sábado, 15 de outubro de 2016

Escrita criativa, de auto-conhecimento, iniciática, e a sua supra-temporalidade ou perenidade iluminativa...

      Escrita criativa, Escrita iniciática e Literatura Perene.

A possibilidade da escrita ser ou tornar-se um exercício psico-espiritual que leve a mente e o ser de quem escreve a estados mais conhecedores, ampliados ou melhores de auto-consciência ou hetero-consciência tem sido alcançada e praticada por muitas pessoas ao longo dos séculos, ainda que não seja fácil por vezes ao leitor discernir posteriormente o que foi mera criação  mental literária sem grandes efeitos interiores e o que foi experiência e visão, ou seja, uma vivência real que ultrapassou o plano da personalidade discursiva para níveis mais subtis ou profundos.
Uma das potencialidades mais valiosas na escrita é a de entrarmos em contacto com o vasto campo unificado de consciências numa elevação qualitativa pela qual  intuímos, recebemos e compreendemos novos aspectos da tessitura do Cosmos e do Ser, e em especial os que estão afins das nossas tarefas e investigações e porventura serão úteis à evolução e melhoria nossa e do ser humano em geral.
Estes aspectos subtis que desejaríamos compreender e ver melhor, dos níveis subtis do ser humano e do Universo, do Microcosmos e do Macrocosmos, ou seja, das energias, partículas ou ondas que  interagem com o  corpo consciencial psico-espiritual e o conectam melhor ou pior com a Humanidade, o Universo, o Sol e a Lua, os espíritos e os Anjos, e a Divindade.
Poderemos então dizer que a escrita verdadeiramente criativa é a que gera ligações entre o papel, as palavras, as ideias e o mundo subtil  nos seus diversos níveis, e que poderemos especificar ou designar, para além de campo unificado de energia consciência informação,  como o inconsciente colectivo, o supraconsciente, o mundo imaginal, o mundo dos arquétipos, a inteligência cósmica, o espírito em nós, os espíritos, a Divindade.
A escrita é então criativa ao abrir canais e rasgar caminhos novos que permitem a desvendação de arcanos ou mistérios, de arquétipos e de símbolos das ideias e seres do universo não visíveis materialmente, ou dos quais há dúvidas quanto à realidade ou constituição.
A escrita criativa será a que consegue sair do conhecido, ultrapassar a barreira do consciencializado ou deduzível e intuir ou pressentir as respostas correctas às questões com que se inicia o acto de escrita e as que vão vindo ao de cima no decorrer dele. 
A nossa visão dos mundos psíquicos que nos envolvem ou, se quisermos, da atmosfera mental em que pensamos e temos o nosso ser escapa-nos ainda demasiado.
Não temos ideias dos múltiplos fios e canais de ideias e sentimentos, de apelos e de comunicações que atravessam os céus ou ares e unem as almas. Nem do que bloqueia, atravanca, dispersa ou enfraquece tal dicernimento, ainda que saibamos que em geral a exposição à comunicação social, televisiva, radiofónica ou internética seja do pior...
Uma pena, pois por vezes haveria muitos trabalhos luminosos que se poderiam realizar mas que, devido à nossa inconsciência das melhores afinidades, nos escapam, e depois porque há esse ruído de fundo e vendaval de imagens e emoções grande, e muitas pessoas, que pouco têm verdadeiramente a ver com o trabalho de melhorar a humanidade,  cruzam-se connosco, dialogam ou ligam-nos e fazem-nos perder tempo, se não é que nos distraem ou enfraquecem.
Escrita criativa e meditativa. 25-VII-2017
Temos então que não nos deixar levar ou influenciar demasiado pelo ambiente psíquico nacional, europeu e do sistema capitalista, com todas informações que os meios de comunicação e as redes passam manipuladora e constantemente, desde as catastróficas e bélicas às astrológicas e da chamada nova era.  
Temos de chegar por nós próprios, e abrirmos os canais interiores às fontes interiores e também universais, ainda que com a nossa especificidade única e suas linhas de irradiação ou serviço.
A escrita criativa tem de ter algo de heróico, nascendo de recusarmos as medianias e os seguidismos e de afirmarmos a nossa própria individualidade espiritual, única e irrepetível na História da Humanidade, e portanto ela deve constantemente equacionar a nossa essência e activar as suas melhores capacidades, o que se faz em simultaneidade diária com uma prática de meditação interiorizante.
A escrita criativa é então uma ponte entre o individual e  o universal, entre o ser em demanda e o Graal adivinhado ou pressentido, um percurso no caminho iniciático da vida, o de unificar forças corporais, sentimentais e psíquicas mais intensamente nesse momento da escrita, em uníssono com o Todo acessível, galvanizando a sensibilidade, a inteligência e a consciência. 
Tal pode ser ajudado até com certas técnicas ou metodologias, meditativas, contemplativas, sonoras, gestuais, de modo a se intensificar a interiorização e entrar-se em ressonância e acolher-se o que chegar dos níveis interiores ou superiores ressoantes.
Certamente que é sempre uma questão difícil de se clarificar de onde brotam as palavras que vamos escrevendo, se da boca, do coração, da memória, das associações de ideias, do Cosmos, ou se antes da primordialidade e intencionalidade pré-escrita, ou das alturas equilibradas do Logos ou Inteligência amorosa que nos permeia, e talvez mesmo vinda uma parte das profundezas do inconsciente obscuro, onde o nosso ser de luz no acto da escrita, remexendo e agitando a lava incandescente  em sua pena ou digitalização, lança no papel, ou nos écrans receptivos, as palavras ora sábias ora ardentes que dinamizarão e iluminarão  quem as ler com sintonia. Fica em aberto a questão da diferença entre a escrita manual e no computador, algo que só cada um poderá sentir e responder, por vezes privilegiando-se acertadamente a manual.
A escrita criativa tem pois sempre algo de uma ascese, de uma saída da rotina ou da superficialidade e uma descida ou subida dentro da alma, independentizando-a do exterior, alma que vai nesses momentos de pesquisa criativa auto-conhecer-se, fundamentar-se, fortificar-se, coerentizar-se e assim gerar nexos íntimos entre a palavra escrita e as forças conjuradas do escritor órfico, que o posterior leitor mais sensível  eventualmente pressentirá ou receberá como forças, aspirações e realizações as quais, num dado momento luziram dentro de um ser e foram perenizadas na escrita até ao seu coração de leitor chegarem e o alegrarem, alertarem ou iluminarem, numa visão ou comunhão transcendente das barreiras do espaço e do tempo.
São esses laços subtis que, trabalhados e aprofundados durante algum tempo,  tanto fecham a obra com a sensação que finis coronat opus, ou seja, as energias chegaram ou coroaram o cimo do ser e sobretudo da cabeça, como dão a possibilidade do autor continuar a aprofundar a metodologia e as intuições ou resultados obtidos e assim com mais regularidade escapar aos condicionamentos superficializantes e distractivos do quotidiano, comungando mais do conhecimento e criatividade dos níveis psicoespirituais ou mesmo levemente divinos, partilhando-os depois com os seus pares ou dialogantes, vivos ou mortos.
A escrita é então o exercício ou a resposta a uma vocação, a um apelo, a uma demanda, de conhecimento, de verdade, de descoberta, de autenticidade, a inserção numa continuidade duma Tradição Cultural e Espiritual tanto nacional como universal. Perene, pois por ela retornamos a nós próprios e, centrados mais no coração ardente, poderemos então sintonizar mais com tal continuidade e comungar com os seres e arcanos subtis do conhecimento e da vivência do espírito e do divino, no nosso corpo e alma na Terra.
Cada acto de escrita é uma irradiação no nosso corpo espiritual, por vezes com mais esforço e sangue outras inspiradamente, gerando-se novas linhas  no Grande Livro dos Livros da Vida, esse onde estamos todos inseridos e sempre com uma página em branco, à nossa frente e dentro de nós, e que nos vai encaminhando para a religação e contemplação silenciosa e maravilhosa espiritual e divina.

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