domingo, 17 de agosto de 2014

Post-modern Islamic art in Portugal. An exhibition by Margarida Sardinha at Ericeira. Presentation text of Pedro Teixeira da Mota.

              
Post-modern Islamic art in Portugal. Margarida Sardinha exposition by Gallery Helder Alafaiate, at the House of Culture in Ericeira, a most beautiful traditional village on the west coast of Portugal. Inauguration on 16 August 2014. Text for the catalogue by Pedro Teixeira da Mota:

Allah is the Light of the heavens and the earth. The similitude of His Light is as a niche wherein is a lamp, in a crystal glass, shining like a star.” – 24:35. Surate, The Light.


Islamic art of mosques and shrines, palaces and houses, paintings and drawings is basically sacred and sacralising, i.e. is based and invites us to utter the sacred words, to feel the sacred feelings, to meditate the attributes of the Divine and therefore tends to involve the human in a much wider dimension in which through seeing, feeling, reciting and meditating the concrete and personal are related and united with the archetypal and spiritual worlds and the Divine.
Thus Islamic art developed from the Qur’an, and afterwards from the actual sensitivities of each people or artist, and as is still today rooted in primordial origins unleashes flights of unusual and unprecedented postmodern creativity, such as Margarida Sardinha presents today.
Surely the primordiality of Islamic art, which is so touching to us, recedes beyond the Qur’an and its own specific mathematics, geometries and architectures towards the spirit-world with all its archetypes being intuited and evoked by the artists of different peoples and traditions. Thus, establishing the large circumambulatory movement from the macrocosms to the microcosms, the artists are alchemists, as they condense the philosophical matter by making visible the wonders of the spiritual and divine worlds, and so they purify us and raise us with all this energies and messages.
In the same manner portals open up so that we can reverse the movement into the downward descent, which was the creation or manifestation, and we thankfully return to these subtle worlds, we return to that primordial Oneness paramount and Divine, source of all numbers, shapes and names that are so harmonious worked and exalted by the artists and mystics of Islam. 
                                  
Islam seeks to materialize the Paradise on earth through architecture and art, i.e. to draw the distant, the perfect or the divine closer to us and in a sensitive and illuminating way. But simultaneously, in a symmetrical movement, one seeks to awaken the spirit that is in our depths so that it rises on its axis and, focusing on the prophetic message or in the Divine Sun of Majesty and Compassion, it becomes a living sun on earth and a source of blessing for all. Thus, through the beautiful and appropriate geometric proportions, it is searched to vibrate and harmonize the body and soul and make it more responsive and manifesting the Spirit and the Divine attributes.
                      
In this sense Margarida Sardinha strides with this exhibition, with its thousand crystallizations and recreations of the wonders of the palace and gardens of Alhambra, which since as early times as 11th century until today have been an inexhaustible source of exalting beauty and harmony.

                               
Animated by her gifts of communion with the macrocosms of sacred geometry, patiently endowed of science’s magnifying glass and longing for beauty, Margarida has been following the path of the cosmic mountain (qaf), with the manifested forms and names that connects us to the higher worlds and the Divine; and thus she gives us with this exhibition a portal of animated symmetries arriving or departing from the nameless One, departing or arriving to the secret of secrets (sir-e-sir), the heart of the heart, be it of the Cosmos, as order and proportion, be it our own centre, as spirit and fire reflecting the Divine. In both ways we are under the Grace (Baraka) Divine that is reaching and felt gratefully in us.
                        
Hence, to contemplate and feel as repetitive remembrances (zikr) this abstractions of dynamic harmonies, or even super-three-dimensionalities, is certainly a purifying and enlightening grace and a great stimulus in recognizing and feeling the basic principles of Islam, Tawid, Divine Unity or Oneness, and Whadat al-Wujud, the interconnectedness of everything and everyone with the One, and so we are encouraged to understand with observing and loving eyes and feel that the very divine and his cosmic vision sees through us, or that reflects or is given testimony on us and around us.
                            
Which are the animated works that touch us most or even open the spiritual eye and the heart, which works, and all of them are linked to the Alhambra and the Platonic and Archimedean solids, will make us be more inclined to Islam, the Tawid, i.e. the Divine Unity, the real or ultimate source of happiness, will depend on the psychic energies that cover or animate each of us. But with certainty to all visitors whom will walk and continue in the spirit of Margarida’s exhibition this contact will be a very illuminating and fertile factor in our lives, more intertwined and mirrored in fraternal religion and sacred geometry that comes from the Divine and Primordial Oneness, and wants to become the living expanding flame of Love (Ishq or Eshq) in the centre of each Being.»
                      

Margarida Sardinha expõe na Casa da Cultura na Ericeira. Imagens da inauguração, 16/8/2014.

O belo edifício da Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva, na aprazível e muito bem cuidada vila da Ericeira...
A chegada dos pais da artista ao aprazado e aprazível local...
Animada dos seus dotes de comunhão com o macrocomos da geometria sagrada, dotada pacientemente da lupa da ciência, da tecnologia e da ânsia da beleza, a Margarida tem vindo a percorrer as veredas da montanha cósmica primordial (Qaf), a que nos liga aos mundos superiores e à Divindade, pelas suas formas e nomes; e assim dá-nos nesta exposição um portal de simetrias animadas que partem ou chegam até ao inominado Um, a esse segredo dos segredos (sir-e-sir), ao coração do coração, seja da criação, enquanto ordem e proporção, o Cosmos, seja ao nosso centro, como espírito e fogo reflectindo o Divino. Em ambos os casos estamos na Graça (Baraka) Divina, que chega e é sentida gratamente em nós.
Fotografias minhas, com reflexos dos acrílicos e dos vidros, das fotografias tiradas pela Margarida em Alhambra, Granada, e tratadas magistralmente num todo muito dinâmico e harmonizante
A juventude mesmo novinha deixou-se surpreender....
Nada se perde, tudo se transforma... O que resultará nas alminhas?
Através das proporções geométricas belas e apropriadas, procura-se fazer vibrar e harmonizar o corpo e a alma e torná-los mais receptivos e manifestadores do Espírito e dos atributos Divinos.
Neste sentido caminha a Margarida Sardinha com esta sua exposição de milhares de cristalizações e recriações reverberantes das maravilhas do palácio e jardins de Alhambra, que desde tempos tão antigos como o séc. XI até aos nossos dias têm sido uma fonte de exaltante beleza, harmonia e amor.
Poliedros transfigurantes no microcosmos e no macrocosmos...
Ao contemplarmos e sentirmos como apelos repetitivos (zikr) estas abstrações de harmonias dinâmicas ou mesmo super-tridimensionais, é certamente uma graça e um estímulo grande a reconhecermos e a sentirmos dois princípios básicos do Islão, o Tawid, a Unidade Divina e Wadat al-Wujud, inter-conectividade dela com tudo e todos, e por isso somos estimulados a caminhar com um olhar e sentir amoroso em que a própria visão divina e cósmica vê através de nós, ou que se espelha e ou é testemunhada em nós e à nossa volta. 
Cena do filme animado que está constantemente a passar com poema em modo repetitivo da Margarida e que permite contemplação com sentido de profundidade reforçado, graças aos óculos coloridos tridimemsionais disponibilizados.... 
A arte Islâmica das mesquitas e santuários, dos palácios e casas, das pinturas e dos desenhos é basicamente sagrada e sacralizadora, ou seja está baseada e convida-nos a proferir as palavras sagradas, a desabrochar os sentimentos sagrados, a meditar e a viver os atributos divinos, tendendo pois a envolver o ser humano numa dimensão bem mais vasta, na qual através do ver, sentir, recitar e meditar unimos o concreto e pessoal com o espiritual e o divinal.
Um grupo internacional de intelectuais e artistas (a mãe da Margarida, a Maria Helena Pecante e a filha e a Tim-Tim) aprofunda reflexivamente os impulsos da arte islâmica post-modernista da Margarida
“Deus é a Luz dos céus e da terra. A Luz assemelha-se à contida num cristal de vidro  num nicho e que brilha como uma estrela brilhante.” – 24:35. Surate, A Luz, do Corão.

Através da arquitectura e da arte procura-se no Islão materializar o Paraíso na terra, ou seja fazer aproximar de nós o distante ou o divino, de um modo sensível e iluminador. Mas simultaneamente, num movimento simétrico, procura-se despertar o espírito que está nas nossas profundezas para que ele se erga no seu eixo e concentrando-se na mensagem profética ou no Divino Sol da Majestade e Compaixão, e se torne um sol vivo na terra, uma fonte de bênçãos para todos.
Um dos trabalhos da Margarida Sardinha, visto com os óculos coloridos tridimensionais
A galeria Helder Alfaiate organizadora da exposição e as suas jovens colaboradoras, sob um dos quadros da Margarida, sempre obtidos a partir de múltiplas imagens do palácio e jardins de Alhambra
A Rita Burnay e o Rolim Carmo, jovens empreendedores da região com a sua deliciosa e já afamada  marca de cervejas Sardine, feita sem químicos e distribuída para qualquer parte do país...
O fechar da inauguração e a ida para as falésias do mar, onde se irá desenrolar a procissão de embarcações evocadora das bênçãos da Nossa Senhora da Boa Viagem
A artista caminha só já com os olhos e a alma nas criatividades das próximas exposições, mas que para já nesta "Simmetry's Portal" bem merecia ser divulgada e partilhada mundialmente sobretudo em terras Islâmicas...

Margarida Sardinha, "Symmetry's Portal" no Centro Ismaili de Lisboa. Texto de Pedro Teixeira da Mota, 14/1/2015

                                         
Sobre a obra Symmetry´s Portal de Margarida Sardinha, que estivera exposta em Julho de 2014 na Ericeira na Casa da Cultura Jaime Lobo e Silva, através da Galeria Hélder Alfaiate, escrevi para o catálogo o seguinte texto o qual hoje, 14/1/2015, aquando da sua exposição no Centro Ismaili, em Lisboa, melhorei e partilho de novo:
                          
“Deus é a Luz dos céus e da terra. A Luz assemelha-se à contida num cristal de vidro num nicho e que brilha como uma estrela brilhante.” – 24:35. Surate, A Luz, do Alcorão.
 
«A Arte Islâmica das mesquitas e santuários, dos palácios e casas, das pinturas e desenhos é basicamente sagrada e sacralizadora, ou seja, está baseada e convida-nos a proferir as palavras sagradas, a desabrochar os sentimentos sagrados, a meditar e a viver os atributos divinos, tendendo pois a envolver-nos numa dimensão bem mais vasta, na qual através do ver, sentir, recitar e meditar unimos o concreto e o pessoal com o espiritual e o Divinal.
A Arte Islâmica desenvolveu-se sobretudo a partir do Alcorão e depois das sensibilidades próprias de cada povo ou artista e ainda hoje, enraizada nas origens primordiais, desfere voos de criatividade moderna, inusitada e inaudita, tais como a Margarida Sardinha nos apresenta ou desafia a sentir e a contemplar.
                         
Certamente que a primordialidade da arte Islâmica, e que tanto nos toca, recua, para além do Alcorão e das próprias matemáticas, geometrias e arquitecturas, para o mundo espiritual, com muitos dos seus arquétipos ou protótipos a serem intuídos e evocados pelos artistas. Assim, ao estabelecerem o grande movimento circumbulatório e circulatório do macrocosmos ao microcosmos, os artistas são alquimistas pois condensam a matéria filosofal, tornam visíveis as maravilhas dos mundos espirituais e divinos, purificam-nos e elevam-nos com as suas energias e mensagens.
Abrem-se deste modo portais para que possamos reverter o movimento de descida, que foi o da criação ou manifestação, e regressarmos gratamente a esses mundos subtis, a esse Um primordial e Divino, fonte de todos números, formas e nomes tão exaltada ou perfeitamente trabalhados pelos artistas e místicos do Islão e da Tradição Perene.
                   
Através da arquitectura e da arte procura-se no Islão materializar o Paraíso na Terra, ou seja, fazer aproximar de nós o distante, o transcendente, o Divino, de um modo sensível e iluminador. Mas, simultaneamente, num movimento simétrico, procura-se despertar o espírito que está nas nossas profundezas para que ele se erga no seu eixo e, concentrando-se na sua seidade espiritual, na mensagem profética ou no Divino Sol da Majestade e Compaixão, se torne um sol vivo na terra, uma fonte de bênçãos para todos e tudo...
Assim, através das proporções geométricas belas e apropriadas, procura-se fazer vibrar e harmonizar o corpo e a alma e torná-los mais receptivos e manifestadores do Espírito, das harmonias subtis cósmica e dos atributos Divinos.
Neste sentido caminha a Margarida Sardinha com esta sua exposição de milhares de cristalizações e recriações reverberantes das maravilhas do palácio e jardins de Alhambra que, desde tempos tão antigos como o séc. XI até aos nossos dias, têm sido uma fonte de exaltante beleza, harmonia e Amor.
                    
Animada dos seus dotes de comunhão com o macrocomos da geometria sagrada, dotada pacientemente da lupa da ciência, da tecnologia e da ânsia da beleza, a Margarida tem vindo a percorrer as veredas da montanha cósmica primordial (Qaf), a que nos liga aos mundos superiores e à Divindade, pelas suas formas e nomes, e assim dá-nos nesta exposição um portal de simetrias animadas que partem ou chegam até ao inominado Um, a esse segredo dos segredos (Sir-e-sir), ao coração do coração, seja da manifestação ou criação, enquanto ordem e proporção, o Cosmos, seja ao nosso centro, como espírito e fogo reflectindo o Divino. Em ambos os casos estamos na Graça (Baraka) Divina, que chega e é sentida gratamente em nós.
                         
Assim, contemplarmos e sentirmos como apelos repetitivos (zikr) estas abstrações de harmonias dinâmicas ou mesmo super-tridimensionais, é certamente uma graça e um estímulo grande a reconhecermos e a sentirmos dois princípios básicos do Islão, o Tawid, a Unidade Divina e Wadat al-Wujud, interconectividade dela com tudo e todos, e por isso somos estimulados a caminhar com um olhar e sentir amoroso, no qual a própria visão divina e cósmica vê através de nós (mormente no nosso olho espiritual...), ou que se espelha ou é testemunhada em nós e à nossa volta.
                         
Quais são as obras animadas que mais nos tocam ou mesmo nos abrem o olho espiritual e o coração, por quais delas, e todas ligadas à Alhambra e aos sólidos Platónicos e Arquimedianos, seremos mais inclinados ao Islão, ao Tawid, ou seja, à Unidade Divina, a verdadeira ou suprema Fonte da Felicidade, vai depender das energias anímicas de que cada um de nós se reveste. Mas certamente que para todos, percorrer e continuar no espírito desta exposição da Margarida, será um factor bem iluminativo e fecundativo nas nossas vidas, mais entrelaçadas e espelhadas na religião fraterna e na geometria sagrada que provém da Divindade Una e Primordial e que se quer tornar fogo vivo expansivo de Amor (ishq) no centro de cada Ser.»

Por Pedro Teixeira da Mota, escrito em Julho de 2014, com correcções e adaptações no dia 14 de Janeiro de 2015. aquando da sua exposição no centro Ismaili de Lisboa...
Fotografias parcelares, captadas por mim, no dia da inauguração de uma exposição que bem merecia ser levada a países islâmicos por instituições portuguesas. E que a partir de hoje 14/1/2015 vai ser contemplada e interagida por mais pessoas..

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Da demanda do som, do ritmo, da Palavra, do Espírito, da Harmonia, da Divindade.

Fala-se, na tradição perene, da música das esferas, do ritmo primordial, do nome ou nomes de Deus, da palavra mágica   e procura compreender-se como se demanda tal mirífico e rítmico som, ou o seu eco, ou ressonância, por diferentes entendimentos, perspectivas e práticas. 
Uma de tais aproximações, pouco falada, e talvez das mais importante quanto  ao nosso ser,  é o do som ou nome verdadeiro de cada um de nós, algo que estaria na base do nome que os padrinhos, ou os pais intuiriam e escolheriam. Algo que está na base dos novos nomes, mais espirituais que são dados em certas iniciações, seja em ordens religiosas, seja de mestre a discípulo.
Outro nível de busca, mais elevado ainda, é o do Ser  Divino, e os seus Nomes ou as sonoridades com que Ele é sentido, ouvido, identificado (limitadamente, claro) ou referido e porventura os sons que nos tocam mais para dele nos aproximarmos vibratóriamente, ou até aquelas com que ele nos possa agraciar. 
Acalenta-se então o sonho que tal audição seja o abre-te sésamo da realização espiritual, ou o abraxas da iniciação, ou entrada e avanço, num caminhar mais consciente de uma vida mais acertada, harmoniosa e plena. 
Pensa-se por vezes que será fácil chegar ao nível da primordialidade e funda interioridade, repetindo a fórmula de um mantra ou oração, por vezes dado por alguém em iniciações mais ou menos superficiais e rápidas, e  assim se entrar no ritmo certo gerador do desabrochamento da visão interior, graças à qual logo se desvendaria a Divindade e se sentiria a vera Felicidade.
Pronunciar devota ou amorosamente orações e mantras e, depois,  deixar acalmarem-se as vagas de pensamentos e silenciar e escutar, tentando ouvir-se o som rítmico interno, ou as palavras orantes e espontâneas, certamente ajuda-nos a aprofundar a nossa autoconsciência e o nosso corpo espiritual e a harmonizar os seus órgãos tão indispensáveis na demanda que é a Vida toda...
                                
              Ihs, uma das sonorizações tidas como  nome de Deus. No claustro dos Jerónimos... 
De facto, antes de podermos chegar aos níveis mais espirituais e divinos, quanto trabalho de crescimento, de purificação, de iluminação e, sobretudo, de discernimento e esforço perseverante, pois não só o desabrochar consciencial é lento e a luta pela sobrevivência é desarmonizante, como há tanta desinformação e manipulação a ser lançada sobre as pessoas que muitas acabam por pouco conseguirem vivenciar de tais estados conscienciais silenciosos e expansivos. Pouca gente consegue ampliar espacialmente a sua consciência, pelo difícil e raro silêncio. no corpo espiritual e no cosmos envolvente
Sendo tantas as vibrações e ondas, desde as terrestres e humanas às cósmicas e espirituais, mais ou menos rítmicas, que nos são transmitidas e que nos movem e compõem, ou que connosco interagem, importará investigar melhor, por exemplo, como devemos lutar pelo desabrochamento interior do nosso  ser e com que  energias e ritmos trabalhar ou nos apoiar para descobrirmos e realizarmos mais a nossa essência e missão. E avançarmos em harmonia com os ritmos e as combinações mais afins criativos e luminosos trabalhos, interesses, investigações, locais, momentos, pessoas, amada ou amado, família, árvores, pedras, objectos, cores, formas, músicas, sons, etc, etc.
                  
                  A estrela de cinco pontas e o Sol, num microcosmo tão puro... 
Certamente que uma base importante desta demanda e alinhamento, além do estudo e da experimentação, do trabalho e da vida, será a meditação de manhã e ao fim do dia, na qual utilizamos a observação dos ritmos mais fáceis de ascultarmos:  respiração,  vibração sonora subtil interior, coração,  ondulações do pensamento, as imagens que se soltam da alma e da memória, a que acrescentamos sabiamente os nossos sons e orações, para que por fim a Luz se manifeste e clarifique e harmonize melhor todos os ritmos e níveis referidos...
Olhando para a Natureza, sem dúvida que os ritmos transmitidos pelo Sol, com a noite e o dia, são os mais fortes e decisivos, ainda que haja muita gente que pouco pode ligar a eles, obrigada a trabalhos que são, como muito sintomaticamente se diz, fora de horas... 
Ora a noite silenciosa e escura, sob a luz das estrelas, tem os seus efeitos harmonizadores rítmicos nos sonhos, nos neurotransmissores, e como tal devia ser mais acolhida, respeitada e aprofundada, sobretudo no silêncio, na luz das velas, na paz ambiental, considerando-se até o ideal  uma pessoa deitar-se às 23:00, para o funcionamento mais livre, de impressões sensoriais externas, do meridiano do fígado e da regeneração do organismo...
                   
      Sandhya,  transição, na tradição indiana. Os momentos mais auspiciosos para a meditação... 
Certamente que a regra geral é aproveitarmos a luz solar, para agirmos, e por ela somos alimentados tanto na pele (útil na fabricação da vitamina D) como nos olhos, como na vitalidade, denominada prana, ou átomos de energia, na Índia. Daqui a voga dos banhos de sol, na época das férias, altura certamente importante para nos recarregarmos de energias diferentes das vividas nos ambientes profissionais habituais, mas, diremos, com conta, peso e medida...
Ver, meditar ou contemplar o nascer-do-sol ou o pôr-do-sol é um acto despertante, um rito valioso, já que participamos de um ritmo multimilenário poderoso e por vezes belíssimo, ainda que os raios e partículas que nos vêm do Sol e que entram pelos chacras etéricos (segundo alguns, em especial o do baço) sejam ainda pouco reconhecidos, e menos ainda os raios ou correntes subtis e espirituais que do Sol se irradiam e até nós chegam, podendo contudo ser observados tanto na visão física como na subtil e espiritual, tudo contribuindo para o ser e corpo de luz desabrocharem mais...
Lembremos neste sentido as deidades solares em tantas tradições, desde Utu ou Babar na Suméria, Assur na Assíria, Râ ou Atum e Aton no Egipto, Surya na Índia, Mitra-Ahura e a glória de Xvarnah na Pérsia, ou ainda Helion e Apollon gregos, o Sol Invictus da Roma, de vários imperadores até Aureliano e por fim Juliano (filósofo, que via uma tríade solar: o Sol do Mundo Inteligível, o Sol do Mundo Intelectual e o Sol do mundo sensível), devendo-se ainda relembrar os filósofos estóicos com o seu Logos Spermatikoi, a Razão divina derramada pelo Universo, em Macróbio afirmado como o Sol mundos mens est, "o Sol é a mente ou inteligência do mundo", antes de muito destes cultos solares desaparecerem no Cristianismo, que ainda assim, destas deidades e aspectos do seu culto e concepções, assimilará algo em termos de concepções, arte, liturgia e calendário religioso, tanto mais que filosoficamente o Logos do Evangelho de S. João tem muito do Logos estóico e do Deus solar antigo.
                       
                            Rumo ao Sol espiritual e primordial da Divindade... Por Bô Yin Râ... 
Os cultos e rituais de saudação e celebração do Sol, realizados como vimos numa continuidade ininterrupta através dos séculos e da religiões, ora diariamente (nos templos ou nas casas) ora em épocas especiais, como nos solstícios, deram origem a tanta festividade e simultaneamente a tanta sacralização de pedras e estátuas, árvores e construções, a qual ainda nos nossos dias a podemos ver e aprofundar, ligando-a com o mistério do Sol divino interno.
Quantos conseguiriam ver clarividentemente os seres espirituais, ou solares, ou a provável entidade divinal do Sol, ou comungar profundamente com a Sua Luz, Poder e Amor não sabemos, mas algumas descrições de visionários ou místicos, bem como os locais, grutas, templos e monumentos, continuam presentes e podem ser assim trabalhados e reactualizados por nós.
Destaquemos então os solstícios e equinócios, marcando esses ritmos de passagem mais importantes da Natureza, hoje em dia ainda celebrados, embora a vivência e compreensão humana, ao urbanizar-se e informatizar-se demais e ao estar rodeada pela degradação dos eco-sistemas naturais, acaba por sentir e comungar menos de tais circulações energéticas, ciclos e seres subtis da Natureza, nomeadamente seja os descritos como  as fadas, gnomos devas, seja os mais elevados dos Anjos e Arcanjos. 
Rudolfo Steiner, o fundador da Antroposofia, foi um ocultista com certa clarividência que deixou muitas páginas valiosas, ainda que por vezes demasiado complexas ou até imaginativas, sobre este ciclo anual e sobre outros ainda mais longos, os das civilizações e épocas.
Quem poder nestes dias de transição estar mais na Natureza e saudar, meditar e comungar com a terra, as árvores, os ventos, as águas, as estrelas nocturnas e os espíritos da Natureza fará bem e será beneficiado... 
E como houve diferentes compreensões e realizações ao longo do tempo  nos vários povos, em Portugal, pela tradição Celta, nomearemos as celebrações valiosas do Samahin, Belaine, Lugdsad e Imbeloc...
Falar de ritmos implica lembrar outros ciclos ainda, tal como o dos sete dias da semana, ligados com os planetas, o das quatro idades da vida ou ashramas indianas, ou ainda os do mês, do ciclo anual, tanto individual como geral, do ciclo de sete em sete anos (que rege o crescimento físico, etérico, emocional e psíquico, numa ascensão em espiral), ou ainda o ciclo das explosões e protuberâncias solares, de doze em doze anos, ou ainda o da órbita de Saturno de vinte e oito em vinte e oito anos. 
Mas talvez o mais importante ainda seja o dos 28 dias da Lua, com as suas fases crescente e decrescente, que tanto afecta a sensibilidade, as emoções, a mulher, o feminino, as plantas, a água e que tem na Lua Cheia um momento de grande intensificação energética, trabalhado por muitas pessoas e grupos para se inspirarem e meditarem, receberem e irradiarem.
Todos estes ritmos envolvem-nos e deveremos saber adaptar-nos a eles e à Natureza exigente, que selecciona, por exemplo, em cada Inverno mais rigoroso as plantas, árvores, animais e pessoas que podem passar mais um ano de vida, e que merecem participar na grande dança vital, feita certamente de alternância de características ou polaridades e portanto passando pela ondulação alternada de ritmos mais frios ou quentes, lentos ou acelerados, interiorizados ou exteriorizados e que caracterizam a polaridade básica Verão Inverno.
                        
                                          A gruta milenária, útero da Terra e das almas... 
Saber-nos adaptar pelo trabalho e descanso, alimentação e jejum, exercício e práticas que fortaleçam as zonas mais expostas ou em esforço é então fundamental, bastando lembrar-nos como o frio e a humidade, o desânimo e a tristeza, podem ser energias ambientais perversas, desequilibrando e adoentando os corpos e as psiques humanas.
Realcemos o valor de uma alimentação baseada em alimentos produzidos biologicamente, o pouco uso do açúcar ou lacticínios, bem como a utilização de roupas o menos artificiais possíveis.
E quanto aos exercícios, para além dos desportos, ginásticas e andar a pé ou nadar, dos hatha yogas e tai chis, aikidos e chi-kungs, realcemos ainda o contributo da medicina oriental em relação ao conhecimento dos rítmicos fluxos energéticos que circulam de duas em duas horas (por exemplo, o do fígado das 23:00 à 1:00, e essencial para a desintoxicação, que não se fará tão bem se estamos ainda a trabalhar a essa hora) através dos meridianos e dos órgãos, estes relacionados ainda com as estações do ano e os Cinco Elementos, donde nasceram certos exercícios, seja de massagem, de estimulação, de respiração, de sons, de visualização ou de movimento benéficos, muito recomendáveis e praticáveis...
Todo o nosso ser é composto de biliões de células, átomos, neurónios, com milhares de ritmos, mas neles destacaremos, além da respiração já referida, o do coração, que impulsiona o sangue e a temperatura, mas que também pensa e sente, e que, no seu ritmo subtil de sístole e diástole, de compressão e de expansão, se conseguirmos verdadeiramente senti-lo, facilita a entrada no nosso coração espiritual, certamente um dos objectivos do Caminho pois nele ou no seu estado de Amor que sentirmos é que estaremos mais próximos do nosso ser profundo, ou ainda do Amor Divino ou mesmo da bênção, influxo ou graça do seu Ser...
Certamente que o ritmo da respiração é muito importante, ao permitir a vida e a purificação e vitalização do organismo, e é por isso o que mais tem sido trabalhado, ao ser voluntário, nas práticas psico-energéticas de muitas das tradições. Assim, além da meditação matinal, fazermos de vez em quando algumas respirações profundas, ou consciencializar-nos do ritmo respiratório em nós, é sempre benéfico. Mas também os rins e o fígado, o estômago e os intestinos têm os seus ritmos de funcionamento, os seus horários, que deveremos respeitar e até cuidar, não os perturbando demasiado...
Num nível mais subtil, tanto a nossa corporalidade física como a psíquica, na nossa aura invisível, precisam de ser alimentadas, sacudidas, limpadas e estimuladas, e daí os banhos, os jejuns, os exercícios, as danças, as contemplações, as peregrinações, os ritos e gestos, etc.
Harmonizarmos os nossos ritmos mais internos, isto é, não deixarmos que se introduzam frequentemente arritmias, ou energias em excesso e nocivas, que se possam tornar quase crónicas e logo causadoras de doenças, é então importante.
Para isto é fundamental uma auto-atenção, uma constante tomada de consciência do nosso estado vibratório, psíquico e postural, para que em nós haja a fluidez correcta e necessária, no estar, no fluir e nas acções e reacções que a vida suscitará em nós.
                       
Estamos de facto em interconectividade com todos os seres e vivemos num microsistema aberto, o qual pode estar em maior ou menor harmonia com o ambiente ecológico, social, planetário, cósmico...
É portanto bom fazermos com regularidade a auto-consciencialização, interna e do que nos está mais a tocar ou a faltar, do que devemos mais dar ou participar, o que podemos investigar ou descobrir, num exercício de constante auto-avaliação, discernimento, sinceridade....
Por exemplo, o que está bloqueado, traumatizado, ferido, oprimido, sem respiração, sem circulação necessária, seja a de sangue, seja a da energia-prana-ki, seja ainda de sentimentos ou de ideias, e que precisa de ser ouvido, desbloqueado, expresso, musicado, massajado, dissolvido a fim de se libertarem energias e se extrair a lição e o impulso ascendente, de modo a que a vivência da unidade e do amor aconteça mais. 
É o "aqui e agora" tão propugnado: como estamos quanto à postura corporal, como estão os pés, as mãos, a respiração, quais são as tensões orgânicas, que sentimentos e emoções predominam em nós e quais deveremos introduzir mais, como está a qualidade do fluxo ondulante dos pensamentos, o equilíbrio entre o inconsciente e o presente, como está o fio e o canal para o mundo espiritual, para os antepassados e mestres, o que sentimos da beatitude da nossa auto-consciência pura, eis alguns auto-diagnósticos correctivos que faremos ao longo do dia...
Quando chegamos a casa, depois do trabalho, estamos em geral um pouco desgastados pelos esforços mentais, oculares, musculares, ou pelo que foi mais trabalhado, mas nada que não se possa recuperar com um bom banho, algum exercício ou mesmo massagem, leitura, música, diálogo, ou o cuidar e tocar as flores ou as árvores, ou mesmo contemplar as estrelas, as pinturas, e ainda o sentar, orar, meditar, ou o simples conversar, cozinhar e estar em amor com a família e os amigos, estes não só virtualmente pois, embora a Internet possa trazer alguns, conviria que eles se actualizassem em encontros e amizades reais.
Podemos interrogar-nos, quanto ao eixo da ligação vertical ou ascendente, se ele  esteve muito presente no dia a dia, se será suficiente lembrar-nos da Divindade ou fazermos uma curta oração e dar-lhe graças, aspirando a Ele, ou se deveremos praticar mais e consciencializar melhor para fortalecer-se a visão e a ligação permanente com o Espírito Divino?
                      
Entremos então mais regularmente nas práticas da oração, da meditação, da contemplação, do canto, do estudo, da revelação, da integração, da auto-consciencialização permanente, algo que contudo nos seus resultados está dependente da nossa vida moral e ética e também da graça, espiritual ou divina...
Cada pessoa terá de descobrir como equilibrar a sua alma em cada aspecto que a perturba e vencer também as tendências obscurecedoras, que tentam-na tendencialmente a  adormecer, desistir, abandonar, esquecer. A luta é para o conseguir receber, elevar-se e permanecer mais na Luz Divina, na ligação com o Espírito, o Anjo, o Mestre, o Amor, o Sol interior, o Divino...
Será útil referirmos aqui a tradição indiana (do darshana Samkya) dos três estados da matéria, gunas e como nela, a modalidade da matéria mais densa ou lenta,  guna tamas, a inércia ou obscuridade, exige uma actividade forte e dinâmica (o guna rajas, ou rajoguna) para ser transformada, impregnada de ritmo e logo permitir ou revelar a luz, a fluidez, a expansão de consciência (satvoguna), nesta grande unidade natural e cósmica da qual fazemos parte...
Daqui termos falado há pouco do canto, dos exercícios respiratórios, dos mantras ou nomes divinos que podem ser activados (de preferência silenciosamente) para se chegar aos estados mais elevados de meditação ou contemplação, passando-se assim do adormecido (Tamas), para o activo (Rajas) e, por fim, o harmonioso, rítmico e luminoso (Satva).
No fundo estamos a valorizar ou realçar a ligação vertical-horizontal-total, algo frágil ainda na nossa sociedade actual, reservada para uns minutos na missa católica ou nos rituais das outras religiões, e em geral mais desenvolvida nos momentos de oração e meditação, calma e alegria criativa que algumas pessoas conseguem dedicar e realizar...
Esta ligação vertical implica então uma sincronização de nós com o nosso espírito, e é a partir dele que nos aproximamos mais íntima e conscientemente do Divino. Daqui que quem não conhece o seu espírito, não conhece bem Deus... 
Ora, quantas pessoas conhecem o seu espírito, ou ainda o seu nome vibratório, a sua essência, a centelha que, unida às múltiplas forças anímicas que a rodeiam ou envolvem, constitui o nosso ser interno e perene?
A dimensão do nosso espírito, a forma do nosso espírito, as suas capacidades, as afinidades com outros espíritos, eis grandes mistérios, que pouca gente sabe, à excepção de alguns mestres, certamente fora do grande barulho mediático, mesmo cultural ou religioso em que proliferam os pseudo-instrutores ou gurus, ou as canalizações, segredos e cursos de milagres... 
Daqui a grande dificuldade das pessoas encontrarem verdadeiros guias que, unidos ao espírito e ao Divino, possam catalisar tal harmoniosamente nas outras pessoas
Claro que há seres já com mais realização interior e, graças a Deus, com a globalização da informação, tudo pode circular e surgir mais facilmente, mas saber discernir com quem poderemos trabalhar melhor o despertar e o plenificar interior é sem dúvida uma grande demanda, dificultada aliás pela concorrência desleal de muitos dos  modernos líderes ou gurus da humanidade e que, de todos os campos das actividades humanas, disputam o cérebro e o coração das pessoas.
Muito se decide neste mundo e palco, diariamente  alterado por nós na nossa pequena escala de receptores ou emissores de frequências vibratórias, ou então de centelhas conscientes e irradiantes, já mais unificadas com a matriz do grande Campo de informação cósmica ou Anima Mundi, a grande alma do mundo, o Logos spermatikoi dos estóicos, a Inteligência Divina... 
Meditar então com certa regularidade é fundamental, repetimos, e devemos esforçar-nos por diariamente conseguirmos chegar a estar num certo nível de sensibilidade interior e essencialidade, de forma a estarmos mais conscientes da nossa dimensão espiritual e mais receptivos às energias e mensagens subtis e espirituais, não importando o tempo que despendemos de quando em quando para nos religarmos a tal estado mais harmonioso ou unificado...
Claro que sentirmos razões e motivações especiais para tais meditações é importante e, portanto, luas novas ou cheias, solstícios ou equinócios, festividades, feriados e fins de semana devem ser aproveitados para meditações as quais, mesmo em pequenos grupos, mesmo solitárias, podem ter uma força irradiativa grande...
                              
                                                   Aum, Rumo à Luz, pintura de Bô Yin Râ. 
Procuremos então conhecer, harmonizar, despertar e unificar mais o nosso próprio ser psicoespiritual, e o dos próximos, e sejamos verdadeiros e compassivos, justos e destemidos, de acordo com os ritmos e tradições que mais sentirmos, com a justiça e necessidades do planeta, e em sintonia de aspiração ou união com o Ser Divino, numa cooperação criativa na Grande Obra Cósmica de Sabedoria e Amor...  Revisto a 25-XI-2018. E a 26.IX.2020.