quinta-feira, 19 de março de 2020

Mensagens das nuvens e céus de Portugal face ao sar corona e seus receios...

                                            
Dia algo coberto e acinzentado, de manhã cedo, e mesmo ao meio dia dificilmente a luz do sol rompe livre e poderosa a neblina persistente...
Parece mesmo que o ambiente do céu e as nuvens são também gerados ou afectados pelos seres humanos e logo andam tristes, algo apreensivos até, pelo sofrimento que o misterioso vírus (por uns chamado de chinês, por outros norte-americano,  natural ou laboratorial), está a criar em milhões de pessoas...
Há contudo bastante prana ou partículas luminosas nos ares e céus lembrando que a respiração profunda, psicosomática e espiritual, é ainda um dos melhores meios de nos fortificarmos e harmonizarmos. 
 Os ares estão bastante menos poluídos, os ruídos são escassos, a agitação consumista, colectivizante e desportista dimminuiu bastante, os brotos das árvores vão emergindo dos troncos num ritmo invisível mas persistente, milenário e a Primavera está quase a bater à porta com todas as suas promessas de florescimento e frutificações, calor e amor, borboletas e gorgeios de pássaros (as andorinhas ainda não chegaram, pelo menos a Lisboa...), convidando-nos a abrir as janelas ou mesmo a estarmos na Natureza, nos jardins, junto aos rios e cascatas, lagos e mar, e respirarmos fundo, alimentando e fortificando, na retenção do ar e das partículas ou átomos do éter solar, os chakras e o hara, nossos centros energéticos subtis mas bem importantes...
                                   
Não nos deixarmos abater por receios, fundamentados ou não, mas manter-nos saudáveis, confiantes, luminosos é fundamental e para isso convém não nos expormos às televisões e seus noticiários tão assustadores, evitarmos seus locutores de voz ou vibração mais negativa, perturbada e perturbante ou mesmo irritante, pois o medo baixa a nossa intensidade vibratória, afecta a  circulação sanguínea, perturba as hormonas e células nervosas, enfraquecendo assim o sistema imunitário e abrindo o corpo à doença.
Corpo que deve ser protegido pelas recomendações higiénicas especiais e fortificado por uma boa alimentação natural (de preferência sem químicos), exercício  e lavagens adequadas, e mais uso do sal integral,  gengibre, curcuma, cominhos, folhas verdes, chás de ervas, etc., etc., discernindo-se ainda muito bem como se deve reagir, lutar e vencer os eventuais estados gripais, febris ou virais... 
Aproveitar o estar em casa mais tempo para a pôr em ordem, para lermos, convivermos e dialogarmos com mais profundidade, e também  orarmos (nomeadamente por outros ou pelas bênçãos gerais), meditarmos e contemplarmos a fim de que a harmonia dos nossos três níveis (corpo físico, o psíquico ou alma e o espírito) seja mais realizada e recebamos até nesses momentos de silêncio e de quietude, no nosso olho espiritual, coração ou mente, inspirações e orientações.
Assim avancaremos no caminho da imortalidade consciente (como o anjo da emblemata nos lembra) e da harmonização ambiental e planetária, que certamente vai ser infinitamente desafiante, pois a oligarquia e a USA a obstaculizam por tantos meios violentos e agentes corrompidos pelo dólar inesgotável e tão mal usado... Oremos!
Saibamos então invocar ou merecer os antepassados, os mestres, as santas e santos, os Anjos, o Arcanjo de Portugal ou de cada país, os Kamis, os Devas e espíritos da natureza mais luminosos com as nossas orações, aspirações e irradiações psíquicas, para que os céus exteriores e interiores se abram límpidos e o azul  pacificante e a estrela dourada  iluminante nos abençoem e inspirem na comunhão do Graal da Verdade, do Amor e da Graça Divina...
Aum...
Gravura do notável mestre pintor Bô Yin Râ

quarta-feira, 18 de março de 2020

A aspiração e ligação ao Anjo e o erguer do santo Graal, nos nossos dias. Um contributo...

Embora o Anjo esteja na vizinhança potencial da Divindade, ou pelos menos em planos espirituais muito luminosos, donde provavelmente nunca perderá a vista ou a  possibilidade de aproximação da contemplação unitiva, não lhe desagrada, ou gosta mesmo, poder aproximar-se da consciência do espírito humano incarnado que o chama, precisa ou o merece, harmonizando-a, elevando-a, iluminando-a... 
 Assim quando meditamos e oramos e o invocamos, tal pode acontecer, seja em vislumbres luminosos ou sentimentos transitórios, mas que operam uma transformação lenta, paulatina mas iluminante...
Podemos então dizer que o Anjo é a Luz sobre a Luz, porque quando nós, meditando e orando, temos acesso à nossa luz, ao invocarmos o Anjo e ele se aproximar, uma Luz desce sobre a nossa luz, Luz sobre a Luz...
 O Anjo redimensionaliza-nos para Deus, expande a nossa alma, aspiração amorosa e  concentração psíquica para a Harmonia, a Sabedoria e finalmente Divindade, seja para a sentir, a adorar, a querer ver, ou por Ela nos melhorarmos
O Anjo comunga connosco na meditação, aspiração, amor, adoração à Divindade, e alegra-se e alegra-nos.
Passado o tempo de meditação, oração ou contemplação, o Anjo fica de certo modo mais em nós porque ele é tanto um ser e uma presença, como um princípio, e portanto fica em nós como um princípio de ordem, coerência, beleza, para além de que algumas das suas energias e raios permanecem em nós, certamente de modos subtis e misteriosos..
Por exemplo, como um impulso mais consciente de Ordem dentro de nós, e de ordem à volta de de nós. E quem diz ordem diz harmonia, pureza, estética, beleza, graça, coerência, discernimento.
A nossa alma foi orientada por ele, ordenada, redimensionada espiritualmente e tal vai permanecer durante algum tempo, em parte de acordo com o grau concentração, aspiração e  adoração interior que conseguimos. E com que persistimos e actualizamos a abertura, invocação e ligação.
Poderemos  dizer que tal persistência é de acordo com o oferecimento e erguimento ou aspiração-elevação nossa, e logo o correspondente enchimento do cálice ou taça do santo Graal que acontece no nosso interior.
Este Graal, que todos temos potencialmente no nosso ser e coração espiritual, em alguns seres cresce mais, aumenta e enche-se e então temos um portador do santo Graal, do qual os paradigmas passam pelo real Jesus, o mítico Galaaz e outros mestres mais conscientes do Amor e da Luz divina neles.
Trabalharmos com o Anjo, pensarmos a vida angélica, cultivarmos o santo Graal, é então bem importante, aproveitando-se seja os momentos de mais paz e amor, seja os dias de maior recolhimento forçado e vencendo-se os receios de doença, sofrimento e morte. 
 De qualquer modo, os Anjos sempre nos dirão: "mortais, em vós está também a possibilidade de imortalidade consciente" e esta mensagem de alerta, de redimensionamento identificativo, de trabalho meditativo e unificativo sempre foi soprada por eles, seja no silêncio interior seja em alegóricas trombetas de ressurreição, tão visíveis na pintura religiosa e simbólica, seja pelos mestres que os ecoaram...
Saibamos então atravessar harmoniosamente as descidas aos subterrâneos de doenças ou limitações para renascermos mais luminosos, mantendo-nos atentos e activos nas necessárias acções exteriores, e na acção psíquica, ou mesmo psico-espiritual, que podemos desenvolver pelo pensamento e a palavra, sentimentos e intenções ao vivo, tal como ao comunicarmos pela web, pelas redes sociais, evitando a  exposição passiva à televisão atemorizadora e sepultante e a noticiários metralhados e, pelo contrário, antes de tais manipulações e opressões nos libertando...
Será então assentes, ou frequentemente rearmonizados pela meditação, oração ou outra prática, ou mesmo pelo adequado contacto com os cinco elementos da Natureza e o Sol, que podemos navegar na web e redes sociais e eventualmente participar (com conta, peso e medida...) nas batalhas importantes de informação verdadeira face à desinformação-manipulação opressiva (coexistindo com contornos enganadores), munidos do discernimento tão necessário  face à muita maluquice de esoterice, de zeitgeist, de profecias, ou mesmo de meditações e consultas on-line a pagarem-se, e em talvez 90% dos casos por pessoas com pouca realização espiritual....
Saibamos discernir bem e batalhar, mantendo firmes os fios de respiração e consciencialização do princípio de ordem angélica, mantendo ou intensificando a ligação com a presença interior e o santo Graal, e a comunidade dos mestres, numa comunhão luminosa com o Amor, o mundo espiritual, celestial e o Sol Divino.
Sempre vivificador e purificador, e a Ele atraindo a vegetação, as árvores e os seres,  o Sol Divino é o mais importante de ser realizado, comungado ou amado e defendido  ou soprado. Saibamos orá-lo e invocá-lo...                 

sexta-feira, 13 de março de 2020

Exposição de pintura "Da Mesma Raiz..." de Madalena Leal. E vídeo das palavras minhas. Porto, 5.III.2020

 
Madalena Leal, junto ao quadro Amor, com a sua grande amiga  Flora Guimarães Faria.
Madalena Leal, licenciada em Pintura, pela Faculdade de Belas Artes do Porto e com mestrado e doutoramento realizados na Universidade de Vigo, é uma artista já com um bom percurso de pesquisa, criatividade e partilha, e por isso oferece agora em Março-Abril de 2020, no Porto, sua terra natal, uma exposição no espaço Altice, sob o título Da mesma Raiz, onde uma série de composições bastante originais mostram a sua grande atenção, sensibilidade e ligação com a Terra, com as texturas geológicas, com a memória arqueológica dos locais,  com os números e geometrias que configuram a manifestação e com  o ouro que  habita em nós e que podemos ora reconhecer ora infundir no que nos rodeia. Mas também está presente a sua ligação com todos os materiais da contemporaneidade, reciclando até o que aparentemente seria já sem valor ou uso, incorporando-o nas suas obras.
É visível nesta sua última exposição a alegria pelo Universo que a Madalena Leal partilha, a par de uma tristeza pela transitoriedade dos seres, nomeadamente os que mais amamos e partem, como recentemente lhe sucedeu, o que envolve muitos seres num labirinto saudoso e interrogativo, que talvez se possam também encontrar ecos em certas paisagens ou expressões de animais....
Contudo, o Amor é afirmado fortemente, e num dos quadros  até com este título  sugere que o encontro é não só dos seres corporais mas sobretudo das almas e seus campos de energias  ou auras, para gerarem mais amor e harmonia num Cosmos infinito e em que os espíritos são imortais...
Cada pintura é na verdade uma janela para uma representação artística do mundo da artista, mas também para a nossa própria alma, pois cada um de nós vai reagir de acordo com a sua sensibilidade e estado anímico. 
 Quando contemplamos mais demoradamente certas obras, sobretudo algumas mais ricas de conteúdos, sugestões, geometrias, harmonias, beleza, bem maiores são os efeitos e os impulsos que elas em nós suscitam ou abrem, contribuindo para que o tal ouro consciencial, ou o tal coração espiritual, venham mais ao de cima e sintamos um estado expandido de consciência ou mesmo de felicidade e amor, um alinhamento maior com as forças divinas e criativas.
Esta é uma das funções mais elevadas da arte e certamente que algumas das pinturas da Madalena Leal têm essa operatividade anímica forte.
Tendo sido professor de Agni Raja Yoga dela há muitos anos no Suribachi da rua do Bonfim, mantive um certo contacto com ela já que a Madalena dinamiza um espaço de artes na rua Valadim, onde fiz mesmo há uns anos uma palestra nas celebrações da Rainha Santa Isabel, além de manter algumas amizades desses tempos. 
 Daí ter-me convidado para dirigir algumas palavras, o que fiz depois de ela já ter sido apresentada enquanto pintora pela directora do espaço galeria, a Manuela Oliveira, de a soprano Beatriz Pereira ter cantado algumas árias e a Maria do Céu Alves ter lido três poemas.
                                     
Ficou o registo das palavras minhas e as finais da Madalena e da directora, além de uma ária. No Youtube podem-se ouvir os outros cantos da Beatriz e os poemas da Maria do Céu.
E boas visitas à exposição....
                                 

terça-feira, 10 de março de 2020

Antero de Quental e Matias Lima. E o poema sinfónico "Antero de Quental" por Luís de Freitas Branco.

Matias Lima foi um escritor portuense dedicado aos estudos literários, poesia e livros antigos, deixando neste último campo uma obra pioneira e apreciada sobre as encadernações portuguesas e os seus encadernadores.
Vivendo entre 1885 e 1957, em 1918 escreveu Medalhões Nacionais (poetas e prosadores), publicado no Porto na livraria Chardron de Lelo & Irmão, numa homenagem a quarenta escritores do século XIX, reproduzindo uma pequena imagem-busto de cada um e comentando-a com um poema ou soneto de sua lavra. 
Começa em Almeida Garret, Castilho e Herculano e termina em António Feijó, António Fogaça (a quem consagramos um artigo), Eduardo Coimbra e António Nobre, passando por Camilo, João de Deus, Cesário Verde e Antero de Quental, etc.
Juntamos no fim do artigo a ligação musical ao poema sinfónico de Luís de Freitas Branco dedicado a Antero de Quental, que pode começar a ouvir já...
Vamos então transcrever a primeira quadra do soneto que Matias de Lima lhe dedica, no qual tenta resumir o ser e vida de Antero, e comentá-la. Mas se quiser ler o soneto, primeiro, sem comentários, abstraia deles...

«Quanta amargura a sua musa estampa!
A dor fez-se arte, a soluçar no verso...
Ensombrou o seu génio, sempre imerso
Na visão torturante do Além-campa.»

Comentário:
Valiosa esta ideia que a Musa, mais do que ser meramente a inspiradora, é a que imprime, estampa, determina, efectiva. Sai-se de um mero registo de namoro com a musa platónica, uma inspiradora que se acolhe,  para uma reactividade activa e geradora de luz visível.
Claro que podemos interrogar quem é a Musa (para além da mulher que nos possa inspirar),  se um ideal poético, se um outro dentro de nós com quem dialogamos ou que nos inspira, se uma entidade, um anjo, um espírito ou finalmente. se um conjunto de ideias, sentimentos e aspirações que se unifica num todo e que nos inspira, ou seja, a quem nós nos podemos abrir e receber um fluxo criativo...
Matias Lima vai retomar esta linha de interrogação sobre a essência e força que em Antero «ensombrou o seu génio», já que pôs a dor a soluçar nos seu versos, e prendeu-o num visionarismo torturante do mistério do Além.
Embora este Antero de Quental seja bem visível nos Sonetos, embora tenhamos que discernir o que ele vivia e o que ele poetizava, lembremo-nos da sua fase inicial lírica e depois a revolucionária e socialista, só depois, e também pela sua doença nervosa, começando a deixar que os mistérios do Destino, da Noite e da Morte  fossem ensombrando em parte a sua genialidade, abrindo-o  demasiado ao vazio,  ao nada, ao inconsciente e impedindo-o de se ligar mais aos níveis espirituais ou ao seu espírito divino, acabando por ser vítima dos seus pensamentos e nervos. Contudo, Antero não fez um estudo forte sobre o mistério do além, embora tivesse participado ou visto algumas experiência psico-magnéticas e espíritas, antes o sondou pela filosofia e o sentir e crer do seu coração.
            A segunda quadra diz-nos:

«Caminhou pela vida - estreita rampa,
inquirindo o mistério do Universo;
Buscando a luz, um só clarão disperso
que à lage tumular erguesse a tampa.»

Comentário: Uma bela caracterização da vida como uma estreita rampa  e lembra-nos Miguel Torga, um voluntarioso), a tal via estreita, num caminho ascendente, na qual haveria essa busca da luz «rompendo a treva que poderia afastar as limitações do conhecimento do mistério da morte».
Sem dúvida que Antero de Quental pesquisou os mistérios da vidas, mas se formos ver a sua biblioteca ou mesmo a sua correspondência, não encontramos tanto essa busca de Luz específica, espiritual, ainda que tivesse apreciado os místicos medievais da Theologia Germanica, e vemo-lo a laborar mais por um sistema filosófico, «a sua doutrina», que combinasse a ciência, a filosofia e a religião.
Primeiro terceto:

«O que é o Ser? É poeira dum momento?
Espírito liberto? Eternidade?
Em quem confiar: na Fé ou na Razão?»

Comentário: Matias Lima resume bem algumas das hipóteses que Antero de Quental cogitou, dualizando entre o nada, o niilismo, o ser que é pó e o espírito imortal que se acreditaria pela Fé, avançando com esta no caminho da libertação e da eternidade. Porém, a equação optativa apontada: ou de seguir a Fé ou então  a Razão em tal demanda não é muito correcta, embora mesmo Antero seguisse ou sentisse um pouco tal dualismo.
O que necessário é o conhecimento interior, a experiência espiritual, a gnose, a visão com o olho da alma, o desabrochar dos sentidos espirituais, a criação de uma relação pessoal com a Divindade, que seja sentida e vivida, e não apenas acreditada pela fé ou então ao contrário pensada, raciocinada.
 O último terceto sonda já o mistério da sua morte, seja das causas seja desse preciso instante:

«A luz não lhe beijou o pensamento...
Buscou a morte em gritos de ansiedade
por não poder viver na escuridão!»

Comentário: Muito provavelmente a luz tenha várias vezes estado forte em si e nos seus sentimentos e pensamentos, e constatamo-lo em muitas das cartas que dirige aos amigos e em alguns poemas e sonetos. Talvez possamos dizer que talvez seja mais o Amor que lhe faltou, provavelmente até por uma ou outra desilusão sentimental ou de amizades. Amor que não o aqueceu suficientemente,  seja guiando-o na aspiração e meditação espiritual, seja descobrindo sempre novos férteis campos para a sua força de vida e pensamento, seja dando-lhe forças para resistir às desilusões circunstanciais.
Enfraquecido pela misteriosa doença nervosa e a má alimentação, e desanimado com os últimos momentos da sua vida, sobretudo o de ficar sem as duas crianças que adoptara, filhas do seu grande amigo Germano Vieira Meireles, e ter de regressar a Lisboa que já pouco lhe dizia,   preferiu "samuraicamente" matar-se, ou seja, entregar-se à morte misteriosa, escolhendo o momento do encontro da morte -  ser e estado que ele tanto cultuara, meditara e amara até.
"Gritos de ansiedade por viver na escuridão", não nos parece  acertado. Poderá ter gritado a sua vontade de estar em amor, em paz, a sua vontade de estabilidade, mas não vemos gritos, excessos de sentimento e sensibilidade contra o seu estado cognitivo ou mundivivência de então.
Antero não estava na escuridão. Apenas desiludido e perturbado orgânica, neurológica e emocionalmente.
Mas certamente será sempre um mistério qual era o seu pensamento quanto a se Deus, ou a Ordem do Universo, ou a Verdade aceitavam e teriam como bem ou justa a sua morte voluntária...
Poderemos contudo admitir, na linha de Matias Lima, que Antero quis deixar o estado semi-obscuro desta vida pelo que de mais Luz pressentia, acreditava, desejava...
Fica  ainda a questão se realmente, ao matar-se, passou a sofrer menos ou mais, ou se entrou para uma Luz maior ou não...
Pelo sim pelo não, recomenda-se em geral e prudentemente tanto que as pessoas não se matem, como que oremos pelas que fizeram isso, pois dizem certos mestres que passarão muitos anos no invisível sofrendo...
Luz e Amor divinos brilhem então intima e fortemente em Antero de Quental, Matias de Lima e Luís de Freitas Branco...
 Segue-se o belo, profundo e solene poema sinfónico que Luís de Freitas Branco,  jovem de 19 anos, dedicou a Antero de Quental, sob o impacto da sua leitura, a qual, tal a de Luís de Camões, muito apreciava, sendo tocado pela 1ª vez em 11 de Abril de 1915. Aum...
                 

domingo, 8 de março de 2020

As Sereias. Quadras populares recolhidas por A. Tomás Pires, contextualizadas e actualizadas.

                                                      Das SEREIAS
As sereias são seres que surgem numa tradição imemorial espalhada desde os quatros cantos do mundo, correspondendo a seres femininos ligados com a natureza pura, ou mais especificamente o mar e os rios, embora tanto surgindo como aves-mulheres com asas, como seres com cauda de peixe e corpo de mulher, e outras variantes significativas na sua representação.
A sua origem prende-se em parte com o inconsciente colectivo da humanidade que leva consigo as suas origens marítimas, e sobretudo da mulher, com o oceano do seu ventre, sexualidade e maternidade, delas emergindo estes seres subtis e misteriosos, belas imagens da fecundidade primordial da natureza e das suas forças formativas e elementais.
Ora enquanto corpo e alma, o ser humano sempre terá no corpo uma ligação muito forte com a fecundidade dos elementos da Natureza, e logo do mar, dos ares, das aves e dos peixes, e daí as pulsões fortes de fertilidade, sexualidade, fusionalidade, intuição, subtilidade e dissolução tão bem simbolizadas e personificadas nestas figuras.
Foi na Grécia que se desenvolveram muitos mitos e narrativas delas, sendo o seu nascimento, numa versão, atribuído à conubio ou unio do rio Acheloo, a torrente que desce do monte sagrado Pindo, e potestade celestial a quem os oráculos de Dodona mandavam propiciar ou oferecer sacrifícios, com a ninfa Calíope, aquela que veio a ser invocada ou propiciada por Luís de Camões para o inspirar nos Lusíadas.
Alguns seres acreditavam na existência física delas, surgindo por exemplo na Odisseia, de Homero, no canto XII, em cima de penedos no mar com seus cantos maravilhosos tentando seduzir os navegantes e obrigando Ulisses a tapar os ouvidos dos seus marinheiros e ele próprio a ser amarrado para poder ouvir os incólume os seus cantos irresistivelmente atraentes, poderosos e elevantes mas perigosos já que os poderiam precipitar em correntes e escolhos fatais.
                          
Já outros seres humanos consideram-nas seres de planos subtis, ou seja, espíritos da natureza ligados à água, aos mares, o que estará mais próximo da realidade, parece-me, ainda que certamente muita mulher, junto ao mar, deitada ao Sol sobre a areia, possa parecer uma sereia...
Ora como as subtis ou invisíveis entidades das forças formativas da natureza não estão dotadas de uma individualidade espiritual imortal compreende-se a sua atracção pela união com os seres humanos, donde muitos contos populares atestarem tal desejo ou aspiração, extensiva às moiras encantadas de tantos penedos e covas. 
Ainda pelo lado da sua interioridade e inconsciente, o desejo do homem de uma mulher mais especial ou fantástica, facilmente intensificou a sua imaginação em relação a tais seres, tanto mais que qualquer mulher tem de certo modo uma natureza de sereia, de ser aquático ondulante e passional e nos mundos dos apaixonamentos, sonhos e imaginações tais fronteiras esbatem-se facilmente.
 A sereia adquiriu, para produzir efeitos religiosos e moralizantes, o significado de figura da tentação, do amor fatal, daquele que é tão poderoso que um homem se esvai e morre nele. Mas certamente é verdade que o contacto com tais entidades da natureza física subtil ou invisível pode ser perigoso e desviante, ou ainda que as paixões demasiado intensas e prolongadas podem exaurir os seres do equilíbrio e mobilidade que lhe são necessários.
Em Portugal e Galiza temos várias lendas e leituras morais delas, esculpidas em capitéis românicos (nomeadamente no Caminho de Santiago), em altares barrocos (muito no Brasil, terra mítica de sereias) e até há relatos, tal o do insuspeitado historiador humanista e erasmiano Damião de Goes que narra com credulidade o caso de uma sereia que teria dado à costa em pleno séc. XV. Dalila Pereira da Costa, querida amiga e anfitriã de retiros nas faldas do Marão, consagrou-lhe algumas páginas e uma imagem (dum azulejo seu do séc. XVI-XVII) bem valiosas na sua incontornável obra de revisitação da espiritualidade antiga lusa.

Entre nós um pioneiro etnógrafo de valor, António Tomás Pires, cuja correspondência com José Leite de Vasconcelos me encantou no começo da minha adolescência, no final do séc. XIX publicou um pequeno folheto, hoje muito invulgar, intitulado Tradições Populares Portuguesas. - Conceito Popular de Sereia, que resolvemos transcrever.
No decorrer da transcrição juntamos três quadras nossas, que identificaremos posteriormente. nos comentários, tornando-os um enigma, e considerando este conjunto de quadras populares uma obra em aberto, que impulsione a unificação das nossas energias mais profundas numa auto-consciência maior junto ao oceano do amor divino e seus seres...

«Pelo canto da Sereia
Se perdem os navegantes
Choram os pais pelas filhas
As sécias pelos amantes.

Ouvi cantar a sereia
No meio daquele mar,
Muitos navios se perdem
Ao som daquele cantar.

Rei dos bicos o leão
Dos peixes é a baleia
Das aves o gavião
Para cantar a sereia.

No cantar sou a sereia
Na formosura o pavão;
Tens abaixo das estrelas
Uma flor com perfeição.

Tenho combatido guerras,
No cante com as sereias,
Tenho corrido mil terras
Cidades, vilas e aldeias. 

Esta noite à meia noite,
Ouvi um lindo cantar
Cuidava que eram os Anjos
Era a sereia no mar.

Sereias cantam tão bem
como os melhores Anjos,
Saibamos escolher bem
A que trará mais amor.
 
Lá no mar anda a sereia
Correndo como a perdiz;
Não te gabes que me deixas
Fui eu a que não te quis.

A sereia anda no mar
Anda à roda, torce, torce
Ainda está para nascer
Quem de mim tomará posse.

A sereia anda no mar,
Anda à roda do vapor,
Ainda está para nascer
Quem será o meu amor.

A sereia quando canta
Canta no meio do mar
Quantos navios se perdem
Pela sereia cantar.

Quando eu oiço a sereia
Minha alma se ilumina.
Sei que o nosso amor
É, no Oceano frio, calor.

Sereia da minha alma,
Desentorpece meus ouvidos.
Abramos mais o coração
E geremos a paz da união.»

Antero de Quental e a Mulher. "A Propósito de umas poesias de D. Henriqueta Elisa". Com vídeos.

Antero de Quental em 1864 publicou no jornal Século XIX, de Penafiel, dos seus amigos Joaquim de Araújo e Germano Vieira Meireles,  duas poesias de uma senhora, D. Henriqueta Elisa (que acabara de dar à luz o seu segundo livro, Lágrimas e Saudades), antecedidas dum  texto valioso sobre a Mulher, em especial a que escreve.
Como tal escrito não se encontra ainda na web e hoje é o Dia da Mulher resolvemos transcrevê-lo do volume I, das Prosas, Coimbra, 1923, de um exemplar que pertenceu a António Alvim.
A Propósito de umas poesias de D. Henriqueta Elisa.
«Um nome de uma mulher purifica a página onde se escreve, como uma só planta de aloés purifica uma floresta inteira.
Os dedos grosseiros da crítica não tem que ver com estas finíssimas, impalpáveis teias de seda, suspendidas entre flores, onde o céu deposita as pérolas dos seus rocios da madrugada. São invioláveis como o mistério, porque são misteriosas como a verdadeira belezas estas poesias, que as mulheres escrevem como nós choramos - quando as mulheres sabem chorar... como nós escrevemos.
- Basta ter um coração. Um coração feminino! Não há princípio de estética transcendental, a mostrar-nos o caminho do belo, como esta bússola de oiro sempre virada para o Norte misterioso do sentimento.
A ideia do homem corre desatinada, como folha solta da árvore, impelida por aquele vento rijo e frio que se chama a Dúvida.
Mas a intuição da mulher, como pomba que voa direita ao ninho, sem bem ver, sem bem saber como, anima logo com a corrente de ar que a há-de levar ao último horizonte da harmonia.
Quem adivinha é a alma: a Sibila da humanidade, que prediz as quedas e as tristezas do coração! a feiticeira do mundo, que deita as sortes e ensina o caminho da felicidade perdida!
Como é flor tudo o que cai da amendoeira em chegando a primavera, assim é poesia e beleza a chuva de flores ou lágrimas, que a alma, sacudida pela inspiração, deixa cair sobre o solo duro da vida.
Ora na mulher tudo é alma. Um seu cabelo que o vento levasse correndo pelo espaço, seria isso bastante para encher o Universo de mais espíritos do que sonharam Milton e Klopstok. Um seu olhar, se o céu se despovoasse de seus anjos, seria o bastante e povoa-lo de novo das suas miríades.
Eu creio de fé na beleza destas poesias, que as mulheres escrevem com mão trémula, todas inclinadas sobre os ecos mais íntimos o coração. A minha poética, por mais larga que seja, tentando avaliar a extensão daquele eter puríssimo, parece-me então tão disforme como um anão pesado e curto, que pretendesse medir, pela medida dos seus passos, a distância que separa dois astros no céu.
Não batas numa mulher, nem mesmo com um ramo de flores - dizia a doce mas profunda sabedoria do Oriente. Ora a crítica é um molho de espinhos.
Sintamos a beleza destas poesias e não as discutamos. A arte, que discute e pensa e estuda, pode deslumbra-nos com a irrupção dos seus esplendores - mas só o coração nos sabe fazer chorar. -
Entre um frase e uma lágrima quem hesitará?...
Uma lágrima é a melhor poesia.
É esse o soberano poema da mulher - a Piedade.»
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Seguiam-se as duas poesias, Guia dos Túmulos, que lemos e comentamos, e Lembras-te.  
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Lemos e comentámos o texto em dois vídeos de 5 e 20 minutos. 
Agora por escrito deste texto juvenil de Antero realçaremos algo do que ele diz do coração e da alma, níveis interiores do ser em muitos aspectos coincidentes: o coração sensível como bússola, pelos seus sentimentos e intuições, do Belo, do Bem e da Verdade. E a alma feminina que adivinha ou intui, a partir do seu sentimento e amor, por contraposição ao pensamento e à dúvida do homem, e que  se expande nas dimensões subtis próprias, ora no no campo unificado de energia consciência que une todos os seres ora nas profundezas da sua intimidade, onde escuta a voz interior ou os ecos que a inspiram no seu caminho de medianeira entre a terra e o céu, como lhe chamará Antero de Quental noutro dos seus três textos dedicados à mulher, A Influência da Mulher na Civilização, de 1860-61. 
Possa esta missão de religar a terra e o céu, o corpo e o espírito, a Humanidade e a Divindade desenvolver-se cada mais harmoniosa e livremente em todas as mulheres-almas da Terra, libertas de tantas opressões masculinas políticas, sociais e religiosas.
Ligação à 1ª parte de 5 m.:
                    

Dia da Mulher em 2020, ou 2021. O que se pode dizer ainda de importante? Sempre muito, mesmo que sem palavras......

O que se pode dizer ainda sobre a Mulher, no ano da graça de 2020 ou de 2021, que não tenha já sido pensado, sentido e dito por muita gente, ao longo de tantos séculos e, consultando a Mnemosyne (a deusa grega da memória) de Dante Gabriele Rossetti (na imagem), desde Petrarca e Laura, Dante e Beatriz, Pedro e Inês, Camões, Bocage, Alcipe, Antero de Quental, Leonardo Coimbra e Florbela Espanca?
                                              
Como poderemos nós contribuir para o aprofundamento e valorização da mulher no quotidiano e da essência feminina, para que hajam cada vez mais boas vivências, criatividades e acções em liberdade e fraternidade?
Como manifestarmos a nossa gratidão pela sua existência, como gritarmos da alma ou aludirmos nas entrelinhas às mulheres que nos criaram em crianças, às mulheres que nos inspiraram, ajudaram ou  amaram enquanto jovens e homens, e mesmo às do futuro, que desejamos conhecer? 
 Que flores e cantos, aromas e músicas, abnegações e doações devemos gerar, despertar, suscitar e irradiar? Para quem mais em particularmente se dirigirão, quais setas de cupido, desejando saúde e prosperidade, criatividade e felicidade?
E agora, numa época em que as especificidade de cada uma das polaridades têm sofrido um ataque forte de nivelamento redutor, asséptico, voluntarista, quase que pretendendo negar ter o Universo sido manifestado e desenvolvido através das duas polaridades, nascendo os seres humanos num dos dois sexos complementares, qual deverá ser a nossa palavra e irradiação anímica esclarecedora, ou mesmo acção defensora?
Sem dúvida, valorizando a especificidade e individualidade feminina, tal como a masculina, com as suas características mais acentuadas de receptividade e sensibilidade, maternidade e sacrificialidade, amor e compaixão, delicadeza e beleza, ainda que certamente cada ser humano tenha as duas polaridades dentro de si e, portanto, lhe caiba harmonizá-las de acordo com as suas capacidades e tarefas nesta vida e de acordo com a osmose que fará com quem se casa, vive ou namora.
A mulher transmite algo das suas energias e qualidade femininas ao homem, tal como este transmite as suas à mulher, seja apenas pela palavra,  pelo contacto ou mesmo pela fusão corporal e anímica, neste caso momentos tão fortes quão sagrados, ao possibilitarem uma vivência maior do Amor e da Unidade ou mesmo da adoração e visão da Divindade.
 O objectivo das polaridades é a atracção e a gestação de novas formas de vida, de sentimento, de pensamento e de ser.  Logo, qualquer amizade e união deve nascer da atracção e da complementaridade, num processo alquímico, por vezes difícil, para gerar transformações internas e externas e um crescimento da consciência em vários níveis, já que pelo amor deixamos de sentir e pensar tanto só em nós, mas passamos a ser mais um com o outro, e podemos assim tornar-nos mais inspirados e conscientes do campo unificado de energia consciência que liga todos os seres e no qual vivemos enquanto almas espirituais, certamente de acordo com densidades ou afinidades e a nossa maior ou menor abertura...
Esta abertura ao todo pelo amor é muito importante, pois deixamos de sentir que somos apenas corpos de origem animal e cérebros já muito humanizados e repletos, e sentimo-nos antes como almas subtis, luminosas, bem mais vastas e livres do que a sociedade ainda tão patriarcal, violenta e crescentemente manipulante-controlante tenta  impor, nomeadamente com a tão suspeita pandemia e suas medidas restritivas. Temos assim que fortalecermo-nos bem a dois ou em grupos a fim de assim se comunicar e comungar conhecimentos afins e libertadores, para que haja uma luminosidade maior na humanidade e na Terra, que é também Gaia, Mulher, Mãe, Amante, Mátria...
 A mulher é então a grande criadora e enriquecedora do espaço livre de fecundidade e prosperidade em crescimento e diálogo, ao irradiar e ao originar, ora  lutadora ora como musa, mais força, amor, beleza e aspiração nos seres e no Universo,  manifestando assim a misteriosa e sublime Polaridade Divina Feminina, aqui e acolá identificada com a Santa Sophia, o Espírito Santo, a Shakti...
Talvez se possa ainda realçar que muito provavelmente é um erro, uma mistificação, crer-se que as pessoas têm vidas sucessivas com polarizações diferentes, ou seja, que já fomos mulher ou homem, pois através disso gera-se mais facilmente uma tendência a desvalorizar-se a polarização actual, mas que é aquela com a qual cada ser pode realizar-se espiritualmente e não invertendo-a. São aspectos subtis e graves, mas pouquíssima ou raríssima gente poderá equacionar com sabedoria ou mesmo conhecimento tais aspectos já do domínio subtil das individualidades imortais e dotadas de uma polaridade imutável.
Terminarei este breve ensaio  com um agradecimento profundíssimo e bem amoroso às mulheres que mais amei, apenas platonicamente ou também fisicamente, bem como às que mais me amaram, igualmente platonicamente ou não, sem esquecer a mãe e quem me cuidou, amou e instruiu em criança. E, finalmente, invocarei essa misteriosa alma-gémea, ideal sempre flamejante no coração e nas profundezas e cumes dos nossos seres  e que, realizada ou não, nela mesma ou nas que a representam, deve ser sempre fonte de vivência mais intensa e profunda com quem nos relacionarmos mais amorosa elevando a nossa identidade e origem a um plano primordial de Unidade no mundo espiritual, donde parece que vimos, alguns seres mais sentindo tal, saudosamente, tal a amiga Dalila Pereira da Costa, uma das musas da nossa tradição espiritual, tal como Alcipe, Florbela Espanca, Natália Correia e demais criativas, a quem saudamos, e a si, neste dia, de 8 de Março de 2021.
E acrescentarei três imagens, de inspiração.