domingo, 19 de maio de 2024

Sobre o mistério do Espírito Santo. No domingo do Pentecostes de 2024.

                                                              

Embora a palavra espírito tenha uma pluridimensionalidade de sentidos, que deveríamos conhecer melhor, sobretudo se consideramos que ele é seja a nossa identidade seja a terceira pessoa da Trindade, seja o espírito universal, seja a força vital ou sopro animante cósmico e humano, podemos aproximar-nos dele segundo o Cristianismo e admitir, seguindo os relatos evangélicos, que consciencializado, soprado, infundido ou despertado (e é bem complexo discernir o melhor verbo a ser usado) o Espírito, santo e divino, nos primeiros discípulos de Jesus, operada depois a espectacular manifestação ígnea no Pentecostes grupal, nunca mais o mistério do Espírito ou do Espírito Santo deixou de desafiar milhões e milhões de cristãos que, por vários modos ou razões, tomaram conhecimento tanto desse conceito, pessoa ou energia como de tais acontecimentos que, em belas imagens e ferventes invocações ou orações, foram tão trabalhados por artistas e religiosos ao longo dos séculos.

Se no Cristianismo houve uma efervescência grande inicial religiosa entusiástica, que as cartas de S. Paulo dão testemunho, do encher-se do espírito e obrar maravilhas, cedo essa possível irrupção do espírito libertador, ou de estados psico-somáticos mais libertos da modorra do ritualismo, do convencionalismo, do judaísmo, ou se quisermos ainda que permitiam melhor acesso ao espírito e ao divino, e que davam energia e voz impactante aos crentes reunidos nas primeiras assembleias, cedo tal despertar começou a ser visto em certos aspectos como perigoso e por isso necessitando de ser controlado ou mesmo reprimido por uma crescente estruturação tanto hierárquica como funcional e dogmática, proveniente dos apóstolos e seus sucessores dirigentes das pequenas igrejas que se formavam, os quais, por razões compreensíveis, tiveram de controlar tais dons, de certo modo tendendo a reservá-los para si ou para a sua jurisdição e controle.

Quanto à estruturação ou mesmo acentuada afunilização dogmática do mistério do Espírito santo, ela foi-se fazendo através de sucessivos concílios que, melhor ou pior, isto é, mais verídica ou inveridicamente, criaram uma unidade doutrinal que foi resistindo, por vezes mais violentamente, face ao que se convencionou chamar como heresias, mas de tal forma que não poderemos dizer se a Igreja se aproximou mais do Espírito ou se os fiéis puderam experimentalmente conhecer melhor o Espírito com tais definições e dogmatizações, ou mesmo, especulando-se, se o Espírito se sentiu mais ou menos configurado ou desfigurado por tais narrativas e dogmatizações. Quantas pessoas sabem o que é o espírito individual, ou conhecem ou sentem mesmo o Espírito santo, sem ser por imaginação ou por crença no que aprenderam?

Certamente houve grandes diálogos e disputas e houve bons contributos nos milhares e milhares de livros que se foram escrevendo sobre esse tão infixável ou indefínivel Espírito Santo, mas que acabou por ficar lata e abrangentemente caracterizado ou definido como o amor que liga o Pai e o Filho, e que portanto o Pai e o Filho podem transmitir a quem quiserem ou a quem o merecer.

Talvez a expressão “inspirados pelo Espírito”, por uma força divina, ou então pelo Pai e Filho que se amam e adoram, será o que de mais prático e compreensivo terá ficado, com aplicação na criatividade nomeadamente literária ou paranética, para além dos sete dons do Espírito santo, estes uma boa forma catequética de se estimularem as pessoas a desenvolverem um espírito bom, ou a manifestarem o espírito divino que está neles pelas virtudes, ou, mais passivamente, de se abrirem ou receberem esse dom, essa inspiração e acção do Espírito, divino, individual ou universal.

O que ficará ainda de mais visível, a par da invocação do espírito feita nas missas e em alguma orações, e porque o subtil, o religioso, o sagrado incorporam-se mais facilmente no corpo e na vida das pessoas em momentos de maior emoção e alegria, serão sem dúvida as celebrações do Pentecostes e as festividades do Espírito santo, no fundo invocações e manifestações da presença e dos dons divinos e que se estabelecerão como devoções e cultos do Espírito santo na história do Cristianismo desde os séculos VIII.

E hoje, Domingo de Pentecostes, já no século XXI,  quantas pessoas conseguiram invocar ou meditar e sentir ou contemplar o Espírito, seja o seu, seja o Espírito santo, terceira Pessoa da Trindade?

E quantas pessoas conseguiram participar seja em missas vivas e invocadoras do Cristo e do Espírito Santo, ou das nossas tradicionais festas do Divino Espírito, celebradas sobretudo nos Açores e Brasil?

Pois então, medite, ore, invoque, contemple e incarne mais o Espírito nestes dias...

sábado, 18 de maio de 2024

"O Caminho da Rússia". Ensaio de Alexander Dugin, traduzido a partir da versão inglesa de Lorenzo Maria Pacin.

                                     

 Alexander Dugin é um os pensadores mais tradicionais e conhecidos da Rússia, com um percurso numa linha de filosofia perene, nacionalista e imperialista (no sentido de Julio Evola), assumindo corajosamnte uma concepção ideológica anti-liberalismo Ocidental, razão pela qual tem sido vilipendiado e diabolizado tanto pelos políticos, analistas e meios de informação ocidentais  como por esses outros instrumentos manipuladores da oligarquia ocidental que são as dezenas de Institutos, Centros e Conselhos (tal o Atlantic Council, o Wilson Center, o Europe Center, etc.) de propaganda pró-americana e anti-russa, além do Google e a Wikipédia. 

Em geral é apresentado no Ocidente como o guru de Putin quando na realidade não há certezas ou fotografias de tal encontro e em muitos aspectos têm visões diferentes, para além de que Putin procurou muito tempo amizade e compromissos com os Ocidentais e entrar até na NATO, e foram estes que o foram enganando com acordos de papel, e armando e preparando a Ucrânia para entrar em guerra com a Rússia, ao contrário de Dugin, que embora cristão ortodoxo, sempre foi muito crítico da degeneração do Ocidente e dos males do neo-liberalismo oligárquico anti-tradicional, anti-valores morais e nacionais, contrapondo uma educação tradicional firme na Rússia. 

 Tendo nascido em 1962, Alexander Dugin sofreu em 20 Agosto de 2022 um rude golpe quando a sua filha de 32 anos, Daria Dugina Platonova, uma filósofa já de grande valor, foi assassinada por uma extremista ucraniana, pelo que a sua visão guerreira e dramática da vida ainda mais se acentuou e assim a sua forte linguagem ou mesmo estratégia de combate, de luta ao máximo contra todos os inimigos, não é bem vista por muita gente. De qualquer modo é bem valioso conhecermos e compreendermos a sua cosmovisão estando ou não de acordo com ela, tanto mais que Aleksander Dugin é considerado hoje o mais importante pensador e filósofo do mundo russo, havendo já  traduções suas em língua portuguesa e brasileira, ainda que muito soterradas pela contra-informação internética anti-russa...

A alma do povo russo, por Mikail Nesterov.
               
                   O Caminho da Rússia, por  Alexander Dugin
 
«Muitos admiram-se por é que os ucranianos resistem tão ferozmente? - A razão é que eles não estão em guerra connosco, mas sim com a imagem que vive nas suas mentes. Houve um episódio da série de televisão Espelho Negro em que as pessoas lutavam com monstros terríveis, mas afinal eram apenas monstros feitos por dispositivos ópticos especiais que as próprias pessoas tinham que usar (havendo punição se não cumprissem) e o que parecia serem 'monstros' eram as próprias pessoas.
Os ucranianos  veem-nos como monstros, estão em guerra com uma quimera que lhes foi imposta e esta quimera é terrível, mas eles não veem mais nada.
Nós não nos preparamos para esta guerra, não entendemos com o que estamos lidando, não criamos tal imagem do inimigo. Portanto, não compreendemos plenamente o que está a acontecer. Talvez seja correcto não termos seguido esse caminho, mas a gravidade do que está a acontecer está a ser claramente desvalorizada.
Quanto mais feroz a luta, maior a fúria de nosso povo; ao mesmo tempo, a imagem do inimigo já foi relativamente formada nas frentes. Na frente doméstica,  estamos ainda perplexos. Como podem eles fazer isso? Na frente já não fazemos tal pergunta: a questão é outra: como derrotar o inimigo e, francamente, como destruí-lo. Só se pode destruir o que se destesta ou odeia e aqueles que mais odeiam, lutam mais ferozmente e alcançam o máximo nesta guerra.
Estou convencido de que a Rússia não deve deixar este processo seguir por si só; se o deixarmos, o ódio da frente espalhar-se-á gradualmente  para a rectaguarda e  tornar-nos-emos mais como o inimigo, ou seja, o ódio entrará em nossos corações. Ele entrou nos corações dos ucranianos há muito tempo. Agora depende de nós. Afinal, não podemos deixar de notar que, à medida que a guerra avança, gradualmente adoptaremos os traços do inimigo. Relutante e tardiamente, mas ainda assim.
Neste momento, as autoridades estão apenas a tentar conter o processo mas ele é como um rio. A dado momento, a "barragem humanista" vai estourar e toda a sociedade vai se lembrar das linhas de Konstantin Simonov [1915-1979]: "Quantas vezes o encontrar, quantas vezes o matará". Ninguém mais se vai  importar com o que as autoridades permitem ou proíbem.
Precisamos de um caminho diferente, precisamos de uma verdadeira ideologização da guerra. Uma ideologização completa e sistemática. Não fragmentada e fragmentária, como é o caso agora.

                                O verdadeiro inimigo
 Em primeiro lugar, a guerra é travada com o Ocidente. Portanto, o principal inimigo é o Ocidente. Os ucranianos não são o principal inimigo;  é
portanto o Ocidente que deve ser verdadeiramente odiado, e aqui Konstantin Simonov [herói da 2ª grande guerra e escritor] é relevante. Devemos, portanto, expulsar o Ocidente de nós mesmos, caso contrário teremos uma duplicidade de padrão: ele mata-nos e nós adoramo-lo. O liberalismo é mais perigoso do que o nazismo ucraniano, porque foram os liberais ocidentais que lançaram, criaram e armaram o nazismo ucraniano. É necessária uma desliberalização consistente (pois é mais importante do que a desnazificação que está a acontecer do país). A desnazificação também é necessária, mas é uma consequência, não uma causa, um sintoma, não a essência da doença. Além disso estamos a lutar contra o nacionalismo, mas não nos  devemos tornar em nacionalistas. Nós somos o Império e como herdeiros da monarquia e como sucessores da URSS, somos mais do que uma nação.
A nossa ideologia deve ser imperial,
aberta, clara e agressiva. O Império deve ser representado de forma carismática. Nosso império, Roma, está travando uma batalha mortal com o "Império" oposto, e em essência o Anti-Império, isto é, com Cartago.
Só quando o exército, o povo, o Estado e a sociedade estiverem em guerra com Cartago, com o Ocidente liberal, é que derrotaremos o nazismo ucraniano. Tudo o que faremos é calcar com os pés a Ucrânia. Diante desse terrível e sério inimigo, essa pequenez obsessiva parecerá insignificante.
Se disser a um russo "a Rússia não existe", ele encolherá os ombros. Se disser a um americano "a América não existe", ele encolherá os ombros. Se  disser a um ucraniano "a Ucrânia não existe", ele se tornará violento e gerará uma altercação. Porque a Ucrânia existe, mas não existe quando somos o Império, e nossa consciência é imperial, uma consciência firme, forte, auto-confiante, ofensiva.
A forte identidade do inimigo pode ser esmagada não pela forte identidade em si (nacionalismo russo), mas por uma identidade mais forte que é a identidade imperial.
Esta transformação ideológica da sociedade é inevitável. Ela pode ser adiada por algum tempo, mas não pode ser evitada. Estou convencido de que o nosso governo não queria esta guerra. Eles tentaram tudo para adiá-la. Ela pode ser adiada, mas não pode ser impedida e agora não pode ser detida. Ela pode ser ganha ou pode desaparecer. É compreensível que uma parte da elite esteja em pânico. Eles não podem aceitar a fatalidade do que está a acontecer, e esperar, contra todo o senso comum, que possam de alguma forma retornar a situação ao passado, é impossível; adiar e procrastinar sim, é possíve
l.
Parar e v
oltar à estaca zero não é possível; tudo o que nos espera é a guerra e uma vitória difícil, incrivelmente difícil. Nosso país será alterado irreversivelmente ao longo do caminho. O Estado terá mudado, a sociedade terá mudado.
Ninguém desesperadamente quer mudar por conta própria, mas isso já é impossível. É o destino. A mudança será imposta por uma necessidade de ferro. A todos e em tudo.» 

Eis-nos com uma ante-visão que desagradará a muita gente: uma visão bem dramática, guerreira, imperial e de luta frontal com o neo-liberalismo autocrático e excepcionalista Ocidental, que arma o exército ucraniano, quer explorar a sua população "até ao último ucraniano", como alguns políticos norte-americanos afirmaram.
Também a sua visão de que haverá, ou é necessária, uma
mudança radical da educação e das mentalidades dentro da sociedade russa, no sentido de se compenetrarem de que estão numa guerra difícil, ou quase total, com o Ocidente e o seu liberalismo corruptor e desvirtuador e que portanto não podem pactuar com ele, não agradará a muita gente, com mentalidades de mais compromissos e menos cortes radicais.

                                

Por isso mesmo, face a um futuro que ninguém sabe prever com exactidão, é valioso ouvirmos uma das grandes almas da Rússia que, ainda que traumatizada pela morte da sua filha Daria (e muita luz e amor no seu ser), ecoa grandes pensadores cristãos e espirituais como Soloviev, Berdiaev, Florensky, ou ainda Julio Evola, e transmite aqui e na sua já vasta obra uma compreensão e visão profunda metafísica, espiritual e geo-estratégica do devir da Rússia, da Europa e até da Humanidade, nomeadamente pela sua defesa e valorização da multipolaridade que o BRICS vai concretizando, sob a liderança da China, da Rússia, da África do Sul, do Brasil e do Irão...

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Poema: a gnose perene, que vence a morte, na comunhão com as almas luminosas, na demanda Divina.

               Morte é palavra feminina, para a sabermos amar...

 
A Morte é palavra feminina
para a sentirmos com mais amor,
é alguém que nos vem chamar,
para
ao Além nos impulsionar a voar.

A morte é grã-purificadora essencial,
fazendo-nos discernir o que há a fazer.
Aprender a morrer antes de findar,
é arte de diminuir a dor e o recear.

Aceitar a morte em nós conscientemente
é desejo iniciático de sermos o espírito no além,
e é caminharmos com a visão desprendida,
   que assim livre penetra e revela o essencial.

O beijo da morte é arte harmonizadora,
em que somos abençoados e acalmados,
quando a indignação, a dor e a desilusão
querem possuir-nos e ao lembrá-la fogem.

Entre nós Antero de Quental  alto
brilhou
pelo seu destemor no namoro da Morte.
Como cavaleiro corajoso para nós ficou,
abrindo-nos à visão dela como libertadora.

Morrer é ser iniciado, é deixar a prisão,
é bater as asas, é redescobrir o coração.
Aprender a morrer é a caminhar em amor,
dando os passos e palavras que Luz derramam.

Morrer é subida energética e esvaziamento,
em que desejos fenecem e aspiração a Deus fala.
Morrer é deixar o mundo físico semi-luminoso
e entrar no dos seres e anjos resplandecentes.

Para se entrar mais conscientemente na morte
Cultivemos a amizade supra-terrena e duradoura,
conservando um diálogo constante e estimulante,
estabelecendo pontes e nexos com seres distantes.

Discernirmos os seres com maiores afinidades,
aprofundar e comungar com suas demandas,
é sermos elos do aperfeiçoamento infinito
das tradições, almas e realizações perenes.

Quem são os seres que mais amamos?
Dara, Pitágoras, Erasmo, Jesus, Narada?
Quais os melhores métodos de despertar,
ou com a Divindade sintonizar e comungar?

Narada, como estar bem em bhakti?
O chakra cardíaco aberto e irradiante,
A invocação divina a arder no coração,
  ultrapassar o ego e ser em fulgurante acção?

Erasmo e a demanda firme da Verdade,
Ou ainda o elogio da unidade extática:
A essência humana é amor sabedoria,
podemos avizinhar-nos da Divindade.

Pitágoras, das formas geométricas,
   dos ritmos e sons das esferas em nós,
ou pelos seus símbolos enigmáticos,
 o que clarificará mais nossas almas?
 
Dara Shikoh, o príncipe mogol sufi,
o peito ardente de amor ao Divino,
comunga com mestres e companheiros
na junção dos oceanos da espiritualidade.

Antero de Quental, líder de estudantes,
sonhador de um socialismo espiritual,
sábio e estóico, faltou-lhe o pleno amor
seja para a amada, o espírito ou a Divindade.

Fernando Pessoa, um continuador da pesquisa
do ser espiritual e da harmonia universal,
ainda que dispersando-se em sombras,
que  visão teria para o Portugal actual,
que ensinamentos de ordem Espiritual?

Jesus, quem era, o que realizou e queria?
Quem é o Pai e o Espírito Santo?
Como amou Madalena e como vê a união?
Qual a mais importante missão do ser,
religar ao Pai, a ele ou ao Espírito, 
seja o individual, o Santo ou o universal?

Que ensinamentos das neurociências,
da física quântica e das vias espirituais,
deveriam
a todos ser ensinados,
para melhor se conhecerem e plenificarem?

Quantas questões  pomos e meditamos,
tantos os anos que a Morte nos dá de Vida
Saibamos então trabalhar e amar bem
para sentirmos o espírito, o amor e a Divindade....

Março, 2014, Maio de 2024. Lisboa...

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Fala de Pedro Teixeira da Mota na apresentação da obra de Afonso Cautela, "Lama e Alvorada. Poesia Reunida 1953-2015. Volume II., na casa da Imprensa, em Lisboa.

Quatro amigos do Afonso Cautela (1933-2018) reunidos na Casa da Imprensa para o saudar e transmitir, convidando ao aprofundamento da continuação dos seus esforços, discernimentos e mensagens...

Registo da minha intervenção na apresentação na Casa da Imprensa, em Lisboa, a 15 de Maio de 2024, da obra do Afonso Cautela, Lama e Alvorada. Poesia Reunida 1953-2015. Volume II., contendo os livros anteriores "Espaço Mortal". "O Nariz". "Campa Rasa". E ainda poesia da Infância e da primeira Juventude, inédita. É o 3º vídeo da apresentação da obra, pois também falaram e ficaram gravados, o ecologista, editor e amigo José Carlos Marques, José Luiz Fernandes,  jornalista que conviveu com Afonso e o entrevistou longa e detalhadamente, em 2007, o António Cândido Franco, ensaísta e professor universitário de Literatura e, por fim, a Cristina Cautela, a filha do Afonso e da sua mulher Astride, que o conhecera atraída pelas suas crónicas ou reportagens jornalísticas tão impactantes ou moventes. 

Na assistência estavam familiares e outros amigos, companheiros e admiradores de Afonso Cautela, entre os quais o presidente da Casa da Imprensa António Borga, a jornalista Almerinda Romeiro, o Manuel Calado, Gonçalo Cabral e a mulher, António Elói, Carlos Ventura, Artur C. Margalho e o António Mantas, autor do recente e valioso livro Raízes da Agricultura Biológica, e que nos enviou as fotografias da mesa...

Na parte final, Cristina, Pedro, José Carlos, António e José Luiz.

Fora  eu encarregado de falar do Afonso Cautela no seu percurso ecológico, energético, consciencial, espiritual e utópico e embora com um espaço de tempo  limitado, ainda assim houve alguns bons momentos de transmissão das energias anímicas do Afonso Cautela, e de contextualização da sua obra não só na mais conhecida profunda e alargada militância ecológica e contra o sistema opressivo tecnobiocrático, mas também na macrobiótica Zen, no Budismo tibetano, nas energias subtis, na acupunctura, na radiestesia de Étienne Guillé, e na utopia do desenvolvimento de outras consciências, modos de vida, comunidades e sociedades. No fundo um elo bem  investigador e dinâmico da Tradição Espiritual Portuguesa.

Afonso Cautela, com 48 anos, entrevistado  pelo António Tavares Teles e o Francisco Teixeira da Mota para a revista Arteopinião, nº 14 de 1981, onde também colaborei com um artigo Arte: da Índia, do Eterno Oriente.

Reli ainda o seu fabuloso poema, dado à luz em 25 de Julho de 2006,  de De flor em flor, de asa em asa, que já transcrevera e comentara levemente no blogue: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2024/05/afonso-de-cautela-poema-iluminado-do.html, e  no fim acentuei  o nosso empenho em continuarmos o seu labor anímico e a militância corajosa e luminosa...  
Uma breve biografia do Afonso que escrevi e tenho adicionado encontra em: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2018/07/afonso-cautela-vida-e-obra-com-um-video.html

                

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Afonso Cautela e o seu percurso. Ensaio improvisado gravado antes de falar na apresentação do "Lama e Alvorada" Vol. II. 15 de Maio de 2024.

Na manhã de 15 de Maio de 2024, umas horas antes da apresentação do livro de Afonso Cautela, Lama e Alvorada, Poesia Reunida 1953-2015. Volume II, em que teria de participar na Casa da Imprensa em Lisboa, resolvi pronunciar uma breve evocação e revisitação de Afonso Cautela (Ferreira do Alentejo, 1933- Lisboa, 2018), jornalista pioneiro e militante da ecologia, poeta e investigador intimorato da verdade em vários campos, falando dos aspectos que me fossem surgindo na alma e mente. 

Frequentemente, quando tenho de fazer uma conferência ou apresentação, costumo meditar ou mesmo gravar uma espécie de pré-lançamento, matriz, modelo, esquisso, antevisão ou programação do que terei de pronunciar publicamente horas, ou dias, depois. Teria cerca de 10 a 15 minutos por minha conta, na sessão colectiva, com José Carlos Marques, José Luiz Fernande, António Cândido Franco e a Cristina Cautela, mas nesta pré-fala cheguei aos dezassete minutos. E, claro, é sempre bem diferente o que de antemão se pensa ou diz (ou por vezes se escreve mas  não para se ler...) e o que brota espontaneamente no contacto com o público e na verticalidade da invocação do autor e do assunto, tal como poderá ver e ouvir brevemente quanto ao que eu disse (e o que os outros), na Casa da Imprensa, em Lisboa, ao findar da tarde de 15 de Maio...  A imagem  durante a gravação é sempre a mesma chama... Muita Luz e Amor divinos no Afonso Cautela e que as suas realizações valiosas frutifiquem mais...

                           

terça-feira, 14 de maio de 2024

Afonso de Cautela. Poema iluminado do fim de viagem: "De asa em asa e de flor em flor". In "Campa Rasa e outros poemas"., 2011

                                  

O Afonso Cautela escreveu em 25 de Julho de 2006, um ano em que ressurgiu poeticamente, quando tinha já setenta e três de idade, um belíssimo poema espiritual que José Carlos Marques, através das suas Edições Sempre-Em-Pé, em janeiro de 2011, deu  à luz  em Campa Rasa e outros poemas, num in-8º de 70 páginas (com dezanove poemas escritos de 1955 a 1970, um de 1990 e quinze  de 2006), donde o selecionamos, para o homenagear aquando da apresentação pública da Lama e Alvorada, Poesia reunida 1953-2015, Volume II, na casa da Imprensa, em Lisboa, realizada a 15 de Maio de 2024, volume que inclui a Campa Rasa, e logo o poema que seleccionaramos.

                                              

Neste poema, como em vários dos outros, a leveza da alma esforçada, purificada e grata de Afonso Cautela ergue-se já alada e dotada da palavra mágica e musical em harmonia com a Natureza e a Divindade, para ele então mais desvendadas em insinuações de frescura de rosas e de fim de viagem e passagem para vida em glória (isto é, Luz) auroral, estado anímico-espiritual e consciencial onde sinceramente intuímos estar o Afonso. Eis o poema:

De asa em asa e de flor em flor...

«De asa em asa e de flor em flor

O caminho passa

Traçando o mapa da viagem

Que o destina ilumina e fala

 

Calando de novo a fortuita miragem

De palavra em palavra e de asa em asa

Ao ritmo dos dias e das eras

Que o calendário dos cânticos usava


Quem se guia nas trevas e na estrada

É porque tem o mapa da paisagem

É porque abre a rosa fresca e límpida

Da doce e fresca e linda madrugada


O caminho passa enquanto o sono fica

O canto madrugador da cotovia

O fresco alvorecer da flauta que flutua

A gloria de deus que se insinua

Na dobra mais recôndita.


De flor em flor e de asa em asa

O caminho passa.»

 "Sabe guiar-te na viagem madrugante pela abertura da rosa fresca e límpida  do teu coração", diz-nos assim o Afonso...

Muita Luz e Amor para ele e nele!...

Post scriptum:  Na Casa da Imprensa, na apresentação a 15 de Maio da Lama e Alvorada, Volume II, resolvemos ler e parafrasear, para o realçar,  este valioso poema  e pode ouvi-lo em: https://youtube/48zP1yG9D2Y

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Sementes e flores da demanda espiritual e divina...

Ambrogio Borgognone, S. Francisco recebendo a visão de Jesus e do Serafim. 1510

O conhecimento de Deus vem-nos na medida em que aspiramos a Ele, o absorvemos, o recebemos, uns mais como amor no coração e gratidão, outros como força e poder, outros como inteligência imensa ou ainda felicidade e alegria criativa.

A Divindade cobre-nos sempre, mas pouco estamos receptivos a ela. S. Francisco de Assis  conseguiu vê-la como um Serafim, ou conseguiu receber as bênçãos Dela através desse elevado espírito celestial, as quais se plasmaram como chagas ou estigmas e um estado intensificado de amor unitivo a Jesus Cristo. 

Alguns seres recebem-no como Pai, fecundando-os, gerando o desabrochar do Filho neles, o gérmen e impulso crístico, ou ungido, de mais perfeição e sabedoria, amor e fraternidade, tão necessários na seara imensa e sofredora da Humanidade.

Dentro dos ciclos de celebrações religiosas ou tradicionais o  Natal, os feriados, os fins de semana são  épocas de maior possibilidade de aspirarmos, sentirmos e realizarmos a nossa religação com a Fonte Divina, seja Pai,  Mãe, Maria, Fatimah, Amaterasu, Céu e Terra, Espírito infinito, Sol de Amor Primordial, ou  como cada um sentir, se predispuser, merecer...

Assim alguns de nós nascidos no Cristianismo podem na meditação ver e sentir interiormente o Pai em forma de cruz, mas de voo aberto abraçante, unificante, connosco. Muitas das nossas sorores antigas viram o mestre Jesus dardejando amor. Outras almas mais abertos às concepções da Divindade do Oriente vêem-na como Oceano de Luz, e assim sucessivamente. Louvado seja Ela e os seus amigos, mestres, sorores e anjos inspiradores!

O mistério da Divindade e a necessidade de demanda de religação com Ela deviam mover-nos mais, entusiasmar-nos mais, por entre estes tempos tão agitados, manipulados e oprmidos horizontalmente e infrahumanisticamente  por forças e seres negativos, que dominam execssivamente os meios de comunicação, e aos quais devemos resistir, não nos expondo, não nos deixando influenciar, e assim desmascará-los, vencê-los.

Para estarmos mais lúcidos e fortes conviria viver-se harmoniosamente e orar-se ou meditar-se mais, num ritmo pelo menos matinal e nocturnal, mesmo que sem obrigatoriedade e duração, tal como se fosse um mergulho para entrar nas profundezas da alma ou uma subida purificadora à montanha, por vezes árdua ou mesmo inglória e aparentemente não abençoada, mas que mesmo assim nos fortifica num alinhamento com os níveis mais espirituais, com o omnipresente campo unificado de energia consciência informação na quarta dimensão, o que nos permite avançar de dia mais alinhados e orientados, ou de noite  mais aptos a interagir e compreender nos sonhos os seus testes e ensinamentos simbólicos.

Saibamos pois resistir e avançar luminosamente!