quarta-feira, 16 de julho de 2014

Martinho da Arcada, Pessoa alquimista. Convite de apresentação do livro de Ana Pinto, "Crisol", por Pedro Teixeira da Mota. 19/7

No café e restaurante pessoano Martinho da Arcada, ao Terreiro do Paço, Lisboa, realiza-se sábado, 19 de Julho, a partir das 16:15, a apresentação do livro de poesia de Ana Pinto, Crisol, por Pedro Teixeira da Mota, que o relacionará com a Alquimia, e em especial tal como esta foi compreendida, investigada e escrita nos apontamentos ocultistas e na obra de Fernando Pessoa.
                       
                                         
Fernando Pessoa, Raul Leal, António Boto, Augusto Ferreira Gomes, em animado colóquio, no Martinho da Arcada, perto de 1934-35...

Pequenos extractos da obra de Fernando Pessoa, acerca da Alquimia...

1 - «Esta frase é para quem entende: a sublimação é pelo Mercúrio. Toda a iniciação está nisto" Em seguida anota: "Vertical, vontade. Horizontal, inteligência. Círculo, emoção." E continua, explicando: A terra (segue-se um desenho de cruz dentro de círculo, que é o símbolo da terra) é a Vontade e a Inteligência presas na Emoção. O symbolo da R[osa] C[ruz] é a Emoção crucificada na Vontade e na Inteligência».....

E um grande texto dactilografado (que está online no Arquivo Pessoa: Obra Édita, mas com alguns erros) sobre a alquimia ao nível material e ao nível de forças supramateriais e simbólicas, e em que os resultados das operações são meios de se transformar e dominar em si mesmo os elementos trabalhados. 
Fernando Pessoa, neste texto, não se espraia muito nesses elementos trabalhados e que tanto são reais, como "forças em equilíbrio instável", e ainda símbolos de estados de consciência e qualidades anímicas, apenas referindo o ferro:

«A química oculta, ou alquimia, difere da química vulgar ou normal, apenas quanto à teoria da constituição da matéria; os processos de operação não diferem exteriormente, nem os aparelhos que se empregam. É o sentido, com que os aparelhos se empregam, e com que as operações são feitas, que estabelece a diferença entre a química e a alquimia. A matéria do mundo físico é constituída de três modos, todos eles simultaneamente reais; só dois desses modos interessam para o caso presente, pois que o terceiro pertence a um nível conceptual diferente, e não é atingível por operações, aparelhos ou processos que sequer se parecem com os que se empregam em qualquer cousa que se chame «química» ou «física», «ocultas» ou não. (1) A matéria é na verdade, e como creem o físico e o químico normais, constituída por um sistema de forças em equilíbrio instável, formando corpos dinâmicos a que se pode chamar «átomos». Porque isto é real, e a matéria, considerada fisicamente, é na verdade assim constituída, são possíveis as experiências e os resultados dos homens de ciência, e a matéria é manipulável por meios materiais, por processos apenas físicos ou químicos, e para fins tangíveis e imediatamente reais.Mas, ao mesmo tempo, os elementos que compõem a matéria têm um outro sentido: existem não só como matéria, mas também como símbolo. Há, por exemplo, um ferro-matéria; há, porém, e ao mesmo tempo, e o mesmo ferro, um ferro-símbolo. Cada elemento simboliza determinada linha de força supermaterial e pode, portanto, ser realizada sobre ele uma operação, ou acção, que o atinja e o altere, não só no que elemento, mas também no que símbolo. E, feita essa operação, o efeito produzido excede trancendentalmente o efeito material que fica visível, sensível, mensurável no vaso ou aparelho em que a experiência se realizou.É esta a operação alquímica. E isto no seu aspecto externo: porque, na sua realidade íntima, é mais alguma cousa do que isto.
Como o físico (incluindo no termo o químico também), ao operar materialmente sobre a matéria, visa a transformar a matéria e a dominá-la, para fins materiais; assim o alquímico, ao operar materialmente quanto aos processos mas transcendentemente quanto às operações, sobre a matéria, visa a transformar o que a matéria simboliza, e a dominar o que a matéria simboliza, para fins que não são materiais. A semelhança, porém, para aqui. O resultado da experiência física é um produto externo, com que o operador não tem nada, excepto vê-lo, ou ser dono dele, se o é. Mas na experiência alquímica a «força», que o corpo trabalhado simboliza, está em contacto directo com o espírito do operador, e não só do operador, como também de quantos conscientemente o auxiliam (embora sem conhecimento alquímico) na suas experiências. O resultado da experiência, portanto, afecta o operador e os seus «adjuntos» (como se diz) de uma forma diversa e diversamente importante»

(1) - As três palavras após a vírgula são um acrescento manuscrito.

       Que no crisol alquímico da alma resplandeça mais o Espírito, com a sua sabedoria e amor.

Ubiquity. Is possible or not? Questions, Hypothesis and Explanations, by Pedro Teixeira da Mota

Spiritual ubiquity is a subject of so subtle manifestation that it is not easy at all to explain, but anyway let us approach it, with humility and aspiration...
It means possibly a kind of bi-partition of ourselves, as beyond the physical body we have also a soul or subtle body and so we can be at home physically and, in a moment, go somewhere, at the soul's level or spiritual body.
This can happen in a certain way when we sleep and then we have records in some aspects of the dream, the most valuable possible being: 1 - seeing what will be seen during the next day or days, 2 - collecting new information not available previously in our mind, 3 - having deeper relations or talks with someone.
The most interesting aspect of human's spiritual ubiquity is still different and higher, as it may happen when you are awakened but some part of you goes to another person to help her or to teach her, and you don't have even any perception of that, beyond the idea that you feel some connection with that person.
The interesting points to investigate are on the mechanisms operating at soul level for that:
Should we give more value to the explanation that there is some channels by which we can transfer energy and consciousness to the other, for example like rays, or as stream of presence, or as bulk of energies?
Or should we give more value to the explanation that we are just traveling in the subtle spiritual body to the other location and assisting or being with that person?
But then, is there such a fullness of the one single spirit, that we can function in the two places perfectly well, one on physical level, another one just on a energetic and soul level?
It seems so, as the other person is happy to be learning or feeling us, and we are going onward in our meditations or activities...
In fact, our perception of our own spirit, as the inner center of the soul, mind and body, is very small, short, weak...
Most people don't believe in it, they just accept a duality of body and mind, or body and soul. Only some people accept it, and only a few have seen him, through the spiritual eye, and are trying to become more united with him..
In a certain way we are saying that there is consciousness at personality level (by the mind and brain), as well at the spiritual level, and so myself personality I am conscious that I am writing now and, at the same time, the spirit in me is conscious of other aspects of reality, or he can be even far away of me in contact or "talking" with someone, keeping probably a thread of light for keeping me alive spirituality here, and sometimes giving me a inch or two seconds of the sound of the spheres to make me feel him...
If, for the explanation of this ubiquity, it is a thread of light, a beam of light or rays travelling from the cintilla or spirit, or just a "sintonization" of frequencies, is hard to be sure, as our spiritual level and eye are not so cleaned, purified or stabilized to give us better perceptions of these subtle levels...
Surely, there is many cases in the history of religions of saints or masters capable of being in two places at same time, as for example is told of S. Antony of Lisboa....
Surely, also there was quite a lot of studies and controversies on the spiritual ubiquity of Jesus Christ, either in some personal cases, either in he mess. We have instances in the Portuguese mystics of the XVIII century of Jesus visiting her spiritual brides and at some time be seen out there over a procession.
Surely, the ubiquity of God, as 3º person, the Holy Spirit, in His omnipresence is mostly admitted, although not so much felt or seen, specially at its true and deep level...
Surely, if we are spiritual beings mostly or essentially, our spirit, that is Love and Wisdom, even if he is not so much called, does what we want, or what others desire, wish or ask from him, of good, and as Nature abhors the void, so we are prone to dream, attract or fly to similar souls or even the unseen twin souls or, at least, to friends of special affinities...
So more reasons to seek deeper understanding of our own intimate identity, our real being, and his interrelated powers, and interact with the others at this subtle and deep level of Self, with so much still to be studied, known, loved and done...
                            

sábado, 12 de julho de 2014

Ourivesaria Sarmento, exposição colectiva de Ana Mandillo, Sónia Estevão e Hirondino Pedro. Julho de 2104..

                                                           
Inaugurou Sexta-feira, 11 de Julho de 2014, na prestigiada e já centenária ourivesaria Sarmento, à rua do Ouro (nº 251), uma exposição colectiva de Ana Mandillo, com as suas Luminosidades, ou Ana Mandillo - Plasticidades, Sónia Estevão, ourivesaria e joalharia criativa, e Hirondino Pedro, pintura...
Estiveram presentes a Ana, e a sua vasta família, a Sónia, o Estêvão Barahona e sua mãe, a notável joalheira Pilar Andaluz, mulher do afamado poeta António Barahona, entre muitas outras simpáticas pessoas, tal como o Paulo Mareca, o que possibilitou diálogos valiosos...
                                              
Desenhos e exposições antigas guarnecem as paredes de bela ourivesaria e local de exposições que é a Ourivesaria Sarmento, à quinhentista rua olisiponense Áurea....
                                                         
                                                Faça-se a Luz
ondulatória coloridamente
                                              
        Que as cores luminosas iluminem mesmo o imobilismo do passado, as trevas  do inconsciente. o potencial de heroicidade ou santidade...
                                        
Sobre e sob o pano de fundo museológico da ourivesaria Sarmento, das pinturas de Hirodino Pedro e das luzes da Ana, ocorrem diálogos valiosos, com o Vicentinho a espreitar embevecido as alturas...
                                                     
As colorações luminosas da Ana Mandillo iluminam e aquecem algo 
misticamente 
                                     
Esta sereia, do Hirondino Pedro, que paira sobre a cabeça de João Baptista faz-nos lembrar as tentações de S. Antão... 
Mas quem sabe o que diriam e sentiriam hoje ambos os santos? 
Será que o Eterno Feminino não terá recuperado nos dias de hoje mais sacralidade ou santidade para a mulher sereia ou as ondinas sereias?
                                                     
Uma dama de pé-de-cabra, um alma com amplo e livre inconsciente senta-se à vontade em qualquer lugar dos mundos...
                                                     
A criança verde e inocente, um espírito da Natureza e das flores, ou as incursões nas germinação subtil dos seres no amplo Universo...
                                      
Hirundino Pedro tem uma percepção funda da Natureza e dos seus seres permeados de Amor e consegue-a transmitir em pinceladas directas e quentes que nos alegram com a Unidade Amorosa de toda a existência, próxima da wahdat al wujud dos sufis e gnósticos, ou de alguns pintores russos post-modernos...
                                          
                                      A delicadeza da criatividade colorida da Sónia
                                              
A Sónia e duas amigas dialogam sob as centenárias abóbadas da ourivesaria Sarmento
                                                
                               Sobre o teu pescoço porei um colar de róseas canções....
                                                 
A Sónia reencontrou a Pilar Andaluz que fora sua professor de joalharia e alegraram-se nos projectos em curso...
                                                   
Outrora os portugueses singravam em caravelas de ouro pelos mares sem fim...
                                                    
                Mesmo aos pagodes chineses chegava a arte e o engenho lusitano
                                                  
Da criatividade do coração português há muitos sinais pelo que a esperança nunca será em vão...
                                                       
                                          Sonhos glamorosos de marcas mundiais
                                         
O Estêvão, poeta filho de poeta, promete defender a arca áurea da pátria dos salteadores político-financeiros....
                                                 
Qual Baphomé templário, este Pan sentado augura que a Natureza e os seus espíritos e Kami saberão sobreviver ao Homem e inspirá-lo e uma nova Humanidade mais ecológica e artística, fraterna e espiritual será uma realidade....
                                                            
                               Sonhos azuis, invocações artística e infantis divinas...
                                                       
A união faz força, mote de ferro forjado para os Portugueses futurantes... Resta-nos discernir quais são as melhores uniões, para nós e para o universo....

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Do Som Primordial, da Música das Esferas, da Voz do Silêncio: sons e mantras ao Divino.

                                   Antenas, audições e emanações da alma espiritual 

Do Som Primordial e da Voz do Silêncio: da audição dos sons internos e subtis e das orações e mantras ao Divino...
Interrogam-se as pessoas sobre os melhores modos de se harmonizarem aperfeiçoarem, espiritualizarem, ou  de se sentirem mais criativas, plenas e felizes. 
Como a profusão de métodos, doutrinas e escolhas é grande, devemos ser cautelosos pois nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo é indicado para nós, muito do que é transmitido não corresponde seja às promessas seja ao preço, nem todos os que falam de qualquer assunto o conhecem realmente e, quanto ao amor e sabedoria, muitos poucos vivem mais do que a sua ignorância, ambição, sensualidade e egoísmo permitem.
Sair do egoísmo, caminhar para além dos interesses pessoais e egóicos, do conhecido, dos hábitos e dos limites, verdadeiramente ultrapassar-se, é então um desafio que deve merecer a nossa constante intenção, atenção e investigação.
É pela vivência que cada um consegue da Vida, na sua coerência da intimidade e da exterioridade, da individualidade e da totalidade, que nos caracterizamos e ora relativamente nos condenamos ou salvamos, ou seja,  despertamos e nos clarificamos, ou nos entenebrecemos e degeneramos. 
Devemos então praticar lúcida e diariamente na meditação  o auto-conhecimento e a ligação à Verdade, à Divindade, além de tentarmos viver o mais harmoniosamente possível o quotidiano...
Aproximemo-nos de um dos mistérios primordiais e que deu origem a teorias e métodos que ao longo dos séculos e dos povos deram origem  a legendas tal a que foi para o Ocidente imortalizada primeiro na famosa Música das Esferas escutada ou intuída por Pitágoras e em segundo na frase muito conhecida do início do Evangelho de S. João: "Ao Princípio era o Verbo ou a Palavra (o Logos ou Sermo), e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus".
Estas duas visões, que não sabemos a que níveis e com clarividência foram realizadas por ele,  não convergiram muito na consciência das pessoas, e a primeira ficou mais para os teóricos da música e mais recentemente para astro-físicos com tendências musicais, a segunda em geral para os pregadores e eventualmente para alguns gramáticos e filólogos mais dados a argucias e interiorizações. 
Todavia, mais recentemente a junção das várias tradições, como está a acontecer globalmente, permite cruzamentos notáveis e muita da sabedoria do som, dos instrumentos e dos mantras orientais tem-se fundido com as tradições e saberes ocidentais, ao qual a tecnologia dá ainda mais possibilidades de aprofundamentos e desvendações, tal como recentemente tem vindo a acontecer com as transcrições sonoras dos movimentos dos planetas ou mesmo dos sons emitidos pelo Sol.
Podemos sempre intuir diversos aspectos ou imagens do som Primordial, que estará sempre a jorrar do seio da Primordialidade Divina e sentirmos que esta Palavra é a vibração sonora do fogo do Amor que se derrama e expande pelos Cosmos sem fim.
Provavelmente ela tem intencionalidades específicas desde a sua origem e mais diferenciações ocorrem no desenrolar da manifestação por sucessivos planos de vida, havendo ainda a contar com os diferentes acolhimentos e logos os  efeitos gerados no que ela toca ou quem a ouve.
Tudo isto são questões bem complexas de discernirmos, mas é natural que a vontade criativa divina seja de amor e de sabedoria, para empregarmos termos e qualidades humanas para caracterizarmos o inefável jorrar íntimo da seidade Primordial.
Uma prática então recomendada para a sondarmos é tentarmos abrir-nos exprimir e ou mesmo ouvir alguma ressonância humana de  Palavra e Som Primordial, pela Divindade emanado e que nunca deixa de animar a manifestação ou criação e que portanto subtilmente nos sustenta e integra, seja nos átomos cerebrais seja nas partículas anímica....
Será de noite, no tempo de maior silêncio, que podemos entrar mais dentro de nós e estender ou apurar as nossas antenas subtis tnato de oração invocativa como de escuta receptiva das vibrações e ressonâncias sagradas do espírito...
Talvez a expressão de "contemplar o Sol da meia-noite" não esteja afastada desta manifestação do Espírito e do Logos ou Sermo (Palavra) mais perceptível nas horas mais calmas da humanidade:   no silêncio do meio da noite a potência do espírito divino pode brotar, sentir-se, ver-se, ouvir-se.... Aummm
                                                              Qual sol da meia noite.... 
Sabemos porém como na vida moderna muita gente e moda se tem lançado inconsciente, ou então deliberada e encarniçadamente contra o silêncio, e sabemos também como as nossas mentes estão tão marcadas e afectadas pelas impressões diárias, que poucos, muito poucos mesmo, são os que conseguem silenciar-se e sintonizar e por fim comungar da música das esferas, dos sons subtis ou da voz ou vibração do silêncio, subtil mas sempre presente...
No ocultismo teosófico do final do séc. XIX surgiu uma obra intitulada A Voz do Silêncio, escrita pela russa Helena P. Blavatsky, fundadora, com seu companheiro o Coronel norte-americanoOlcott, da Sociedade Teosófica, e teve uma boa divulgação mundial, sendo traduzida em Portugal em 1915 por Fernando Pessoa por encomenda da editora A. M. Teixeira. Esta obra que alega ser uma transcrição de textos do Tibete mas que está cheia de termos hindus e palis, mostra bem que ele foi mais uma criação por amálgama ou sincretismo de informações que a utora captou em diversos livros de ocultismo e orientalismo. 
Falou assim das práticas meditativas pelas quais se podem ouvir vários tipos de som internos, de acordo com a tradição indiana, yoguica e a budista a que ela teve acesso tanto pelos livros como pelas nas suas estadias e diálogos com indianos e cingaleses, mais até que de tibetanos. A exposição está tão forrada de imperiosos moralismos e exigências impessoais que desanima qualquer pessoa
 Mas de modo algum é tão complicado ou exigente como ali se apresenta a audição interior, pois há vários níveis de sons  e  quem se silencia, começa a ouvir a vibração, o som que está sempre em nós e em tal comunhão silenciosa  tornamo-nos conscientes primeiro do  som subtil que reverbera na cabeça, tal o crepitar da lareira na noite ou ainda a ondulação vibratória do piscar dos olhos das estrelas, Depois podemos sentir tal sonoridade rítmica como vibração em todo o ser, interna ao nosso corpo físico, e deste recolhimento e subtilização podem-se originar mesmo intuições e estados expandidos de consciência.
São muitos os aspectos os sons, não só na beleza e harmonia dos audíveis mas sobretudo nos mistérios dos subtis possíveis: desde o som subtil do aviso do mundo espiritual, ao som vibratório dum toque do outro lado, à voz subtil súbita rápida interior, à musica que emana do interior da alma e coluna. Logo, é natural ser o som um dos apoios e ideais não só dos místicos e alquimistas como dos peregrinos e tantos outros que procuram o espírito, e a sua vibração e desvendação..
Não se diz nos Evangelhos ou Actos, realçando-se, exagerando-se, exteriorizando-se a sua sonoridade e vibração, que o Espírito Santo entrou sobre os discípulos de Jesus, no Pentecostes, com um grande estrondo e que depois foi visto como fogo pairando sobre as cabeças reunidas em oração, louvores e meditações?
Desta curta descrição na Palestina podemos passar para a Ìndia e seus aspectos da sadhana, as práticas espirituais, que se propõem:  recolhimento, respiração colada ao som, acalmia das ondulações mentais, silêncio, invocação, audição, visão do fogo ou luz que desce. 
Recolhimento energético que já estando a nossa alma mais sintonizada, atinge essa intensificação de se poder manifestar como som, fogo,  calor de amor,  entendimento da linguagem universal e acesso ao plano da interconectividade de todos os seres sob a unidade espiritual.
Comungar da som primordial que jaz oculto sob o estrépito e o ruído da vida moderna é então uma tarefa heróica que clama e apela às melhores qualidades das almas peregrinas e demandantes do santo Graal da Verdade, do Amor, da Divindade...
Nas noites ora anestesiantes ora despertantes o que vais tu fazer do teu amor? O que vais querer ouvir? Que músicas ou sons ou palavras ou mesmo ecos do que fazes, pensas e sentes, emanarão de ti? 
E se vives a dois, quantas vezes tentastes escutar e acolher o Silêncio reciproca e partilhantemente, quantas vezes irradiastes sons e orações para o Cosmos unidas na ardência unitiva do Amor?
Sim, em geral mais do que mergulharmos no silêncio e nele nos silenciarmos, estamos sempre a produzir sons pouco harmoniosos pelos nossos pensamentos, actos, posturas e palavras, e que se multiplicam em ondas infinitas pelo universo e que se repercutem sobre nós, pelo que devemos então estar mais conscientes do que estamos a emanar como tónica geral diária e de vez em quando assumir ora a postura de acolhimento silencioso ora a mais criativa e poderosa de irradiação...
                            O Aum, bem sentido e pronunciado 
Recitam ou cantam uns o Aum ou Om, outros o Amen, outros o Allah Hu, Hare Krishna Sat Nam,  Yom,  Om Namo Narayana, mas poucos são os que conseguem chegar por Eles a estados luminosos ou mesmo de certa comunhão com a Divindade. Ou ouvir mesmo o Som interno e primordial, do qual esses nomes sacralizados são já condensações parcelares e particulares histórico-religiosas, ainda que certamente valiosas, elevadas e necessárias para nos unificarmos e elevarmos, se as soubermos gerar e ouvir correctamente, apropriadamente...
Para além dessas palavras sacrosantas ou mantras, diz-se que cada ser tem a sua palavra sacra específica, a qual corresponde à sua essência, e que pode ser ouvida dentro de si como vogal sua, nome seu, tal e qual como cada um de nós tem na meditação uma luz, a sua própria, com a sua coloração ou as suas colorações especiais.
Para além ou acima destes sons manifestados, tão utilizados nos mantras e nas repetições de orações, está pois, na tradição Indiana, o Paranadha, o Som sem som, o Som primordial, a vibração cósmica no seu estado mais subtil e imanifestado, certamente difícil de alcançar-se ou de nela se permanecer... 
Tendemos para tal quando, por exemplo, no fim da repetição do Om ou do La illah illa Allah, do Pai Nosso, do Iesus e Ihs, do Aum Mani Padme Hum ou do Shuda Shakti Om, silenciamos e O invocamos com sacralidade e conscientes de que tal som provém do próprio Ser primordial e é como a sua voz-vibração tanto pela extensões infinitas da manifestação como pela que provém do nosso próprio espírito, e nos chega como um murmúrio, o zumbido de abelhas, um Ihs, uma voz baixa, uma centelha de luz....
                                                       O Ihs, de Iesus, no claustro dos Jerónimos... 
É então recomendável tentarmos sintonizá-lo e escutá-lo diariamente, seja no que conseguimos lembrar-invocar-ouvir no desenrolar do quotidiano, seja  mais intensamente de manhã ou antes de adormecermos, e certamente nos momentos diários meditativos ou contemplativos, ou naqueles em que o seu crepitar se torne mais forte e atraente, pois tal acalma e harmoniza as ondulações do pensamento, da aura e da actividade neuronal, intensifica a nossa auto-consciência e espiritual e torna-nos mais despertos e expandidos e logos aptos a receber intuições e a intensificar seja o apelo unitivo do nosso coração e alma ao Espírito e à Divindade, seja já a Unidade...
       Se a tua alma estiver calma e limpa a sua água será um espelho, um olho-lago que espelha o Céu ou o mundo espiritual....

terça-feira, 8 de julho de 2014

Frei Luís de Granada, mestre espiritual. Texto para o "Cabril do Granada, local de mística e poesia", por Pedro Teixeira da Mota, 004.

               Frei Luís de Granada (1504-1588), mestre da via espiritual...

Artigo escrito por Pedro Teixeira da Mota, para obra colectiva intitulada O Cabril do Granada, local de mística e poesia, publicada em 2004, no V Centenário do Nascimento de Frei Luís de Granada, pela Casa de Pedrógão Grande, em Lisboa.
Contém algumas partes valiosas acerca da sua vida, obra e ensinamentos, aqui apenas em fotografia do artigo...
             O Cabril é um belo e energético sítio, numa escarpada confluência de leitos, junto a Pedrogão Grande, onde Frei Luís de Granada orava e merece bem ser visitado e meditado...
Página de rosto, e o prólogo,  do Livro da Oração, na edição de 1575.

sábado, 5 de julho de 2014

Antero de Quental, o soneto "Nocturno". Da ânsia idealista à prática nocturna da recepção e visão da Luz.

                                                      ANTERO DE QUENTAL
                                             Poeta e filósofo, discípulo e mestre de Portugal.
  É sempre bom revisitar com amor Antero de Quental e a sua espiritualidade e discernir as pistas e veredas demandadas,  o que pensou, poetizou, intuiu ou desvendou, e introduzi-las de novo em reflexão, meditação e acção, não só para que a Tradição Cultural e Espiritual Portuguesa continue a circular e a revivificar-se, como para,  no  aprofundamentos das suas questões e descobrimentos, limitações e realizações, podermos melhorar, evoluir, clarificar...
Consultando um exemplar dos Sonetos Completos, a 1º edição, da livraria portuense de Lopes & C.ª - Editores, sita na Rua do Almada, 123, datada de 1886, com a particularidade de ter ao alto da folha de guarda, onde está impressa a meio a palavra Sonetos, uma dedicatória manuscrita que reza assim: «Ao seu querido amigo António de Azevedo Castello Branco off. O autor», deveremos desde logo destacar a humildade de Antero, que nem sequer pôs o seu nome embora se confesse amigo querido, e de quem dirá tão bela e musicalmente numa carta do Verão de 1866 ser «voz conhecida e uma das que mais soa no tom da minha».
Ora neste exemplar, de certo modo abençoado pelas mãos dos dois grandes amigos (e que carga psico-espiritual não terá o livro, visível a uma alma mais clarividente...) afloremos as duas primeiras quadras e o primeiro terceto do soneto Nocturno, gerado na sua adolescência, no ciclo poético de 1862-1866, onde encontramos alguns  traços recorrentes no nosso poeta filósofo, nomeadamente  ao dirigir-se ao espírito nocturno que passa e pedindo-lhe que diminua os tumultos do seu coração:
 
"Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...
 
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno bem.”
 
Vemos então Antero de Quental sentindo-se ou considerando-se levado por um instinto ou aspiração de luz e que, ajudado por um tipo de Génio da noite, ou talvez o que do Espírito ou do Divino ele admite ou intui manifestar-se nocturnamente (seguindo simbolizações arquétipas mas também operativas da Antiguidade e do Romantismo), pede para que o ajude a intensificar e guiar o seu instinto de  Luz de modo a que este rompa e vença as trevas na busca, que ele afirma prosseguir, por entre visões, do eterno Bem.
Refere assim uma impulsão, uma aspiração de luz, a agir em si, em busca do Bem eterno, provavelmente sentido de modo indefinido e pensado mais até como a Verdade ou o Absoluto  do que a Divindade ou a Beatitude, pois naquelas linhas menos deístas e íntimas, e mais filosóficas, ele avançou poetizando. Todavia, o facto do génio se insinuar na sua alma como um som triste e como esquecimento pode apontar também para o Amor, e portanto para uma desilusão amorosa na realidade das relações humanas e da qual Antero se vai recompondo ou ressuscitando, guiado por esse instinto ou aspiração do Ideal, da Luz
E podemos perguntar, e nós, temos  algo deste instinto ou aspiração de luz em acção viva? Cultivamo-lo? Está no nosso coração vivo? E em que direcção? A Divindade ou Deus, a Fonte primordial, sob qualquer concepção, nome ou forma, é admitida, desejada, meditada, sentida, adorada, invocada, ou apenas na busca de satisfação em superficialidades da moderna sociedade?
 Quando poderemos dizer que estamos mesmo a buscar o Eterno Bem, seja em  teorias e meditações ou acções e abnegações?
E o que é o eterno Bem para nós, como o sentimos, pensamos e desejamos?  Amor, Bondade, Sabedoria, Confiança, Harmonia, Felicidade?
O que estamos a fazer para o encontrar, para o realizar, para o cumprir? 
Onde o sentimos mais ou quando?
O que quer o Eterno Bem de nós, como quis de Antero? - 
Será que compreendemos, encontramos, vivemos e partilhamos algo desse Bem maior ou supremo? 
O que estamos a fazer verdadeiramente pelo advento do perene ou supremo Bem? E com que pessoas e grupos, já que a união faz a força, tal partilha acontece, por vezes por afinidades que desconhecemos? 
Lembremo-nos de tantas cartas fabulosas de Antero nas quais essa fraternidade de poetas, de idealistas, de livres pensadores, de iniciados e de místicos foi por ele invocada, sentida e afirmada, desejando até que houvesse uma pequeno grupo comunitário, a Ordem dos Mateiros...
Ora, como os instintos satisfazem-se em actos, interroguemo-nos se assim como diariamente satisfazemos o instinto de sobrevivência física pela alimentação, mais ou menos sobriamente, mais ou menos biologicamente, também o faremos com o instinto-aspiração à luz e à ligação ao supremo Bem, seja que o sintamos mais como Bondade, Amor, Felicidade, Harmonia,  Absoluto ou mesmo como Deus ou Divindade?
Será que apenas satisfazemos tal necessidade alegrando-nos quando está sol, ou a vida nos corre bem, e olvidemos constantemente a aspiração à Luz divina, que a oração, a meditação e a contemplação chamam e trabalham?
Será que nos deslumbramos com os fogos de artifício, ou as luzes das ribaltas fúteis ou mesmo alienantes e degradantes, e pouco procuramos a Luz subtil e interior, e as suas visões, mesmo que fugazes, como Antero parece dar a entender com o "entre visões"?
Será que fazemos os sacrifícios - que significa sacer-facere, fazer sagrado, pleno, transparente, ou seja acolhedor e transmissor do espírito divino que é fundamentalmente amor, sabedoria, paz e alegria -, cada momento, ou pelos menos múltiplos momentos, nomeadamente com os estudos,  diálogos, amizades, orações, contemplações e meditações que proporcionam uma melhor harmoniosa ligação ao Bem, à Justiça, à Felicidade, à Verdade?
O instinto da Luz significa tanto tornar-nos mais luminosos,  pelos nossos actos, sentimentos e pensamentos, tais como querer saber e conhecer mais a Fonte da Luz, que é o eterno Bem, como despertarmos mais a Luz que está em nós e exprimi-la criativamente e em esforços que vençam a inércia, a dor, o desânimo, os obstáculos, as tendências materializantes ou egoístas, as dispersões, os medos, estes provindo muito de manipulações dos órgãos de comunicação e dos grupos de pressão que os controla, Isto significa dissipar trevas, não nos deixarmos envolver e enfraquecer por elas, algo cada vez mais necessário nesta terceira década do séc. XXI.
       Fresco florentino com Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Angelo Poliziano...
 
Sem termos forçosamente de estudar as teorias platónicas e neo-platónicas, muito desenvolvidas no Renascimento com grandes almas, tais como Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Girolamo Benivieni, Giordano Bruno, Leão Hebreu, e que falam da procissão ou emanação da Luz amorosa criadora, e que atrai a si, depois de circular, maior plenitude de Amor, conforme a imagem simbólica das Três Graças (a que dá, a que recebe e a que retorna), devemos contudo valorizar o culto da Luz, o assumir o instinto e aspiração  a ela,  e cientes de que tal implica sobretudo tentarmos merecê-la em nós, trazê-la ou acolhê-la na nossa consciência e alma e intensificá-la nas meditações e orações, palavras e actos, para assim fortificarmos os nossos corpos físico, psíquico e espiritual...
  No fundo, trabalhar criativa e adequada a substância potencial anímica que possuímos, da qual  podemos mesmo dizer que dela temos o nosso ser, pois a nossa essência e ligações mais vitais e perenes são as luminosas e amorosas, e são recebidas ou entretecidas durante as nossas aberturas de aprendizagens, investigações, reflexões, diálogos, meditações, contemplações e acções mais criativas, benéficas, espirituais...
Estava bem consciente disto Antero de Quental, dominava ele bem relativamente a psique, a sua interioridade, até conseguir ver interiormente a Luz? Talvez, após a fulgurância e estado de graça da sua juventude, não tenha estabilizado razoavelmente senão na chamada "década dourada" passada em Vila do Conde, a partir de 1881...
Vira ou assumira as asas do Anjo nele, tanto mais que o Génio era, na Antiguidade pré-cristã, o Anjo, e no Romantismo, no qual Antero jovem ainda haure forças, muitos o cultivaram?
A resposta no terceto final é só promissora, a febre ou aspiração realizada: 

"E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!"
 
 
 Antero do Quental sente sobretudo a febre do Ideal, que o consome. E sabemos como na vida acabou por não bater tanto as asas como desejara, realizara e sonhara, na pujança juvenil, em alguns aspectos da sua vida.
O ideal social de justiça e fraternidade, amor e conhecimento,  certamente  abrasou sempre a vida dum ser bom, "sábio que era também um santo", na feliz expressão duma mulher admiradora do poeta-filósofo e que Eça de Queiroz popularizou magistralmente no seu contributo para o In Memoriam de Antero
Mas conseguiu ele mais que ser abrasado e consumido pela febre do Ideal que ele próprio consideraria em certos aspectos como um simples fogo juvenil, já que não atingiu a estabilidade da satisfação de realizar essa febre de ideal, seja na verdade, na justiça, no conhecimento do espírito e na ligação ao Divino? Talvez em alguns momentos, ou com alguns amigos, ou em alguns escritos...
Como equilibrar os altos ideais e utopias com as influências ou quase exigências da sociedade entorpecedora e enleadora, na época ainda tão conservadora e provinciana, face aos subtis e elevados níveis idealizados socialmente, afectivamente, religiosamente, metafisicamente?
Eis a questão que há que pôr e repor constantemente nas nossas vidas, nomeadamente ao ouvirmos e estudarmos Antero de Quental nas cartas, sonetos e textos de prosa, tanto mais que, como o soneto indica isso, era um "mal" do qual não se anestesiava e que portanto o consumia....
Certamente podemos afirmar que Antero de Quental procurou, sentiu e teorizou o caminho do Espírito, seja na sua procura de unir o transcendentalismo e o imanentismo espiritual, ou o budismo e uma doutrina espiritualista proveniente do Ocidente que coroasse o naturalismo tanto helénico como moderno, este já com os seus grandes avanços científicos, ou ainda na sua percepção de um panpsiquismo que substanciava o mundo como sua alma, a anima mundi dos antigos estóicos, e que permitia uma comunhão anímica ou intuitiva entre os espíritos, acima das separações do plano físico...
Todavia, porque a sua vida pessoal, ou mesmo personalidade, não suportasse os embates e sobretudo desilusões da vida, devido à estrutura psico-corporal e saúde frágil, as revelações e fulgurações que teve não foram suficientes para conseguirem-no iluminar nem para lhe dar a estabilidade duma prática diária harmoniosa (ou tendencialmente) nos seus vários níveis, tais: alimentar, vital, rítmico, emocional, mental, social, científico, filosófico e espiritual. Ainda que no tempo de estudante tudo fosse vigor e génio e já no findar da sua vida, junto ao mar, em Vila de Conde, tivesse  momentos de grande serenidade e felicidade, conseguindo tutelar as duas crianças, Beatriz e Albertina, do seu grande amigo Germano Vieira Meireles e escrever bem.
Muito gratos devemos estar nós hoje em dia, já que podemos bem mais facilmente obter e realizar as almejadas sínteses entre o espírito imanente, uma vida justa e livre e a aspiração, abertura e comunhão ao Alto e ao Transcendente a que se chega pelo imanente, assente em actos e pensamentos justos e harmoniosos. Daí a nossa responsabilidade de agradecer, completar e de continuar Antero de Quental, elos da mesma tradição cultural e espiritual portuguesa...
Ora neste soneto Nocturno dirige-se  no princípio ao Espírito "Filho esquivo da noite que flutua" ou que passa, e no fim já ao "Génio da Noite", o único ser que o entende, o que indica de certo modo um avanço interior de força íntima realizada.
Génio da Noite, neste soneto, em Antero de Quental, que tanto poderá ser o seu Anjo da Guarda invocado de noite, como a Senhora antiquíssima da Noite, sentida ou evocada poeticamente por Fernando Pessoa e Teixeira Pascoaes, e tantos cultores portugueses seja marianos, seja da potência anímico-espiritual que de noite, sobretudo nos poetas, artistas e espirituais, se torna mais presente e sensível e nos apela a não nos deixarmos adormecer mas antes despertar, erguer, ardermos, criarmos, amarmos, adorarmos, sermos.
O que podemos fazer não dormindo a noite toda, mas meditando, orando numa parte dela e eventualmente recebendo os sinais auspiciosos. Ora Antero de algum modo intui, com as suas limitações, já que de facto  o Espírito à noite pode ser melhor demandado, aproximado, sentido ou mesmo ouvido, dizendo-nos Antero, mais ou menos literariamente ou sentidamente, que ele o entende e lhe acalma o tumulto, agitação ou mal do seu coração e alma.
 Procuremos então o Espírito que não passa mas que fica e é, e não só nocturno nem diurno, mas que inclui os pares de opostos, as dores e alegrias, unificando-nos e que tende a unificar-nos, silenciar-nos e religar-nos com os mestres e o Ser Divino, se a tal aspiramos e laboramos.
Trabalhemos pois mais conscientemente a Luz imanente e as energias divinas que nos chegam, sobretudo pela leitura e a escrita, a doação e a criação, o serviço e o trabalho, o discernimento lúcido e a compaixão, a meditação e a oração, a contemplação e a palavra desperta, já que proporcionam, ao serem bem feitas ou conscientemente realizadas, o desabrochar da nossa essência lúcida, sábia, amorosa e o seu desenvolvimento luminoso e imortalizante.
“Vós sois a Luz do mundo”, disse Jesus, procurando e incitando a estabelecer-nos mais na nossa essência real luminosa...
“Eu sou o Espírito, luminoso”. Aham Brahamasmi, Eu sou o Espírito Divino, dirão mesmo os místicos indianos...
 Que estas palavras cheguem até a todos amigos de Antero, peregrinos ou peregrinas no Caminho, que Antero de Quental  percorreu e trilhou com dificuldades  e pioneiramente em Portugal enquanto poeta-filósofo do Amor e da Morte, do Transcendente e do Imanente.
 Sim, importará realçar e clarificar sempre o que de mais valioso ou pioneiro tem Antero de Quental na história do pensamento e sentimento espiritual laico em Portugal, seja no seu interesse pela Sabedoria do Oriente seja na sua demanda intensa de uma síntese entre a ciência, a religião, a ética e a espiritualidade e de um acesso ao centro e voz da Consciência. E ainda na sua aspiração a uma Ordem dos Mateiros, a qual foi depois continuado teoricamente  em parte por Fernando Pessoa, nomeadamente com o seu Talent de bien faire, duma Ordem de Cristo ou Templária que ele sonhou, e que provinha do Infante D. Henrique. 
Graças a mais alguns cultores e cultoras da Tradição Espiritual Portuguesa, podemos observar que Caminho hoje em dia está mais conhecido e difundido, embora também em geral superficialmente, com muita mistificação e conteúdos fracos, inventados e muitos pseudo-instrutores, explorando comercialmente ou patranhizando com reincarnações, merkabas, canalizações, mestres ascensos, etc...
Saibamos continuar a demanda e ir mais fundo e alto na recepção e vivência da Luz espiritual que Antero de Quental por vezes sentiu e  respirou, como o soneto Nocturno mostra, persistentemente durante o silêncio da noite quando a nossa mente se acalma e a nossa aspiração pode arder mais verticalmente, e assim nos abrirmos mais às inspirações e logo bênçãos inspiradoras e transformadoras que possamos merecer...
Pintura da Luz nocturna e subtil pelo  mestre alemão Bô Yin Râ, boa para contemplação operativa.