segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Carta de Giovanni Pico della Mirandola ao seu sobrinho, de 15.5.1492, sobre a aspiração a Deus, a inspiração dos livros e a religação à Divindade.

                                         
Extracto de uma carta do fulgurante génio Giovani Pico della Mirandola (24-II-1463 a 17-XI-1494) ao seu sobrinho Giovanni Francesco della Mirandola, datada de 15 de Maio de 1492 [havendo outra de 2 de Julho, que nos 561 anos do seu nascimento, em 24.2.24, gravei no Youtube e partilhei no blogue], na qual recomenda, pela sua experiência espiritual, a  constante aspiração amorosa e atenção interior para com  Deus e como devemos ler e orar com mais profundidade e unidade:
«O que podemos nós, em verdade, sem a ajuda de Deus? E como nos ajudará Ele se não o invocarmos?
Mas mesmo que o invoques, Ele não te ouvirá se antes não saciaste o pobre que te suplicou, pois é natural que Deus te menospreze, se tu menosprezaste um outro ser.
Está escrito: "Sereis medido pela medida com que mediste" e noutro passo: "Felizes os misericordiosos pois eles obterão misericórdia". Contudo, quando te exorto à oração, não te exorto à que se faz com muitas palavras, mas à que, no segredo, no recolhimento do espírito, nas profundezas da alma, fala a Deus pelo afecto ou sentimento verdadeiro e, na nuvem luminosa da contemplação, não somente apresenta o espírito ao Pai, mas une-se a Ele dum modo inefável, que só conhecem aqueles que viveram a experiência.
E não tomo em conta a duração da tua oração, mas a sua eficácia, o seu ardor, o ser interrompida mais por suspiros que sustentada por uma sucessão contínua de frases.
Se levas a peito verdadeiramente a salvação, se desejas estar protegido dos redes das forças negativas, das tempestades do mundo, das armadilhas dos inimigos, se desejas ser agradável a Deus, se queres enfim ser feliz, faz com que não se passe um dia sem que não te aproximes do teu Deus
pela oração pelo menos uma vez  e, inclinado diante dele, com o sentimento humilde dum espírito piedoso, clames, não da ponta dos teus lábios mas do fundo das tuas entranhas: «Não te lembres dos meus erros juvenis e da minha ignorância, mas lembra-te de mim segundo a tua misericórdia e por causa da tua bondade, Senhor.»
                                    
«O que deverás pedir ao teu Deus, o Espírito que intercede por nós, a necessidade de cada momento, a leitura sagrada te sugerirá, e eu peço sem descanso que a tenhas sempre à mão, esquecendo as fábulas e as invenções dos poetas. Não podes fazer nada de mais agradável a Deus nem de mais útil a ti que folheares incessantemente os Textos Sacros, dia e noite. Eles contém com efeito uma força celeste, viva e eficaz, que transfigura com uma potência espantosa a alma de quem os lê, se ela os aborda pelo menos com pureza e humildade, no amor divino.» 
 Realcemos nestes conselhos do genial Pico della Mirandola a necessidade de estarmos mais em amor e de sermos mais caridosos, e de conseguirmos pedir em interioridade e afecto, com humildade e aspiração, ao Pai, que nos conceda as suas bênçãos, as suas correntes de luz e de amor, que nos tornem mais despertos, virtuosos e religados a Ele. E contarmos com os livros sagrados que mais nos tocam, ou dos autores que mais gostamos, para neles nos fortificarmos e inspirarmos...
Da entrada no mundo espiritual e na luz Divina. Pintura, como a anterior e a próxima, de Bô Yin Râ
Meditemos para finalizar o seu ensinamento belo e valioso, parafraseado agora por mim: «Faz a tua oração, no segredo, no recolhimento da tua mente rumo às profundezas da tua alma, onde, falando silenciosamente à Divindade pelo afecto ou amor sentido e intensificado e pela firme concentração e contemplação, aproximas-te do espírito que és e da Fonte Divina donde provéns, e sentes no Amor que te estás mais a despertar e a religar luminosamente ao espírito e à Divindade

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