quarta-feira, 8 de maio de 2024

Das orações ao Anjo da Guarda e ao Espírito Santo, e meditações, por João de Sequeira da Costa, no Cutelo de Predestinados. Com duas pinturas de Almada Negreiros.

                                  

 João de Sequeira da Costa, militar, nascido na Praça de Mazagão, Marrocos, na sua obra Exercício de Predestinados e cutelo de vícios. Tratado de oração e modo de orar, publicada em Lisboa, em 1732, transmitiu a sua visão e vivência do caminho da salvação, pelo Cristianismo, citando muito poucos autores, e deu tanto indicações como orações valiosas, que passamos a transcrever dado o sabor e ou mesmo eficácia perene que algumas encerram.

A obrazinha, in-12º de 116 páginas, rara pois não se encontra na base de dados das bibliotecas nacionais, a Porbase, contém uma dedicatória a Fernão Telles da Silva, Marquês de Alegrete,  onde explica ao seu mecenas e protector, que se singulariza sobre tantos "Heróis da Fama e Corifeus da Virtude", a razão principal de ter escrito o "pequeno volume": não perder o tempo desocupado, tal como os monges antigos que no espaço entre as suas orações dedicavam-se a trabalhos manuais, assim juntando ele este ramalhete de ensinamentos e orações sobre o modo de orar. 

                           

Após a dedicatória, João de Sequeira da Costa dirige-se Ao Devoto Leitor estimulando-o ao santo exercício da Oração, lembrando que o Amor de Deus é o princípio e fim de todas virtudes, e que devemos pôr  com amor os olhos da alma  em Deus, a fonte de toda a formosura, para sentirmos a bem-aventurança da ligação à Divindade e aos seus bens.

Nas licenças da obra, destaca-se a de Frei Simão António de Santa Catarina, que valoriza ele ter sido soldado da guerra santa em Mazagão, e agora a estar a lutar contra os seus defeitos-vícios em Belém (que pode ser o mosteiro dos Jerónimos), e ainda a de Frei João Baptista Troiano que afirma: embora haja «muitos livros místicos que dirigem os Fiéis ao perfeito modo de ter oração mental e vocal para conseguirem o espiritual aproveitamento de suas almas», este  não desmerece e tem até uma linguagem simples.

Quem reza ao Anjo, ou com o Anjo, acede à sua natureza angélica..

Seguem-se algumas orações, as primeiras ao Anjo da Guarda: 

«Anjo de Deus, que sois dado para minha guarda, com piedade superior, alumiai-me hoje, guardai-me, defendei-me e governai-me. Amen. 

«Sagrado Aio, e Angélico companheiro, dado por meu Deus para minha guarda, assiste-me nesta hora, livrando-me das astúcias do infernal dragão, e ajudai-me a servir, e amar a meu Deus.»

                                            

Para invocar a graça do Espírito Santo, exprime-se assim João de Sequeira da Costa, pleno de aspiração à luz e amor Divinos:

«Vinde, dulcíssimo Espírito, vinde amoroso consolador das almas, vinde soberana luz dos corações, e enchei esta pobre alma do vosso Divino amor; para que ilustrada, alegre e fervorosa, medite esta hora, e tire o fruto, que mais, for [da] vossa santíssima vontade.»
                  
Nas folhas preliminares, após a dedicatória ao Marquês de Alegrete, João de Sequeira da Costa no apelo fervoroso Ao Devoto Leitor, exclama no 3º parágrafo: «Se amas uma criatura por formosa, porque não amas a Deus, que é a fonte, e origem de toda a formosura? Se a bondade, e a formosura é objecto da tua vontade, quem mais bom, quem mais formoso, e quem mais digno de ser amado, que Deus? Oh ditosa e sempre bem aventurada a alma, que com todo o seu coração, e com todas as suas forças se emprega no amor, e lembrança do seu Criador, porque a tal possuirá todos os bens, e com eles ao mesmo Deus». 
Valoriza muito, na linha do dito de Jesus, "importa orar sempre, sem desfalecer",  a persistência no «santíssimo exercício da oração, (pois) conseguiremos com a suavidade a graça do Espírito Santo, a qual de tal maneira regala, esforça, e transforma o coração do homem, que (este) conceba novo alento, e gosto para todas as coisas espirituais, e grande aborrecimento  às coisas sensuais, caducas e transitórias.»
A obra partilha a sua crença optimista da possibilidade de comunhão plena do ser justo e devoto com Divindade e são merecedoras de reimpressão as páginas iniciais, onde partilha o seu entendimento da oração e do caminho religioso-espiritual, mas mesmo o pequeno volume pode merecê-lo todo para quem for mais religioso...

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pero Teixeira da Mota, Muito apreciei a sua publicação.
Na verdade, estou a fazer uma pesquisa sobre a vida dos Sequeira e Costa e este Livrinho foi uma autêntica surpresa. Pode dizer-me em que biblioteca ou arquivo pode ser consultado?
Os meus sinceros agradecimentos!
Maria João Castilla Janz
maria_janz@outlook.pt

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muitas graças, Maria João. Já lhe respondi. Lux.