domingo, 6 de maio de 2018

Uma Peregrinação Portuguesa ao Irão, 2013, (3º cap.), por Pedro Teixeira da Mota. Book City em Teerão.

3º Capítulo e dia: 27-IV-2013, fim de Sábado, já passando dez minutos da meia noite.
Dia activo: de manhã estive com a professora de língua árabe, Shokoh Hoseyni, amiga da Nasrin, viúva, sábia, lúcida, a vir dialogar e corrigir as traduções que tenho feito das histórias, ou ekaya, do livro Bustan, de Saadi…
                      
Depois de duas horas e tal de trabalho fomos para uma das dependências do Book City Institute, a livraria e instituto cultural, que existe em várias cidades e que tem em Teerão duas ou três dependências [afinal são 34…], sendo esta a dirigida por Mohammad Khani, muito amigo da Nasrin Faghi, sua colaboradora em palestras e eventos, os meus dois anfitriões.
 
Dei uma primeira vista de olhos na ampla livraria, com vários recantos e secções, bem fornecida de todos os povos e tempos, tal como a Rússia e Tolstoi...
                            
E comprei dois livros, uma Antologia de Poesia Persa e uma obra sobre fotografia, recente, composta de originais pensamentos ou máximas, bilingue, The art of Photography and the poetic aspect of Photo de Mohammad Pirhayati (Mones). Na secção de música, escuto e compro alguns Cds de música e poesia persa, com a ajuda da muito serena e simpática responsável, Sophie, também ela música.
 
 
 Nasrin, Khani e eu almoçámos no próprio gabinete dele, comida simples, vegetariana em especial para mim e à tarde  visitamos outro dos espaços Book City Institute, ainda maior que o de Khan, sendo recebidos pelo director que nos fez uma visita guiada, com diálogos interessantes sobre a cultura, os livros e a literatura no Irão, onde é muito grande ainda a leitura dos grandes poetas antigos, como Saadi, Hafiz, Rumi, havendo uma continuidade até aos nossos dias.
  Tem uma pequena secção museológica com alguns livros e revistas antigos, que examino com mais atenção e interesse, além das várias secções habituais de livros e uma papelaria com decorações originais e obras de arte e artesanato belas.

Comprei postais com caligrafias persas em relevo e dois conjuntos de pedrinhas, dentro de um pano e com a explicação do jogo tradicional em que são utilizadas, pensando em oferecer um à Margarida, filha e sucessora do livreiro antiquário Américo Marques, na rua do Alecrim lisboeta, amante de pedras como eu e que me pediu para trazer uma do Irão.
    
Nesta livraria central da Book City Institute, com boa afluência de pessoas, destaca-se à entrada do lado esquerdo um grande painel com cerca de 200 de fotografias de grandes escritores mundiais
e ao centro numa mesa para exposições temporárias está um busto do grande poeta Saadi com obras suas, exactamente um dos dois poetas de quem falarei numa ou duas universidades, sendo o outro Hafiz, com Rumi, constituindo o trio mais apreciado, embora outros grandes poetas e escritores se devam nomear, tais como Firdosi, Attar, Omar Khayam, Nezami, além dos mestres espirituais de envergadura perene, como Sohrawardi, Kobra, Ruzbehan, Nur Ali Shah...
À direita da entrada, numa prateleira ao alto da parede estão alguns bustos em gesso. Perguntam-me quem era um deles e eu avento a hipótese de ser o Henry Corbin, grande estudioso francês da tradição iraniana, tanto zoroástrica como islâmica, especialmente nos seus aspectos filosóficos e místicos e que tenho lido bastante… Grande riso e satisfação de Mohammad Khani, por ser o busto dele próprio, já que é o director do seu centro há já muitos anos e com sucesso. 
Dentro da livraria há um tipo de café ou casa de chá e para aí nos dirigimos no fim e conversamos, e bebemos chá de ervas ou café, com bolos.
 
 Ao findar do dia atravessamos uma parte grande de Teerão e passamos por uma escola secundária bem cheia. Há grande azáfama de viaturas e  seguimos para a montanha acima e atrás da zona em que estou, Vejaye, pois há nela um caminho pedestre amplo,
 
Há um horto e com loja de árvores bonsai de grande qualidade que nos faz deter mais demoradamente e com Khani, Nasrim e Marzieh, uma professora de literatura que se juntou a nós e fala fluentemente o inglês, admiramos os belos espécimes, que fotografo também. No exterior o horto tem belas árvores que devem gostar bem dos ares puros e elevados a que estão, talvez quase 1.500 metros de altitude.
Shokoh Hoseyni, a filha e uma amiga reúnem-se a nós e passeamos um pouco conversando e respirando os ares puros, tal como outras pessoas, umas em fatos de treino, outras vestidas normalmente, num belo ambiente de descontração.
   Há vários restaurantes, mas não vegetarianos e não me tento por nenhum. Comerei me casa fruta e frutos secos
Regressamos de camioneta para o parque onde ficou o automóvel e Marzieh  convidou-me para me sentar ao seu lado e viemos a conversar animadamente, com o seu namorado a vir ter connosco ao parque. Depois deixaram-me no espaço residencial onde me instalaram e trabalho na tradução do Bustan, de Saadi. 

2 comentários:

Luama Socio disse...

Muito interessante esse relato, por contar coisas completamente diferentes da maioria das pessoas que viajam!!!!!

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muitas graças pela sua apreciação, a qual me fez voltar a ver o texto e reparar numa fotografia repetida e dois erros. Para a frente terá partes bastante mais instrutivas e valiosas. Mas é um diário, que era complementado por muitos vídeos, inclusive de palestras e diálogos, que estão em grande parte no Youtube. Boas inspirações para as suas tão valiosas criatividades..