terça-feira, 23 de junho de 2015

24/6/1916. A carta à tia Anica, de Fernando Pessoa, há 99 anos...

Neste dia de S. João sintonizemos com a vida e obra de Fernando Pessoa, lendo e meditando um pouco a carta bem importante enviada à sua querida e inspiradora tia Anica, certamente difícil de ser equacionada ou interpretada nas suas dimensões reais mas muito rica de aspectos biográficos subtis, e escrita precisamente há 99 anos.

"Lisboa, 24 de Junho de 1916.
Minha querida Tia:
Muito lhe agradeço a sua carta de 13 e os parabéns que me traz. Muito agradeço também a carta do Raúl de 22 de Maio, a que responderei brevemente; creio que assim posso prometer, porque me sinto agora já um pouco melhor, já mais apto a não ter a inércia que tenho tido e que, como calcula, tem sido devida aos sucessivos choques nervosos por que tenho passado.
Felizmente que chegaram (enfim!) de Pretória notícias acentuadamente boas. Excepto no que respeita ao braço, que está demorando em recuperar o movimento, o estado da Mamã melhorou muito. O estado mental está, enfim, normal. Aquela confusão mental que ela tinha, e que era o que mais me impressionava, desapareceu. E ela já sai do quarto, passando umas horas por dia na casa de jantar.
Não sei o tratamento empregado agora. Sei que, a princípio, empregaram, com efeito, os choques eléctricos, mas suspenderam esse tratamento, porque, ao que parece, incomodava demasiadamente a doente. E suponho que naquela altura da doença não seria bom o incómodo natural dos choques. Se assim foi, já terão, suponho, retomado esse tratamento.
Por enquanto não há nada em que, de positivo, se deva assentar com respeito à guerra e às tropas de aqui irem para fora. E creio, mesmo, que os rapazes na situação do Raúl não correm, por enquanto, grande risco de serem chamados. É claro que não posso afirmar isto, mas é o que consta aqui. Já se o Raúl estivesse cá, naturalmente teria, pelo menos, a maçada de uma «escola de oficiais» ou qualquer aparelho parecido.
Sobre o estado nervoso em que tenho vivido, não tenho passado mal ultimamente. Também creio que não tem havido novidade na família, salvo que a Joaquina está umas vezes melhor, outras pior. Como eu tinha previsto, pela astrologia, a situação do Mário não só melhorou, mas parece tender para melhorar cada vez mais.
Vamos agora ao caso misterioso que a interessa e que a tia Anica diz não poder calcular o que seja. Sim, não calcula, decerto eu próprio é o que menos esperaria.
O facto é o seguinte. Aí por fins de Março (se não me engano) comecei a ser médium. Imagine! Eu, que (como deve recordar-se) era um elemento atrasador nas sessões semiespíritas que fazíamos, comecei, de repente, com a escrita automática. Estava uma vez em casa, de noite, tendo vindo da Brasileira, quando senti a vontade de, literalmente, pegar numa caneta e pô-la sobre o papel. É claro que depois é que dei por o facto de que tinha sido esse impulso. No momento, não reparei no facto, tomei-o como o facto, natural em quem está distraído, de pegar numa pena para fazer rabiscos. Nessa primeira sessão comecei por a assinatura (bem conhecida de mim) «Manuel Gualdino da Cunha». Eu nem de longe estava pensando no tio Cunha. Depois escrevi mais umas cousas, sem relevo, nem interesse nem importância.
De vez em quando, umas vezes voluntariamente, outras obrigado, escrevo. Mas raras vezes são «comunicações» compreensíveis. Certas frases percebem-se. E há sobretudo uma cousa curiosíssima — uma tendência irritante para me responder a perguntas com números; assim como há a tendência para desenhar. Não são desenhos de cousas, mas de sinais cabalísticos e maçónicos, símbolos do ocultismo e cousas assim que me perturbam um pouco. Não é nada que se pareça com a escrita automática da Tia Anica ou da Maria — uma narrativa, uma série de respostas em linguagem coerente. É assim mais imperfeito, mas muito mais misterioso.
Devo dizer que o pretenso espírito do tio Cunha nunca mais se manifestou pela escrita (nem de outra maneira). As comunicações actuais são, por assim dizer, anónimas e sempre que pergunto «quem é que fala?» faz-me desenhos ou escreve-me números.
Mando-lhe, junta, uma amostra simples, que não é preciso devolver-me. Nesta há números e rabiscos, mas quase que não há desenhos. É o que tenho aqui à mão. É para verem como é o aspecto das minhas comunicações.
É singular que, apesar de eu não perceber nada de tais números, consultei um amigo meu, ocultista e magnetizador (uma criatura muito curiosa e interessante, além de ser um excelente amigo) e ele disse-me cousas singulares. Por exemplo, eu disse-lhe uma vez que tinha escrito um número qualquer (de quatro algarismos) de que não me recordo agora. Ele respondeu-me que havia cinco pessoas na casa onde eu estava. E, com efeito, assim era. Mas ele não me diz de onde é que concluiu isso. Explicou-me apenas que esse facto de eu escrever números era prova da autenticidade da minha escrita automática — isto é, de que não era autosugestão, mas mediunidade legítima. Os espíritos — diz ele — fazem essas comunicações para dar essa garantia; e essas comunicações são, por isso mesmo, incompreensíveis ao médium, e de ordem que mesmo o inconsciente dele era incapaz de imaginar.
Este meu amigo tem-me explicado outros números assim, com igual, e curiosa, segurança. Só houve três números que ele não compreendeu.
Estou contando rapidamente, e claro, e necessariamente omito pormenores e detalhes interessantes. O que narro, porém, é o essencial.
Não pára aqui a minha mediunidade. Descobri uma outra espécie de qualidade mediúnica, que até aqui eu não só nunca sentira, mas que, por assim dizer, só sentia negativamente. Quando o Sá-Carneiro atravessava em Paris a grande crise mental, que o havia de levar ao suicídio, eu senti a crise aqui , caiu sobre mim uma súbita depressão vinda do exterior , que eu, ao momento, não consegui explicar-me. Esta forma de sensibilidade não tem tido continuação.
Guardo, porém, para o fim o detalhe mais interessante. É que estou desenvolvendo qualidades não só de médium escrevente, mas também de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam «a visão astral», e também a chamada «visão etérica». Tudo isto está muito em princípio, mas não admite dúvidas. É tudo, por enquanto, imperfeito e em certos momentos só, mas nesses momentos existe.
Há momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente alvoradas de «visão etérica» — em que vejo a «aura magnética» de algumas pessoas, e, sobretudo, a minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque o que eu vejo outros vêem-no, pelo menos, um outro, com qualidades destas mais desenvolvidas. Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver na Brasileira do Rossio, de manhã, as costelas de um indivíduo através do fato e da pele. Isto é que é a visão etérica em seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser?
A «visão astral» está muito imperfeita. Mas às vezes, de noite, fecho os olhos e há uma sucessão de pequenos quadros, muito rápidos, muito nítidos (tão nítidos como qualquer cousa do mundo exterior). Há figuras estranhas, desenhos, sinais simbólicos, números (também já tenho visto números), etc.
E há — o que é uma sensação muito curiosa — por vezes o sentir-me de repente pertença de qualquer outra cousa. O meu braço direito, por exemplo, começa a ser-me levantado no ar sem eu querer. (É claro que posso resistir, mas o facto é que não o quis levantar nessa ocasião.) Outras vezes sou feito cair para um lado, como se estivesse magnetizado, etc.
Perguntará a Tia Anica em que é que isto me perturba, e em que é que estes fenómenos — aliás ainda tão rudimentares — me incomodam? Não é o susto. Há mais curiosidade do que susto, ainda que haja às vezes cousas que metem um certo respeito, como quando, várias vezes, olhando para o espelho, a minha cara desaparece e me surge um fácies de homem de barbas, ou um outro qualquer (são quatro, ao todo, os que assim me aparecem).
O que me incomoda um pouco é que eu sei pouco mais ou menos o que isto significa. Não julgue que é a loucura. Não é: dá-se até o facto curioso de, em matéria de equilíbrio mental, eu estar bem como nunca estive. É que tudo isto não é o vulgar desenvolvimento de qualidades de médium. Já sei o bastante das ciências ocultas para reconhecer que estão sendo acordados em mim os sentidos chamados superiores para um fim qualquer que o Mestre desconhecido, que assim me vai iniciando, ao impor-me essa existência superior, me vai dar um sofrimento muito maior do que até aqui tenho tido, e aquele desgosto profundo de tudo que vem com a aquisição destas altas faculdades. Além disso, já o próprio alvorecer dessas faculdades é acompanhado duma misteriosa sensação de isolamento e de abandono que enche de amargura até ao fundo da alma.
Enfim, será o que tiver de ser.
Eu não digo tudo, porque nem tudo se pode dizer.
Mas digo o bastante para que, vagamente, me compreenda.
Não sei se realmente julgará que estou doido. Creio que não. Estas cousas são anormais sim, mas não antinaturais.
Pedia-lhe o favor de não falar nisto a ninguém. Não há vantagem nenhuma, e há muitas desvantagens (algumas, talvez, de ordem desconhecida) em fazê-lo.
Adeus, minha querida Tia. Saudades à Maria e ao Raúl. Beijos ao Eduardinho. Para si muitos e muitos abraços do seu sobrinho muito amigo e grato
Fernando"

Realcemos os diálogos com um amigo ocultista, que não está ainda bem identificado, a sua sensibilidade mediúnica ou pelo menos ao seu inconsciente, a abertura do olho espiritual e a crença de estar a ser preparado ou iniciado por um Mestre Desconhecido.
Ao longo dos anos serão muitas as vezes em que se sentirá inspirado, registando-o, e manterá sempre bem alto a sua crença e provavelmente subtil experiência da presença ou influxo dos Mestres, dos quais Jesus Cristo foi certamente para ele o mais importante, afirmando-se no fim da sua vida Cristão Gnóstico.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O soneto "Evolução", um dos últimos sonetos de Antero de Quental. Revisitação e hermenêutica.

                 Revisitação de um do sonetos, escritos entre 1881 e 1991, a Década dourada de Vila de Conde, na feliz expressão de Ana Maria Almeida Martins: Evolução.
  
Sanguínea de António Carneiro...
                                
 I - EVOLUÇÃO                     
                                (A Santos Valente)

Fui rocha em tempo, e fui, no mundo antigo
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo...

Hoje sou homem - e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, na imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade."


A Evolução é um poema bastante filosófico,  no qual Antero de Quental não está a exprimir tanto uma clara vivência interior nem sequer uma certeza, mas a poetizar ideias e possivelmente sentimentos vividos, ou mesmo intuições, acerca da evolução dos seres na Terra, das quais destacaremos a sua passagem a meio de tal escala ascendente, por ter sido escrito talvez nas praias do mar bravo de Vila de Conde, "Onda, espumei, quebrando-me na aresta//Do granito, antiquíssimo inimigo", realçando-se a oposição ou luta do líquido e do sólido que bem poderia ser antes de abraço amoroso, ainda que por vezes bem poderoso...
Poderemos interrogar-nos sobre em que percentagem ele acreditaria nesta evolução que retrata bem no poema, e que é a que vai da pedra ao animal e por fim ao homem. Como sabemos, não é esta a visão da Igreja Católica onde Antero fora doutrinado em criança. Posteriormente, os seus estudos filosóficos evolucionistas e por fim budistas deram-lhe certamente motivos para admitir tal hipótese de metempsicose, mas em que proporção acreditava ou duvidava não sabemos, embora nos pareça que nele haveria um presentimento ou uma intuição do espírito como estando acima da evolução do corpo animal para o humano...
O terceto final é bem rico, parece claramente mais sentido e vivido, pois muito se interrogou embora já não saibamos quantas vezes, algumas mencionadas por amigos, terá chorado....
A posição de estender as mãos no vácuo ou no ar é uma boa posição de oração e de demanda e pode ser certamente autobiográfica, mesmo que apenas mental e afectivamente e não corporalmente.
Já o "adoro e aspiro unicamente à liberdade" também parece bastante sincero e tipicamente anteriano, ao valorizar talvez excessivamente a liberdade, pois esclarece que unicamente a ela adora e aspira.
O que nos diria hoje Antero? 
Diria só a Liberdade, ou antes o Amor, ou a Divindade?
A que devemos nós aspirar e adorar ou amar supremamente?
Por mim diria: eu aspiro, amo e adoro a Divindade, a Realidade, a Verdade, o Amor, a Sabedoria... Ou seja reconheceria tanto uma Divindade suprema, transcendente como também imanente, Deus em nós, o que aliás Antero em certas cartas a amigos bem valorizou como a Voz da Consciência... E reconheceria e invocaria depois os seus atributos, qualidades e arquétipos, a eles me abrindo quando aspiro, oro, medito, escrevo, trabalho e luto...
O que nós amamos verdadeiramente, e logo aspiramos e veneramos ou adoramos, é então fundamental de ser equacionado por cada um... 
Ao fazê-lo estamos a cumprir o testamento espiritual de Antero de Quental e estamos a levar mais longe o facho de Luz empunhado por ele e que a Divindade, a Verdade ou o Logos, ou as suas correntes de amor e sabedoria, em nós acendes na braçada de amor, que em esforço e sabedoria conseguimos manifestar...
Possamos ser agraciados com a memória da descida na espiral imensa do tempo, reminiscência do que já fomos ou do que em nós está subtilmente à nossa espera para realizarmos...

Pela verdadeira Europa."Stop Austeridade, Apoio à Grécia, Mudança na Europa"


De certo modo Luís de Camões presidiu à manifestação talvez lá do alto da máquina do Mundo
Realizou-se hoje uma acção de solidariedade com a Grécia e o povo Grego face à opressão da agiotagem internacional (seja ela da Troika ou do FMI), no largo do Camões, em Lisboa.
Face à dimensão exemplar deste conflito, nomeadamente quanto às dívidas gregas e à possibilidade até de Grécia sair da União Europeia, podiam-se esperar mais pessoas, mas as cerca de 250 presentes representavam o sector populacional mais consciente internacionalmente, mais cívico, menos formatado pelo arco do poder e do sistema, notando-se uma predominância de gente jovem, ligada aos partidos renovadores, como o BE, o Pan, o Livre, o Tempo de Avançar, ou à candidatura presidencial de Henrique Neto, e ainda intelectuais, artistas e ecologistas e, finalmente, alguns anti-fascistas e anti-sistema de opressão mundial.

https://youtu.be/JWlOwNjctCg

Alguns breves discursos e cantos pontuaram a reunião que foi servindo para múltiplos diálogos e contactos, fortificando-se as redes alternativas a esta União Euopeia já demasiada burocratizada, acinzentada. e de modo algum representando a verdadeira Europa culta, fraterna dialogante, solidária.
Basta ver o comportamento anti-Europeu como tem conduzido as relações com a Rússia, com o problema da emigração do Norte de África e com as crises do Médio Oriente.
Realmente se os USA fabricam o dinheiro ou dólar que querem e corrompem meio mundo, porque é que a União Europeia não há de reduzir juros de empréstimos a zero, ou mesmo fabricar mais liberalmente dinheiro não para os ordenados dos políticos e a indústria dos armamentos mas para criar indústrias benéficas na Europa e no norte de África e para fomentar e estreitar as boas relações com a Rússia, certamente mais Europeia que os USA e o seu Tratado Transatlântico ou a famigerada companhia agro-química e de sementes geneticamente modificadas da Monsanto?
Foi pois esta manifestação mais um cartão vermelho a uma União Europeia em que cada vez menos pessoas se revêm, de tal forma está subjugada aos interesses financeiros dos grandes grupos e dos norte-americanos...
Espera-se que a entrada de novos partidos e deputados no espectro político europeu, ibérico e português possa ajudar a dar a volta à crise de grande descrença nos políticos e governantes das últimas décadas...
E que a Grécia, mátria da Europa, seja respeitada e apoiada...




Um belo símbolo das Grécia e da maternidade cada vez menor na Europa burocrata...




A RTP-2 esteve presente, o que é já bom numa Televisão por vezes algo manipulada, e estando a falar com a Clarisse Marques, candidata a deputada pelo Tempo de Avançar, fui instado a dar o meu testemunho, o que fiz...





A Silvina Pereira e o Zé Curado Matias, sempre presentes na defesa da Liberdade, Cultura e Solidariedade






 O Zé Curado, Matias o Mauro, e seus amigos bem conhecidos
Gente jovem e alternativa faz sempre antever um futuro menos massificado e acinzentado
Uma das aopiantes de Henrique Neto e o Mauro..
Fim..
Post-scriptum...

Antero de Quental, a década dourada de Vila do Conde (1881-1891)

Os últimos dez anos da vida de Antero de Quental, 1881-1891, em Vila do Conde, à parte os iniciais, têm sido considerados pelos anterianos como os mais felizes da sua vida pois finalmente conseguira a almejada melhoria da saúde e certa ordem e sossego, dormindo, pensando e escrevendo bem (tanto os seus últimos ensaios filosóficos, como treze sonetos são a prova disso), vivendo acompanhado das suas duas pequenas, Beatriz e Albertina, filhas do amigo Germano Meireles e de Teresa de Jesus Costa, e recebendo vários ilustres amigos, tais como Jaime Magalhães de Lima, Joaquim de Araújo, António de Azevedo Castelo Branco e Eça de Queirós, para conversas peripatéticas na orla, certamente por vezes algo ventosa, do revigorante oceano Atlântico.
Da comunicação ao Congresso do centenário da sua morte em 1991, pela Ana Maria Almeida Martins, sem dúvida actualmente a melhor conhecedora de Antero, resultou a publicação em 1993 do belo livro Antero de Quental, a década dourada de Vila do Conde (1881-1891), do qual resolvemos partilhar a bela capa com a vista de Vila do Conde oitocentista, com o estaleiro junto ao convento, a dedicatória autógrafa da Ana Maria e algumas páginas e imagens.

Começo da narrativa da Ana Almeida Martins
Anotemos entretanto algumas frases significativas de Antero, tal como as consignadas na correspondência que foi endereçando a Alberto Sampaio, esta em 1881:
" O Verão de S. Martinho vai belo, e convida ao bucolismo e à filosofia peripatética. (...) Do teu vinho, que já tenho libado, dir-te-ei maravilhas. É em tudo digno da reputação que no ano passado alcançara e que fica agora inabalável (...) Isto por aqui é bonito, com o seu ar nobre e campestre, e põe a gente numa disposição de espírito plácido e suave. Para envelhecer em paz, era proximamente disto que eu necessitava (...)
Um bom abraço ao José, que, se um dia por aqui aparecer, me dará um alegrão. Do vosso do coração, Antero."

                                                    
De outra carta: "Este pobre Portugal tem-se feito tal, que não é agora senão para eremitas. Mas, para esses, parece terra fada, com o seu sol perene, os seus puros horizontes campestres, as suas largas praias que tão bem convidam a uma cismar melancólico e consolador. Este povo daqui parece-me simples e de boa condição, e em seu viver ainda antigo e católico..."
Realcemos nas cartas, além da belíssima "terra fada", a expressão final frequente de "seu ou vosso de coração, Antero", mas também o alegrão, o sol perene, o libar o vinho, a disposição de espírito plácido e suave e a terra fada, sem dúvida palavras importantes do testamento anteriano, o qual foi também nesta década efectuado em cartório, como nos diz numa carta a José da Cunha Sampaio, de 1890: "O Alberto que tome nota disto, pois, como testamenteiro e tutor das pequenas, pode ter que intervir se por qualquer caso esta minha máquina se escangalhar mais cedo do que se prevê"...
Significativa esta expressão da máquina que se escangalha, ou que ele próprio escangalhará totalmente, talvez porque gradualmente e de repente subitamente (no dia do seu suicídio) a sentiu irreparavelmente escangalhada...
Acrescente-se que em 1890, com o infame Ultimatum da Inglaterra a Portugal, Antero se viu confrontado com o desafio de ser Presidente da Liga Patriótica do Norte, deslocando-se então para o Porto, onde foi recebido delirantemente, pelos estudantes e população mais patriótica.  Cedo porém a falta de apoio dos partidos e dos políticos acabou o sonho dos estudantes e dos idealistas nortenhos, certamente apressando a desilusão de Antero de Quental em relação a Portugal, talvez até ou sobretudo Continental, regressando aos Açores, a sua ilha natal berço da vida, seio da morte, de certo modo libertadora...
Terminemos este pequeno texto, com mais uns fragmentos, e uma carta de Antero, reproduzida por Ana Maria Almeida Martins na obra,  e que é muito actual:
"O reconhecer-se que uma coisa é má não é razão suficiente e necessária para que ela se reforme: é preciso ainda saber e querer fazê-lo. No fundo o país quer isto, que tem". E a pergunta que a Ana Maria Almeida Martins faz e resposta que ele pela citação lhe"dá", inserida na página 49: «Antero sempre se caracterizou fundamentalmente como um crente. Em quê? "No invisível, no insondável, no que é esta miserável existência real que evidentemente não pode ser o que parece porque então o universo seria absurdo. Esta grande máquina não pode deixar de ter um fim. Eu chamo liberdade a esse fim".
Anote-se de novo a expressão "máquina" tanto para o universo como atrás para o corpo, e a sua ânsia ou ideal supremo da Liberdade, quando poderia ser o Amor, a Inteligência Cósmica, a Divindade. 

Mas certamente que a ideia de Liberdade tem ou poderia ter muitas conexões com a filosofia Oriental indiana, nomeadamente com Libertação, e que é tanto designado como Kaivalya como Nirvana, de tão grande elevação metafísica e espiritual mas de complexa definição e dificílima plena realização.
Prossegue então a Ana Maria Almeida Martins: "E quando entre os seus contemporâneos se considerava a metafísica tão absolutamente morta como a mitologia greco-romana, para Antero ela era, justamente, a essência da religião [eu diria mais que a metafísica é uma ossatura racional da realização religiosa e espiritual obtida] e, em época de grande crise em que a grande crença colectiva se dissolve «cada qual tem de procurar sozinho com o suor do seu rosto e a ansiedade do coração, para conseguir uma espécie de religião individual, que no fim de contas nunca pode equivaler em firmeza, confiança, serenidade, àquela ampla comunhão espiritual, ideia-sentimento em que a fraqueza do indivíduo se ampara na potência da colectividade»" (Carta a Oliveira Martins).
Será valioso equacionarmos com o decorrer dos tempos, e hoje já mais de cem anos passaram, a erosão da confiança e serenidade sentida pelas pessoas amparadas na potência da colectividade religiosa e espiritual e como provavelmente devemos a Antero de Quental, Leonardo Coimbra, Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoais (ou Pascoaes), Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva  e mais alguns mais lúcidos, uma certa emancipação de amparos meramente sentimentais, os quais podem  diminuir a demanda da verdade, não só filosófica mas sobretudo religiosa, na linha designada por Antero de Quental como uma religião individual, vivida interiormente, usando mesmo a expressão «ampla comunhão espiritual». 
Ampla não só em crenças e comunidade de seres (o chamado corpo místico da Igreja ou da humanidade), como também na expansão de consciência obtida em práticas, intuições e graça.
Esta posição pioneira e difícil de Antero, que pode mesmo ter tido uma pequenina influência nos múltiplos factores que desencadearam a sua morte "samuraica", como também na desagregação precoce de Fernando Pessoa, é contudo cada vez mais necessária e actual, pois devemos ir além do Bojador das crenças e medos e alcançar a Ilha do Amor e a visão espiritual e divina que penetra as opacidades e distâncias do Mundo.

Algo que se vai desenvolvendo no Caminho espiritual justo e harmonioso, transcendente e imanente, pelo estudo, o amor, a abnegação, o serviço, a aspiração, a intuição interior e a experiência ou visão no olho e ser espiritual e a religação à Divindade...

sábado, 20 de junho de 2015

Fernando Pessoa e Francisco Peixoto Bourbon. 1º contributo sobre a amizade dos dois.

Um dos amigos de Fernando Pessoa que nos deixou bastantes recordações da sua convivência com ele foi Francisco Peixoto Bourbon, com quem dialoguei bastantes vezes por carta e algumas vezes pessoalmente e espero um dia fazer juz à nossa amizade transcrevendo o que de mais importante me disse ou foi por ele escrito.
 Foi frequentador sobretudo das tertúlias do café Montanha, à rua da Assunção, onde participavam às quinta-feiras entre outros Mário de Saa, o Marquês de Penafiel, Cunha Dias, Manuel de Meneses, mas provavelmente esteve também com ele noutros poisos tertulianos, tais como as Brasileiras do Chiado e do Rossio e os Martinhos, seja o do Rossio, seja o da Arcada, à praça do Comércio, este hoje ainda sobrevivendo como local de culto pessoano e onde de quando em quando As Amigas e Amigos do Martinho da Arcada, um grupo do Facebook, organiza actividades pessoanas.
Relendo hoje um pequeno texto que ele me enviou dactilografado intitulado: "Evocando Fernando Pessoa - Como nutrira profundo desamor que lhe chamassem o Verlaine Português", no qual referia a sua publicação recente no jornal O Dia" de texto de contestação ao livro O caso clínico de Fernando Pessoa de um médico Mário Saraiva, entendi ser uma oportunidade de relembrar tal amizade, e transcrever algumas partes desse texto, nomeadamente onde concluía: "Não, Fernando Pessoa merecia sem dúvida melhor crítico e implacável julgador do que até à data se tem revelado o Dr. Mário Saraiva.
A vida foi madrasta para o incompreendido poeta mas depois de morto e passado sobre a sua morte mais de meio século não se me afigura que esteja sendo tratado por forma mais benigna do que o foi em vida"
Neste texto, a propósito de um cachecol, ou cache-nez, e um bastão com cabo de prata que uns alentejanos ricos ofereceram a Ferando Pessoa, por serem usados bastante por Verlaine, o que ele não apreciava, nomeadamente por não gostar de dar nas vistas, diz-nos Francisco Peixoto Bourbon que  "Fernando Pessoa procurava confundir-se com a multidão. Chegava mesmo a considerar a popularidade como uma gafa em que só seres inferiores se deixavam prender ou cair.
Não, Fernando Pessoa paira muito acima dessas fraquezas humanas que ele aliás compreendia e desculpava, como ser tolerante que sempre foi.
O seu lema era expor, propor e nunca, de forma alguma, impor.
De uma vez censurou-me, com desgosto, por me estar armando em Catão e acabou por me dizer que devemos ser mais compreensivos em relação às pequenas faltas reservando a severidade para as grandes faltas, as que imprimem carácter."
E fiquemo-nos por aqui nesta pequena evocação de Fernando Pessoa e do seu amigo Francisco Peixoto Bourbon, agrónomo, e das terras de Basto, amigo do meu pai e que me recebeu tão bem na sua bela casa e biblioteca do Melhorado há uns bons anos, onde vivia com a sua mulher e a filha Mafalda, hoje também agrónoma e professor do ensino secundário.

domingo, 14 de junho de 2015

A procissão de S. António, de 2015, em Lisboa

                           Imagens legendadas da procissão-peregrinação de Santo António e o                                                Divino Menino, de 13 Junho de 2015, Lisboa....
Pela vida justa, pelo discernimento e a discrição e pela intenção pura da alma de ver a Deus, ela eleva-se e consciencializa-se da presença Divina nela, segundo o ensinamento de S. António...
Santo António na igreja vizinha da sua: "Deus é todo o Bem, o sumo Bem, do qual como um centro vêm directamente para a circunferência todas as linhas da graça" 
Entro na procissão, já pelas 17:05 m e o santo no andor já passou lá ao fundo a Sé...
A fé não escolhe religiões nem designações e deixa os seus rastos nos cabelos e suas ondulações
Panos coloridos que descem do alto e assinalam as bençãos dos céus sobre os peregrinos e também o desejo dos moradores que algo chegue até eles... Quem discernirá do que foram eles bandeiras?
Alfama dos clubes e casas de fados, tasquinhos e vielas, revisitado e abençoado anualmente por Santo Antonio e os seus devotos, amigos e amigas, ou mesmo discípulos e discípulas...

Largo do Espírito Santo. Quantos o terão invocado,s entido, amaddo durante a procissão?
Gente provavelmente do PAN trouxe os bichinhos para assistir à procissão e portram-se bem...
Segundo S. Antonio a alma está sempre em movimento e é ela que move o corpo, e para isso entra dentro de si no coração, discute e cogita e por fim determina-se....

Um tronozinho do Santo António, quando popularmente se construiam presépios ao santo Antoninho...

Qu restos de legendas escorrem pelo belo pana que se derrama da janela de casa tão antiga?
Toda uma dança ou ginástica das auras, ora comprimidas ora alargadas, ora ao sol ora à sombra, ora orando ora se admirando...

Rua da Adiça, vestígios da presença islâmica em Lisboa, pois provem do árabe ad-diça e significava as gramineas que alimentavam os cavalos. Boas memórias para cogitarmos melhor a nossa missão universalista e ecuménica, para contrabalançar tanto extremismo e inépcia do imperialismo do Ocidente, ou melhor dos norte-americanos e da sua seguidora UE, causadores e até apoiantes disfarçados do terrosrismo e fundamentalismo árabe e sunita, mais do que islâmico.



Olhares e almas ao alto, ou da aspiração ao sagrado e ao Divino que bem podia ser mais trabalhada...
O Arcanjo Miguel pesa as nossas tendencias e forças e está sempre a perguntar-nos quem ou o que é como Deus?
Assim nos ajuda a procurarmos sentir mais a comunhão divina no nosso interior, trazendo ao de cima o estado espiritual ou angélico...
Cada igreja, templo, mesquita ou santuário tem pelo menos um anjo, e este aqui sinaliza-o
As nuvens e as gaivotas, tal como os Anjos, voam, pairam ou observam do Alto
Arroz integral e biológico, que abençoa pela graça da santa Beatrice, a guia no Paraíso de Dante?

As janelas que se abrem sobre os largos das igrejas e as almas que das janelas olham e partilham o seu ser


Das almas devotas e discretas, místicas e com o dom das lágrimas... 
Certamente uma das almas mais místicas que participaram na procissão, ainda que contemplativa e lacrimosamente...

Crianças que são trazidas à correnteza processional, e embora o andor do snato já tenha passado, talvez algumas das energias da procissão e das pessoas cheguem até ele e o fadam com alguma sensibilidade espiritual maior...
Olhos já marejadosn de memórias e experiências, mas que consciência terão do seu corpo espiritual e da vida post mortem?

Escadas que sobem e que descem, varandas e candeeiros, ou como tudo nos ilumina ou obscureve, faz descer ou subir...

Restos das hortas lisboetas e dos manjericos às janelas das casas e das almas...
Algumas rectas imensas, energias orantes e irradiantes que poderiam ser mais bem intensificadas e irradiadas..

O campo que entra na cidade e a devoção bem armada fazem com que a alma ganha esperança verde e a pureza divina branca

Numa rua já mais avançada mas paralela o santo é entrevisto e numa breve corrida por uma viela com saida chegámos finalmente a ele. os sinais indicam-nos que a prioridade no trânsito divino é o de subir, uma regra válida para ou em todos os caminhos...
Ecce Homo, Eis o santo, e o menino, aureolas e coroas, calmos e impassíveis, por entre os lírios e o azulejos...
O sempre belo e sacralizante pálio, quem sabe fazendo lembrar bandeiras ao vento, sombras benignas, e sob ele a reliquia do santo, o bispo que a leva e os devotos que a desfrutam, quem sabe estabelecendo ou intensificando raios subtis entre os mundos e os estados de ser...
Grandes simbioses de almas tão diversas acontecem nestas procissões sob o signo da invocação do mais sagrado, o Espírito unico e santo da fraternidade...
Santo, santo, santo, vestes gloriosas das auras ou almas ligadas à Luz divina...

Da santa relíquia Antonina e das guardas de honra e do cimo de cabeça que devia arder com o fogo da presença do espírito


Estreito é o caminho, mas com amor e fraternidade, todos cabem e se entreajudam...

O pálio é sempre um sinal do céu descido ou aberto na terra...
Talvez a música pudesse ser mais bem utilizada, para ser verdadeiramente tanto um apelo como um vaso ou Graal em si e nos corações dos participantes...
Como as árvores humanizam as cidades e como Lisboa as devia ter muito mais...
Nomes de ruas medievais que nos fazem recuar aos tempos dos frades e letrados, humanistas e poetas...

Resistir a tendência de betonização da cidade, exclama a língua ou relíquia da alma do Santo, mas talvez seja pregar a peixes
Subir as colinas ou mesmo a montnha da vida rumo ao Sol Divino do Amor-Sabedoria é nosso destino e missão...

Ondulações e cores, almas e flores, geomorfismos  maravilhosos que a Humanidade deveria aprofundar e bem mais cultivar

Das entidades oficiais quantos caminharão verdadeiramente na senda do Santo?
Eis-nos ao lado do santo, bem florido, sob o céu iluminado e enubelado...
A alma que vive diante de Deus, vive num jardim paradisiaco, escreveu S. António no seus sermões
O jovem escuteiro de guarda de honra ao santo e as entidades oficiais...


Aproximar-nos do santo ou do Divino, ou como costumava dizer Erasmo, tornar-nos vizinhos de Deus (no seu "Modo de Orar a Deus", que eu publiquei) é uma arte, ascese e iluminação que exige a persistência meditativa e a graça do Alto 
Almas emocionadas, ou as catarses (purificações) que unem a alma ao espírito e ao Divino

Entre a variedade de opiniões e olhares, doutrinas e posições, procura sempre a Verdade,

Largo do alto de Santa Catarina, os pendões da Gloria in excelsis e paz na terra às almas que a querem e merecem...


S. Vicente contempla a procissão que o leva. Através de que estátua estava ele mais presente ou mais irradiativo, e que energias consegui ela fazer chegar às almas dos devotos?
Atrás dos dois jovens de amarelo, duas irmãs com quem dialoguei e que se lamentavam por haver menos ocasião de devoção e unção, dada a multidão, nesta procissão do que na do Corpo de Deus...



O Santo e o Menino, numa bela imagem limpa de acessórios estranhos, as auréolas bem harmonizdas com a copa aurica da árvore...
Da Ordem de Malta e dos estandartes ao vento do Espírito, assim saibam as nossas almas arder ao Divino...
S. Joao de Baptista, das festas juninas mais fortes no Porto...


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O Arcanjo Mikael parece pronto a desferir o seu voo junto ao miradouro de S. Catarina, talvez já um pouco cansado de tanto tempo num andor... Ou da actividade que nós damos aos nossos anjos da Gurada com mais ou menos orações intercessorias pelo saúde de alguns ou da paz no tão martirizado Médio Oriente, e por muita culpa dos USA e da União Europeia 

O sagrado coração de Jesus, muito sangra ele com tanta maldade no mundo e em especial na Terra Santa e no Médio Oriente... Oremos...
Jarros abertos ao psicopompo, o espírito celestial que conduz as almas aos níveis mais elevados que elas podem após o desencarnar do corpo fisico...
Uma igreja bem poderosa e sagrada no alto do miradouro de S. Catarina, e dois dois mais fortes icones da Cristandade...
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S. Miguel Arcanjo aos ombros das mulheres, talvez quem mais se lembre dele e o cultue....
Estandartes flamejantes, ou do sagrado coração de Jesus, Maria e de cada um de nós, quando vibra, irradia, ama e faz o bem...
S. Vicente levado nas ondulações, entre a cidade terrena, o rio da vida e o céu divino...
A aura coroada  pelo resplandor, na Pérsia ou Irão denominado pelos místicos Xvarnath, a luz da Glória ou da claridade, eixo que nos liga com as nuvens, os céus e a Divindade...
Caminhar com a pena e o livro, a acção e o registo anímico, eis uma missão de santificação ou plenificação que nos cabe a todos, na esteira deste santo protector da urbe e suas gentes...

Uma das orações, apelos ou jaculatórias talvez mais fáceis de serem ditas, desejadas, realizadas, aqui bem associada ao coração: reino ou estado predominante de amor, de generosidade, de coragem... 
O antigo Limoeiro transformado em centro de estudos, ou como a educação deveria melhorar muito o mundo e vencer as industrias da morte e as causas das prisões...
Almas puras e devotas, capazes de carregarem as dificuldades da vida como sacrifícios (sacrum - facere, fazer sagrado) oferecidos à Divindade, aos santos, à evolução da Humanidade, às almas mais necessitadas...

Da Ìndia que passa também por Portugal, ou dos laços amorosos e compassivos que unem povos, almas e tradições, tarefa universalista esta que Portugal sempre teve na sua grande alma...


Da missão universal ou quinto imperial de Portugal...

Algumas almas devotas trouxeram pétalas de rosas perfumadas para espargir o santo na sua estátua, quem sabe ungidas por orações, pedidos ou lágrimas...
Velhas guardas de almas já calejadas nos rosários e ladainhas antecedem e abrem caminho para o Santo...

Junto à Sé, no tempo de S. António ainda em transformação de mesquita para templo cristão, a multidão faz lembrar a desse tempo quando mouros, judeus e cristãos conviviam e obriga-nos a sermos mais ecuménicos e dialogantes com todas religiões...



O Santo e o menino, ou a aspiração humana e a graça Divina, a terra e o ceu unidos pela alta torre da aspiração e do amor...




Uma feliz imagem do Santo e a criança Divina...

Cruzes e jarros flamejantes sinalizam ao alto a nossa aspiração ignea a comungar mais com o Amor- sabedoria divina, o Logos, que sustenta a terra e os céus...





Uma bela imagem do diálogo entre Santo António e o ser divino... Quem sabe se ele o esteve fazer durante toda a procissão e ninguem na multidão se apercebeu disso?

Uma guia bem desperta e alinhada, guarda de honra do santo...
A guarda de honra, dos escuteiros e guias e depois das entidades oficiais

A doçura da contemplação, proveniente da dilatação ou mesmo sublevção da mente foi ensinada por S. Antonio no caminho da realização espiritual, aconselhando-nos pois a contemplarmos o Espírito Divino, ou a sua manifestação em Jesus, e nela colhermos a intensificação do afecto e a expansão da consciência...
O súbito voo das gaivotas,  sobre a procissão, sinais dos céus, o espírito sopra quando quer e nõa sabemos de onde vem e até onde vai...
A via estreita da terra deve-nos fazer aspirar mais ao Espírito e ao Amor Divino...
Das árvores e jardins que nas cidades são ainda reflexos dos níveis paradisiacos ou mais harmoniosos do Cosmos, e que no centro da cruz dos quatro elementos se manifestam mais como quintaessencia espiritual, no ser humano seu peito e coração espiritual... 
Vários icones bem sagrados de Lisboa, espargem com o perfume das flores e do bom incenso que ardeu durante toda a procissão bons eflúvios para todos os planos e seres do Universo, e certamente para o Divino Ser... Om, Amen...
da luz e da sombra nos seres e da necessidade das purificações e iluminações...
Adveniat Regnum Tuum Sancte Spiritus
Bela copa abençoando também os peregrinos da procissão. E quem saberá que espiritos da Natureza nela habitam, sempre indefesas vítimas da Câmara e das Juntas de Freguesia e empresas da pode das árvores, que estão frequentemente a dizimá-las, como recentemente sucedeu a uma centenária no jardim junto à Assembleia da República, ou aos plátanos junto à prisão de Monsanto...


A busca do registo do espectáculo, do sagrado, do miraculoso,  por vezes fica na acumulação de memórias externas e não no disco da alma central...
A procissão torna a passar na igreja de S. António e ponto inicial e vai até à Sé, a escassa centena de metros.


A fé vem do coração e é uma vontade de ver, um querer a vários níveis...

A escadaria da igreja do Santo está cheia de Fiéis do Amor da casa dele e aguardam pacientemente pelo seu regresso ao lar doce lar...
Batidos pelo sopro do vento ou do espírito, os últimos pendões ou estandartes das confrarias religiosas recolhem-se à grande casa-mãe lisboeta, a Sé.
O Adro da Sé vai começando a receber os religiosos e os icones...

Raios do Sol, que banham o Santo que conseguia transportar-se a uma velocidade maior que a luz, podendo ser visto em mais doq ue um local simultaneamente, algo que hoje os modernos paradigmas proporcionados pela física quânica já admitem como possível... 
Ora pro nobis, ou inspira-nos e guia-nos...
Nos seus ensinamentos S. António considera que o corção do ser humano não deve inchar pela sobreba nem comprimir-se pela avareza, mas ser redondo pela perfeição da consciência que a vida virtuosa gera...
O arcanjo Mikael pesa o bem e o mal das almas e em nós é o estado arcangélico o que consegue discernir o bem e o mal e agor correcta ou sabiamente, logoicamente ou cristicamente mesmo, se pode dizer...


Um arcebispo estrangeiro pronuncia algumas palavras simples...
Na fé, na imaginação e no subconsciente das pessoas há sempre a esperança de um raio de luz, de um milagre acontecer...
A grande rosácea de 12 raios aberta ao Sol poente, onde a luz do sol diariamente morre, para de novo ressucitar, é um símbolo sempre útil de se meditar...
Que as forças Mikaelicas do destemor e do amor a Deus estejam sempre vivas em nós...
Coube a um frade franciscano mais elavado na hierarquia a pregação final, com força e simplicidade...



Um último esforço, e o pesado pálio que protegia a relíquia e o bispo irá ser deixado na sacristia-museu da Sé.
A reliquia regressa ao busto metálico do Santo que a alberga... Que forças, com que frequência e para quem os raios abençoantes terão emanado dela ou do Santo? Deveria ter havido algum tempo de veneração e receptividade no fim da procissão? O meio minuto de silêncio final não deveria ter sido aumentado para cinco ou dez minutos e quem sabe até focado neste ponto?
Um belíssimo busto em bronze, certamente de um bom artista e inspirado. Um verdadeiro icone. Deveria ter sido mais trabalhado ou cultuado no final da cerimónia, qual Lausperene, ambora certamente seja subtil a diferença entre o culto reverencial e a adoração
"Amo, amo, amo, Amo através do coração pela fé e a devoção, amo através da língua pela verdade do que confesso, e amo através das mãos pelas pureza das obras", ensinou-nos Santo António...
S. Miguel de rosa na mão, é de Portugal uma nova versão...
Uma gárgula bem medieval, espreita-nos lá do alto, lembrando-nos de Victor Hugo e a Notre Dame de Paris, e todo o  seu imaginário encantado, sob nuvens de formas sugestivas
Após uns 30 segundos de silêncio, estatuidos e pedidos pelo sacerdote, o que foi muito pouco, diremos mesmo quase um certo desperdício de um momento e de uma multidão irmanada na mesma fé e que poderia  interiorizar-se e sentir mais o Divino num silêncio mais prolongado, um coro prepara-se para finalizar...
Começar a descer por entre os olhares ora da fé e do respeito, ora da admiração e curiosidade
A fé e devoção dos alfacinhas por S. António desafia e suplanta as idades e os séculos
Espirais nos cabelos e nas almas que se evolam para o céu, seja da cabeça ou do coração, ou do trabalho no corpo espiritual nas procissões-pereginações...
Santas almas, quantas mais bem trabalhadas não poderiam intensificar bem a sua auto-consciência espiritual...
Eixo central e despedida final, com o apoio mutuo das almas que se amam a sinalizar a Unidade sempre a ser demandada...
Das feiras e mercados populares...



A Igreja de santo António no dia do seu maior brilho... Terão estado cá mais anjos, ou almas franciscanas, ou mesmo santo Antonio a abençoar ou a inspirar algum devoto ou mais necessitado?
"Deus sendo amor-caridade, bom e justo, manso e misericordioso, simples e imutável, sábio e virtuoso, doce e suave, o ser humano reflecte estes seus atributos" e eis todo um programa diário e de vida que  Santo António nos lega ou nos inicia...