No café e restaurante pessoano Martinho da Arcada, ao Terreiro do Paço, Lisboa, realiza-se sábado, 19 de Julho, a partir das 16:15, a apresentação do livro de poesia de Ana Pinto, Crisol, por Pedro Teixeira da Mota, que o relacionará com a Alquimia, e em especial tal como esta foi compreendida, investigada e escrita nos apontamentos ocultistas e na obra de Fernando Pessoa.
Fernando Pessoa, Raul Leal, António Boto, Augusto Ferreira Gomes, em animado colóquio, no Martinho da Arcada, perto de 1934-35...
Pequenos extractos da obra de Fernando Pessoa, acerca da Alquimia...
1 - «Esta frase é para quem entende: a sublimação é pelo Mercúrio. Toda a iniciação está nisto" Em seguida anota: "Vertical, vontade. Horizontal, inteligência. Círculo, emoção." E continua, explicando: A terra (segue-se um desenho de cruz dentro de círculo, que é o símbolo da terra) é a Vontade e a Inteligência presas na Emoção. O symbolo da R[osa] C[ruz] é a Emoção crucificada na Vontade e na Inteligência».....
E um grande texto dactilografado (que está online no Arquivo Pessoa: Obra Édita, mas com alguns erros) sobre a alquimia ao nível material e ao nível de forças supramateriais e simbólicas, e em que os resultados das operações são meios de se transformar e dominar em si mesmo os elementos trabalhados.
Fernando Pessoa, Raul Leal, António Boto, Augusto Ferreira Gomes, em animado colóquio, no Martinho da Arcada, perto de 1934-35...
Pequenos extractos da obra de Fernando Pessoa, acerca da Alquimia...
1 - «Esta frase é para quem entende: a sublimação é pelo Mercúrio. Toda a iniciação está nisto" Em seguida anota: "Vertical, vontade. Horizontal, inteligência. Círculo, emoção." E continua, explicando: A terra (segue-se um desenho de cruz dentro de círculo, que é o símbolo da terra) é a Vontade e a Inteligência presas na Emoção. O symbolo da R[osa] C[ruz] é a Emoção crucificada na Vontade e na Inteligência».....
E um grande texto dactilografado (que está online no Arquivo Pessoa: Obra Édita, mas com alguns erros) sobre a alquimia ao nível material e ao nível de forças supramateriais e simbólicas, e em que os resultados das operações são meios de se transformar e dominar em si mesmo os elementos trabalhados.
Fernando Pessoa, neste texto, não se espraia muito nesses elementos trabalhados e que tanto são reais, como "forças em equilíbrio instável", e ainda símbolos de estados de consciência e qualidades anímicas, apenas referindo o ferro:
«A química oculta, ou alquimia, difere da química vulgar ou normal, apenas quanto à teoria da constituição da matéria; os processos de operação não diferem exteriormente, nem os aparelhos que se empregam. É o sentido, com que os aparelhos se empregam, e com que as operações são feitas, que estabelece a diferença entre a química e a alquimia. A matéria do mundo físico é constituída de três modos, todos eles simultaneamente reais; só dois desses modos interessam para o caso presente, pois que o terceiro pertence a um nível conceptual diferente, e não é atingível por operações, aparelhos ou processos que sequer se parecem com os que se empregam em qualquer cousa que se chame «química» ou «física», «ocultas» ou não. (1) A matéria é na verdade, e como creem o físico e o químico normais, constituída por um sistema de forças em equilíbrio instável, formando corpos dinâmicos a que se pode chamar «átomos». Porque isto é real, e a matéria, considerada fisicamente, é na verdade assim constituída, são possíveis as experiências e os resultados dos homens de ciência, e a matéria é manipulável por meios materiais, por processos apenas físicos ou químicos, e para fins tangíveis e imediatamente reais.Mas, ao mesmo tempo, os elementos que compõem a matéria têm um outro sentido: existem não só como matéria, mas também como símbolo. Há, por exemplo, um ferro-matéria; há, porém, e ao mesmo tempo, e o mesmo ferro, um ferro-símbolo. Cada elemento simboliza determinada linha de força supermaterial e pode, portanto, ser realizada sobre ele uma operação, ou acção, que o atinja e o altere, não só no que elemento, mas também no que símbolo. E, feita essa operação, o efeito produzido excede trancendentalmente o efeito material que fica visível, sensível, mensurável no vaso ou aparelho em que a experiência se realizou.É esta a operação alquímica. E isto no seu aspecto externo: porque, na sua realidade íntima, é mais alguma cousa do que isto.
Como o físico (incluindo no termo o químico também), ao operar materialmente sobre a matéria, visa a transformar a matéria e a dominá-la, para fins materiais; assim o alquímico, ao operar materialmente quanto aos processos mas transcendentemente quanto às operações, sobre a matéria, visa a transformar o que a matéria simboliza, e a dominar o que a matéria simboliza, para fins que não são materiais. A semelhança, porém, para aqui. O resultado da experiência física é um produto externo, com que o operador não tem nada, excepto vê-lo, ou ser dono dele, se o é. Mas na experiência alquímica a «força», que o corpo trabalhado simboliza, está em contacto directo com o espírito do operador, e não só do operador, como também de quantos conscientemente o auxiliam (embora sem conhecimento alquímico) na suas experiências. O resultado da experiência, portanto, afecta o operador e os seus «adjuntos» (como se diz) de uma forma diversa e diversamente importante»
(1) - As três palavras após a vírgula são um acrescento manuscrito.
Que no crisol alquímico da alma resplandeça mais o Espírito, com a sua sabedoria e amor.
«A química oculta, ou alquimia, difere da química vulgar ou normal, apenas quanto à teoria da constituição da matéria; os processos de operação não diferem exteriormente, nem os aparelhos que se empregam. É o sentido, com que os aparelhos se empregam, e com que as operações são feitas, que estabelece a diferença entre a química e a alquimia. A matéria do mundo físico é constituída de três modos, todos eles simultaneamente reais; só dois desses modos interessam para o caso presente, pois que o terceiro pertence a um nível conceptual diferente, e não é atingível por operações, aparelhos ou processos que sequer se parecem com os que se empregam em qualquer cousa que se chame «química» ou «física», «ocultas» ou não. (1) A matéria é na verdade, e como creem o físico e o químico normais, constituída por um sistema de forças em equilíbrio instável, formando corpos dinâmicos a que se pode chamar «átomos». Porque isto é real, e a matéria, considerada fisicamente, é na verdade assim constituída, são possíveis as experiências e os resultados dos homens de ciência, e a matéria é manipulável por meios materiais, por processos apenas físicos ou químicos, e para fins tangíveis e imediatamente reais.Mas, ao mesmo tempo, os elementos que compõem a matéria têm um outro sentido: existem não só como matéria, mas também como símbolo. Há, por exemplo, um ferro-matéria; há, porém, e ao mesmo tempo, e o mesmo ferro, um ferro-símbolo. Cada elemento simboliza determinada linha de força supermaterial e pode, portanto, ser realizada sobre ele uma operação, ou acção, que o atinja e o altere, não só no que elemento, mas também no que símbolo. E, feita essa operação, o efeito produzido excede trancendentalmente o efeito material que fica visível, sensível, mensurável no vaso ou aparelho em que a experiência se realizou.É esta a operação alquímica. E isto no seu aspecto externo: porque, na sua realidade íntima, é mais alguma cousa do que isto.
Como o físico (incluindo no termo o químico também), ao operar materialmente sobre a matéria, visa a transformar a matéria e a dominá-la, para fins materiais; assim o alquímico, ao operar materialmente quanto aos processos mas transcendentemente quanto às operações, sobre a matéria, visa a transformar o que a matéria simboliza, e a dominar o que a matéria simboliza, para fins que não são materiais. A semelhança, porém, para aqui. O resultado da experiência física é um produto externo, com que o operador não tem nada, excepto vê-lo, ou ser dono dele, se o é. Mas na experiência alquímica a «força», que o corpo trabalhado simboliza, está em contacto directo com o espírito do operador, e não só do operador, como também de quantos conscientemente o auxiliam (embora sem conhecimento alquímico) na suas experiências. O resultado da experiência, portanto, afecta o operador e os seus «adjuntos» (como se diz) de uma forma diversa e diversamente importante»
(1) - As três palavras após a vírgula são um acrescento manuscrito.
Que no crisol alquímico da alma resplandeça mais o Espírito, com a sua sabedoria e amor.
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