sexta-feira, 29 de julho de 2016

Antero de Quental e o soneto "Na mão de Deus", com que conclui os "Sonetos completos", 1886.

                                                            «Na mão de Deus
                         (À Exm.ª Sr.ª D. Vitória de O[liveira] M[artins].)

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lobrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!»

A escolha  de se finalizar a edição dos Sonetos Completos, de Antero de Quental,  com um soneto que não é dos finais, mas sim escrito antes em 1882, deve ter tido um intuito moralizador ou mesmo catolicizante, fazendo mais explicitamente terminar a bem, ou na entrega a Deus, o atribulado percurso filosófico, poético, religioso e anímico de Antero de Quental, muito espelhado e transmitido neste livro, ordenado cronologicamente de 1860 a 1884. Pode ter sido uma decisão de Antero, ou talvez conjunta com Oliveira Martins já que este foi o co-organizador
e prefaciador.
Neste poema, profundo e complexo, certamente algo auto-biográfico,
vemos o autor renunciar aos movimentos anímicos antigos, considerados agora como infantis, ilusórios, passionais e a entregar-se definitivamente a Deus, através do coração, símbolo da sua afectividade e alma, a quem ele "ordena" ou sugere que vá dormir na mão direita, a benéfica ou misericordiosa de Deus, numa simbologia tradicional de muitos povos, nomeadamente os gregos e romanos, e numa visão humana ou antropomórfica da Divindade, mas que Antero de Quental logo que redigiu o soneto explicou em cartas para os amigos que, por serem menos religiosos poderiam ficar mais surpreendidos, que a palavra Deus  era apenas "um símbolo de uma coisa". Veremos porém ser amenizada esta coisificação do Ser Divino ou da Fonte Primordial numa segunda carta, em que aponta mesmo as razões da sua génese, e
até numa auto-crítica salutar.
Por exemplo, a primeira, algo coisificante, é enviada a Alberto Sampaio,
provavelmente em Maio de 1882:«Fiz, depois que aqui estiveste, mais um Soneto, que aqui vai. Não te assuste a palavra Deus. É um símbolo e ainda o melhor para exprimir uma certa coisa, que doutro modo não caberia em verso. Pura liberdade poética». Na segunda, dirigida a João de Deus, em 20 Julho de 1882, escreve: «E agora aí vai um Soneto. Será talvez o primeiro de que gostes por mais de alguma coisa do que só pela forma. O meu pessimismo tem-se desvanecido com esta vida contemplativa no meio da natureza. Reconheci que andar por toda a parte proclamar, com voz lúgubre, que o mundo é vão, era ainda uma última vaidade...»

                                                     João de Deus, de S.Bartolomeu de Messines ao Panteão Nacional - RTP Ensina

Sabemos que João de Deus apreciou bastante o soneto e o queria divulgar, pois em Novembro de 1882, Antero de Quental responde-lhe em carta, dando-lhe conselhos acerca do local onde deveria começar a sua cruzada pelos novos métodos de leitura e ensino, Vila Real, e diz-lhe: «O soneto em questão não se pode publicar porque o ofereci a uma Senhora da minha  amizade [D. Vitória de Oliveira Martins], mas tão modesta e recolhida que tenho a certeza levaria a mal que eu imprimisse o nome, e por outro lado, não o quero publicar sem aquele oferecimento, de sorte que ficará indefinidamente inédito».
Todavia, já em 1883, em 17 de Junho, envia o Na Mão de Deus a mais
um amigo próximo, Joaquim de Araújo, dando outra justificação do secretismo: «Adiante transcrevo o Soneto que ofereci à D. Vitória. Em tendo vagar lhe mandarei mais algum. Nem este nem os outros são para mostrar a indiscretos. A razão deste mistério não é um capricho de misantropo; é que eu tenho projectado publicar mais tarde, quando de todo se me tiver esgotado a veia do Soneto, que já declina sensivelmente, a colecção dos meus Sonetos Completos. Como quero que o livreco leve alguma coisa inédita, resolvi não publicar nem deixar 
publicar quanto tenho feito nestes últimos tempos».
Apesar do seu carácter crente e de paz, no soneto há ideias-imagens
algo passivas e derrotistas. Por exemplo, a recomendação para a alma adormecer e dormir não pareceria muito de Antero de Quental, um ser com uma aspiração muito forte da Verdade, embora com um dinamismo sujeito a alternâncias. Contudo, o desgaste do sistema nervoso, o cansaço da busca metafísica, a desilusão sentimental e social e até uma certa abertura maior a uma crença num Ser Eterno poderiam causar-lhe a vontade de se entregar ao adormecimento ou descanso na mão divina, ou seja, na paz de Deus. E será que algo deste soneto lhe passou pela alma, na hora  insatisfeita, ou então plenamente desprendida, em que se suicidará anos mais tarde, em 1891, na sua ilha natal de S. Miguel?

                                                     

Talvez possamos compreender melhor o soneto se virmos Antero a pensar e a dizer: «eu não tenho mais um coração iludido, mas sim como ser espiritual que sou, liberto dos palácios da ilusão digo ao coração,  algo criança ingénua e fatigada da caminhada: - dorme em Deus, descansa.»
E certamente poderemos ainda conjecturar, que poderia ser apenas por algum tempo, a fim de se recompor, e não numa ideia de descanso eterno a que este poema pode remeter, pela associação com a terminologia da visão católica da morte e do além, e tão frequentemente usada nas orações ou missas pelos que morrem: "Descansai em paz, adormecei no Senhor", quando o que se deveria recomendar é: - "despertem, avancem para o mundo espiritual e para Deus".
Realcemos no começo, a expressão de passado empregue: "descansou". Se no fim do soneto está mais um presente imperativo, pois
é dito ao coração: "dorme", no princípio há um passado, que nos abre para a ideia da vivência árdua da vida trilhada interiormente por Antero de Quental, e nesse sentido emprega até uma imagem muito real e tradicional: "Desci passo a passo a escada estreita",   vivência que o obrigou a descer das grandes esperanças ou ilusões, das quais nomeia o Ideal e a Paixão, que sintetizam de certo modo as suas capacidades intelectuais e afectivas, para o humilde entregar-se a Deus...

                                                           

Se a palavra "Ideal" está perfeitamente de acordo com a filosofia e o ambiente cultural e revolucionário da época, e nela estão implicitamente a ressoar muitos escritores e filósofos com os quais dialogou nas suas leituras e nas conversas com os amigos (embora só se tenha encontrado pessoalmente, anónima e humildemente, com Jules Michelet, em Paris), já a "Paixão" é menos esperada.
Poderíamos pensar na palavra e conceito, sentimento e realidade do "Amor", mas Antero de Quental preferiu por certas razões escolher a "Paixão" e não vamos pensar que as escolhas foram apenas por questões de rimas, ainda que possam em certos 
casos terem sido os sinónimos encontrados mais próximos.
Se fosse o Amor intenso, talvez absolutizante, divinizante, tal como o de
Dante por Beatriz (humana e simbólica), então Antero de Quental se inseriria plenamente nos Fiéis do Amor. Mas das paixões, sobretudo amorosas, de Antero ficaram conhecidas, dada a sua reserva ou pudor amoroso, apenas zonas esbatidas, íntimas, quase angélicas, juvenis: a Beatriz, uma senhora de Coimbra, e a Pepa, a Mariana Porto Carrero embora por fim, já com mais idade, vemos a baronesa Clotilde, divorciada, que estava em hidroterapias como ele nas termas de Bellevue nos arredores de Paris, e que é a sua última paixão conhecida e da qual provavelmente se gerou magnífico soneto Mors-Amor, encontro passional que Oliveira Martins, exageradamente, diz ter feito não só sofrer muito Antero como quase o levado ao suicídio. 

Neste soneto, que conclui portanto a obra prima do poeta-filósofo, os Sonetos Completos, quem sabe se por escolha do seu grande amigo Oliveira Martins e a que Antero aquiescera, e seria bem interessante sabermos melhor do diálogo parturiense que terão travado, deparamo-nos com as duas colunas do Palácio da Ilusão, palavra que na tradição indiana é denominada Maya, e que é tanto o que se pode medir e quantificar e constitui o mundo, como o poder dinâmico da criação de formas e da manifestação da Divindade,  cultuada como a Shakti, a Deusa e energia cósmica (por contraposição ao deus Shiva, o espírito-consciência), e que se manifesta em nós com a energia ou dinamismo interno presente na coluna vertebral subtil dos plexos nervosos e da medula espinal, e que circula ainda segundo os yogis por dois canais de polaridades complementares que que se vão cruzando ao longo da coluna.
Este "palácio encantado da Ilusão", ou como Antero lhe chama noutro soneto o Palácio da Ventura, isto é, o local dos bens que hão de vir, também poderia ser chamado, no seu nível mais elevado,  como o Templo da Divindade, com as suas duas colunas e canais, a do Ideal do intelecto, razão, mente e a da Paixão e Amor do coração, ou seja, o masculino e feminino que temos de equilibrar ou complementar dentro e fora de nós para se realizar o milagre ou a obra alquímica da harmonia dos opostos, ou seja, vencerem-se ou controlarem-se os instintos, conflitos e frustrações e assim irmos unificando-nos psiquicamente, ou individuando-nos na linguagem psicológica que Carl Gustav Jung desenvolveu.
Antero sente e reconhece corporal e animicamente que se distanciou dos grandes sonhos juvenis revolucionários filosóficos bem como dos movimentos passionais afectivos, e que deve libertar-se do que são ainda conceptualizações e formas transitórias. E aspirando ou almejando ao Divino, ao Absoluto, ao Eterno e Perfeito, acaba por se entregar por fim, num abandono de confiança, na imagem da fé de uma criança que vai agasalhada ao colo da cansada ou já trôpega mãe  na jornada tão  complexa, e por vezes tão agreste ou sofrida, como foi a dele, da vida individual na  terra e no vasto e misterioso cosmos visível e invisível.
É numa posição de humildade, de ser abaixado como o húmus da terra, que Antero de Quental se confessa perante o mistério do Universo, entregando o seu coração nas mãos da Divindade para que Nela repouse.
Diria que a minha discordância ou reticências quanto às palavras e estados psíquicos que se evolam deste soneto, como já assinalei de certo modo, está no "dormir" e sobretudo no final "eternamente", que sabe um pouco a campa romântica do séc. XIX mas que pode ser redimida ou redimensionada se consideramos que o dormir tem a sua utilização figurada ou simbólica no sentido de se estar em íntima e confiante paz, repouso e entrega, algo que ele certamente necessitava e que desejaremos tanto para Antero como para todos nós, e não só para depois da morte mas no aqui e agora, de ser a Hora, esta a de nos podermos ligar, em silêncio e em paz, mais forte e confiantemente à Divindade, ao Bem, ao Amor, à Sabedoria, qualidades divinas aliás pelas quais A merecemos, e com Ela nos podemos ligar dinamicamente, ou seja, manifestando-A dentro dos nos nossos limites na escola, na casa, com os amigos, no trabalho, na aventura e na ventura...
Ou seja, podemos discernir neste soneto a elevada mensagem que o nosso coração se ligue, entregue ou abra a Deus e que as suas agitações, ilusões e atracções pelas formas transitórias e imperfeitas materiais, estejam como suspensas, adormecidas ou ultrapassadas e que nele vibre sobretudo a Luz e o Amor do Espírito e da Divindade, mistério dos mistérios, entrega plena que as crianças por vezes vivenciam com as mães gerando-se no aperto de mãos confiantes e nos corpos e almas juntos um circuito de energias vivas de amor que apoiam e  impulsionam fortificantemente no Caminho a percorrer.
Estaremos mais na mão de Deus, ou de mão dada com Ele, ou seja com a sua presença ou bênção mais em nós, quando vivemos justa, abnegada, bem, bela, corajosa e verdadeiramente.  E quando confiamos na Providência divina e nos seus mensageiros e guias para avançarmos na peregrinação da Vida, num desenvolvimento crescente das nossas capacidades, num melhor ligação íntima com a tão subtil Divindade, inserindo-nos assim melhor  no plano ou missão que nos compete no Cosmos e neste mundo e sociedade.
Entregar o coração na mão luminosa ou dourada da Divindade é o mesmo que entregar a estrela do nosso espírito na Divindade, é crer Nela e querer unir-nos a Ela, com todo, ou de todo, o corpo, alma e espírito, dos quais o coração é como o vaso ou graal. Neste sentido o soneto é de um simbolismo universal e perene.

                                                      
Que na Humanidade, no nosso íntimo e no de Antero de Quental o fogo do Amor e a Divindade ardam e brilhem mais... Demos graças.... Aum...

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Antero de Quental e a Amada, num jardim de Lisboa.

         Antero de Quental, imortal poeta-filósofo ou talvez mesmo filosófico-espiritual, foi também imortalizado em alguns jardins lisboetas, tais como o da Estrela e o das Amoreiras. 
Se no primeiro jardim houve cerimónias públicas muito concorridas e das quais há registos (por mais de uma vez, pois houve uma estátua antes da actual), numa discursando até o grande pensador português Leonardo Coimbra (que aliás consagrou ao pensamento filosófico de Antero um livrinho da aprazível e mimosa colecção Lilás, portuense, dos anos 20), no segundo jardim, o das Amoreiras, provavelmente nada ficou registado nos jornais; porém chega-nos o poema bem diáfano, que se dá muito bem com as árvores floridas ao sol ou com as folhas caídas aos ventos outonais, ou eventualmente com um par de namorados...
Talvez seja então oportuno comentarmos os dois tercetos ou seis versos, algo que os poemas (e os poetas...) lidos em geral à pressa agradecem, tanto mais que a vida amorosa ou mais sentimental do poeta, e que pode ser sempre interpretada na linha dos Fiéis do Amor, amantes da Nossa Dona Santa Sophia e Alma Gémea, fica-nos sempre algo fugidia, íntima, como que na sombra ou ideal:
1º verso: «Quantas vezes, de súbito, emudeces!»
Antero introduz-nos numa relação já prolongada ou duradoura, que é entrecortada por momentos repentinos de silêncio, de rapto, de emudecimento, provavelmente provenientes da alma sentir fortemente o amor ou então sentir algo de forte, misterioso, impressionante. A escolha do emudecer pode não ter sido por mera rima e remete para um ambiente misterioso, talvez com leve apreensão.
2º:«Não sei que luz em teu olhar flutua.»
Antero introduz-nos na dimensão luminosa do olhar, pois cada olhar irradia uma certa luz conforme o estado anímico e mental da pessoa. Não nos diz que a luz sai dos olhos, ao modo dos raios, os quais outrora se consideravam tanto bênçãos como maus olhados, mas mais modesta e candidamente confessa a sua dúvida quanto à linguagem ou mensagem que os olhos exprimem nesses momentos: Como se pensasse: «Além das várias luzes em que eu consigo ver ou adivinhar o seu sentido, pensamento ou intencionalidade, outras há que me escapam, tal como a que flutua no teu olhar, e que nos faz ondular ou pairar nela».
Há aqui uma atmosfera de subtil levitação por uma intuição misteriosa, muda, indefinível, indizível, mística. Poderemos pensar ou pressentir que é a Luz do Amor, a Luz do Espírito, já que realmente ela toma conta dos olhos bem intensa e beatificamente por vezes... 
3º verso:«Sinto-te tremer a mão e empalideces.»
Talvez na linha de Edgar Allan Poe, Antero parece afunilar o estado psíquico dos dois, ainda em suspense, para uma entrada maior do inconsciente em acção, involuntariamente, ao registar a tremura corporal e o embranquecer da face da amada.
Certamente que este tremer da mão tanto pode ser um frémito de desejo, como uma maior corrente vibratória passando pelas mãos dos dois, algo que ainda não se nos tinha desvendado neste momento de maior intimidade e unidade entre os dois amantes ou namorados, embora a Luz misteriosa o possa anunciar. Mas também pode ser de receio, já que a ele se junta o fenómeno do empalidecer e não tanto o amoroso ruborescer, embora a brancura pela sacralidade do sentimento vivido ou de um certo pudor poder acontecer.
Ora num poeta que sondou tanto a Morte, que a considerou tantas vezes a sua amiga libertadora, estas linhas podem levar-nos a pensar que o poeta pressentia a figura da Morte, que tantas vezes imaginou e poetisou, como que sobre o par, sobre a amada, influenciando até esta, como que querendo roubar Antero à simples relação humana ou mesmo à Amada ideal, pois estaria mais reservado para o Divino, as Ideias e Ideais, ou até no seu caso particular, para a Morte ,libertadora mas do Amor terreno ceifadora.
Este estremecer e empalidecer é certamente o momento determinante do 1º terceto e acto do poema: um sentimento ou intuição subtil, misterioso, insondável somatiza-se, causa um estremecimento, em si mesmo ambivalente (tanto mais que é até desejado o tremor, como sinal de sensibilidade amorosa em alguns contos tradicionais), e um fragilizante ou mesmo dramático empalidecer. Como será que Antero vai avançar, que linhas subtis moverão a sua pena (e assim era na altura...) de escritor, de inspirado, de filósofo, de vate?
4º verso: «O vento e o mar murmuram orações».
Subitamente Antero cosmiciza o ambiente e a relação e embora subtilmente, pois apenas murmuram, o vento e o mar tornam-se presentes e fazem com que pensemos ou imaginemos como e onde estarão Antero e a Amada. Muito provavelemente junto ao mar. A andar, sentados, de pé, parados, contemplando as longuras e horizontes, ou mesmo recostados a algum penedo das costas de Vila do Conde?
Impossível sabermos mas o que se torna evidente é a qualidade profunda e amorosa que sentem intensificada por essa subtil capacidade tão querida de Antero e que é a Voz da Consciência, cuja audição ele tanto praticava e recomendava aos seus amigos.
Aqui ela surge na sua contraparte da Voz do Silêncio da Natureza, que murmura no vento e no mar. Terá o açoriano Antero do Quental em jovem alguma vez pegado numa concha e tentado ouvir, nas reverberações tão geometricamente perfeitas do enrolamento em espiral, segundo o número de ouro e a progressão de Fibonaci, o som do Mar? E que orações se lhe afeiçoaram nas hélices da sua alma e nos tímpanos da sua memória que agora, de mão dada com a amada, ao de cima vieram? Que campo psico-morfico poderoso criavam os dois que trazia até si ou dialogava mesmo com as falas secretas dos elementos da Natureza?
Que orações, que vozes, que clamores, intuía Antero, com a amada, ou graças a ela ou impulsionando tal nela, no vento e no mar?
Sentiriam a felicidade do amor, diriam baixinho que o amor deles seria feliz, ou apenas exprimiam o drama do amor e da separação, vozes impessoais mas fecundantes das grandes correntes cósmicas que atravessam o planeta e a Humanidade? Ou ainda seriam ou brotavam louvores gratos dos espíritos da Natureza nos cinco elementos presentes e intensificados pelo Amor de Antero e da sua misteriosa companheira?
Que orações seriam essas, perguntaremos nós,  Antero? Que orações acompanhavam o seu empalidecer, Amada? 
Seriam apenas sons de vogais, realçadas com o h da aspiração ou prolongadas com a nasalização? 
Seriam mantras orientais que a uma ocidental pátria lusitana chegavam, como que vindos do longínquo Ganges e do Oceano Índico onde, como cantara o outro grande vate nacional Luís de Camões, os Portugueses teriam ido «abrindo o mar profundo, em busca da grã-corrente»? 
Ou seria a fala amorosa das brisas perfumadas, tão cantadas na literatura Persa, e que Antero conhecera, e em especial pelos poetas místicos Rumi, Hafiz, Saadi, Attar?
A este fundo cosmicizante, Antero acrescenta no verso seguinte a humildade da terra, o conúbio do céu e da terra, e a capacidade de eles dois estarem abertos às imagens e mensagens das coisas e seres, como nos diz a palavra poesia, poesis em grego, que significa ver, contemplar, ou a palavra sânscrita rishi, poeta vidente:
5º verso: «E a poesia das coisas se insinua»
Poesia que é assim voz, palavra, verbo, pensamento, essência e que as almas mais sensíveis ou mais em amor conseguem receber, acolher, sentir.
Estamos numa teofania amorosa, em que a própria voz do universo, das infinitas coisas nascidas e criadas vem participar na comunhão de duas almas que se tornam um cálice para a Unidade.
Antero então dá o mote final, como que a tenção deste belo poema emblemático:
6º: «Lenta e amorosa nas nossas almas.»
Orfeu, os vates da Grécia e os rishis da Índia antiga, tão panteístas, estão presentes, pois é uma combinação da luz flutuante, do vento e do mar murmurantes e das coisas falantes que, banhadas no Amor Divino, lenta e amorosamente vão penetrando na alma, no par, numa Unidade.
Poderíamos pensar até que é o vento do espírito e o mar da alma que fecundam as coisas, seja do reino mineral seja da arte e indústria humana, que são essas cintilações da luz unificadora dos campos das palavras e ideias arquétipas que estão por dentro e por detrás de tudo que, vibrando mais pela convergência de dois seres no nome de Deus ou Amor e que o tornam presente, fazem manifestar ou desvendam a Omnipresença do Logos ou Sabedoria-Amor divinos.
Antero e a Amada, neste momento único, icchi go icchi e, como diz a Tradição Espiritual Japonesa, provavelmente fundiram-se num abraço ou num beijo, ou no que seja, cósmica e amorosamente, divinamente.
Restará dizer, para assentarmos os corpo e almas que este poema de Antero do Quental está inscrito num banco de pedra, que não o de madeira da Mors, da ilha de S. Miguel, vencendo o Amor da vida, e onde por vezes provavelmente alguns namorados (anterianos ou não...) querendo sentir e acolher mais a graça do inflúvio da Alma do Mundo e do Amor, que não ainda da Morte, se sentam, dialogam, meditam e depois de mãos dados, em abraço ou beijo, lenta e amorosamente comungam com o Amor Divino, de tais actos se evolando belas energias e imagens para Antero, para quem ele mais amou e para a Alma e Amor de Portugal e do Mundo...
Sentemos, assentemos, amemos, na Poesis...

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Raul Proença e Antero de Quental e Fernando Pessoa a Liberdade e a Verdade...

             Raul Proença,  Antero de Quental e Fernando Pessoa: a espada da verdade e da liberdade.
                                                    
                          
               «Se esta espada que empunho é coruscante, É porque ela é a espada da verdade».
Quem se assumiu claramente como amigo de Antero do Quental, valorizando a sua obra e pensamento, foi um pensador e doutrinador político, um dos fundadores (com Jaime Cortesão e Luís da Câmara Reys) em 1921 do movimento cívico e democrático da revista Seara Nova, Raul Proença (Caldas da Rainha, 1884-1941), que dirigiu ainda a Biblioteca Nacional, e escreveu e coordenou o pioneiro Guia de Portugal, em 16 volumes, na parte final já por Sant' Anna Dionísio, que ainda conheci bem.
                            
                             Os fundadores e colaboradores da Seara Nova. A partir da esquerda, em pé:                                Teixeira de Vasconcelos, Raul Proença e Câmara Reys; sentados: Jaime Cortesão,                                Aquilino Ribeiro e Raul Brandão. 
Dos mais esclarecidos pensadores republicanos, Raul Proença escreve talvez a primeira e mais ardente defesa da Liberdade que, face ao golpe militar de 1926, se encontrava ameaçada, situação que viria a durar de um modo ou doutro até 1974. 
A capa ilustrada da obra Panfletos I A Ditadura Militar que apresentamos está subordinada ou inspirada (por vezes dois sinónimos...), a uma frase transcrita de Antero: 
"Se esta espada que empunho é coruscante,
É porque ela é a espada da verdade».
Corajosamente escrita no calor do rescaldo da revolução do 28 de Maio de 1926, ela denuncia o que se está a passar e desfere ataques muito clarividentes à ditadura militar instaurada, considerando-a um crime ("um verdadeiro acto de alta traição") e denunciando a caterva de corruptos que abancava já mediocremente com o general Carmona, asperamente acusado e fustigado com os ministros Sinel de Cordes, João de Almeida, João Belo, Manuel Rodrigues Júnior, Felisberto Alves Pedrosa, Jaime Afreixo, Ribeiro Castanho, Bettencourt Rodrigues, Ricardo Jorge, Abílio Valdez de Paços e Sousa e, fora destes, Cunha Leal.
A obra é ainda hoje actual, com todo o seu sabor panfletário, tanto porque os grupos de pressão financeiros nacionais ou internacionais continuam a influenciar senão mesmo a corromper os políticos e seus partidos em Portugal como pelo facto de Raul Proença escrever numa linguagem poderosa, ousada, ardente na demanda de liberdade e de verdade. Não admira que edição de autor, feita sem a aprovação da recém-nascida Censura, tenha sido rapidamente proscrita e Raul Proença perseguido.
Instaurada a censura, sente ao escrever este panfleto que será certamente o último e, após ter elogiado o estilo panfletário, exara este comentário a tal medida: «Dir-se ia antes um acto praticado com longínqua e consciente premeditação, pelo ministro da Injustiça e dos Incultos. Nos tratados de história literário do futuro vai dizer-se: " O Panfleto durou até o ano de 1926, em que o extinguiu o ministro da Justiça Manuel Rodrigues Júnior, indivíduo profundamente bacharel que de Coimbra tinha trazido o ódio a toda a frescura da vida e a toda a afirmação duma personalidade vigorosa...»
Passando em revisão os outros ministérios anota quanto ao de Educação, onde assistimos ainda neste século XXI a algumas ministras e ministros que foram destruindo as condições necessárias ao harmonioso magistério dos professores e a uma boa qualidade do ensino público «que o ministro da Instrução fez uma reforma inverosímil de tacanhez, de preconceitos intelectuais, de teorismos esquemáticos, de fumisteries livrescas, como uma pessoa que nunca teve o menor contacto com as realidades e cujo cérebro vive de ecos, sombras, reflexos, fogos fátuos, incapaz de aprender alguma coisa nitidamente e com largueza. António Sérgio, com razão, chamou-lhe um bárbaro retrocesso.»
Passando a Sinel Cordes, escreve desassombradamente Raul Proença: «O ministro das Finanças, tantas vezes citado anteriormente como o homem mais inteligente de todo o Exército, não revelou ainda em matéria financeira uma orientação precisa. Vagueia, flutua como uma bóia no encapelar das ondas...
Mais à frente, e de novo criticando o que ainda hoje se tem feito tantas vezes diz: «Sob o ponto de vista dos contratos e dos auxílios financeiros, pode-se dizer que a acção do Governo tem consistido em uma política de ruína do Estado em benefício exclusivo das empresas particulares, e como que numa criminosa transferência de fundos. À Companhia Nacional de Navegação, por exemplo, venderam-se os navios alemães [não foram submarinos...], como se poderiam ter vendido a mim ou ao leitor; é certo que é a Companhia quem paga, mas é o Estado quem adianta o dinheiro»...
A lição de mestre que Raul Proença nos oferece neste panfleto é para durar sempre: «Mas há quem pense que não vale a pena combater este governo, por isso que ainda vivemos em República [hoje dir-se-ia Democracia...). Que ironia! República! Que ironia, ou que imbecilidade!
Os que assim pensam ou julgam pensar têm mais amor às palavras do que aos factos, às cores da bandeira dum regime que à sua própria essência (...) 
Mas a República não é uma palavra. É um ideia, um conjunto de princípios, de aspirações e de realidades. Por uma palavra, pelas cores de uma bandeira, não valeria a pena combater e morrer. Só vale a pena combater e morrer por bens morais iniludíveis. Ora a República sem a liberdade é a casca seca sem o fruto suculento, a palavra sem o facto - e no fundo uma mentira (...)
A república do sr. Castanho, do sr. Carmona, do sr. Rodrigues, do sr. Sínel, do sr. Afreixo é infinitamente menos republicana que a monarquia do sr. D. Manuel. É-o na essência das coisas, que importa mais que as palavras...»
Diagnosticando os males essenciais dos portugueses, Raul Proença, assinala alguns que permanecem estruturais ou caracterológicos, tais como «a incapacidade de todo o esforço seguido, de exercermos a atenção por muitas horas, de fazermos qualquer coisa com continuidade (...), o culto passivo do passado, tão inteiramente estéril, que nas nossas datas gloriosas buscamos apenas o pretexto dum feriado, e não achamos maneira de comemorar o trabalho alheio senão com a ociosidade própria (...), com a falta de energia e de resistência física, a incapacidade de protesto, que é uma das maiores calamidades e das mais anti-sociais, da nossa psicologia colectiva. Suportamos todos os abusos, todos os vexames, todas as violências, todas as extorsões com uma paciência, que não é a da resignação evangélica, mas a do burro lazarento a quem não importa já a morte, contanto que o não forcem a mexer-se e que não o macem. Este povo perdeu a energia, a responsabilidade, a decisão, o civismo do Coice. Não vale escoicear: é uma maçada, deixem-nos dormir...»
Será na apreciação literária que referirá mais Antero: «uma literatura caracterizada pela falta de virilidade no pensamento e na expressão, e pela ausência de verdadeira emoção intelectual, quando não às vezes por um perturbante psitacismo. Nos nossos romances não há conflitos nem personagens, nos nossos contos acção ou interesse dramático, nos nossos poemas um frémito sequer dos eternos problemas do Espírito ou a alegoria superior dum Símbolo. O único nome verdadeiramente grande que apontamos no romance é Eça de Queirós; e o único poeta-filósofo de que possamos jactar-nos Antero de Quental. A poesia de Junqueiro, longe de ser uma excepção, é uma confirmação à regra, porque a sua lira, monocórdica sob o ponto de vista conceptual, não encontrou outra fonte de emoção para além do estafado tema da eterna evolução dos seres. Nenhuma outro problema do Universo ou da Consciência preocupou o nosso poeta: comparem com Prudhome, com Vigny, com Antero... Além disso, Junqueiro nunca pensa intelectualmente, se assim nos podemos exprimir, sobrepondo-se nele a visualidade da imagem às verdadeiras leis do pensamento. O pensador que pretende ser é constantemente ludibriado pelo puro artista, pelo fazedor de imagens e de analogias e contrastes inteiramente superficiais, que de facto é; quando ao contrário, no pensador poeta, a Imagem não é a substituição do pensamento, mas o seu intérprete...», o caso de Antero de Quental, diremos ao finalizar...
Ressalve-se ainda que na pág. nº 79 e nas duas últimas linhas Raul Proença assinala corajosamente em letras maiores: «Este panfleto não foi visado pela Comissão de Censura».
        II- Talvez valha ainda acrescentar a transcrição, desta obra de sempre útil leitura, de um dos parágrafos das Perspectivas Futuras onde apelará à revolução interior, depois de pedir «à Revolução que ela me reconheça, e reconheça a todos os Portugueses espiritualmente válidos, o direito de exercer uma influência inteiramente eficaz sobre a nossa própria terra - de espalhar pela vasta seara a nossa semente - de sermos os criadores dum novo estado de espírito e de uma nova alma colectiva. Para isto é-nos absolutamente necessária a liberdade, de que os Rodrigues [Manuel Rodrigues Júnior tola e mussolinicamente chasqueiam nas suas notas oficiosas. É ela, verdadeiramente, a condição sine qua non do nosso ressurgimento ...» 
Raul Proença que «ao contrário dos que pedem o Homem forte na Política, eu peço o Homem forte, os Homens [e Mulheres] fortes na Acção espiritual. Porque o Homem forte na política impõe a sua vontade opressiva; e o Homem forte na acção espiritual convence da sua doutrina libertadora. O político, em boa verdade, - nunca vos disseram isto, mas é assim mesmo, - não deve ser um «criador», mas um «executor». São os intelectuais de «acção», de «acção forte», concebidos segundo o tipo de Mussolini, mas sem os seus erros, as suas loucuras, a sua falta de visão filosófica, a sua criminalidade, o seu ódio à Democracia, que darão a esta a sua expansão formidável, a sua profundidade, o seu desabrochamento apolíneo, a sua força e o seu esplendor. Confio no belo dia de amanhã, tão cheio de promessas - no dia em que nós, os homens [e mulheres] de pensamento, tenhamos mais poder sobre as almas que os homens dos conchavos eleitorais e das tricas financeiras. Será esse o triunfo da Democracia, o triunfo que Mussolini queria impedir, o que ele só tornará mais esplendoroso e mais vivo». 
E entra então na transmissão da sua visão original, na Tradição Espiritual Portuguesa, e bem intensa da revolução de consciência que se exige:
«Mas para isso é necessário fazermos também a nossa própria revolução interior. É preciso pôr a beleza ( a beleza da vida que se oferece, que se multiplica, que fecunda e realiza) não só fora do nosso ser, nas nossas estátuas, nas nossas sinfonias, nos nossos poemas, mas também dentro de nós mesmos. É preciso que concebamos a vida como um dom constante da nossa alma. Darmo-lo até em sangue, até ficar dilacerada e partida, no fundo sempre mais bela e maior. [Valiosa esta visão do crescimento-aperfeiçoamento-embelezamento da alma, pelas mortes sacrificiais e posteriores renascimentos, expandidos consciencialmente..]. Devemos ser excubitores, despertadores e animadores, dar Alegria à nossa terra [Leonardo Coimbra acabara de escrever na mesma linha, com o seu belo livro Da Alegria, do Amor e da Graça], matar o cepticismo, pôr termo a esta apagada e vil tristeza. Todas as revoluções com que nos temos "heroicizado" são feitas no Charco, na vasa do pântano que se agita e que, quanto muito, só liberta miasmas. Há que transformar o Charco, há que criar, antes de mais nada, como no Génesis, o Movimento e a Luz...»
As últimas linhas da obra Panfletos, I - A Ditadura Militar falam de novo da grande Alma Portuguesa ou da Tradição Espiritual Portuguesa e são algo visionárias, pois perante a ameaça da opressão visiona o desfile dos traídos, no qual vêm os que morreram para que a República e a Liberdade desabrochassem « e depois vem o imenso tropel dos Vivos - dos Vivos que verdadeiramente querem viver - vida humana, a vida nobre, a vida do espírito - todos esses fragmentos de Esperança disseminados pelo grande corpo de Portugal, que esperam o momento de se ligar, de se unir, de reconstituir o feixe partido.
Passam - e não sou eu, mas todos eles, que falam pela minha boca, que pedem o castigo deste enorme crime, o eclipse desta funda vergonha, o resgate deste opróbrio, a vitória da sua fé. Passam - e é o próprio futuro de Portugal que passa, com os olhos banhados já na claridade ténue da ante-manhã...»
A este desfile de seres que se sentem traídos se juntará Fernando Pessoa, que depois de em 1928 ter escrito um folheto o Interregno apoiando a Ditadura Militar foi abrindo os olhos do discernimento, e escrevendo desde 1932 um contra-folheto intitulado O Interregno e as suas Consequências (que permanceceu incompleto e na época inédito) e que culminou em 30 de Outubro de 1935, conforme a carta a Adolfo Casais Monteiro com essa data e na qual lhe anuncia a sua inibição «de dar colaboração para a Presença, ou para qualquer outra publicação aqui do país, ou de publicar qualquer livro», visto que «desde o discurso que o Salazar fez em 21 de Fevereiro deste ano, na distribuição de prémios no Secretariado da Propaganda Nacional [à qual Fernando Pessoa apesar de premiado com a Mensagem recusou-se a comparecer], ficámos sabendo, todos nós que escrevemos, que estava substituída a regra restritiva da Censura, «não se pode dizer isto ou aquilo», pela regra soviética do Poder, «tem que se dizer isto ou aquilo». Em palavras mais claras, tudo quanto escrevermos, não só não tem que contrariar os princípios (cuja natureza ignoro) do Estado Novo (cuja definição desconheço), mas tem que ser subordinado às directrizes traçadas pelo orientadores do citado Estado Novo. Isto quer dizer...»
Será dentro deste ambiente que a parte final da Mensagem será escrita e não podermos deixar de pensar que Fernando Pessoa tenha lido o folheto de Raul Proença e glosado as suas linhas finais da claridade do ante-manhã e da esperança nos fratres et sorores em versos da Elegia na Sombra e da Mensagem, da qual transcrevemos o último:
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!
Valete, Fratres.»
Meditemos e actuemos então amorosa e luminosamente em comunhão com a Tradição Espiritual Portuguesa, donde as almas de Antero do Quental, Raul Proença e Fernando Pessoa nos procuram inspirar e impulsionar para o Bem da Humanidade...

sábado, 2 de julho de 2016

"O Espírito Santo na Arte, na Rainha Santa e em nós". Espaço Artes, Porto. 22-6-2016

                                                               
Vera efígie da jovem rainha Isabel, qual ícone ou mandala, com uma auréola de irradiação espiritual muito bela e inspiradora... 
                                         
                 Do Sol Divino brota o Espírito Santo do Amor 
  Imagens e o vídeo da primeira parte da palestra realizada no Espaço Artes, no Porto, a convite da sua fundadora e directora Madalena Leal, no dia 22 de Junho sob o tema O Espírito Santo na Arte, na Rainha e em nós. Aflorei o mistério do Espírito Santo na sua génese cristã e como foi passando de energia ou força de Deus para uma Pessoa, mas com bastantes dificuldades e discussões na sua definição e dogmatização. Referi e apresentei algumas imagens da sua representação artística em determinados momentos chaves da vida de Jesus e dos seus discípulos. Passei depois para a Rainha Santa, e a sua família aragonesa, e D. Dinis, mostrando algumas imagens dela e das suas relíquias, recentemente expostas no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, e do culto desenvolvido ao longo dos tempos, culminado em 2016 nos quinhentos anos da sua beatificação.
                                          
     Da vera efígie da Rainha Santa Isabel no seu túmulo primitivo gótico em Santa Clara a Velha.
Do Anjo de Guarda ou Companhia da Rainha Santa, levando-a lavada, renascida ou no regaço para os níveis ou mundos espirituais.
                                    
Em 1612 o bispo de Coimbra D. Afonso de Castelo Branco (grande devoto de Isabel) faz construir um túmulo relicário de vidro e de prata, para capela especial em Santa Clara a Velha, mas a morte dele em 1615 impede a sua utilização e será só com a translação em 1677 para o novo convento que passará a a albergar o corpo santo, onde ainda hoje se pode contemplar e cultuar no altar-mór da Igreja.. 
Falámos ainda das relações que houve com as ideias visionárias de Joaquim de Fiora e as do médico aragonês Arnaldo de Vilanova, e como o culto do Espírito Santo se foi desenvolvendo em Portugal, até chegar aos nossos dias, tão vivo nos Açores e Brasil bem teorizado por Agostinho da Silva, que bem conhecemos e a quem saudamos. Transmiti ainda alguns ensinamentos esotéricos da Tradição Espiritual Portuguesa ligados com a essência da palavra conversa:  convergir num graal, entendimento ou unidade.
Onde dois ou três se reunem no meu nome, consciência ou vibração, Eu estou presente.
    Ficaram alguns registos em vídeo do breve improviso, estando os três primeiros e principais já no youtube, canal Pedro Teixeira da Mota, partilhando-se no fim a ligação deles.
                                      
Estiveram presentes a antiga directora do liceu Rainha Santa, a prof. Aurora, que foi homenageada pela organizadora deste evento a prof. Madalena Leal, e outras professoras do Rainha Santa. 
A ilustre assistência, ainda antes de começar a comemoração e invocação do Espírito e da rainha S. Isabel...
                                         
                                    
                Brilha sempre em nós, ó Espírito, ó Amor Divino.... 
https://youtu.be/U2IUIB8WiW0
https://youtu.be/2kZ8UPCL48Y
https://youtu.be/Lnhbnz-eirk
                                
Uma pequena placa em bronze  oferecida pela professora e pintora Madalena Leal, associada nesta imagem à Rainha Santa e à Ordem Espiritual de Portugal, aos cristais de quartzo do Gerês e às plantas medicinais, com o alecrim, aos molhos...