domingo, 19 de abril de 2015

Não ao Tratado Transatlântico, TTIP. Largo do Carmo, 18/4/2015.


        Não ao Tratado Transatlântico, TTIP. Largo do Carmo, 18/4/2015. O Planeta não tem donos e ainda por cima ineptos, anti-ecológicos e desumanos...

            Que políticos são estes que estão a vender-se, se assinarem o Tratado, sacrificando o futuro dos portugueses?
Com um vídeo de 10 minutos: 
Esta cadela, muito sensível e inteligente, foi sem dúvida um dos símbolos ou estrelas da manifestação, partilhando a sua vivência de que para se ser dono é preciso ter muito amor e espírito de serviço e que não devemos deixar que nos ponham uma trela que nos levará para a doença e o sofrimento.
Os sucessivos oradores cumpriram com bastante qualidade  tarefa, seja de denunciarem, seja de clarificarem, seja de passarem a sua força e esperança...

Mesmo diante do quartel do Carmo e dos cravos do 25 de Abril, novos revolucionários passam palavra de novas lutas contra novas opressões...
Uma revista de alternativa ecológica e político-social pouco conhecida mas valiosa...
Uma cadela abandonada, que encontrou um bom dono... Uma boa analogia para não deixarmos que os chamados donos do mundo não continuem a explorar a humanidade. Ou que a cadelinha portuguesa não seja explorada e oprimida pela desgovernança partidária e presidencial anti-portuguesa...
Sinais artísticos antigos da ligação entre a terra e o céu e consequentemente da circulação da água misericordiosa e frutifera para todos... Agora, até a água está a ser privatizada e encarecida, quase todas as fontes e chafarizes públicos fechados e o presidente da marca de chocolates que já não podemos comprar, a Nestlé, veio defender que a água tem de ser apenas deles, já que vendem milhões de garrafinhas de plástico poluidor com ela...
A contestação à mafiosa e criminosa Monsanto, com os seus pesticidas mortíferos e os transgénicos, através da Stop Monsanto Portugal esteve presente. E brevemente, a 24 de Maio, será o grande dia da manifestação mundial contra tal entidade poluidora e destruidora da Nossa Gaia ou Dona Terra...
Uma activista oradora com bastante pathos que passou a mensagem da resistência e luta...
Assinar contra a violência policial e contra o racismo, cheques em branco que todos devemos passar...
Um dos oradores, incisivos, denunciando o desmantelamento da defesa da saúde pública que resultaria do Tratadi por via da entrada de todo o lixo agroquimico letal norte-americano...
Assistência ou manifestantes predominantemente jovens, a mostrarem que  há gente com valores e projectos valiosos...
Uma centena de pessoas, poucas mas boas...
Diálogo animado entre o Jorge Falcão, a Ligia Cruz e  um desenhador e dono da cadela mascote da concentração contra os donos da destruição da Terra e aos pucos de uma Humanidade sã, lúcida, independente...
A Lígia Cruz, de Veterinária, e o Jorge Falcão, de Direitos Humanos, triangulando com a cadela mascote da manifestação contra o malfadado TTIP, e após um diálogo valioso sobre a sensibilidade e a capacidade anímica ou telepática dos animais e dos seres humanos...
Fim da concentração contra o sinistro tratado que os dirigentes vendidos, ou então cegos ou alienados da UE e de Portugal estão  tentar  realizar... Os últimos Fiéis do Amor dialogam calma ou mesmo bucolicamente à sombra do arvoredo e do casario antigo de tão histórico local...
Projectos alternativos valiosos, e boas partilhas alimentares iluminram o Largo do Carmo e a Guarda Republicana...

Um príncipio e objectivo que a Monsanto, a Nestlé, e a exportação de alimentos trangénicos norte-americanos,  destestam...
Alimentos biológicos e preparados harmoniosamente estiveram disponíveis, quase como  festa ou bodo do Espírito Santo.

Os benefícios sociais que alguns políticos (um deles, e quem iria pensar, até nomeado no vídeo) "vendidos" ao imperialismo e à agroquimica norte-americana andam a tentar subrepticiamente pespegar nas pessoas e que são, como é costume na nossa praça política especialmente eleitoral, miragem hipócrita... 



sábado, 18 de abril de 2015

Ensinamentos de Antero de Quental. A ordem dos Mateiros, e a realização espiritual interior.

Antero de Quental, espírito imortal, em luz azulada...
  Se é no seu rico epistolário que encontramos os ensinamentos espirituais e éticos, filosóficos e morais, políticos e revolucionários que Antero mais quis transmitir aos seus amigos e leitores, certamente que na sua poesia e prosa os encontramos também, e desse todo desabrocham os sinais e indicações que nos ajudam a sentir as dúvidas e as lutas em que esteve envolvido, as realizações e as intuições conseguidas e a aperfeiçoarmos a nossa demanda de unificação e plenitude anímico-espiritual.
Nos seus Sonetos, a obra mais completada ou aperfeiçoada, consultando o exemplar onde uma arejada, elegante e espraiada letra reza «ao seu querido amigo António de Azevedo Castello Branco off. o autor», encontramos constantemente os sinais dessas batalhas e demandas de Verdade que caracterizam Antero, desde os que mostram a sua ânsia e esperança de amor, beleza e sensibilidade, até aos que partilham o seu enleio num certo desânimo, vazio e morte...
Relembremos a sua grande desilusão nos últimos meses de vida, aquando do Ultimato e da Liga Patriótica do Norte, com o país, os partidos e o governo que abafaram a reacção popular, deixando escrito,  em carta de 22-VI-1890: "O que se passou durante este Inverno é a prova mais cabal do estado de prostração do espírito público entre nós. Berrou-se muito e, afinal, chegaram as eleições, e toda a gente, movido cada qual por mesquinhos interesses, votou nos candidatos do Governo, Governo apoiado pela Inglaterra e que, nessa ocasião estava lançando a polícia sobre os que faziam manifestações patrióticas!" males que se foram repetindo ao longo dos tempos e até aos nossos dias...
Mas onde, em que aspectos, é que Antero de Quental poderia ter ido mais longe, seja em si ou por si, seja em acção grupal?  Onde é que Antero é mais hoje um mestre a ser pensado, ou seja, alguém com ensinamentos dignos de serem lidos e meditados, aprofundados e vividos? Que sugestões e impulsões nos pode dar ou suscitar? Em que aspectos mais importantes se insere na Tradição Espiritual Portuguesa?
Tais questões são bem vastas e tentaremos apenas apresentar duas ou três linhas de força bem patentes.
É significativo ser natural duma ilha dos Açores e da família do Padre Bartolomeu de Quental, um escritor e moralista de grande fama, com alguma atracção pela mística e que andou a educar com santas histórias e exempla centenas e milhares de pessoas, sobretudo nas reedições dos seus best-sellers, terminando, contudo ou assim, os últimos anos mentalmente  como uma criança. E era neto do poeta e ousado pensador André da Ponte do Quental e Câmara, o «amável amigo» de Bocage que lhe dedicou uma ode e uma quadra que Antero leu e da qual certos ensinamentos colheu e que de algum modo parafraseou numa das suas poesia iniciais...
Antero jovem, querendo vencer os atavismos nacionais
Será tendo em conta essa rica vis hereditária que Antero lançará e se embrenhará corajosamente pelas vias românticas e amorosas e depois revolucionárias e socialistas seguindo-se as espectrais e fabulosas do negativo, do inconsciente, do não-ser e do Budismo, por fim transformados tanto num Helenismo coroado pelo Budismo como num panpsiquismo eo  «mais completo espiritualismo» de ordem sobretudo ética e moral e de coincidência entre o saber e o ser, como atesta a sua última obra Tendências Gerais do Pensamento Filosófico na segunda metade do séc. XIX.
Cortou contudo voluntariamente os seus sofrimentos psicosomáticos e os conflitos da desadaptação a uma sociedade dominada por uma predominância egoísta e insensível, ao extinguir voluntariamente em 11 de Setembro de 1891, tal como um samurai, o seu corpo-alma bastante depauperado, envelhecido e desiludido, embora super-sensível, aliás esta última faceta  intimamente ligada com a sua alma-espírito...
Mas como estaria ela no momento da morte, e para onde foi projectada e com que consciência, será sempre um mistério...
Passados estes anos poderemos pensar e intuir onde e como estará este filósofo idealista da Justiça e místico pesquisador da Verdade e que era também quase um santo, como foi chamado por dois ou três dos seus seres mais íntimos, pelo seu amor e o altruísmo?
Certamente, mas apenas em experiências interiores que dificilmente se podem comunicar ou publicitar e talvez no estoicismo e sobriedade de vida...
Que duas ou três linhas de força deveremos então realçar dele e  dos seus ensinamentos e vida, que sejam utéis à nossa evolução e à da Humanidade, à nossa passagem pelo plano terrestre e continuidade no além?
Entre os muitos aspectos e pensamentos, e é um trabalho que ainda muitos frutos têm a  dar, pois muitos dos que o comentaram fizeram-no debaixo de perspectivas materialistas, meramente psicológicas e católicas, sem terem em conta a sua qualidade de ser espiritual, relembraria primeiro um aspecto valioso e que para a maior parte das pessoas e até anterianos é de somenos importância, sendo quase desconhecido: a Ordem dos Mateiros, a ordem de contemplativos vivendo numa mata ou bosques, a sua ordem espiritual ideal, o seu “eremitério de S. Columbano”, que Eça de Queirós refere (desenvolvidamente e donde retiramos por um extracto) no seu contributo para o In-Memoriam de Antero, «Antero pensava que uma forte reacção espiritualista e afectiva se seguiria à materialidade deste duro século utilitário e mercenário; - e, rindo, relembrou a sua antiga ideia, a fundação da Ordem dos Mateiros. Estes monges do idealismo, teriam por missão reconstituir , em toda a sua beleza e dignidades primitivas, a vida rural, a mais elevada, porque imolando toda a civilização sumptuária, e portanto todos os apetites, e paixões e necessidades falsas que dela derivam, e reclamando a cada bocado de terra o seu bocado de pão, conquista socialmente a verdadeira liberdade, e através dela se prepara a atingir espiritualmente a verdadeira perfeição»...
 Por Antero, da Ordem dos Mateiros, só ficou uma referência expressa, numa carta de Vila de Conde, não datada, mas provavelmente após 1886, a Joaquim Gonçalves:«Mas os versos que eu quisera fazer só se farão daqui a duzentos ou trezentos anos, nalgum convento da Ordem dos Mateiros, que alguém mais feliz que eu conseguirá fundar».
Um sonho de forças anímicas portuguesas bem agrupadas e que passou depois a Fernando Pessoa mas não foi realizado (ficando várias fragmentos com tais projectos), e que perpassou ainda nos diálogos do genial Leonardo Coimbra, nos quais participaram entre outros Sant'Anna Dionísio, Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva, este por fim dando-lhe de novo forte impulso mas que não foi consolidado, alargado e cumprido como se antevia, devido a intervenções exteriores, nomeadamente do então ministro da Educação Roberto Carneiro, que desviou e acabou com o seu Fundo do Bem Comum del Rei Dom Dinis que se destinava exactamente a apoiar experiências comunitárias ou  conventos do Bem Comum.
Hoje em dia este psicomorfismo de um grupo ou ordem espiritual encontra-se visível em certos aspectos em algumas comunidades, associações, tertúlias e ordens, ora culturais ora esotéricas,  muitas vezes porém demasiado superficiais ou comerciais, e raramente implementando bem a harmonia entre a Terra e o Céu, o discurso e a Verdade, a multiplicidade e a Unidade, a partir de uma realização espiritual interior e de uma vida harmoniosa, justa e corajosa.
Certamente que tais ordens ou pequenos cosmos mais harmoniosos houve-os e os há também dentro das religiões, em especial na Índia e no Extremo Oriente, com os seus ashrams e viharas, mosteiros e jinjas, Oriente este do qual aliás o próprio Antero não andou distante não só pelo seu grande interesse pelos Vedas, a literatura Persa e o Budismo, mas também porque admitira até numa carta de 1886: 
Para onde irei? Ignoro; talvez daqui até lá, indague dum emprego para a Índia, para Goa ou Macau, países onde a vida moderna não deve ostentar-se em muito excessivo luxo de seu vermelho sangue burguês e gordura de banalidade, como acontece nesta Europa soesmente comodista, esta Cartago sem Moloch - mas com muitos mercenários”, descrição talvez ainda hoje mais verdadeira...
O dito “o meu reino não é deste mundo”, que ele glossava e viveu de certo modo nas suas peregrinações e experiências, é cada vez mais real, pois a Idade de Ouro ou V Império sonhado por alguns é claramente uma utopia impossível exteriormente, apenas contando e surgindo como realização individual interior, partilhada, vivida ou sentida por uns poucos ou pequenos grupos, dentro da linha expressa aliás por Jesus quando afirmou «onde dois ou três se reunirem em meu nome, eu (o Espírito) estarei no meio deles», certamente podendo eles sentirem então mais naturalmente o mundo espiritual e divino que a todos perpassa...
Ordem dos Mateiros da qual se falará pouco, umas linhas aqui e acolá, nas referências leves de alguns comentadores posteriores, como Faria e Maia, Jaime de Magalhães Lima e Fidelino de Figueiredo (neste mais desenvolvidamente, sugerindo três virtudes nos que militassem na Ordem dos Mateiros: "firmeza, paciência e esquecimento, colunas do convívio pacífico dos homens"), mas que continua a ser uma seta iluminada, um arquétipo de sábios em estudo e diálogo, como ele conseguira por vezes nas conversas peripatéticas na Natureza ou junto à orla do Oceano, com alguns dos seus amigos, e nas cartas em que dava conta dos seus esforços na descoberta do paradigma filosófico espiritual a que tanto aspirava mas para o qual já poucas forças realizadoras sentia para descrevê-lo sistematizadamente.
E em segundo lugar ou linha de força, a realização interior espiritual, concomitante à descoberta da doutrina mística definitiva, dentro da realidade e com sólidos alicerces, numa síntese que conciliaria o naturalismo científico e a metafísica, afirmando por exemplo que “se pode pela aprofundação da natureza humana (e por analogia invencível, de toda a natureza) chegar ao mais completo espiritualismo, a um panpsiquismo que se acomoda perfeitamente, ou antes harmoniza necessariamente, com o materialismo, e ainda o materialismo das ciências naturais... chegar teoricamente até aquela profundidade de compreensão do “Homem interior,” como eles diziam, a que os místicos chegaram”.
"Homem interior", que já vinha dos Persas e Gregos mas era aqui referência sobretudo dos místicos do norte da Europa medievais e que Antero lia e apreciava, nomeadamente essa obrazinha intitulada Theologia Germanica que ele possuía na cabeceira e lia.
   Ora há muitos sinais que Antero de Quental intuiu e sentiu esse Homem Interior, essa voz de consciência, essa iluminação, e que a pressentiu e a realizou mesmo de quando em quando.
Tentando ver e sentir para além do bem e do mal...
Oiçamo-lo então em algumas cartas falando da realização espiritual: a Ferreira Deusdado, de 7-IX-1888, escrita em Vila do Conde, é bem valiosa, pois após realçar  "a aliança do Kantismo com o espiritualismo", afirma: " O espírito humano não é um fragmento truncado e incompreensível ou uma coisa à parte isolada no meio do Universo, mas sim um elemento fundamental dele e a mais alta potência e expressão da sua essência (...)
A metafísica e o espiritualismo só poderão ser destruídos quando ao mesmo tempo forem abolidos a razão e a consciência humana. Em conclusão, dou-lhe parabéns pela lúcida direcção do seu pensamento, tal qual o seu livro, pela prudência e segurança do seu método, e, finalmente, pela simplicidade desprentiosa da sua exposição.  E termino agradecendo a oferta e o proveito que me proporcionou com aquela leitura, e a consolação que senti ao ver que no meio do deplorável amesquinhamento, a que assistimos "há ainda perfumes em Galaad"»
Oiçamos ainda o que ele nos diz numa carta enviada ao poeta e peregrino, natural da Índia, Fernando Leal, seu grande amigo:
"É bom, é até necessário passar pelo Pessimismo, mas não se deve ficar nele por muito tempo. O Pessimismo não é um ponto de chegada, mas um caminho. É a síntese das negações na esfera da natureza, a luz implacável caída sobre o acervo de ilusões das coisas naturais. Mas, para além da natureza, ou, se quiser, escondido, envolvido no mais íntimo dela, está o mundo moral, que é o verdadeiro mundo, ao qual a harmonia, a liberdade e o optimismo são tão inerentes como ao outro a luta cega, a fatalidade e o pessimismo. Afinal, não vivemos verdadeiramente senão na proporção do que partilhamos desse mundo íntimo e perfeito, ou, mais exactamente, da parte dele que desentranhamos de nós mesmos e fixamos nos nossos pensamentos, nos nossos sentimentos e nos nossos actos. Já vê que a existência tem um fim, uma razão de ser, e o Fernando, embora diga sinceramente o contrário, no fundo não o crê. Lá no fundo do seu coração há uma voz humilde, mas que nada faz calar, a protestar, a dizer-lhe que há alguma coisa porque se existe e porque vale a pena existir. Escute essa voz: provoque-a, familiarize-se com ela,e verá como cada vez mais se lhe torna perceptível, cada vez fala mais alto, ao ponto de não a ouvir senão a ela e de o rumor do mundo, por ela abafado, não lhe chegar já senão como um zumbido, um murmúrio, de que até se duvida se terá verdadeira realidade. Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho eterno, porque é a expressão da essência pura e última do homem, e até de todas as coisas, mas só no homem tornada consciente e dotada de voz. Ouça essa voz e não se entristeça.
E, para terminar imitando o delenda Carthago de Catão, repetir-lhe-ei: saia de Lisboa, e, se puder, case."
Anote-se, para finalizar, que Fernando Leal seguiu o conselho desta carta de Antero, enviada da tebaida de Vila de Conde em 1886, e regressou a Goa, casando-se com Maria Guiomar de Noronha, irmã da minha bisavó e que quase o adorava, embora a diferença de idades fosse de trinta anos. E que a expressão Evangelho Eterno remete para o conhecimento de Joaquim de Fiora, que lançou esta expressão e visão dinâmica da história e da possibilidade de constantes novas páginas de "anúncios de boas novas", Evangelho), inspiradas pelo Espírito santo, ou seja, a presença divina e criativa no ser humano.
Terminemos com a carta de 26-VIII-1899 a António Molarinho (1860-1890), e que se tornou prefácio do seu livro póstumo (1921) Lira Romântica, organizado por Adelaide Molarinho e Aristides Mendes (e que já desenvolvemos num artigo do blog), contém mais achegas para a compreensão do alto nível de espiritualidade, suprapessoal e ética, a que Antero de Quental intuía: «Creio que a virtude pode mais e é mais que a arte. E dura mais também: dura eternamente. As obras do bem, ligadas indissoluvelmente à substância do Universo, absorvidas, desde o momento da sua produção, para nunca mais saírem dele, vinculadas, pela cadeia duma casualidade superior, a todas as suas evoluções através dos tempos, dos espaços, dos mundos, vão aumentar o tesouro da energia espiritual das coisas fecundá-las nos seus mais íntimos recessos e, sempre presentes, sempre activas, eternizam, nessa sua perene influência, a alma donde uma vez saíram. O Universo só dura pelo bem que nele se produz. Esse bem é às vezes poesia e arte. Outras vezes é outra coisa. Mas no fundo é sempre o bem e tanto basta".  

 
                        "A Ideia, o sumo Bem, o Verbo, a Essência, 
                                           Só se revela aos homens e às nações  
                                           No céu incorruptível da Consciência".
 Saudemos Antero de Quental e, onde quer que a sua alma esteja, que o seu Espírito divino brilhe e irradie cada vez mais.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

De um dos Jasmins de Sintra e da sua alma, com um poema.

Ida a Sintra e comunhão com um Jasmim, 16-4-2015.

Jasmim que te despreendes profusamente tal como constelações de estrelas, que mistérios conténs em ti que tanto nos inspiras e enlaças?


Como levara para ler a Aulegrafia, de Jorge Ferreira de Vasconcelos, eis o poema escrito na página final dela e dedicado ao Jasmim.

Jasmim branco que me envolves
Com a tua aura perfumada e subtil,
que te posso oferecer em troca
que até à tua alma leve alegria?

Acaricio-te, limpo-te das flores secas,
Aspiro a tua fragrância em grandes haustos.
Que delícia, que suavidade me entranhas,
Toco-te ao de leve com todo meu amor.

Pés descalços sobre a terra, peito aberto ao Sol
Meu coração viro para o Sol irradiante,
Comungo contigo e a serra de Sintra
Neste horto do socalco bem aventurado.

Levo uma flor à boca e vai-se dissolvendo
em brancura entre dentes, língua e saliva
e contemplando os teus botões de rosa
também eu me ergo em flor de amor.

Ó Deus, ò Anjo, ò Espíritos da Natureza,
que me rodeais e luminosos sois,
que entre nós fluam raios de saude e beleza
harmonia, alegria e sabedoria,
e que na Unidade do coração sejamos Um.
Não sei como te caracterizar ou limitar pois, embora apenas uns metros ocupando o teu corpo,  a tua alma evola-se subtilmente e envolve-nos em ondas de alegria...
Quando te contemplamos com proximidade entramos no mistério das pétalas-estrelinhas de neve doce e suave feita à medida de todos, dançarinas de essências aromáticas que se insinuam no ar e nas almas que as sorvem delicadamente.
O ser que em ti se oculta apenas podemos suspeitar que de rendilhados perfumados se veste e  em cachos de estrelas ou pétalas seus cabelos derrama abençoando a terra e os que o aspiram...
Tomei-te nos dedos e vi que uma tríade tua cabia em proporção firme neles e senti o poder que une as mãos e os botões, as pétalas e os chakras, as almas e as flores, as emanações e as intenções, a Humanidade e a Divindade...
Tentarmos entrar dentro ou penetrar a selva ora nívea ora avermelhada é tomarmos consciência constante do potencial e do actual, do estar inteiro no presente e do intuir o desabrochar futurante
Esta convivência colorida e perfumada que os arbustos de flores têm em si manifestando em simultâneo todos os estágios dos seu crescimento, em harmonias  de botões e pétalas que nos convidam a participar ou a acariciar, é sem dúvida uma belo exemplo para nós humanos tão pouco preguiçosos para aceitar as diferenças, suavizar os sofrimentos ou dissipar as ignorâncias...
Ligando o céu e a terra, colunas do templo de Deus, as mulheres  e os homens, as árvores e as flores, o amado e amada, nós e  o Anjo-Mestre e a Divindade, assim seja hoje e sempre e que nas nossas almas o Jasmim suavize e irradie perenemente...

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Fórum "Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao «ACORDO ORTOGRÁFICO» de 1990!"

Fórum "Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao «ACORDO ORTOGRÁFICO» de 1990!"

No dia 14-5-2015, após um animado conjunto de intervenções de especialistas e estudantes da Língua Portuguesa, na Faculdade Letras de Lisboa, por esmagadora maioria dos presentes ao Fórum "Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao «ACORDO ORTOGRÁFICO» de 1990!" foi aprovado, no mundo da melhor intencionalidade portuguesa, a necessidade de um Referendo ao Acordo Ortográfico de 1990 e a urgência de se coordenarem esforços e resistência civil que levem à abolição de tal Acordo, desmascarado e criticado por vários intervenientes de vulto e seis estudantes. A outra proposta, que condenava também o acordo, visava que não se realizasse o Referendo, mas perdeu por maioria muito substancial.    
A mesa dos intervenientes principais, presidida por Cristina Pimentel, Teresa Cadete e Helena Buescu, tendo à sua direita António Feijó, o Vice-Reitor da Faculdade de Letras, o qual manifestou o seu completo repúdio do Acordo Ortográfico, desmascarando os seus contornos políticos, dando testemunho das suas acções contra o Acordo ao longo dos anos e reforçando a importância de um Referendo democrático a tal famigerado instrumento de descaracterização da língua Portuguesa.
Não tendo assitido às primeiras intervenções, esta com recurso a projecções, foi uma forte e fundamentada crítica à classe política "avestrúzica" que temos, da parte de um professor, à esquerda da mesa..
Uma das imagens elucidativas das "morronices" que estão por detrás do "Desacordo" Ortográfico, facultada pelo professor na Faculdade de Letras, num discurso bem e ironicamente fundamentado...Pode-se dizer que é mesmo uma injecção de anestesia mental que a classe política e alguns aderentes a este aborto recomendam e tentam impôr...

Não será que se devia pedir mais  integridade e coragem das figuras políticas mais importantes ou influentes e sobretudo dos  governantes ou dos candidatos a deputados e a Presidentes, face a situações tão caricatas como as do AO90 que, ao não ser assinado ou seguido nem por Angola, Moçambique e Brasil, deixa de ter o mínimo interesse? 
Uma boa intervenção de improviso do Nuno Pacheco, do Público, um dos poucos jornais que mantém a alma da língua Portuguesa pura...
Registos no anfiteatro 1, apinhado durante quase cerca de três horas...
Massajar os pontos vitais dos meridianos de acupuctura é  sempre uma prática adequada quando estamos muito tempo sentados...
Uma assistência de grande qualidade, as duas última filas de pé, sem arredar. Ao fundo o poeta Gastão Cruz prepara-se para ler o seu belo texto em defesa da Língua Portuguesa, terminando com um poema da revista Poesia 61 que não poderia ter nascido ao ser-lhe amputado o c.
A Luz da grande Alma Portuguesa descendo sobre nós...
Nesta Assembleia Geral via-se muita gente escutando atenta e inteligentemente, algo que raramente se verá na Assembleia da República, frequentemente mais dada à internet conforme tem sido noticiado 
Um jovem estudante do 12º dando o seu testemunho das vicissitudes nas aulas, com bastante qualidade, ao lado de Maria Filomena Molder, que elogiou e citou o testamento de Vasco Graça Moura contra o Acordo desortográfico, e fez uma incisiva e fundamentada crítica contra um historiador Paulo Pinto, seu defensor...
Na assistência um professor vindo expressamente de Coimbra e contestando a vontade ambiciosa quase imperialista que estava por detrás do Acordo, seguido do professor Fernando Paulo Baptista, autor de um valioso livro desmascarando o Acordo e os interesses que têm estado por detrás dele, e a Anália Cruz.
A interrogação e a preocupação espelha-se no rosto de muitos dos participantes perante uma das intervenções de quem quase impositivamente não queria o Referendo...
Cabeças e almas luminosas... 
Uma das intervenções, penso que de Pedro Mexia, sob o olhar de um sábio linguísta e grande crítico do Acordo, Fernando Paulo Baptista, com a amiga e poetisa Anália Cruz ao seu lado
Ricardo Araujo Pereira, numa curta mas bem irónica intervenção, vendo-se ainda as duas alunas, que intervieram também muito bem, destacando-se a crítica a este acordo visar pôr as pessoas a escreverem mais com a máquina e o corrector ortográfico, afastando-as da sensibilidade e alma da Língua Portuguesa...
Uma bibliotecária no final do seu testemunho vibrante e corajoso de fidelidade à Língua Portuguesa e disposta a tudo por ela...

Destaque ainda nas intervenções para as do professor da Faculdade de Letras Pedro Serra, excelente e com algum pathos retórico e humorista ("arquitetas"), as dos dois tradutores, Francisco Miguel Valadas e António Chagas Dias,  que desenharam bem o panorama e por vezes o drama do que se querem manter fora do "Desacordo", a muito incisiva e denunciante de Mário Sena Lopes, agente literário, a de  professora Maria de Carmo Vieira, notabilíssima, a de um professor de Matemática denunciando o aspecto político e opressivo do AO90, a do prof. Fernando Paulo Baptista, infelizmente bastante limitada pelo tempo da mesa e, finalmente, a de Ivo Miguel Barroso, muito activo contra o Acordo, nomeadamente nas várias páginas do Facebook , na qual leu para concluir o seguinte texto: 
O “Acordo Ortográfico” de 1990 (AO90) contradiz-se já na sua designação, porque nem é “Acordo” (válido apenas se ratificado por todos os estados de língua oficial portuguesa), nem “ortográfico” (pois prevê a existência de facultatividades – também chamadas duplas grafias -, levando por isso à destruição do conceito normativo de ortografia e da herança etimológica).
· Ao contrário do que tem sido propalado, o período de transição estabelecido para a implementação do AO90 termina em 22 de Setembro de 2016, e não em 13 de Maio de 2015.
· Após três anos e seis meses da sua imposição no sistema de ensino e na Administração Pública, os resultados estão à vista, traduzindo-se num conjunto extenso de arbitrariedades: corte das consoantes “c” e “p”, mesmo quando deveriam ser articuladas, em violação do próprio AO90; não utilização sistemática do hífen; confusão do pretérito perfeito com o presente, etc. O denominado AO90 falhou o seu autoproclamado objectivo: a unificação ortográfica das variantes do português.
· Que podem os cidadãos fazer, tendo em conta que constitui o seu pleno direito recusar uma ortografia resultante de uma economia da língua que viola o que é estabelecido na Constituição da República Portuguesa (CRP) (art.º 43.º, n.º 2), segundo a qual o Estado “não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes (…) estéticas, políticas, ideológicas”? Além do direito à objecção de consciência (art.º 41,º, n.º 6, da CRP), cabe-nos resistir activamente (art. 21.º da CRP) contra essas ilegalidades e inconstitucionalidades manifestas, bem como argumentar contra as falácias da “unificação” e simplificação, facilmente desmontáveis, conforme tem sido denunciado por diversos especialistas."




Estão disponíveis no youtube, canal Pedro Teixeira da Mota, registos de algumas das intervenções (bateria escassa), das quais seguem as ligações às primeiras


https://youtu.be/XYot2EDZJp0
https://youtu.be/SfBj3OoSH6A
https://youtu.be/v3Y8wDMKCDI
https://youtu.be/IbuZqos_gRM
https://youtu.be/R49HMVj8wP0
https://youtu.be/J-7yxHKYc4s
https://youtu.be/MHr_m1Y68R8
https://youtu.be/WH8vXNQRAnM
https://youtu.be/etTd-E6zSQA
https://youtu.be/NouGyRPX20M   Gastão Cruz.
https://youtu.be/NsXr4-ExR4s
http://youtu.be/4zNH1W9QsTA


Eu tenho em muito a [linguagem] Portuguesa, cuja gravidade, graça lacónia, e autorizada pronunciação nada deve à Latina, que [Lorenzo] Valla exalça mais que seu império.”  Jorge Ferreira de Vasconcelos, no prólogo à Eufrosina, Lisboa, 1555.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Antero de Quental e o poema "O Desterro dos Deuses", publicado por Rodrigues Veloso. E o seu regresso...

Quando Antero de Quental estudava em Coimbra e se inebriava na história longínqua da Humanidade e das suas religiões e mitos, mas também entusiasmando-se com o Socialismo e a Revolução, bebendo sobretudo em autores como Michelet, Quinet, Proudhon, Max Muller e outros, e sendo de estudos companheiro de António de Azeevedo Castelo Branco, Germano Meireles, Vasconcelos Abreu, Batalha Reis e Eça de Queiroz, podemos interrogar-nos como perspectivou ele a evolução da humanidade e sobretudo a história religiosa e cultural do Ocidente, e que intuições conseguiu ele desferir ou receber mais ou menos acertadas, por entre o cortejo de deuses, heróis e poetas antigos que a sua imaginação ardente e poética trabalhava e que mais tarde poemas, os Sonetos e alguns escritos testemunham.
Ora um poema pouco conhecido escrito em 1866, quando tinha 24 anos, para a revista conimbricense Instituto, já depois de ter publicado as Odes Modernas (1865) e de ter participado na Questão Coimbra, faz alguma luz e mostra-nos uma grande admiração e mitificação da época primordial da Humanidade, a sua denominada Idade de Ouro, desabrochando historicamente na Grécia mas depois subitamente obscurecida e apagada por uma estranha opressão que Antero não explicita ou nomeia mas que se pode deduzir ser o desenvolvimento do Império Romano e da Igreja Católica Romana. Antero de Quental, aliás, estava neste ano de 1866 a entrar na época de maior intervenção revolucionária, mudando-se para a Lisboa e iniciando a experiência de tipógrafo na Imprensa Nacional e antes de partir para Paris e conhecer melhor o meio vanguardista da época e as condições de ser um operário.
Esse anseio pela alma eterna da Humanidade, por esses génios e espíritos, essas vozes oraculares e divinas que inspiraram a Humanidade (nomeando ou referindo mais Diana e as Naiades, Homero e Orfeu) e que não morreram e estavam de novo a desabrochar impulsionando a Humanidade a reatar os momentos mais luminosos e harmoniosos da sua infância quando ela comungava com os deuses e mestres e toda a manifestação era vista como animada pelo Espírito, e as pedras e grutas, fontes e montanhas eram templos vivos dos deuses...
Há então neste poema de Antero de Quental, um veio quase clarividente e céltico do regresso de Orfeu e de Merlim, dos heróis, mestres e deuses que se sentem e se adivinham já como sombras, cantares suaves, presságios precursores e luz de alba em que a Humanidade estaria para entrar...
É um belo poema de Antero de Quental, pouco conhecido, dedicado ao seu grande amigo e companheiro jurista António de Azevedo Castelo Branco, e que foi visto em casa de um bibliófilo amigo, o dr. Fernando Tomás, de Algés, o qual me permitiu fotografar na bela edição da mítica Tipografia do Cávado, em Barcelos, realizada pelo seu devoto admirador Rodrigo Veloso, o qual salvou do olvido várias destas publicações dispersas do nosso santo Antero....
Saibamos trabalhar pela justiça e clarividência, pela vida harmoniosa com a Natureza e com a ligação ao mundo espiritual e os seus seres...
"Entre os lábios de Orpheu o canto augusto/ Gelou-se, e a extrema nota dissipou-se."
Uma das belas e profundas referências ao mestre encantator, e donde derivaram as poesias e a teologia Órfica, com os seus iniciados. "Morrer é ser iniciado", escreveráAntero mais tarde, ecoando esta tradição, que nos foi preservada na Antologia Grega Palatina...
Vestido de Luz, esteja e seja ainda mais Antero de Quental!...