domingo, 31 de agosto de 2025

O Equinócio da Primavera celebrado no Jardim da Estrela, em 1977, escrito por mim e organizado no C.A.L., Comité Anti-Nuclear de Lisboa.

                                  

Este convite para a celebração do equinócio de Primavera no jardim da Estrela em Lisboa, no final da década de setenta, provavelmente a primeira que nela se realizou modernamente, já que no começo do sé. XX houve algumas afins, tal a do dia da Árvore, escrevi-o a partir do C.A.L, o Comité Anti-Nuclear de Lisboa onde era um dos membros. Como tenho estado a recolher informações de diários e documentos acerca do pioneiro do jornalismo e activismo ecológico Afonso Cautela, para o seu In Memoriam, encontrei o stencil dele e resolvi transcrevê-lo, já que a maioria destes textos ecológicos são tão efémeros quão perenes...

                              EQUINÓCIO DA PRIMAVERA

«Todos os anos e milagres acontece:  a Natureza desperta de um sono aparente e mostra exuberantemente a sua beleza aos nossos sentidos, quase adormecidos por uma civilização desumanizada, insistindo uma vez mais para que o Homem se religue com a sua harmonia.

O Equinócio da Primavera sempre foi celebrado de diversas maneiras pelos povos com o intuito de se tomar consciência e manifestarem-se as forças vivas e criativas que estão por detrás da natureza e no interior de cada ser humano.

Actualmente, face aos rumos inconscientes e alienadores dos vários sistemas dominantes, que pela sua acção destruidora ameaça não só cada pessoa como o próprio Planeta, é urgente que as forças vivas e dinâmicas, interiorizadas e silenciadas nos momentos duros e frios dos Invernos e infernos de todos os tipos, renasçam nesta época prontas a despertar os seres para a germinação das suas qualidades mais verdadeiras e libertadoras.

Com este propósito convidamos à participação na Festa da Primavera que vai ser realizada no Jardim da Estrela no dia 20 de Março, Domingo, com os diversos grupos alternativos que se propõem animar esta celebração nos seguintes campos: animação infantil, música, teatro, dança, yoga, artesanato, alimentação natural, ecologismo, pacifismo, antinuclear, colóquios, rituais, jogos.»

           VEM CONNOSCO. A PRIMAVERA ESPERA-NOS. 

 

sábado, 30 de agosto de 2025

Dia Mundial do Ambiente. Um texto para a celebração, dos meus tempos de jovem ecologista espiritual.

Estando a concluir um texto para o In memoriam do Afonso Cautela, na busca das referências a ele, encontrei este texto solto que menciona a sua livraria Peninsular como um dos locais alternativos, e resolvi partilhá-lo. Contextualizarei melhor as ideias expressas, futuramente. Creio que foi escrito em Junho de 1978 e não terá sido distribuído. 

                                                         
           «Om
Celebra-se hoje [5 de Junho, de 1977 ou 1978] o dia mundial do Ambiente, unificação por todo o planeta dum pensam
ento sobre o que nos rodeia e onde andamos, nesta nossa peregrinação aqui e agora no Universo, e em Portugal.

Ambiente tanto exterior como interior, tanto visível como invisível e que no fundo é toda a vida de cada um de nós nos seus aspectos de relação. Por isto é fundamental não só todos os aspectos serem repensados e consciencializados, como também daqui resultarem modificações reais e sensíveis  na vida de cada um e da sociedade.

Estamos no amanhecer da era astrológica do Aquário, e por toda a Terra se pode observar já o despontar de alternativas harmoniosas, em contraste com os padrões habituais desequilibrados de produção e consumo.Trata-se realmente duma mutação a realizar não só no foro individual de cada um, mas a reflectir-se no exterior no social do trabalho e da vida de cada um.

Alienados de nós próprios e da Ordem do Universo, as poluições e exploração são o resultado lógico desta falta de sintonização e harmonização, que é o trabalho mais urgente e criativo a fazer-se. 

Se o ambiente está já no sangue do sub-desenvolvido, ou na poluição das lixeiras, ou na mortandade dos animais e humanos, ele está também em causa nos desejos formulados e nas emoções sentidas perante as diversas situações em que participamos diariamente.  Aqui cabe-nos uma tarefa de sabermos optar com discernimento face aos estímulos e influências baixas, produtoras de toda a gama de sentimentos que vão desde a irresponsabilidade ao medo, da violência ao sexualismo.  E, em estreita ligação, o controle dos nossos pensamentos, que na maior parte das pessoas não são só alheios, como involuntários: os livros e as modas, os jornais e os partidos, a televisão e as ideias feitas, literalmente esmagam a criatividade  das pessoas  e a sua capacidade de alterarem os seus modos de vida nesta sociedade tecnocrática e materialista que não hesita em destruir a fauna e a flora, na sua ganância de lucros e de industrialização, sem mencionarmos os milhares que se gastam nos armamentos, que servirão um dia para os humanos se auto-destruírem.  

Mas como nós somos imortais, espíritos incarnados em corpos materiais, estes sim perecíveis, está bem de ver que é da nossa identificação com o corpo físico que nasce a ignorância criadora de desejos que sustentam o actual modo de vida dito materialista, despossuído da transcendência Divina, e das finalidades cooperadoras na realização dum plano, que conduz a humanidade para a sabedoria e o amor.

É para esta tomada de consciência e para o seu frutificar que tantos movimentos alternativos, espirituais e comunitários têm surgido, apontando a necessidade de transformar-nos primeiro, antes que possamos correctamente agir no mundo, e oferecer toda uma série de práticas e experiência que permitem a harmonização e unidade com a vida.

Assim os ditos problemas do ambiente devem ser tratados a partir da unidade da vida, e com um conhecimento real de tudo, visível ou invisível que está implícito, e no próprio local, o que requer seres harmonizados e conhecedores; a tal revolução cultural que não se fez no país, mas é claro não só no povo, mas sobretudo nos dirigentes, que esperemos que deixem de ser guiados [ou corrompidos] pelos grupos de pressão que estão por detrás das nucleares, dos armamentos e de tantos bens de consumo.

Felizmente no nosso país a nova era vai-se tornando possível em alguns pontos que apontamos aqui como intuição-sugestão de práticas, teoria e contactos interessantes que podem ser aprofundados e irradiados-partilhados: 

Em Lisboa os diversos restaurantes vegetarianos e macrobióticos, as livrarias S. António [do Tony Silva], Peninsular [do Afonso Cautela] e a do Victor Quelhas; a Sociedade Teosófica, r. Passos Manuel, 20, cave.

Em Sintra, os ensinamentos não violentos (de Lanza del Vasto e da Arca, com a Manuel Lourenço), rua Carlos França, nº 9. 

No Porto, a Pirâmide, R. do Bryne 50, restaurante e centro conhecedor das experiência biológicas e conhecedoras no Norte.

Em Porto Brandão, Caparica, a Agrosanus, r. 28 de Maio, com o Luís Vilar.

Em Lagos a cooperativa de Barão de s. João com o Deodato Santos

Revistas e jornais como a Urtiga, a Alternativa, o Nostra, a Gnose, a Via Macrobiótica (r. Sacadura Cabral, 89, à Cruz Quebrada); a Carta Urgente (r. Fernando Santos, 13, 1º Setúbal); a Raiz e Utopia, (r. António Maria Cardoso, 68,1º Lisboa).

Que possamos realizar a nova era em nós e à nossa volta, criando assim o ambiente luminoso e amoroso da Harmonia do Universo.»

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Dois poemas espirituais ao Sol e à Divindade, nestes tempos de luta e transição. Lux, Amor, Veritas, Pax.

                                         

Ó Sol Divino, ó Esplendor glorioso,
aquece hoje as almas dos que mais precisam,
dardeja  os teus raios inspiradores e curadores
e fortifica a todos os peregrinos e buscadores.

Cobre-nos do manto áurico luminoso
de filhos e filhas da Divindade Original,
que tem em Ti a mais bela e poderosa face,
ó Deus, ó Deusa, adorada na história mundial.

Ilumina e clarifica as nossas almas,
e abre-nos mais à Unidade
 contigo e com a Divindade,
  na harmonia com a Humanidade. 

II 


Ó Divindade, ó Divindade
protege-nos hoje e sempre,
para que mesmo na acção exterior
estejamos cientes de ti no interior.
 
Que a nossa lucidez e serenidade,
nos ajudem a sentir-Te em nós,
como paz silenciosa e vibrante
que une o graal do peito com o Cosmos.
 
Ó Deus, ó Anjos, ó Mestres
eu vos saúdo e invoco!
Possa o corpo místico da Humanidade
ser cada vez mais comungado
e o infrahumanismo ocidental debelado.
 
Saibamos orar e meditar com mais tempo, 
espaçar mais os pensamentos no silêncio,
invocar as bênçãos do Alto,
assimilar o fogo no coração
e irradiar luz e amor na acção. 
 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Dos mistérios de Fátima: uma passagem luminosa pelo santuário, um local bem sagrado e harmonizador em Portugal, um axis mundi.

                                                              

Registo do diário de 12 de Junho 2012 e agora transcrito e melhorado  em Agosto de 2015, na graça divina...

«Gerês. Sirvozelo. Cá estamos, 20:20. Viagem acidentada, mas conseguimos chegar às 18 horas, tendo passado pelo santuário de Fátima, com boa sensação no coração quando estive a meditar junto ao que foi outrora o local e a capelinha das aparições. Porquê?

Porque é um sítio sagrado há já algum tempo, com muita gente aberta ao Divino e certamente que lá de cima também devem estar muitos seres e entidades a tentar ajudar, inspirar e corresponder ao pedidos e necessidades. Pena é as pessoas não estarem muito educadas ou treinadas para a receptividade mais consciente a tal intervenção possível do mundo espiritual, pois não são ensinadas a meditar, a orar e depois a fazer silêncio, para poderem receber intuições, sinais, conselhos, energias...

Imaginei que tipos de fios, ou irradiações, ou ligações subiam para cima naquele local, as suas formas e cores, e se haveria quase um emaranhado de fios, dada a profusão de apelos, desejos, votos, pedidos, mas é difícil saber ao certo, ou tirar conclusões, de fugidias impressões ou imagens que senti ou vi. Convém orarmos-meditarmos mais tempo, termos uma, duas ou mais horas para aprofundarmos a experiência espiritual que possamos merecer...

Cada ser humano é  um emissor e receptor de energias eletromagnéticas, de sentimentos e emoções e de informações psíquicas ou ideias-forças ou psico-morfismox, e onde dois ou três se reúnem numa intencionalidade  ou num nome sagrado esse ser ou vibração torna-se um pouco (ou muito) mais presente, seja Jesus ou Maria, o Anjo ou Deus, certamente de formas diversas, de acordo com a aura, crenças e expectativas e necessidades de cada um, mas em geral apenas são sentidos certos efeitos… 

 Ora Fátima é um vasto espaço sagrado e pesem os maus gostos de alguma iconografia religiosa, ou do comercialismo das lojinhas, ou da construção urbana envolvente, ainda assim respira-se bem e fundo, seja na peregrinação rural às oliveiras e rochedos calcáreos de Valinhos onde os Anjos se fizeram sentir e ainda hoje são invocados, seja no grande adro do santuário, e tanto quando não tem ninguém, quando há um vazio budista ou zen e o sopro do espírito ainda se pode intuir, como quando está apinhado de gente, e o contágio emocional das auras, hinos e velas se propaga e não é cortado por  vozes ou discursos fracos de sacerdote. Então as almas   elevam-se e banham-se  na devoção amorosa a Maria, a Jesus, a Deus, e podem gerar-se conversões e curas, por vezes tecidas ou operadas subtilmente por anjos, sorores, santos e  espíritos prestáveis.

Por isto tudo, apesar de todos os que criticam Fátima como um embuste ou uma negociata, ou de todas as legítimas interrogações sobre o que se passou, quem, sobre as oliveiras, os pastorinhos viram ou ouviram, ou o que sentiram, e sobretudo os três segredos tão mutáveis ´nas hermenêuticas (e com a santa Rússia de hoje a tentar salvar o Ocidente do infra-humanismo oligárquico globalista), o que não há dúvida é que se tornou e continua a ser um valioso local de peregrinação, de fé, de esperança, de orientação, de cura, de devoção e adoração, um altar do Princípio Feminino no Ocidente extremo, um ponto e eixo de maior ligação entre o Céu e a Terra, entre a Humanidade carente-aspirante e a abundância Divina  transcendente, imanente, providente, Logos, Pax profunda no mundo!

Também senti mais o coração pelo amor de Deus. Ou graças ao Amor de Deus que aqui, qual chama atiçada pelas velas sacrificiais e apelos mais ardentes de algumas almas, se manifesta ou sente ou se eleva mais… Um amor quente, redondo no interior do peito, forte…

Orei pelos antepassados, ainda fui à igreja grande antiga do santuário mariano e de novo meditei bem... Demos graças...

                                             

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Poema espiritual dialogante com a Divindade ... Escrito em 5/5/2016 e agora na transcrição melhorado

Mãos em oração. Dürer.

Verso, ou face, do poema.

Está a chover, ó Deus,
   faz frio na minha alma. 
Até quando me deixarás tiritar
sem o calor do Teu subtil influxo? 

Os pássaros cantaram na aurora
e agora esconderam-se nos ninhos.
Chamei-Te na meditação matinal,
agora é a Tua vez de me abrigares.

- Ó Pedro, tem calma e paz,
tudo muda, tudo passa.
É a ligação Comigo que fica,
firma-a bem, não se desvaneça.

Gosto que Me acendas fogo em ti
 e abras a tua mente ao Infinito,
repetindo o Meu Nome com amor,
em aspiração perseverante do coração.

A tempestade já passou,
pinga só na memória.
Pega na tua manta,
cobre-te com o meu mantra
e queima a inércia e o sono.

A humidade e o cansaço aliados
o que são para o espírito poderoso,
mesmo que caído do céu
ainda filho da Fonte do Universo? 

- Deus, Deus, apela o Pedro:
 Porque me originaste,
ilumina-me agora,
pois devo-te o que brota em mim
e busca a religação íntima a Ti.



terça-feira, 26 de agosto de 2025

Da importância dos sons, palavras, orações e mantras nos nossos tempos tão agitados e desinformados. Breve testemunho

 A busca das orações e cantos, palavras de poder e mantras mais eficazes para controlarem a instabilidade do  pensamento  e orientarem-no para a consecução de estados psíquicos mais interiorizados, concentrados, luminosos, transparentes, elevados é um dos tesouros das tradições espirituais, desde os Vedas a Orfeu,  e que outrora tinha grande valor e apreciação, levando os seres na busca a deslocarem-se centenas de quilómetros para receberem da boca dum mestre vivo o abre-te sésamo da alma espiritual.

Também eu viajei no Oriente nessa demanda e recebi de alguns mestres o testamento anímico  que pensavam ou sentiam ser o melhor ou o mais apropriado para mim, e eu grato, mais ou menos agraciado pela luz ou pela beatitude, recolhia na meditação iniciação esses sons e palavras há séculos sagradas e entoadas e que praticaria algum tempo, com bons ou variáveis resultados, mas cedo a variabilidade dos ambientes e da fortuna me faziam deixar de ser fiel a elas e no fundo a eles, do que me lamento, mas assim sucede na peregrinação movimentada destas décadas últimas.

Todavia algo nos ficou nas almas desses sons, ritmos e mantras  sagrados que ouvimos ou que com que nos iniciaram, e hoje certamente perdura e se mistura, germina ou fermenta nas que mesmo diferentes pronunciamos seja nas nossas conversas espirituais ou satsangas, seja sobretudo nas nossas aspirações e cantos, orações e meditações, seja na luz do dia dum templo ou quando acordados a meio da calada  da noite, as vamos entoando, sentindo e lançando através das fímbrias da nossa alma, procurando abrir canais para os seres e níveis espirituais em nós e no universo.

Mais importante então do que a fidelidade maior  a uma ligação a um mantra, uma oração, um mestre ou a uma religião, será  talvez conseguirmos pronunciar com alegria, amor e coragem os sons ou orações que brotam espontaneamente em nós e abrirão sulcos de luz  que transmitirão energias luminosas, nos purificarão e nos abrirão  ao mundo espiritual, e nos religam mais à Divindade nos níveis, modos e formas que sejamos merecedores.

Para o que oramos possa brotar com força e eficácia do interior, do cálice do nosso coração,  já deve haver alguma acumulação de estudos, conhecimentos, diálogos,  sacrifícios, aspirações, amor, pois a Divindade é Logos, isto é Inteligência e Amor, e exige que, para chegarmos mais aos seus mundos, estados conscienciais e qualidades, já sejamos capazes de dedilhar com amor e inteligência a sua principal manifestação em nós que é a Palavra, Sermo ou Verbo, Vak ou SatNaam. Ou seja conseguirmos orar, cantar e mantrizar sabiamente, reforçando na nossa navegação tanto o cordame que sustenta as velas da nossa alma ao vento do espírito, como a visão com o óculo do timoneiro alinhado com o espírito e os mestres, santos e anjos. 

Sabermos abrir a nossa alma ao vento do espírito, ao pranatman, ou seja, sabermos inspirar as energias vitais, psiquicas e cósmicas, concentrá-las nos centros de força da nossa alma e na expiração pronunciarmos os sons ou mantras de poder que sintamos justos, necessários actuais, para os seres, a Terra e nós.

Como gostaria de poder transmitir os sons ou mantras que mais me tocaram, ou aqueles que pronunciei com efeitos mais fabulosos, mas quem os quererá receber ou saberá acolher, pois a maioria troçará ou menosprezará?

Assim vou avançando ora no lema e mantra de Pedro e Inês, até ao fim do mundo, ora no tibetano que o nosso Padre António de Andrade recebeu nos Himalaias em 1624, dos lamas e dos moinhos de orações, o Aum Mani Padme Hum, Vem ó jóia espírito à nossa alma e ilumina-a, e que ele traduziu livre e pioneiramente, Ó Deus, ó mestre Jesus, limpa-nos dos pecados, ou erros ou infidelidades, em que todos caímos mais ou menos neste sinuoso caminho per aspera ad astra, e no qual sem dúvida os elos das orações e mantras milenários, associados a mestres e Deuses e Deusas, e em especial neste época de manipulação mediática e infrahumanização imposta pela oligarquia ocidental semi-diabólica (ou seja, adversária da fraterna multipolaridade, e do espiritual e divino), são um dos principais meios para sobrevivermos física, ecológica, ética, anímica e espiritualmente.

Saibamos pois orar, mantrizar, cantar, seguindo linhas antigas ou mesmo descobrindo criativamente as nossas, ligando-nos ao coração e irradiando no fogo do amor-sabedoria divino, Logos e augoeides ou corpo de Glória, Khvarenah, em nós .... 

Aum, Agni, Logos, Amen, Hum, Hri, Hu, Sê,! 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Sobre a Tradição Espiritual Portuguesa: Elos e características ao longo dos séculos. O visionarismo de Dalila Pereira da Costa. Desafios actuais.Video de 17 de Agosto de 2025

Há dias uma amiga, a Ana,  que estava a ler um livro da  Dalila Pereira da Costa e que se interessa pelo sagrado Feminino e as raízes da Tradição Espiritual Portuguesa, telefonou-me para saber quais eram as fontes  em que a Dalila (com quem mantive uma amizade e diálogo bastante próximo vários anos) se baseava, em quem ou quê ela se apoiava, ou que a justificava. 

Começando a responder-lhe, resolvi gravar a resposta e, apesar das auto-limitações e de várias ideias transmitidas acabarem por ser brevemente aludidas, como foi o caso do culto do Espírito Santo em Agostinho da Silva, nos franciscanos, nos Açores, traçei um quadro geral da Tradição Espiritual Portuguesa e dos seus elos principais,  abordei e aprofundei a vivência psico-espiritual da Dalila Pereira da Costa e apontei apara algumas carências e desafios da espiritualidade em Portugal. 

Certamente muito, muito mais poderia ser dito, e talvez venhamos a acrescentar alguns aspectos e linhas de forças úteis a maior luz e sabedoria na contemporaneidade nossa, a que me refiro no fim, nomeadamente a tradição mística cristã, a indiana, a iraniana e a russa de Soloviev, Berdiaeff, Roerich, Aleksander e Daria Dugina, ou como podemos hoje trabalhar as ligações aos níveis mais elevados, como cavaleiros do Amor, ou ainda como na demanda ou já portadores do santo Graal...

domingo, 24 de agosto de 2025

Um poema espiritual: Como partir para o mundo onírico subtil e espiritual?

Escrito há já algum tempo e transcrito agora... Sê!

Pouso à borda da nau
da minha cama
os despojos do dia.

A camisa aberta escorrega
e o  corpo jazerá por fim.

O silêncio da noite é aparente:
as almas estão cheias da vida
e das vistas e emoções do dia.

Vou passear em torno da nave
antes de a abordar,
  desprender-me de todos os fios
e correntes inúteis
e lançar as energias para o alto,
para bem longe,
Lá para o Infinito e para Deus,
mistérios das origens
e dos destinos finais, 
que desejo melhor conhecer.

Por isso luto, escrevo, medito, 
durmo e restauro a Vida.

Dispo a camisa na noite fria,
 esfrego os braços tímidos
e arremesso bem longe
os pesos e tensões.

Invoco o fogo do Alto
e assimilo-o intimamente.

Percorro os cantos do quarto
e os símbolos que são janelas
por onde saúdo e chamo 
esses seres e energias
que nos antecedem e guiam.

Não estou só no Cosmos
e com o corpo e alma firmes,
  saúdo os mestres do passado
e vou sonhar e despertar para o futuro. 


sábado, 23 de agosto de 2025

Face ao sofrimento e ao mal, irradie o Amor divino. Contemple e emane as energias ígneas do Coração espiritual.

Entrar mais no coração, orar, silenciar, ser e emanar melhor o Amor..

Nestes tempos de tão grande decadência do Ocidente, de tanto sofrimento causado por dois extremismos bastante diabólicos, o dos sionistas anti-palestinianos e desumanos de Israel e o dos ultranacionalistas anti-russos da Ucrânia e do Ocidente, todos sofremos, uns mais outros menos, uns maisconscientemente  outros menos , mas todos sofremos e fazemos sofrer.

Desta soma imensa de sofrimento, muitas energias negativas de dor, indignação, revolta, ódio, crueldade, mentira se desprendem para a atmosfera psíquica da Humanidade, envolvendo certas zonas de forma bastante mais pesada e concentrada, que uns ignoram, ou tentam ignorar ou então negam-nas, tentando assim manter tal mal, seja por exemplo enquanto alistamento forçado e bombardeamentos indiscriminados por parte da Ucrânia, seja enquanto genocídio deliberado perpetrado pelos militares e colonos israelitas. Mas é inegável que qualquer alma e coração sensível sofre e, se ela é sã e não já infrahumanizada, tenta de um modo ou outro fazer diminuir ou parar as causas desse sofrimento nos locais, em si e principalmente nos responsáveis  militares. políticos e dos meios de informação que o provocam, estimulam, defendem.

Sabemos contudo que cada vez mais os cidadãos pouco contam, a maioria dos partidos está alinhada com quem (da alta finança e oligarquia) lhes paga, e que o autoritarismo ou  autocracia dos que governam, nomeadamente sem mandato, caso dos primeiros ministros da Ucrânia e de Israel, ou dos irresponsáveis e impunes, tal a dirigente-mor da União Europeia, reduz a nossa capacidade de influenciarmos pelas vozes, petições,  manifestações e comentários nas redes sociais ou mesmo nos meios de comunicação,  a marcha dos acontecimentos.

Poderemos encontrar outros meios de acção, talvez mais subtis e indirectos, mas com alguma eficácia? - Sim, tal sempre aconteceu e tanto o livre pensamento, como sobretudo a magia e a religião tiveram essas funções de tentarem influenciar a matéria e as mentes, e religarem aos mundos ideais ou espirituais de modo a diminuírem ou vencerem o mal que possa envolver uma pessoa,  um país, ou mesmo a Humanidade.

Na religião católica ocidental houve um símbolo de uma realidade universal que se destacou nos século XVII-XVIII e teve um enorme desenvolvimento popular e devocional nos séculos XIX e começo do XX, gerando imensas fraternidades e irmandades e milhões de imagens devotas que enriqueceram a iconografia cristã,  abençoaram os lares de muitas famílias e encantaram almas mais sensíveis ou inocentes: eram imagens belas e impressas em gravuras, registos, estampas, litografias, lenços e santinhos que enchiam as lojas de impressores religiosos e de locais de peregrinação e devoção, e depois, escolhidos e acolhidos, viajavam para as paredes de casas e famílias enquanto estampas e para livrinhos devocionais enquanto santinhos, alguns tornando-se ícones para quem os sabia sentir, amar ou contemplar melhor.

As características e efeitos de tais imagens e santinhos ao alcance de todos são quase infinitas mas nestes tempos de intenso sofrimento, e de tão pouco tempo para as pessoas lerem, rezaram e contemplarem, resolvemos escolher algumas poucas imagens desse símbolo riquíssimo e agora bastante esquecido, a não ser pelos mais sensídveis ao amor e os tradicionalistas que ainda o cultuam, nomeadamente os católicos na primeira sexta-feira de cada mês. 

É ao sagrado Coração, que me refiro, em especial de Jesus, em seguida de Maria, mas também o de qualquer santo, santa ou ser que manifestou mais o fogo do amor no seu coração espiritual, dissipando com a sua luz abnegada as trevas do sofrimento e desespero, do erro e do mal.

Este é um dos trabalhos que qualquer pessoa que esteja no caminho do auto-conhecimento e do aperfeiçoamento, isto é, no caminho espiritual, pode realizar. E de um modo simples, educativo, ao contemplar tais imagens belas com devoção e aspiração, faz  crescer, pelas partículas e ondas  subtis dinamizadas, o Amor, diminuindo o ódio, a crueldade, o mal, o sofrimento, a ignorância em si, nos outros e na aura e alma colectiva dos povos e da Humanidade. Estamos todos interligados no vasto campo unificado de energia, consciência, informação...

Partilho então agora sete imagens valiosas para contemplação e assimilação dos seus conteúdos, virtudes e energias, seis tradicionais do séc. XIX, outra realizada nos nossos dias, mas com forças bem luminosas e benéficas, para que a ignorância, a crueldade e o mal diminuam e  a paz e a fortuna  da Humanidade fraterna e multipolar cresça e se expanda...

"Pare o Mal". Chega de opressão dos corações inocentes e puros. Que o Amor Divino e do mestre Jesus brilhem mais na Terra!
 O Amor Divino, e em particular o de Jesus nestes tempos tão sombrios ou diabolizados da sua Palestina, está preso, encarcerado. As pombas ou almas que são alimentadas por ele e que voam pelo mundo como mensageiras da paz fraterna são poucas. O que podemos fazer para pelo menos haver algum amor e compaixão entre tantos seres desumanizados?
O coração do mestre Jesus continua a sangrar, em especial pela  opressão da Palestina. Apesar do seu poder espiritual, o empedernimento do coração dos  mais maldosos tem efeitos muito negativos neste mundo físico no qual os humanos dispõem do livre arbítrio para fazer o que querem egoísta e cruelmente. Com esta imagem do mestre Jesus, de auréola irradiante, tal como o coração ainda que sangrante, oramos, e as pessoas consagram-se a não fazer sofrer ou sangrar o coração de Jesus, ou do Amor, e quer-se a misericórdia, a compaixão e a fraternidade entre os seres.

    O coração elevando-se a Deus pede que o Amor circule entre os seres, e atrai os anjos que nos inspiram na realização do Bem...                                                                 

A escala ascendente e descendente do Amor entre  os devotos cristãos e Deus, desde a sacrificial inserção na sociedade até à adoração divina, passando pelos polos do axis mundi.



 Maria, avatarização cristã da Deusa Mãe, ou do Feminino na Divindade entre nós, com o coração bem central no peito, ardente e misericordioso, potencial de cada mulher.
Reconhecer e entrar no coração espiritual, árdua demanda. Saibamos orar, silenciar, meditar, ser e emanar melhor o Amor.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

A luta actual pela Verdade, Amor, Logos ou Sentido que nos deve animar. E de Nicolas Berdiaeff, um dos últimos mestres russos, breves pensamentos do seu "Reino do Espírito e Reino do César".

A luta para que venha ao de cima a Verdade, perene e actual, e os ensinamentos para tal dos mestres da Rússia: Nicolas Berdiaev....

Confrontamo-nos sempre como uma dualidade entre o mundo   ideal e espiritual de verdade e amor que desejaríamos, sentimos ou intuímos, e o mundo social e político, que tanto desfigura e oprime presentemente a Natureza e as melhores virtudes do ser humano.
Não são suficientes os sinais e ensinamentos éticos e espirituais que as religiões, os grupos, ou a nossa  própria experiência nos deram ou dão, e geram de efeitos na nossa interelação com o gigantesco e tão atomizado mundo, para que a nossa aspiração a uma maior harmonia de vida, do amor, da verdade e da realização espiritual se cumpra facilmente.
Caem muitos em cepticismos ou materialismos consumistas, em seitas ou partidos frequentemente alienadores, partindo-se do todo e perdendo a unidade prodigiosamente diversificada da vida e morte, do amor e da violência, da sabedoria e da ignorância, da luz e das trevas, esquecendo-se que na Terra os contrários devem ser criativamente  trabalhados, vencidos, harmonizados, unificados, na comunhão com o Logos, a Verdade, a Inteligência e Amor cósmicos e divinos, nossa essência e substância...
O que podemos fazer nestes nossos dias em que interesseira e manipuladoramente a mentira e a hipocrisia são abundantemente utilizados pelos políticos e governantes ocidentais, cada vez mais avençados à oligarquia ocidental infrahumanista, numa luta contra a Verdade, a Justiça, a Multipolaridade, o Amor, a ligação Divina, contribuindo para a diminuição do discernimento e  amor à Verdade nas populações sujeitas à lavagem do cérebro que os meios de informação intensamente lhes impõem?
 
 Pois devemos armar-nos de forte energia psíquica flamejante, invocarmos ou ligarmo-nos aos mestres e seres celestiais, e repelirmos e  suplantarmos os seres, energias e informações mais negativas. E perseverantemente meditar e assimilar  as energias e os ensinamentos dos sábios que nos antecederam, e em especial os da grande alma Russa, tão sacrificada na História e agora em luta de morte com a oligarquia ocidental infrahumanista opressiva e que tem no Fórum Económico Mundial, na Open Society, no Fundo Monetário Internacional, e em alguns grupos financeiros mais ou menos sionistas os chefes que manipulam, avençam e corrompem os dirigentes políticos ocidentais, ou as instituições ocidentais, máxime a desgraçada da direção da União Europeia. e da NATO verdadeiramente de seres demasiado arrogantes, insensíveis ou mesmo criminosos, no seu apoio ao terrorismo ucraniano e israelita.

Donald Trump, após ter sido instruído por Vladimir Putin sobre a Verdade do que se passa,  puxa as orelhas aos avençados escravos do Fórum Económico Mundial, cheios de ódio à Rússia. 16/8/25
Entre os filósofos e espirituais russos Nicolas Berdiaeff (1874-1948), que já abordámos neste blogue por duas vezes (tal:  https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/08/os-mestres-universais-russos-nicolas.html), é um farol de luz, pois conhecia profundamente tanto a filosofia e a religião como a vida social, as ideologias e a política. 
 Oiçamo-lo num breve pensamento, do seu último livro, Reino do Espírito e Reino do César, pela  sua actualidade, e pelo seu apelo a não nos deixarmos alienar pela  internets e as bases de dados das Inteligências artificiais, nem desanimar face à  hipocrisia e mentira, desinformação e manipulação em que a maioria  dos dirigentes políticos e jornalistas e comentadores vivem e tentam impor-nos ou infectar-nos o mais possível.       

                                     Nikolai Berdyaev - Personalism.com

«Vivemos numa época em que não se ama a Verdade nem se a busca; a verdade é, e cada vez mais frequentemente, substituída pelo interesse, e a utilidade pelo desejo do poder. A falta de amor pela verdade  manifesta-se, não só numa actividade nihilista ou céptica em relação a ela, como também na sua substituição por esta ou aquela crença dogmática, nomeadamente nas que admitem a mentira e a consideram, não como um mal, senão como um bem. 

Já no passado, a indiferença em relação à verdade expressava-se numa fé dogmática que não admitia a livre indagação da verdade. A ciência desenvolveu-se no seio do mundo europeu, enquanto buscou e rebuscou a verdade, independentemente da utilidade e do proveito que podia proporcionar. Pois mais tarde a própria ciência começou a transformar-se em uma arma para uso dos sistemas dogmáticos anti-religiosos, tais como o marxismo, ou então num instrumento do poderio técnico» [como os do capitalismo ou do neoliberalismo infrahumanista opressivo actual.]

«O caos em que se encontra submerso o mundo na actualidade, e com o mundo também o pensamento, deve levar-nos a reconhecer o vínculo indissolúvel entre a verdade e a existência do Logos, do Sentido. A dialéctica perde todo o sentido se não existe o Sentido, o Logos [a Inteligência-Amor, Divina], que deve triunfar no processo dialéctico. Por isto é que o materialismo dialéctico é uma contradição de términos. O desenvolvimento histórico que engendra o relativismo é impossível se não existe o Logos, o Sentido, do processo histórico.»

Saibamos pois abrir-nos mais ao Sentido da Vida, ao Logos, Palavra e Verbo,  Amor e Inteligência, manifestado pelos santos, heróis e mestres, maxime por Jesus o Cristo, que subjaz o Cosmos e  todos os seres e partículas num vasto campo unificado de energia consciência informação, outrora denominado Anima Mundi, ou mesmo o Reino dos Céus, ou do Espírito como Berdiaev lhe chama, que está dentro de vós, ou ainda o corpo Místico da Humanidade, da Igreja, da Mátria, da Tradição espiritual de cada povo e a Perene universal.

                                

 Hoje este Logos aspira e tende fortemente a ser reconhecido e vivido no amor à Humanidade, à Terra, à Divindade e na  multipolaridade fraterna e equitativa, o que os mestres russos tanto desenvolveram, de Soloviev e Berdiaeff, de Sergei Boulgakov a Pavel Florensky, de Nikolai, Helena, Yuri e Svetoslav Roerich a Boris Abramov, e nos nossos dias bem presentes nos líderes políticos Vladimir Putin e Sergei Lavrov, ou sobretudo nos filósofos e geo-estrategas Aleksander Dugin e na sua filha, já nos mundos espirituais, Daria Dugina.
Muita força, luz e amor Divinos nele
s, e deles para nós!

"Optimismo escatológico" ou a luta actual pela Verdade,  Logos ou Sentido que nos deve animar no fogo do Amor Inteligência invencível na sua essência...

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A homenagem (1ª parte) plena de amor de Alexander Dugin a Daria sua filha, e uma valiosa hermenêutica da sua visão e incarnação do Logos. Do prefácio ao livro "Optimismo Escatologico".

 Na continuação da homenagem à Daria Dugina, no aniversário do seu martírio, traduzimos um extracto do prefácio que o seu pai fez à recente edição do Optimismo Escatológico (Eschatological Optimism. PRAV Publishing, 2023) e que me chegou através do Alexander Dugin Substack, uma das suas páginas, e onde o pode encontrar. É bastante valioso mas, atarefado, apenas me esforcei por traduzi-lo bem e uns breves comentários (nomeadamente acerca da intuição ou iluminação do Logos Divino) virão no fim da partilha do texto. Apenas realço que ninguém senão o seu pai poderia fazer uma apresentação tão perfeita do ser, vida, obra e livro de Daria Dugina, na qual o amor e a filosofia brilham tão unidos. E sim, o que Aleksander Dugin nos diz sobre o Logos e o raio do Logos nela são parágrafos sublimes dignos da nossa meditação contemplativa! Invoquemos as correntes cósmicas e divinas de  Luz, Amor e Força do Logos, para a família e em especial para Daria, e também para os seus amigos e amigas, sobretudo na Rússia, para quem ela é Dasha.

  !

Última fotografia, umas horas antes de ela desincarnar, após participarem num Festival da Juventude,

                                         O Momento de Sophia

É muito difícil para mim escrever sobre Daria porque nos últimos tempos em especial  ela tornou-se tudo para mim: uma amiga, uma pensadora, uma alegria a ser valorizada, uma parceira no diálogo, uma fonte de inspiração e um pilar de apoio. A dor da sua perda não ousa diminuir; pelo contrário, toda ela persiste em ressurgir com força sempre renovada. Contudo, compreendo que é necessário abrir o seu livro, Optimismo Escatológico, com palavras que ela mesma teria gostado de ouvir e que podem ser úteis ao leitor.

                                                 

Daria Dugina era uma pensadora, uma filósofa. Ela era assim  organicamente e de todo o seu coração. Sim, estava no início de seu caminho filosófico, e alguns pensamentos e ideias exigem muito tempo, às vezes muitos anos (e outros muitos séculos), para serem elaborados, mas isso é outra questão.
Antes de tudo, decide-se algo
 fundamental: se se é filósofo ou não. Daria era uma filósofa. Isso significa que, seja qual for o caminho que ela pudesse ter trilhado pelos mundos da filosofia, o início de seu caminho já é valioso, importante e digno de atenção. O mais difícil de tudo é entrar no território da filosofia, encontrar uma entrada no palácio fechado do rei. Podem-se sitiar os seus muros quanto se quiser, mas ainda assim permanecer-se-á do lado de fora. Para romper e encontrar-se no  tão bem guardado palácio depende da vocação, do Chamamento, que o verdadeiro pensador ouve nas suas profundezas. Daria ouviu este chamado.
Aristóteles distinguiu entre dois tip
os de pensamento sistemático envolvidos na filosofia. O primeiro é o momento de sophia (σοφία), o lampejo súbito e instantâneo da mente, a intuição [insight] iluminadora do Logos. Tal relâmpago pode ocorrer na juventude, na idade adulta ou na velhice. Pode não acontecer de modo algum. De acordo com a lenda, Heráclito afirmou que até certo momento ele nada sabia, e de repente ele conheceu  imediatamente tudo. Este é o momento de sophia. Para Heráclito, assim como para Aristóteles, o Logos é uno e indivisível. Se alguém foi agraciado com a honra de experimentar a sua presença, a partir de então torna-se um tipo diferente de ser humano: um filósofo. Doravante, tudo o que tal pessoa pensar, para onde quer que dirija o seu olhar, age e vive agora nos raios do Logos, em comunhão com a sua unidade. É isto que acontece quando alguém é iniciado na filosofia. Na República de Platão, isso é chamado de noesis (νόησις), a capacidade de elevar as conclusões intelectuais individuais ao mundo primordial e supremo das ideias eternas. Daria Dugina tinha em si [ou carregava] esta marca. Ela passara pelo momento da sophia, e tal era irreversível.

                                     A sua Phronesis
Há ainda outro, segundo tipo de pensamento. Aristóteles chamou isso de phronesis (φρόνησῐς), e Heráclito pejorativamente chamou de “polimatia,” ou seja, “ter muito conhecimento” (que, em sua opinião, “não ensina a mente”). Em Platão, isto corresponde à dianóia (διάνοια), ou àquele pensar racional que não reúne tudo num só, mas divide tudo em partes, classes e categorias. Se a sophia vem instantaneamente (ou nunca), então a phronesis necessariamente requer tempo, experiência, estudo, leitura, observação, exercício e diligência. A phronesis é também importante. O cerne da questão está neste ponto: se a experiência da sophia ocorreu, então o exercício adicional da mente é sempre construído em torno do eixo imutável do Logos. Se não o tiver, então a phronesis torna-se algo como uma sabedoria comum e mundana, que é, claro, valiosa, útil e digna de todo tipo de louvor, mas que não tem nada a ver com a filosofia. Não importa o quanto as pessoas phroneticas possam exercitar a leitura, a análise e as operações racionais, se elas não tiverem anteriormente entrado no palácio fechado da filosofia, pois a sua atividade — não importa o quão obstinada e intensa — permanecerá como o vaguear pelos arredores. Isso pode ser tecnicamente útil, mas ainda assim permanece algo de completamente externo e, de certa forma, profano.
É nesse sentido que a phronesis de Daria estava apenas no início de um grande caminho filosófico. Ela estava apenas a começar a dominar a filosofia num nível fundamental, a aprofundar o seu conhecimento de teorias e sistemas, a familiarizar-se plenamente com a história do pensamento, a teologia e o infinito campo da cultura.
Aqui, talvez, esteja o ponto mais importante deste livro, Optimismo Escatológico. Este é um livro de pensamento vivo. O que é importante aqui não é a escala, profundidade ou o mero volume das teorias, nomes e autores citados nele. O que é importante é como um verdadeiro filósofo revela, vive e incorpora o que pensa no seu próprio ser. O que é importante é que eles pensem filosoficamente, à luz da Sophia. Aqui reside a novidade e a frescura deste livro. No fim [de contas], Daria escreve e fala não para se mover para o exterior para encontrar divergentes linhas  de interpretações e observações de detalhes, mas para convidar aqueles a quem se dirige a fazerem a sua jornada interior, a viverem a filosofia, a comprometerem-se com um "virar-se" (ἐπιστροφή), como os neoplatonistas a chamavam, e que Daria,  sem ser por acaso, reitera. Esta virar-se é fundamental para ela. Tendo experimentado Sophia, ela queria ajudar os outros — leitores, ouvintes, todos nós — a vivenciar a mesma intuição iluminadora pelo Logos. O seu livro consiste em abordagens multifacetadas e amplamente diferentes para o fechado tribunal do rei — num lugar há uma brecha imperceptível na parede, noutro há um túnel subterrâneo, noutros há uma cerca baixa. Quem já esteve lá dentro sabe como entrar, como sair e como voltar.
Portant
o, o livro de Daria Dugina é iniciático e dedicatório. Para alguém que tem o dom, a vocação, a vontade de filosofar, este livro pode tornar-se uma revelação. Para as pessoas phronéticas, pode ser uma enciclopédia útil e concisa do Platonismo. Para os estetas, pode ser um modelo de pensamento gracioso. Para aqueles que buscam o mistério da Rússia, este livro pode ser um humilde marco ao longo de um caminho tão difícil e nobre.

                                                               
                                            Daria como um Sinal

O livro de Daria Dugina também é um sinal. Martin Heidegger reclamava que as pessoas que são surdas ao verdadeiro chamamento do Logos tendem a considerar o signo, o ícone, como algo  que aponta para outra coisa e que é em si autos-suficiente. Nisto reside uma idolatria filosófica. O significado, a importância e o propósito predestinado de um sinal é que ele não aponta para si mesmo, mas para algo mais. O seu apelo é este: não olhe para mim, mas para o que eu aponto, pois nisso é o que eu sou, a minha missão, a minha natureza, o meu chamamento; eu não sou a resposta, mas conheço o caminho para a resposta e estou a trazê-lo para conhecê-la; eu não sou o conteúdo, mas apenas o mapa, que por o seguir você pode deixar o reino da superficialidade omnipresente e abrangente e mover-se para as profundezas e até as alturas do ser vivo e significativo. Não é coincidência que o segundo livro de Daria Dugin se chama As Profundezas e Alturas do Meu Coração (Topi i vysi moego serdtsa, Moscovo: ACT, 2023).
Daria sempre se via como um s
inal e as suas obras filosóficas como um guia compilado. Ela não fingia nem afirmava que este sinal seria o final e conclusivo, ou que o seu mapa estava completo e mostrava a todos os nódulos e objetos mais importantes no mundo das ideias. Ela era uma pensadora modesta, sabia o que é o tacto filosófico, o que é um limite e o que acontece quando se ultrapassa esse limite. Daí a sua atenção ao tema da Fronteira (a que outra obra de Daria é dedicada). Nos seus textos, palestras e apresentações, ela apontava apenas para os segmentos do caminho filosófico que ela conhecia, ou que ainda não havia percorrido mas que a atraíam, prometendo revelações, encontros, compreensões e talvez até mesmo amargas decepções. Mas assim é a vida filosófica. Qualquer uma e todas as suas experiências nesta vida são inestimáveis.

                                          O Herói Filosófico

Daria é uma filósofa, além disso, porque toda a sua vida, desde o seu nascimento até a sua trágica morte, desenrolou-se em  harmonia completa com o elemento primordial da filosofia. O principal ponto de orientação na nossa família é a Tradição, e isto significa que a filosofia é concebida principalmente como religiosa, vertical, orientada para Deus e o céu, onde os começos e os princípios do pensamento devem ser buscados. A verdade absoluta que nos é transmitida no Evangelho de João, “No princípio era o Verbo” (Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος), é a estrela guia. Daria Dugina foi morta pelo inimigo quando voltávamos do Festival da Tradição [nos subúrbios de Moscovo]. A tradição é o começo e o fim, o alfa e o ómega. No seu destino filosófico, o ómega de Daria, o ponto final, foi atravessado pelo mesmo raio, o raio do Logos.
Daria Dugina tornou-se uma heroína filosófica. Ela desceu ao mundo com o raio do Logos e subiu 
com  dele de volta  ao céu. O selo do martírio foi colocado no seu pensamento, na sua missão, na sua vida intelectual. Tal é valioso - e custa - muito.
Os antigos gregos
 não podiam aceitar que um verdadeiro pensador pudesse partir para sempre, morrer e desaparecer. Eles tinham certeza de que um devoto do Logos, leal até o fim, ao ómega, não morre, mas se torna uma nova estrela no horizonte eterno e celestial das ideias, ou até mesmo se torna um deus. Sócrates e Platão foram reverenciados por gerações inteiras de seguidores sensíveis à filosofia como sendo encarnações de Apolo, e o neoplatónico Plotino era visto como a figura de Rhadamanthus, o juiz eterno que veio ao mundo para lembrar as pessoas submersas no tempo do brilho imutável da eternidade.
O cristianismo deixou essas noções pagãs para trás, mas elevou o feito a um pedestal ainda mais alto, anteriormente impensável. Agora Deus em si mesmo, o Logos em si mesmo, veio ao mundo corpóreo, tornou-se homem, sofreu, foi morto, ressuscitou e ascendeu ao céu, ao trono eterno que lhe é devido. Após Jesus Cristo, este caminho foi seguido por uma infinidade de santos e mártires cristãos. Eles partiram para seguir o Logos, sofreram por Ele, morreram n'Ele, foram ressuscitados n'Ele e ascenderam ao céu. No cristianismo, além disso, ninguém simplesmente desaparece sem deixar rastro. Aqueles que deram as suas vidas por seus amigos, por Cristo, o Filho de Deus, pelo Logos e pelo pensamento luminoso e vertical, estão ainda mais vivos e brilharão dos céus eternos para aqueles de nós que permanecem aqui.
Não basta nascer e viver como um filósofo, é preciso morrer como um filósofo. E fazê-lo em plena conformidade com o próprio espírito, a própria fé, com o sinal apontando para os céus é a essência do verdadeiro pensador. Um verdadeiro filósofo não pode deixar de ser um herói. O selo trágico impresso na vida do filósofo é o mais alto reconhecim
ento.
Somente aquilo que cre
sce a partir do sofrimento é genuíno e digno. Tal é o destino daqueles no mundo que carregam dentro de si algo que não é deste mundo. Esta é a fonte da dor filosófica que Daria viveu de forma tão penetrante, e que ela perseguiu não como uma rapariga, não como uma criança, mas de maneira cavaleiresca e corajosa. (...)»  Continua...... Anote-se que hoje 21 há poucas horas foi inaugurada a sua estátua evocadora entre nós em Moscovo...

                                                                                   

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Daria Dugina, três anos desde a sua partida. O testemunho tocante de Balbino Katz, e as interrogações que suscita e só o futuro, Fortuna nos desvendará-

Já decorreram três anos desde que Daria Dugina Platonova, com trinta anos de vida pulsante, ardente, pura, foi arrebatada ao nosso convívio terreno por uma traiçoeira bomba de uma assassina paga pelo regime extremista de Kiev. Todavia há almas que embora partindo   permanecem presentes seja pelas memórias seja pelas obras e ideias que continuam a ser lidas, reflectidas, apreciadas, seja pelo carisma que as assinalava e o martírio ainda mais reforça...

Neste blogue encontra outros artigos dedicados a ela, com entrevistas e textos de Daria Dugina, e neste vamos traduzir do francês, e que recebi através do Vk.com (a valiosa rede social russa que recomendo) o recentíssimo testemunho de quem, Balbino Katz, a conheceu bem  e que quis partilhar o seu afecto e respeito por ela e realçar que embora tivessem ideias diferentes em certos aspectos da visão geo-estratégica civilizacional,  o génio, o amor e o carisma de Daria suplantavam tudo.

Tentemos clarificar as divergências: enquanto Dara acreditava na missão essencial da Rússia tradicional e imperial, religiosa e multipolar, desvalorizando o papel e contributo actual da União Europeia, Baldino Katz, investigador e jornalista francês,  no diálogo com ela recusava tal supremacia de missão histórica actual da Rússia e acreditava que a Europa, semi-pagã, semi-católica, alma faustica e prometaica, ainda que ferida na sua essência, continuaria a ter um papel importante ou liderante na marcha do mundo.

Talvez fosse bom interrogá-lo, se passados estes anos, em 2025,  ainda continua a acreditar na Europa dirigida pelas ineptas direcções afiliadas ao Fórum Económico Mundial, e se o  papel que ela tem desempenhado ou continua a querer desempenhar não será indiscutivelmente negativo, mau,  tal como não aceitando as condições justas da Rússia para terminar a sua operação especial militar, e antes tentando prolongar o conflito, e enfraquecer ou, na sua hubris imensa, vencer a Rússia?

 Talvez fosse bom perguntar-lhe também se pensa que a Europa está unida atrás dos seus desgovernantes políticos, a tal "coligação dos dispostos", dos quais vários são cocainómanos, que lutam pelos interesses da oligarquia a que estão avençados ou escravizados há muito, mas que em nada defendem os interesses dos seus cidadãos, cada vez mais apertados pela inflação que decorre da péssima política da União Europeia. sempre em sanções cobardes contra a Rússia e as suas energias que tanto invejam, como a pindérica Kaja Kallas manisfesta no seu afã de querer retalhar a Rússia?

É pena que Baldino Katz se afirme ainda contra o que chama o  "sonho euroasiático" de Daria Dugina, quando ele é também de Alexandre Dugin, de Vladimir Putin, de Lavrov, de Xi Ping, de Modi, de Lula, de Pezensky, Traoré, e de tantos outros milhões de seres, entre os quais me incluo,  que desejam que  a civilização euroasiática, o BRICS, a multipolaridade mundial se desenvolvam e triunfem sobre as diversas formas de hegemonias oligárquicas ou neocolonialismos opressivos ocidentais. É pena que fique à espera que a Europa celta e etno-diferenciada nacionalista, reivindicada e sonhada pelo seu grupo GRECE, fundado em 1960 que teve o seu valor intelectual e o dos dois pensadores citados,  mas que está hoje bastante ultrapassado pelas dinâmicas de partidos de direita, e que pense conseguir algumas vez influenciar os burocratas e anti-russos de Bruxelas e da oligarquia nos destinos da Europa?

 Oiçamos então, parecendo-me ainda hoje algo limitado pelo chauvinismo francês e europeísta ocidental, o testemunho mesmo assim cheio de amor de Balbino Katz:

 «Terça-feira de manhã, céu nublado sobre o porto de Guilvinec, o vento do mar já traz a mordidela precoce do outono. No bar do Oceano, onde gosto de me abrigar dos caprichos do tempo, deixei ressurgir a lembrança de uma jovem mulher cujo nome permanece gravado em mim como um luto que não passa: Daria Dugina, morta aos trinta anos, em 20 de agosto de 2022, na explosão criminosa do carro de seu pai.

                                      
Conheci o seu pai, Alexandre, no dia seguinte à queda do muro de Berlim. Ele saía de uma Rússia exausta, estrangeiro aos nossos costumes, tacteando na Europa atlântica. Vi-o a aprender rapidamente, estabelecer conexões, forjar sua influência. Com o passar dos anos, os nossos caminhos se afastaram-se, pois seu sonho eurasiático que ele não cessava de construir era-me estranho. Eu permaneci fiel à escola do GRECE, o Groupement de Recherche et d'Études pour la Civilisation Européenne, a Alain de Benoist, a Guillaume Faye, a essa Europa faustiana, prometaica, que deve o seu futuro a si mesma [Que ilusão: pobre população e civilização europeia tão manipulada, oprimida e alheia a si mesma]. Mas se nossas visões divergiam, a amizade permaneceu.

                                                  
Foi assim que conheci no início dos anos 2010, alguns anos depois, a sua filha, que veio a Paris com sua mãe [Natalia Melentyeva]. Elas tinham feito questão de rever os amigos que, na época das dificuldades, souberam acolhê-las. Eu fui um deles, e recebi-as para jantar. Revejo a mãe, atenta, feliz por nos reencontrarmos, e Daria, ardente, ávida, perscrutando as nossas palavras como se fossem fragmentos de verdade. Ela era  ainda apenas uma estudante, mas já carregava aquela intensidade de olhar que sinaliza um destino.

                                                
Revi-a em Paris nas instalações da TVLibertés, em Aix-en-Provence, em uma Domus amiga, e especialmente na Moldávia, em dezembro de 2017. Um fórum eurasiático reunia lá os não-alinhados contra o globalismo. Eu tinha ajudado Daria e sua mãe a fazer a viagem. Foram dias de fraternidade, de conversas profundas, de risos também. Lembro-me dos seus passos nas ruas de Chișinău, da sua alegria e gravidade misturadas. Foi a última vez que a beijei.

 Os nossos desacordos eram conhecidos. Ela acreditava em Moscovo como uma Terceira Roma, messiânica, ortodoxa, a única portadora da Tradição frente ao Ocidente materialista. Acredito na Europa, mesmo ferida, como um organismo vivo, pagão e cristão ao mesmo tempo, múltiplo, trágico e heroico. Ela colocava a sua fé em uma Rússia imperial projetando sua força sobre o continente; eu esperava o despertar de uma Europa senhora de seu destino. Mas essas divergências não abalavam nosso vínculo: nós dois sabíamos que a amizade supera as divisões nas nossas visões de mundo.
Quando soube da sua morte, foi como se me arrancassem um dos meus filhos. Ela não era apenas a filha de Dugin, não era apenas uma voz ideológica. Ela era uma presença luminosa, uma promessa, um futuro. Seu sangue derramado numa uma rua obscura de Moscou foi como uma luz que se apaga na noite.
Então, neste 20 de agosto que retorna a cada ano como uma ladainha, eu penso nela como uma estrela quebrada muito cedo, mas cujo brilho continua a alcançar-nos. Ela carregava em si essa ardência que as nossas juventudes europeias perderam [nem todos graças a algumas linhas de força ainda vivas], essa certeza de que a vida tem um sentido e que é preciso arriscar a própria existência para realizá-lo. Seu desaparecimento é uma ferida aberta para a Rússia, mas também para todos nós, pois ela encarnava, à sua maneira, uma esperança comum.
                                              
Sim, seu nome permanece, o seu rosto  impõe-se, a sua memória arde. E eu, que a conheci, posso dizer que ela não desapareceu apenas num atentado, ela permanece em nossa memória como uma chama que, apesar do tempo que passa, desafia o esquecimento e não se apaga.

Balbino Katz, cronista dos ventos e das marés

Impossível mencionar Alexandre e Daria Douguine sem mencionar Christian Bouchet e suas Edições Ars Magna, que publicam em francês as obras desses dois autores russos, incluindo "Optimismo Escatológico", escrito por Daria e disponível no site da editora: https://www.editions-ars-magna.com 

Crédito da foto: DR (foto de ilustração)
[cc] Breizh-info.com, 2025

Mardi matin, ciel bas sur le port du Guilvinec, le vent de mer apportait déjà la morsure précoce de l’automne. Au bar de l’Océan, où j’aime à m’abriter des caprices du temps, je laissai remonter le souvenir d’une jeune femme dont le nom demeure gravé en moi comme un deuil qui ne passe pas : Daria Douguine, morte à trente ans, le 20 août 2022, dans l’explosion criminelle de la voiture de son père.
Je connus son père, Alexandre, au lendemain de la chute du mur de Berlin. Il sortait d’une Russie épuisée, étranger à nos usages, tâtonnant dans l’Europe atlantique. Je l’ai vu apprendre vite, nouer les liens, forger son influence. Au fil des années, nos chemins se sont éloignés, car son rêve eurasiste qu’il ne cessait de bâtir m’était étranger. Je suis resté fidèle à l’école du GRECE, à Alain de Benoist, à Guillaume Faye, à cette Europe faustienne, prométhéenne, qui doit son avenir à elle seule. Mais si nos visions divergeaient, l’amitié demeura.
C’est ainsi que j’ai rencontré au début des années 2010, quelques années plus tard, sa fille, venue à Paris avec sa mère. Elles avaient tenu à revoir les amis qui, au temps des épreuves, avaient su les accueillir. Je fus de ceux-là, et je les reçus à dîner. Je revois la mère, attentive, heureuse que l’on se retrouve, et Daria, ardente, avide, scrutant nos paroles comme des éclats de vérité. Elle n’était encore qu’une étudiante, mais déjà portait cette intensité de regard qui signale une destinée.
Je la revis à Paris dans les locaux de TVLibertés, à Aix-en-Provence dans une Domus amie, et surtout en Moldavie, en décembre 2017. Un forum eurasiste y réunissait les non-alignés contre le globalisme. J’avais aidé Daria et sa mère à faire le voyage. Ce furent des jours de fraternité, de conversations profondes, de rires aussi. Je me souviens de ses pas dans les rues de Chișinău, de sa gaieté et de sa gravité mêlées. Ce fut la dernière fois que je l’embrassai.
Nos désaccords étaient connus. Elle croyait à Moscou comme à une Troisième Rome, messianique, orthodoxe, seule porteuse de la Tradition face à l’Occident matérialiste. Je crois à l’Europe, même blessée, comme à un organisme vivant, païen et chrétien à la fois, multiple, tragique et héroïque. Elle plaçait sa foi dans une Russie impériale projetant sa force sur le continent ; j’attendais le réveil d’une Europe maîtresse de son destin. Mais ces divergences n’entamaient pas notre lien : nous savions l’un et l’autre que l’amitié surpasse les clivages dans nos visions du monde.
Quand j’appris sa mort, ce fut comme si l’on m’arrachait un de mes enfants. Elle n’était pas seulement la fille de Douguine, pas seulement une voix idéologique. Elle était une présence lumineuse, une promesse, un avenir. Son sang versé sur une rue obscure de Moscou fut comme une lumière qui s’efface dans la nuit.
Alors, en ce 20 août qui revient chaque année comme une litanie, je songe à elle comme à une étoile brisée trop tôt, mais dont l’éclat continue de nous parvenir. Elle portait en elle cette ardeur que nos jeunesses européennes ont perdue, cette certitude que la vie a un sens et qu’il faut risquer son existence pour l’accomplir. Sa disparition est une plaie béante pour la Russie, mais aussi pour nous tous, car elle incarnait, à sa manière, une espérance commune.
Oui, son nom demeure, son visage s’impose, son souvenir brûle. Et moi, qui l’ai connue, je peux dire qu’elle n’a pas seulement disparu dans un attentat, elle demeure dans notre mémoire comme une flamme qui en dépit du temps qui passe défie l’oubli et ne s’éteint pas.

Balbino Katz, chroniqueur des vents et des marées

Impossible d’évoquer Alexandre et Daria Douguine sans mentionner Christian Bouchet et ses Éditions Ars Magna qui publient en Français les oeuvres de ces deux auteurs russes dont Optimisme eschatologique écrit par Daria et disponible sur le site de la maison d’édition : https://www.editions-ars-magna.com

Última fotografia de Daria com seu pai, umas horas antes de se tornar uma mártir da Santa Rússia,  de S. Sergio de Radonega, St. Serafim de Sarov, Dostoievsky, Tolstoi, Soloviev, Berdiaef. .. Espero brevemente escrever nais sobre ela e a sua obra. Que Daria Dugina desperte mais no seu corpo glorioso e nos possa inspirar.