domingo, 2 de agosto de 2015

Tarot II - Papisa ou Sacerdotiza. Imagens arquétipas, símbolos energéticos, iniciações conscienciais.

  Os 22 dias iniciais de cada mês podem ser inspirados e dinamizados pelos 22 arcanos deste livro de imagens arquétipas, sábias e iluminantes que é o Tarot.
    A Papisa ou Sacerdotisa, a carta dois significativamente, tem muitos sentidos e ensinamentos para nos transmitir. Na carta da imagem, ainda designada Trionfi, o pré-Tarot, pois é dum baralho de cerca de 1451,   encomendado pelas famílias Visconti-Sforza,  a Papisa surge-nos como a mulher que se vela e sublima, qual monja, sacerdotisa ou papisa, tanto recebendo do alto como ligando as suas energias, com fé ou vontade através da mente ou alma controlada e o coração amoroso, ao espírito e à  Divindade e, por esta abrangência unificadora do corpo, alma e espírito,  a sua coroa é tripla e aponta para os três níveis ou planos correspondentes. Tem um livro na mão esquerda fechado, mostrando que detém a sabedoria e que ela não se revela tão facilmente, pois leva até à Sabedoria Divina, da qual ela é tanto um canal como a presença incaranada. E na mão direita empunha um bastão ou ceptro bem alto, tal como a sua coroa é também, indicando as alturas em que paira, a elevação em que se encontra, mas também a capacidade de a fazer descer sobre quem a merece.
A Sacerdotisa ou Papisa manifesta  o poder de conectar os três mundos, físico, psíquico e espiritual e logo de inspirar ou impulsionar benignamente um conhecimento mais profundo dos seres e das coisas ou, se quisermos, seja da Alma do Mundo (Anima Mundi),  interioridade energética e consciencial em tudo, seja o da essência e potencialidades ocultas de cada ser, seja a Feminidade na Divindade, a Hagia Sophia dos místicos ortodoxos russos.
   Na época, afirmar que a  mulher teria potencialmente o mesmo conhecimento, valor e poder de que o Papa, que poderia ou deveria haver, e antecedendo-o mesmo na sucessão das cartas (embora não assim fosse nestes primordiais Trionfi italianos do séc. XV, já que não têm numeração), era certamente muito ousado e só podia ter nascido na Itália, dos Fieis do Amor, de Dante de Beatriz, e vir a ser numerado na Marselha francesa, no fundo do Mediterrâneo, outrora mar e bacia de convivialidade e amor e não como agora cemitério de fugas desesperadas à guerra e pobreza que os países mais industrializados do Norte, liderados pela USA, aliados aos magnates do petróleo e fanáticos de um Islão desumano e ao governo extremista actual de Israel, tentam impor ao norte de África e ao Médio Oriente, perante a complacência de uma Europa semi-perdida sob os grupos de pressão que dominam os seu líderes, e tão longe da sua fundamentação humanista e erasmiana, ainda que o nome de Erasmus apadrinhe as viagens conviviais e as aprendizagem de milhões de estudantes, mesmo essas que a partir dos anos de 2019 tem sido algo cortadas pelas medidas do Covidescas.
   Que  todas as crianças, jovens e mulheres, de todos os povos e regiões possam receber as melhores energias e desenvolver em liberdade e paz as suas melhores faculdades, tão necessárias à preservação da Natureza e da Humanidade, eis um dos sentidos que a Papisa nos ensina, apela e impulsiona, e hoje tão vital...
   A Sacerdotisa, Papisa ou a Deusa invoca e dá-nos a contemplar uma forma e representação humana do Feminino primordial da Divindade exprimindo-se ou reforçando-se assim a sacralidade feminina, seja no seu aspecto de recepção e ligação entre as energias e seres da Terra e do Céu seja como detentora e transmissora dos ensinamentos, do  Livro da Sabedoria, Sophia, que ela própria contém e é, potencialmente ou já mais plenamente.
Nesse sentido a coroa em forma de vaso e cornos que a encima, na versão já do séc. XX do ocultista Arthur E. Waite, e o facto de estar representada sentada no meio das duas colunas de um templo egípcio-hebraico, que simbolizam a polaridade positiva e negativa  (até assinalada pelo maçon Waite, nesta sua versão, com as letras J. e B., de Joachim e Boas, conforme o templo de Salomão), apontam para essa ligação ao alto e a harmonia das dualidades complementares, que se podem observar ainda no dia e noite, atracção e repulsão, sol e lua, direita e esquerda, ascendente e descendente, quente e fria.  Todavia   não havia estas colunas explícitas nos Tarots tradicionais anteriores, como o de Marselha, e de facto Arthur Edward Waite cabalizava, como foi moda mistificadora no séc. XIX, deixando traços e influências até aos nossos dias nas tentativas contraditórias de se corresponderem as 22 cartas com as 22 letras hebraicas.
   Poderemos dizer que o campo energético consciencial que  cada carta ou lâmina do Tarot é depende muito da iconografia com que está desenhada e dos conhecimentos que têm e a capacidade intuitiva e interpretativa que leitor ou consulente conseguem. Ora ela impulsiona (sobretudo quando a contemplamos e sintonizamos espiritualmente) e apela à nossa alma e  energia psico-somática interna, a shakti, a qual pode proporcionar uma maior  verticalidade e ligação com o Espírito, ao tornar-nos mais conscientes das nossas frequências vibratórias e da nossa polarização e centramento, ou pelo contrário obscurecimento desalinhamento,  no ventre, peito, cabeça ou todo o ser. 
Esta auto-gnose energética leva-nos a que devemos endireitar e fluidificar constantemente os nossos corpos ou níveis, mantendo puros e próprios os nossos pensamentos (simbolizado no véu branco sobre os cabelos), posicionando ou movendo apropriadamente os braços e mãos, para a coroa ou irradiação do espírito brilhar mais....
    Na realidade subtil, conseguirmos abrir mais a cabeça e os chakras (os centros energéticos subtis) superiores às realidades e frequências mais luminosas, mantendo o plexo solar  e a respiração abdominal livres são meios de fluidificação circulatória e vibratória, a qual nos permitirá ler e dar a ler do nosso ser ou seio e de suas profundidades ressoantes o Livro dos Livros, a Gnose, o Logos, a Sabedoria-Amor substante, que a Deusa ou sacerdotisa trabalha, veicula e incarna, e que está na base e interior de tudo como força de coesão, amor, união, fertilidade. Por isso a sua veste interior é vermelha, da força de vontade e do amor...
    Também a Lua feminina e receptiva da imaginação e da sensibilidade harmonizada subjaz a actividade sacerdotal ou pontifícia, isto é, de fazer pontes e ajudar a atravessá-las, pois a mulher, que se harmoniza e sacraliza, guia e cura e, como musa e mestra, inspira e ensina e, como mãe e amada, ama e preserva...
    O respeito, o amor e a veneração à Mulher, prestados pelo homem e pela mulher, deveriam assentar no reconhecimento que cada rapariga ou mulher é uma manifestação da Divindade na sua face feminina, a qual veio ao longo dos séculos a ser vista, conhecida e cultuada como a Grande Deusa, ou as Deusas, sacerdotisas e magas de vários povos.
Esta veneração  é uma aplicação ou correspondência do dito "o que está em cima é como está em baixo, para se fazer o milagre da Unidade", acolhendo-se tanto o princípio Feminino Divino do "Céu", Urânia, como o mais terreno, Vénus, o Princípio feminino  telúrico, sexual, fecundo, e cada um de nós deve constantemente saber discernir e admirar tal presença dupla e saber respeitá-la, amá-la.
Isto é importante de ser consciencializado, vivido e transmitido no mundo ainda tão violento no seu machismo, em especial nas três religiões ditas do Livro, Judaísmo, Cristianismo e Islão, todas elas com muitas patranhas, erros e defeitos, e demasiado patriarcais e machistas seja na sua concepção da Divindade seja no tratamento das mulheres, ainda que certamente haja aspectos valiosos nos textos, tradições e sobretudo comentários e ditos de sábios, místicos, iniciados, imams, para além do grande culto e abertura de muitos fiéis a Maria e a Fátima ou Zahra, a filha de Mohammad e mulher de Ali, mãe da linha Shia...
   O culto à Sabedoria e ao Princípio Feminino Divino inclui a aceitação profunda do ser feminino integral e pleno de potencialidades como criança, mulher, mãe, amiga, namorada, amada  e também como porta e seio de desvendação dos mistérios naturais, espirituais e divinos, já que a sua sensibilidade, fecundidade e intuição são capazes de abrir as janelas da geração e da percepção e de transmitirem ou impulsionarem as energias de beleza, bondade e amor, tão curativas e necessárias a todos...
Papisa, de um Tarot português, o da Mónica Morais.
    A Mulher Sacerdotisa, ou a Papisa da Religião Natural, e que hoje poderemos chamar do Amor e do Todo, é aquela que ensina a ler (embora na iconografia dos vários Tarots o livro esteja ora aberto ora fechado) e a  amar o Livro vivo e maravilhoso seja da Tradição Espiritual seja  da Natureza e seus segredos e intimidades, raízes e afinidades, animais e eco-sistemas, assim se intensificar, preservar  e partilhar tal unidade com tudo tudo, das árvores e flores, animais e aves, crianças e adultos até aos espíritos da natureza, anjos e arcanjos subtis e celestiais.
  A mulher é então, pelo seu sentir e olhar vindo da  alma aprofundada, a impulsionadora do Conhecimento, o qual vai abrindo a visão e despertando a energia interna, a Shakti ou Força divina amorosa substancial, da qual  ela própria é a principal matriz, fonte e manifestação na Terra...
          A Sacerdotisa ou a Papisa é pois símbolo e invocação da Grande Deusa, de Ísis, Anahit, Astarte, Maria, Zahra Fatima, Amaterasu omikami,  Kuan Yin,  Tara, Iemanjá, Bande, Vénus, Minerva,  Shakti Deva ou Shuda Shakti, todas elas diferentes manifestações ao longo dos tempos e nos corações dos crentes da Divindade na sua face Feminina e que em nós  podem encontrar seres receptivos e ressoantes a elas, seres que dialogam na verdade com elas e suas tradições e que incarnam e manifestam algumas das suas energias, qualidades e consciência, seja como sacerdotisas, musas, iniciadoras ou amantes. Ou que as sentem nas mulheres e amigas, nas árvores e florestas, nos rios e mares, na maternidade e na fecundidade, na Sabedoria e no Amor, e em especial neste novo ano de 2023, com a invocação contemplativa da belíssima e tão simbólica imagem Deusa grega da Saúde, Hygeia, tão ncessária no mundo dilacerado por tanto mal...
 No dia 2 do mês, ou em qualquer dia e momento que contemplar ou meditar este arcano da Papisa ou sacerdotisa, abra-se à sacralidade Feminina, sinta-a à sua volta e com quem estiver, ame-a em si, na amada e nas pessoas amigas, e aprofunde tanto o silêncio receptivo como a imaginação e a sensibilidade subtil que desaguam na intuição e afastam os véus que cobrem a beleza do Templo que cada um de nós tem dentro de si e é, e que devemos sintonizar e até contemplar no mundo psico-espiritual.
 Desperte então mais a si mesma (o) e aos outros, para estes níveis sagrados, ligue os quadrados da terra e da matéria com os triângulos do céu e do espírito, harmonize as dualidades em si, saiba recolher-se e silenciar-se e seja mais o espírito irradiando-o no Amor e sabedoria divina, na justiça e na alegria, nas formas, cores e ondulações que conseguir, sob o azul celestial...
 Demos mais espaço interior à nossa paz, sensibilidade e receptividade, sejamos mais a anima sensível e aprofundante da compaixão e da  espiritualidade, a sacerdotisa da Natureza e do Amor, a Papisa ou criadora de pontes que ligam os seres, os povos, as religiões e os mundos harmoniosamente...

Welcome the number 2, be still and aware, and become the Goddess in the Woman and in the Being. Don't stay closed in patriarchal positions and views, as in a certain way the three old Religions of the Book badly fostered. Recognize and worship  the Divine  and the sacred eternal Feminine on the women, on you, and foster her fair, loving, compassive, peaceful and inspiring presence and role in society, and let the fire of Divine Love and Wisdom be more strong and active in you....

6 comentários:

Unknown disse...

Muito obrigada, Pedro. Adorei o texto. Tão completo e educativo.
Grata!

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muitas graças, Ana. Ei-lo bastante melhorado ou mais completo. Boas inspirações!

Carla Bugalho disse...

Muito e muito obrigada Pedro, por estes iluminados textos imbuídos de sabedoria e motivadores para 2021, o ano do equilíbrio, o número de ouro. Um grande abraço e votos de um 2021, número de ouro, da perfeição. Carla Bugalho.

Celia Coelho disse...

Obrigada por incentivar a minha intuição já activada em relação ao assunto.
Vasto.
Por vezes confirma ,outras esclarece,noutras ainda abre caminhos e ligações onde ainda não me aventurei.
Um buscador sem medo do que encontra e que ajuda a iluminar caminhos.
Bem haja Pedro.

Anónimo disse...

O mais inspirador texto(sobre este tema), ever! Fico ansiosa pelos próximos arcanos...

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças muito Célia, e pessoa anónimo, pelas vossas apreciações, que sempre estimulam a noção de que há quem aprecia o que vou meditando e escrevendo. Como tenho estado muito ocupado com uns artigos para um dicionário de espiritualidade só brevemente poderei retomar o aprofundamento. Votos bem luminosos para as vossas demandas e seres.