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| Capa com fotografia de Alice Batista da sua filha Cristina. Publicações Maitreya, Porto |
IV - Da singularidade de cada ser e da sua vida, tradição, realização.
Cada ser representa e culmina uma série infinita de seres, experiências e informações, comuns a muitos outros mas numa singularidade e axialidade única, ou seja, num eixo único entre o nascimento e a morte, a ignorância e o conhecimento, a terra e o céu, o infinito e o tempo.
A impressão digital assinala nos dedos essa unicidade, mas também na voz, na personalidade e na essencialidade ou centelha do espírito, o único surge, certamente um reflexo da Unicidade Divina infinitizada na manifestação e depois desenvolvida, talhada, cicatrizada na evolução de cada um...
A comunicação digital e internética potencia modernamente a a comunicação entre uma infinidade de unidades únicas, ainda que muito manipuladas, conectando-as mais ou menos luminosa e harmoniosamente. E se convergir os vários dedos ou criatividades, as várias pessoas ou unidades através de afinidades recíprocas é relativamente fácil, tal como famílias, grupos, clubes, partidos, nações e instituições manifestam com tanta profusão, vverdadeiramente difícil é unir as singularidades valiosas existentes num determinado meio ou época como culminantes de valores e benefícios para os melhores objectivos, através de estratégias comuns de pensamentos, sentimentos e acções, do Bem Comum...
Este é um grande apelo, constante ou recorrente nas noites mais longas e subtis do ano, ou nos dias cinzentos e opressivos da história, como um choro, uma litânia, um canto de aspiração e esperança determinada...
Numa época de marés cheias e vivas, cavalgar ou surfar na crista das ondas é provavelmente melhor alternativa do que as termos a rebentarem em cima de nós...
Mil olhos e mil braços, mostram-nos certas deidades orientais, tal a budista Avalokiteśvara..
Discernir bem que ventos nos impelem mais, em que direcções singrar, que contenções ou expansões iniciar, com quem dialogar e avançar nos planos das caminhadas, quais os objectivos mais luminosos e urgentes, que seres ou unidades maiores nos podem inspirar é então uma tarefa de auto-exame e verticalização meditativa que só cada um poderá fazer com perseverança diária e sincera.
Por exemplo, em Portugal há um ser que nos une e culmina: o Ser espiritual ou Arcanjo de Portugal, a ampla alma de face séria, amorosa e grave do nosso país, da grande alma Portuguesa. Mas quantos o admitem, quantos tentam sintonizar com ele e o cultuam diariamente? E quanto ao Anjo da Guarda, os santos e santas, os mestres e guias, sintonizamos com eles, acolhemo-los apartir do campo unitário do corpo espiritual ou místico da Humanidade ?
Devemos contar com a comunidade dos que aqui aportaram por nascimento, ou mesmo por segundo nascimento e que nos rodeiam vivos ou mortos, ainda activos ou apenas nos testamentos anímicos e obras que nos deixaram. Quais deles amamos mais, quais cultivamos com fidelidade, quer relembrando, quer por eles orando, ou sua sabedoria e arte divulgando?
Saber cultivar este fogo do lar, da nação, da grande alma Portuguesa e da sua ampla expansão e interelacionamento é fundamental...
A base primacial deste culto é o aprofundamento do tesouro dos valores e conhecimentos, das ideias e ideais que podem unir e impulsionar as pessoas no seu aperfeiçoamento e libertação. Um país de poetas, mas também de líderes, místicos, sábios e artistas, que deveremos conhecer e estidar, meditar e continuar...
Assim, sair da ignorância e do sofrimento, do egoísmo e da miséria, da violência e da superficialidade, numa unidade enraizada local e historicamente mas aberta à multipolaridade e ao universal, é um apelo fundamental e urgente ao melhor de nós...
Assim chega até ti este texto, na noite dos tempos, a desafiar-te a meditar uns minutos estas duas questões cadentes, a que só tu podes responder: - "O que é mais importante e prioritário que eu desenvolva para o bem de mim próprio e dos que conheço, e para o bem de Portugal e do Cosmos? Com que pessoas, autores ou facetas do cristal da Verdade tenho mais afinidade, conhecimento e amor e posso ser um cooperador criativo e luminoso?”
Se uma das respostas é sermos cada vez mais a nossa singularidade e ser próprio, a Seidade, o Espírito, criativa e originalmente, sem dúvida que também a nossa acção, como continuadores ou em grupos mais fortes, na compreensão e na acção justa e verdadeira, é bem importante.
Desenvolver a compreensão de quem somos e do que viemos fazer à Terra, quais as prioridades e opções, em que linhas nos inserimos, é então fundamental de ser meditado e trabalhado com regularidade. Na Índia chama-se o swadharma, o seu dever próprio ou missão. No fundo o seu contributo singular, único, para o Todo, para a Harmonia do Cosmos.
Ao nascermos em Portugal, apercebemo-nos melhor da riqueza cultural que nos envolve, ou seja, da Tradição Cultural e Espiritual Portuguesa, que nos forma ou deforma, informa ou é alheia, é atacada ou preservada, seja aquelas tradições a que na nossa universalidade, impulsionada nos Descobrimentos, tivemos acesso.
Saber escolher bem os veios que vamos trabalhar, os arroios que vamos utilizar e gerar, as pessoas a que nos vamos associar, e os ideais e mestres que nos poderão inspirar é então fundamental...
Se admitirmos, o que não é assim tão certo e evidente para muitos, que todo o bom escritor adquire no além um papel de guia para as gerações vindouras que o lerão ou reflectirão, perguntemos então que escritores ou pensadores mais gostamos e com quem sentimos mais afinidades?
Os poetas das Cantigas de Amigo e dos Cancioneiros, Sá de Miranda e Camões, João de Barros e Damião de Góis, Frei Luís de Granada, Sebastião Toscano e Gaspar de Leão, Faria e Sousa e Francisco Manuel de Melo, Antero de Quental e Jaime de Magalhães Lima, Camilo Castelo Branco e Alberto Pimental, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão e Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Maria Amália Vaz de Carvalho, José Régio e Saramago, Álvaro Ribeiro, Agostinho da Silva, António Quadros e Lima de Freitas, Sant'Anna Dionísio ou Dalila Pereira da Costa, por vezes amigos ou amigas que conhecemos?
Leiamos então as suas obras, escolhamos algumas linhas do seu desenvolvimento, ou frases que nos digam mais e trabalhem-se, meditem-se, reescrevam-se, aprofundem-se. E assim estaremos a inserir-nos na Tradição Espiritual Portuguesa e na Perene e a continuá-las...
Reactivar a ligação psíquica ou espiritual com esses seres que já da lei da morte terrena se libertaram e que podem passar a inspirar-nos é importante. Mas mais ainda com os seres afins e receptivos ainda vivos, e com quem os diálogos, projectos e acções são mais fortes e directos e frutíferos neste mundo tão necessitado de luz e verdade amor e paz.
Pressinta no património da riqueza natural e cultural do país o que lhe diz mais, o que gosta mais, oque pode trabalhar mais e tente talhar e fortificar pedras viva para a construção incessante e permanente do Templo da Verdade, da Beleza, do Bem ou do Divino em Portugal...
Tantos campos da criatividade humana há já a serem trabalhados entre nós e onde pode cooperar e contribuir...
Saibamos diária ou gradualmente aprofundar ou enriquecer alguma faceta do multifacetado cristal da sabedoria, da arte e do amor da Grande Alma Portuguesa.
Avancemos juntando engenhos e esforços em prol da Tradição Perene em Portugal e da sua crescente iluminação e ligação à Verdade, ao Bem, à Divindade.
Façamos a árvore da vida, por vezes quase seca, reverdecer pelo amor e a ligação à Fonte das Águas Vivas...
Intensifiquemos a nossa singular comunhão ardente e clarificadora...
Sejamos mais sábia e amorosamente o Espírito individual e universal.


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