quinta-feira, 10 de julho de 2014

Do Som Primordial, da Música das Esferas, da Voz do Silêncio: sons e mantras ao Divino.

                                   Antenas, audições e emanações da alma espiritual 

Do Som Primordial e da Voz do Silêncio: da audição dos sons internos e subtis e das orações e mantras ao Divino...
Interrogam-se as pessoas sobre os melhores modos de se harmonizarem aperfeiçoarem, espiritualizarem, ou  de se sentirem mais criativas, plenas e felizes. 
Como a profusão de métodos, doutrinas e escolhas é grande, devemos ser cautelosos pois nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo é indicado para nós, muito do que é transmitido não corresponde seja às promessas seja ao preço, nem todos os que falam de qualquer assunto o conhecem realmente e, quanto ao amor e sabedoria, muitos poucos vivem mais do que a sua ignorância, ambição, sensualidade e egoísmo permitem.
Sair do egoísmo, caminhar para além dos interesses pessoais e egóicos, do conhecido, dos hábitos e dos limites, verdadeiramente ultrapassar-se, é então um desafio que deve merecer a nossa constante intenção, atenção e investigação.
É pela vivência que cada um consegue da Vida, na sua coerência da intimidade e da exterioridade, da individualidade e da totalidade, que nos caracterizamos e ora relativamente nos condenamos ou salvamos, ou seja,  despertamos e nos clarificamos, ou nos entenebrecemos e degeneramos. 
Devemos então praticar lúcida e diariamente na meditação  o auto-conhecimento e a ligação à Verdade, à Divindade, além de tentarmos viver o mais harmoniosamente possível o quotidiano...
Aproximemo-nos de um dos mistérios primordiais e que deu origem a teorias e métodos que ao longo dos séculos e dos povos deram origem  a legendas tal a que foi para o Ocidente imortalizada primeiro na famosa Música das Esferas escutada ou intuída por Pitágoras e em segundo na frase muito conhecida do início do Evangelho de S. João: "Ao Princípio era o Verbo ou a Palavra (o Logos ou Sermo), e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus".
Estas duas visões, que não sabemos a que níveis e com clarividência foram realizadas por ele,  não convergiram muito na consciência das pessoas, e a primeira ficou mais para os teóricos da música e mais recentemente para astro-físicos com tendências musicais, a segunda em geral para os pregadores e eventualmente para alguns gramáticos e filólogos mais dados a argucias e interiorizações. 
Todavia, mais recentemente a junção das várias tradições, como está a acontecer globalmente, permite cruzamentos notáveis e muita da sabedoria do som, dos instrumentos e dos mantras orientais tem-se fundido com as tradições e saberes ocidentais, ao qual a tecnologia dá ainda mais possibilidades de aprofundamentos e desvendações, tal como recentemente tem vindo a acontecer com as transcrições sonoras dos movimentos dos planetas ou mesmo dos sons emitidos pelo Sol.
Podemos sempre intuir diversos aspectos ou imagens do som Primordial, que estará sempre a jorrar do seio da Primordialidade Divina e sentirmos que esta Palavra é a vibração sonora do fogo do Amor que se derrama e expande pelos Cosmos sem fim.
Provavelmente ela tem intencionalidades específicas desde a sua origem e mais diferenciações ocorrem no desenrolar da manifestação por sucessivos planos de vida, havendo ainda a contar com os diferentes acolhimentos e logos os  efeitos gerados no que ela toca ou quem a ouve.
Tudo isto são questões bem complexas de discernirmos, mas é natural que a vontade criativa divina seja de amor e de sabedoria, para empregarmos termos e qualidades humanas para caracterizarmos o inefável jorrar íntimo da seidade Primordial.
Uma prática então recomendada para a sondarmos é tentarmos abrir-nos exprimir e ou mesmo ouvir alguma ressonância humana de  Palavra e Som Primordial, pela Divindade emanado e que nunca deixa de animar a manifestação ou criação e que portanto subtilmente nos sustenta e integra, seja nos átomos cerebrais seja nas partículas anímica....
Será de noite, no tempo de maior silêncio, que podemos entrar mais dentro de nós e estender ou apurar as nossas antenas subtis tnato de oração invocativa como de escuta receptiva das vibrações e ressonâncias sagradas do espírito...
Talvez a expressão de "contemplar o Sol da meia-noite" não esteja afastada desta manifestação do Espírito e do Logos ou Sermo (Palavra) mais perceptível nas horas mais calmas da humanidade:   no silêncio do meio da noite a potência do espírito divino pode brotar, sentir-se, ver-se, ouvir-se.... Aummm
                                                              Qual sol da meia noite.... 
Sabemos porém como na vida moderna muita gente e moda se tem lançado inconsciente, ou então deliberada e encarniçadamente contra o silêncio, e sabemos também como as nossas mentes estão tão marcadas e afectadas pelas impressões diárias, que poucos, muito poucos mesmo, são os que conseguem silenciar-se e sintonizar e por fim comungar da música das esferas, dos sons subtis ou da voz ou vibração do silêncio, subtil mas sempre presente...
No ocultismo teosófico do final do séc. XIX surgiu uma obra intitulada A Voz do Silêncio, escrita pela russa Helena P. Blavatsky, fundadora, com seu companheiro o Coronel norte-americanoOlcott, da Sociedade Teosófica, e teve uma boa divulgação mundial, sendo traduzida em Portugal em 1915 por Fernando Pessoa por encomenda da editora A. M. Teixeira. Esta obra que alega ser uma transcrição de textos do Tibete mas que está cheia de termos hindus e palis, mostra bem que ele foi mais uma criação por amálgama ou sincretismo de informações que a utora captou em diversos livros de ocultismo e orientalismo. 
Falou assim das práticas meditativas pelas quais se podem ouvir vários tipos de som internos, de acordo com a tradição indiana, yoguica e a budista a que ela teve acesso tanto pelos livros como pelas nas suas estadias e diálogos com indianos e cingaleses, mais até que de tibetanos. A exposição está tão forrada de imperiosos moralismos e exigências impessoais que desanima qualquer pessoa
 Mas de modo algum é tão complicado ou exigente como ali se apresenta a audição interior, pois há vários níveis de sons  e  quem se silencia, começa a ouvir a vibração, o som que está sempre em nós e em tal comunhão silenciosa  tornamo-nos conscientes primeiro do  som subtil que reverbera na cabeça, tal o crepitar da lareira na noite ou ainda a ondulação vibratória do piscar dos olhos das estrelas, Depois podemos sentir tal sonoridade rítmica como vibração em todo o ser, interna ao nosso corpo físico, e deste recolhimento e subtilização podem-se originar mesmo intuições e estados expandidos de consciência.
São muitos os aspectos os sons, não só na beleza e harmonia dos audíveis mas sobretudo nos mistérios dos subtis possíveis: desde o som subtil do aviso do mundo espiritual, ao som vibratório dum toque do outro lado, à voz subtil súbita rápida interior, à musica que emana do interior da alma e coluna. Logo, é natural ser o som um dos apoios e ideais não só dos místicos e alquimistas como dos peregrinos e tantos outros que procuram o espírito, e a sua vibração e desvendação..
Não se diz nos Evangelhos ou Actos, realçando-se, exagerando-se, exteriorizando-se a sua sonoridade e vibração, que o Espírito Santo entrou sobre os discípulos de Jesus, no Pentecostes, com um grande estrondo e que depois foi visto como fogo pairando sobre as cabeças reunidas em oração, louvores e meditações?
Desta curta descrição na Palestina podemos passar para a Ìndia e seus aspectos da sadhana, as práticas espirituais, que se propõem:  recolhimento, respiração colada ao som, acalmia das ondulações mentais, silêncio, invocação, audição, visão do fogo ou luz que desce. 
Recolhimento energético que já estando a nossa alma mais sintonizada, atinge essa intensificação de se poder manifestar como som, fogo,  calor de amor,  entendimento da linguagem universal e acesso ao plano da interconectividade de todos os seres sob a unidade espiritual.
Comungar da som primordial que jaz oculto sob o estrépito e o ruído da vida moderna é então uma tarefa heróica que clama e apela às melhores qualidades das almas peregrinas e demandantes do santo Graal da Verdade, do Amor, da Divindade...
Nas noites ora anestesiantes ora despertantes o que vais tu fazer do teu amor? O que vais querer ouvir? Que músicas ou sons ou palavras ou mesmo ecos do que fazes, pensas e sentes, emanarão de ti? 
E se vives a dois, quantas vezes tentastes escutar e acolher o Silêncio reciproca e partilhantemente, quantas vezes irradiastes sons e orações para o Cosmos unidas na ardência unitiva do Amor?
Sim, em geral mais do que mergulharmos no silêncio e nele nos silenciarmos, estamos sempre a produzir sons pouco harmoniosos pelos nossos pensamentos, actos, posturas e palavras, e que se multiplicam em ondas infinitas pelo universo e que se repercutem sobre nós, pelo que devemos então estar mais conscientes do que estamos a emanar como tónica geral diária e de vez em quando assumir ora a postura de acolhimento silencioso ora a mais criativa e poderosa de irradiação...
                            O Aum, bem sentido e pronunciado 
Recitam ou cantam uns o Aum ou Om, outros o Amen, outros o Allah Hu, Hare Krishna Sat Nam,  Yom,  Om Namo Narayana, mas poucos são os que conseguem chegar por Eles a estados luminosos ou mesmo de certa comunhão com a Divindade. Ou ouvir mesmo o Som interno e primordial, do qual esses nomes sacralizados são já condensações parcelares e particulares histórico-religiosas, ainda que certamente valiosas, elevadas e necessárias para nos unificarmos e elevarmos, se as soubermos gerar e ouvir correctamente, apropriadamente...
Para além dessas palavras sacrosantas ou mantras, diz-se que cada ser tem a sua palavra sacra específica, a qual corresponde à sua essência, e que pode ser ouvida dentro de si como vogal sua, nome seu, tal e qual como cada um de nós tem na meditação uma luz, a sua própria, com a sua coloração ou as suas colorações especiais.
Para além ou acima destes sons manifestados, tão utilizados nos mantras e nas repetições de orações, está pois, na tradição Indiana, o Paranadha, o Som sem som, o Som primordial, a vibração cósmica no seu estado mais subtil e imanifestado, certamente difícil de alcançar-se ou de nela se permanecer... 
Tendemos para tal quando, por exemplo, no fim da repetição do Om ou do La illah illa Allah, do Pai Nosso, do Iesus e Ihs, do Aum Mani Padme Hum ou do Shuda Shakti Om, silenciamos e O invocamos com sacralidade e conscientes de que tal som provém do próprio Ser primordial e é como a sua voz-vibração tanto pela extensões infinitas da manifestação como pela que provém do nosso próprio espírito, e nos chega como um murmúrio, o zumbido de abelhas, um Ihs, uma voz baixa, uma centelha de luz....
                                                       O Ihs, de Iesus, no claustro dos Jerónimos... 
É então recomendável tentarmos sintonizá-lo e escutá-lo diariamente, seja no que conseguimos lembrar-invocar-ouvir no desenrolar do quotidiano, seja  mais intensamente de manhã ou antes de adormecermos, e certamente nos momentos diários meditativos ou contemplativos, ou naqueles em que o seu crepitar se torne mais forte e atraente, pois tal acalma e harmoniza as ondulações do pensamento, da aura e da actividade neuronal, intensifica a nossa auto-consciência e espiritual e torna-nos mais despertos e expandidos e logos aptos a receber intuições e a intensificar seja o apelo unitivo do nosso coração e alma ao Espírito e à Divindade, seja já a Unidade...
       Se a tua alma estiver calma e limpa a sua água será um espelho, um olho-lago que espelha o Céu ou o mundo espiritual....

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