terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Antero de Quental, os partidos e a revolução, visto por Sant'Anna Dionísio, na obra "A Sinceridade Política de Antero", 1949,


Sant’Anna Dionísio nasceu a 23-II-1902 no Porto e, formando-se em 1924 em Filologia Germânica na Faculdade de Letras do Porto, veio a tornar-se um notável e dinâmico pensador e escritor, professor e jornalista, tendo acolhido com profundidade o magistério de Leonardo Coimbra, de quem foi um dos principais e mais fiéis discípulos e divulgadores. O seu amor pela sabedoria, a cultura, a liberdade, a verdade e Portugal fê-lo gerar muitas obras até desencarnar em 5 de Maio de 1991, tendo eu ainda participado nas cerimónias fúnebres, pois convivera muito com ele na década de 80, com numerosos diálogos, palestras e almoços juntos, em sua casa, sob o olhar amoroso e lúcido de Leonardo Coimbra, pintado por Eduardo Malta...
Entre os pensadores que mais amou
destaca-se Antero de Quental  tendo escrito sobre ele: Antero, algumas notas sobre o seu drama e a sua cultura, 1934 (que António Sérgio utilizaria "sem vírgulas dobradas"), a Tentativa de definição do que talvez seja permitido chamar o fracasso de Antero, revista Seara Nova, nº 733-34, 1942, o Testamento Filosófico de Antero de Quental (antologia), com anotações, 1946, e A Sinceridade Política de Antero, 1949, este tenho sido acompanhado por uma polémica na revista Seara Nova.
E como as suas obras são raras de se encontrar, eis as páginas iniciais do último livrinho (in-8º de 80 páginas), sobre a sinceridade ou autenticidade da singularidade política e moral de Antero, escrito, como dissemos,  em  polémica com Manuel Mendes e Fernando Piteira, que puseram em causa tal valor e atacaram tanto Antero de Quental como Leonardo Coimbra e Sant'Anna Dionísio...
Reproduzimos parte da obra, sobretudo para os Anterianos e, no Facebook, para os amigos e amigas da página "Antero de Quental, escritor".
Destaquemos, além da fina e tão sensível compreensão psíquica de Antero de Quental expressa por Sant'Anna, a actualidade de algumas ilações, críticas e propostas de ambos, nomeadamente quanto à formação de grupos ou partidos, à transformação interior e exterior e ao valor da independência moral, filosófica e política...
Capa da obra, edição de autor. Sant'Anna Dionísio conservava exemplares de algumas das suas obra e pus alguns à venda no restaurante Suribachi, da Maria Arminda, onde organizei uma conferência com ele e a Dalila Pereira da Costa.
Dedicatória: "Ao Pedro Mota, como singela lembrança de uma boa quadra de convívios em grande parte anterianos, oferece Sant'Anna Dionísio," sem dúvida um filósofo na linha estóica e pitagórica, com bastante de maiêutica, ou diálogo interrogativo, como o mestre de Platão ensinara. A sua compreensão de Antero era funda, e diríamos mesmo que uma mesma linha passava por Antero, Leonardo e Sant'Anna, a dos ardentes interrogantes da Verdade, combativos em tal demanda mental, social e espiritual.
Foi Antero o grande espírito, sincero, transparente, inteiriço?
«A labareda fugaz da Liga Patriótica do Norte...»





«No meio desta impressionante consagração do Artista e do Homem, do homem de ideias e de acção, do asceta e do interventor, do poeta e do filósofo - para tudo dizer, do Homem que fez da sua vida um voto de interrogação sobre o valor da vida e o viveu em consequência.



«Um homem unanimemente considerado como um valor espiritual e moral de importância...»



«A nossa ideia é a seguinte: constituir grupos autónomos com um programa comum, independente de todos os partidos políticos»...

Do lento melhoramento íntimo de todos...


«o génio profético do pensamento de uma futura revolução mais coerente e lúcida...», continua sempre vivo, a apelar a todos...

Batalha Reis, no In Memoriam de Antero: «o Povo, a massa das classes dirigidas, foi sempre para ele, o único, o misterioso mas verdadeiro herói da História, entidade colectiva, mas orgânica e individual, que criara os Mitos, as Religiões, as Artes, as Epopeias e que, de tempos a tempos, em momentos fatais de crise, providencial e inconscientemente, substituía os Códigos e iluminava o mundo com revoluções férteis...»

«Consumi muita actividade e algum talento, merecedor de melhor emprego...»


  Como homem de acção, a nossa divisa é esta: crítica e reforma das instituições; paz e tolerância aos homens»

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