quinta-feira, 26 de abril de 2018

Amor e Timidez em Antero de Quental, por Rui Galvão de Carvalho. Antero enamorado ou antes um casto Galaaz?

 Rui Galvão de Carvalho, açoriano (Rabo de Peixe, 3-XI-1903 e Ponta Delgada, 29-V-1991), professor liceal de filosofia, ensaísta e poeta,  notabilizou-se pela grande admiração e dedicação a Antero de Quental, e a perseverante e profícua divulgação, tendo tal amor despertado quando estudava em Coimbra e por influxo do seu mestre Joaquim de Carvalho, um dos mais valiosos anterianos.
É vasta a sua bibliografia, nomeadamente a anteriana, conforme se pode consultar na razoável página que lhe é dedicada na Wikipédia, à qual acrescentei dois títulos e uma correcção.
 (1933) Nota breve sobre a timidez de Antero. Porto, Revista Portucale, vol. VI, nº 35.
(1933) — Três Ensaios sobre Antero de Quental. Coimbra, Imp. da Universidade;
(1934) — Meditação Sobre a Vida e a Morte de Antero. Sep. de O Distrito, Ponta Delgada;
(1949) — Antero de Quental e a Mulher. Ensaio Breve de Interpretação Psicológico­-Literária. Lisboa, Ed. de Álvaro Pinto (Ocidente);
(1950) — Antero Vivo. Ensaios. Lisboa, Ed. de Álvaro Pinto (Ocidente);
(1950) — Primazia do Espírito e Agremiações Culturais. Ponta Delgada, Tip. do Correio dos Açores;
(1957) — Mulher na Lírica de Antero. Sep. de Insulana;
(1961) — Cartas de Antero de Quental a Francisco Machado de Faria e Maia. Lisboa, Delfos;
(1962) — Ordenação Cronológica dos «Sonetos Completos» de Antero de Quental. Sep. de Atlântida. Órgão do Instituto Açoriano de Cultura, Angra do Heroísmo;
(1965) — O génio poético de AnteroBrotéria, Lisboa, vol. 81, n.º 3 (Setembro de 1965): pp. 175 seg.
(1966) As raízes bocageanas dos Sonetos de Antero de Quental. Rev. Gil Vicente, Lisboa, Vol. XVII 2ª s. nºs 11e 12. 1966.
(1980) — Colectânea de Estudos Anterianos. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura;
(1983) — Antologia Poética de Antero de Quental. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura;
(1984) — O Açorianismo de Antero de Quental. Sep. da Biblos, Coimbra;
(1985) — Antero de Quental: Novos Ensaios. Vila Franca do Campo, Ed. Ilha Nova;
(1989) — Antero de Quental e a Música. Câmara Municipal da Horta. *** E provavelmente outros textos terá escrito e publicado, dispersos por jornais ou revistas terá também trabalhado Antero.

  Iremos abordar o seu primeiro ensaio, publicado na abrangente revista portuense Portucale, quando tinha apenas 31 anos, no qual aborda o tema do amor, da sexualidade e da timidez de Antero de Quental e manifesta uma certa mitificação, bem natural para um jovem bondoso, idealista e formado no Catolicismo e no Integralismo de António Sardinha, visionando-o como um Galaaz, algo que em certos aspectos cavaleirescos de demanda do Graal do Ideal e da Verdade certamente Antero tinha, e gera algumas afirmações senão discutíveis pelo menos boas para nos interrogarmos sobre Antero de Quental, a Mulher e o Amor, sobretudo na vida dele, embora o tema seja vasto e as linhas aqui necessariamente breves...
Do artigo, reproduzido, transcrevemos as afirmações mais importantes, nomeadamente logo de início, ao rebater a ideia em parte lançada pelo médico Sousa Martins de se «considerar o poeta como um misógino, como um inimigo sexual das mulheres», caracterização esta que Natália Correia criticou e reenviou para o próprio Sousa Martins, pois este é que seria o misógino, o desequilibrado.  
Que diz então Rui Galvão de Carvalho: «É um conceito erradíssimo este, tanto mais que, como já afirmamos, a paixão de Antero por a mulher foi um facto real e, em toda a sua vida de peregrino do Amor chama acesa e sempre irradiante, facto que em parte pode até explicar a tragédia íntima do homem que a lenda santificou, do poeta que melhor cantou a Dor humana, do filósofo que mais intensamente viveu a angústia metafísica de Jouffroy, mas que, como o irónico Voltaire, "nos deixou, a todos, o exemplo da tolerância"(Lanson)». 
De realçar as expressões acertadas e belas que sublinhamos, e as referências a Théodore Simon Joufroy (1796-1842, discípulo de Victor Cousin), filósofo e professor, que morre curiosamente uns meses antes de Antero de Quental, com uma obra valiosa sobre a ética e a moral, a filosofia escocesa e os fins últimos da Humanidade, e a Gustave Lanson (1857-1934), historiador sociológico da literatura.
 
 E a dado passo, no desenvolvimento da sua teoria ou visão anteriana, apoiado em Freud e em Gregório Marañón, conclui Galvão de Carvalho: «varão perfeito, másculo, a sua pudicidade derivava de um excesso de virilidade; a sua reserva traduzia-se numa sublimação sexual segundo a terminologia de Freud; enfim: a sua timidez «se deve a uma situação de superioridade do instinto, a uma diferenciação exagerada do mesmo; a um verdadeiro complexo de superioridade sexual»...
Para quem não conheceu pessoalmente Antero de Quental, que é o caso de Rui Galvão de Carvalho e de todos nós, conseguirmos discernir plenamente as fontes da timidez ou pudor de Antero é certamente difícil e apenas podemos tentar apresentar alguns factores ou aspectos, sem que talvez haja sequer grande razão em se fazer tal, por respeito à intimidade que ele bem prezava e logo preservava
O que é inato, como genética, temperamento ou tendência, e o que se recebe da educação e ambiente familiar, serão factores determinantes, e certamente  em Antero o seu grande amor e ligação à mãe, bem assinalada em cartas e em especial quando ela morreu, foi talvez um factor amplificador de maior discrição, reserva e pudor quanto a falar da sua sexualidade. Mas talvez antes de tudo se deva considerar o seu génio, a sua natureza de filósofo e místico, a sua individualidade própria e livre e pouco desejosa de ser devassada e limitada, como ao longo da vida frequentemente manifestou ou exprimiu, e que naturalmente o retraía.
A tal devemos acrescentar as suas leituras e reflexões, espelhadas por exemplo no juvenil e algo romântico primeiro ensaio publicado na revista conimbricense Prelúdios Literários, nº 13, em 1859, A Educação das Mulheres, onde os seus verdes e idealistas 17 anos, mesmo com o afluxo de ideias  colhidas em Coimbra (destacando-se neste texto o moderado e platónico idealista Louis Aimé Martin, discípulo do sonhador Bernardin de Saint-Pierre e por este de Jean-Jacques Rousseau), mostram a afinidade e a opção romântica e cavaleiresca de ver a mulher como ser frágil a ser protegido. 
Mas já noutros passos manifesta uma percepção não paternalista «pois tais como somos, é a mulher que assim nos faz», ou mesmo algo tântrica ou shakta, ou seja, de culto da energia feminina: «Bebemos, com efeito, nos seios da mãe, nos olhos da amante, nos braços da esposa todas as virtudes e os vícios, com que depois surgimos no mundo: sendo a mulher o misterioso guia e mestre da nossa educação moral, em todas as fases da nossa vida, claro é, o que formos no bem ou no mal, a ela o devemos», referindo ainda numa expressão (trabalhada depois na carta a Cirilo Machado, já por nós publicada) psico-energética operativa "a influência deste magnetismo sobre a alma do homem".
Sabemos pouco dos seus amores, e pouco também ele transmitiu da sua vida amorosa nas centenas de cartas que trocou com amigos, certamente  por respeito com as mulheres com quem mais amor sentiu, e a fim de preservar tal intimidade de apreciações e julgamentos exteriores de então e quem sabe até do futuro...
  Discernirmos razoavelmente o grau de valorização da intimidade afectiva, nos namoros, e nas comunhões amorosas e sexuais, que Antero  de Quental teve  é então difícil mas podemos crer que desde sempre muita da sua energia psicosomática foi direccionada simultaneamente para a realização de objectivos filosóficos e artistas, embora na sua adolescência e em certas épocas da vida o seu amor e ardor, romantismo e idealidade,  estivessem muito activos  e gerando, para além dos dois ensaios de defesa e valorização da mulher, belos poemas e sentimentos, diálogos e vivências, namoros e desejos.
Infelizmente no seu riquíssimo epistolário, como já dissemos, só encontramos breves  alusões a tal vida afectiva, já que conforme confessava a Oliveira Martins, em Fevereiro de 1871, em relação a uma desilusão amorosa, «duas vezes tentei já escrever-lhe [a si, Oliveira Martins], sempre se me negou a escrever a pena o que verbalmente não me custaria a dizer. Desculpe-me isto, que é uma das repugnâncias instintivas, de que a gente não pode dar explicação, mas que são invencíveis, e que você apreciará». E teríamos neste não escrever, não confessar a alguém tido como muito amigo, uma posição de  prudência, na preservação da intimidade afectiva, seja pelo sagrado íntimo amoroso que sentia, a dois e pelos dois, seja face a opiniões e julgamentos de outras pessoas, que sabemos serem frequentemente superficiais, senão mesmo críticos ou maldizentes.  
Sabe-se, mais ou menos ao certo, que para além das aventuras normais de estudantes universitários conimbricenses, Antero de Quental sentiu o amor mais intensamente por três vezes: a primeira, por quem foi a sua Beatriz de adolescente, uma jovem coimbrã e casada e a quem dedicou o belo poema Beatrice, e sobre a qual escreverá, diferenciando o amor, os sentimentos e a paixão, a António de Azevedo Castelo Branco. a 14-III-1866, quando partia para os Açores; «fujo a um amor sem futuro que já me tem levantado muitos tumultos de sentimentos para que não tema que em breve chegasse às alturas tempestuosas da paixão - e de paixão inútil».
 Maria  Ana Porto Carrero, numa fotografia da colecção de Alexandre Ramires e partilhada por Ana Almeida Martins na sua incontornável Fotobiografia. Avisado esteve Antero em admitir que talvez não fosse mesmo a sua alma-gémea...
Uma segunda,  a M. C.,  a quem dedica quatro sonetos, e que serão duas das iniciais de Maria Ana Porto Carrero, e com quem não sentiu ousadia de querer assumir as limitações do casamento mas que amava e que ela, com a sua partida para França durante quase um ano, acabou por aceitar o namoro e  casar-se mesmo em 1868 com o  conterrâneo e condiscípulo de Antero na Universidade,  Filomeno da Câmara de Melo Cabral.
A terceira, quase dez anos mais tarde, foi uma senhora nobre e bem culta, francesa, Clotilde Seillière, então em processo de divórcio, que Antero conheceu em França quando esteve em 1877-78 nos arredores de Paris em tratamentos de hidroterapia sob orientação do famoso especialista de doenças nervosas Charcot (1825-1893). 
Foram três encontros e conhecimentos de mulheres e almas afins que, nas condições limitativas em que se apresentaram, vivenciou mais como amores que foram  discernidos rapidamente com poucas hipóteses de avançarem, e se aprofundarem e estabilizarem, fazendo-o sofrer, dizendo mesmo do terceiro relacionamento, talvez o com mais possibilidades ou afinidades e certamente o mais aprofundado e maduro, «que eu sofria tanto que estava estonteado», afirmando mais tarde Oliveira Martins, mas certamente exagerando, que ele teria pensado em suicidar-se.
Será que desde 1874 com a morte do pai e o aparecimento das suas maleitas psico-somáticas, ou em 1876 quando morre a mãe, e no fim do ano adopta as crianças de Germano Meireles e pouco depois a mãe delas morre, ou sobretudo desde 1880, quando abandona a paixão-amizade com a baronesa Clotilde Seillière,  que diminuiu bastante o seu desejo esperançoso pela mulher? 
Ou será ainda mais tarde, apenas com o envelhecimento e enfraquecimento psico-somático derivado das suas doenças e, sobretudo da desilusão, que a chama do seu amor fenece? Ou tal nunca desapareceu, apenas a sua desilusão da vida e enfraquecimento psico-somático não o galvanizaram mais à esperança do Amor e o levaram por fim à desistência da pesada vida terrena, mas que as asas de Cupido sempre aligeiram e que certamente o teriam ajudado a vencer as circunstancialidades adversas que o fizeram sucumbir antes do termo natural da sua vida?
Um pouco mais documentados com esta breve visualização da trajectória amorosa do nosso poeta e espiritual, podemos interrogar-nos então: Antero de Quental era algo misógino, e não num sentido de inimigo da mulher (como queria o positivista Sousa Martins), mas de ser  interiorizado, casto e sublimando-se, quase desde o início da sua vida, como nos quer fazer crer Rui Galvão de Carvalho, ou foi-se tornando tal com o tempo, com as suas dores, dificuldades, desilusões?  Ou nunca o foi, e apenas tinha pela sua grande demanda de verdade e de coerência e pela sua natureza algo de solitário ou mesmo monge, uma menor capacidade e  apetência de envolvimento afectivo e familiar-social duradouro?
Anote-se que Galvão de Carvalho, quando afirma que Antero de Quental sempre foi casto, não quer dizer com isto que ele negasse a sexualidade, escrevendo mesmo com certeiro discernimento o longo passo que transcrevemos: «Antero amou, amou apaixonadamente, paixão que lhe fez vibrar os nervos, aquecer mais o sangue, palpitar mais fortemente o coração, tornar mais rica a imaginação irrequieta: sintomas naturais da sua virilidade requintada, do seu instinto sexual, e, ao mesmo tempo, causas da sua tragédia íntima, do drama psicológico, das suas crises sentimentais.
Vemos então em Antero: manifesta timidez, escrupuloso recato, severa pudicidade. 
Conservou-se ele por esse facto sempre casto? Incontestavelmente.
Antero, na verdade, procurou conservar-se casto, - o que não quer dizer que ele não tivesse rendido culto à Carne e ao Prazer, mas esse culto fora passageiro. 
Os homens superiores, eminentemente superior, são castos, cultivam a flor da castidade, para equilíbrio dos sentidos, pureza da alma e higiene do espírito.
O genial florentino Leonardo Vinci escreveu algures:"Aquele que não refreia a voluptuosidade confunde-se com os animais"» 
 
Deixemos agora Rui Galvão de Carvalho, após este mais aberto mas também sempre sublimante passo do seu ensaio,  e admitamos que com a sua maturação no tempo  Antero de Quental deixou-se revestir de uma maior aura de asceta e de sofrimento e, como diminuía a vitalidade psico-somática, terá sentido menos desejo e  esperança de relacionamentos ou uniões, os quais potenciam ou animam tanto a afectividade e a sexualidade como a própria sobrevivência...
Assim, quando regressado ao torrão natal se viu deprimido pelo ambiente atmosférico, afastado das duas pupilas, Beatriz e Albertina (certamente quem mais terá sofrido...), e a ter  de voltar ao corrupto ambiente de Lisboa, desanimou e lançou-se ao mar alto e do além que envolvia a sua ilha, onde não se conseguira inserir, provavelmente convencido, orgânica e psiquicamente,  de que a sua missão na Terra terminara.
 E assim debaixo da âncora da Esperança, junto à cerca do convento, "samuraicamente", nesse anoitecer de 1891, apenas com 49 anos de desabrochamento espiritual, Antero de Quental abraçou e foi levado pela "casta" irmã Morte que tanto poetizara e namorara.
Com que grau suficiente de auto-consciência, a cavalo da sua alma sofrida, Amor vencendo Mors, estaria ele, qual cavaleiro Galaaz, rumo ao ideal e portal da Morte libertadora?
Poderia ele ter sido mais abraçado e enlaçado amorosamente na vida, ou o seu percurso e quase destino de mártir solitário do livre pensamento da época "cristificava-o" daquela feição e hora necessariamente trágica?
 
  Saibamos estar mais em amor, criativa, esperançosa e perseverantemente, e votos de muita Luz e Amor Divinos em Antero de Quental e  Rui Galvão de Carvalho!

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Breve reflexão ética e espiritual sobre o 25 de Abril, no seu dia em 2018.

Um pequeno texto escrito na alvorada do 25 de Abril de 2018, que é uma leve reflexão, uma pequena flecha mensageira desferida no Facebook, e por alguns apreciada, e agora para o Blogger mais perenizante transcrita, a fim de poder de ser consultada posteriormente e gerar alguns efeitos meditativos ou salutares na alma de Portugal e nos seus membros.
Com as imagens que a acompanharam... 
Por entre as nuvens ergue-se a Senhora da Graça, nosso Fujiyama, entre a terra e o céu, fogo da aspiração terrena e humana à Luz do Sol, ao Amor e à Divindade e suas faces...
Das faces animadas dos raros castanheiros centenários que têm sobrevivido...
«Precisaremos de um outro 25 de Abril? 
Esta classe política desacreditou-se completamente com o seu envolvimento nos roubos públicos e bancários escandalosos, em grande parte impunes, das últimas décadas e que comprometeram bastante o presente e o futuro de Portugal? 
É possível inverter a desgovernação de certos sectores de Portugal, nomeadamente os mais frágeis sob as arremetidas de interesses económicos destrutivos, exploradores ou poluidores, tão visível no rio Tejo, nas árvores urbanas, nas florestas, nos eucaliptais, nas medidas preventivas e de combate aos incêndios? 
É possível existir de novo um conceito ou ideia de Estado Português acima dos interesses e dos compadrios partidários, o qual verdadeiramente eduque e inspire a implementação do Bem Comum e não o de uns poucos? 
Tem Portugal avançado e dado bons exemplos nos sentidos primaciais do 25 de Abril, e que foram os de melhor democracia e igualdade, fraternidade e liberdade, educação e cultura, paz e plenitude?
Educar na, e para a, sensibilidade e o amor, a criatividade e a plenitude, em harmonia com a Natureza e não na sua exploração, e em paz e diálogo com todos os seres humanos e não humanos, bom como todos os povos e países, tradições e culturas...
Têm os representantes de Portugal sido a voz na cena internacional do não-alinhamento nas fake news e guerras da angloamericanice, no seu bullying da Rússia de Putin e de outros Governos, sintonizando e assumindo corajosa e luminosamente a Tradição Espiritual Portuguesa e os seus elos?
Eis boas questões para meditarmos na alvorada (e no seguimento) do dia de uma revolução purificadora, hoje no seu rio já muito mordomizada e manipulada e que pede, como então, a nossa adesão criativa, acima dos egos e corajosa, ao coração da Fraternidade Divina e planetária...

Da Harmonia do microcosmo no macrocosmo, dos seres e cidadãos na Natureza de vários níveis e mundos, em corpos, almas e espíritos bem desenvolvidos e justos, fraternos e livres...

sábado, 21 de abril de 2018

Aniversário do nascimento de Sa'adi, 2018. Evocação e poemas, por Pedro Teixeira da Mota.

                                                Sa'adi Shirazi... Sa'adi, de Shiraz, Irão.
Sa'adi num roseiral, numa miniatura mogol
Homenagem em 2018, no seu dia de nascimento, e segundo o calendário lunar, móvel, a um dos génios (com Hafiz e Rumi, Sohrawardi e Attar) tutelares do Irão: Saadi, de Shiraz (1208-1291), autor de uma vasta obra de pequenas histórias e poesias, contidas especialmente no Gulistan, o Pomar, e no Boostan, o Roseiral, e um Diwan de ghazals, isto é uma antologia de poesia amorosa, após uma vida longa e bem aventurosa que o levou por vários países e continentes, destilando de tais viagens e encontros, amores, vivências e meditações uma grande e bem disposta sabedoria que partilha nos seus escritos.
Sa'adi inspirando-se e gerando o Roseiral.
 Seguem-se algumas traduções que fiz com a ajuda de almas amigas iranianas, seja quando lá estive um mês, em 2013, seja pela net.
                                                     
 Uma das suas ekaya ou histórias, não vegetariana:
 "Conta-se que, ao ser assada uma presa de caça para Nushirvan, o Justo, durante uma caçada, não se encontrou sal, pelo que um rapaz foi enviado à aldeia próxima, recomendando-lhe o Nushirvan: «Paga o sal, para que não se crie o costume contrário e a aldeia seja arruinada».
Ao perguntarem-lhe que mal poderia resultar de uma opressão tão pequena, Nushirvan replicou: «A fundação da opressão no mundo foi pequena mas todos os que vieram depois aumentaram-na de tal modo que se atingiu a magnitude presente…»

Se o governante come uma maçã do jardim de um cidadão,
Os seus funcionários arrancar-lhe-ão a árvore pelas raízes.
Por cinco ovos que o governante deixar serem roubados pela força,
O povo pertencente ao seu exército porá mil galinhas alheias no espeto.
Um tirano não permanece para sempre no mundo,
Mas a maldição ficará nele para sempre."

Moralidade, comentada por nós: Saibamos caminhar com justiça, harmonia e amor na vida, respeitando as propriedades e as ideias, os sentimentos e as religiões dos outros, mas denunciando ou lutando contra as injustiças e violências mais clamorosas ou graves...
E que os governantes, executivos, gestores e políticos se lembrem tanto que a memória histórica não ficará sempre manipulada como que há uma vida depois da morte... 
 Outra história (19) do Gulistan:
«Perguntei a um homem ilustre a causa deste dito tradicional: “Considera como um inimigo a paixão que está entre os teus dois rins .” Ele replicou: “A razão é porque qualquer inimigo que tu propicies torna-se teu amigo, enquanto que quanto mais te entregares a uma paixão, mais ela se oporá a ti.”

O ser humano atinge a natureza angélica comendo moderadamente.
Mas se ele se torna voraz como o animal selvagem então cai como uma pedra.
Aquele cujos desejos tu cumprires, obedecerá ao teu comando,
Contrariamente à paixão, que te comandará se for obedecida».
Que o Roseiral floresça no teu ser e coração
Da Introdução do Roseiral, Gulistan.
«A tradição é a de que sempre que um adorador pecaminoso e aflito estende a mão do arrependimento com esperanças de ser aceite na corte celestial, Deus o Altíssimo não dá conta dele; mas quando tal pessoa continua a implorar a misericórdia com súplicas e lágrimas, Deus, o Santíssimo, diz: - Ó meus Anjos, verdadeiramente eu estou envergonhado do meu servidor e ele não tem mais nenhum Senhor senão eu. Em concordância com isto, eu perdoei-o completamente.

Vede a generosidade e delicadeza de Deus.
O servo cometeu um pecado e ele está envergonhado.»

Moralidade nossa:
Por vezes Saadi é muito ousado e de modos subtis faz-nos suspeitar que a generosidade ou o Amor divino são bem maiores que nós pensamos. E para sociedades muito rígidas nas suas crenças e códigos morais, afirmar que Deus pode perdoar os piores crimes ou sustentar os seus inimigos, é sem dúvida de uma grande liberdade e liberalidade.
De Eugène Flandin, o mausoléu de Sa'adi, hoje bem diferente pois visitei-o em 2012
Continuando com Sa'adi:
«Aqueles que oficiam permanentemente no templo da Sua glória confessam a imperfeição da Sua adoração e dizem: - Não Te adoramos de acordo com os requerimentos da Tua adoração. 
E os que descrevem o esplendor da Sua Beleza são arrebatados em espanto dizendo: - Não Te conhecemos como deverias ser conhecido.

Se alguém me perguntar pela Sua descrição,
O que poderei dizer eu, tão desesperado pelas minhas limitações, do Um que não tem forma?
Os amantes foram mortos pelo Amado,
Voz alguma brotou do morto.

A um dos devotos que mergulhara profundamente a sua cabeça no capuz da meditação e estivera imerso no oceano das visões, quando estava a sair desse estado, perguntou-lhe um dos seus companheiros, com vontade até de o animar: “- Que presente belo trouxeste para nós do jardim em que estiveste?” 
Ele replicou: “Ao chegar ao roseiral eu tencionava encher as abas da minha veste de rosas, como presentes para os meus amigos, mas o perfume das flores intoxicou-me de tal modo que deixei cair as abas”.

O pássaro da manhã, aprende o amor da borboleta
Porque ardeu, perdeu a sua vida, e não encontrou voz.
Esses pretensiosos andam ignorantemente à procura Dele,
Porque quem obteve conhecimento não volta…

Ó Tu que estás acima de todas as imaginações, conjecturas, opiniões e ideias,
Acima de tudo o que as pessoas disseram, ouviram ou leram,
A assembleia terminou e a vida alcançou o seu termo
E nós, como ao princípio, permanecemos sem poder para Te descrever.» 

Por estes excertos podemos sentir um pouco e comungar com o grande Amor divino que ardia em Sa'adi e em muitos outros persas e místicos da sua época, mas que através dos séculos se comunica de peito a peito, de coração a coração, por tantas almas amorosas, por tantos Fiéis do Amor, pelo que tenhamos confiança nas vitórias da Verdade e do Bem, em nós e na cena mundial...
Que Abū-Muḥammad Muṣliḥ al-Dīn bin Abdallāh Shīrāzī,  ou mais simplesmente Sa'adi, nos inspire e intensifique a poesia e a cultura, a fraternidade, a paz e o Amor, e o conhecimento e a ligação a Deus na Terra...

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Através da beleza, oramos: Arte e Antiguidades na Cordoaria, 2018. Imagens e legendas.

"Através da Beleza, oramos", frase do mestre russo Nicholai Roerich, um dos patronos de "Tolstoi e a Rússia em Portugal", aplica-se bem à Feira de Arte e Antiguidades de Lisboa, 2018, patente na Cordoaria, recheada de imagens simbólicas, por vezes bem energetizadas.
Aproveite  bem o fim de semana, pois a exposição termina no Domingo, 22 de Abril, para se recarregar, se harmonizar...
Algumas imagens das mais belas e irradiantes, com poucas legendas...
O Espírito, o santo, o mestre, a vontade, ajuda a alma sensível a não ser devorada por forças negativas, e liberta-a. Liberte-se... Perseu, Andrómeda e o dragão.
A Biblioteca de Mafra, da Helder Alfaiate galeria de arte, da Ericeira vizinha.

 S. António, um dos elos mais activos da Tradição Espiritual Portuguesa, por Paulo Ferreira, amigo de Almada e Pessoa e pai do notável pintor Rodrigo Ferreira, a viver em França.







Uma náutila meditando

A transmutação e elevação do dragão no cálice do coração...




Um Santo António com um olho branco e outro na sombra, símbolo da sua condição de desperto e activo nos dois mundos, visível e invisível...
Objectos icónicos, carregados, de pathos, de cargas devocionais-sentimentais. Quem as consegue sentir e ser inspirado?
Ricardo Hogan, Antiguidades, sempre partilhando bem os tesourinhos da devocionalidade lusa.
"Anjo da Guarda, minha companhia, guarda a minha porta, de noite e de dia"
Relicários chákricos...
Rainha Santa Isabel, entre nós, no coração, pelo coração, as flores...
Conseguir invocar e ver o menino divino em nós, sabedoria devota de S. António
Qual Grande Deusa, firme e forte, despertante...
Mestre da retórica, da pregação, da invocação e comunhão da Verdade
Das alturas douradas e auras azuladas da China Antiga
"A Tradição Espiritual Portuguesa e os seus elos", aqui representada por um dos seus principais membros do mesmo corpo místico...

Olhos marejados de lágrimas de devoção?...
A galeria Luso-Francesa "Tiago" distinguiu-se pela combinação muito completa das diferentes artes, com ênfase no interrelacionamento de Portugal com o Oriente e é uma das poucas que apresenta alguns livros...
Velas de devoção, acesas no coração, fazem as navegações puras acontecerem...
Um biombo pequeno estilo Namban, feito já no séc. XIX, mas ainda assim transportando-nos..
Subir o mastro, uma arte sempre actual...
 Qual Ikebana, arte viva natural, no recanto da galeria pela mão de fada de Sylvie Tiago.
                                         
No Youtube está um vídeo com este belo biombo Nambam, canal Pedro Teixeira da Mota
Pormenores conviviais de alguns anos de belos diálogos entre os portugueses e os japoneses.
O dragão celestial impulsionando as velas portuguesas
Da morte trágica do mestre da Terra Santa, ainda hoje tão repetida, dilacerando-o ainda mais
É tão imensa a doçura do espírito angélico que foi brotando da composição, que o seu autor o intuiu e formulou  mais feminino, uma  anima aberta à compaixão...
S. Miguel e a longa lança do discernimento libertador

Muito na linha dos excelentes Pré-Rafaelitas
MEDITA, SÊ...
QUEM ME CONTEMPLAR mais demoradamente, certamente sentirá a paz nirvânica da beatitude espiritual, Sat Chit Ananda...
Om Mani Padme Hum Hri Vajra Guru Siddhi Pema Hum
Uma graciosíssima e kundalinica daikini
Muito poderosas, as Nossas Donas indo-portuguesas ou cingalesas!
O Amor, Devotio moderna, Bhakti, Prema, Mumuksha
Provavelmente do Sião... Do Budismo da Floresta, também já em Portugal, na Ericeira...
No espaço da excelente (12 fotografias partilhadas) galeria luso-oriental Manuel Castilho, alguns bons conhecedores (Mena, Hugo e os irmãos José Mário e João Mário) comungam, mais ou menos conscientemente, por palavras ou compreensões, os eflúvios que as estátuas e pinturas emanam ou evocam...
Mandalas etíopes, simples mas acreditadas e logo eficazes em prtecções. Quantos já as fizemos?
Mandala etíope de cruz e quatro pétalas, da raiz do ser.
         S. Miguel, na Etiópia, aportuguesado, para não dizer que se trata da sua avatarização em D. Cristóvão da Gama, o heróico filho de Vasco da Gama que por lá andou na cavalaria abnegada do Amor...
As peças mais ciosas de si e que não se deixam fotografar facilmente...
Veni, sancte Spiritus
Um Anjo, nas "Nuvens e Céus de Portugal"
"Anjos e Arcanjos de Portugal e de Deus", uma página sempre invocando-os.
                                   Imagem tão bela quanto surpreendentemente nova, limpa, pura
Da majestade e imensidade da Luz Divina e da Divindade...
(Da valiosa galeria espanhola Theotokopolos, com um excelente catálogo gratuito)
Que do peito puro brote o leite da Sabedoria e da Paz