sexta-feira, 30 de março de 2018

Anjos e seus ensinamentos, na Exposição "As Ilhas do Ouro Branco. A encomenda artística na Madeira nos séc. XV-XVI.", no MNAA, em Lisboa

    Na exposição temporária no Museu Nacional de Arte Antiga, de Lisboa,  intitulada "As Ilhas do Ouro Branco. A encomenda artística na Madeira nos séculos XV-XVI", encontramos um belo painel de pintura sobre madeira do começo do séc. XVI, onde podemos realçar três elementos principais: os Anjos, que suportam um medalhão circular com as letras IHS, e que não estão sob o olhar e a bênção de uma figuração antropomorfizada da Divindade mas antes a contêm  dentro desse medalhão, constituído por dois círculos, o exterior contendo a representação do Pai ou Fundador da Trindade, de mão erguida num mudra ou gesto de ensino retórico, também adoptado como de bênção, rodeado de seis anjos, que o amam e louvam adorando, e mais dois que elevam e dois que suportam esse monograma ou campo psicomórfico de IHS, de Ihesus, ou Jesus, nome vibratório que se encontra no centro.
 
  Podemos dizer que os Anjos estão-nos a mostrar uma abertura circular para os mundos espirituais e divinos, tendo ao centro como sua chave um dos sons e nomes divinos, IHS, ligado ao mestre Jesus,  bem dourado ou flamejante,  numa esfera vermelha da aspiração de amor, compaixão e unidade, o que se denomina bhakti na tradição indiana...
 A composição é muito dinâmica na sua roda da Fortuna e muito rica de cromatismos, em especial vermelhos e dourados e tanto nos Anjos mais próximos e mais distantes como na aura circular ou mandalica do mundo que envolve o nome Divino, a Palavra, o Verbo, e que sabemos que ao longo dos séculos se prestou a  especulações esotéricas sobre essa Palavra Perdida, mas que em certas tradições, como a dos jesuítas, foi vista e adorada na abreviatura de IHS, passando a ser  suporte de metodologias psico-espirituais,  ao ser desenhada  em mandala e acolhida e contemplada como ícone, tal como esta pintura consegue magnificamente.
 
 Este IHS, que se assemelha a outros mantras da Sabedoria Perene, tais como os gregos IAO e o EI, é também ele abreviatura grega das três primeiras letras do nome de Jesus em grego: iota, eta e sema. Pronunciado e meditado, é um bom meio seja de concentração e sintonização com Jesus, ou no ígneo Amor Divino por ele manifestado, seja no som sagrado, como sonorização da Palavra, Sermo ou Verbo primordial, por exemplo na Índia reconhecido e invocado  como Aum.
 E com o apoio deste  ícone e mandala, tal repetição orante e contemplação pode facilmente alargar, harmonizar e iluminar a consciência do meditante.
 Anjos tenentes, em belas representações das melhores aspirações e intenções, sede propícios à nossa ligação Divina! Possa a nossa contemplação de vós infundir as vossas forças em nós...
         Anjos, tão  lúcidos quão graciosos e serenos, capazes de estimularem o nosso coração espiritual e à Divindade e Fonte nos reenviarem...
  Um espírito celestial que suporta as orbes do mundo, ou as estabiliza para o nosso olhar espiritual as poder contemplar, por vezes representado nas portadas de livros das ordens religiosas ou mesmo em esculturas, qual Atlas e navegador na base da janela do convento de Cristo.
 Saudações amorosas e luminosas aos Anjos da Guarda, ao misterioso ou subtil Arcanjo de Portugal, que não é S. Miguel, e à Divindade... 
Que nos inspirem, iluminem e fortifiquem mais!
Segue-se uma pequena filmagem de dois minutos diante do belo e inspirador painel, bem propício para contemplação curativa e iluminativa...
                       

quarta-feira, 28 de março de 2018

Previa-se hoje chuva mas a formação das nuvens artificiais está atrasada. Lsboa sob os rastos de aviões.

     A atmosfera lisboeta neste dia 28 de Março de 2018 desde a manhã foi muito atravessada e cruzada por jactos dotados de efeitos especiais e ficámos com alguns rastos fortes e duradouros, que talvez contribuam para que o azul do céu pacífico e inspirador seja substituído por certo embaciamento nebuloso e a chuva que estava prevista para estes dias não se demore muito...
Por qualquer incómodo, se sair à rua, pedem-se desculpas...
Quase sem legendas...
Rastos por demais: se comtrails inofensivos, se chemtrails nocivos, persiste a dúvida...
 
   
 
 
 





 

Qual procissão, saibamos caminhar auto-conscientes do espírito, ligando a terra e o céu, a humanidade e a divindade!



Um pouco do arco-íris, algumas cores de esperança e amor na nossa aura e alma... Sorria...

quarta-feira, 21 de março de 2018

"A Conferência dos Pássaros", de Attar, desenhada e pintada por José Pinto Antunes. E sua hermenêutica espiritual por Pedro Teixeira da Mota.

O belo poema metafórico de Attar, aliás Farïd al-dîn 'Attâr (1142-1221, em Nichapour, no Khorassan, Irão, e que foi um perfumador, ervanário, curador), intitulado Mantiq al-Tayr, o Colóquio ou Linguagem das Aves, ou ainda Conferência dos Pássaros, extenso nos seus mais de quatro mil e seiscentos versos, foi de todas as obras de Attar a que teve mais sucesso ao longo dos séculos, conhecendo-se algumas versões em diferentes línguas desde esses remotos tempos. No Ocidente, em França, houve traduções em 1819 e 1863, e no século XX e XXI alargaram-se.
Corre entre nós uma das versões, mas abreviada e má, da
obra, sob o nome de Conferência dos Pássaros, editada pela Cultrix, sendo uma tradução da versão inglesa de C. S. Nott, que traduziu da tradução francesa de Garcin de Tassy, de 1863, realizando nos USA em 1954 tal feito de retalhar e alterar substancialmente, retirando muito da espiritualidade da obra. Uma lástima. Hoje já há outras versões em português, de melhor qualidade.
Depois de ter sido um boticário de perfumes e ervas, impressionado pelo desprendimento e comando do corpo e alma de um dervishe, Attar foi iniciado na via espiritual pelo sheik Mudj al-din, de Bagdad, e da sua demanda restam-nos cerca de uma dúzia de obras das quais as mais valiosas são o Pand-Nama, Livro dos Conselhos, Asrar-Nama, O Livro dos Segredos (a sua última obra, e da qual há uma tradução comentada excelente de Christiane Tortel), Elahi-Nama, o Livro Divino e o Tadhkarat al-Auliya, Memórias dos Santos, esta contendo histórias e ensinamentos de 142 sufis do Irão, do Egipto e da Arábia, entre os quais Jafar Sadiq, a iraquiana Rabia Basri, Junayd, Hazrat Abdul Jilani, Mansur al-Hallaj, todos eles verdadeiramente entregues ardentemente ao Amor Divino.
O grande especialista de mística islâmica e persa Louis de Massignon foi um estudioso e admirador de Attar, e realçou
a afirmação do famoso Jalâl-ud dîn Rûmî: dois séculos depois da desencarnação de al-Hallâj a sua luz (nour), ou alma espiritual, manifestara-se em Farîd 'Attar, tornando-se o seu mestre espiritual.  
Não sabemos ao certo se assim terá sido, mas a comunhão dos amigos de Deus, a comunidade dos santos ou sufis, a auliya, é conhecida, é real, todos os que meditam mais profunda e intensamente vivenciam-na de um modo ou outro por graça, pelo que naturalmente Attar foi abençoado pelo Alto e o Divino, pelos sufis, sendo Mansur al-Hallaj, um mártir no Islão da afirmação da não-dualidade entre o humano e o divino, certamente um potencial inspirador dele e, quem sabe, o seu mestre ou guia invisível. Rumi, que segundo algumas versões ainda se teria encontrado com Attar, quarenta e cinco anos mais velho que ele, diria ainda que Attar era a sua alma íntima, tal como Sana'i o seu olho espiritual. 
Attar, na Conferência ou Diálogo dos Pássaros, agora entre nós inspirando o pintor José Pinto Antunes [e muita luz e amor para ele, prematuramente falecido no entretanto] em a ilustrá-la em mais de cem desenhos, compila numerosas histórias tradicionais e acrescenta algumas novas, adicionando sobretudo comentários de ordem moral e espiritual, e propondo a tradicional ascese e renúncia ao mundo e aos seus prazeres e seres (uma metodologia talvez hoje discutível quando se expressa de modos algo humanamente egoístas: «Enquanto não morrermos para nós próprios e não formos indiferentes às criaturas, a nossa alma não estará livre. Um morto vale mais que aquele que não está inteiramente morto às criaturas, pois ele não poderá ser admitido para o outro lado da cortina»), em troca ou em prol do amor ardente pelo Divino, o único que merece e perdura.
O amor a Deus (bhakti, prema, na tradição indiana) é então o objectivo e a necessidade máxima e muitos exemplos são dados de amor extraordinários ou intensíssimos entre os seres e pares humanos e como daí podemos tirar impulsos para a nossa 
caminhada de amor para Deus, neste século XXI cada vez menos propenso a amores devocionais como outrora flamejaram no Cristianismo e no Islão medievais ou mesmo posteriores.
Entre as partes mais fracas, ao olhar do séc. XXI, está a ideia da superioridade do Islão, sobretudo sobre 
o cristianismo e também o hinduísmo, pois adoram ídolos, havendo portanto algumas histórias divertidas mas urdidas nesse sentido reprovador delas... 
Há histórias belas, há reflexões valiosas, e seria bom discernirmos melhor o que veio da tradição sufi, o que ele próprio gerou, ou mesmo o que al-Hallaj lhe inspirou, embora a parte final sendo a mais unitiva, deva ser a mais relacionável com ele e a que merecerá maior meditação e aprofundamento, ao tratar do nosso encontro tanto com nós próprios espíritos como com a Divindade e a Unidade.
A Conferência dos Pássaros congrega então milhares de aves na demanda de acesso ao misterioso ser, Simurgh, a qual as vai levar, com dúvidas e diálogos esclarecedores, por um caminho de individuação e iniciação longo e árduo (per aspera ad astra) até Simurgh, onde apenas chegam trinta delas, as que acreditaram na mestra poupa e nelas próprias e mantiveram a chama da aspiração e do Amor unitivo mais fortemente. 
Simurgh em Portugal
 José Pinto Antunes, apreciando esta obra, decidiu inspirar-se nela e desenhá-la em aguarelas e pinturas a óleo, e o seu quadro de Simurgh é particularmente excelente, e em boa hora o Instituto Superior de Psicologia Aplicada resolveu acolher a exposição na sua livraria, em parceria com a Galeria Hélder Alfaiate, pois não poderia haver melhor local que a galeria de uma livraria ligada à Psicologia, o Logos da Alma, para expor e evocar a legendária obra de Attar. 
 Quem guia e aconselha as milhares de aves na sua demanda de individuação ou realização é então a poupa, com as suas características quase de realeza («tinha no peito o sinal que testemunhava a entrada na via espiritual e sobre a cabeça a coroa da verdade. Na verdade, entrara com inteligência na via espiritual, discernia o bem e o mal»), e vai narrando-lhes histórias da tradição sufi, cheias de psicologia e moral, ética, ascetismo e discernimento, que as ajudarão a libertarem-se das ignorâncias, ilusões e armadilhas dos seus nafs ou instintos e do mundo, e a chegarem ao distante mas também íntimo Simurgh.
 Estamos então numa peregrinação, numa demanda interior de desidentificações, qualidades e realizações vivas, na qual a paciência, o desprendimento, a determinação, a luz, a verdade, a unidade se vão desvendando. E assim cada uma das aves irá expondo e vendo clarificadas as suas especificidades interiores e dificuldades. De igual modo, nesse sentido, quem as desenhar, terá de exercer quase a visão de um Hieronimus Bosh para discernir quando uma delas leva dentro de si um cão ou uma serpente, quais estão mais divididas e atadas, e quais espelham mais as limitações dos humanos e as suas lutas e aspirações ou o amor, a liberdade, a unidade.
O caminho apresentado por Attar é simples e puro, ou não fosse uma das possíveis etimologias de sufi a lã branca trajada por tais ascetas e místicos: é o amor de Deus, da Fonte primordial e Unidade subjacente a tudo, o mais importante pois é o único que dura sempre e é a destinação ou meta final; por isso, a Ele devemos aspirar, não nos deixando envolver demasiado no mundo e nas suas pessoas e actividades, desprendendo-nos delas e dos nossos desejos e egos e unificando as nossas forças anímicas numa só vontade de reintegração ou união divina, sem dúvida uma tarefa hercúlea, já então mas sobretudo no séc. XXI. 
Nestes sentidos das múltiplas forças que nos constituem, o José Pinto Antunes também capta e em finas sobreposições desenha nas aves e nas histórias envoltas ou em simbioses com os elementos da natureza, com as condições ambientais, com os mistérios dos mundos anímicos subtis, no espaço imenso e infinito da peregrinação na manifestação divina da vida, o qual no poema é atravessado em sete vales, estágios ou fases do Caminho das almas e aves, denominados sucessivamente Talab, o vale da Demanda, Eshq, o do Amor, Marifat, o da Gnose ou Conhecimento espiritual, Istighnah, o do desprendimento, Tawhid,  conhecimento da Unidade, Hayrat, admiração, Faqr, desnudamento e, finalmente, Fana, extinção ou transmutação do ego e união com a Divindade ou a Unidade Primordial.
Em muitos dos desenhos (e na sua origem foram 120), mais forte ou mais suavemente traçados e aguarelados, ou então pintados mais carnal ou intensamente nos óleos, sentimos que eles são janelas
para tais vales e estados, comuns a outras tradições embora com outros nomes, das almas-aves do poema e de nós, que os peregrinamos, vivenciamos e neles ao mais profundo ou elevado aspiramos. 
Talvez se tivermos um bom discernimento, ou mesmo uma boa intuição, consigamos chegar a descobrir que ave, vale ou estado anímico está representado nos sucessivos desenhos de José Pinto Antunes, interrogando, pintando e glosando com Attar a maravilhosa peregrinação dialogante humana de auto-realização, rumo ao mistério supremo, do fim que é também o princípio, pois o Simurgh procurado é a Fonte da qual somos um espelho, uma ave, um canto, uma parte, metáforas do mistério da nossa demanda e participação histórica na Unidade Divina e Cósmica, tão vivida e proposta pela tradição islâmica sufi e persa e hoje tão potencialmente actual, por exemplo, na noção em comprovação científica do campo unificado de energia-informação-Consciência.
Fiquemo-nos com alguns dos melhores ensinamentos, os dois primeiros relativos à respiração consciente psico-espiritual:
Fim do cap. XXV: «Cada uma das respirações que medem a tua existência é uma pérola e cada um dos teus átomos é um guia para ti em direcção a Deus. Os benefícios deste teu Amigo cobrem-te da cabeça aos pés; eles manifestam-se visível e maravilhosamente em ti.»
Fim do cap. XXIX: «Aquele a quem os seus desejos subjugam, esse não consegue respirar um instante sequer em companhia da sua alma».
O que a mestra poupa, no começo do cap. XXXV, transmite a uma ave interrogante é muito prático e eficaz, e ilustra a prática comum a várias tradições religiosas e espirituais da oração ou lembrança persistente ou repetitiva de um nome, mantra, dikr ou frase :
«Enquanto viveres, respondeu a popa, está contente por te lembrares (dikr) reconhecidamente de Deus, e evita as conversas e palavras superficiais. Se a tua alma possuir este contentamento, preocupações e tristezas esfumar-se-ão. Tal é, nos dois mundos do visível e do invisível, o que é mais próprio para o contentamento dos seres humanos. É por ele que a abóbada celestial está em movimento. Permanece contente na Divindade e move-te como o Sol por amor a Ela».
Ou a bela história narrada nesse mesmo capítulo: «Um homem sábio dizia: Há setenta anos que estou constantemente em êxtase de contentamento e de felicidade e, neste estado, participo na majestade soberana e uno-me mesmo à Divindade. Quanto a ti, que te preocupas em encontrar as faltas ou erros dos outros, como te alegrarás da beleza do mundo invisível? Se procuras as faltas com um olhar perscrutador, como poderás jamais ver as coisas invisíveis? Desembaraça-te primeiro de tuas falhas para que sejas verdadeiramente rei pelas coisas invisíveis. Separas em dois um cabelo para veres as faltas dos outros, mas és cego para as tuas próprias faltas. Ocupa-te dos teus próprios defeitos: então, mesmo que tenhas obscuridades ou culpas, serás agraciado por Deus…»
Acerca do vale da Gnose, do conhecimento esotérico, Ma'rifa, ou Irfan, cap. XL, Attar aconselha-nos a comermos e a dormirmos menos e a despertarmos mais:
«Se te privares de dormir durante a noite e se não comeres durante o dia, poderás encontrar o que procuras. Procura até que te percas na procura abstendo-te de comer durante o dia e de dormir durante a noite. Não durmas, se estás à procura das coisas espirituais; mas se contentas de falar delas, então o sono convém-te. Guarda bem o caminho do coração, pois há ladrões à volta. O caminho está cercado por ladrões do coração, preserva portanto a joia do teu coração destes bandidos.
Quanto tiveres a virtude de saberes guardar o teu coração, o teu amor pela ciência espiritual manifestar-se-á prontamente. Este conhecimento virá indubitavelmente à pessoas que vigia no meio do oceano do sangue do seu coração. Aquele que suportou longamente a vigília tem o seu coração desperto quando se aproxima de Deus. Já que é necessário privar-se do sono para ter o coração desperto, dorme então pouco a fim de conservares a fidelidade do coração.Tu deves repetir a ti mesmo, quando a tua existência se estilhaçar: «Aquele que se perde no Oceano dos seres não deve deixar escapar um gemido de queixa. Os amantes verdadeiros partiram todos para o mergulho do sono inebriados de amor. Bate na cabeça, pois os seres excelentes fizeram o que tinham a fazer. Aquele que realmente tiver o gosto do amor espiritual possui na sua mão a chave dos dois mundos».
E terminemos com o capítulo final, estimulando-nos a não temermos a misteriosa, fana, extinção, e com o começo do seu epílogo, em que se despede de nós:
«Quando o sol da pobreza ou nudez espiritual brilhou sobre mim, ele queimou os dois mundos mais facilmente que se fosse um grão de milho painço [millet, cereal muito rico que se vende bom e biológico na Miosótis, em Lisboa). Quando vi os raios desse Sol, não fiquei isolado, a gota de água retornou ao Oceano.
Ainda que no meu jogo eu por vezes tenha ganho e outras perdido,  acabei
todavia por deitar tudo na água do Oceano. Fui apagado, desapareci; nada restou de mim mesmo; não era mais do que uma sombra, não restou de mim o mínimo átomo. Era uma gota perdida no oceano do mistério e actualmente nem sequer encontro esta gota. Ainda que não seja dado a toda a gente desaparecer assim, pude-me perder na aniquilação, com muitos outros que foram como eu. Há alguém no mundo, do peixe à lua, que não deseje aqui perder-se?
Epílogo, começo:
«Ó tu que avanças no caminho espiritual, não leias o meu livro
como uma produção poética ou de magia, mas lê-a como se relacionando com o amor espiritual, e julga, por uma só sensação do teu amor, o que podem ser as minhas cem dores amorosas. Lançará até à meta a bola da felicidade, quem ler este livro animado deste amor. Deixa lá a abstinência e a vulgaridade; aqui só é preciso o amor, sim, o amor e a renúncia. Quem possui este amor, não tem outro remédio que renunciar à sua alma» e avançar no amor para ver ou encontrar Simurgh.
  Perguntada a mestra poupa, por uma ave, o que se podia oferecer, ou com o que se deveria chegar, ao divino Simurgh, respondeu ela: «Leva o ardor da alma e o esforço do espírito, porque ninguém deve dar outra coisa.»

terça-feira, 20 de março de 2018

A Primavera e o Amor dos livros aproximam e inspiram as pessoas criativamente. Da biblioterapia e criatividade.

1º dia da Primavera: o Amor dos Livros aproxima e inspira as pessoas. 
20 de Março de 2018, Nowruz!
Livraria Gostar de Ler, de Lurdes Paiva, no Porto.
 Os livros,  sendo quantitativamente no planeta os seres mais estáveis e sábios embora ora controversos ora calmos, qualitativamente são muito  catalizadores de movimentações e encontros, seja na pessoa em si mesma que os lê, seja nas livrarias onde entramos e apreciamos, seja nas apresentações que fazemos ou assistimos, seja ainda nos diálogos ou debates à volta deles.
Em si próprios, na verdade, os livros, enquanto meios de comunicação de ideias, sentimentos, vivências, imaginações e imagens, são bem poderosos em despertar nas almas leitoras respostas de afinidades que não se limitam ao espaço e tempo actual e ao dinamismo transformador que podem ocasionar, mas também recuando-as e ligando-as a seres antigos e pelo que podemos assim encontrar pessoas apaixonadas por escritoras e escritores, heróis e heroínas, ou por tempos  e épocas, já remotos da História da Humanidade.
Mas também são grandes catalizadores no presente e há muitas pessoas que por afinidades no amor aos livros ou a autores  se comunicam desde grandes distâncias e trazem ao de cima por essa afectividade partilhada não só estímulo na leitura, investigação e diálogo de certos temas, autores ou livros mas também uma qualidade cardíaca ou anímica valiosa, que é a de tornarem-nos almas inspiradoras e fortalecedoras, reciprocamente, da criatividade e voluntariedade pelo bem e a beleza, a verdade e o amor.
Este amor ou amizade entre os que amam os livros e a sua sabedoria proporcionou ao longo dos séculos valiosas correspondências afectivas ou amorosas que se concretizaram em cartas, artigos, textos, livros, telepatias, dedicatórias, presentes, etc... E que por sua vez podem dar origem a novos livros que manifestam essa reciprocidade amorosa e sábia, seja apenas na reprodução da correspondência, seja ainda em vida em trabalhos a dois, livros gerados nupcialmente ou cooperativamente...
No fundo arquetipicamente o livro  existe como transmissão de algo por amor aos seres, e está sempre, com o espaço branco da sua potencialidade em múltiplos níveis, apelando aos escritores e futuros leitores. Daí a febre da escrita de alguns, ou a admiração de outros por grandes obras e autores, participantes mais ou mesnos conscientes desse apelo primordial ou imemorial que atravessa a noite dos tempos pedindo que a palavra e a luz se façam, se comuniquem, invoquem e evoquem...
De igual modo os seres amam os livros  não só porque serão abençoados ou harmonizados pela palavras neles contidas mas também porque as pessoas são também livros, nelas se escrevendo ou imprimindo diariamente o que foi dito e pensado, sentido e vivido, numa escrita invisível que só alguém mais clarividente poderá discernir, adivinhar, intuir...
Algo disso manifesta-se no simples diário que milhões de seres ainda cultivam e que tem de quando em quando a sua intensidade aumentada, gerando poesia, sentida para alguém ou para certos seres, coisas, ideias, ideais, mas que preserva da efemeridade do dia a dia cada vez mais vertiginoso algumas palavras, imagens, cores, sons, ritmos, intuições, para uma certa perenidade, como o livro em geral permite..
No fundo os livros, já escritos ou impressos, ou ainda virtuais, potencializam desabrochamentos e trocas de ideias, de sentimentos e energias anímicas entre as fontes de inspiração e os autores, leitores e comentadores, num emaranhamento imenso entre o passado, o presente e o futuro de milhões de seres potencialmente afectados, inspirados, fortificados, curados, iluminados por tais livros.
Há seres que têm fios de ligação com muitos seres ou assuntos e estão constantemente a gerar impulsos, visões, ideias e logo páginas de escrita neles ou noutros e que um dia poderão tornar-se livros. Mas, de novo, só alguém muito clarividente é que poderá intuir que tal conversa ou tal vivência interior irá aparecer numa página de um livro futuro, ou que dela se gerarão acções bem valiosas e criativas, e de novo em  livros reflectidas, incorporadas, ligando quem sabe o a terra e o céu, os inspiradores e os escritores.
  Claro que a melhor fonte de inspiração é a Divina e não é por acaso que os livros mais lidos do mundo, como a Bíblia ou o Alcorão foram tidos, sobretudo antigamente e antes dos estudos críticos e intertextuais. como escritos por revelação divina. E embora não saibamos bem os meandros da sua feitura e inspiração, sabemos que certamente nenhum deles foi escrito ou revelado por Divindade, e que devemos nós tentar religar-nos ao espírito e à Divindade, na nossa interioridade e também pela leitura desses e outros livros  inspiradores. E, quem sabe ainda, para algumas pessoas,  pela leitura-escrita daquele livro da nossa vida que desentranhamos do nosso peito, aspiração e amor.
Para isso é fundamental volta e meia fecharmos os olhos, silenciarmos e tentarmos tornar-nos um eixo entre os mundos e abrir-nos à inspiração espiritual, nem que esta seja apenas acalmar-nos, centrar-nos, e dessa ora multiplicidade ora unidade podermos discernir melhor que pensamentos e sentimentos iremos em seguida desenvolver, que páginas escrever, que livros avançar.
Todos nós já sentimos também como humanamente podemos ser inspirados quando alguém nos responde a algum escrito ou livro de modo apreciador e como isso pode potenciar a nossa criatividade. 
E quando essa pessoa é alguém que nós gostamos, ou sentimos com mais afinidades comuns, tal apreciação pode suscitar mesmo o desabrochar de sentimentos interiores e, logo de imagens e palavras que alguns mais sensíveis poderão mesmo sentir como orações ou poemas brotando nas suas almas e se evolando para essa pessoa e para o Cosmos: "Graças, graças, graças", as Três Graças, isto é, "escreveu, apreciou, agradeceu e elevou", assim se contribuindo para o Grande Livro invisível do Amor.
A almas dessas quereria agora que este texto fosse sentido como contendo flores e perfumes, cantos de pássaros e brisas primaveris, determinações e coragem, neste dia da Primavera de modo a que elas possam abrir as janelas das suas almas e inspirarem-se, sentirem-se e determinarem-se mais criativamente e melhor para o Bem Comum e Cósmico...
Visualizo em abstracto uma alma leitora ideal e tento-a a sentir na sua inteireza e verticalidade, unidade única e graciosa, e para ela ergo a taça do  Graal plena do vinho do Amor divino na palavra e aos seus lábios e ouvidos faço chegar esta invocação da substância divina no Cosmos,  tão cantada pelos melhores poetas do Oriente do Ocidente, tão impregnada em milhões de inscrições e gravuras, páginas e livros..
Almas muito afins, as duas páginas de uma folha, num diálogo unificador de um poema de descobrimento e amor, o vento soprando inspirações e folhas, deixando-as abertas onde elas devem mais profundamente escreverem, escreverem-se...
Possam as páginas todas dos livros das nossas bibliotecas estremecer um pouco de amor, possam as nossa almas expandir-se e abranger todos os livros que lemos ou que leremos, que tocamos ou tocaremos e assim intensificar-se a energia vibratória amorosa em todas as salas, estantes, livrarias, bibliotecas e almas. 
Possa nelas se sentir o grande oceano do Amor-Sabedoria Divino que a todos nos envolve e substancia...
A  leitura, a escrita, a poesia que pode erguer-se em cada ser a cada instante é única nesse momento, a isto chamavam os japoneses ichi-go ichi-e, e felizes os que sabem criar, receber ou merecer as melhores conjunções e espirais de energias que soltarão as liras e as ressonâncias das cordas anímicas da beleza, sabedoria e amor.
 De tal modo que vendo-as ou ouvindo-as interiormente ou intuitivamente, possam depois reproduzirem-nas em palavras e ritmos, imagens e ideias, animando orficamente os livros, a Terra, as almas e espíritos, na Fraternidade humana e na Unidade primordial e divina...

sexta-feira, 9 de março de 2018

Viajar de comboio do Porto a Lisboa na eternidade. Imagens belas da paisagem e reflexos psico-espirituais.

  Deixando a urbe portuense e a Dalila Pereira da Costa, comemorada no congresso do centenário do seu nascimento, e mais uma mão de pessoas amigas, sentado na varanda-janela do comboio intercidades Porto-Lisboa, lendo, escrevendo e contemplando, eis  imagens que permancerão de uma viagem já deixada para trás na marcha imparável do tempo, mas aqui, por belos fragmentos fotográficos da paisagem e páginas da alma na sensibilidade e palavra que se transmitem, arrancada a tal voragem, e logo preservada e partilhada. Avancemos...
Fábricas outrora  bem dinâmicas, agora ruínas cheias de memórias. Mas quem as sabe pesquisar e cultivar, ou mesmo as reutilizar?
 Porque mais exposta à chuva e intempéries os telhados. mesmo sem serem de vidro, abatem, e as cabeças , mesmo não sendo ocas, podem ceder. Vela para que a tua luz interior a mantenha coesa e firme. E que a abras às melhores energias psíquicas, emotivas e espirituais
Gate, gate, paragate, parasamgate, bodhi svaha, rezavam os budistas antigos, apelando a deixares para trás apegos, vivendo plenamente desperto no presente e, bordejando a margem da eternidade, libertares-te...
Quem saberá amar as casas na eternidade em que elas vivem, quem as consegue contemplar no olho espiritual, ou mesmo recuperar delas seus segredos, ou em sonhos as conhecer e habitar?
Quando o céu e a terra se unem pela água e o ar, a nuvens e o sol, e se tornam um lago em que contemplamos as ondas do pensamento e nos podemos abismar na riqueza e profundidade do coração do Ser.
Que espíritos da natureza e seres humanos  geraram este quadro que atravessa os vidros e se plasma nas nossas almas como obra prima, como transmissora de energias de liberdade e comunhão?
Circunscreveste as tuas energias psíquicas num rectângulo talhado com a razão dourada, e assim como o lago atrairás o raio do Amor sobre ti, e as tuas águas serão harmonizadoras, plenificadoras.
Leves e diáfanas folhas e ramos, cantam ao vento as mudanças das estações e a subtileza do Amor substancial...
Paisagens que nos levam e elevam ao infinito, ao Divino...
Gemeste, choraste, sofreste mas se aspirares e as tuas águas acalmares o Espírito te iluminará..
Nos bosques e florestas que acompanham os cursos de água absorverás o melhor "prana" e sentirás os espíritos da natureza e o Amor divino
Construir ou atravessar a ponte entre o mundo sensorial físico e o subtil é uma das tarefas dos pontífices e dos peregrinos, das almas sensíveis e dialogantes, pacificantes.
A consciência que se expande pelos campos e nuvens a dentro, chegando ao horizonte, às nuvens e ao céu azul e infinito
Sentir a união da terra e do céu é natural na Natureza
Cultivar a comunhão com as nuvens, com o espaço infinito abre-nos ao Amor divino
Também dentro de ti, através do teu olho espiritual, poderás contemplar na distância, maravilhado
Sinta e escreva, do seu ser para ser...
O teu temenos,  o teu templo, o espaço tempo que sacralizas, vai-te preparando para a Eternidade e vai-se tornando um local irradiante e harmonizante na terra. Cultiva-o persistentemente organicamente, amorosamente.

(1) Diários e suas meditações, visões e ensinamentos. Do espírito e da aspiração mística.

Trancrições de compreensões, vivências, intuições e ensinamentos registados em diários ao longo dos anos...

Os santos e santas bem  irradiantes do espírito neles, ou da suas qualidades, mais ou menos conscientes de tal, estão bem representados com uma auréola sobre a cabeça, sinalizando assim, para quem sabe,  que a estrela do espírito estava neles bem activa, quase que visível nas suas emanações subtis mas sensíveis.
Seres mais identificados ao Espírito....
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Meditação matinal, com aspiração mística a Deus, tendo visto formar-se no olho espiritual uma pomba branca a esvoaçar para cima. Houve utilização de quando em quando da frase semente: "Eu sou o espírito livre de desejos".  
Tive uma consciencialização que o Espírito Santo é essencialmente o espírito individual.
***
Assim como um móvel manchado adquire uma cor pura  se lhe dermos com cera, assim a alma lava-se e brilha mais com a aspiração e a meditação em Deus.
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Vou a um cemitério. A oração que brota é: "que Deus nasça nos nossos corações". 
Saber entrar na elevação própria ou adequada dos sítios é saber sentir ou discernir as necessidades e anelos de cada ambiente e dos seus seres e agir psiquicamente correctamente, harmoniosamente.
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Um sinal de meditarmos bem, de estarmos dignos de receber a Deus é termos a visão de Nossa Senhora com o bebé, com a criança pura, ao colo. 
No fundo, Santo António visto com o menino fisicamente ou apenas espiritualmente significa o mesmo: um ser que merecia receber ou sentir a presença divina.
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 É Domingo, os golos atravessam o ar. O país  anda ao rubro aos Domingos, dia do Senhor, mas por causa do futebol e não por causa de Deus ou em elevação mística de comunhão com o seu amor. Mas certamente que há fraternidade, libertação de tensões e o prazer de jogar, de se entusiasmar pelos outros que são assumidos quase como eles presperto e sobretudo o futebol para muita gente é a religião que mais sentem, pois religam-se com os outros do mesmo clube e expandem a sua consciência até ao tamanho do estádio...
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Quando estamos com pessoas que não estão muito harmonizadas nem polarizadas nas suas energias para a sintonização e elevação a Deus, ao Bem, torna-se difícil não nos envolvermos nas suas personalidades e desejos, nas suas carências e frustrações, nos seus bloqueios e sombras e e que são então um mar impetuoso  de energias diversas influenciando quem as rodeia ou que mesmo à distância pela voz, a intencionalidade e o telefone nos tocam, nos envolvem, nos perturbam. Estarmos conscientes do ponto de saturação é importante pata que não deixemos ou a irritação ou o enfraquecimento apanharem-nos
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Onde está o Anjo da Guarda?
O Anjo vive num plano espiritual elevado, e de lá, quando meditamos e oramos ou quando há alguma necessidade forte nossa,  urgência ou apelo,  envia energias que podem ser sentidas, vistas e recebidas por nós de diversas formas e em diferentes níveis.
Por vezes podemos contemplá-los nas alturas, seja interiores seja exteriores,  outras vezes  nas distâncias. 
O mais forte e raro é quando ele mesmo desce sobre nós, e paira sobre nós, ou atrás de nós. 
Por vezes pode projectar uma energia ou imagem sua numa parede, num muro, num monumento, numa árvores...
Certamente há muitas outras formas de o Anjo da Guarda se manifestar...
Saibamos descobrir, merecer, receber as nossas com regularidade, lembrando-nos mais dele durante o dia a dia...