou dificultam o eclodir da consciência espiritual e imortal…
Ao utilizar expressões específicas e bem profundas como a de “talhar o corpo espiritual”, “reconstruir o Templo”, “conversa com o Santo Anjo da Guarda”, indica claramente a aproximação e consideração consciente do espírito e o desenvolvimento da alma em direcção a ele, aos Mestres, aos Anjos e a Deus, níveis ou seres estes que são imortaiss e e que partilham a imortalidade, e que Fernando Pessoa com frequência meditou e glosou em poemas e em ensaios afins da simbologia cristã, templária, rosa cruz e maçónica.
Noutro valioso escrito afirmará tanto a imortalidade e a reincarnação como a diferença entre o espírito e a alma: «É o Espírito da nossa Alma, o nosso Eu Superior, que está realmente consciente em nós e de nós supremamente; o nosso Eu inferior ou Alma, que é tudo o que aqui conhecemos de nós, está apenas consciente dele – Alma e Corpo – e não consciente do Eu Superior. O Eu Superior retém as memórias e os resultados das incarnações anteriores, pelo que só apenas vagamente e por algum contacto obscuro e ocasional com o Eu Superior, é que nos lembramos deles ou vagamente os sentimos. A fórmula Santo Anjo da Guarda corresponde ao Eu Superior, e exprime a verdade» (tradução do inglês e incluída na obra Rosea Cruz, publicada por mim em 1988). 
De realçar a ligação ao Anjo da Guarda, valorizada não só no Zoroastrismo, no Cristianismo e no Islão shiaa e sufi, tal como Henry Corbin tão bem estudou e divulgou, mas também em ordens secretas ou esotéricas ocidentais modernas, tal como a Golden Dawn do seu amigo Aleister Crowley, e que a partilha no seu livro Magick, lido por Fernando Pessoa, e de certo modo de onde provirá. A moda moderna dos Anjos pelas correntes mistificadoras da nova Era, que tanto inundaram o mercado de livros, certamente que nada tem a ver com esta demanda profunda e íntima que Fernando Pessoa tentou conhecer.
Ligada com a intuição da imortalidade esteve sempre a consciência da existência dos múltiplos estados de Ser e do Cosmos, tal como exprime caracterizando as cinco pétalas da Rosa Cruz: «etérico, astral, mental, espiritual e monádico», no que corresponde sensívelmente a tradição Persa, com o mundo Humano (Nasuf), o mundo Imaginal (alam al-Mitahil), o mundo da Alma Universal (Malakut), o mundo do Intelecto (Jabarut) e o mundo da Essência (Lahut), bem trabalhados não só pelos Persas como pelos Mogóis, onde destacaremos o nosso querido Dara Shikoh, autor de belas obras de espiritualidade comparada, uma delas traduzida e lida por mim, o Majma al-bahrain, o Encontro dos dois Oceanos e que está no Youtube.
E, consciente do seu amadurecimento ou evolução, poderá dizer: «A nossa maior consciência, quando adultos, indica uma maior aproximação entre o nosso Ser superior e o inferior, uma maior proximidade da unidade. Só a morte porém unifica, e é ela a verdadeira adultidade», afirmação esta que lembra um dos seus inspiradores iniciais, Antero de Quental, escrevendo à cabeça de um dos seus sonetos, muitos dos quais Fernando Pessoa traduziu para inglês, o dito grego “Morrer é ser iniciado”, dito também bem parafraseado pelo amigo e discípulo de Antero, Joaquim de Araújo, no seu bem valioso poema e livrinho Na Morte de Antero!, que li e comentei num artigo neste blogue.
                                           
As muitas experiências de mortes de familiares e amigos foram ainda outra fonte ou impulso para poemas que exprimiam esta certeza de uma sobrevivência post-mortem: 
«Ó curva do horizonte, quem te passa, /Passa da vida, não de ser ou estar. / Seta, que o peito inerme me trespassa/ Não doas, que morrer é continuar», esta ideia com o interesse de se repetir em parte ao longo dos anos, misturando-se até com as ideias expressas noutros poemas dedicados igualmente à sobrevivência da alma: «Na curva da consciência, se nos perde/ a visão do que amamos, não o ser».
Em certos casos os poemas são mesmo expressamente dedicados a pessoas, como ao seu grande amigo Mário de Sá-Carneiro, sob um manto de fundo de perenidade («embora num comboio expresso/ seguisses, e adiante do em que vou; no términos de tudo, ao fim lá estou/ nessa ida que afinal é um regresso.// Porque na enorme gare onde Deus manda/ Grandes acolhimentos se darão», inscrevendo mesmo utópica ou imaginalmente o poema «nesse número de Orpheu que há-de ser feito com rosas e estrelas em um mundo novo».
Em 6/7/1934, um ano antes de morrer, e quando imprime finalmente a Mensagem, termina o poema iniciado pelo «Já me não pesa tanto o vir da morte», com os seguintes versos, reafirmando alguns lemas, crenças ou certezas que desabrochara, tais como o destemor perante a morte, a existência de vida depois da morte, com ou sem metempsicose, tudo sob a Providência Divina:
«Sei que a morte, que é tudo, não é nada,
E que, de morte em morte, a alma que há
Não cai num poço: vai por uma estrada.
Em Sua hora, e a nossa, Deus dirá».

                                              
Se o sábio florentino Marsilio Ficino escrevera um importantíssimo tratado, no Renascimento, de Teologia platónica e cristã de demonstração da imortalidade da alma (como antes S. Agostinho, Alcido, e depois Gerolano Cardano, Augubino Steuco), a Platonica Theologia, De Imortalitate animorum, Fernando Pessoa, sem chegar a uma transmissão doutrinal mais finalizada do que a expressa na poética da Mensagem,
                             
deixou-nos ainda assim muitos sinais da certeza da imortalidade do espírito, a qual merecia, no claustro do templo dos Jerónimos, sobre o túmulo do seu corpo incorrupto (em 1985, quando para ali foi merecidamente trasladado do cemitério dos Prazeres, verificou-se certo estado de incorrupção), por ele muito glosado a propósito de Osíris, Hirão, Jesus, Jacques de Molay e Christian Rosencreutz), manifestar-se numa inscrição-citação sobre o mármore da perenidade, justa e verdadeira, talvez como a do poema datado de 10/12/1932:
«A morte mata somente
O poder-nos outrem ver.
Nosso ser segue presente
Naquilo que é nosso ser».

Ou mesmo a do ano anterior à morte: 

«Sim, por fim certa calma...
Certa ciência antiga sentida
Na substância da vida,
De que não há acabar da alma,
Qualquer que seja a estrada que é seguida».
                          
Que na companhia dos outros seres, mestres e discípulo(a)s, trabalhadores e construtores, pacificadores e libertadores, sábias e musas da Ordem Espiritual de Portugal, saibamos identificar-nos mais ao Espírito e, neste plano físico humano tão manipulado e dilacerado pelo imperialismo e pelo neoliberalismo corrupto, agir sábia, amorosa e libertadoramente em comunhão ou comunidade com Fernando Pessoa...

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Espírito em Fernando Pessoa: centelhas da sua demanda espiritual, por Pedro Teixeira da Mota

            O ESPÍRITO EM FERNANDO PESSOA: centelhas e contributos...

Mais do que espírito uno, Fernando Pessoa sentiu-se, desenvolveu-se e foi alma múltipla, oceano de potencialidades quase infinitas e, nessa explosão criativa de emanar e ser muitos, em condições de vida frequentemente difíceis ou pouco harmoniosas, enfraqueceu naturalmente a realização plena e unificante do espírito, nomeadamente do seu nível divino, o que, aliás, apesar de ocasionais tentativas de maior unificação anímica, tais como as registadas nas famosas cartas de 1915 e 1916 a Mário de Sá Carneiro e a Armindo Cortes Rodrigues («hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister»), deixa transparecer frequentemente na poesia, tal como num poema de 1932: «O ser que sou, o ser que tenho sido;// O que fui, o que fui sem o ter sido,// E o que enfim eu em verdade sou.// Quantas traições e desentendimentos // Entre estes meus três seres descobri».  
 Isto revela, contudo, talvez  a sua principal qualidade na procura da verdade: a da lúcida auto-consciência em constante auto-observação ou mesmo análise, neste caso discernindo na sua vasta alma a sua mutável personalidade, os seus actos e sentimentos divergentes, sinceros ou forjados e, finalmente, o “eu sou” essencial, o mais verdadeiro ou perene, seja o que ele era e subsistira (face aos outros) ao longo da vida, seja aquele que ele pressentira e intuíra, o eu espiritual divino e perene…
Desta mesma falta de unificação das forças anímicas fala-nos ainda nesse produtivo dia de auto-consciencialização, o de 24/8/30, «Não sei quantas almas tenho/ (...)/ De tanto ser, só tenho alma», «Estou cansado de ser tudo menos eu./ Onde é que está/ a Unidade que Deus, suponho, me deu?», apontando e apelando assim para o seu Eu superior ou original, dado ou emanado de Deus, algo perdido neste mundo de sombras, sonhos e ilusão, tal como constantemente se sentiu e caracterizou a vida terrena…
Apesar dessa dispersão e dificuldade de coincidência com o seu verdadeiro eu, apesar desta fragmentação, há muitos sinais de consciencialização, intuição e aproximação de Fernando Pessoa ao espírito, spiritus, em latim; pneuma, em grego; ruah, em hebreu; atman, em sânscrito (da raiz an- respirar), shin, em japonês, ruh, em persa, e que tem tanto o sentido de sopro, poder ou força, como o de núcleo individualizador da alma, surgindo designado em Fernando Pessoa  como o Ser superior em nós, o Homem interior, a poção de vida-espírito, o ego íntimo, a Mónada, o Ser em si mesmo, e aplicado não só a seres humanos, espirituais ou divinos, mas também às nações («o Espírito da nação na sua alma recôndita», conforme citei na Agenda do Centenário de Fernando Pessoa, 1988).
Todavia, Fernando Pessoa, ao não atingir em si uma vivência mais profunda e duradoura do Espírito e ao não conseguir obter uma boa conceptualização da sua compreensão e realização do espírito, acabou por deixar-nos apenas fragmentos de ideias e de intuições da sua travessia gnóstica (ou de inteligente investigador) no Oceano da manifestação, e que mostram como foi evoluindo ao longo do tempo, evolução esta que escapa à superficial interpretação ou catalogação dos que não fazendo tal difícil viagem iniciática acabam por vê-la apenas como fingimento ou frustração, e que nos força a nós a tentar reconstituí-la ou divulgá-la com redobrada cautela…
Vejamos então alguns fragmentos ou textos importantes em que usou a palavra Espírito e tentemos interpretá-los: «um beijo é mais do que um toque de lábios (é um toque de dois corações, de duas almas, de duas brilhantes porções de vida-espírito», in Agenda Centenário de Fernando Pessoa), afirmação que nos aproxima bem da ideia de centelha individual do espírito, cuja ignicidade Fernando Pessoa, noutros textos, deixa transparecer ou afirma mesmo, nomeadamente ao  parafrasear a inscrição INRI (Iesus Nazarenus Rex Judaeorum) que encimava a cabeça de Jesus na cruz, comparando-a analogicamente a In nobis regnat Ignis, Em nós reina o Fogo, explicando ainda que «In nobis regnat Iesus, não quer dizer “Jesus reina em nós” mas «É em nós que Jesus reina», em nós, que não nos templos externos». De realçar ainda que estas frases utilizadas na Tradição Rosicruciana serão noutros textos glosadas e meditadas em mais sentidos purificadores e iluminadores, com base na correspondência entre o mestre Jesus e o espírito ígneo que está ou é em cada um de nós, mas que por Jesus foi manifestado exemplarmente, como aliás por outros mestres, e aos quais Fernando Pessoa por mais de uma vez se refere ou mesmo invoca...
Outro texto, neste  sentido do espírito ígneo divino, surge na nota de resumo da leitura que fizera da obra RosiCrucians and their works, do ocultista e erudito rosacruciano ou talvez melhor maçon seu contemporâneo Arthur E. Waite, quando Fernando Pessoa transcreve os cinco estados da aproximação ao divino, que traduz deste modo: “fechar as avenidas do sentidos, acalmar a alma, completar o templo, santificação e tingimento pelo fogo divino”.
Já numa carta ao entusiasmante orador Leonardo Coimbra, dir-lhe-á: «eu conhecia já de sua obra-base, as grandes qualidades e os (a meu ver) alguns defeitos do seu espírito, o mais alto, porventura, porque plenamente lúcido e intelectual, que a nossa Raça hoje reveladamente possui» (in Agenda do Centenário de Fernando Pessoa.), assinalando assim a mais vulgar significação de espírito, enquanto totalidade das características únicas de um ser, e realçando o nível de «o mais alto» português (grande e merecido elogio a Leonardo Coimbra...), bem como a plenitude de lucidez e do intelecto (que explicita ainda com «o abarcar tanto com a inteligência, o descer tão fundo no sentido possível das coisas»), assim valorizando na consciência  tanto a expansão de alargamento horizontal quase infinita como também a axial, das profundidades às altitudes do Espírito e dos Seres.
Sobre a consciência, que podemos ver como uma das características ou atributos essenciais do Espírito, Fernando Pessoa especulou bastante na sua fase de estudante de filosofia, por vezes com boa originalidade sobre tal grande mistério, tal como podemos ver em pensamentos como este: «A consciência é a única coisa imaterial que existe, não consciência humana, mas consciência geral, consciência atómica acredito eu», ou «O “facto consciência” é que é ingerável pela matéria. Os “modos” ou as “”formas” da consciência é que a matéria gera», ou ainda: «Só há uma coisa que não pode ser ilusão, porque ela não é criada: é a consciência. Uma só coisa escapa a toda a crítica – a consciência. A consciência não cria, nem é um conceito nosso, porque a não podemos pensar em como sendo, nem como não sendo. Pensar, sentir, querer, são ilusões; mas ter consciência não é uma ilusão. A verdade é da consciência para lá. «Deus» é a consciência da consciência, coisa que não podemos pensar».
De realçar esta aproximação divinizante à consciência da consciência, que é também uma prática de auto-consciencialização despertante recomendada por algumas tradições espirituais indo-europeias, como as da Pérsia e da Índia, e que Fernando Pessoa de quando em quando reafirmará, como veremos. Quanto ao não poder ser pensada, certamente que ele quer dizer que a realização do espírito Divino, ou consciência da Consciência, não é algo mental mas sim a vivência interior supramental ou do Ser, sentida e realizada, ou merecida, por perseverante trabalho ao longo dos anos e por graça e modos subtis, não mentais ou de pensamento, de facto...
Afirmará ainda, embora com alguma sobreposição, ou quase identificação, da alma e do espírito, algo que ele frequentemente confundiu : «Não é com os olhos que vejo, mas com a alma, não é com os ouvidos que ouço, mas com a alma; não é com a pele que palpo, é com a alma. E se me perguntarem o que é a alma, respondo que sou eu», manifestando tanto a sua animação do corpo como, na parte final, a sua aspiração a que a sua alma seja verdadeiramente o Eu nele, ou Eu, uma alma portanto essencializada ou, ainda, em que o seu Eu central e essencial e Espírito seja a fonte directora da alma em manifestação…
Mais valioso, embora seja um escrito ou anotação da sua juventude, por indicar a aceitação da imortalidade do espírito, é o dito: «O amor do corpo morre com o corpo, o amor do Espírito pelo Espírito sobrevive para sempre com o Espírito (tr.)» (in  Fernando Pessoa Textos Filosóficos, por António de Pina Coelho), onde entre várias outras especulações sobre o espírito vem já tanto o reconhecimento do rio incessante da vida como o apelo ora estóico ora metafísico de se viver plenamente o presente, e que é mesmo erguido ao “É a Hora”, do final da Mensagem: «A única realidade é o eterno presente filosoficamente, o imortal Agora».
Também acerca da importância do estado ou sentido espiritual, de visão e de existência, leremos: «Perguntareis, quais os sentidos deste sentido espiritual? Refinamento de cultura, sentimentos elevados, ideais sublimes, nada mais. Um cientista pode ser benevolente - há muitos que o são – mas nunca terá os ideais elevados dum homem que tem um sentido espiritual. O sentido do espiritual é uma parte da alma humana; faltar é ter uma organização mental incompleta».... Eis-nos de novo com uma tese muito actual, face à crescente mecanização pragmática dos Estados e seres, e da sua educação e cultura, desligada da espiritualidade, numa submissão ou quase escravatura mundial ao sucesso, ao dinheiro e aos ditames dos gigantes corporativos, que vêm o homem de um modo muito desumano, tal como o imperialismo norte-americano e dos seus coligados têm espalhado e que Fernando Pessoa já na sua época diagnosticou como uma civilização sofrendo de elefantíase...
Quanto ao núcleo essencial do espírito, já referido até como a consciência da consciência, ele irrompe na sua vida mais claramente como Vontade em momentos de crise, isto é, como um elemento intensificador de unificação anímica, de conversão e de mais elevado propósito de vida, tais aqueles descritos em que decide disciplinar «o excesso de forças vivas em acção, conflito e evolução interconexa e divergente» (Cartas a Armindo Cortes-Rodrigues), tarefa bem difícil nele (e lembremos a carta nessa época escrita ao psicólogo ocultista Durville) e com as dificuldades acrescidas, como ele confessa, talvez dramaticamente talvez sinceramente, de que «em ninguém que me cerca eu encontro uma atitude para com a vida que bata certo com a minha sensibilidade, com as minhas aspirações e ambições, com tudo quanto constitui o fundamental e o essencial do meu íntimo ser espiritual», de novo com uma bela frase final acerca do espírito…
Apesar disso, no seu quotidiano, tantas vezes cinzento, alguns instantes houve de revelação, em que o núcleo mais íntimo do espírito ou mónada brilhou, dissipando nuvens e depressões, tal como Bernardo Soares regista na sua «produção doentia» do Livro do Desassossego: «não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si, de repente, como neste momento lustral, é ter subitamente a noção da mónada íntima, da palavra mágica da alma», frases estas finais que apontam com originalidade para a ligação entre a mónada e a palavra, expressa contudo de um modo leve, alusivo mas que remete para ela orada, dialogada ou escrita, e seja por ser verdadeira na sua correspondência com a essência, seja por ser eficaz na revelação íntima de quem somos e na obtenção das religações superiores. Poderá haver aqui como uma alusão a práticas espirituais que revelem o som subtil da mónada, ou à religação à Fonte ou Palavra primordial em nós, que a escrita ou a meditação proporcionam...
Livro do Desassossego que, como nos confirma a sua principal decifradora e especialista Teresa Sobral Cunha, apresenta nos últimos anos de vida uma coloração mais espiritual, tal a expressa  em 23/6/1932: «A vida é uma viagem espiritual feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e como é o espírito que viaja é nele que se vive. Há por isso almas contemplativas...», assim nos explicando um dos sentidos do seu famoso, e tão ensaisticamente glosado ou fulminado dito «não evoluo, viajo», apontando ainda para que a nossa identidade real é a de espírito, que se manifesta por vezes mais na contemplação e que nas realizações ai obtidas se pode dizer que evoluímos...
O uso da designação de mónada para denominar o espírito em cada ser humano, do grego monas, unidade, e que fora utilizada entre outros humanistas e ocultistas do Renascimento por Giordano Bruno e John Dee (alquimista e espírita, do séc. XVI, autor da Mónada Hieroglífica, citada por Fernando Pessoa) e pelo filósofo Leibnitz, neste num sentido de substância-força, surgiu de novo na tradição ocultista da segunda metade do séc. XIX, em especial em obras de membros da Sociedade Teosófica, algumas das quais Pessoa traduzira (anote-se o seu erro, em 1921, na tradução da Voz do Silêncio, de Helena P. Blavatsky, ao verter «the mind is the great slayer of the real...», por «o espírito é o grande assassino do real…” traduzindo mal a palavra mente (mind) por espírito), e que em parte eram tributárias de fragmentos da vasta tradição hindu e budista, na época por vezes subsumida na designação de Budismo esotérico, pois Helena Petrovna Blavatsky, a fonte principal  dos ensinamentos teosóficos, tinha juntado múltiplos fragmentos de vários autores e livros e logo de várias tradições e tal nome era uma designação geral de aparente boa autoridade, nomeadamente no relacionamento com o Ceilão e o Ocidente, e assim entre os que a secundaram,  Coronel Olcoot deu-se bem com os cingaleses e Alfred Percy Sinnett, que deu origem às famosas cartas dos Mahatamas, escreveu o manual do Budismo esóterico que apesar da sua superficialidade teve bastante sucesso, tendo sido traduzido entre nós na mesma colecção em que Fernando Pessoa trabalhou.
Encontramos então em Fernando Pessoa referências aos vários corpos e planos ou níveis do universo, tal como eram apresentados no ocultismo e esoterismo oriental, um dos quais é o monádico ou espiritual, embora, num texto em que especula sobre as cinco pétalas da Rosa Cruz, diga que elas correspondem aos cinco mundos: «etérico, astral, mental, espiritual e monádico» (in Rosea Cruz.), marcando a distinção do mundo da mónada (ou unidade) divina, do mundo do espírito. Já noutros textos, em que especula sobre os modos e estágios de realização iniciática, nomeia o clássico ternário dos mundos «o astral, o mental e o espiritual», ou, já de novo de modo diferente, as «três camadas – material, a espiritual e a divina», do universo.
Numa referência muito importante quanto ao espírito como mónada, escreve: «No ocultismo dos Índios o Mestre, a quem os discípulos procuram, é a própria substância monádica do discípulo. “Eu próprio sou o caminho”, diz-se no poema sagrado. Só há a procurar o que já se encontrou», citação final esta do Bhagavad Gita, ou Cântico do  Bem Amado, que conheceu em obras teosóficas ou em autores como G. R. S. Mead, que também foi teósofo e que em alguns livros tratou proficuamente da tradição oriental. 
Merece cogitação esta identificação que Fernando Pessoa assume entre o mestre e a essência última do discípulo, e sabemos como de facto as mahavakyas, ou grandes afirmações iniciáticas indianas, estão nesta linha, nomeadamente o famoso Tat Twam Asi, quando o mestre diz ao discípulo, quando este está pronto: “Tu és esta Realidade espiritual ou suprema”…
Neste sentido vai ainda a expressão usada "a substância monádica do discípulo" em vez da mónada do discípulo, podendo então interpretar-se esta afirmação numa linha não-dual ou de Advaita Vedanta, para a qual a substância monádica ou espiritual e a divina é só uma e una...
Este conhecimento da tradição oriental mais espiritual surge em Fernando Pessoa (que a conheceu também já nos anos trinta através de Aleister Crowley) de vez em quando, tal como na seguinte consideração, nuns apontamentos ligados com a comparação entre o Paganismo e a Teosofia, tão rica de ensinamento: «à passagem da actividade inferior, para a superior, do espírito, dão os hindus o nome velador de O Caminho, ou A Senda. Não tem outro sentido este termo, tão vulgarmente empregado na literatura budística ou teosófica. Assim se explica a expressão atribuída a Krishna –“torna-te tu próprio o caminho” –, isto é, concentra a tua actividade na carreira ascensional dentro de ti próprio, torna-te todo a “direcção pura” de subires dentro de ti.». E eis-nos com Fernando Pessoa num magistério valioso, num comentário ou glosa a certos conteúdos da Voz do Silêncio, que traduzira, e sendo até original na caracterização e glosa que faz do Caminho: carreira ascensional -direcção pura - subires dentro de ti…
Será de facto no aprofundamento do caminho de auto-realização, ou seja, na via iniciática, que Fernando Pessoa tentará mais (intermitente e condicionadamente...) a aproximação ao espírito, esforçando-se por o compreender,  contemplar ou comungar, ainda que, como já dissemos, irregular e enfraquecidamente, já que prometaica e sacrificialmente se desdobrará demiurgica e alquimicamente nos heterónimos e em tantos interesses, alguns dentro dos labirintos do ocultismo e outros bem fora dele. 
Assim procurará, especulará e meditará repetidamente a essência e a progressão no Caminho da realização ou ascensão espiritual nos seus apontamentos e ensaios intitulados de diferentes modos: Iniciação, Ocultismo, Átrio, Franco-Maçonaria e Ordem Templária de Portugal, perdendo-se por vezes  em tabelas e correspondências de graus das diversas escolas, algo talvez afim das suas astrologias e gosto de ler policiais
Reconhece que a Iniciação assenta na existência da triplicidade corpo, alma e espírito, implicando o caminho espiritual o do controle e harmonia do corpo e da alma, e a aproximação ao espírito, divino, latente ou ocultado em nós, para o qual temos que despertar, conhecendo-nos e reintegrando-nos nele e a partir daí comungando com os outros espíritos e com a Divindade. Neste sentido, Fernando Pessoa, glosando mais de uma vez os sentidos alquímicos e iniciáticos da designação de Grande Obra, num texto muito valioso, dirá que ela consiste na reconstituição da ligação ao espírito: «É nosso dever (1) vingar a morte do Eu Superior matando os seus assassinos, ao extirpar-se a Ignorância, Erro e Ambição, não só dos nossos próprios eus, mas (já que o nosso Eu Superior é um, de certo modo, com toda a humanidade) da humanidade.»
Ou noutro escrito também muito valioso, em geral ignorado: «O Templo de Salomão é a alma humana. Sua expressão interna e suprema, o Mestre, é morto (no astral) pelos três assassinos: o Mundo (o desejo de outros), a Carne (o desejo de si) e o Diabo (o desejo de mais que si), e é este último que dá no Mestre, na fronte (isto é, na parte mais sublime do ser) o golpe mortal. A grande obra é o elaborar em nós, no sentido estrito e pessoal, o com que não reincarnarmos, a transmutação (aqui mesmo) do chumbo do nosso ser perecível no ouro do nosso ser que não perece».
Estes textos, já da sua maturidade, são dos mais significativos quanto à sua compreensão do caminho espiritual e mesmo quanto à debatida questão da metempsicose ou transmigração, que neste fragmento Fernando Pessoa aceita ou afirma. Noutro fragmento, em que se assume como espírito e inspirado por espíritos, diz acerca do mistério da Palavra ou Verbo no seus sentidos mais profundos, que «a Palavra Perdida é a Alma de Deus (comunicado por … [ Fernando Pessoa desenhou uma lemniscata]. Nós, espíritos, não meramente homens aqui – procuramos a Alma do Senhor do Mundo, em cujo corpo nascemos», afirmando como sinónimos Alma de Deus e Alma do Senhor do Mundo, e portanto inserindo-se no Gnosticismo Cristão. Se esta afirmação é é feita de modo crítico ao Demiurgo ou Criador, ou se não é tão dualista e não considera como o Senhor do Mundo o tal Deus menor e imperfeito, que os gnósticos consideravam ser o limitado Jehova bíblico, é que não podemos ficar certos, embora me incline mais que para Fernando Pessoa Jehova era negativo, limitado, fosse mesmo Demiurgo ou uma mera concepção tribal e primitiva hebraica.
Quais as características e faculdades que Fernando Pessoa terá identificado mais no Espírito, sobretudo com o seu evoluir no tempo, é complexo sabermos para além da referida consciência, ou mesmo a consciência da consciência. Será a visão interior? Vemos nós o espírito ou é ele que nos vê, ou ainda quem vê através de nós e do nosso cérebro? E o espírito é consciência pura, ilimitada e imperturbável, ou é agente activo, por exemplo, manifestando-se em certas capacidades extraordinárias, e transformando-se ou evoluindo mesmo? Ou é basicamente o Ser?
Vêmo-lo num texto afirmar que, além da dualidade freudiana do consciente e do subconsciente ou inconsciente, estão as faculdades supra-humanas, espirituais, ainda que em geral embrionárias. Noutro, citado em cima, refere a passagem da actividade inferior à superior do espírito, como a essência do Caminho ou Senda, e caracterizando-a como a capacidade de interiorização unificadora e meditativa, sem dúvida uma importante compreensão de pelo menos a acção do espírito em nós e que vai na linha mencionada da consciência da consciência e também da vontade, a unificadora,
Já quanto à visão, num pequeno ensaio sobre «a visão à distância, a visão do passado, a do futuro», Fernando Pessoa entende que «sendo extensões da “visão” – extensões na distância por assim dizer – não são, em todo o caso, extensões em ordem (que não em grau) de faculdades do espírito. Não são senão intensificações de faculdades inferiores – nada que valha um raciocínio abstracto ou uma ideia imaginativa. Um verso de Mallarmé vale mais que todas as visões até todas as distâncias», ideia esta também expressa na época por Leonardo Coimbra.  Este pensamento, formulado quando reagia à Teosofia e às suas visões, invenções e mistagogias, estará de acordo com a sua linha principal de evolução e iniciação, a que ele laborou ou trilhou sobretudo pela inteligência e pela alquimia criativa e literária.
Fernando Pessoa valoriza assim na alma tanto a racionalidade abstracta como o desenvolvimento das capacidades imaginativas e intuitivas as quais, implicando uma certa consciencialização supra-física e até supra-mentais mental, não causam todavia necessariamente uma desvendação mais plena do espírito em si mesmo.
Nas condições de iniciação templárias, que ele trabalhou e revelou em vários textos, elege em 1º lugar o «deseja ardentemente a luz, conhecendo-te [ainda?] nas trevas». Esta aspiração, essencial em quase todas as tradições, desde a mumuksha indiana à mahabbat persa, está muito presente em Fernando Pessoa e o seu nacionalismo e messianismo são mesmo extensões delas. Ora desejar ardentemente a luz é desejar fortemente o espírito, pois ele é Luz. Se bem que existam as luzes intermédias e enganadoras, os seus poemas intitulados Isaac Luria, por exemplo, mostram-nos uma concepção ou imaginação, se não mesmo alguma experiência do espírito, que é sobretudo vida, verdade e luz: «pois essa Pedra Cúbica partida// e a minha alma em luz pura resolvida// Eram a mesma coisa, era a Verdade» (in Poesia Profética, Mágica e Espiritual. Lisboa, 1989).  É o contacto ou visão desta Luz que corresponde ao que se designa como o segundo nascimento ou a iniciação, em algumas linguagens espirituais.
Poderemos considerar que a predominância da actividade mental discursiva, ou do factor intelectual, na aproximação ao espírito e a Deus em Fernando Pessoa, sem que o aspecto do amor puro, devocional ou ardente se desenvolvesse tanto no seu coração, aliada a sua insuficiente realização amorosa na vida afectiva e relacional, dificultou-lhe, de acordo com uma visão linha ascensional seja neoplatónica seja moderna da complementaridade do coração e da cabeça, o acesso à plenitude possível e ao amor universal. Daqui talvez o apelo amoroso intenso à mãe e à Virgem Maria (dois aspectos, no fundo, do aspecto feminino de Deus, ou ainda, se o quisermos assim designar, do Espírito santo) nos seus dois últimos anos de vida, reflectido no ciclo de poemas “Un soir au Lima” ou num poema religioso, que termina: «Ó mãe universal, sê minha só» (in Poesia Profética Mágica e Espiritual.).
Contudo, alguns textos e poemas, de facto poucos mas bons, revelam-nos dinâmica e luminosamente o Amor e a Compaixão: «A caridade é a bondade em Cristo: o fazer o bem, não por ter pena do homem como homem, mas do homem como irmão. A caridade é a bondade ungida, a compaixão feita amor. Somos iguais em Deus, irmãos em Cristo, e livres no Espírito Santo», esta última frase da tradição Rosa Cruz. Ou ainda, também um texto fulgurante nunca citado: «Ninguém se liberta senão criando em si a dedicação ao universal, ao múltiplo outrem. Querer libertar os outros é a condição essencial de nos podermos libertar a nós. É com o amor que a liberdade se compra».
Em verdade, em Fernando Pessoa, o espírito surge, mais do que como amor ou poder, sobretudo como luz, compreensão, inteligência analógica, sensibilidade psíquica geral, ou mesmo o ser em si. Não há o Amor pleno da comunhão íntima e unitiva seja com a Amada, o Mestre, o Anjo da Guarda,  Deus ou a Divindade, embora alguns fragmentos e poemas revelem a aspiração e o grito amoroso da sua alma por uma união maior, tal como alguns incluídos no livro que publiquei intitulado Rosea Cruz: - «When the disciple is ready the “Master” is ready too. Shakespeare’s “initiation” was after the closeness of the Master to the Disciple, the revelation of the Master to him. The expression “my God” = “my God” the Father” = my Master is right or to whom to pray? Interiormente alma e corpo são um, mas a alma é Mestre do corpo no sentido (inferior), como o Cristo é Mestre no sentido interior. Está o Mestre separado contudo inseparado? Quando a morte ocorre a unidade dual torna-se uma unidade dupla? É este o significado da frase: “morrer é ser iniciado?”».
Este texto, em inglês e português, dos mais elevados e difíceis de Fernando Pessoa questiona ou interroga a aspiração amorosa a Deus (a mahabbat iraniana) e ao mestre, como também a desvendação possível do espírito após a morte, esta então como iniciação a ele, o mestre, numa visão comum à mística e gnose indiana, grega e persa.
Como não relembrarmos também aqui um dos inspiradores de Fernando Pessoa, Antero de Quental (também ele atraído pela sabedoria perene e do Oriente), escrevendo à cabeça de um dos seus sonetos a frase da Antologia Grega, obra presente na biblioteca de Fernando Pessoa, «Morrer é ser iniciado» e que não deve ser limitada à morte do corpo, mas ao ir morrendo em vida, em relação à profanidade, à ignorância, e que é sincrónico com a ressurreição do espírito supra-pessoal?
Quanto ao Espírito Santo, que podemos ver como uma hipostatização, ou pessoalização trinitária, do Espírito divino universal e em cada um de nós, encontramos algumas referência ou aproximações de Fernando Pessoa, nomeadamente nas suas pesquisas ocultistas, dizendo: «É natural que aqueles que sustentam a letra contra o espírito, e cometam portanto o pecado essencial contra o Espírito Santo», o que, para além do claro apelo a sermos o espírito mais directamente e a vê-lo também fora de nós, não nos deixando prender tanto nas aparências e sombras deste ilusório mundo, nos remete para os graus ascendentes de interpretação ou hermenêutica e que são também níveis do nosso ser, tão trabalhados por ele em inúmeras ocasiões, tal como no fragmento a «ordem dos graus. Os 5 sentidos, literal, alegórico, moral, espiritual e divino».
A compreensão e visão dos diferentes níveis da realidade e do Ser é então fundamental, pois sintonizando-os, assumindo-os e trabalhando-os há uma subida ou aprofundamento da Sabedoria, que passa de potencial à progressiva e maior desvendação e unidade com o Espírito...
Espírito Santo entrevisto ou simbolizado (e na linha da tradição dos Rosacrucianos e dos Maçons, por exemplo, como «pedra cúbica, que é uma e abre-se como uma cruz», lembrando-nos que o trabalhar e polir a pedra bruta para passar a cúbica e angular, que cabe a todo o discípulo enquanto purificação e harmonização da sua matéria-energia psicosomática, por vezes mais animal ou impulsiva, acaba por poder desvelar o universo uno de luz, ou seja, a presença espiritual nele, tal como Fernando Pessoa poetiza no ciclo final da sua vida e que publiquei alguns pela 1ª vez em Poesia Profética, Mágica e Espiritual.
Como 3ª Pessoa da Trindade, o Espírito surge em muitos textos trabalhado e meditado, nomeadamente no importante texto, sensivelmente do meio da sua vida, em que diz que «Ele é primeiro o Inefável, a Alma de Deus, ou Criador de Deus, e chamamos-Lhe o Espírito Santo ou o Espírito Divino». Mas, de forma mais concentrada e prática, teremos a utilização do Espírito Santo por Fernando Pessoa, fluindo na corrente rosicruciana, nas frases, lemas ou mantras (designação na tradição indiana) para meditação, tal como: «De Deus nascemos, em Jesus morremos, pelo Espírito Santo ressurgimos», ou ainda «De Deus somos entrados, em Jesus passados, pelo Espírito Santo erguidos», e que ele próprio poderá ter dedilhado, ou seja rezado, meditado..
Como Cristão gnóstico, tentando intuir a Criação e meditando o simbolismo dos ensinamentos do Génesis, Fernando Pessoa escreverá, talvez até por via de alguma leitura, por exemplo,: «Adão um espírito (doutro modo não poderia ser como o Deus), ou a unidade, não dualidade, do espírito e carne. A criação de Eva foi a separação da carne do espírito. A tentação foi a submissão do espírito à carne, isto é, o revestimento do espírito pela carne», confirmando a sua visão espiritual do ser humano, e como este é na sua essência um espírito e que a queda é o nome dado à descida do espírito, ou mónada, ao mundo físico e ao corpo animal-corporal…
Outro modo de aproximação ou reconhecimento do Espírito enquanto o nosso Ser superior activo, encontra-se num fragmento das reflexões intituladas Ocultismo, em que compara o sono e a morte: «No sono abandonamos o nosso ser consciente, e entramos ou não em contacto com o nosso ser superconsciente (...) A nossa maior consciência, quando adultos, indica uma maior aproximação entre o nosso Ser superior e o inferior, uma maior proximidade da unidade. Só a morte porém unifica, e é ela a verdadeira adultidade», e eis-nos com outra sua valorização do dito grego também glosado por Antero de Quental, “morrer é ser iniciado”, e que Joaquim de Araújo, no seu belo livrinho poema Na Morte de Antero, 1891, acabou também por citar e glosar...
No mesmo texto, especula ainda sobre “a essência do nosso Ser superior” considerando que «a matéria em que vive o nosso Ser superior, como é diferente daquela em que vive o inferior, não tem com ela contacto senão em circunstâncias, e por meio de poderes muito especiais», e que remete para a necessidade da meditação e do desenvolvimento da intuição, que Fernando Pessoa tanto investigou por si como recebeu nos ensinamentos de ordens, sociedades e livros.
Desta assimilação mais profunda das influências ou ensinamentos recebidos do contacto com a simbólica iniciática, da grande árvore da Tradição Universal, confessa-nos: «o que eu compreendi, trouxe para o coração, e o que trouxe para o coração eu compreendi», certamente com as limitações da transparência e silêncio que não terá conseguido suficientemente para poder ser espelho do mais íntimo ou ver abrir-se a porta para a mais alta realidade…
A subtilização do visível e da natureza, o reconhecimento dos espíritos da natureza e dos Deuses, seja grandes seres, anjos e Arcanjos, seja as Pessoas, arquétipos ou ideias divinas, surge também com frequência, com a lúcida consciência e bela mente expressa até de que «os Deuses não morreram: O que morreu foi a nossa visão deles. Não se foram: deixámos de os ver. Ou fechámos os olhos, ou entre eles e nós uma névoa qualquer se entremeteu. Subsistem, vivem como viveram, com a mesma divindade e a mesma calma»…
Por detrás desta afirmação está a doutrina da visão do olho espiritual que permite «o conhecimento das coisas divinas, ou o lado etérico e o lado divino das coisas», e que para Fernando Pessoa fazia parte da iniciação (in Moral, Regras de Vida e Condições de Iniciação), de acordo com a doutrina universal da mesma.
Certamente que há que distinguir a visão espiritual, da visão etérica e astral, frequentemente atávica, e da qual Fernando Pessoa teve uma ou outra experiência em jovem, como a conhecida no café Brasileira do Chiado, ou quando nos diz: «rondam às vezes o meu espírito desprevenido/ vagas presenças, visíveis algumas, outras que eu ouço’/ (...) habitam o entorno/ do meu espírito localizado no meu corpo».
Também a palavra espírito, enquanto sopro vital e impulsão interna transmitido iniciaticamente por pessoa ou não, surge algumas vezes empregada de modo valioso, tal quando nos diz que «o verdadeiro segredo maçónico não está nestes níveis (rituais, palavras, signos). É um segredo de vida e não de ritual e seus acessórios. Os graus maçónicos comunicam aos que os recebem, sabendo como recebê-los, um certo espírito, um certo apressar da vida de compreensão e da intuição, que agem como uma espécie de chave mágica para os próprios símbolos e ritos mesmo que não maçónicos, e para a própria vida. É um espírito, contudo, um sopro posto na alma, e portanto pela sua própria natureza incomunicável, mesmo se quem o recebeu pudesse conceber o desejo de dispor livremente dele. Pode assim dizer-se que o Segredo maçónico está de guarda a si mesmo...». É possível que a relação que teve com Alesteir Crowley quando este veio a Portugal possa ter assumido esta dimensão...
Nas suas frequentes visitas, tanto estudiosas como até rectificadoras da tradição maçónica, estas por exemplo quando escreve e corrige os comentários do ocultista Oswald Wirth ao desenho maçónico do famoso Robert Ragon, Fernando Pessoa propõe como leitura da enigmática letra G, que está no meio do pentagrama flamejante, a palavra Geist, Espírito, dada a influência do Rosicrucianismo, fundado na Alemanha, em muitos dos ensinamentos maçónicos, e desoculta a afirmação de Oswald Wirth, na mesma obra, de que «se o neófito se inicia realmente assimilando o espírito dos ritos, dos símbolos e das fórmulas, comporta-se como abstractor  da Quintaessência, é autorizado a orgulhar-se de ter descoberto a estrela flamejante» (tdr.)
Um significativo texto de afirmação da sua alma espiritual, pois de novo prefere, talvez por lúcida e honesta identificação, para designar a sua essência alma em vez de espírito (embora na 2ª linha o empregue no sentido comum de modo de ser, é o que, nos últimos anos da sua vida, embora não datado, nos diz: «Fui sempre, e através de quantas flutuações houvesse, por hesitações da inteligência crítica, em meu espírito, nacionalista e liberal; quer dizer, crente no País, como alma e não como simples nação; e liberal – quer dizer, crente na existência de origem divina, da alma humana, e da inviolabilidade da sua consciência, em si mesma e em suas manifestações. Por isso me foram sempre origem de repugnância e asco todas as formas de internacionalismo que são três: a Igreja de Roma, a finança internacional e o comunismo».  Esta crítica não devemos separar das que fez também por essa altura a Salazar, quando este começou a manietar a liberdade de expressão e de associação, mas é o aspecto intermediário desta tríade, as oligarquias, que ganhou hoje as dimensões tentaculizantes que certamente o levariam a manter e com críticas bem fortes à sujeição a ele, algo que o recente virus Covid e as medidas tendenciosas tomadas por muitos dos governos ainda mais aumentam os poderes opressivos e enfraquecem os cidadãos, e sem fim à vista...
Daí na sua nota autobiográfica de 1935, o ano em que deixa a terra, o parágrafo final dela: «Ter sempre na memória o Mártir Jacques de Molay, Grão Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania», assassinos do melhor que há nos seres, a sua potencialidade de se tornarem espíritos vivos e harmoniosos, ou, noutra linguagem, mestres, e que continuam hoje activos no séc. XXI...
Oiçamo-lo ainda de novo no que pode ser visto como dois dos textos com mais valiosa doutrina do espírito, o primeiro afirmando claramente não só a incarnação como a diferença entre a alma e o espírito: «É o Espírito da nossa Alma, o nosso Eu Superior, que está realmente consciente em nós e de nós supremamente; o nosso Eu inferior ou Alma, que é tudo o que aqui conhecemos de nós, está apenas consciente dele – Alma e Corpo – e não consciente do Eu Superior. O Eu Superior retém as memórias e os resultados das incarnações anteriores [uma hipótese que Fernando Pessoa acreditou] pelo que só apenas vagamente e por algum contacto obscuro e ocasional com o Eu Superior, é que nos lembramos deles ou vagamente os sentimos. A fórmula Santo Anjo da Guarda corresponde ao Eu Superior, e exprime a verdade». "Santo Anjo da Guarda, nossa querida companhia, orientai a nossa alma de noite de dia", reza a tradição lusitana...
O outro,  talvez ainda a melhor afirmação final da sua doutrina do espírito, embora empregando mais a expressão favorita de alma, e que é um fragmento dos últimos meses da vida (embora não datado…) em que nos diz, numa evolução e iniciação interna ainda pouco compreendida e nada reconhecida pela generalidade dos pessoanos, sobretudo dos dominantes: «O conhecimento de Deus não depende do hebreu, nem de anagramas, nem de símbolos. Nem de língua alguma, falada ou figurada; faz-se pela ascensão univocal da alma, pelo encontro final da alma consigo mesma, do Deus em nós consigo mesmo» (in Rosea  Cruz). 
Seria esta a última realização e mensagem espiritual de Fernando Pessoa? Penso que sim
Gratos a ele, saibamos avançar no Conhecimento, Amor e Unidade do Espírito e como Espíritos  do Divino Ser…
                                           O Espírito como sopro, ave, palavra, luz, céu...
                                                         Panteão Nacional, Lisboa