domingo, 29 de dezembro de 2024

Dos livros, marginália e capas belas, e o que podem transmitir, perenemente: Francisco Alves, Alfredo Ansúr e Manuel d'Arriaga.

                                Livros, Capas e Marginália.

Por entre a desilusão grande que sentimos perante os políticos e os meios de informação ocidentais avençados, lobotizados e russofobizados,  os livros, e as suas capas, são um meio de viagem e diálogo para além da mediocridade de tanta instituição, informação e publicação.

As capas do livros, realizadas com tanto engenho e amor, e as antigas com certas limitações, por artistas conhecidos ou desconhecidos, dizem-nos: - Não somos só para ser lidos e relidos, mas também para sermos contemplados. E frequentemente bem investigados, pois preciosidades podemos conter, tais como anotações posteriores à impressão e as dedicatórias, bóias de amor-sabedoria lançadas  para o destinatário e dono do livro, ou para o futuro da Humanidade. Contemplemos e oiçamos:

Deste livro, na 1ª folha branca vai a dedicatória de Francisco Alves, nascido em Proença-Nova, um vibrante pioneiro do são e cristão espiritismo entre nós,  à Câmara Municipal de Braga. É de 1918, mas tão actual face ao genocídio do povo da Palestina: "O Ouvi é uma revolução d'alma, é um acordar das consciências, perante a hecatombe que assola o mundo"..... O mal, o egoísmo, a ignomínia vêm de tudo o "que não é inspirado na obra da Igualdade, Humildade, Caridade, Verdade". Movido pela compaixão e o seu conhecimento psico-espiritual, por vezes ingénuo, Francisco Alves transmite uma mensagem humanitária, doutrinária e despertante. As capas das suas obras foram dadas à luz da olisiponense Imprensa de Manuel Lucas Torres, à rua do Diário de Notícias, 59 a 61.

Esta  obra foi assim dedicada: «Curvando-me perante o supremo altar da sublime Verdade, ofereço à Pátria, à República  e à Humanidade, culto de amor e de trabalho». No interior, uma dedicatória manuscrita valiosa: "Princípio do reinado do Espírito sobre a Matéria. Para o bem humano pede-se leia de vagar e com atenção. Offerece o Autor, 8-5-1921" 
Pela capa, o tão popular romancista Blasco-Ibáñez dir-nos-á do além: - Não te deixes inclinar demasiado, não percas a consciência da tua verticalidade. Alinha-te, recupera a auto-consciência frequentemente, e abre-te ao alto, ao Divino, à sua co-presença. Sê uma torre, uma Casa de Deus justa, sábia.
A mais que popular Guimarães & Cª,Editores, que tanto animou a capital e o meio literário português, parece afirmar: - Sonhar na ventura amorosa a todos cabe na Fortuna da Vida, mas o acordo perfeito é bem difícil e raro. Todavia, poemas e cartas de Amor são imortais, tal como o Amor em si, ou mesmo a amizade divina que reina entre todos os espíritos de bem....
Hino à luz, ao conhecimento, à ciência, e à juventude, para que aspire sempre à luz do conhecimento infinito, e frutifique em amor, justiça, fraternidade e multipolaridade. Em 1912, por Alfredo Ansúr (1849-1927), um genial jurista e escritor,  aberto à espiritualidade universal, nomeadamente oriental que conhecia bem, tendo escrito mesmo um livrinho sobre Confúcio nas edições A. M. Teixeira, dirigida pelo advogado e ocultista João Antunes, onde Fernando Pessoa também colaborou com traduções de Teosofismo. O livrinho, um in-8º de 64 páginas, dado à luz em 1912, no Centro Typ. Colonial (1.200 exemplares, com oito tipo de colorações nas capas, conforme os liceus e universidades a que se destinavam),  contém sobretudo poemas astronómicos e  três longos budistas (e um recorte de uma crítica de um jornal da época), é precedido duma carta de convivialidade e urbanidade de outro pensador e escritor apaixonado pela sabedoria e a justiça, e que foi amigo de Antero de Quental, Manuel d'Arriaga, um espiritualista e utopista que chegou a presidente da República Portuguesa. Bons tempos de qualidade política, face à decadência actual. Não esmoreçamos, não desistamos, porém, pois há uma tradição espiritual portuguesa, há uma philosophia perenis, um corpo místico da Humanidade, que conta connosco...
Extracto do longo e genial poema dedicado ao presidente da República  Manuel d'Arriaga, seu companheiro em Coimbra, e a sua mulher Lucrécia:
«Estrela dupla sois- a Sírio em candidesa.-
(Há lucernas assim no azul da imensidade)
Deslumbram a retina em sua esplendidesa,
Constituem faróis da culta humanidade.»

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