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sábado, 14 de dezembro de 2024

Do diário de 2014: meditações, realizações, sonhos, interrogações, alquimia, mantras, ciência, a demanda do Graal, o espírito, a Divindade...

Peregrinos nas montanhas, por Nicholai Roerich.
Do diário de 2014, escrito no computador, oito fragmentos:
 I - A meditação solsticial matinal perto das 6 horas foi boa, pois vi uma descida de luz nuvem neve branca sobre uma crista montanhosa branca ao longe, no olho espiritual. Realizei também a consciência como interface dos vários planos e níveis.
Depois, quando me deitei, o olho espiritual começou a manifestar-se bastante, e vou relembrar alguns momentos: uma espécie de paisagem ou horizonte de neve estriada em cristais, que se movia; depois uma mulher que me pareceu uma amiga, como uma artista-dançarina-escultora indiana forte, e via-se de perfil ou com a cabeça inclinada para baixo. Tinha o corpo forte [e esteve] duas vezes em movimento.
Houve também forte [a compreensão de que] a [usual] noção de cinco sentidos foi uma limitação estupidificante sobre os humanos e pois a consciência do corpo [e a partir do corpo] era um sentido global, e que dele se passa facilmente para a consciência do corpo subtil espiritual.

E [que esta extensão da pluridimensionalidade dos sentidos] é importante, como validei de manhã na cozinha, relembrando-a [ao emergir da memória do subconsciente] e [se conseguirmos manter esta consciência maior] então estamos mesmo incarnados e não [semi-] anestesiados ou alienados apenas no corpo. O 6º sentido é então o da totalidade do nosso ser [nos seus corpos], e o sétimo o da consciência.
Acordei também com um clarão de luz no horizonte, amarelo e vermelho, um nascer do sol espiritual. Algo parecido com um desenho estilo antroposófico mas  grande, largo e mais amarelo-cor de laranja.»

II - Dou graças a Deus. Mais consciente do corpo espiritual, olho mais aberto ou unido ao Divino, o qual nas nas minhas orações, meditações e aspirações, flui mais e é sentido no centro do peito...»

III - Andei no [youtube a ver vídeos de] Rupert Sheldrake, Lothar Schafer, Bruce Lipton, mas embora bons não têm tanta espiritualidade ou consciência das ligações subtis que se passam entre a Divindade, a Mente Cósmica e a mente humana. Eu diria mais até: entre a mente a funcionar normalmente e a mais interiorizada, sensível, expandida, subtil, ligando-se ao corpo espiritual e suas capacidades...
Falou a Rosa Maria e virá cá sexta de manhã, desiludida das vigarices do Veiga, da Federação de Yoga... Devia escrever sobre isso...»

IV - Uma das grandes questões que se põe hoje em termos espirituais face aos múltiplos mestres e ensinamentos é congraçar a existência de um espírito individual e a dita não-dualidade, que certamente se pode admitir, seja em termos de unidade de toda a matéria como da consciência.
Se esta dualidade [conceptual normal nas pessoas] está sendo ultrapassada pelo reconhecimento que mesmo a matéria dita inorgânica está dotada de consciência, ou que energia-consciência é a grande substância do Cosmos, mesmo assim não há dúvidas que existem diferenças entre os grau de consciência que os átomos de um cristal de quartzo leitoso, um protozoário, um rouxinol e um ser humano detém, [ou conseguem manifestar, pois mesmo no ser humano podem surgir grandes hiatos ou quebras dela].
Será talvez então exagerado ou despropositado crermos que a realização [máxima espiritual] do ser humano seja a sua extinção, seja num nirvana seja num não-ser, mesmo que possa surgir como libertação em relação ao sofrimento e ignorância em que estava.
Se olharmos para a humanidade, observaremos que mais de 90% das pessoas estão a milhas ou anos de luz de um estado pleno de equanimidade e de libertação e que mesmo ao longo séculos, pese a grande plêiade de santos, santas e mestres, poucos seres atingiram tais níveis de unificação em si próprios e de libertação de desejos no mundo, que possam (ou queiram) extinguir-se "libertadoramente" no fim das suas vidas terrenas. Para quê tanto anterior trabalho, esforço, amor?
Por detrás desta questão espreita-nos outra, a que se prende com as origens e fins da vida humana, nomeadamente se as alma vêm à Terra para aprender, participar, unir-se a Deus, libertar-se da manifestação seja terrena seja subtil, e se depois se extinguem, ou antes continuam noutras dimensões, ou ainda, se pelo contrário, reincarnam na Terra. E sabendo-se pouco disto com segurança ou objectividade, nem que seja pessoal, também as respostas embora muitas são pouco firmes ou seguras...
Embora as experiências de morte temporária, as famosas near death experiences deem já alguns vislumbres, embora os relatos de espíritas, clarividentes e mestres apresentem contributos valiosos, inegavelmente sabe-se pouco dessa vida no além e do tipo de consciência que sobrevive.
Onde a investigação tem mais avançado é no campo da consciência, nas neurociências e na física quântica, começando a adquirir-se uma visão bem mais profunda e fidedigna da natureza dos fenómenos que nos rodeiam e da constituição dos seres, e suas partículas e ondas. Mas ainda há uma clivagem forte entre os que creem que a consciência e o pensamento são produzidos pelo cérebro, e os que afirmam a natureza supra-corporal e cerebral da consciência humana, abrindo-se à existência do espírito subtil independente do corpo físico, e que sobrevive à morte do invólucro terreno.
A realização ou consciencialização deste espírito (que se pode dizer divino) e a assunção das suas qualidades e capacidades é de certo modo o caminho espiritual, a demanda do santo graal.

V - Sentir mais o espírito divino no coração, o ponto de luz que se adora e que as mãos juntas sinalizam (invocam, propiciam) assim senti mais nestes dias e nesta meditação.

VI - Conseguirmos lembrar os sonhos com amor, lucidez e acurácia é aumentar a consciência, é recuperar energias e mensagens dos nossos níveis mais profundos  que jaziam perdidos ou desconhecidos, é comungar com os planos internos pessoais e universais e trazer deles ao de cima da nossa consciência, à da vigília, e  sentirmos que podemos mesmo ao dormir estar a trabalhar com actos, sentimentos, pensamentos, ritmos, impulsões, seja apenas cerebralmente seja em corpo subtil
Respeitamos pouco os nossos ritmos internos, e a vida interna e exterior, em toda a sua delicadeza e riqueza, menos ainda.
Os seres puxam-nos para fora, para uma superfície de aparências demasiado transitórias mas também somos nós que os puxamos para esse níveis reactivos, e não estamos  verdadeiramente plenos, unificados,
Vou sentindo uma certa inutilidade de nos ligarmos frouxamente aos outros, ou que não vale tanto a pena preocupar-nos com eles, e com o que se passa no mundo e que pouco podemos influenciar...
Temos muitos ritmos no interior do nosso ser multidimensional, e quando forçamos alguns temos de os reequilibrar depois. É na auto consciencialização silenciosa ou meditativa, de olhos fechados e respirando lenta e profundamente que sentimos o estado dos nossos órgãos e chakras e que energias ou movimentos eles precisam, o que em geral podemos realizar pela respiração energética para tais zonas e a eventual visualização ou imaginação da partículas energéticas entrando neles. Quanto tempo, com que regularidade, cada ser tem que descobrir por si e ser sincero, e perseverar.
 
Heinrich Khunrath. O Anfiteatro da Sabedoria eterna, 1595. O alquimista no seu laboratório e oratório.
VII - A alquimia interna tem no nosso espírito o fogo, tem no vaso, cadinho ou retorta a nossa alma, e no inconsciente e potencial vital a matéria prima para realizar a grande Obra.
O fogo é a força de vontade, o pensamento-palavra, o sopro, a visão, o corpo espiritual e as ligações superiores, a pedra filosofal, inata ou como pó de projecção ou irradiação
A retorta ou vaso é a nossa alma e aura, o que vamos pensando e sentindo e gerando de corpo psíquico nosso, e que é alquimizado ao rubro nos momentos de lutas, testes, amores ou então de orações, meditações, aspirações.
A matéria prima são tanto as partículas materiais ou subtis, como a energia vital que nelas passa ou elas contém, e que vai sendo trabalhada, gasta, renovada pelos nossos trabalhos, intenções e consciencializações.
Constantemente estamos a modelar os nossos corpo subtis e a estabelecer relações e irradiações luminosas ou não.

VIII - Acordei cedo às 7 e pouco e fiz meditação boa, com o mantra indiano de invocação de Shiva, a felicidade divina: Aum namo Shivaya, tão cantado ou recitado na Índia...
Repetir um pouco um mantra, senti-lo em diversas partes do corpo e aura e sobretudo pronunciá-lo lentamente e conscientemente a partir do coração, com aspiração à Divindade invocada, e para beneficiar ainda alguém ou o mundo, é uma das práticas mais recomendadas nestes tempos mais agitados e violentosque atravessamos e que tanto nos desafiam a estarmos lúcidos e nem manipulados nem demasiados envolvidos. 
Pax, Lux, Amor, Aum...
De Bô Yin Râ.

sábado, 25 de março de 2023

Swami Ritajananda, o mestre do centro Vedântico Ramakrishna, em Gretz, Paris. Um encontro em 1984. E posteriores desenvolvimentos.


                                     

Breve descrição de um encontro com Swami Ritajananda (1906-1994), onde estive em 1984 um dia e meio no seu ashram, ou seja, o centro Vedântico Ramakrishna, junto a Paris, do qual é [ou foi] o 2º director, desde 1961, pois o 1º director e fundador Swami Siddheswarananda abandonara a Terra em 1957...
Transcrevo do diário de 1984 o resumo do encontro com ele:
«Transmite algumas das suas fortes energias de amor e de auto-consciência libertadora. Fora de quaisquer dogmas ou preceitos, antes num tipo de realização do que cada um é em si mesmo, e num certo respeito pelos costumes e aspectos da sociedade em que vivemos.
Falará da importância do mantra (nome ou som sagrado em que nos concentramos) para a procura duma transcendentalização (acalmia ou superação) do mental discursivo, e das suas ondas de pensamentos sucessivos.» 
Nesse sentido Patanjali, o codificador dos Yoga-sutras, começa o seu tratado clássico com três sutras: «I - Atha Yoga anushanam Vamos então expor o ensinamento unitivo. 2 - Yoga citta vriti nirodha, Yoga ou União é o controle ou a extinção das ondulações mentais. 3 - Tada drashtuh swarupe awasthanam, depois disso o observador estabiliza na sua própria natureza ou forma própria.»
Registo ainda num papel solto o rescaldo de uma das conversas com Swami Ritajananda no ashram ou Centro Vedântico Ramakishna, desde há 23 anos dirigido por ele e situado em Gretz  a uns 30 quilómetros de Paris, rodeado de um belo jardim e horta que a pequena comunidade trabalha:
                                       
«Pergunto-lhe se o vegetarianismo é necessário ou não, e ele responde que foi educado numa alimentação vegetariana, mas outras pessoas não pelo que não devemos impor restrições. Recebe na sua alimentação os ovos e o leite por causa da proteínas que contêm. Não insiste muito sobre esse aspecto, mas pensa que um efeito importante da alimentação vegetariana é tornar as pessoas mais calmas.
Quanto a brahmacharia, o controle da energia sexual, ou mesmo castidade, a sua resposta pessoal é que cada ser tem a sua própria constituição, as suas tendências e que não se deve impor do exterior, senão criam-se problemas ou conflitos na nossa parte psíquica, sobretudo o inconsciente. Mesmo no hinduísmo observamos que sempre houve ou tem havido pais de família a alcançarem a realização espiritual. O ênfase não deve ser posto em restrições mas nos aspectos positivos, nomeadamente a irradiação de Amor, a alegria no trabalho. O ser que tem um ideal espiritual acabará sempre por vencer os problemas e limitações que encontrar na vida.
Japa, a repetição dum som sagrado ou dum nome de Deus, é um instrumento universal, presente em todas as religiões e tradições, mas a quem nos pede para ser iniciado devemos saber dá-lo ou ensiná-lo conforme o ideal de cada pessoa, ou seja, relacionado com Jesus ou Krishna ou Shiva ou Brahman, a Divindade sem forma (e houve sorriso em mim, por uma certa adesão interior...)
Japa, a repetição de um nome ou som sagrado ou mantra, é pois um meio de controlar os pensamentos e se for praticado ou dito intensamente é capaz de fazer a alma esquecer o mundo exterior e entrar noutro plano de experiência espiritual.
O interesse ou objectivo neste local em França foi o de se criar não um mosteiro mas um centro (ou ashram, como se diz em sânscrito) capaz de ajudar as pessoas que estão no mundo, e nesse sentido todos os Domingos pela tarde há uma conferência seguida de diálogo. Quando se realizam seminários ou retiros os homens ficam a dormir numa zona, as mulheres noutra e os casais noutra. É um centro capaz de ensinar a Vedanta (o fim dos Vedas), a visão filosófica ou sistema, darshana, assente nos Vedas e Upanishads, e que os mestres da Ordem de Ramakrishna ensinaram e seguiram, começando com o iluminado fundador Sri Ramakrishna Paramahansa (1836-1886) e em seguida com os seus discípulos swami Vivekananda (1863-1902) e outros que trouxeram o Vedanta para o Ocidente.» 
A brochura divulgadora do centro ou ashram contém  de Sri Ramakrishna o dito ecuménico universalista «Quantas as crenças, quantos os caminhos», e de Swami Vivekananda: «Toda a alma é em potência divina. O objectivo [principal da vida] é de manifestar exteriormente e interiormente a nossa natureza. Realizai isto pelo trabalho, a adoração, o controle psíquico ou a filosofia - por um destes meios, por vários, ou por todos  - e sê livre! Tal é a essência da religião. As doutrinas, os dogmas, os ritos, os livros, os templos as formas, tudo isto são apenas detalhas secundários.»
Swami Ritajananda, além das muitas conferências, escreveu alguns livros em francês e inglês, disponíveis, e um deles traduzido no Brasil, num ensinamento claro e simples.
Tendo eu agradecido a sua amistosa recepção e diálogo, e as meditações e refeições, respondeu-me num cartão de 15 de Maio de 1984: «Meu querido Pedro. Estou muito tocado pela sua carta de Guimarães. Esteve aqui muito pouco tempo, mas não se esqueceu de nós e pensou em nós. Creio que os seus estudos de Yoga são satisfatórios e passa muito bem os dias  em Portugal. Se tiver tempo poderá ver os nossos amigos no ISSASHRAM, Rua Vasco da Gama, 12, A, 2825 S. João da Caparica, Portugal.
Escreveu-me que esperava vir a França, uma outra vez. Então, teremos a alegria de vos ver. Com todo o meu afecto, Ritajananda.» 
E assim será, pois em Fevereiro de 1986, estive novamente em conversa com Swami Ritajananda, que então me assinou e dedicou o seu livro La Pratique de la Méditation, onde explica bem a  repetição ou japa (e recomenda 20 a 30 minutos diários, pelo menos), considerando que objectivo do mantra é sempre o de permitir a uma pessoa concentrar-se nesse nome sagrado como saudação ao ideal escolhido, seja Krishna, Shiva, Brahman ou outro nome de ser ou mestre e, ao repeti-lo com o máximo de amor, concentração mental e vontade, atingir a paz interior e o acesso ao plano espiritual.... Possamos consegui-lo... Aum, Om... 
Anote-se que em 1995 acabaria por ser iniciado nesta linha Vedântica da Ordem de Ramakrihna, pelo então vice-presidente Swami Ranganathananda, quando trabalhava em traduções da espiriritualidade indiana no Ramakrishna Mission Institute of Culture (uma excelente base de trabalho), em Calcuta, com uma boa meditação em seguida.

                 Muita luz, amor e felicidade, Jyotir, Prema, Ananda neles e em nós! Ommm..