terça-feira, 19 de agosto de 2025

Um desenho espiritual ou yantra, da manhã do dia 19 de Agosto de 2025.

 

Ama, sê, desperta    Vence, persiste   Vê, alcança, entra 

 Caminhemos na aspiração à Divindade, ao Amor, ao Bem Comum, sempre renascendo de dentro em tal fogo unitivo.

Respiremos e assimilemos as energias subtis do Cosmos: partículas, raios, ondas, cores, formas, imagens, ideias que de olhos fechados podemos ver no olho espiritual, e sentir no coração, com admiração e gratidão.

Acima da agitação e desinformação, dos conflitos e crueldades, ergue-te, aquieta-te, concentra-te e avança firme e destemido na comunhão das almas afins vibratória e ideologicamente, no corpo místico ou dharmico da Humanidade, rumo a maior consciência e ligação harmoniosa ao Espírito e à Divindade. Aum...

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Francisco Soares Toscano. A Sibila Comana ou de Cumes em Portugal. Os "Parallelos de principes, e varões illustres antigos, a que muitos da nossa naçam portuguesa se assemelhàrão em suas obras, ditos, & feitos."

 Em 1623 era dado à luz em Évora na oficina tipográfica de Manuel de Carvalho uma obra de grande erudição, boa psicologia e sagaz comparativismo. Do seu autor, Francisco Soares Toscano, pouco se sabe hoje, a não ser que era natural de Évora, estudou filosofia e humanidades, estava a escrever uma história de Portugal intitulada  Teatro Latino, deixou um manuscrito inédito no qual transcrevera  uma paródia ao Canto I dos Lusíadas, intitulada Festas bacchanais, copiado por T. Norton no séc. XIX, e em 1623 publicou os Parallelos de principes, e varões illustres antigos, a que muitos da nossa naçam portuguesa se assemelhàrão em suas obras, ditos, & feitos: com a origem das armas de algumas familias deste reinoAmbas as obras estão hoje acessíveis na Biblioteca Nacional Digital
A obra, com 199 fólios (ou folhas e portanto quase 400 páginas) incluiu 152 capítulos  sucintos mas bem formados e instrutivos paralelos entre grandes seres da antiguidade e portugueses, pelas suas virtudes e heroísmo, tendo ainda no fim nove paralelos entre as vidas e virtudes de mulheres da antiguidade e portuguesas.
Cento e dez anos depois, em 1723, a obra era reimpressa em Lisboa, na Oficina Ferreiriana
,   já com 432 páginas, pois acrescentaram-se (o impressor, ou algum erudito ou patriota?    quarenta e oito paralelos de príncipes e varões ilustres, e onze de mulheres ilustres. E há muitos anos o querido amigo prof. José V. de Pina Martins  ofereceu-me um exemplar  truncado: na encadernação, e na falta do frontispício, folhas preliminares e as duas últimas do índice, mas enriquecido com anotações suas que reconstituem o título em falta e mencionam o paralelo com Francisco de Sá de Miranda (28-VIII- 1481 a 17-V-1558), que foi um dos seus autores preferidos e mais trabalhados, e que sendo antepassado da minha mãe fora uma das razões da sua oferta, tal como a dum desenho moderno do busto de Sá de Miranda.
Anote-se q
ue graças ao amigo Tiago Henriques, possuidor dum exemplar completo, podemos afirmar que os acrescentos foram ditados pelo 4º Conde da Ericeira, a quem a 2ª edição está dedicada, a par do Duque de Bragança, sendo transcritos por José Miguel Ferreira o preparador da reimpressão.

A obra tem sido pouco estudada, talvez pelo seu carácter de recolha de grandes feitos guerreiros, derivada das obras de história, que em geral cita abreviadamente no fim dos capítulos, mas há nela  aspectos valiosos a destacar pois ele era um humanista muito lido, sensível, cultuando os valores morais, nacionais e perenes, nisso sendo até corajoso, ao citar, mais de uma vez exemplos ou ditos das obras do mestre dos Humanistas dos séc. XVI e seguintes, Erasmo, então ainda algo censurado pela Inquisição, embora por outros bem estudado e cultuado.

Mesmo a sua dependência grande de fontes livrescas não deve ser desvalorizada, pois para além da copiosa informação que hauriu dos mais conhecidos da história de Portugal, da Bíblia e da Antiguidade greco-romana-persa, menciona também obras menores, sermões impressos e mesmo alguns manuscritos, que de outro modo não conheceríamos.
Embora se possa considerar excessiva a descrição de feitos valerosos nas armas por portugueses heroicos, sem dúvida o predominante na obra, embora também haja vários cultores esforçados das letras e religião, tal mensagem guerreira e patriótica era importante na época dos Descobrimentos e foi muito útil e valiosa porque estávamos submetidos à dominação castelhana, e assim se podiam galvanizar os ânimos para a tarefa da Restauração. Infelizmente, nada sabemos do sucesso da obra nem de quem a leu e se ela frutificou em alguns dos portugueses mais activos na reconquista da independência, nomeadamente até de descendentes dos varões ilustres convocados na obra, seja de reis, príncipes ou heróis.
Anote-se que a principal razão de ser dos acrescentos na segunda edição derivam de se terem realizado a notável Restauração em 1º de Dezembro de 1640 e as batalhas vitoriosas posteriores, pelo que vários dos quarenta e oito acrescentos imortalizam heróis dessa gesta.
Na dedicatória prefacial a D. Teodósio, 7º Duque de Bragança, menciona Valér
io Máximo (séc. I), com os seus Ditos e Feitos memoráveis, da Antiguidade, como um dos seus inspiradores, e no prólogo ao Leitor menciona outro inspirador, Plutarco (46-120) com as suas Vidas Paralelas e os tratados de filosofia moral e espiritual,  Moralia, repletos de erudição, especulação oculta e espiritualidade, já que era um sacerdote e iniciado nos Mistérios gregos e romanos.

Início do capítulo I: Imperador Constantino e D.Afonso Henriques, fundadores sacralizados.

O Índice da obra mostra os factores, por ordem alfabética, que o guiaram nesta escola de exempla: as virtudes ou qualidades humanas, as pessoas, pelos nomes, e as armas ou famílias. Nuno Álvares Pereira é o herói mais citado em  exemplo paralelo, dezassete vezes, seguindo-se Alexandre Magno (8) D. João II (8) Afonso de Albuquerque (7), Júlio César (7). E D. Afonso Henriques, embora apenas cinco vezes, é contemplado extensamente com o I e II exemplos ou capítulos. Aborda 14 armas heráldicas, três colectivas - Portugal, Algarve, Évora e Duques de Bragança -, e dez de famílias: Pereiras, Faria, Vasconcellos de Villa Lobos, Cortes Reaes, Costas, Macedos, Bandeiras, Cogominhos, Gamas e Condes da Vidigueira. Quanto às virtudes morais, o Amor é a mais citada, nas suas variantes de amor de pátria, fraternal, filial e conjugal, neste sendo invocado Francisco Sá de Miranda, que "amou extraordinariamente" sua mulher Briolanja d'Azevedo, mais velha do que ele e "de pouca formosura exterior".  Quanto a D. Pedro I é citado em paralelo exemplar quatro vezes com os imperadores Antonino Pio, Tito e Aureliano, e Teseu, pela "generosidade e magnificência", e por castigar asperamente mas criando segurança no reino,  e pelo seu amor até ao fim do mundo por Inês de Castro, de uma forma bastante bela, que transcreveremos brevemente.

Dos Paralelos das Mulheres destacaremos  não tanto as do heroísmo guerreiro, e várias convocadas são dos dois  célebres cercos de Diu, de 1538 e 1546, mas mais as que se notabilizaram pelo studium ou esforço nas letras, ética e religião, tal Luísa Sigeia;  Dona Joana de Menezes, Condessa da Ericeira; a famosa soror poetisa Soror Violante do Céu, comparada a Sapho; a rainha D. Luísa de Gusmão; Dona Isabel de Castro, condessa de Assumar; Soror Maria Magdalena de Jesus, do convento da Madre de Deus em Xábregas, por cerca de 70 anos, escritora religiosa; Dona Bernarda Ferreira de Lacerda, autora das famosas Soledades do Buçaco; e por fim Dona Luiza Maria de Faro, condessa de Penaguião. E vamos transcrever o paralelo que Soares Toscano estabeleceu entre ela e nem mais nem menos que a famosa Sibila Comana, ou de Cumas, que até em Portugal se avatarizou num paralelo do licenciado eborense Francisco Soares Toscano: 

«Ou fossem muitas, ou uma só, que profetizou em diversas partes, às Sibilas se lhes atribui, principalmente à Sibila de Cumas, que esteve em Roma no tempo de Tarquino o Soberbo, uma grande ciência, uma grande virtude, e inteira aplicação aos  Mistérios Divinos, e quase graça profética, sendo consultados os seus oráculos, e depois seus livros. nos maiores negócios da República. Galeo, de Sibilis e Petit de una Sibila.
                                  
                                    

«Dona Luísa Matia de Faro, filha dos Condes de Atouguia, e mulher do seu primo o conde de Penaguião Camareiro Mór d'El Rey D. João IV, se aplicou aos estudos, e com grande fervor à assistência  dos Tempos, e vivendo mais de oitenta anos foi sempre consultada pelas Rainhas, e ainda pelos Reis e seus ministros, e pela nobreza, e pessoas doutas em todo o cerimonial da Corte, e em muitos negócios importantes, e com a memória mais firme, e a verdade  mais sólida, dava notícia de tudo o que leu, e viu com tanto acerto, que suas decisões eram veneradas e seguidas de todos. Memórias do tempo »

A sibila de Cumas no chão da catedral de Siena, por Giovanni di Stefano, final do séc. XV

 Destaquemos, no ensinamento humanista de Francisco Soares Toscano de resgatar a memória da vida da quase sibila portuguesa Dona Luísa Matia de Faro, a aplicação aos estudos,  a memória firme do que lia e meditava, e a formação dentro de si de uma verdade  sólida, o que lhe permitiam transmitir o que aprendera com grande acerto  e ser bem acolhida. Sem dúvida, um bom plano de trabalhos para as gerações mais novas, hoje tão confrontadas com tantos imediatismos facilitadores mas superficializantes e que impedem o desenvolvimento de inteligência sensível, de vontade determinada e de capacidade de obtenção da verdade fundamentada e mais profunda que possa ser transmitida para o bem de todos.

Na linha de assimilação das virtudes da Antiguidade no Cristianismo está a pintura de Rafael, de 1511, sediada na igreja de S. Maria del Pace, em Roma, onde as Sibilas são inspiradas por dois Anjos e acompanhadas de pequenos Eros, amor, amores, puti ou anjinhos.
 Quanto ao que ele discerne na sábia e clarividente  Sibila de Cumas, que viera da Grécia para a Campânia itálica, a mais referida historicamente e imortalizada por Vírgilio na Eneida, deixaremos para outro artigo, já que é uma linha tradicional  que tenho trabalhado e só realçarei para nossa meditação o que a mulher e a parte feminina ou anima deve desenvolver: "uma grande ciência, uma grande virtude, e inteira aplicação aos  Mistérios Divinos, e quase graça profética"

domingo, 17 de agosto de 2025

George Roerich: Shambhala. Contextualização e extracto do seu diário da expedição à Asia Central de 1925 a 1928, da família Roerich, "Trails to inmost Asia"

Yuri ou George Roerich (1902-1960, e ver neste blogue a sua biografia) transmite o que ouviu e soube durante a sua expedição, com o pai e a corajosa e resistente mãe, à Ásia Central, sobre Shambala, o rei do Mundo, Rygden Jyepo, e a vinda de Maitreya, o novo Budha...

                                       
Em 1925, após alguns meses na Índia e no Sikim,  Nicholai e Helena Roerich e o seu filho Yuri Nikolaevic,  e com alguns ajudantes, começam a pioneira expedição de Srinagar a Darjeeling através da Ásia Central, percorrendo 25.000 quilómetros pela China, Rússia, Sibéria, Mongólia e Índia que durará cerca de quatro anos (finda em Maio de 1928) e recolherá muita informação, livros (500 da religião Bo) peças e documentos pioneiros de arte, história, etnografia e arqueologia, linguística, religião, magia e ciência botânica. 

  Yuri ou George, Roerich destacar-se-á tanto pelos seus conhecimentos linguísticos e era o intérprete ideal ao saber pali, sânscrito, chinês, tibetano e mongol, como pelos militares, e por isso foi o encarregado da segurança de expedição por vezes bem complexa: quarenta e quatro camelos (e só chegarão dois) com as pessoas e coisas, exploração perigosa face aos confrontos que houve, mas que Yuri, um ser de grande capacidade de síntese e de clarividência, conseguiu controlar e ajudar a superar, e talvez destas experiências se formasse o seu conselho, mais tarde frequente, de que devemos ver qualquer assunto a partir das mais diferentes perspectivas ou fontes.

                                                 
 George transcreveu o diário que foi escrevendo com científica objectividade durante a expedição, documentou-o com boas fotografias, enriqueceu-o com equilibrada e ajustada erudição histórica, etnográfica e religiosa, e seu livro Trails to inmost Asia sai em 1930, com tradução francesa três anos depois prefaciada por Louis Marin, Sur Les Pistes de l'Asie Centrale, tornando-se um marco no conhecimento da Ásia Central, até então pouco conhecida cientificamente. O pai realizou 500 pinturas durante a expedição, das quias 350 Yuri oferecerá a dois museus russas, as outras hoje espalhadas pelo planeta...

                                                                   
Deste seu livro, já que Yuri publicara antes um Tibetan Paintings com muita informação pioneira, Trails to inmost Asia, resolvemos traduzir duas páginas  em que trata de Shambhala, a misteriosa dimensão espiritual mais elevada da Terra, situada seja no Pamir, Turquestão ou deserto central do Gobi e cujo rei ou hierarca supremo é Rig-den Jye-po, que se crê sempre estar para voltar à Terra com o seu exército para vencer as hordas do mal e iniciar um novo ciclo de luz. A iconografia dele e de Shambhala é muito rica e George Roerich estudou-a bastante, para além do seu pai também a ter descrito e a ter enriquecido com várias pinturas, algumas delas muito famosas de Rig-den Jye-po flamejante, e vários textos flamejantes.

Tanka, ou bandeira-pintura de Rigden Jyepo, por Nicholai Roerich

 Enquanto o seu pai e Helena escreveram ora como historiadores e  etnógrafos, ora como pedagogos e crentes entusiastas na sua vinda, ora como mestres espirituais e iniciados no ensinamento do Agni Yoga de mestre Morya, valorizando muito tal vinda, dimensão e reino, e logo após a viagem Nicholai utilizou muita da informação recolhida nos seus livros Altay Himalayas e, sobretudo quanto a Shambhala, no Heart of Asia, dado à luz em Nova Iorque, em 1929, George, mais cientista, mas também bom conhecedor e vivenciador das práticas e realidades espirituais, opta no seu livro publicado em 1931 apenas por referir a história e as tradições ou crenças que ouviu e, sem as validar já, prefere reservar a sua opinião para quando todo o corpo documental estiver pronto, num posicionamento crente e admirador mas menos entusiasta que os seus pais que pensavam, vendo e ouvindo tantos sinais durante o longo percurso, que Maitreya estaria mesmo para vir, ou avatarizar, brevemente... 

Uma das esculturas de Maitreya, o futuro Budha, fotografada por George Roerich
 Já antes o imaginativo Saint-Yves d'Alveydre, o viajado Ossendovsky  ou mesmo René Guénon (em 1927 com o seu tão esquemático Rei do Mundo),  e depois outros. escreveram ora mais acertadamente ora mais mistificadoramente sobre Shambhala, Kalapa,  Agartha ou Himavat, referida de facto em várias tradições e por várias designações, mas só poucos seguiram e trabalharam, ou trabalham, os ensinamentos e práticas iluminantes e libertadores, ligados ao Kalachakra de Shambhala, à tradição tibetana, tântrica, yoguica e mântrica, ou à Tradicão Espiritual perene e universal, conseguindo então sentir, ver ou ligar-se aos grandes seres e mestres e sobretudo realizar os estados conscienciais ligados aos níveis internos e elevado do mundo espiritual na Terra, no fundo, a pureza da psique, a presença viva do espírito, a primordial natureza de Buda, o reino de Deus ou do espírito no coração.  
Oiçamos então o que Yuri ou George Roerich prudentemente e sem confirmar revelações e clarividências, sem se entusiasmar com profecias e sinais, algo que talvez possamos discernir no casal Roerich, espectadores sofridos do drama das duas grandes guerras, nos  narra no seu livro, Trails to inmost Asia, a partir da página 155:

«O Tsurkha-yin-siima, ou o Templo da Astrologia, é uma importante instituição erudita na capital mongol. Foi construído em 1798 d. C. durante a vida da Quarta Incarnação de Je-tsiin tam-pa Hutukhtu. É considerado de grande santidade e os visitantes geralmente não são autorizados a entrar. É necessária uma autorização especial para ver o edifício e as imagens dentro dele.
Um corpo especial de lamas oficia no templo e uma preparação especial é exigida aos que pretendem entrar no templo. Cada aspirante deve passar por vários exames em astronomia lamaísta e disciplinas relacionadas para se qualificar como estudante ou membro do Templo de Astrologia. 

Mandala do Kalachakra, ou Roda do Tempo, com uma complexa doutrina ligada a toda a simbologia desenhada e colorida, e que ainda hoje está viva nos mosteiros tibetanos, por vezes até apenas como arte efémera realizada por uns dias sobre areia colorida.

 No templo encontram-se pinturas ou pergaminhos pintados representando o mandala ou a esfera mística de influência do sistema Kalachakra ou a Roda do Tempo. Um conhecimento profundo de kar-tsi ou astronomia é essencial para uma compreensão correta da doutrina. Esta doutrina mística foi introduzida no Tibete pelo grande Dipankara Shri-jnana ou Atisha, um famoso mestre do convento indiano de Vikramashila, no século XI. A doutrina, que provavelmente apareceu na Índia por volta do final do século X, originou-se contudo no Reino de Shambhala, uma região situada ao norte do Tibete propriamente dito. 
Entrada para o mosteiro Tashi-lhun-po, em Shigatse, na actualidade. Nele estive e fui convidado a assistir semi-secretamente a uma cerimónia demorada ao lado do abade do mosteiro.

O centro da doutrina Kalacakra era o mosteiro Tashi-lhun-po. Um dos colégios monásticos de Tashi-lhun-po foi consagrado ao estudo do Kalacakra e é conhecido pelo nome de Diin-khor-gyi da-tshang (Tib. Dus-’khor-gyi gra-tshang) ou colégio de Kalacakra.
Este colégio foi por muito tempo a principal sede de aprendizagem, onde os alunos especialmente aprovados podiam dedicar o seu tempo ao estudo dos complexos tratados sobre a doutrina. Os livros acerca da doutrina Kalacakra são dados apenas a alunos de confiança, e um estrangeiro pode obter tais livros somente depois de ter obtido uma autorização especial para fazê-lo do Dalai Lama ou das autoridades clericais do Tibete. Estes livros são raramente impressos e as impressões em bloco de madeira são preservadas em grandes oficinas monásticas. Quando uma pessoa recebe a autorização necessária, o livro é impresso em papel fornecido pelo solicitante, sem que seja cobrada qualquer preço pela impressão.
O Grande Lama de Tashi-lhun-po foi na sua Segunda Incarnação, Rig-den jam-pe dak-pa (Tib. Rigs-Idan ’"jam-dpal grags-pa), um dos governantes de Shambhala, que se diz que governam o reino por cem anos. Em sua futura reencarnação, Sua Santidade o Tashi Lama renascerá como Rigden Jye-po, o futuro governante de Shambhala, cujo destino é conquistar os seguidores do mal e estabelecer o reino de Maitreya, o futuro Budha. A doutrina de Shambhala é a doutrina oculta do Tibete e da Mongólia, e Sua Santidade o Tashi Lama é considerado o principal expositor da doutrina neste mundo. 

O nono Panchem Lama, ou Tashi Lama (por ser de Tashi-lhun-po), numa fotografia de Sven Hendi, em 1907, quando tinha 24 anos. Em exilio na China  de  1923 a 1937 quando desincarna. Yuri elogia-o pela sua devoção a Maitreya e viu a estátua de 26 metros de altura construída por ordem dele entre 1915 e 1919.

Desde a partida do actual Tashi Lama em 1923 [de Tashilhunpo e Shigatse para a China devido aos impostos do Dalai Lama, de Lhasa] a doutrina recebeu um poderoso  impulso novo, e numerosos colégios Kalacakra foram estabelecidos pelo próprio Sua Santidade na Mongólia Interior e na China Budista [para onde se exilara]. Até mesmo na distante Buriácia pode-se observar o mesmo movimento. A maioria dos mosteiros estabelece colégios especiais de Kalacakra com um corpo especial de lamas para oficiar neles. 

O Rei de Shambhala ou Rig-den Jye-po, pintura de Nikolai Konstantinovich Roerich.

Shambhala não é apenas considerada como a abóbada da aprendizagem oculta do Budismo,  é o princípio guia da próxima kalpa ou era cósmica. Diz-se que eruditos abades e lamas meditativos estão em constante comunicação com esta mística fraternidade que guia os destinos do mundo budista.  Um observador ocidental tende a menosprezar a importância desse nome ou a relegar a volumosa literatura sobre Shambhala e a ainda mais vasta tradição oral à classe de folclore ou mitologia; mas os que estudaram tanto o budismo literário quanto o popular sabem da força terrífica que esse nome possui entre as massas de budistas da Ásia Alta. Pois ao longo da história não só inspirou movimentos religiosos mas até mesmo moveu exércitos, cujo grito de guerra era o nome de Shambhala. As tropas mongóis de Sukhe Bator, que libertaram a Mongólia das tropas do General Hsii, compuseram por eles próprios uma canção de marcha, que ainda é cantada pela cavalaria mongol. A canção começa com as palavras Jang Shambal-in dayin ou "A Guerra do norte de Shambhala" e convoca os guerreiros da Mongólia a erguerem-se para a Guerra Santa de libertação do país dos inimigos opressores. "Que todos nós morramos nesta guerra e renasçamos como guerreiros de Shambal-in Khan," diz a canção.
No passado, grandes nomes da hierarquia budista da Mongólia e do Tibete dedicaram volumes inteiros à doutrina de Kalacakra e Shambhala. Entre eles, os nomes de Atisha e Brom-ston, Khe-dup-je, o terceiro Tashi Lama Pal-den ye-she (Tib. dPal-Idan ye-shes) e  Je-tstin Taranatha destacam-se. 

Nos dias de hoje, uma vasta literatura oral, que às vezes assume a forma de profecias, canções, nam-thar ou lendas, e lam-yig ou itinerários, vem à tona, e numerosos bardos cantam a balada da futura guerra de Shambhala, que marcará a queda do mal. Não diminuamos a importância desta força de despertar, que é amada ou valorizada nas tendas dos nómadas e nos numerosos mosteiros do centro da Ásia lamaísta.
Reservemos a nossa opinião até ao momento em que toda a vasta literatura do Kalacakra for traduzida e adequadamente comentada e a vasta tradição oral do Budismo for estudada e rastreada até suas fontes. Espero, num futuro volume, traçar o desenvolvimento da doutrina e literatura Kalacakra e estudar em detalhe a sua influência sobre as massas da Ásia Central
Budista. 

 Existem várias representações iconográficas de Shambhala e do Kalacakra. O Rei de Shambhala ou Rig-den Jye-po é geralmente representado sentado num trono coberto por uma almofada. Com a mão esquerda colocada no seu colo, ele sustenta a Roda da Lei; a sua mão direita faz o sinal da caridade (vara-mudra), ou às vezes é vista segurando o caule de uma flor de lótus que sustenta o livro e a espada—símbolos de Manjushri, o Príncipe do Conhecimento. Em algumas pinturas antigas, o Rei é visto vestido com uma armadura de peitoral e usando um capacete pontudo. Em imagens mais modernas, ele é visto vestido com vestes fluídas ornamentadas com ricos desenhos dourados. À volta do seu trono sentam-se os seus pais, designados pelo nome de Rig-den Jye-po ’i yab-yum, ou, às vezes, em vez deles, Rig-den pema karpo, o primeiro expositor da doutrina Kalacakra na Índia, e o Bodhisattva Padmapani.

No canto inferior, às vezes vemos representado Atisha Shrijnana, o introdutor do Kalacakra no Tibete.
Em algumas pinturas debaixo do trono do Rei de Shambhala, está retratada a guerra iminente de Shambhala contra o Lalo’i jye-po, o Rei dos seres do Mal (Evil ones). Nela vemos o Rei de Shambhala montado em um corcel negro derrotando o Rei dos La-los. Os detalhes são interessantes porque nos mostram todos os apetrechos dos antigos guerreiros tibetanos—armaduras de peitoral, capacetes com pequenas bandeiras, espadas pesadas, arcabuzes, arcos e flechas, e até mesmo armas de bambu colocadas em estranhas carroças.
Outras imagens representam a mandala de Shambhala. O Rei de Shambhala é representado sentado em frente a uma das torres de seu palácio. O palácio, uma grande estrutura no estilo Sino-Tibetano, é cercado por um círculo de altas montanhas nevadas, pois diz-se no lam-yig de Shambhala ou Itinerário de Shambhala que o Reino de Shambhala está situado em uma região montanhosa abrigada de todos os lados por altas cadeias nevadas. 
Caminho para Shambhala, Path to Shambhala, 1928, Nicholai Roerich

 No canto superior de tais pinturas, vemos a representação de Pal-den ye-she, o terceiro Tashi Lama, segurando a malga monástica e a forma de uma cabeça do yi-dam de Kalacakra (Tib. dPal-dus-kys ’khor-lo yab-yum). Muito frequentemente, o yi-dam é representado com quatro cabeças e doze ou vinte e quatro braços. A cor de seu corpo é invariavelmente azul; sua shakti ou yum é de um amarelo-laranja escuro ou às vezes vermelho. O ydam de Kalacakra é frequentemente representado como um bodhisattva. Quando representado como tal, ele veste o traje de bodhisattva e segura em suas mãos unidas a Roda da Lei ou Dharmacakra. Nesta forma, a cor de seu corpo é ocre amarelo. O yi-dam de Kalacakra tem sido frequentemente mal interpretado na literatura ocidental sobre o assunto como um deus Kalacakra. Na realidade, o yi-dam de Kalacakra simboliza a força mística do sistema e nunca é considerado um ser divino.
No Templo da Astrologia em Urga, os estudantes lamas são primeiro treinados na astronomia e astrologia e depois iniciados nos segredos de Kalacakra. Existe uma ordem prescrita de assuntos na qual o estudo do Kalacakra deve ser abordado; mas como isso requereria uma longa descrição longa dos sistemas tântricos aliados, teremos de a omitir aqui.
Em Urga, o templo dedicado a Maitreya, o próximo Budha, aquele que está para vir, mas inegavelmente sem condições actuais no mundo exterior, por muito que se deseje e se afirme a sua vinda em várias tradições e grupos...

O melhor templo no küren [em Urga] está dedicado a Maitreya. A enorme estátua do Budha vindouro foi executada por artesãos chineses em Dolon-nor. O primeiro templo a abrigar a estátua foi construído durante a vida da Quinta Incarnação do Bogdo Gegen, mas como logo desabou  foram enviados e representantes ao Tashi Lama no Tibete para investigar a razão de tal calamidade. O Tashi Lama deu a explicação de que a imagem do futuro Buda preferia um templo de arquitetura tibetana, e diz-se que ele mesmo contribuiu com um plano geral para o novo templo.
 O templo actual foi construído durante a vida da Sétima Incarnação de Je-tsün tam-pa Hutukhtu. É um edifício quadrado de madeira com uma cúpula no meio do telhado, coroada com um gañjira, e as bandeiras tradicionais ou jyal-tsen nos cantos. A colossal imagem de Maitreya, com cerca de quinze metros de altura, fica no meio do templo. Atrás da figura na parede norte, estão cinco enormes figuras de bodhisattvas acompanhantes. As outras paredes estão cobertas com vitrines contendo imagens de bronze dos mil Tathagatas.[seres que se foram. que já atingiram a libertação.]
Em frente à imagem de Maitreya, há uma mesa de altar com as lâmpadas de oferenda habituais, os oito símbolos auspicioso e grandes potes de incenso. No meio do altar está colocada uma representação emoldurada da Samsaracakra ou da Roda da Vida.  Colunas 
maciças de madeira pintadas em cores brilhantes sustentam uma galeria na qual são colocadas prateleiras ou kün-ra, contendo dois conjuntos completos do Känjür e Tänjür. Fora do templo, há numerosas rodas de oração, e os peregrinos geralmente caminham ao redor do templo e colocam as rodas em movimento.»
Os oito símbolos auspiciosos da tradição himalaica, bem redesenhados por Nicholai Roerich. Que eles nos inspirem e abençoem  a realizar mais os níveis espirituais e a sermos mais lúcidos, corajosos, criativos, multipolares, fraternos. Aum Hah Hum...

sábado, 16 de agosto de 2025

Aniversário de George Roerich, orientalista, etnógrafo e filho de Nicholai e Helena Roerich: sua vida e obra.

                                         
                   Nicholai, Helena, George e Svetoslav, em Nagar, Kullu Valley, Índia.

A 16 de Agosto de 1902
nasce em Okulovka, Novogorod, Rússia, George (ou Yuri) Roerich, filho do notável pintor Nicholai Roerich e de Helena Roerich. Em 1904 será o seu irmão e companheiro, Svetoslav, a vir à luz e destacar-se-á como pintor, casando-se em 1945 com Devika Rani, uma famosa actriz de cinema e viverão e desencarnarão em Bangalore, em 1993. Ainda me correspondi com ele, mas convidado a visitá-los não pude. 
 Desde cedo mostrou facilidade na aprendizagem de línguas, aos 15 anos estudando o egípcio e o mongol na Rússia, e desde os 17, em Londres, o sânscrito e o pali. De 1920 a 1922 está nos USA com os pais e aprofunda na universidade de Harvard  o sânscrito e os estudos de arte ornamental e simbólica, bem como o chinês. Em 1922-23 estuda em Paris, colabora com vários sábios e aprofunda sânscrito, persa, mongol, chinês e tibetano, doutorando-se em Filologia Indiana em 1923. Chega no fim do ano aos sonhados Himalaias, onde aprofunda os estudos de tibetano e de arte, descobrindo ligações entre a Rússia e o Tibete, publicando o livro pioneiro Tibete Paintings.
Em 6 de Março de 1925, após uns meses de visita da Índia e do Sikkim,  começa a expedição da Ásia Central com os pais, e alguns ajudantes, que os leva de Srinagar até Darjeeling através do interior da Ásia central (Turquistão chinês, Rússia, Tibete, Mongólia) durante mais de quatro anos (fim, em Maio de 1928), 25.000 quilómetros, e recolherá muita informação, peças e documentos pioneiros de arte, história e arqueologia (nomeadamente dolmens e cairns ou pirâmides de pedras), religião, magia e ciência botânica, destacando-se ainda pelos seus conhecimentos militares, e por isso foi o encarregado da segurança de expedição (por vezes bem complexa, pois iam 44 camelos com pessoas e coisas, e perigosa) e linguísticos pois era o intérprete ideal ao saber hindi, sânscrito, tibetano e mongol. Dotado de grande sensibilidade, clarividência e capacidade de síntese, conseguiu controlar e ajudar a superar as dificuldades, e talvez destas experiências se formasse o seu conselho, mais tarde frequente, de que deveremos ver qualquer assunto a partir das mais diferentes perspectivas ou fontes, se queremos chegar à verdade, curiosamente algo hoje negado e perseguido pelas narrativas oficiais dos governos e meios de comunicação ocidentais.
Instalam-se em Darjeeling , no Talai-Pho Brang, onde fundam a 24 de Julho de 1928 o Instituto Urusvati, de Investigação Himalaica, para ordenarem, preservarem, estudarem e divulgarem o extenso material recolhido, e recebem e dialogam com alguns visitantes tibetanos especiais, tal o Geshe Rimpoche do mosteiro em Chumbi, bom conhecedor dos ensinamento do Kalachakra, de Shambhala e de Rigden Jyepo, e dinamizador de tal corrente espiritual na arte e no culto.
  Mudam-se uns meses depois para Naggar, em Kullu Valley, onde estabilizarão, e ele dirigirá durante dez anos o Instituto, com várias publicações valiosas a serem dadas à luz. Embora um erudito e intelectual, era sobretudo um espiritual e constantemente advertiu do perigo do intelectualismo, pois o sentir, o sentimento, a simpatia, a aspiração e o amor são essenciais na progressão no caminho da realização espiritual, da beleza, da ética. Toda a família trabalhava espiritualmente no aprofundamento da energia psíquica, dos raios cósmicos, da ligação ao mestre.
 George transcreveu o diário que foi escrevendo durante a expedição, documenta com boas fotografias, enriqueceu-o com equilibrada e ajustada erudição histórica, etnográfica e religiosa, e  seu livro Trails to inemost Asia sai em 1930, com tradução francesa três anos depois prefaciada por Louis Marin, Sur Les Pistes de l'Asie Centrale, tornando-se um marco no conhecimento da Ásia Central, até então pouco conhecida cientificamente. O pai realizou 500 pinturas durante a expedição, hoje espalhadas por todo o planeta...
                          Entre 1934 e 1935 participa  com o pai numa nova expedição à Mongólia e à Manchúria, China e Japão, desta vez já não financiada pelo governo russo de Estaline mas pelo discípulo de Nicholas Roerich e secretário do Departamento da Agricultura dos USA, Henry Wallace, para colherem sementes e plantas. Regressam a Naggar em Outubro de 1935,  e estabilizam finalmente no Centro, que irá recebendo ilustres visitantes e investigadores. Eu próprio passados muitos anos também o peregrinei por duas vezes... 
A 2ª grande Guerra é pois passada em Naggar, com o pai tentando movimentações para a Paz, e a restante família investigando, escrevendo, meditando. Com a morte dele 1947, George e a mãe Helena mudam-se para Deli, onde a mãe não se dá bem com o calor,  Khandala e por fim a fresca himalaica de Kalimpong onde já ensinava chinês e tibetano, e história budista: com as autoridades soviéticas a demorarem a autorização do repatriamento de Helena, a mãe desincarnará na Índia, na terra do Sanata Dharma, em 1955.
 Só em 1956, após o encontro com a delegação soviética que foi a Índia,e em particular com Nikita Kruchev , é que George será convidado a regressar à Rússia como membro do Instituto de Estudos Orientais, da Academia das Ciências da URSS, onde dirige e dinamizará partir de Agosto 1957 a secção de Filosofia e História das Religiões da Índia, que alarga em Tibetologia e Nomadismo, escrevendo dezenas de artigos, começando um Dicionário de Russo, Tibetano e inglês, com correspondências em sanscrito, e uma História da Ásia Central, e ensinando sânscrito. 
Divulgou ainda, além das pinturas do seu pai,  os ensinamentos espirituais da Ética viva, dados pelos pais nos livros do Agni Yoga, o que foi um feito na época de forte materialismo e ateísmo de Nikita Krushchov. E quando lhe perguntaram sobre o que  fazer face a tais situações, Yuri respondeu: "Considerando as condições e as possibilidades actuais, devemos esforçar-nos por falar numa linguagem que seja compreendida e, através da arte, da ciência e da moralidade, influenciar os  nossos ambientes e elevar o entusiasmo e o heroísmo, que estejam ou sejam direcionados para o bem comum."  E de facto o brilho do seu génio, o amor da sua alma, a realização espiritual e divina que tinha, estimulavam beneficamente todos os que entravam em contacto com ele.
 Infelizmente em 1960, com 58 anos, talvez pelo excesso de trabalho, um ataque de coração fê-lo deixar a Terra quando tanto ainda se esperava dele... Gate, gate paragate, parasamgate, bodhi svaha!
Do seu livro Trails to inmost of Asia, ou do título em francês Sobre  os trilhos ou pistas da Ásia Central, resolvemos traduzir duas páginas (que encontrará destacadas no blogue no dia 17) em que trata de Shambhala, a misteriosa dimensão espiritual mais elevada da Terra, situada seja no Pamir, Turquestão ou deserto central do Gobi e cujo rei ou hierarca supremo é  Rig-den Jye-po, que se crê sempre estar para voltar à Terra com o seu exército  para vencer as hordas do mal e iniciar um novo ciclo de luz. A iconografia dele e de Shambhala é muito rica e George Roerich estudou-a bastante, para além do seu pai também a ter descrito e a ter enriquecido com algumas pinturas, uma delas  muita famosa de Rig-den Jye-po flamejante, em Agni....
 Enquanto o seu pai e Helena escreveram ora como etnógrafos, pedagogos e crentes entusiastas, ora como  inspirados, nomeadamente no ensinamento do Agni Yoga de mestre Morya,  sobre tal dimensão e reino, George, mais cientista, embora bom conhecedor e vivenciador das práticas espirituais, opta apenas por referir a história e as tradições ou crenças e, sem as validar já, prefere reservar a sua opinião para quando todo o corpo documental estiver pronto. Já antes, tal o imaginativo St. Yves de Alveydre, ou sobretudo nas décadas seguintes muitos  escreveram, mais ou menos miticamente sobre Shambhala, enquanto outros seguiram mais o conhecer e praticar a tradição tibetana, tântrica e mântrica ligada ao ensinamento de Kalachara e de Shambala. 
 Os Anais Azuis, Deb-snon, uma volumosa crónica do budismo no Tibete, composta entre 1476 e 1478 por Gos lo-tsa-ba gZon-nu-dpal, e dividida em 15 skabs períodos e onde perpassam os grande e seus ensinamentos e escolas, foi outro dos livros muito valiosos que George Roerich nos deixou, neste caso uma tradução gigantesca de mais mil páginas dada à luz em 1949,  e encontrando-se hoje acessível no Internet Archive...
Em 2002 publicaram-se os dois volumes grandes da sua correspondência, que se encontra online, em russo, e a sua História da Ásia Central está a ser também publicada, havendo vários centros dedicado às vidas e obras de Yuri, Nicholai, Helena e Svetoslav Roerich, dem dúvida génios, heróis ou mestres da Rússia e da Humanidade. 
 
 Pintura final de Nicholai Roerich:  Aum Mani Padme Hum, avistado pela família Roerich na sua expedição. E com eles e os peregrinos, e o P. António de Andrade nosso missionário de Oleiros que pioneiramente o traduziu cristãmente,  também nós repetimos: - Oh joia da consciência espiritual, brilha no nosso ser, chakras, actos...
 


sexta-feira, 15 de agosto de 2025

O encontro no Alasca de Vladimir Putin e de Donald Trump. Potencialidades, realidades e desafios.

Uma fotografia do último encontro há sete anos. Como evoluíram as mentes e almas de cada um? Quem estará a lutar mais pelo seu ego, pelos interesses do seu país e alianças, ou mesmo pela Justiça e o Bem da Humanidade? Haverá uma simpatia anímica e quem sabe de missão entre os dois que frutificará?

Nestas horas que antecedem o encontro em Anchorage, no Alaska gelado, entre os representantes das duas super potências USA e Rússia para discutirem os diferendos que existem entre elas e particularmente o conflito na Ucrânia e as relações económicas e políticas entre os dois e a China, a Índia, o Irão (e Israel, muito enfraquecido após o falhanço do golpe traiçoeiro e a consequente guerra dos 12 dias), a Turquia, os BRICS,  haverá milhares de previsões e expectativas a serem formuladas pelos mais diferentes tipos de comentadores, e na imagem vemos alguns dos melhores...

 Talvez possamos imaginar com acurácia algumas das direcções e resultados do encontro, se reflectirmos um pouco sobre alguns dos aspectos que subjazem tal teatro, talvez mais político e mediático que diplomático dada a natureza do Ocidente político e particularmente de Donald Trump, um grande ego, com pouca cultura e profundidade de conhecimento e de decisões, pior ou melhor informado ou desinformado pelos conselheiros, pelo que sinceramente nunca se pode ter a certeza que o encontro, de certo modo de xadrez, vai correr bem pois na sua impulsividade de jogador de luta livre vem duma série de encontros políticos em que esmagou ou escravizou os seus dialogantes, os casos mais evidentes foram os da sabujice de Ursula e de Rutte.

Todavia certamente tal visibilidade do encontro e confronto entre os dois jogadores ou lutadores, não deve ser mais do que uns minutos iniciais e finais, dando-se depois início a uma complexa exposição das posições de ambas as partes, em que tudo pode acontecer, apesar da diplomacia cordata que exibirão e provavelmente o encontro de algumas almas inteligentes e com sensibilidade ao coração delas, da Humanidade e da Divindade.

 Justificadamente,  face à incerteza dos resultados deste 1º encontro, os norte-americanos, ou melhor Trump, já afirmou e insiste que o mais importante será um segundo, com Zelensky, e até, admitiu reluntantemente, forçadamente mesmo, com um ou dois dos representantes da União Europeu, que ele despreza ou menospreza e com razões, num encontro em que o cenário psíquico será certamente de grande imprevisibilidade e risco.

Detenhamo-nos nele: Putin e Trump, e agora Zelensky. Ora como é que o megalómano e irascível Zelensky se vai comportar? Como é que Putin conseguirá não se sentir mal face à obrigação de dialogar com um homem sem palavra, traiçoeiro e cheio de ódio à Rússia, que se pudesse assassinar Putin, como já tentou, o faria de novo? Que vibrações estarão no ambiente de tal encontro? 

Ultrapassemos essa tempestade ou trovoada no ar, e viremo-nos para os misteriosos, neste momento, representantes não da Europa que essa está oprimida e silenciada, mas da desgraçada da União Europeia ? Quem poderão ser os mais suportáveis ou engolíveis? Ou quem é que serão os que o dito Estado sombra, ou deep State, vai escolher, provavelmente por indicação dos infiltrados (que há em todos os governos e instituições) do W.E.F., da Open Society, da alta finança internacional? Macron é provavelmente o mais esperto desses avençados, e depois quem mais? A histérica e fanática anti-russa Kaja Kallas certamente não, o semi-nazi Merz também não. Ursula cada vez mais exposta como corrupta e sabuja? Starmer, o Sir sem espinha, sionista, representante da alta finança e do antigo imperialismo, talvez? Finalmente, o moço de fretes português, António Costa, talvez possa ser, provavelmente pela aparência multipolar, pois na essência é um já avençado à oligarquia infrahumanista a que obedece.

 Neste primeiro encontro, tão desejado sobretudo por Donald Trump (e que Putin de certo modo aceitou para o ajudar...) para fazer esquecer o caso Epstein que tanta o ensombrece, bem como a derrota da NATO e da União Europeia, cada vez mais evidente no campo de batalha da Ucrânia, e ainda para brilhar um pouco mais na sua capacidade de ser um duro e que cumpre as promessas, quem sabe desejoso na sua megalomania de ser Nobel da Paz (após Obama, o que vale, embora quem sabe se Trump sonha recebê-lo com Putin) certamente os aspectos económicos da cooperação entre os dois países bem como no quadro das relações internacionais vão ser importantes, quem sabe abrir realmente uma nova era de cooperação entre os dois gigantes (mesmo assim difícil face às oposições da oligarquia decadente ocidental), e poderão disfarçar o desentendimento quanto ao que se acordará ou concederá à Rússia quanto ao que está a vencer e iria vencer no terreno do conflito com a Ucrânia, e que, segundo os criadores exploradores móres da russofobia Ursula e Merz, CNN e SIC, Milhazes e Rogeiro (como destacou Herman José em vídeo memorável), querem chegar até ao fim de extremo da Europa, pondo em destaque as mitificantes profecias ou centúrias de Nostradamus...

Certamente o mais necessário e difícil será mesmo o acordo entre a Rússia como a Ucrânia dado as suas posições oficiais são incompatíveis, pelo que não poderemos esperar o aval da Rússia se não forem garantidos os objectivos da Operação Militar Especial, expressos desde o início: reintegração da zona de Donbass já de jure, ou pela Constituição, como Nova Rússia, na Federação Russa, garantias do mesmo para as zonas que faltam em Zaporizhia e Kherson. E garantias de segurança de não entrada na NATO, ou mesmo fim de tal aliança militar tão ameaçadoramente expansiva (e criminosa). Fim do armamento renovado maior, realização de eleições democráticas e  desnazificação da Ucrânia, bem complexa face a quantidade de amigos de Zelensky e de extremistas do Azov, bem como a adesão de uns 30% dos ucranianos (sobretudo do Oeste) à continuidade da guerra "vitoriosa", segundo os vários Milhazes, Rogeiros, Soleres e Isidoros contra a Rússia?  


 Creio assim que o encontro no Alasca, uma zona unificadora do Leste e do Oeste e tão rica de potencial económico e científico,  é altamente simbólico, e uma semente para um futuro entendimento mundial multipolar, e também um desafio aos warmongers anti-russos (que rodeiam porém Trump e o influenciam constantemente), é um desafio à democratização pacificadora da Ucrânia sem Zelensky nem extremistas nem mais NATO. Mas até que ponto é que os cães vão ladrar e morder e caravana da boa vontade passar não sabemos...

Na realidade, a expectativa mais elevada que se tem feito ouvir e se deseja realizar é estabelecer-se um cessar fogo imediato e incondicional, algo que o próprio algo cataventoso Trump tem repetido como jogador de poker, seja fazendo bluff, seja tentando em bravata ameaçar e enfraquecer a posição justa do Kremlin e dos russos. Ora tal parece claramente impossível, a menos que Vladimir Putin e Lavrov e os outros membros da comitiva, já tão enganados pelo Ocidente, nomeadamente o não haver expansão da NATO para o Leste, ou quanto ao cumprimento dos acordos de Minsk, e que levaram à Operação Militar Especial russa, fossem muito ingénuos e claudicassem perante as exigências destrutivas de grande parte do projecto libertador da Operação Especial e o momento vitorioso do exército russo, à custa de muito sacrifício, sangue, mártires, dos quais nomearemos para finalizar este pequeno texto a tão valiosa filósofa mártir Dara Dugina Platonova, filha do filósofo e geo-estratega Aleksander Dugin, saudando-a, invocando-a, relembrando a sua leitura. Lisboa, 19:31. 15 VIII 2025.

 

Sábia e heróica na Virtude, mas na Fortuna terrena leve...

 Breve aditamento às 13.49 de 18 VIII 2025: Após muitos comentórios a favor e contra o teor do encontro, distinguindo-se nisso mais violentamente vários políticos do Partido Democrático dos EUA, realiza-se hoje o tal 2º encontro e onde estarão afinal Macron, Merz, Meloni, Starmer e Ursula ao lado de Zelensky para chegarem a um acordo com Trump e as propostas bem justificadas e expressas, pela 1ª vez à população ocidental tão manipulada, de Vladimir Putin. Aceitá-las ou então recusá-las é pouco crível, pelo que tentarão apresentar contrapropostas e atemorizar Trump, considerando-o um fraco ou um traidor à causa do Ocidente oligárquico que eles defendem. Conseguirá Trump resistir, quantos conselheiros importantes o apoiam no sentido de que o melhor é a cedência dos terrenos do Leste ucraniano de maioria étnica russa e que já fazem parte da Nova Rússia, algo que Zelensky e UE não querem? 

Ou está ele algo isolado, e claudicará, e continuará a enviar armas para sustentar o moribundo regime banderita de Kiev e o seu megalómano tão adorado pela coligação dos cocainómanos e dispostos a lutar até ao último ucraniano alistado miseravelmente à força? 

  Fazendo votos para que finde o desnecessário conflito entre dois povos irmãos e amigos até à revolução de Maidan em 2013-2014 orquestrada pela CIA, e os dois fanático anti-russos Victoria Nulland e John McCain e os elementos neonazis ucranianos.  

Finalizemos com  imagem da jovem  mártir e mestra espiritual russa Daria Dugina


Como seres de amor e da verdade, trabalhemos e lutemos no Optimismo Escatológico, de Dara Dugina e da Tradição Perene!