Em 1911, Rudolf Steiner (1861-1925), realçava que Soloviev "apontava para a existência de duas forças na natureza humana, entre as quais o Cristo pessoal (ou interno) deve-se colocar como mediador", e que são as de Ahriman, massificação, mecanização, materialismo, e Lucífer, do individualismo e fuga dos outros e da Terra, tríade esta que Steiner desenvolveu fortemente e com bastante originalidade, esculpindo mesmo uma estátua intitulada Representante da Humanidade, com o Cristo no meio de Ahrimam e de Lucífer.

Também apreciou a força da Fé, íntima em si mesmo, em Soloviev, capaz de afirmar «tenho fé [ou confiança] no núcleo mais profundo da minha alma, que está dentro de mim, e que se pode conectar com o divino que flui e entretece o mundo», ou ainda a vontade interior de conseguir ver ou contemplar o que se acredita e ama, e afirmando que «o mais alto desenvolvimento do conceito de Fé vem com Soloviev». Diminuirá talvez as vezes que Soloviev teve clarividência, pois as três que refere, e são conhecidas, foram as mais fortes, as teofanias Sofiânicas, da santa Sofia ou Sabedoria Divina; todavia, certamente muitas outras, de menor importância, terá Solovioff tido: «Em todos os lados, vemos a vida espiritual fluindo da filosofia ocidental. Vou apenas mencionar Vladimir Soloviev, o filósofo e pensador russo, um verdadeiro clarividente, embora ele tenha visto o mundo espiritual apenas três vezes na sua vida: uma vez quando era um menino de nove anos, a segunda no Museu Britânico [em 1875], e a terceira no deserto egípcio sob os céus estrelados do Egipto.»

Quanto ao valor da realização espiritual que Soloviev tinha dentro de si, bem mais importante que a filosofia e teologia que conseguira escrever e transmitir, Steiner afirmará em 9/2/1911: «No dia 12 de agosto de 1900, Soloviev morreu — um homem muito pouco apreciado ou compreendido. As influências de seu corpo etérico irradiavam longe e amplamente, contudo, embora Soloviev fosse um grande filósofo, no seu caso, o desenvolvimento da alma estava à frente do intelecto; era um pensador grande e esplêndido, mas a sua filosofia consciente tinha muito menos significado do que aquela [philo-sophia, amor de Sophia, sabedoria, Hagia Sophia] que ele carregava na sua alma." , característica dos portadores de maior Luz e Verdade Divina...
Anos depois, em Junho de 1915, Steiner deu de novo por outro ângulo tal valorização: «Vamos tentar visualizar uma das mentes mais notáveis da Rússia, Soloviev. Soloviev, que realmente absorveu tudo o que havia na vida intelectual russa na sua alma e devolveu como uma visão de mundo – não apenas como o que se chama de “visão de mundo filosófica”, mas de tal forma que se sente a vida russa vibrando – deu algo que vivia nessa alma profunda.
Na cultura espiritual da Europa Central, as pessoas sabem que podem experimentar a sua alma, podem experimentar Deus na sua alma. Soloviev está esperando por aquilo que o empurra, o impulsiona e o instiga de fora; ele está esperando pelo milagre.»
Como se sabe Soloviev trabalhou a visão e projecto duma Igreja Universal, que unia Católica e a Ortodoxa, e que impulsionaria a ligação ao Cristo, ao Logos, à Divindade em nós, cabendo ao povo Russo a missão de desenvolver tal época de unidade entre os povos, culturas e religiões. Em 18/3/1915, Steiner demarcava-se e demarcava Soloviev do nacionalismo russo, ou eslavofilia, dos críticos da ocidentalização da Rússia: «As melhores mentes, ao se entrelaçarem com a vida russa, também se entrelaçam com essa ideia de eslavofilia. Até o grande Soloviev teve um período na sua vida em que foi um eslavófilo, quando acreditou, embora de uma maneira diferente de [Aksakov, Katkov e Danilevsky], que já poderia haver algo na vida russa que tivesse a missão de cobrir toda a Europa, por assim dizer, com uma nova cultura». Mas em 18/8/1915, com a 1ª grande Guerra já adiantada, Steiner afirmava: «Ele estava convencido de que cabe ao povo russo redimir o mundo, porque a cultura da Europa Ocidental chegou ao seu leito de morte, porque se tornou decrépita. Soloviev, dizia ainda: Não queremos destruir essa cultura da Europa Ocidental, mas queremos curá-la». Steiner também teve tal visão, por estudo e clarividência, desde quando é mias difícil precisar, mas em 1918 afirmá-lo-á com muita força e claridade, como veremos.
Quanto à compreensão do Cristianismo e da Cristologia, Steiner comparou algumas vezes as visões de Jesus Cristo dadas por Strauss, Ernest Renan e Soloviev, valorizando muito mais as do filósofo russo: "pois o Cristo de Soloviev é poder vivo, sabedoria viva, totalmente espiritual. Uma vida realista de Jesus [foi apresentada] por Renan; uma vida idealista de Jesus por Strauss, a qual também é uma apresentação idealista do impulso crístico; mas a apresentação espiritual do impulso crístico é transmitida por Soloviev. E explicitará que «na esfera do conhecimento, esse impulso [de forças ígneas internas] inspirou Soloviev no seu tratamento do Ser mais sagrado da humanidade. Ele tinha interesse apenas no Cristo e não no Jesus histórico [Talvez não fosse assim tanto, tanto..]. Assim como a Vida de Jesus de Renan é uma obra-prima de descrição externa, as representações de Soloviev do Ser de Cristo são as mais elevadas que poderiam ter sido criadas nesta esfera nos dias de hoje.»
Nesses anos de 1916 e 1917 Steiner valorizou o pequeno Um Breve Relato sobre o Anticristo, a última obra de Soloviev, e apontou para que «no Oriente, na vida russa, que nos é pouco conhecida, encontramos reflexões sobre a morte, sobre o objetivo humano que se estende ao mundo do Espírito, e sobre o conceito de culpa e de pecado em termos de ética prática» recomendando que se lesse Soloviev, pois as suas obras tão fortes nessas reflexões estavam já disponíveis.
Foi na sua palestra VIII, do ciclo de conferências Do Sintoma à Realidade na História Moderna, proferida a 2 de novembro de 1918, (e que já abordámos no blogue) que Steiner apresentou ou profetizou melhor a missão da Rússia, afirmando a dado passo:«a
partir dos séculos IX e X, foi possível para o ‘povo do Cristo’ da
Cristandade emergir num certo território dentro do mundo civilizado, um
povo que estava dotado da especial capacidade inata de se tornar o veículo da revelação do Cristo para as gerações futuras.(...) Leiam-no
e sentirão - apesar das características peculiares de Soloviev que já
discuti de outros pontos de vista - como flui directamente para ele o
que podia ser chamado a inspiração de Cristo. Essa inspiração
actua de forma tão poderosa dentro de Soloviev que ele não consegue
imaginar toda a estrutura da vida social de outro modo senão ordenada
por Cristo Rei, o Cristo Invisível como soberano da comunidade social.
Para Soloviev tudo está imbuído de Cristo, cada ação realizada pelo ser
humano está permeada [ou impregnada] pelo impulso cristão que penetra
mesmo até ao sistema muscular. O filósofo Solovieff é o mais puro e
belo representante do Povo de Cristo.
Daí flui toda a evolução russa
até aos nossos dias. E exactamente quando se sabe que o povo russo é o
Povo de Cristo, também poderemos entender, como veremos mais tarde, a
evolução actual até à sua presente forma. Esta é metamorfose que o Povo de Cristo preparou, um exemplo das diferenciações do impulso Cristo.»
Já em 1919 via por um lado «Soloviev, surgindo do Leste Europeu, cheio de sementes espirituais em desenvolvimento, que podem florescer no Leste», e por outro a catástrofe da guerra mundial, seguida do reinado de Lenin que destruía bastante dessas possibilidades, apesar de subsistirem "os verdadeiros discípulos de Soloviev, que queriam uma libertação: Kartachov, Samarin. Eles queriam desencadear um movimento espiritual na Rússia desde os primeiros raios cintilantes da revolução". Mas não conseguiram, e assim o que Soloviev havia realizado e apresentado de tão valioso (ainda que apenas em livro e com um eco relativo) foi em parte obliterado pelos líderes políticos e pelas massas revolucionárias.
Já em 17/ 4/ 21, Steiner destaca a visão da presença subtil espiritual do Logos, do Cristo, na Terra alcançada por Soloviev e a sua teorização duma Igreja Universal e dum Estado religioso crístico: «Faz parte dos fenómenos mais impressionantes da Europa moderna observarmos como, do Oriente, ressoa uma poderosa advertência na filosofia religiosa de Soloviev, uma filosofia religiosa imersa, por assim dizer, na unidade [mais sentida e realizada no mundo] oriental. Mas algo ressoa de lá no sentido de que um elemento espiritual, supersensível, deve permear a ordem social terrena. Em certo sentido, vemos como Soloviev sonha [ou aspira] com uma espécie de estado-cristão. Ele é capaz disso porque dentro dele estão os últimos vestígios de uma experiência astral subjetiva que ilumina o ego», algo que no Oeste Ocidental pouquíssimos conseguiam.
Em 24/9/1921, Steiner aborda duas das mais complexas distinções, entre o Pai e o Filho, e entre Jesus e Cristo, e como trabalhara muito tal distinção, valorizará as posições de Soloviev, porque «para ele tanto o Pai quanto Cristo são experiências», e vividas separadamente.
Quanto ao povo russo ser o Povo de Cristo, e de ser capaz de na sua fé ver espiritualmente, por estar permeado pelo impulso crístico, e logo tender ao Cristo interno e ao Cristo Logos do Mundo, tal surge de novo em 1922, primeiro em 7/1/1922, quando afirma:«Hoje, só podemos imaginar uma pessoa capaz de falar como Soloviev se ela ainda tiver uma verdadeira experiência do que cada um de seus compatriotas faz diante do ícone da Mãe de Deus. Porque Soloviev fala, pensa e sente a partir dos próprios fundamentos de seu povo, toda a sua concepção de mundo tende na direção de Cristo.» E em 11/2/1922, quando Steiner valoriza de novo o que no Oriente da Europa ainda se conservava de ligação viva e sentida ao Cristo, à descida ou incarnação do Logos à Terra, afirmando:«Do espírito oriental, algo muito antigo ainda vive em Vladimir Soloviev. Para a cultura ocidental, a sabedoria primitiva desapareceu. No Oriente, permanece como um sentimento. Soloviev ainda carrega algo da verdadeira sabedoria cristã. Aqui na Europa Central e Ocidental temos apenas uma consciência de Deus», e não um sentir e realizar interior e até clarividente...
E em 3/6/1922 realçará o génio intuitivo e sintético de Soloviev, que alcançara a visão-consciência do Logos unificador do mundo espiritual e do mundo material, da Religião e da Ciência, conseguindo «apresentar a religião, a arte e a ciência como uma unidade», «usando a linguagem filosófica que encontrou em Kant ou Auguste Comte; e tendo o completo domínio dos modos de expressão dos filósofos da Europa Ocidental e Central.»
Nos últimos meses da sua vida, em 1925, Rudolfo Steiner, que se preocupava com a tripartição social e as melhores formas de governo, não deixou de citar ainda o filósofo russo, dizendo: «Para Soloviev, Cristo é um Ser diretamente presente em toda a humanidade. O que Ele fala nas almas humanas deve-se tornar o ponto de partida para as estruturas sociais», apelando desta forma, numa linha que entre nós o grande poeta e pensador Antero de Quental também demandou e propugnou, a que saibamos recolher-nos, meditar e ouvir a voz da consciência, que é a voz do Espírito, que é o Logos, Inteligência-Amor e sentido da Vida em nós, para assim conseguirmos abrir o nosso ouvir interior e reger-nos pelo impulso crístico de Amor-Sabedoria e unidade fraterna e multipolar, tal como a santa Rússia vai conseguindo sacrificialmente dar à luz em grande batalha contra o Ocidente hegemonista russofóbico dominado pela oligarquia globalista infrahumanista.
Que a santa Rússia, com os seus grandes seres e staretz, e que Rudolfo Steiner e Vladimir Soloviev, e, reverentemente, o Cristo ou Logos divino nos inspirem e fortifiquem na Verdade e para o Bem da Humanidade multipolar, fraterna, feliz.




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