terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Dalila Pereira da Costa, apreciação do "Encontro na Noite". E leitura comentada por Pedro Teixeira da Mota

No fim deste texto está um vídeo, realizado a 28-II-2017, no qual leio e comento algumas páginas de um dos livros da Dalila Pereira da Costa, o Encontro na Noite, respeitante ao Anjo, à reminiscência, nomeadamente de vidas anteriores, e ao mundo subtil, e ainda às serras sagradas de Sintra e Marão...
Um livro bastante confessional, no qual transcreve em palavras e ritmos, que tentou serem o mais precisos e adequados possíveis, o que vivenciou obscura e interiormente em sonhos ou visões e que nos é assim transmitido na transparência ou claridade a que conseguiu chegar.
Partilha a Dalila as intuições ou os diálogos que teve com o seu Anjo, ou ainda com o seu "Eu absoluto", cujo acesso implica um ultrapassar do ego, do mundo e do tempo e mostra-nos como sentiu em si as correntezas energéticas que lhe permitiram viver os estados expandidos de consciência e unitivos.
Por vezes era uma velha que a guiava, outras era Nossa Senhora quem ela via, brotando das árvores e da terra para o céu, em mil chamas e torres, impulsionando-a nessa elevação. 
Contudo, é a demanda do Anjo, que é o Amado, o cerne da obra, o qual, num  encontro na noite, ao abraçá-la, lhe rasga no peito uma fenda por onde entra o Amor...
Quantos místicos não sentiram este abrir e expandir do peito seja nos encontros com outros seres afins, ou nas suas meditações e estados unitivos? Alguns, e todos se lembrarão de S. Teresa de Ávila a ser ferida por uma seta, tão maravilhosamente esculpida por Bernini e patente na basílica de S. Pedro, em Roma.
Todavia a dimensão e o ser do Anjo que a  Dalila intui ou sente não é o clássico Anjo da Guarda, fiel e perene companheiro, mas um ser mutável, talvez mesmo diferentes Anjos que podem surgir da Natureza, das profundezas da Terra ou do mais alto do Céu, dando-nos noutros livros ainda outras compreensões e visões, admitindo por vezes que o Anjo seja o "Eu absoluto" nosso, ou em nós...
Sendo a Dalila um ser de grande sensibilidade e amor, a junção do conhecimento e amor, que perenemente foi proposta como via e meta do Caminho, é realizada por vários modos de gnose dinâmica e um deles é o das suas peregrinações pelo lado invisível das cidades e dos campos, seja encontrando as reminiscências ou os extractos históricos que eles contém, seja penetrando em níveis primordiais e centrais da Terra e assumindo capacidades de superação das convenções psico-físicas que regem a nossa vivência do tempo e o espaço na vida quotidiana. Assim sente aceder as experiências energéticas ou intuições conectadas com estados anteriores (ou incarnações) a esta vida actual terrena. 
Como sabemos os sonhos são sempre fontes de conhecimento, maior ou menor, sobre nós próprios e o mundo, e alguns são mesmo ecos ou transcrições de experiências noutras dimensões de vida. Dalila Pereira da Costa diz-nos lapidarmente, embora certamente tal se aplique só a alguns: «os sonhos são a nossa grande reminiscência: um de novo entrar no mundo perdido. Um de novo possuir o nosso ser imortal. Aí se conhece, reconhece, o que estava só esquecido, o que tínhamos perdido». 
E tendo em conta os seus sonhos de casas e cidades recorrentes e tão ricos de pormenores e sentimentos, escreverá ainda: «Então aí pelos sonhos, é onde se aclara e exalta toda a nossa anamnese, se vê que as casas onde vivemos são assim um outro nosso corpo. Porque elas aí surgem, não como coisas estranhas e mortas, mas nossos verdadeiros corpos vivos, aí lembrados, aí de novo reassumidos por uma noite.» Ora a sua casa, onde tantas vezes dialoguei belamente com ela, continha ou apelava a essa profundidade histórico- espiritual. Também já senti bastante isso em sonhos com a antiga casa de família, que ficou acessível como um espaço de encontros perenes
Pormenor da sala de entrada na casa da Dalila, em 2009.
Dalila admite "revivenciamentos" de instantes de outras vidas em sonhos e que «essas repetições serão a experiência da nossa imortalidade» e assim  «vivemos na cadeia ancestral uma vida una, sem solução de continuidade», deste modo alertando-nos para tentarmos sentir mais poderosamente a continuidade de consciência tanto entre sonhos e vigília, como entre esta vida e as possíveis outras, sem quebra de continuidade, como nos diz, nessa busca da anamnese, sobre a qual se interroga também lapidarmente:«O que contém em si, revela ou encobre, a palavra reminiscência? A que plano inominável do Ser ela se refere ou pertence?», respondendo logo em seguida e de um modo talvez pouco esperado: «Sobe e surge do centro do mundo./ A ela vem agarrada toda a ganga da Vida.»  Ganga que presumimos serem as imagens instáveis do plano astral por onde passarão as imagens (ou mesmo a essência...) das reminiscências caso sejam ou provenham de níveis superiores..
O livro contém outras imagens ou injunções iniciáticas, belas e poderosas:
«Danças de mão verdes e de voltas de faúlhas»
«Virgem, põe o meu coração sobre o teu»
«Espiraliza-te no teu ser - e sobre o teu centro, ergue-te».

E partilho, antes da gravação sobre o Encontro da Noite, uma das belas imagens que a Dalila Pereira da Costa nos deixou, quando eu e a Sandra Pinheiro a visitamos e entrevistamos, em 2009, na sala da biblioteca da sua casa, na Av. 5 de Outubro 444, Porto...
                     

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