sábado, 23 de dezembro de 2017

Antero de Quental, as Fadas e o "Tesouro Poético da Infância", seu livro para as crianças...

                                                   
Quando Antero de Quental publica no Porto em 1883 o seu contributo tão belo para a literatura infantil, o Tesouro Poético da Infância, ainda hoje tão recomendável, fá-lo pelas razões que explica nas dez páginas da advertência inicial, onde transmite a sua visão da educação infantil, concluindo-a assim: «Cuido ter proporcionado à infância uma leitura, que, sendo simples, não é fútil. Aqui encontrarão os tenros espíritos razão e belos sentimentos, sob uma forma dúctil e fácil, que lhos torne compreensíveis. A criança como o adulto precisa de ideal. Somente a criança sente-o e percebe-o por um modo seu - mas nem por isso o reclamam menos imperiosamente os seus instintos espirituais. Se as mães de família e os mestres inteligentes acolherem com favor este livrinho, aplaudir-me-ei por este pequeno serviço prestado à causa da educação.»
                                        
A escolha muito sensível dos poemas abrange uma parte significativa da literatura portuguesa, desde os romances medievais e populares quinhentistas (excluindo os poetas clássicos dos sécs. XVI ao XVIII) até à poesia do séc. XIX, dos seus amigos João de Deus, António de Azevedo Castelo Branco e Bulhão Pato, incluindo ainda muitos outros autores, tais como Luís Palmeirim, Soares dos Passos, António Feliciano Castilho, João de Lemos, Júlio Dinis, etc.
No meio dos poemas um porém se destaca, As Fadas, escrito por ele em Junho de 1880, provavelmente a partir da sua vivência de adopção  de duas crianças de tenra idade, no final de 1879, as filhas do seu grande amigo Germano Meireles, que partira para o outro mundo em 1877.
Serão assim a Beatriz e a Albertina quem Antero provavelmente quer iniciar como amiguinhas das fadas e podemos imaginá-lo a recitar-lhes o poema seja em Lisboa, onde ainda residiu com elas dois anos, seja em Vila do Conde, explicando-o nas respostas às perguntas que as duas pequenas lançariam, quem sabe com as suas mãos, algo carentes de contactos mais afectivos ou amorosos, acariciando as suas cabeças e entrançados cabelos.
Podem associar-se certos poemas a actos e momentos especiais, e há até casos disso célebres, tal a mítica emergência de Alberto Caeiro na mente de Fernando de Pessoa, escrevendo dum jacto, de pé, os vários (ou alguns, como depois se confirmou...) poemas do Guardador de Rebanhos.
Talvez este poema consagrado às Fadas provenha então de ambientes nocturnos e memórias insulares, ensaiado e gerado em algumas narrações de histórias de fadas que Antero terá lido ou mesmo inventado para adormecer as suas crianças.
Dizemos lido ou inventado pois, como bem contextualiza Ana Maria Almeida Martins na sua recente reedição na editora Tinta da China do poema As Fadas (acompanhada de um audio de João Grosso), Antero tinha na sua biblioteca uma mão cheia de livros de contos tradicionais e de fadas que lhe permitiram manusear esses tesouros da primordialidade humana e ler umas páginas, de uma história ou poema, às duas filhas adoptivas, quem sabe se encantadas também com a capas e as ilustrações dos livros. 
Escapam-nos, na evanescência dos acontecimentos não registados, as vezes que Antero (com a mulher de Germano Meireles que ainda viveu uns anos), terá tentado adormecer as crianças com poemas ou histórias e com que receptividade fecunda, isto é, onírica, elas receberam tais histórias, moldando-as nos sonhos e assim enriquecendo a sua lenta constituição anímica... 
 Com efeito, um traço que gostaríamos de realçar neste poema é a sua intencionalidade onírica, sonhadora, imaginativa, já que o poema introduz seres, paisagens ou ambientes, e em reacções que se prestam bem a ser imaginadas ou mesmo sonhadas, que vão encaminhando a alma de quem o lê para uma capacidade de entrar nesse mundo mágico, e até assumir, dessas entidades subtis, ou oníricas ou imaginadas, os dons que uma pessoa queira ou mereça, entre os quais o último apresentado, considerado como o melhor, o de adormecer, tem a marca pessoal de Antero que frequentemente bem desejou e que, provavelmente mais do que pedir, terá tentado controlar..
 É importante realçarmos este adormecimento natural (e de realçar numa época em que tanta gente tem de tomar comprimidos para dormir, o que faz pessimamente ao sistema nervoso e mente) como porta libertadora em relação ao corpo ou à realidade quotidiana e como  entrada no mundo sagrado ou mágico dos contos, dos sonhos, das visões, dos seres invisíveis e misteriosos. 
De certo modo é um do s seres que sabem empunhar a varinha mágica, a vara de condão, por vezes bem iniciática (qual bordão-espada-caduceu), que encontramos na pintura portuguesa mais enigmática de sempre, a dos painéis quatrocentistas de Nuno Gonçalves, em que vemos o ser transfigurado, sagrado ou de outro mundo, que empunha a vara do poder em ouro e partilha seus dons ao centro da pintura e em duas faces ou cenas complementares.
    
Ora perante o mistério dos seres invisíveis e da fadas, da sua existência ou não, Antero de Quental, ao começar o poema, confessa-nos: «As Fadas? Eu creio nelas...»
Poderia ter dito eu sei que há fadas, se as tivesse visto, mas tal não aconteceu porque provavelmente nunca as viu em sonhos ou em visões através do seu olho espiritual.
E portanto o que vai fazer é invocá-las de dois modos, no primeiro, mais natural e pessoal, descreve as fadas como as pressente ou, quem sabe, intui por entre a natureza, a qual a notável anteriana Ana Almeida Martins vê até como a dos Açores e Ponta Delgada.
No segundo, seguindo os veios tradicionais, refere os nomes das fadas mais famosas e alude a uma das fontes clássicas da literatura medieval mais encantadora e luminosa, a dos contos ligados a Merlin, ao cancioneiro celta e britânico, passando deste modo para a memória e alma das crianças uma figura mítica europeia.
                                      
Mas quem é esse Merlin, terão perguntado as crianças e Antero provavelmente ter-se-á submetido a tal exigência clarificadora, transmitindo-lhes algumas ideias ou imagens acerca de tal misteriosa personagem, curiosamente, por Antero transformada em rei, algo que nos pode levar a interrogar: 
 Porque chamou ao mago Merlin rei, já que o rei era Artur? Por descuido não foi certamente, e portanto temos provavelmente só três hipóteses: ou não quis empregar a palavra de mago, feiticeiro, druida, sacerdote pagão, ou valorizou e aproximou à designação de reis magos do Oriente, ou então terá querido dizer que o rei era ele, pois tinha verdadeiramente o poder, a vara mágica e de condão...
Talvez esta última hipótese, e ainda por cima para crianças de tenra idade, seria a melhor para passar pela primeira vez a existência desse mago, druida, feiticeiro ou rei de si mesmo que sabia empunhar bem a varinha mágica, ou o bordão da sua vontade, conseguindo ter muitos poderes, tais como ver ao longe ou o futuro, enviar forças, deslocar-se subtilmente, conversar com os animais e as árvores, etc., algo que as fadas também conseguem nos seus mundos físicos subtis.
As cinco fadas nomeadas por Antero de Quental poderão ter sido também de algum modo explicadas ou contextualizadas às crianças de modos simples, mas certamente transmitindo-lhes alguns dos traços que Antero quis realçar, já no poema assinalados de certo modo:
Viviane, a das águas, e talvez não seja por acaso ser ela a abrir a presença das fadas nomeadas, pois as crianças e Antero contemplarão o mar todos os dias desde que instaladas em Vila do Conde, assinalando até Antero por carta o gáudio delas quando viram o mar pela primeira vez, e podendo nós considerar esta evocação uma iniciação marítima, uma sacralização do mar e da paisagem marítima para as crianças não recearem a borda do Oceano: "Viviana ama a espuma das ondas nos areais."  
Ora Viviane, de origens muito antigas associadas a capacidades visionárias e proféticas, tão ligadas ao culto das águas, tornar-se na mitologia medieval assumida literariamente  a Senhora do Lago, uma sacerdotisa da mítica ilha de Avalon (conhecida desde o séc. XII), em algumas versões medievais sendo a fada (já que noutras é Morgana) que entregou a espada Excalibur ao rei Artur para o tornar invencível, e que educou o valeroso cavaleiro Lancelot do Lago, conforme Chrétien de Troyes narra no seu ciclo das aventuras de Lancelot.
                                             
Depois segue-se Morgana, a fada da manhã no dizer de Antero, de origens muito antigas irlandesas e que no ciclo do rei Artur surge na Vida de Merlim, de Geoffrey de Monmouth, como uma das regentes  de Avalon, e uma curadora de corpos e almas. Mas na versão do ciclo da Vulgata (mais católico) e de Malory ela já é uma feiticeira sobrinha de Viviane, e por ela educada para sacerdotisa de Avalon, vindo a ter um filho do rei Artur. É apresentada por Antero de Quental como muito enganosa, introduzindo assim nas crianças a necessidade de cautela e prudência, pois nem tudo o que luz é ouro. Na pintura que publico, Morgan le Fay segura a espada mágica, ou Excalibur, que ela conseguiu tirar a Artur, para entregar ao seu namorado, e nestes episódios se terá baseado Antero para descrever à Beatriz e à Albertina a fada Morgana como má...
                                   
Depois apresenta a Melusine e a Titânia, ligando-as apenas a  flores, deixando para mais tarde a Beatriz e a Albertina poderem decifrar melhor a história dessas duas, entre as muitas fadas, mais conhecidas: Melusine representando o filão celta e francês das águas e das sereias, com tanto sucesso na história e nas artes, e Titânia, a rainha das fadas, mais ligada ao ar e às flores, e que é personagem de Shakespeare numa das suas peças mais conseguidas e iniciáticas, Sonho de uma Noite de Verão, tal como vemos em duas imagens, a primeira de John Simmons.
 
                                    
Este poema As Fadas configura-se na verdade tanto como iniciático, ao referir os seres subtis da natureza que só pela visão subtil espiritual podem ser avistados, como ecológico, ao apelar ao contacto mais íntimo e amoroso com a natureza e com as suas fontes, pedras, mar ou mesmo ambientes nocturnos e enluados.
A iniciação pelo contacto com a natureza e os seus pontos mais belos ou extraordinários faz parte da história da humanidade e ainda hoje em muitos povos se peregrina em certas ocasiões a tais locais, e vemo-lo Portugal em várias tradições populares, sobretudo ligadas à noite mais curta do ano, a de S. João.
O convite às crianças para procurarem,  encontrarem e verem com respeito, isto é com receptividade, as Fadas está bem afirmado por Antero, que explica mesmo que elas concedem vários bens ou dons, terminando com o de adormecer, algo bem valioso para ele que sofria de crónicas dificuldades de adormecimento, tal a força da mente e da sua lucidez, insónia que certamente derivava também da energia nervosa e da digestiva não equilibradas nem controladas, alimentando-se pouco e mal...
Este convite às crianças de penetrarem mais na Natureza e verem as Fadas tem contudo várias dimensões passivas e activas que explicitaremos assim:
Primeira, ao nível legendário e tradicional dos contos de Fadas, e que se lêem tal como estão nos seus ritmos encantatórios e que, entrando pelos ouvidos, transmitem as suas harmonias e forças na alma das crianças, recebendo estas inconscientemente tais imagens, ideias, nomes, sons, efeitos e ficando assim predispostas a reconhecerem ou aceitarem mais tarde os  seres e aspectos subtis da manifestação.
Segunda, os aspectos físicos da natureza descritos ou apresentados passam então a ser vistos e considerados como mágicos, como capazes de estimularem a nossa sensibilidade e contacto com as fadas e seus mundos maravilhosos, nascendo assim um incentivo a peregrinarmos mais até eles e a sermos tanto amantes da natureza como seres ecológicos, protectores dela.
Terceira, com tal convite a imaginação é estimulada a não ficar presa apenas na realidade visual ocular mas a admitir a existência de seres subtis, as fadas e as dríades, os gnomos e os silfos. E assim uma pessoa pode tanto imaginá-los, sonhá-los ou mesmo vê-los com a visão subtil e espiritual.
                                         
Será então que Antero de Quental queria que as crianças imaginassem ou sonhassem com as fadas, e logo pudessem dizer como ele: - Eu creio nas fadas?
Será que Antero queria mesmo que as crianças vissem com o olho espiritual, acordadas, as fadas e pudessem dizer: - Eu já vi as fadas e os duendes?
                                                                                                  
 
                                
Talvez, como pedagogo que sempre foi, e que na altura por causa das crianças mais  assumira,  e que o levara a ler e a apreciar a obra e os ensinamentos de Froebel, que realçam o valor da imaginação, da poesia, do conto tradicional na educação e primeira instrução das crianças, Antero tivesse apenas como objectivo esse desenvolvimento da imaginação  e não tanto a visão espiritual das fadas...
                                       
Contudo, para alguém que afirmara com força o dito grego “morrer é ser iniciado” algo que passou para os seus amigos, discípulos ou continuadores, tal Joaquim Araújo e Fernando Pessoa, que o repetem e meditam, certamente que esse ver mais plenamente, que a saída da alma do corpo físico permite, em geral, aquando da morte, pode também em vida ser conseguido, morrendo-se para as limitações dos cinco sentidos e abrindo-se as portas da imaginação ou da visão interior, no que pode ser uma verdadeira iniciação ao mundo subtil e até espiritual.
Algo mais corre no poema, além do Merlin como rei mago, iniciado e iniciador, pois as próprias fadas são muitas delas iniciadoras, tal como se conta nas suas histórias e se tem confirmado nas análises antropológicas e esotéricas a tal filão imemorial da sabedoria humana.
E que Antero de Quental segue esta linha iniciática, vemo-la não só no facto de enumerar alguns dos seus poderes psíquicos, ou ainda ao afirmar que as fadas podem tornar-se madrinhas das crianças... 
         
 Terão a Beatriz e a Albertina por sua vez pedido a Antero que desejavam ter a Morgana ou Titânia como madrinhas delas?
                                              
Escapam-nos esses belos e tocantes momentos da vida de Antero e das suas duas filhas adoptivas, mas o poder iniciático que o padrinho ou madrinha assume, frequentemente dando o nome a quem vai nascer, e na Índia sabemos que em certos casos tal nome era escolhido com certa clarividência energética, e depois apoiado com certos bens-presentes e ensinos  psíquicos ou espirituais, é afirmado por Antero de Quental de modo a que se crie um relação sensível e de maior confiança com os seres do mundo subtil que, quase equiparados a Anjos, podem então mais facilmente inspirar a jornada terrena das alminhas luminosas, nascidas frequentemente no meio de trevas sociais grandes...
«Por isso quem por estradas for de noite e vir as fadas mirando o céu, deve com jeito falar-lhes...», diz Antero às crianças e a nós, e este "com jeito falar" é logo a seguir ainda mais explicitado: "porque a fortuna da gente, está às vezes somente, numa palavra que diz. Por uma palavra engraçada, uma fada com quem passa e torna-o logo feliz". 
O que temos aqui senão uma iniciação órfica, tão afim de Bocage, de Antero ou de Pascoaes e Pessoa, ou seja, tal como Orfeu, que com o seu canto da lira e voz acalmava e deliciava os animais livres ou selvagens e fazia os próprios penedos e árvores sentirem e estremecerem, assim a pessoa que sabe pronunciar a palavra certa com amor, esse abre as portas do coração e da metamorfose benfazeja.
A criança que acredita ou vê as fadas, que as aceita  como madrinhas, essa leva a varinha de condão na mão e pelo seu poder interior, palavra e voz certa pode bafejar o mundo com o brilho divino da fraternidade amorosa entre todos os seres e coisas, algo que Antero sentia e desejava para a Humanidade, mais livre, justa e fraterna e que teorizou um pouco sob a designação de Panpsiquismo.
As Fadas é assim um poema iniciático para as crianças. Põe-nas em contacto com uma linha de força tradicional educativa e mítica milenária e com a existência dos seres subtis da Terra. E sobretudo impulsiona as crianças a assumirem a sua força de quererem o bem e agirem com imaginação e sabedoria para que tal se realize e implemente no mundo.
    AS FADAS

«As fadas… eu creio nelas!
Umas são moças e belas,
Outras, velhas de pasmar…
Umas vivem nos rochedos,
Outras, pelos arvoredos,
Outras, à beira do mar…

Algumas em fonte fria
Escondem-se, enquanto é dia,
Saem só ao escurecer…
Outras, debaixo da terra,
Nas grutas verdes da serra,
É que se vão esconder…

O vestir… são tais riquezas,
Que rainhas, nem princesas
Nenhuma assim se vestiu!
Porque as riquezas das fadas
São sabidas, celebradas
Por toda a gente que as viu…

Quando a noite é clara e amena
E a lua vai mais serena,
Qualquer as pode espreitar,
Fazendo roda, ocupadas
Em dobar suas meadas
De ouro e de prata, ao luar.

O luar é os seus amores!
Sentadinhas entre as flores
Ficam-se horas sem fim,
Cantando suas cantigas,
Fiando suas estrigas,
Em roca de oiro e marfim.

Eu sei os nomes de algumas:
Viviana ama as espumas
Das ondas nos areais,
Vive junto ao mar, sozinha,
Mas costuma ser madrinha
Nos baptizados reais.

Morgana é muito enganosa;
Às vezes, moça e formosa,
E outras, velha, a rir, a rir…
Ora festiva, ora grave,
E voa como uma ave,
Se a gente lhe quer bulir.

Titânia, por John Simmons..

Que direi de Melusina?
De Titânia, a pequenina,
Que dorme sobre um jasmim?
De cem outras, cuja glória
Enche as páginas da história
Dos reinos de el-rei Merlin?

Umas têm mando nos ares;
Outras, na terra, nos mares;
E todas trazem na mão
Aquela vara famosa,
A vara maravilhosa,
A varinha de condão.

O que elas querem, num pronto,
Fez-se ali! parece um conto…
Mesmo de fadas… eu sei!
São condões, que dão à gente
Ou dinheiro reluzente
Ou joias, que nem um rei!

A mais pobre criancinha
Se quis ser sua madrinha,
Uma fada… ai, que feliz!
São palácios, num momento…
Beleza, que é um portento…
Riqueza, que nem se diz…

Ou então, prendas, talento,
Ciência, discernimento,
Graças, chiste, discrição…
Vê-se o pobre inocentinho
Feito um sábio, um adivinho,
Que aos mais sábios vai à mão!

Mas, com tudo isto, as fadas
São muito desconfiadas;
Quem as vê não há de rir,
Querem elas que as respeitem,
E não gostam que as espreitem,
Nem se lhes há de mentir.

Quem as ofende cautela!
A mais risonha, a mais bela,
Torna-se logo tão má,
Tão cruel, tão vingativa!
É inimiga agressiva,
É serpente que ali está!

E têm vinganças terríveis!
Semeiam coisas horríveis,
Que nascem logo no chão…
Línguas de fogo, que estalam!
Sapos com asas, que falam!
Um anão preto! um dragão!

Ou deitam sortes na gente…
O nariz faz-se serpente,
A dar pulos, a crescer…
É-se morcego ou veado…
E anda-se assim encantado,
Enquanto a fada quiser!

Por isso quem por estradas
For, de noite, e vir as fadas
Nos altos, mirando o céu,
Deve com jeito falar-lhes,
Muito cortês e tirar-lhes
Até ao chão o chapéu.

Porque a fortuna da gente
Está às vezes somente
Numa palavra que diz.
Por uma palavra, engraça
Uma fada com quem passa
E torna-o logo feliz.

Quantas vezes já deitado,
Mas sem sono, ainda acordado
Me ponho a considerar
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um belo dia,
Me quisesse a mim fadar…

O que seria? Um tesoiro?
Um reino? Um vestido de oiro?
Ou um leito de marfim?
Ou um palácio encantado,
Com seu lago prateado
E com pavões no jardim?

Ou podia, se eu quisesse,
Pedir também que me desse
Um condão, para falar
A língua dos passarinhos,
Que conversam nos seus ninhos…
Ou então, saber voar!

Oh, se esta noite, sonhando,
Alguma fada, engraçando
Comigo (podia ser?)
Me tocasse co’a varinha
E fosse minha madrinha,
Mesmo a dormir, sem a ver…

E que amanhã acordasse
E me achasse… eu sei! me achasse
Feito um príncipe, um emir!…
Até já, imaginando,
Se estão meus olhos fechando…
Deixa-me já já dormir!»
Comunguemos então com a Natureza (não a deixemos arder, ou ser menosprezada, esventrada e explorada  por tantos gananciosos, insensíveis e irresponsáveis) e amemos mais tanto os seus eco-sistemas como os seus espíritos subtis e alegres...
Vivam mais reconhecidas as Fadas, náiades (nadadoras), ondinas, gnomos, dríades, sílfides e Anjos ou Devas...
Desenvolvamos a sensibilidade interior e o amor que nos abrem experiencialmente às dimensões e seres, seja subtis da Natureza mas sem nos prendermos em tais níveis, seja já e sobretudo espirituais, tais como os mestres, anjos e arcanjos, do Universo e da Divindade...

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Tive muito gosto em partilhar esse seu belo apontamento.
Aqui ficam os meus sinceros agradecimentos.
Pode ver aqui:
https://www.facebook.com/moedasduarte

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças estimado amigo, pela sua apreciação e divulgação. Já vi alguma das suas últimas partilhas que bem indiciam as qualidades anímicas valiosas que desenvolveu. Votos luminosos!