domingo, 17 de agosto de 2014

Margarida Sardinha, "Symmetry's Portal" no Centro Ismaili de Lisboa. Texto de Pedro Teixeira da Mota, 14/1/2015

                                         
Sobre a obra Symmetry´s Portal de Margarida Sardinha, que estivera exposta em Julho de 2014 na Ericeira na Casa da Cultura Jaime Lobo e Silva, através da Galeria Hélder Alfaiate, escrevi para o catálogo o seguinte texto o qual hoje, 14/1/2015, aquando da sua exposição no Centro Ismaili, em Lisboa, melhorei e partilho de novo:
                          
“Deus é a Luz dos céus e da terra. A Luz assemelha-se à contida num cristal de vidro num nicho e que brilha como uma estrela brilhante.” – 24:35. Surate, A Luz, do Alcorão.
 
«A Arte Islâmica das mesquitas e santuários, dos palácios e casas, das pinturas e desenhos é basicamente sagrada e sacralizadora, ou seja, está baseada e convida-nos a proferir as palavras sagradas, a desabrochar os sentimentos sagrados, a meditar e a viver os atributos divinos, tendendo pois a envolver-nos numa dimensão bem mais vasta, na qual através do ver, sentir, recitar e meditar unimos o concreto e o pessoal com o espiritual e o Divinal.
A Arte Islâmica desenvolveu-se sobretudo a partir do Alcorão e depois das sensibilidades próprias de cada povo ou artista e ainda hoje, enraizada nas origens primordiais, desfere voos de criatividade moderna, inusitada e inaudita, tais como a Margarida Sardinha nos apresenta ou desafia a sentir e a contemplar.
                         
Certamente que a primordialidade da arte Islâmica, e que tanto nos toca, recua, para além do Alcorão e das próprias matemáticas, geometrias e arquitecturas, para o mundo espiritual, com muitos dos seus arquétipos ou protótipos a serem intuídos e evocados pelos artistas. Assim, ao estabelecerem o grande movimento circumbulatório e circulatório do macrocosmos ao microcosmos, os artistas são alquimistas pois condensam a matéria filosofal, tornam visíveis as maravilhas dos mundos espirituais e divinos, purificam-nos e elevam-nos com as suas energias e mensagens.
Abrem-se deste modo portais para que possamos reverter o movimento de descida, que foi o da criação ou manifestação, e regressarmos gratamente a esses mundos subtis, a esse Um primordial e Divino, fonte de todos números, formas e nomes tão exaltada ou perfeitamente trabalhados pelos artistas e místicos do Islão e da Tradição Perene.
                   
Através da arquitectura e da arte procura-se no Islão materializar o Paraíso na Terra, ou seja, fazer aproximar de nós o distante, o transcendente, o Divino, de um modo sensível e iluminador. Mas, simultaneamente, num movimento simétrico, procura-se despertar o espírito que está nas nossas profundezas para que ele se erga no seu eixo e, concentrando-se na sua seidade espiritual, na mensagem profética ou no Divino Sol da Majestade e Compaixão, se torne um sol vivo na terra, uma fonte de bênçãos para todos e tudo...
Assim, através das proporções geométricas belas e apropriadas, procura-se fazer vibrar e harmonizar o corpo e a alma e torná-los mais receptivos e manifestadores do Espírito, das harmonias subtis cósmica e dos atributos Divinos.
Neste sentido caminha a Margarida Sardinha com esta sua exposição de milhares de cristalizações e recriações reverberantes das maravilhas do palácio e jardins de Alhambra que, desde tempos tão antigos como o séc. XI até aos nossos dias, têm sido uma fonte de exaltante beleza, harmonia e Amor.
                    
Animada dos seus dotes de comunhão com o macrocomos da geometria sagrada, dotada pacientemente da lupa da ciência, da tecnologia e da ânsia da beleza, a Margarida tem vindo a percorrer as veredas da montanha cósmica primordial (Qaf), a que nos liga aos mundos superiores e à Divindade, pelas suas formas e nomes, e assim dá-nos nesta exposição um portal de simetrias animadas que partem ou chegam até ao inominado Um, a esse segredo dos segredos (Sir-e-sir), ao coração do coração, seja da manifestação ou criação, enquanto ordem e proporção, o Cosmos, seja ao nosso centro, como espírito e fogo reflectindo o Divino. Em ambos os casos estamos na Graça (Baraka) Divina, que chega e é sentida gratamente em nós.
                         
Assim, contemplarmos e sentirmos como apelos repetitivos (zikr) estas abstrações de harmonias dinâmicas ou mesmo super-tridimensionais, é certamente uma graça e um estímulo grande a reconhecermos e a sentirmos dois princípios básicos do Islão, o Tawid, a Unidade Divina e Wadat al-Wujud, interconectividade dela com tudo e todos, e por isso somos estimulados a caminhar com um olhar e sentir amoroso, no qual a própria visão divina e cósmica vê através de nós (mormente no nosso olho espiritual...), ou que se espelha ou é testemunhada em nós e à nossa volta.
                         
Quais são as obras animadas que mais nos tocam ou mesmo nos abrem o olho espiritual e o coração, por quais delas, e todas ligadas à Alhambra e aos sólidos Platónicos e Arquimedianos, seremos mais inclinados ao Islão, ao Tawid, ou seja, à Unidade Divina, a verdadeira ou suprema Fonte da Felicidade, vai depender das energias anímicas de que cada um de nós se reveste. Mas certamente que para todos, percorrer e continuar no espírito desta exposição da Margarida, será um factor bem iluminativo e fecundativo nas nossas vidas, mais entrelaçadas e espelhadas na religião fraterna e na geometria sagrada que provém da Divindade Una e Primordial e que se quer tornar fogo vivo expansivo de Amor (ishq) no centro de cada Ser.»

Por Pedro Teixeira da Mota, escrito em Julho de 2014, com correcções e adaptações no dia 14 de Janeiro de 2015. aquando da sua exposição no centro Ismaili de Lisboa...
Fotografias parcelares, captadas por mim, no dia da inauguração de uma exposição que bem merecia ser levada a países islâmicos por instituições portuguesas. E que a partir de hoje 14/1/2015 vai ser contemplada e interagida por mais pessoas..

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